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CARBOIDRATOS E REAÇÕES DE ESCURECIMENTO Profa. Ma. Mayara Feitosa Teresina, 2018 • São carboidratos que apresentam mais de 20 moléculas de monossacarídeos. • Pela sua modificação estrutural o seu comportamento químico é diferenciado. • As moléculas dos polissacarídeos são lineares ou ramificadas. • A interação da água com os polissacarídeos nos alimentos tem importância nas suas características estruturais. • Pela capacidade de interação com a água os polissacarídeos formam géis ou soluções com alto grau de viscosidade - utilizados como geleificantes e espessantes. POLISSACARÍDEOS ou GLICANOS (GONÇALVES, 2010; DAMODARAN et al., 2010) • Fonte de reserva mais importante das plantas, fornecendo 70-80% das calorias do consumo humano no mundo; • Existem vários tipos de amidos, derivados do milho, arroz, batata, mandioca, trigo etc. • A maioria é constituída por uma mistura de dois polissacarídeos: amilose (cadeia linear) e amilopectina (cadeia ramificada) – variam com a espécie e o grau de maturação. AMIDO O amido distingue-se entre os polissacarídeos, por ocorrer na natureza, em partículas características denominadas grânulos. (RIBEIRO E SERAVALLI, 2004) • São constituídos de amilose e/ou amilopectina apresentando regiões cristalinas e não cristalinas em camadas alternadas (glicose); • Os grânulos de amido são insolúveis em água fria, ou seja, hidratam-se muito pouco em água fria, e ficam dispersos na água, formando uma suspensão de baixa viscosidade que pode ser facilmente misturada. GRÂNULOS DE AMIDO Absorvem água de modo reversível, ou seja, eles podem inchar um pouco e retornam ao seu tamanho original ao secar – não ocorre modificação estrutural das moléculas (DAMODARAN, 2010) • A capacidade de aumento da viscosidade (espessante) do amido é obtida apenas quando a suspensão de grânulos é aquecida – gelatinização do amido. GELATINIZAÇÃO DO AMIDO Ruptura molecular no interior dos grânulos; Inchaço irreversível do grânulo; Perda de cristalinidade (DAMODARAN, 2010) • Fatores que afetam o gel do amido: Constituintes capazes de fazer fortes ligações com a água reduzem a gelatinização do amido; Lipídeos que se complexam com a amilose – retardam a absorção de água pelos grãos; GELATINIZAÇÃO DO AMIDO (RIBEIRO E SERAVALLI, 2004) • Com o esfriamento e a formação do gel, o nível de interação da água com o polissacarídeo pode diminuir, promovendo a precipitação do amido e a redissolução do amido por reaquecimento é difícil; RETROGRADAÇÃO DO AMIDO A perda de solubilidade do amido - retrogradação (GONÇALVES, 2010) • Ex.: Muitos defeitos na qualidade dos alimentos, como no envelhecimento do pão (enrijecimento, perda de viscosidade) e formação de precipitados em sopas e molhos. • A velocidade de retrogradação está associada: A relação de amilose e amilopectina no amido (amilose mais facilmente atingida pela retrogradação) Temperatura aplicada no processo; Concentração do amido; RETROGRADAÇÃO DO AMIDO (GONÇALVES, 2010) • O gel formado pelo amido nativo (original) tem pouca aplicação na indústria de alimentos, em razão de não apresentar solubilidade, textura e estabilidade característica desejável; • Os amidos são frequentemente modificados química e fisicamente, com o intuito de melhorar suas propriedades: Suportar as condições de calor, cisalhamento (força aplicada) e acidez associadas às condições particulares de processamento; Introduzir funcionalidades específicas; • Os amidos modificados são ingredientes e aditivos de alimentos úteis, funcionais e abundantes; AMIDOS MODIFICADOS • Pré-gelatinização do amido (modificação física): após a gelatinização o amido é seco e pulverizado, o produto resultante é dispersável em água fria e pode formar géis sem aquecimento. Melhor estabilidade ao congelamento e descongelamento. • Usos: pudins e sopas instantâneas e recheios de bolo (nos quais o cozimento não é utilizado) e como espessante em recheios, molhos, e sopas. • Dextrinização (modificação química): resulta da hidrólise ácida do amido em temperaturas menores que a da gelatinização. Esse tipo de amido modificado apresenta maior solubilidade em água fria que o amido comum e forma soluções menos viscosas. • Usos: em balas de gomas e confeitos. AMIDOS MODIFICADOS (DAMODARAN, 2010; RIBEIRO E SERAVALLI, 2004) • Oxidação (modificação química): o amido é tratado com agente oxidante e suas hidroxilas livres são oxidadas a carboxilas. Os