Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
A2 - DIREITO PROTETIVO, COLETIVO DO TRABALHO E SEGURIDADE SOCIAL Professor: Renato Negretti Cruz TURMA: 003107A02 Alexandre Kengi Enobe - RA: 8654568 Gabriella Martins - RA: 8677860 Paloma Vieira Silva - RA: 8663220 Pamela Dalise de Souza - RA: 8529831 Tamy Uehara – RA: 8927830 ESTUDO DE CASO PRÁTICO 1) Sob que condições, formais e materiais, o movimento paredista em questão não será julgado abusivo? RESPOSTA: Sabe-se que a Lei da Greve, Lei n.7.783/89, enumera, em seu art.10, um rol de atividades essenciais nas quais há uma certa restrição do exercício de greve, uma vez que coloca em jogo os interesses urgentes de toda coletividade. Não se trata de uma proibição de greve, e sim de uma condicionante ao exercício desse direito. No caso em análise, estamos falando da Federação Nacional dos Trabalhadores Ferroviários – FNTF, que representa o Sindicato dos Ferroviários da cidade de Pasadena e Região, ou seja, estão envolvidos com um serviço essencial, conforme consta no art.10, V, da Lei de Greve (transporte coletivo). O ordenamento jurídico impõe condições formais e materiais para o exercício regular do direito de greve, e a não observância das normas inseridas da Lei de Greve será considerado como abuso do direito de greve, conforme consta no art.14º, caput, da referida lei: Art. 14 Constitui abuso do direito de greve a inobservância das normas contidas na presente Lei, bem como a manutenção da paralisação após a celebração de acordo, convenção ou decisão da Justiça do Trabalho. Assim sendo, o aspecto formal do abuso do direito de greve ocorre quando são descumprida as exigências formais da greve, essencialmente ligadas a questões procedimentais, como a não realização de assembleia para deliberar sobre seu exercício ou a sua realização em desconformidade com o estatuto do sindicado, a falta de comunicação aos usuários sobre a greve em serviços essenciais etc. Quanto ao aspecto material ocorreria, por exemplo, no caso de deflagração de greve em atividades proibidas, ou quando há a manutenção da greve após a concretização das vantagens perseguidas pelos grevistas. Atentar que não constitui abuso se o movimento for destinado a pressionar o empregador ao cumprimento de norma coletiva negociada. Também não configura abuso quando da superveniência de fato novo ou acontecimento imprevisto que modifique substancialmente a relação de trabalho, do ponto de vista coletivo. Se houver desrespeito quando aos aspectos formais ou materiais, a greve será considerada abusiva, mas quem declara isso são os tribunais do trabalho, conforme manifestação do Tribunal Superior do Trabalho na Súmula 189 (SUM 189 – A Justiça do Trabalho é competente para declarar a abusividade ou não da greve) e Precedente Normativo-29 (PN-29: Compete aos Tribunais do Trabalho decidir sobre o abuso do direito de greve) 2) São válidas as medidas adotadas pelo empregador para “contornar aparalisação”? A negociação firmada pela Soft Kitty diretamente com a associação de bairro é capaz de afastar a atuação da entidade sindical citada, na defesa dos interesses em tela? Em sua resposta, leve em conta as restrições à liberdade sindical no Brasil e as normas (regras e princípios) que informam a representação das categorias envolvidas. RESPOSTA: Inicialmente, relembramos as medidas adotadas pelo empregador para “contornar a paralisação”, a saber: a. Fechamento temporário de todos os estabelecimentos, com licença não remunerada dos demais trabalhadores que não estavam participando da greve, impedindo-os de trabalhar; b. Dispensa por suposta justa-causa de parte dos trabalhadores que estavam em greve, entendendo que quem ficou afastado por mais de 60 dias praticou falta grave e abandono do emprego. A primeira medida que foi tomada pelo empregador, conhecido como lock-out, está descrita no art.722, CLT, ou seja, os empregadores que, individualmente ou coletivamente, suspenderem os trabalhos dos seus estabelecimentos, sem prévia autorização do Tribunal competente, ou que violarem, ou se recusarem a cumprir decisão proferida em dissídio coletivo, incorrerão nas