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Intérprete de Libras em salas de EB Esp. Michelle Oliveira Marques GUIA DA DISCIPLINA 2020 1 Intérprete de Libras em salas de EB Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 1. REVISÃO GERAL E NOVAS DEFINIÇÕES Diferença entre Surdez e Pessoa com Deficiência Auditiva Para iniciarmos essa disciplina precisaremos antes de tudo fazer uma pequena revisão no que já foi visto na disciplina de Libras1, também ministrada por mim. Será apenas uma revisão geral, pois o detalhamento do que será discutido já está no material didático de Libras. Quando pensamos em pessoa com déficit auditivo precisamos saber definir claramente as diferenças entre pessoa com surdez e com deficiência auditiva. Muito se vê na literatura essas informações descritas como uma coisa só ou definindo como definições distintas, mas que pedagogicamente falando são iguais. Desta última descrição eu devo discordar. Há sim, uma corrente filosófica muito forte em que se diz que a pessoa que tem qualquer tipo de déficit auditivo pode ser chamada de surda desde que ela se identifique com a Libras e com a Cultura Surda. Ou seja, para essa corrente o pensamento é de que desde de que se haja uma compatibilidade no pensamento da corrente da Cultura Surda e da escolha de fazer uso da Libras você pode e deve se autointitular como uma pessoa surda. Acredito ser um pensamento válido e precisamos respeitar essa escolha. No entanto, para fins educativos farei a classificação dos diferentes tipos de déficit auditivo em dois: pessoas com deficiência auditiva e pessoas com surdez. Usaremos a classificação biológica destas perdas e a sua caracterização, respeitando a opção individual e filosófica de cada um em se intitular da maneira que mais se sinta confortável. 1 L ibras: L íngua de s ina is bras i le i ra 2 Intérprete de Libras em salas de EB Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Fonte: Imagem do Google Essa é uma orelha e ela é dividida em 3 partes. Para que o som seja captado e decodificado no cérebro, sem alterações, ele precisa passar por todo esse sistema sem que haja nenhum problema. Essa “máquina” tem que estar em perfeito funcionamento. Qualquer mínima alteração causará uma interferência no reconhecimento deste som recebido. Seja pelo volume, intensidade ou entendimento do que está sendo ouvido. O SOM Compreender essas possíveis perdas e falhas na audição nos ajuda a identificar a diferença entre uma pessoa com deficiência auditiva e uma com surdez. A perda auditiva seria, em termos gerais, como tudo aquilo que sai dos padrões considerados normais de audição. Ela pode variar desde uma dificuldade de reconhecer alguns sons, quanto a uma ausência total do reconhecimento sonoro. Para se compreender os graus da classificação auditiva é preciso se falar, brevemente, sobre ao audiometria e o audiograma. Audiometria A Audiometria é, basicamente, uma avaliação que determina se a pessoa escuta, com qual qualidade sonora e em que quais intensidades. A Audiometria pode ser feita de bebês a adultos. Sendo realizado por um fonoaudiólogo. Em bebês o teste é feito com um aparelho específico e em crianças e adultos em uma cabine acusticamente tratada, para que se evite a interferência de sons e ruídos, para que se obtenha um resultado mais preciso. O Audiograma, nada mais é do que o gráfico com as coordenadas nas quais são registradas as frequências (Hz) e as intensidades (dB) das indicações sonoras mínimas Orelha interna Orelha Média Orelha Externa Capta e Conduz Vibra e Desloca Processa e Decodifica 3 Intérprete de Libras em salas de EB Universidade Santa Cecília - Educação a Distância que determinam que a pessoa avaliada está tendo estas percepções de som. Com este gráfico é possível se observar os dados destes limiares. Fonte: Imagem do Google O audiograma acima, que vocês já conhecem, é apenas um modelo ilustrado, não é real. O interessante de se observar nessa ilustração é onde estão os sons da fala, ou seja, em qual frequência e intensidade determinada letra é compreendida. Qual é a faixa em que nós conseguimos ouvir os sons da fala. Eles estão em posições diferentes e precisam de intensidades diferentes. Imagine que fazer o som /B/ é diferente de se fazer o som /S/. Não é uma linha reta. Por isso, temos tantas variações de perdas auditivas. Cada caso se torna único, cada criança tem a sua necessidade. Limiares Auditivos Representado no quadro abaixo, estão os dados de identificação das faixas auditivas, a classificação e as médias dos limiares. Este quadro é de suma importância para que possamos definir a pessoa deficiente auditivo e a pessoa com surdez. Abaixo do quadro faremos a descrição das características de cada uma delas. 4 Intérprete de Libras em salas de EB Universidade Santa Cecília - Educação a Distância IDENTIFICAÇÃO CLASSIFICAÇÃO MÉDIAS LIMIARES Ouvinte Audição Normal 0 a 25 dB Pessoa com Déficit Auditivo Perda Leve 26 a 40 dB Perda Moderada 41 a 70 dB Surdo ou Pessoa com Surdez Perda Severa 71 a 90 dB Perda Profunda A partir de 91 dB Características Audição Normal: identifica os sons normalmente, não apresentando qualquer alteração. Deficiência Auditiva: de 0 a 25 dB, - Perda Leve: de 26 a 40 dB, voz fraca e distante não é ouvida, a pessoa pode ser considerada “desatenta”, pode apresentar dificuldade na leitura ou na escrita, a aquisição da linguagem e o início da alfabetização pode ser considerada lenta. Às vezes, passa-se desapercebida, por ser muito sutil. Por vezes, quem identifica essas nuances é o professor nos primeiros anos escolares. - Perda Moderada: de 41 a 70 dB, percebe os sons da voz, mas é preciso mais intensidade (volume). Os sons se confundem quando está em um ambiente com mais ruído. Pode apresentar um atraso de fala, na linguagem e na discriminação de certos fonemas. Surdez - Perda Severa: de 71 a 90 dB, mais facilidade em reconhecer os sons/ ruídos graves. Reconhece a voz mais grave (grossa). Precisa de pistas visuais para “ouvir” melhor, ou seja, se a pessoa com perda severa não tiver visão do rosto de quem está falando poderá ter muita dificuldade ou chegar a não reconhecer com clareza o que está sendo dito. A pessoa com perda severa irá precisar de algumas adequações e auxílios para fazer o melhor uso da sua audição. - Perda Profunda: acima de 90 dB. Não é capaz de reconhecer a voz humana, tem mais facilidade com as pistas visuais. Terá muita dificuldade de se comunicar oralmente. Precisa de adequações específicas para um melhor aprendizado. 