amidos oxidados formam géis mais claros e mais moles e apresentam menor temperatura de gelatinização e de formação de pasta. • Ligações cruzadas (modificação química): resulta da introdução de ligações éster nas hidroxilas entre as cadeias de amido. Evita que o grânulo aumente de volume e proporciona maior estabilidade ao calor e agitação e reduz sua tendência à ruptura. • Usos: alimentos infantis, temperos de saladas, coberturas, com função de espessar e estabilizar. AMIDOS MODIFICADOS (DAMODARAN, 2010; RIBEIRO E SERAVALLI, 2004) • Celulose: tem estrutura linear, é insolúvel e resistente às enzimas digestivas humanas, não sendo digerida (fibra alimentar). É encontrada exclusivamente nas plantas e compreende a parte estrutural das folhas, caules, raízes, sementes e cascas de frutas. • Hemicelulose: não é digerida pelo organismo humano e atua como fibra alimentar. São polissacarídeos complexos encontrados nas paredes celulares associados à celulose e a lignina. Na indústria de alimentos são utilizados na fabricação de pães e bolos (farinha integral) pois auxiliam na capacidade de absorção de água pela farinha, promovem a mistura e aumentam o volume. OUTROS POLISSACARÍDEOS (DAMODARAN, 2010; RIBEIRO E SERAVALLI, 2004) • Pectina: polissacarídeo indigerível, absorve água formando gel, retarda o esvaziamento gástrico. Está presente principalmente na casca de frutas. Utilizada em geleia, marmelada, e como estabilizante em bebidas e sorvetes. • Gomas: são substâncias extraídas de algas marinhas, sementes e do colágeno animal. As gomas dissolvem-se e dispersam-se em água e aumentam a viscosidade; são utilizadas na indústria de alimentos como espessantes e podem ou não ser geleificantes. Exemplos: goma guar, goma arábica, goma carragena, goma xantana, ágar-ágar, alginato. OUTROS POLISSACARÍDEOS (DAMODARAN, 2010; RIBEIRO E SERAVALLI, 2004) REAÇÕES DE ESCURECIMENTO NÃO ENZIMÁTICO De um modo geral, essas reações são indesejáveis do ponto de vista nutricional e estético, em outros é desejável quando leva à melhoria da aparência e do flavor. • Desejáveis: • Crosta do pão • Café torrado • Chocolate • Cerveja • Carne de peixe assado ESCURECIMENTO NÃO ENZIMÁTICO • Indesejáveis: • Derivados de leite • Sucos • Vegetais • Produtos desidratados e concentrados • Cereais e derivados ESCURECIMENTO NÃO ENZIMÁTICO Perda de aminoácidos; Proteína – redução da digestibilidade Formação de compostos tóxicos Depende da presença de fatores combinados: Temperatura; Tempo; Umidade; Meio ácido ou alcalino; Componentes dos alimentos ESCURECIMENTO NÃO ENZIMÁTICO • Escurecimento não enzimático resultante da reação entre a carbonila e os grupos amina livre, com formação de pigmento denominado melanoidina. ESCURECIMENTO NÃO ENZIMÁTICO REAÇÃO DE MAILLARD No alimento essa reação vai depender da presença do açúcar redutor que dará o grupamento carbonila C=O, vindo de um aldeído ou de uma cetona; Não só um açúcar fornece a carbonila, mas também as gorduras que tem esse grupo livre; Os aminoácidos irão colaborar com os grupamentos (NH2) essenciais para a reação; ESCURECIMENTO NÃO ENZIMÁTICO REAÇÃO DE MAILLARD Produtos da reação incolores e sem sabor e aroma ESCURECIMENTO NÃO ENZIMÁTICO REAÇÃO DE MAILLARD Inicia-se a percepção de aromas, a cor torna-se amarelada • A 3ª etapa: A partir do produto da 2ª etapa - redutonas incolores ou substâncias marrons. Em estado líquido, se o pH estiver alcalino já escurecem; Formação do hidroximetilfurfural- melanoidinas. As presenças de HMF e de redutonas levam ao escurecimento e aroma característicos da reação de "Maillard". ESCURECIMENTO NÃO ENZIMÁTICO REAÇÃO DE MAILLARD Diferentes sabores e aromas são produzidos nessa reação, em função de diferentes aminoácidos • Nesta 3ª etapa há também liberação de CO2 que aparece devido a degradação dos aminoácidos a aldeídos. A liberação de CO2 pode prejudicar produtos enlatados; • Esta reação recebe o nome de Degradação de Strecker; • Estes aldeídos de Strecker ao reagirem com os compostos de "Maillard" darão o sabor e o aroma peculiares das reações de escurecimento. ESCURECIMENTO NÃO ENZIMÁTICO REAÇÃO DE MAILLARD (RIBEIRO E SERAVALLI, 2004) • Temperatura – a reação ocorre em temperaturas elevadas (70°C) e reduzidas (20°C), durante o processamento do alimento ou armazenamento. Alimentos congelados são pouco afetados; • pH – a velocidade da reação é máxima em pH próximo a neutralidade (6-7); • Atividade de água - a taxa de