penas indicadas nas alíneas do artigo, e inclusive será devido os salários dos dias de paralisação. A intenção aqui do empregador é frustrar negociação coletiva e dificultar o atendimento das reivindicações dos trabalhadores. Quanto a segunda medida, é preciso primeiro entender que o período de greve, conforme diz o art.7º da Lei n.7.783/89, suspende o contrato de trabalho, portanto, cai por terra o argumento do empregador quanto ao motivo abandono de emprego ou justa causa. Assim, o período de greve é qualificado como de suspensão do contrato de trabalho, conforme Súmula n.316 STF: “A simples adesão à greve não constitui falta grave”. A rescisão do contrato de trabalho só seria admitida se a greve persistisse depois de julgada abusiva ou, quando necessário, se não fossem mantidas em atividade equipes de empregados com o propósito de assegurar os serviços cuja paralisação resultem em prejuízo irreparável, pela deterioração irreversível de bens, máquinas e equipamentos, bem como a manutenção daqueles essenciais à retomada das atividades da empresa quando da cessação do movimento (art.9º, Lei 7.783/89). É dito no caso que a empresa Soft Kitty negociou diretamente com a Associação dos Trabalhadores da Soft Kitty do bairro Califórnia, localizado no distrito industrial de Pasadena, onde se encontra o principal estabelecimento empresarial da sociedade em comento, com apenas 50 empregados do setor administrativo. A negociação firmada entre a empresa e a associação de bairro não é capaz de afastar a atuação da entidade sindical, sobretudo em razão das diferenças de atuação existentes entres elas. A primeira das diferenças consiste na limitação constitucional de defesa e representação dos interesses. A associação atua em nome, apenas, de seus associados, enquanto o sindicato em prol de toda a categoria profissional ou econômica, independentemente de filiação. Em segundo lugar, ainda que tal associação corrija sua atuação para a base territorial do município, não seria ainda possível seu reconhecimento como sindicato para representar os trabalhadores da empresa por já existir, dentro daquela base territorial, outro sindicato legalmente formado. Essa proibição de haver outro sindicato para representação da mesma classe de profissionais encontra-se respaldado no art.8º, II, da Constituição Federal também (unicidade sindical), envolvendo o princípio da unicidade, ou seja, só pode haver um único sindicato representando trabalhadores dentro de um município. 3) Referente ao conflito de representação, procede a oposição apresentada peloSINTESTP? RESPOSTA: No caso, o Sindicato dos Técnicos em Segurança do Trabalho de Pasadena – SINTESTP, interveio no feito, apresentando oposição à atuação da Federação, argumentando, pelo princípio da especificidade, ele é quem seria o legitimado a defender os interesses dos trabalhadores ferroviários em questão, dado o risco elevado de acidentes da atividade exercida. Em princípio, o Sindicato dos Ferroviários da Cidade de Pasadena e Região engloba todos os trabalhadores, independente da categoria. Entretanto, como os técnicos em segurança do trabalho são de categoria diferenciada, eles podem fazer parte de outro sindicato, mesmo trabalhando para a Soft Kitty, por exemplo. Desta forma, somente os técnicos em segurança do trabalho da empresa Soft Kitty seriam representados pela SINTESTP. Ainda que houvessem trabalhadores ferroviários com risco elevado de acidentes da atividade exercida, este seriam representados por outro sindicato de categoria diferenciada que não a de técnico em segurança do trabalho. 