5 Intérprete de Libras em salas de EB Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Identificar as características acima é de suma importância, mas ainda será necessário o nosso senso de observação e um conhecimento um pouco mais aprofundado a respeito do tema. Dissemos anteriormente que o reconhecimento dos sons não é linear e que a estrutura da orelha é subdividida em 3 partes, cada uma com uma função. Sendo assim, a perda auditiva também não acontece de maneira linear. Uma mesma pessoa pode ter combinações de perdas auditivas diferentes para cada ouvido, vendo-se que eles não funcionam juntos, como os olhos. Um ouvido complementa o outro, como por exemplo localizar de onde vem o som. Uma orelha é capaz de perceber que o som está mais próximo daquele lado do que do outro. Pensando desta maneira, uma mesma pessoa pode ter uma perda leve em um ouvido e ter uma perda profunda em outro. É aí que começa a confusão! Precisamos sempre considerar a audição com mais perda, para qualificar como surdo ou com deficiência auditiva. Como saber fazer essa identificação? A criança, se já diagnosticada, irá apresentar na escolauma audiometria e no final desta folha (setas azuis) terá escrito o diagnóstico. Como no exemplo abaixo: Fonte: https://slideplayer.com.br/slide/326738/ Olhar esse laudo em um primeiro momento pode causar um certo estranhamento. Inicialmente, foque apenas em dois pontos principais. Esses serão primordiais para receber o seu aluno com déficit auditivo e ainda obter alguma informação do que está por vir. No https://slideplayer.com.br/slide/326738/ 6 Intérprete de Libras em salas de EB Universidade Santa Cecília - Educação a Distância local dessas setas azuis estará escrito a perda auditiva da criança, ou seja, o diagnóstico. Você encontrará a nomenclatura OE e OD, para orelha esquerda e orelha direita. E após a nomenclatura a perda, que pode ser de várias combinações. Exemplo: OE- perda leve moderada e OD- perda severa profunda. Lembre-se sempre que as perdas não são lineares, podem ter muitas variações. Já nas setas vermelhas você encontra as marcações de onde o fonoaudiólogo conseguiu identificar que a criança começou a responder aos estímulos auditivos. Ou seja, vai estar marcada na posição que a criança respondeu ao estímulo de som. Olhando para essas marcas e olhando para o audiograma ilustrado, você poderá identificar qual a percepção do som desta criança, tanto quanto identifica-lo na sua perda auditiva. No caso exemplificado acima o diagnóstico foi OE- perda leve moderada e OD- perda severa profunda. Na OE ele seria deficiente auditivo e na OD ele seria surdo. Partindo disso você poderia enquadrá-lo como surdo para um reconhecimento inicial. Geralmente iniciamos com o olhar pela perda que traz mais prejuízos auditivos. Agora você já tem um início. Por essa descrição inicial ela precisará de intérprete de Libras. Uma pergunta que pode estar acontecendo neste momento é: “Se eu terei um tradutor intérprete de Libras por que eu preciso saber isso?”. Essa pergunta é bem interessante e vamos a algumas possibilidades, outros detalhes a mais, falaremos mais adiante no decorrer da disciplina. Uma das possíveis respostas seria de que nem sempre o aluno surdo chegará já acompanhado por um tradutor intérprete de Libras, às vezes, o diagnóstico acabou de sair ou ele é aluno novo na rede ou mesmo diante do diagnóstico os pais/responsáveis não aceitam um tradutor com ele. Uma segunda possibilidade é a de que o tradutor está iniciando aquele ano com aquele aluno e ele também não sabe essa informação, ou talvez no seu curso de Libras para ser tradutor intérprete ele aprendeu a interpretar em Libras, mas não teve o ensino de como classificar os tipos de perda. Há diferentes cursos de Libras no mercado e cada um tem uma característica. Talvez o ainda mais essencial, esse aluno será seu, ele é de sua responsabilidade. Cabe a você buscar o máximo de informação possível a respeito dele. Quase sempre os próprios pais não sabem definir os seus filhos. Também veremos sobre isso mais a frente. 7 Intérprete de Libras em salas de EB Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Tradutor Intérprete de Libras O TILS2 deve ter por atuação à inclusão da pessoa surda em diferentes aspectos, podendo ser social, profissional, cultural, educativa e social. Teve possuir fluência na língua de sinais e também na língua portuguesa. Muito comumente o TILS são chamados para intermediar a comunicação entre surdos e ouvintes em palestras, eventos, entrevistas, consultas médicas entre outros. Além de fazerem parte dos profissionais envolvidos nas escolas para a facilitação do processo de interação escolar do aluno com surdez. Ele pode ser considerado a “ponte” de comunicação. Por serem, os TILS, responsáveis por essa “ponte” comunicativa, eles devem seguir alguns preceitos de imparcialidade, discrição, confiabilidade e fidelidade. Tais preceitos estão descritos em seu código de ética, que veremos a seguir. Legislação O Decreto n° 5.626 de 22 de dezembro de 2005, que regulamenta a Lei nº 10463 de 24 de abril de 2002, mais especificamente no Capítulo IV, Art. 14 garante às pessoas surdas acesso a comunicação, à informação e a educação, tornando obrigatória a oferta de profissionais para tradução e interpretação de Libras – Língua Portuguesa (e vice versa), nos contextos educacionais públicos ou privados. O mesmo decreto, no Capítulo VI, garante o direito dos alunos com deficiência à educação, e que os mesmos sejam incluídos na rede regular de ensino, com a presença do intérprete de língua de sinais. É possível observar que este decreto n°5.626 é dezembro de 2005, ele faz algumas previsões para o que seriam os próximos 10 anos. Este decreto ainda se mantém válido e pouca coisa se alterou no decorrer destes 15 anos. Outros decretos foram sancionados e alguns ainda estão em discussão, mas o mais efetivo até o momento é este. 2 TILS: Tradutor Intérprete de Libras 8 Intérprete de Libras em salas de EB Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Nomenclatura No decorrer histórico muitas foram as nomenclaturas para a função do intérprete de Libras. É possível termos como intérprete, tradutor intérprete (TI), intérprete alfabetizador, tradutor alfabetizador, intérprete de língua de sinais (ILS), intérprete educacional (IE), entre outros. Estas nomenclaturas muito tem a ver com as funções e características da função do intérprete e por vezes, se referem a uma nomenclatura criada por um órgão em específico. Para facilitarmos, utilizaremos o termo TILS, ou seja, tradutor intérprete de Língua de Sinais. Formação No decreto n° n°5.626/2005, todo o Capítulo V do referido decreto n° 5.626, trata da formação do Tradutor e Intérprete de Libras. “Art. 17. A formação do tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa deve efetivar-se por meio de curso superior de Tradução e Interpretação, com habilitação em Libras - Língua Portuguesa. Art. 18. Nos próximos dez anos, a partir da publicação deste Decreto, a formação de tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa, em nível médio, deve ser realizada por meio de: I - Cursos de educação profissional; II - Cursos de extensão universitária; e III - cursos de formação continuada promovidos por instituições de ensino superior e instituições credenciadas por secretarias de educação. Parágrafo único. A formação de tradutor e intérprete de Libras pode ser realizada por organizações da sociedade civil representativas da comunidade surda, desde que o certificado seja convalidado por uma das instituições referidas no inciso III. Art. 19. Nos próximos dez anos, a partir da publicação deste Decreto, caso não haja pessoas com a titulação exigida para o exercício da tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa, as instituições federais de ensino devem incluir, em seus quadros, profissionais com o seguinte perfil: I - Profissional ouvinte, de nível superior, com competência e fluência em Libras para realizar a interpretação das duas línguas, de maneira simultânea e consecutiva, e com aprovação em exame de proficiência, promovido pelo Ministério da Educação, para atuação em instituições de ensino médio e de educação superior; II - Profissional ouvinte, de nível médio, com competência e fluência em Libras para realizar a interpretação das duas línguas, de maneira simultânea e consecutiva, e com aprovação em exame de proficiência, promovido pelo Ministério da Educação, para atuação no ensino fundamental; 9 Intérprete de Libras em salas de EB Universidade Santa Cecília - Educação a Distância III - profissional surdo, com competência para realizar a interpretação de línguas de sinais de outros países para a Libras, para atuação em cursos e eventos. Parágrafo único. As instituições