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XXIII Encontro Nac. de Eng. de Produção - Ouro Preto, MG, Brasil, 21 a 24 de out de 2003 ENEGEP 2003 ABEPRO 1 O papel da Ergonomia para viabilização da Acessibilidade das Pessoas Portadoras de Necessidades Especiais ao Mercado de Trabalho Murilo Carneiro (CUML) muca.ml@convex.com.br João A. Camarotto (UFSCar) camaroto@power.ufscar.br Resumo Este trabalho demonstra que a lei de cotas para contratação não é suficiente para garantir um aumento na inserção das PPNE no mercado de trabalho formal brasileiro. Apresentam-se quatro desafios que devem ser superados para que tal inserção seja garantida: a superação das apreensões (mitos e preconceitos), a definição do trabalho certo para a pessoa certa, a capacitação das empresas para recrutar e reter as PPNE e a preparação do ambiente de trabalho. Afirma-se que um destes desafios, “a preparação do ambiente”, deve ser objeto de estudo da ciência ergonômica, sendo analisado através de trabalhos acadêmicos com mais profundidade, fomentando dessa forma a acessibilidade das PPNE ao ambiente empresarial. O trabalho apresenta também as vantagens que as empresas obtêm ao contratarem PPNE. Palavras-chave: Ergonomia, Acessibilidade, Pessoas Portadoras de Necessidades Especiais. 1. Introdução Dentre os problemas que afligem a sociedade moderna, pode-se considerar o desemprego um dos principais. Tal problema afeta tanto os países “desenvolvidos” quanto os classificados como “em desenvolvimento”, que é o caso do Brasil. Conseguir um emprego formal, ou seja, com carteira registrada, torna-se a cada a dia mais difícil. Mesmo indivíduos com bons currículos e que não tenham nenhuma limitação física sofrem com o desemprego. Pode-se imaginar, então, a dificuldade que as pessoas portadoras de deficiência encontram. O problema destas pessoas começa na própria “classificação” preconceituosa que recebem: PPD (Pessoas Portadoras de Deficiência). Alguns autores, como Gil (2002), sugerem que se utilize o termo PPNE (Pessoas Portadoras de Necessidades Especiais). Dessa forma, salienta Pastore (2000), não se descarta o fato de que estas pessoas possuem uma larga gama de outras capacidades, pois, no campo do trabalho, a deficiência é muito mais determinada pela ausência de uma arquitetura adequada do que pela presença de uma limitação pessoal. Para contornar o problema da baixa inserção das PPNE no mercado de trabalho, o governo criou várias leis nos últimos anos. Dentre elas, destacam-se as cotas mínimas de contratação de PPNE para empresas que possuam mais de cem funcionários. Defende-se, neste trabalho, que esta lei não basta. Existem, basicamente, quatro desafios que devem ser tratados para garantir uma efetiva participação das PPNE no mercado de trabalho formal. Dentre estes desafios, um deles pode e deve ser objeto de estudo da ciência ergonômica: a garantia da acessibilidade ao ambiente de trabalho. “Os ergonomistas devem estar aptos a responder às novas demandas que a sociedade impõe” (GALLEY, 2002)”. Diante desta afirmação, feita em uma palestra pela Profa. Galley, presidente da UK Ergonomics Society, no último Congresso da ABERGO (Associação Brasileira de Ergonomia), pode-se constatar a relevância deste tema para a ergonomia. 2. Cotas obrigatórias para as empresas contratarem PPNE mailto:muca.ml@convex.com.br mailto:camaroto@power.ufscar.br XXIII Encontro Nac. de Eng. de Produção - Ouro Preto, MG, Brasil, 21 a 24 de out de 2003 ENEGEP 2003 ABEPRO 2 Segundo estimativas da OMS (Organização Mundial de Saúde), existem, no mundo, 610 milhões de pessoas com deficiência. “No Brasil, segundo o Censo realizado em 2000 e divulgado em 2002 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), existem 24,5 milhões de brasileiros portadores de algum tipo de deficiência (GIL, 2002).” Os dados fornecidos pelo IBGE são contestados pelo CEDIPOD (Centro de Documentação