4)Será possível o exercício do poder normativo nessa esfera judicial diante dapreliminar do empregador suscitado? Caso a Justiça venha a decidiro mérito, que fonte normativa será substituída pela falta de consenso das partes? Ainda na hipótese da pergunta anterior, que fonte será assim criada pela Justiça e, a partir de que momento, produzirá seus efeitos? RESPOSTA: Conforme o art.114, §2º da Constituição Federal, no caso de recusa de qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo, podendo a Justiça do Trabalho estabelecer normas e condições, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente. No caso dado em tela, temos de um lado a recusa por parte da empresa Soft Kitty – Companhia S.Cooper de Trens em estabelecer qualquer negociação coletiva, pois o seu presidente, Sheldon Cooper, não reconhece a legitimidade do dirigente da Federação Nacional dos Trabalhadores Ferroviários-FNTF, para que este reivindique, em nome da categoria, a renovação do contrato coletivo existente. De outro, temos a FNTF, federação que representa o Sindicato dos Ferroviários da cidade de Pasadena e Região que, não se conformando com as medidas adotadas pela empresa para contornar a greve, ajuizou a ação de dissídio coletivo. A ação pode ser proposta por um sindicato, empresa ou membro do Ministério Público, a depender do caso. Quando não houver sindicato representativo da categoria econômica ou profissional, poderá a representação ser instaurada pelas federações correspondentes e, na falta destas, pelas confederações respectivas, no âmbito de sua representação. O Poder Judiciário não pode deixar de analisar Acordos e Convenções Coletivas de Trabalho, principalmente se não estão de acordo com a Constituição. Em casos em que não há Acordo Coletivo de Trabalho, e as partes envolvidas na negociação não chegam a um acordo que leve a uma Convenção Coletiva de Trabalho, o sindicato ingressa com o Dissídio Coletivo no Tribunal Regional do Trabalho, TRT, que estabelece os benefícios e os reajustes salariais por meio de uma sentença normativa. A sentença normativa substitui o acordo coletivo. A principal condição para o início de um dissídio coletivo é a frustração das tratativas. Só quando os sindicatos, empregadores e empregados não chegam a bom termo é que se abre espaço para intervenção da Justiça do Trabalho. Após a mudança trazida pela emenda 45/2004, a Constituição Federal passou a exigir, em seu art.114 § 2.º, que a opção pelo dissídio coletivo seja realizada com o consentimento das partes envolvidas. Considerando ainda que o caso é referente a greve envolvendo ferroviários, transporte coletivo e, portanto, atividade essencial (art.10, Lei n.7.783/89 – Lei da Greve), o Ministério Público do Trabalho poderia ajuizar dissídio coletivo. Ademais, a empresa Soft Kitty não estabeleceu qualquer negociação coletiva com a FNTN, ou seja, nem sequer quis conhecer das reivindicações da federação e nem pretende negociar com ela quanto a esses pontos, por não reconhecer a legitimidade do dirigente da FNTN. Desta forma, não há preenchimento do requisito exigido pelo art.114, §2º, CF, quanto ao ajuizamento do dissídio coletivo de natureza econômica de comum acordo. A petição que é endereçada ao Presidente do Tribunal Regional do Trabalho ou do TST, se na esfera de jurisdição deste, deve vir acompanhada de ata de assembleia geral que autoriza o dissídio e ser assinada por ambas as partes, sindicato e empresa. Se houvesse a negociação coletiva entre a empresa e o sindicato, teríamos a formação de um acordo coletivo de trabalho, que é um diploma negocial de caráter normativo, com vigência máxima de 2 anos, podendo ser renovada, revista ou denunciada, sendo vedada a ultratividade (art.614, §3º, CLT e Súmula 277 TST): Art.614, § 3o Não será permitido estipular duração de convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho superior a dois anos, sendo vedada a ultratividade. SÚMULA 277 TST: As cláusulas normativas dos acordos coletivos ou convenções coletivas integram os contratos individuais de trabalho e somente poderão ser modificadas ou suprimidas mediante negociação coletiva de trabalho. Logo, considerando que a Justiça venha a decidir o mérito, teríamos como já dito anteriormente uma sentença normativa, com vigência a partir da sua publicação, quando não existir acordo coletivo, convenção coletiva ou sentença normativa anteriores, ou quando o dissídio coletivo não for instaurado dentro dos 60 dias anteriores ao respectivo termo final, conforme diz o art.867, Parágrafo Único, “a”, combinado com o art.616, §3º, CLT. No caso em questão, já havia um contrato coletivo anterior entre a empresa e a agremiação. A greve foi iniciada há dez dias da data-base, e no 61ª dia foi instaurado o dissídio coletivo, ou seja, a sentença normativa produzirá seus efeitos a partir de sua publicação. 