privadas e as públicas dossistemas de ensino federal, estadual, municipal e do Distrito Federal buscarão implementar as medidas referidas neste artigo como meio de assegurar aos alunos surdos ou com deficiência auditiva o acesso à comunicação, à informação e à educação. Art. 20. Nos próximos dez anos, a partir da publicação deste Decreto, o Ministério da Educação ou instituições de ensino superior por ele credenciadas para essa finalidade promoverão, anualmente, exame nacional de proficiência em tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa. Parágrafo único. O exame de proficiência em tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa deve ser realizado por banca examinadora de amplo conhecimento dessa função, constituída por docentes surdos, linguistas e tradutores e intérpretes de Libras de instituições de educação superior. Art. 21. A partir de um ano da publicação deste Decreto, as instituições federais de ensino da educação básica e da educação superior devem incluir, em seus quadros, em todos os níveis, etapas e modalidades, o tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa, para viabilizar o acesso à comunicação, à informação e à educação de alunos surdos. § 1o O profissional a que se refere o caput atuará: I - nos processos seletivos para cursos na instituição de ensino; II - Nas salas de aula para viabilizar o acesso dos alunos aos conhecimentos e conteúdos curriculares, em todas as atividades didático-pedagógicas; e III - no apoio à acessibilidade aos serviços e às atividades-fim da instituição de ensino. § 2o As instituições privadas e as públicas dos sistemas de ensino federal, estadual, municipal e do Distrito Federal buscarão implementar as medidas referidas neste artigo como meio de assegurar aos alunos surdos ou com deficiência auditiva o acesso à comunicação, à informação e à educação.” Pode-se observar que o crescimento pela oferta da capacitação do tradutor intérprete nos cursos superiores, educação profissional e extensão universitária tem aumentado no decorrer dos últimos anos. Esta é uma boa iniciativa em busca de atender a demanda nos próximos anos, no entanto a Libras é uma língua e como tal necessita de prática para o alcance da sua fluência. Sendo assim, é preciso tempo e muita prática. O que comumente ocorre é que o tradutor intérprete se capacita e vai desenvolver a sua fluência na prática. A falta de profissionais capacitados e a alta procura pela profissão faz com que as instituições escolares e redes de ensino tenham que se adaptar em relação ao que intitula o decreto e a realidade vivenciada por eles. Falaremos mais sobre isso no decorrer da disciplina. 10 Intérprete de Libras em salas de EB Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Funções De acordo com a cartilha do MEC do Programa Nacional de Apoio à Educação dos Surdos intitulado "O tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e língua portuguesa", a função do intérprete é fazer a interpretação do que foi dito de uma língua (língua fonte) para outra (língua alvo), e intérprete de língua de sinais é a pessoa que interpreta de uma dada língua de sinais para outra língua, ou desta outra língua para uma determinada língua de sinais. Ou seja, da Libras para a língua portuguesa e da língua portuguesa para a Libras. É de suma importância que este profissional possua fluência e domínio pleno da língua de sinais (Libras) para evitar as traduções literais, ou o português sinalizado (mera substituição de signos do código linguístico oral / escrito, por signos do código linguístico sinalizado), assim como possuir pleno domínio da Língua Portuguesa. Tendo por principal característica dar acesso ao surdo às informações apresentadas. Para tal ele precisa possuir fluência dos sinais e na língua portuguesa, para que possa transitar pelas duas línguas utilizando a estrutura gramatical correta de ambas. Mostrando a importância da imparcialidade e ética como essência desse profissional. Professor da Educação Especial A Educação Especial, como um todo, teve as suas funções reformuladas a partir da Política Nacional de Educação Especial de 2008, dando continuidade pelo Parecer n°13/2009 do CNE-CEB e com a Resolução 04/2009 do CNE-CEB. Esta última resolução cria uma nova perspectiva para as funções da Educação Especial e traz o início das salas de Atendimento Educacional Especializado (AEE). Dentre as normativas está a definição da funcionalidade do AEE separados por cada deficiência, visto que cada uma tem uma necessidade distinta, a obrigatoriedade da matricula do aluno com deficiência no ensino regular, assim como a liberação de verba do FUNDEB para esses novos espaços. A Resolução 04/2010 do CNE-CEB define as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica, identifica a educação especial não mais como uma modalidade educacional específica, mas como uma parte integrante do ensino regular e que deve estar identificada como tal no projeto-pedagógico da unidade escolar. 11 Intérprete de Libras em salas de EB Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Atualmente ao falarmos de educação inclusiva estamos nos referindo aos alunos que foram incluídos no ensino regular. Já a educação especial tornou-se parte de um serviço que ocorrerá durante todo o processo pedagógico da criança de inclusão. ANTES ATUALMENTE Creche Educação Infantil Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior Educação Especial Creche Educação Infantil Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior As novas diretrizes da Educação Inclusiva e o aumento da demanda de crianças com deficiência nas salas de aula de ensino regular, trouxe um aumento da busca dos cursos superiores em Educação Especial. Esses futuros profissionais estão em busca de se aprimorarem e se especializarem, sendo na modalidade de primeira ou segunda licenciatura. A diplomação em Educação Especial lhes conferirá a capacitação para atuarem nas salas de Atendimento Educacional Especializado (AEE), salas especiais e em instituições para deficientes, tais como as APAES. Sala Regular O docente formado em educação especial só poderá atuar na sala regular de ensino se tiver também o diploma de pedagogia ou licenciatura específica (letras, matemática, biologia...). O que seria de grande valia para o seu aprimoramento profissional para o atendimento da demanda de crianças de inclusão. O professor de pedagogia ou licenciatura específica receberá o aluno de inclusão em sua sala regular, tendo ou não um diploma de educação especial. Como dito no tópico acima, desde de 2009 o professor regular é o responsável direto pelo processo educativo da criança de inclusão, tendo o suporte da educação especial. Educação Especial 12 Intérprete de Libras em salas de EB Universidade Santa Cecília - Educação a Distância AEE O Atendimento Educacional Especializado permite que o aluno de inclusão desenvolva mecanismos que melhor o capacite para estar incluído na sala regular. Para que este seja um recurso de sucesso todos os envolvidos pela educação do aluno de inclusão devem estar conectados. A instituição escolar deve se adequar as necessidades do aluno de inclusão e não o inverso. No caso específico desta disciplina, pode-se dizer que a titulação em educação especial permitirá ao docente diplomado a sua atuação nas salas de AEE específicas para surdos ou nas generalistas, ou seja, aquelas que abrangem a todos os alunos de inclusão naquela instituição escolar em contraturno. Aos alunos surdos dessa instituição o professor do AEE deve assegurar o aprendizado ou desenvolvimento da Libras, promover atividades específicas, orientar o corpo docente em