e Informação do Portador de Deficiência), pois foram colhidos em questionários que foram passados a cada dez domicílios visitados, refletindo, portanto, uma amostragem da população e não a totalidade de pessoas portadoras de deficiência do país. O CEDIPOD trabalha com a possibilidade de que o número de deficientes no Brasil seja ainda maior, pois cita uma pesquisa realizada pelo Governo Americano, onde se constatou que 20% dos americanos possuem algum tipo de deficiência. De qualquer forma, chega-se à constatação de que o número de pessoas portadoras de alguma deficiência é muito grande e, no Brasil, durante muito tempo o assistencialismo foi a resposta encontrada. Esta política trouxe como grande problema o afastamento dessas pessoas da vida em sociedade. Segundo Dias (2002), esta questão demorou a preocupar nossos governantes. Foi somente a partir de 1988, com a promulgação da nova Constituição, que o governo passou a se preocupar mais com a integração dessas pessoas na sociedade. Com o intuito de fomentar um dos princípios fundamentais da Constituição Federal, que diz, em seu artigo terceiro, parágrafo IV, que um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil é promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação, o governo brasileiro passou a criar leis e decretos sobre o assunto, que seguiram a seguinte sequência cronológica: - 1989: Elaboração da Lei nº 7.853, que referendou a Convenção 159 da OIT (Organização Internacional do Trabalho). Esta lei definiu os direitos das pessoas com deficiência, disciplinou a atuação do Ministério Público e criou a CORDE (Coordenadoria Nacional para Integração das Pessoas Portadoras de Deficiência); - 1991: Criada a Lei nº 8.213, que estabeleceu cotas de contratação de portadores de deficiência para empresas privadas com mais de cem funcionários, a saber: I – 100 a 200 empregados: 2%; II – de 201 a 500: 3%; III – de 501 a 1000: 4%; IV – de 1001 ou mais: 5%. Dispõe também sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social; - 1999: Edição do Decreto nº 3.298, regulamentando a Lei nº 7.853. Fixou uma Política Nacional para a Integração de Pessoas Portadoras de Deficiência no mercado de trabalho e na sociedade. Traz a conceituação de deficiência e fixa os parâmetros de avaliação da deficiência. Os tipos de deficiência foram agrupados em 5 grandes categorias, a saber: a) deficiência física: alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando comprometimento da função física, apresentado-se sob a forma de paraplegia, paraparesia e monoplegia, dentre outros; b) deficiência auditiva: perda parcial ou total das possibilidades auditivas sonoras; c) deficiência visual: acuidade visual igual ou menor que 20/200 no melhor olho, após a melhor correção; d) deficiência mental: funcionamento intelectual significativamente inferior à média, associado a déficits no comportamento adaptativo, com manifestação antes dos 18 anos; e) deficiências múltiplas: associação de duas ou mais deficiências. - 2000: Sancionada a Lei nº 10.098, que estabelece normas e critérios básicos da acessibilidade das Pessoas Portadoras de Deficiência ou com mobilidade reduzida. XXIII Encontro Nac. de Eng. de Produção - Ouro Preto, MG, Brasil, 21 a 24 de out de 2003 ENEGEP 2003 ABEPRO 3 3. Desafios para a efetiva inserção das PPNE no mercado de trabalho Atualmente, conforme se pode observar, o Brasil possui uma vasta legislação envolvendo a inserção das PPNE no mercado de trabalho. Apesar disso, seria ingenuidade acreditar que a simples existência das leis fizesse com que as empresas passassem a contratá-los, pois existem vários outros desafios a serem superados. Pastore (2000) afirma que se pode ressaltar quatro principais desafios: a) superação das apreensões; b) definir o trabalho certo para a pessoa certa; c) capacitar-se para recrutar e reter os portadores de deficiência; d) preparar o