5) Poderão ser, em tese, atendidas todas as reivindicações da entidade sindical suscitante? RESPOSTA: As reivindicações poderão ser atendidas, mas não de forma integral, como segue abaixo: I Reajuste salarial pelo mesmo índice oficial utilizado nas últimas negociações; Este é um valor que varia bastante e também costuma ser alvo de disputas judiciais.Você pode notar isso ao acompanhar os noticiários, quando determinada categoria entra em greve por divergências no reajuste salarial. Não há uma obrigatoriedade de porcentagem mínima ou máxima de reajuste – tudo vai depender da negociação entre as partes. II Redução da jornada de trabalho para 30 horas semanais em troca da fixação do intervalo de almoço para 25 minutos; Pela nova regra instituída pela Lei Federal 13.467/17 que alterou a CLT (Decreto-Lei5.452/43), o intervalo deve ter, no mínimo meia hora e pode ser negociado entre empresa e funcionário. De acordo com a lei, jornadas que possuem até 4 horas de trabalho diário, não possuem direito a pausa para intervalo de almoço. III A uniformização do adicional de insalubridade em 20% do salário para todos os empregados; a empresa deve fazer o pagamento de insalubridade apenas ao colaborador que éexposto ao risco. Os agentes insalubres estão elencados na norma regulamentadora número 15 do Ministério do Trabalho e Emprego, estes agentes podem ser classificados em grau mínimo, médio e máximo com respectivos percentuais de 10%, 20% e 40% conforme os níveis e tempo de exposição a estes agentes (art.190 da CLT) IV A renovação, como previsto nas últimas negociações coletivas, das contribuições, tanto confederativa quanto assistencial, denominada “taxa de revigoramento sindical”, nos mesmos moldes até então descontados pela Companhia dos salários de todos os seus trabalhadores. Logo, com a MP 873/2019, explicitou-se que a autorização relativa à contribuiçãosindical (prevista em lei) deve ser prévia, voluntária, individual e expressa.Na verdade, embora a questão pudesse gerar certa controvérsia, a exigência de a mencionada autorização ser individual (e não coletiva, ou seja, por meio de deliberação em assembleia geral) já era decorrente da previsão dos artigos 579 e 582 da CLT, na redação dada pela Lei 13.467/2017. Em harmonia com o exposto, o artigo 611-B, inciso XXVI, da CLT, incluído pela Lei 13.467/2017, determina que constitui objeto ilícito de convenção coletiva ou de acordo coletivo de trabalho a supressão ou a redução do direito de liberdade de associação profissional ou sindical do trabalhador, inclusive o direito de não sofrer, sem sua expressa e prévia anuência, qualquer cobrança ou desconto salarial estabelecidos em convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho. Nos termos do artigo 579 da CLT, com redação dada pela MP 873/2019: “O requerimento de pagamento da contribuição sindical está condicionado à autorização prévia e voluntária do empregado que participar de determinada categoria econômica ou profissional ou de profissãoliberal, em favor do sindicato representativo da mesma categoria ou profissão ou, na inexistência do sindicato, em conformidade o disposto no art. 591”. O Supremo Tribunal Federal firmou o entendimento de que é inconstitucional a instituição por acordo coletivo, convenção coletiva de trabalho ou sentença normativa de contribuições que se imponham compulsoriamente a empregados da categoria não sindicalizados, como se observa no seguinte julgado: “Recurso Extraordinário. Repercussão Geral. 2. Acordos e convenções coletivas de trabalho. Imposição de contribuições assistenciais compulsórias descontadas de empregados não filiados ao sindicato respectivo. Impossibilidade. Natureza não tributária da contribuição. Violação ao princípio da legalidade tributária. Precedentes. 3. Recurso extraordinário não provido. Reafirmação de jurisprudência da Corte” (STF, Pleno, ARE-RG 1.018.459/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe 10.03.2017).
Compartilhar