relação as características linguísticas destes alunos, entreoutras funções. O AEE de surdos é dividido em 3 categorias: ensino em Libras, para o ensino da Libras e para o ensino da língua portuguesa. Sala Especial Desde a Resolução de 2009, as salas especiais foram extintas. As que se mantiveram foram às custas de justificativas de demanda, embora a quantidade tenha sido drasticamente reduzida. Lembrando que as salas especiais a partir de 2010 deveriam ser totalmente extintas, visto que a verba do FUNDEB estava agora predestinada as salas de AEE. Algumas escolas especiais conseguiram se manter. Desde essa nova política de inclusão (2008) há várias discussões em relação ao melhor ambiente de desenvolvimento para a criança de inclusão, principalmente as que tem diagnósticos mais específicos ou possuem limitações físicas ou sensoriais mais severas. Em 2018, essa discussão volta à tona com mais força, quando se começa a falar sobre a nova Política de Educação Especial (após 10 anos da última). Grupos de opiniões se dividem entre aqueles que consideram a abertura das salas especiais como um retrocesso e aqueles que acreditam que elas são necessárias e primordiais, visto que trabalham as questões específicas de cada deficiência em um ambiente pedagógico destinado para elas. Vale lembrar que as salas de educação especial são agrupamentos 13 Intérprete de Libras em salas de EB Universidade Santa Cecília - Educação a Distância por deficiência, sendo assim, há salas especiais só para surdos, só para TEA3, só para cegos e deficientes visuais. Aos poucos municípios que ainda possuem salas especiais é exigida a graduação em educação especial para o professor poder atuar. 3 TEA: Transtorno do Espectro Aut is ta ou Aut ismo 14 Intérprete de Libras em salas de EB Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 2. IDENTIFICAÇÃO DOS PAPÉIS Definição do Tradutor Intérprete Educacional O tradutor intérprete educacional deve dar apoio linguístico ao aluno surdo de inclusão, mediando à comunicação entre os alunos surdos usuários da Libras e as outras pessoas do espaço educacional, sendo elas os outros alunos, professores e equipe escolar. O TILS deverá traduzir do português para a Libras e vice-versa, participando das interações educacionais e sociais dentro do ambiente escolar. Atualmente a presença de um tradutor intérprete de Libras nas unidades escolares das redes públicas são assegurados por uma legislação específica. Recebendo bastante destaque nos últimos anos. Com a obrigatoriedade e o crescimento de demanda o TILS se tornou um profissional bastante requisitado nos ambientes escolares. No entanto, devido à escassez do mercado e a falta de mão de obra qualificada tem sido muito comum os Estados e os Municípios fazerem algumas adaptações à esta função. Atuação no Ambiente Escolar O TILS estará na sala de aula do ensino regular se houver um aluno que se enquadre nos parâmetros definidos para esse recurso, ou seja, ser surdo e necessitar do uso da Libras. Neste caso os alunos com deficiência auditiva de graus de leve a moderada não teriam esse acompanhamento, visto que fazem uso da oralidade. O tradutor intérprete de Libras deve promover o conhecimento e apresentar os conteúdos pedagógicos apresentados pelo professor regente. Dependendo do ano escolar que a criança surda de inclusão se encontre ou o contato que este aluno teve com a Libras, o tradutor intérprete também fará um trabalho de aumento do vocabulário em Libras ou a introdução da mesma. Embora a indicação é que este aluno surdo busque o aprendizado da Libras e comunidades surdas ou centros e instituições bilingues ou ainda frequentar a sala de Recursos Multifuncionais que faz parte do programa de AEE. Eles locais indicados teriam por objetivo inserir a criança com surdez a Libras, afim de melhor usufruir do tradutor de Libras em sala de aula. Algumas funções que o tradutor intérprete educacional pode desempenhar: 15 Intérprete de Libras em salas de EB Universidade Santa Cecília - Educação a Distância - Oportunizar ao aluno surdo condições de aprendizagem dos conteúdos apresentados pelo professor. - Acompanhar o aluno surdo nas avaliações, caso o professor não se oponha, para lhe dar as explicações necessárias no caso da avaliação ser por escrito. O TILS poderá apresentar o significado das palavras que o aluno não conhece na sua forma escrita ou traduzir para Libras o conteúdo da prova. Sem interferir nas respostas. - Fornecer informações sobre a importância da interação do professor regente com a aluno com surdez, buscando o vínculo entre eles. - Estar em todas as aulas, inclusive as disciplinas complementares, como artes e educação física. O professor não pode se opor a presença do intérprete nas suas aulas, a não ser no dia da avaliação. - Cumprir o seu horário na escola, mesmo que o aluno surdo falte. O TILS poderá utilizar esse tempo para pedir para o professor os materiais que serão dados em aulas futuras para que ele possa se antecipar os sinais deste conteúdo. - Participar dos encontros e atividades pedagógicas que envolvam a escola, encontros culturais, festas comemorativas. O aluno surdo também deve fazer parte dessas comemorações. Ética A ética é um dos princípios fundamentais do TILS. Ele foi criado para nortear a postura do tradutor intérprete de Libras. No código de ética se define desde a confidencialidade quanto as vestimentas mais apropriadas para uma tradução mais efetiva. No entanto, alguns desses requisitos não se aplicam ao TILS escolar, visto que se trata de um público menor e mais próximo se comparado a uma tradução em Libras para um canal televisivo. Contudo, alguns intérpretes mantem alguns padrões de vestimenta mesmo em sala de aula, principalmente se estiverem em um ambiente com amis pessoas, para que o enfoque seja a tradução em si e não o tradutor. Alguns pontos importantes que devem ser conhecidos do código de ética do TILS especificamente para os de atuação educacional encontrados no código de ética que é parte integrante do Regimento Interno do Departamento Nacional de Intérpretes (FENEIS). D - Registro dos Intérpretes para Surdos - em 28-29 de janeiro de 1965, Washington, EUA) Tradução do original Interpreting for Deaf People, Stephen (ed.) USA por Ricardo Sander. 16 Intérprete de Libras em salas de EB Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Adaptação dos Representantes dos Estados Brasileiros - Aprovado por ocasião do II Encontro Nacional de Intérpretes - Rio de Janeiro/RJ/Brasil – 1992: CAPÍTULO 1 Princípios Fundamentais Art. 2°. O intérprete deve manter uma atitude imparcial durante o transcurso da interpretação, evitando interferências e opiniões próprias, a menos que seja requerido pelo grupo a fazê-lo; Art.3°. O intérprete deve interpretar fielmente e com o melhor da sua habilidade, sempre transmitindo o pensamento, a intenção e o espírito do palestrante. Ele deve lembrar-se dos limites de sua função e não ir além de a responsabilidade; Art.5°. O intérprete deve adotar uma conduta adequada de se vestir, sem adereços, mantendo a dignidade da profissão e não chamando atenção indevida sobre si mesmo, durante o exercício da função. CAPITULO 3 Responsabilidade Profissional Art. 9°. O intérprete deve considerar os diversos níveis da Língua Brasileira de Sinais bem como da Língua Portuguesa; Art.11º. O intérprete deve procurar manter a dignidade, o respeito e a pureza das línguas envolvidas. Ele também deve estar pronto para aprender e aceitar novos sinais, se isso for necessário para o entendimento; Art.12°. O intérprete deve esforçar-se para reconhecer os vários tipos de assistência ao surdo e fazer o melhor