ambiente de trabalho. Será feita, a seguir, uma breve descriçãodestes desafios. a) Superação das apreensões: consiste, basicamente, na quebra dos paradigmas existentes. Vários são os tipos de preconceitos e mitos envolvendo a inserção das PPNE no mercado de trabalho. Podem ser destacados: - Algumas empresas alegam que, se tivessem de contratar um percentual de PPNE, teriam de demitir igual número de não deficientes. “Este argumento é irreal, pois que, na rotatividade normal dos empregos, basta ir cumprindo a lei gradualmente, que em pouco tempo o problema estará resolvido, sem que se ponha alguém na rua.” (MAZILLI, 2002); - A falta de conhecimento sobre o potencial produtivo das PPNE, pois em alguns países, de acordo com Dias (2002), foram constatados casos em que os empregadores pagavam às PPNE para ficar em casa, mantendo-as na folha de pagamento com a finalidade exclusiva de suprirem a sua cota; - Falta de informações sobre as peculiaridades de uma PPNE. Em uma entrevista, Jonh D. Kemp (2002), presidente da VSA (Very Special Arts), afirmou acreditar que a maior parte da discriminação associada à deficiência não é intencional; as pessoas simplesmente não sabem como lidar com certas situações. Para contornar tal problema, Teixeira Jr. (2002) nos relata que algumas empresas no Brasil, como o Banco Santander, fazem workshops para preparar os funcionários para receber as PPNE no ambiente de trabalho. b) Definir o trabalho certo para a pessoa certa: a empresa deve identificar atividades nas quais as PPNE possam exercer seu trabalho sem ter sua performance prejudicada. As adaptações, quando necessárias, se farão apenas na garantia da igualdade de direitos e não de privilégios. “Sabe-se que existem atividades que, por exigirem capacidade funcional e intelectual plena, não são disponibilizadas ao trabalhador portador de deficiência. Mas, em toda empresa, fábrica ou indústria, provavelmente, existe atividade para ser desenvolvida por portador de deficiência habilitado, o que pode ser feito com extrema eficiência.” (EMMEL et all, 2002). Algumas empresas que passaram a lidar com esse pressuposto, de acordo com Oliveira (2002), descobriram que cegos, surdos ou ocupantes de cadeira de rodas são capazes de render tanto quanto outros profissionais, desde que colocados em funções certas, ou seja, aquelas que eliminam as desvantagens provocadas pela deficiência. Este conceito, que ainda hoje não é levado em conta por algumas empresas, é tão antigo que já era abordado por Henry Ford, em 1925, conforme se pode comprovar na seguinte citação: “Nas seções da indústria há postos para todos e se a indústria estiver devidamente organizada, haverá nela mais lugares para cegos, do que cegos para lugares. O mesmo pode-se dizer em relação aos outros aleijados... Se o trabalho fosse convenientemente dividido,... não faltaria lugar onde homens fisicamente incapacitados pudessem desempenhar perfeitamente um serviço.” (FORD apud D’AMARAL, 2002). XXIII Encontro Nac. de Eng. de Produção - Ouro Preto, MG, Brasil, 21 a 24 de out de 2003 ENEGEP 2003 ABEPRO 4 c) Capacitar-se para recrutar e reter os portadores de deficiência: este é um grande desafio a ser suplantado, pois, as empresas encontram várias dificuldades para contratar as PPNE. Dentre as principais, pode-se citar a falta de entidades que as ajudem a identificar as PPNE na sociedade. De acordo com o Sr. Marcelo Brandão, gerente de recursos humanos da empresa Gnatus – Equipamentos Médicos e Odontológicos Ltda., situada na cidade de Ribeirão Preto, quando se abrem vagas (nas empresas) para as PPNE, o departamento de recursos humanos tem dificuldades para identificar candidatos, uma vez que não há, na cidade, uma instituição que centralize os currículos dessas pessoas. Além disso, as empresas esbarram também no problema da falta de mão-de-obra qualificada. Aloisi, apud Quevedo (2000), destaca que a