escurecimento é baixa ou mesmo nula em valores de atividade de água elevados ou reduzidos; • Sulfitos – atua como inibidor da reação, bloqueando a carbonila; ESCURECIMENTO NÃO ENZIMÁTICO FATORES QUE AFETAM A REAÇÃO DE MAILLARD • O aquecimento de carboidratos, em particular a sacarose e de açúcares redutores, na ausência de aminoácidos ou proteínas, promove um complexo grupo de reações que resultam no seu escurecimento – caramelização. • Os açúcares no estado sólido são relativamente estáveis ao aquecimento moderado, mas em temperatura acima de 120 °C ocorre ruptura da estrutura molecular formando produtos de degradação de alto peso molecular e escuros – caramelo. • O caramelo é produzido comercialmente – corante e aromatizante. ESCURECIMENTO NÃO ENZIMÁTICO CARAMELIZAÇÃO (DAMODARAN, 2010; RIBEIRO E SERAVALLI, 2004) • A reação inicia-se pela desidratação do açúcar redutor com rompimento das ligações glicosídicas. ESCURECIMENTO NÃO ENZIMÁTICO CARAMELIZAÇÃO (DAMODARAN, 2010; RIBEIRO E SERAVALLI, 2004) • Este tipo de escurecimento ocorre numa situação particular. O alimento deve conter ácido ascórbico ou vitamina C e ser suficientemente ácido na faixa de pH 2,0 a 3,5. • Geralmente ocorre em sucos de frutas como o limão, laranjas etc. • A oxidação leva o ácido ascórbico a dehidroascórbico - furfural - pigmento escuro; • A vitamina C perde seu valor já na 1ª etapa da reação. ESCURECIMENTO NÃO ENZIMÁTICO OXIDAÇÃO DA VITAMINA C REAÇÕES DE ESCURECIMENTO ENZIMÁTICO • As reações de escurecimento em frutas, vegetais e bebidas é um dos principais problemas na indústria de alimentos; • Estima-se que em torno de 50% da perda de frutas tropicais no mundo é devida à enzima polifenoloxidase, que provoca a oxidação de compostos fenólicos naturais presentes em alimentos; ESCURECIMENTO ENZIMÁTICO (ARAÚJO, 2015) A ação dessa enzima é acompanhada de mudanças indesejáveis na aparência e nas propriedades organolépticas do produto Onde a encontramos: • Todos os tecidos vegetais - cogumelo, batata, pêssego, maçã, banana, manga, folhas de chá, abacate e café (concentrações altas) Sua Atividade pode variar em função: • Variedade do alimento; • Do estágio de maturação; • Das condições de cultivo. ESCURECIMENTO ENZIMÁTICO (ARAÚJO, 2015) Ação indesejável • Alteração da coloração • Perda de nutrientes • Formação de sabor indesejável Ação desejável • Escurecimento em chá, café, cacau e ameixa seca Graças à especifidade de vários substratos a polifenoloxidase, às vezes, é denominada tirosinase, polifenolase, catecol oxidase, catecolase e cresolase ESCURECIMENTO ENZIMÁTICO ESCURECIMENTO ENZIMÁTICO Os substratos mais comuns são tirosina e ácido clorogênico ESCURECIMENTO ENZIMÁTICO Produto inicial da oxidação é a quinona – condensa - pigmentos escuros insolúveis (MELANINA) Reage não enzimaticamente com outros compostos fenólicos, aminoácidos e proteínas MECANISMO DE AÇÃO ENZIMÁTICA Compostos fenólicos MELANINA Oxidação Polifenoloxidase (ARAÚJO, 2015) • Três componentes devem estar presentes para que a reação de escurecimento enzimático ocorra: enzima, substrato, oxigênio. ESCURECIMENTO ENZIMÁTICO MÉTODOS DE CONTROLE A ausência ou bloqueio da participação de um inibe a reação (ARAÚJO, 2015) • Aplicação do calor: Exposição do tecido vegetal, por curto período de tempo, à temperatura de 70 a 90 °C – destruição completa das funções catalíticas da enzima; O aquecimento aplicado no processamento é utilizado em pré- tratamentos de frutas e vegetais para enlatamento, congelamento e desidratação; ESCURECIMENTO ENZIMÁTICO MÉTODOS DE CONTROLE Mudanças desfavoráveis na textura e no desenvolvimento de flavor (ARAÚJO, 2015) • Aplicação do dióxido de enxofre e sulfito: • Inibe a ação da enzima; • Interação direta com intermediários formados durante a ação enzimática, impedindo sua participação na reação de formação do pigmento escuro; • Aplicação de ácidos • Cítrico, fosfórico, málico e ascórbico; • Abaixamento do pH do tecido vegetal – diminuição da velocidade da reação de escurecimento (pH de atuação da enzima entre 6 e 7) ESCURECIMENTO ENZIMÁTICO MÉTODOS DE CONTROLE (ARAÚJO, 2015) • Remoção do oxigênio: • Embalagens impermeáveis; • Excluir o oxigênio em sucos e bebidas utilizando nitrogênio; • Prevenir o acesso do oxigênio aos tecidos – danos mecânicos durante transporte e armazenamento de frutas ESCURECIMENTO ENZIMÁTICO MÉTODOS DE CONTROLE (ARAÚJO, 2015)
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