para atender as suas necessidades particulares. CAPITULO 4Relações com os Colegas Art.13°. Reconhecendo a necessidade para o seu desenvolvimento profissional, o intérprete deve agrupar-se com colegas profissionais com o propósito de dividir novos conhecimentos de vida e desenvolver suas capacidades expressivas e receptivas em interpretação e tradução. Parágrafo único. O intérprete deve esclarecer o público no que diz respeito ao surdo sempre que possível, reconhecendo que muitos equívocos (má informação) têm surgido devido à falta de conhecimento do público sobre a área da surdez e a comunicação com o surdo. Tradutor Intérprete na Sala de Aula Regular de Ensino 17 Intérprete de Libras em salas de EB Universidade Santa Cecília - Educação a Distância A atuação do TILS na sala regular de ensino é de identificar as características linguísticas do aluno surdo atendido, definir um melhor plano de atuação para o seu desenvolvimento em relação a Libras, servir de interação comunicativa entre o professor regente e o aluno surdo, buscar a antecipação dos conteúdos curriculares que serão apresentados ao aluno para que ele possa se antecipar com outros materiais de apoio, traçar estratégias juntamente ao professor regente de como incluir este aluno com surdez com os outros discentes da sala de aula, buscar uma relação de troca profissional com o professor para que busquem alternativas de auxiliar o trabalho do mesmo e para que ele possa melhor entender quais são as dificuldades e limitações linguísticas desse aluno surdo. Tradutor Intérprete na Sala no AEE Como vimos anteriormente o AEE de surdos é dividido em 3 categorias: ensino em Libras, para o ensino da Libras e para o ensino da língua portuguesa. Nas duas primeiras categorias, ensino em Libras e ensino da Libras, o professor deve ser fluente em Libras. O que não se faz necessário, mas seria prudente, na terceira categoria. Quando há essa subdivisão de atendimentos só há a necessidade do acompanhamento do TILS na categoria de ensino da língua portuguesa, caso o professor não faça uso da Libras. Também pode ocorrer que em uma determinada unidade escolar só haja a sala de AEE composta, ou seja, abrangendo todas as deficiências em um mesmo espaço físico de trabalho, sem que haja as subdivisões determinadas pelas diretrizes da educação inclusiva. Neste caso ocorre do professor de AEE, às vezes, não ser fluente em Libras, ele pode ter uma formação específica em outro tipo de deficiência. Sendo assim, quando se fizer necessário o acompanhamento do TILS com o aluno surdo na sala de AEE, as suas funções serão as mesmas das descritas no tópico anterior Antigamente a formação do professor de educação especial poderia ser em uma única área de atuação, como déficit visual. Sendo assim, seria necessária a presença do TILS na sala de AEE acompanhando o seu aluno surdo. No entanto, isso só é possível se o aluno frequentar a sala de AEE no mesmo turno e não no contraturno. Isso às vezes acontece na prática, mesmo que não seja especificado pelas diretrizes do AEE. Nestes casos alguns municípios fazem escolas de inclusão polos, tentando matricular naquela unidade alunos de uma mesma deficiência. Assim, poderia compor uma equipe mais coesa e capacitada para aquela área de atuação. Outra adaptação que costuma ocorrer na prática 18 Intérprete de Libras em salas de EB Universidade Santa Cecília - Educação a Distância é a de se ofertar o AEE em outra unidade escolar, onde haja um professor de AEE fluente em Libras. Essas duas opções, também não estão definidas nos parâmetros de atuação no AEE, mas fazem parte de pequenas adequações de médio porte que os municípios optam. Tradutor Intérprete na Sala de Educação Especial Não há a atuação do TILS em salas de educação especial para surdos, pois o professor regente desta sala deverá ter os requisitos específicos para a sua atuação na mesma, dentre eles a fluência em Libras. Caso o aluno com surdez tenha mais outro déficit associado, ou seja, em comorbidade geralmente opta-se pela sala especial onde ele tem mais limitações. Exemplo 1: criança surda e com baixa visão, geralmente, é encaminhada para a sala especial de crianças surdas. Pois, o seu prejuízo maior está na audição. Exemplo 2: criança com deficiência auditiva e com cegueira, geralmente, é encaminhada para a sala de especial de crianças deficiente visuais. Lembrando que atualmente quase não há salas especiais nas redes públicas de ensino. Muitos municípios não possuem nenhuma. Logo os exemplos acima são apenas para os municípios que possuem estas salas e que podem fazer essa opção. Mesmo assim, deve haver uma limitação muito específica para se justificar a matricula na sala especial. Em relação as salas especiais para surdos, elas se encontram praticamente extintas, pois a priorização das Políticas de Inclusão é que elas estejam em sala regular. O que há são poucas escolas públicas bilingues, língua de sinais e língua portuguesa. A maioria delas já existiam antes das diretrizes de 2009 e conseguiram se manter ativas. 19 Intérprete de Libras em salas de EB Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 3. SUBJETIVIDADE DA PRESENÇA DO TRADUTOR INTÉRPRETE De uma maneira geral os dicionários identificam a palavra subjetividade como o oposto a objetividade. Sendo assim, podemos definir subjetividade como algo relacionado a um ponto de uma pessoa, que esta diretamente ligada as suas influências culturais, religiosas, educacionais e experiencias. Mais relacionado ao íntimo de uma pessoa. Relação subjetiva com as coisas ou as pessoas. Exemplo: saber que um morango é um morango é um ponto objetivo indiscutível. Ele é o que é! Agora, se o morango te traz um certo prazer ao comer ou se você acredita que o morango é uma das piores frutas que você já experimentou, esses seriam os pontos subjetivos. Pois, trazem as marcas que você tem sobre esse elemento. No caso o morango. Representatividade do Tradutor Intérprete na Sala de Aula Por que precisamos falar sobre a subjetividade da presença do tradutor? Como já vimos, anteriormente, há uma legislação específica, um código de ética e outras definições relacionados ao tradutor intérprete de Libras. Todas estas questões abordadas são de suma importancia para a dinâmica do TILS. Mas, quando estamos falando do TILS educacional, estamos lidando com um indivíduo que terá uma relação, embora que profissionalmente falando, diária e direta com o aluno surdo de inclusão e com o professor da sala regular. Não podemos ignorar que essa relação de proximidade pode vir a criar outros vínculos, transpassando as questões da fidelidade e neutralidade na interpretação. Trata-se de interações humanas e o vínculo torna-se quase que inegável. Precisamos compreender essa relação entre o TILS e o aluno surdo. Como ela se manifesta e como devemos lidar com essa vivência. A partir do momento em que se cria o vínculo, a imparcialidade na tradução quase deixa de existir, pois o TILS sabe as dificuldades do aluno com surdez e muito provavelmente ele irá romper as barreiras de distânciamento profisisonal afim de auxiliar da melhor maneira possível este aluno. Indo provavelmente além do que lhe é esperado. Considerar essa questão da subjetividade pode ressignificar o papel desenvolvido pelo TILS educacional. 