profissionalização das PPNE é um processo inexistente no Brasil. Este fato é preocupante, pois, as cotas de reserva de empregos não se destinam a qualquer PPNE, mas àquelas que estejam habilitadas , ou seja, tenham condições efetivas de exercer determinados cargos. Este problema é tão grave que a Gerente da Gelre (Prestadora de Serviços Relacionados à Força de Trabalho) de Ribeirão Preto, a Sra. Roseli Monteiro, ao procurar preencher 24 vagas para PPNE, disponibilizadas por uma empresa da cidade, somente conseguiu identificar 7 que se enquadrassem nos pré-requisitos exigidos. Os dois grandes problemas identificados por ela foram: falta de escolaridade e de conhecimentos técnicos, como informática, por exemplo. A baixa inserção das PPNE no mercado de trabalho, devido à falta de qualificação profissional e educacional, também foi um grande problema levantado pelas presidentes de duas Associações de Ribeirão Preto: a Sra. Marlene Taveira Cintra, da ADEVIRP (Associação dos Deficientes Visuais de Ribeirão Preto), e a Sra. Célia Maria Milan, da ADEFIRP (Associação dos Deficientes Físicos de Ribeirão Preto). d) Preparar o ambiente de trabalho: envolve, basicamente, providências físicas que vão variar de empresa para empresa. Pastore (2000) salienta que uma série de providências específicas se fazem necessárias para suplementar as limitações dos portadores de deficiências selecionados, tais como: mudanças na sinalização e orientação espacial do ambiente de trabalho; modificações no sistema de iluminação; ajustes de equipamentos e condutas para compensar problemas de comportamento, raciocínio, visão, comunicação, locomoção, higiene, postura e destreza. Este desafio também é abordado por McCampbell (2002). Segundo ela, após se determinar quais tipos de cargos podem ser oferecidos às PPNE, deve-se planejar, na sequência, uma revisão arquitetônica na empresa, dando-se particular atenção aos layouts dos locais de trabalho. Nos Estados Unidos, segundo Kemp (2002), a promulgação da ADA (Americans with Disabilities Act), em 1990, delegou aos empregadores a responsabilidade de providenciar as acomodações necessárias para acolher as PPNE. Por outro lado, a ADA prevê que empregados e empregadores podem negociar formas de acomodação que sejam interessantes para ambas as partes. No Brasil, o Decreto nº 3.298, que regulamentou a Lei nº 7.853, delineia a inserção seletiva na esfera privada. Fonseca, apud Quevedo (2000), explica que a inserção seletiva se dará quando forem necessários procedimentos especiais para o ingresso das PPNE no mercado de trabalho, como a adaptação do ambiente de trabalho às suas especificidades. 4. Contribuição da Ergonomia para a superação destes desafios XXIII Encontro Nac. de Eng. de Produção - Ouro Preto, MG, Brasil, 21 a 24 de out de 2003 ENEGEP 2003 ABEPRO 5 Dias (2002) afirma que as barreiras arquitetônicas, sem dúvida, representam a grande dificuldade de acesso das PPNE não só ao mercado de trabalho, mas a todos os locais procurados no cotidiano. Consequentemente, chega-se à conclusão que se deve garantir às PPNE o direito de ir e vir, ou seja, sua acessibilidade. Através da Lei nº 10.098, a acessibilidade foi definida como a possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos transportes e dos sistemas e meios de comunicação, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida. A Lei, em seu capítulo IV – artigo 11, prevê que a construção, ampliação ou reforma de edifícios públicos ou privados deverão ser executadas de modo que sejam ou se tornem acessíveis às pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida. As barreiras arquitetônicas ambientais que restringem ou até inviabilizam a acessibilidade das PPNE existem em escalas diferentes. Prado (2002) classifica o ambiente em macro e microambiente. Um macroambiente acessível significa, basicamente, uma malha viária sem obstáculos, uma rede de transportes públicos que permita a qualquer pessoa, mesmo com limitações físicas,sensoriais, mentais ou funcionais, usá-las. O microambiente constitui-se no espaço imediato que rodeia o indivíduo, dentro de casa ou no ambiente de trabalho. O estudo do microambiente de trabalho nas organizações é uma das áreas de atuação da ergonomia. A ergonomia (do grego ergon = trabalho e nomos = normas) surgiu como ciência durante a Segunda Guerra Mundial; apesar disso, seus efeitos são tão antigos quanto o homem. Grandjean (1998) lembra que o homem sempre se preocupou – desde a invenção da roda até o moderno computador – em tornar o trabalho mais leve e eficiente. A instituição inglesa Ergonomics Research Society define ergonomia, apud Iida (1990), como o estudo do relacionamento entre o homem e o seu trabalho, equipamento e ambiente, e particularmente a aplicação dos conhecimentos da anatomia, fisiologia e psicologia na solução dos problemas surgidos desse relacionamento. No Brasil, durante o IV Congresso Internacional de Ergonomia, realizado em 1989, adotou-se o seguinte conceito para a ergonomia: “Estudo científico da relação entre o homem e seus meios, métodos e espaços de trabalho. Seu objetivo é elaborar, mediante a constituição de diversas disciplinas científicas que a compõem, um corpo de conhecimentos que, dentro de uma perspectiva de aplicação, deve resultar numa melhor adaptação do homem aos meios tecnológicos e aos ambientes de trabalho e de vida”. (RIO, 2001). Dul (1995) afirma que a ergonomia difere de outras ciências por apresentar duas características inerentes: a interdisciplinaridade e a aplicabilidade. A interdisciplinaridade devido à sua relação com diversas outras áreas do conhecimento e a aplicabilidade devido à constante busca da adaptação do posto de trabalho e do ambiente às características e necessidades do trabalhador. A ergonomia, segundo Rio (2001), possui três campos mais precisos de atuação: a) posto de trabalho: em termos genéricos, é o local ou são os locais específicos onde as pessoas trabalham; b) organização do trabalho: volta-se para os diversos fatores que definem as formas como o trabalho é organizado; c) ambiente de trabalho: referente aos aspectos físicos, químicos e biológicos. O campo de atuação “posto de trabalho” envolve o estudo da relação entre o homem e seu ambiente de trabalho, através da análise de alguns fatores, como: a) mobiliário, b) máquinas, equipamentos, ferramentas, materiais; c) layout específico e do espaço dentro do qual o posto está inserido. XXIII Encontro Nac. de Eng. de Produção - Ouro Preto, MG, Brasil, 21 a 24 de out de 2003 ENEGEP 2003 ABEPRO 6 “A ergonomia se torna, pois, indispensável, tanto para maximizar as capacidades do portador de deficiência, como também para que as ocupações disponíveis para estes trabalhadores ofereçam condições ideais de trabalho, tanto em termos de acessibilidade como na adequação do ambiente de trabalho (estrutura física e organizacional), evitando principalmente o agravamento da incapacidade ou deficiência existente e/ou o surgimento de novas.” (GUALBERTO FILHO; et all, 2002). Consequentemente, a ciência ergonômica pode estudar o layout ideal de uma organização para receber as PPNE. Assim, ela estará contribuindo para a superação de um dos maiores desafios que impedem a inserção de tais indivíduos no mercado de trabalho: “a preparação do ambiente”. 