20 Intérprete de Libras em salas de EB Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Relações Tradutor Intérprete + Professor Partimos do princípio que todos os alunos de um determinado professor são de sua responsabilidade pedagógica. Isso não será diferente se este aluno tiver alguma deficiência ou se o memso for acompanhado por um TILS (surdo), tutor (TEA) entre outras possibilidades. A presença de um outro profissional na sala de aula pode criar diferentessituações a ambos os envolvidos. No caso professor e tradutor, acanhamento, competição, discordância, amizade, parceria, entre outros. Esta relação está diretamente ligada a subjetividade que relatamaos anteriormente. São relações humanas entre adultos em um mesmo ambiente onde um exerce a função hierarquica de “comando” da sala (professor) e o outro é um profissional que tem seus códigos de contuda, mas que não necessáriamente deve ser submisso ao docente regente. Ao contrário disso, o que deve é se estabelecer uma relação de trabalho mútuo. Dai esta a delicadeza desta relação, pois diante da visão subjetiva que tiver dessa parceria, pode-se ter um bom ou um mal resultado e o maior prejudicado será o aluno surdo em questão. Na Videoaula 03, relato uma experiência pessoal minha. Uma com um aluno do 1°ano, do ensino fundamental, que certamente rompe com as definições “’éticas” do papel do TILS educacional. Fica então um questionamento: O que você teria feito se este mesmo ocorrido tivesse acontecido com você? Como você atuaria sendo você a professora regente? Como você atuaria sendo você o TILS? Tradutor Intérprete + Aluno Surdo A relação do intérprete de Libras e do aluno surdo podem ter várias nuances. Podendo ser uma relação muito próxima de parceria ou apenas a função do protocolo da tradução em si, sem nenhum tipo de vínculo. Isso depende muito da empatia, ou não, que se cria nesta dinâmica. Como vimos no início desse capítulo é de suma importância repensarmos a relação tradutor / aluno com um olhar mais subjetivo e não apenas como uma tarefa engessada. 21 Intérprete de Libras em salas de EB Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Até porque na grande maioria das vezes, as necessidades pedagógicas do aluno com surdez vão muito além da necessidade de um canal de comunicação entre a Libras e a língua portuguesa. Trata-se de uma realidade completamente diferente do que quando vemos o TILS em atividade em uma situação de consulta médica, de palestra ou de um programa televisivo. Ali, o TILS está exercendo a sua função de mediador, devendo se manter fiel ao que se está sendo dito e tratado. No entanto, em uma relação de sala de aula, muito provavelmente o aluno só tem aquele TILS como seu representante. Não é raro que a criança surda mesmo estando em uma sala de inclusão apresente lacunas pedagógicas tanto na sua formação de base quanto no seu conteúdo pedagógico dos anos anteriores. Por vezes, e não raramente, o surdo vai adquirindo a Libras no decorrer da sua escolarização e não em centros educacionais bilingues, como lhe é indicado. Seja porque a família não deseja ou por não ter condições de fazê-lo, seja porque não existe esse recurso na região. Também ocorre que alguns alunos surdos desconhecem a Libras, mas já estão na fase da escolarização ou até em anos escolares mais avançados. Neste caso a tradução para Libras não poderia ser apenas do que está sendo dito pelo professor, pois para o surdo não teria significado algum, visto que ele não faz uso da Libras. Seria mais um canal de comunicação que lhe é apresentado, mas que não lhe traz nenhum significado. Neste caso o TILS acaba por adequar a linguagem, por vezes “reduzindo” a tradução e quando possível trazendo outros elementos visuais para poder compor as informações apresentadas por este professor. Para melhor exemplificar. Imagine um TILS traduzindo sobre a Revolução Industrial para um surdo que não sabe ao certo nem o que é um bairro ou um país, ele certamente não saberá onde está a Inglaterra, nem se situar em uma outra época da história. Neste caso o TILS sabendo das limitações linguísticas do aluno com surdez, poderá preparar algum material visual para apresentar e facilitar a visualização, caso o professor não o tenha feito. A dificuldade de abstração de novos conteúdos não é uma dificuldade exclusiva dos surdos. Há também nas salas de aulas, alunos ouvintes com pouca base educacional. Neste exemplo dado vale uma pequena ressalva, antigamente os professores faziam uso de mapas e recursos visuais durante as suas aulas. No entanto, é sabido que nos últimos anos essa maneira de apresentação física (mapas, livros, gravuras) já não é mais comum. Criou-se um certo conceito de que tudo está na internet e por isso todos acessam. Mas, 22 Intérprete de Libras em salas de EB Universidade Santa Cecília - Educação a Distância esquecesse de que nem todos tem essa cultura de complementar a informação apresentada pela internet, principalmente se não forem educados para tal. Seja pelo seu professor seja pelos seus pais. Acho que vale o adendo e a reflexão! Há outros casos de alguns surdos que chegam a se tornar fluentes em Libras, mas não escrevem quase nada em português. Ou seja, eles conseguem compreender a matéria dada através do TILS, mas só sabem reproduzir as respostas em Libras, pois não tem o vocabulário escrito específico da língua portuguesa. Nestes casos, o TILS pode servir de escriba. Ou seja, a prova do aluno surdo é feita toda em Libras e o TILS transcreve o que o aluno está respondendo para que o professor possa avaliar. O intérprete deverá, de preferência, escrever exatamente da maneira que o surdo sinaliza, sem fazer interferências na escrita. Pode-se observar, com esses dois exemplos, que são muitas as possibilidades da atuação do TILS educacional. Que embora pareça que a sua função é apenas ser um intermediador com conhecimento em Libras, ela é completamente aberta a diferentes necessidades e variações de acordo com o aluno surdo atendido por ele. Cabe ao TILS seguir a sua função predeterminada de ser esse tradutor de uma língua para outra ou de ser um instrumento de crescimento linguístico e sucessivamente também contribuir para o desenvolvimento pedagógico desse aluno com surdez. Ambas escolhas estarão corretas, embora uma carregue um peso mais técnico e a outra mais moral. No entanto, o TILS jamais poderá ser julgado pela sua escolha. Ele está dentro do que lhe determina a legislação. Daí a importância de discutirmos sobre a subjetividade da atuação do TILS no ambiente escolar. Retirando-o de uma caixa engessada e o colocando em uma realidade educacional. Professor / Aluno + Tradutor Intérprete Está certamente é a relação mais delicada, das descritas nesta aula. O professor regente é o responsável por todo o âmbito pedagógico dos seus alunos, isso inclui qualquer aluno incluso ou não em sua sala de aula. É ele quem deve preparar e adequar o material que será utilizado em sala de aula e buscar maneiras de adaptar as avaliações em relação as distinções da criança com surdez. 23 Intérprete de Libras em salas de EB Universidade Santa Cecília - Educação a Distância O tradutor intérprete é utilizado como intermediador devido a diferença linguística utilizada pelo professor (língua portuguesa) e o aluno surdo (Libras, quando este fizer uso da mesma). Sua função, como já vimos, é de transitar entre essas duas formas comunicativas de maneira imparcial e fiel ao que está sendo dito pelo professor. O que muito comumente acontece, na prática, é que o professor pode ser que não tenha embasamento pedagógico para lidar com essas distinções linguísticas do aluno surdo. E por se tratar de uma língua que ele não conhece, também será muito difícil para ele saber avaliar qual o conhecimento pré-existente desse aluno. Vale lembrar que a novas políticas de educação inclusiva são relativamente novas (2009). E que apenas nesses últimos anos é que as universidades de pedagogia e licenciatura tem se adaptado a inserir em suas grades curriculares disciplinas voltadas para aos alunos de educação inclusiva. Logo, há muitos profissionais ainda ativos que tem uma formação pedagógica anterior e que não contemplavam em seu curso as deficiências que hoje estão inseridasnas salas de ensino regular. Você até pode se perguntar: “Ah! Mas já se passaram tantos anos e esses professores ainda não foram capacitados para essa nova realidade?”