5. Conclusões Apesar da existência das leis, a participação das PPNE no mercado de trabalho ainda é pequena. “No Brasil, apenas 2% dos que estão em idade de trabalhar estão no mercado formal, enquanto nos países mais avançados este percentual gira em torno de 30 a 45%.” (PASTORE, 2000). Os empresários precisam encarar a contratação das PPNE não como uma forma de caridade ou uma obrigação legal e sim como um investimento que traz um custo-benefício vantajoso, pois, a inserção das PPNE no seu contingente de funcionários traz inúmeras vantagens, tais como: a) Ganhos com imagem. De acordo com uma pesquisa realizada com consumidores pelo Instituto Ethos, no ano 2000, 46% dos entrevistados declararam que a contratação de pessoas com deficiência está em primeiro lugar entre as atitudes que os estimulariam a comprar mais produtos de determinada empresa; b) Ganhos no clima organizacional. A entrada das PPNE em um ambiente de trabalho faz com que os outros funcionários passem a dar mais valor a sua condição de pessoa não portadora de necessidades especiais e se sintam mais motivados para o trabalho, fazendo a produtividade aumentar; c) Cumprimento da lei. A empresa passa a cumprir a lei de cotas de contratação de PPNE, deixando de ficar suscetível a sanções do Ministério do Trabalho; d) O desempenho e comprometimento das PPNE. Normalmente, o trabalho desenvolvido por elas supera as expectativas do início do contrato de trabalho. A sociedade, de um modo geral, também se beneficiaria, pois, de acordo com D’Amaral (2002), a introdução das PPNE no mercado de trabalho formal traz para a economia a incorporação de sua renda e torna possível ao governo, além de aumentar o contingente de contribuintes, desonerar-se dos encargos previdenciários e assistenciais com elas relacionados. Acredita-se que a fraca participação das PPNE no mercado de trabalho brasileiro decorre da carência de ações e estímulos para que as empresas viabilizem mais vagas. Diante desta realidade, a comunidade acadêmica também deve ter sua cota de participação, elaborando pesquisas que forneçam informações, desmistifiquem mitos e concientizem os empresários da importância do assunto. A ciência ergonômica, dentro desse contexto, passou a elaborar ações concretas na direção desse campo de atuação. O último Congresso da ABERGO (Associação Brasileira de Ergonomia), realizado em setembro de 2002, pode comprovar tal afirmação, pois, dentro da XXIII Encontro Nac. de Eng. de Produção - Ouro Preto, MG, Brasil, 21 a 24 de out de 2003 ENEGEP 2003 ABEPRO 7 programação também foi realizado o Iº Seminário Brasileiro de Acessibilidade Integral, que tratou da acessibilidade do deficiente físico e do idoso no mercado de trabalho. De acordo com Iida (1990), as aplicações da ergonomia se expandiram muito e por isso são exigidos novos conhecimentos, como, por exemplo, as características de trabalho de mulheres, pessoas idosas e deficientes físicos. Tal autor também afirma que as leis que protegem as PPNE levarão, com o passar do tempo, a um aumento de sua participação na força de trabalho; por isso, a ergonomia tem apresentado um interesse crescente no estudo de suas peculiaridades. Aloisi, apud Quevedo (2000), afirma que pensar que o acesso de pessoas com deficiência ao mundo do trabalho depende apenas da quebra de barreiras arquitetônicas ou adaptações de ergonomia é algo ingênuo e até mesmo pueril. Apesar da verdade desta afirmação, não se pode negar a contribuição que a ciência ergonômica pode trazer para este processo, não como panacéia, mas como forma de se fomentar a superação de um dos desafios que prejudicam a inserção das PPNE no mercado de trabalho Referências ANAIS do VI SIAMF – Seminário sobre acessibilidade ao meio físico. Rio de Janeiro, 8 a 10 de junho de 1994. ANAIS do curso básico sobre acessibilidade ao meio físico, 6 e 7 de junho de 1994. Brasília: CORDE, 1995. APADE – Associação de Pais e Amigos de portadores de Deficiência da Eletropaulo – Normas sobre a equiparação de oportunidades para pessoas com deficiência. São Paulo, 1996. BLECHER, Nelson. Marcas de valor. Revista Exame, ano 35, nº 21 – (17/10/02). CEDIPOD. Estatísticas dos deficientes físicos no Brasil. www.cedipod.org.br – (14/07/02). D’AMARAL, Teresa Costa. Deficientes e o direito ao trabalho. www.ibdd.org.br – (12/07/02). DIAS, Luiz Cláudio Portinho. 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