. Sim, eles foram e continuam sendo. Mas é uma normativa que ainda está sendo ajustada e mesmo necessitando ser reformulada. Imagine que nesses últimos 11 anos os espaços físicos tiveram que ser readequados, as estruturas educacionais refeitas, entre outras adaptações. Além de que estamos falando do Brasil, um país extenso. Não podemos pensar só nas grandes capitais como São Paulo ou Curitiba. Temos que pensar nas adequações que também tiveram que ocorrer nas pequenas cidades dos interiores de alguns Estados. Os pequenos municípios tiveram que lidar com a questão da pouca infraestrutura e as grandes metrópoles nas questões que se referiam a alta demanda de alunos para serem incluídos. Pode-se dizer que ainda vivemos esse processo e está em adaptação e reajuste. Tradutor Intérprete + Aulas Complementares O aluno surdo participa integralmente com o resto da sua turma de outras disciplinas complementares que fazem parte da grade de aulas, tais como: educação física e artes. Sendo assim, o TILS também deve acompanhar o aluno surdo nessas aulas. Fazendo as mesmas funções das descritas na relação professor / intérprete. O que às vezes acontece é os professores dessas disciplinas, principalmente a de educação física, preteri que o TILS permaneça apenas no início da aula ou em momentos 24 Intérprete de Libras em salas de EB Universidade Santa Cecília - Educação a Distância que há uma explicação mais específica e depois “dispensa” o intérprete. Principalmente se a sua aula for prática. Essa situação pode ocorrer, desde que ambos concordem e que o aluno com surdez se sinta à vontade para tal. Não deixa der ser um momento de interação social e mais livre entre todas as crianças e o professor daquela disciplina. Contudo, o professor de qualquer disciplina, jamais poderá negar a presença do TILS em sua aula. Vale ressaltar que este “combinado” só tem valia se há o entendimento de todos os envolvidos e a aceitação dos mesmos. Incluindo a equipe pedagógica (coordenador ou diretor). Isso é uma exceção que vai em desacordo com as funções determinadas para o TILS, mas que na prática ocorrem com bastante frequência. Se o professor ou os pais do surdo quiserem que o TILS acompanhe o surdo por todo o seu tempo na escola, não há o que discutir. Jamais deverá se tornar uma regra ou um direito do TILS. Como por vezes, o TILS acaba por acompanhar os surdos em todos os ambientes, ele não tem o período sem aula, conhecidos como “janela” que o professor da sala regular, às vezes, tem. Lembrando que o TILS não é professor, logo ele tem um enquadramento de trabalho diferenciado dos professores. Salvo as adequações de alguns municípios que por falta de demanda para TILS contratam professores habilitados em Libras e concursados como professores para fazer o segundo período como intérprete. Neste caso seguirão as condições ofertadas pela secretaria de educação para essa função. Tradutor Intérprete + AEE O atendimento Educacional Especializado (AEE) é feito no contraturno, ou seja, no período contrário ao que o aluno com deficiência frequenta a sala regular. Sendo assim, o TILS não acompanha o aluno surdo neste atendimento. Além do mais, parte-se do princípio que o professor do AEE será fluente em Libras. Logo, o TILS não é necessário. Além de que, como vimos anteriormente, o AEE deve ser dividido em 3 momentos. Quando possível em 3 espaços distintos. Seriam eles, AEE: em Libras, de Libras e de língua portuguesa. Contudo a realidade prática nem sempre é essa. O que ocorre é que uma grande maioria das escolas públicas não tinham o espaço físico, ou seja, salas de aula extras em suas unidades escolares no período em que as novas políticas de inclusão foram lançadas. Além do mais o AEE tem também outras subdivisões para as outras deficiências. Isso seria fisicamente impossível dentro das unidades escolares. Novamente, o que ocorreu 25 Intérprete de Libras em salas de EB Universidade Santa Cecília - Educação a Distância foi uma adaptação do espaço físico. É comum, algumas escolas terem uma sala de AEE para atender a demanda inclusiva de toda aquela unidade escolar, sem nenhuma outra sala exclusiva. Com um professor de educação especial em cada período, atendendo em contraturno. Os alunos de inclusão da manhã são atendidos no período da tarde e vice versa. Outra adequação que foi necessária foi a exceção para alguns alunos serem atendidos no mesmo turno, mesmo que não seja a orientação da Política Nacional de Inclusão. No entanto, entende-se ser pedagogicamente melhor o atendimento desta criança de inclusão no mesmo turno do que ela não frequentar o AEE. Novamente vale a ressalva que se trata de exceções e não podem ser a regra, pois iriam em desacordo com as diretrizes da educação inclusiva. Afinal, quando o aluno de inclusão está em atendimento no AEE no mesmo turno, ele não está usufruindo do conteúdo da sua sala regular. Se o aluno surdo estiver sendo atendido no mesmo turno, o TILS poderá acompanha-lo, caso o professor de AEE ou o aluno surdo não se oponham. Quando é possível essa interação ela torna-se bastante produtiva, pois o professor do AEE poderá buscar junto ao TILS maneiras de criar melhores estratégias para o desenvolvimento linguístico daquele aluno trocando as suas experiências, afinal o TILS está diretamente em contato com o aluno surdo em todas as dinâmicas escolares e reconhece as suas limitações de vocabulário e outros detalhes relacionadas a Libras e a língua portuguesa. Não podemos deixar de reforçar que quem é o responsável pedagógico pelo aluno é o professor da sala regular. Sendo assim, qualquer plano de atuação pedagógica deverá ser tratado entre o professor da sala regular e o professor do AEE. 26 Intérprete de Libras em salas de EB Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 4. DINÂMICA NA PRÁTICA Por onde começar? Vamos começar essa resposta com uma outra pergunta. Que tal começarmos por um olhar mais humanizado de todas as questões técnicas abordadas até agora? Legislação, Decretos, Resoluções e outros correspondentes podem ser facilmente encontrados na internet com uma rápida inserção na ferramenta de busca. É de suma importância que se abranja ainda mais o que é aprendido. Incentivo que cada vez se busque mais. No entanto, acredito ser muito pertinente a discussão da prática. Dessa relação tão conturbada entre o que está determinado a ser feito e o que tem ocorrido na realidade. Vamos lembrar também que novas políticas de inclusão são relativamente recentes e elas trazem uma grande carga de mudanças que envolvem a todos os âmbitos da educação, desde de Legislação até o ambiente físico. Ainda está se reajustando entre o que se planeja e como se aplica. Inclusive há uma atualização recente e ainda não oficializada quanto a reabertura das salas especiais. Discussão que tem dividido opiniões. Alguns acreditando ser um retrocesso outros acreditando ser uma necessidade para casos específicos, estes entendem que o atendimento em salas especiais retornaria com um novo olhar mais atualizado. Falei da subjetividade da relação do intérprete de Libras dentro dos ambientes escolares e apresentei alguns exemplos para melhor elucidar o que está sendo dito. Mas foram pequenas “pinceladas” de acontecimentos de um universo de possibilidades. A grande “magia” de se trabalhar com educação é a proximidade das relações humanas. São um grupo específico de alunos com as suas próprias vivências em uma mesma sala sobre a regência de uma única pessoa, o professor. Está nas mãos dele e sob a sua responsabilidade pelo menos 1 ano do desenvolvimentopedagógico desse grupo de estudantes. De maneira nenhuma quero romantizar essa cena, pois do outro lado está o professor que também tem as suas experiências de vida e as suas marcas diante da responsabilidade da formação daqueles alunos. Não podemos esquecer do ambiente físico que pode ser precário ou apropriado. E neste quadro, temos alunos de inclusão que podem ser mais de um, com diferentes deficiências. Quem já esteve em salas de aulas em escolas públicas deve ter vivenciado essa realidade. Além dos outros alunos que não se enquadram como alunos de inclusão, mas trazem com eles algum diagnóstico ou dificuldade que 27 Intérprete de Libras em salas de EB Universidade Santa Cecília - Educação a Distância também necessitará de um olhar diferenciado. Estou falando dos dislexos, hiperativos, com transtornos psicológicos entre outros. Esses alunos possuem alguma dificuldade específica relacionadas ao seu desenvolvimento pedagógico, mas não possuem nenhum déficit cognitivo ou sensorial, sendo assim, não se enquadram nas diretrizes da educação inclusiva. São alunos regulares com laudos. Todo este grupo heterogêneo está sob a regência do professor que tem que aprender, lidar e adaptar um conteúdo pedagógico generalista há este grupo individualizado de alunos. Cada caso requer uma atenção especial. Então, que tal começar por aí? Fazendo um exercício de nos colocarmos na situação de cada um de maneira individual e depois abrangermos o nosso olhar para um todo. Futuramente, são essas crianças que estarão sob a sua responsabilidade pedagógica. Dentro de um breve espaço de tempo será você este professor! O que esperar? Partindo do um olhar mais humano. Voltando ao nosso tema em específico. Estamos falando de uma sala de ensino regular com um professor regente, um grupo de alunos, alguma inclusão e entre elas um aluno com surdez, além da presença de um tradutor intérprete para acompanhar esse aluno. O que se espera é que se crie um vínculo profissional entre o professor e o TILS, onde ambos possam buscar melhores alternativas para desenvolver pedagogicamente e linguisticamente o aluno surdo de inclusão. Respeitando cada um à sua função, não delegando ao outro aquilo que é da sua competência e responsabilidade. Que ambos possam utilizar a presença um do outro, no que cada um pode oferecer dentro do seu conhecimento. Pois, por fim ambos têm um objetivo em comum, a evolução pedagógica daquele aluno com surdez. O que pode acontecer? Volto a ressaltar que estamos lidando com pessoas e não máquinas. O que poderia acontecer? O que acontece em qualquer relação interpessoal. Tudo pode acontecer! Desde conflitos de interesse, antipatia pelo outro profissional, transferência de responsabilidade, como uma boa relação profissional, oportunidade de crescimento intelectual (um aprendendo com o outro), boas parcerias, é um mundo de possíveis acontecimentos. 28 Intérprete de Libras em salas de EB Universidade Santa Cecília - Educação a Distância O importante é entender os papeis de cada um nessa engrenagem e saber defini-los com coerência. Como dizia a minha avó, “O combinado não sai caro!”. Já somos capazes de entender que a atuação de um TILS vai além de uma função unicamente técnica, ela também tem seu espectro pedagógico. Mas, essa função jamais deverá ser substituída pela prática do professor. Pois, o TILS tem o seu foco nas questões linguísticas e não nos processos de ensino. Algumas orientações do que deve acontecer nesta dinâmica: - O professor e o TILS devem se mobilizar, como incentivadores, para que o aluno surdo se coloque diante da sala como sujeito pertencente aquele grupo e não o isolar com o TILS dos demais. - O professor deve incentivar que o estudante surdo que dê suas opiniões e participe das atividades coletivamente. - O TILS pode sugerir ao professor da sala, estratégias metodológicas que favoreçam o melhor entendimento do surdo com o que está sendo apresentado, como recursos visuais. - Tanto o professor quanto o TILS devem buscar em sua atuação a autonomia do estudante surdo. - O professor, com a ajuda do TILS, pode criar atividades e estratégias lúdicas para integrar o surdo a sala. O intuito é se criar essa relação de parceria. Onde cada um pode contribuir com a seu conhecimento específico. O que não deve acontecer? Acontece de alguns professores, sobrecarregados ou não, acabarem por atribuir as responsabilidades pedagógicas ao TILS. Não raramente acontece da coordenadora pedagógica ir a uma sala de aula e perguntar como está a evolução pedagógica daquele estudante surdo e o professor dizer que quem sabe sobre isso é o tradutor. Pode também acontecer o inverso. O TILS tomar para si as atribuições pedagógicas, fazendo do aluno surdo o seu “aluno”, com a própria anuência do professor. Também há casos de que essa troca de papéis acontece pelo desconhecimento do professor em relação ao seu papel e por parte do intérprete também. Isso jamais poderá acontecer! 29 Intérprete de Libras em salas de EB Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Podemos também elencar algumas circunstâncias que não devem acontecer com o TILS: - Assumir a regência da sala de aula ou substituir o professor, sob nenhuma circunstância. Mesmo que ele possua qualificação para tal. - Aplicar avaliações no lugar do professor regente. - Fazer os trabalhos indicados pelo professor. - Copiar o conteúdo para o aluno surdo, quando este está ausente da sala. - Retransmitir informações pessoais do aluno surdo ou da sua família. Esses dados só podem ser fornecidos pelo próprio aluno ou sua família. - Se ausentar da sala durante uma atividade prática. Também é preciso elencar o que não pode acontecer com o professor: - Delegar para o TILS a responsabilidade pedagógica do aluno surdo, deixando essa responsabilidade a cargo do mesmo. - Não buscar alternativas para avaliar o aluno com surdez de uma maneira justa e eficiente. - Não buscar entender as nuances do processo de alfabetização do surdo. 30 Intérprete de Libras em salas de EB Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 5. ELABORAÇÃO DE CONTEÚDO E AVALIAÇÃO Adaptações Curriculares Adaptações curriculares são possíveis ajustes que podem ser feitos para uma melhor adequação do conteúdo pedagógico. São divididas em Adaptações curriculares de grande porte e de pequeno porte. Neste capítulo trataremos das Adaptações curriculares de pequeno porte para surdos. Adaptações Curriculares de Pequeno Porte As adaptações curriculares de pequeno porte são pequenas modificações que o professor pode fazer na sua prática pedagógica. Buscando garantir o acesso didático- pedagógico. Elas podem ocorrer a qualquer momento durante o ano letivo, de acordo com o que o professor julgar necessário. São definidas como adequações não significativas, por não envolverem Legislação ou estrutura física. Embora o professor tenha total autonomia nestas adaptações, vale ressaltar, que a equipe pedagógica deve ter conhecimento destas alterações. As adaptações curriculares de pequeno porte para alunos surdos devem visar a garantia do acesso destes alunos ao conteúdo apresentado em um ambiente linguístico mais adequado. Vendo-se que o conteúdo pedagógico escrito normalmente está em língua portuguesa e que nem sempre o aluno surdo de inclusão tem domínio da mesma. Podemos elencar alguns tipos de adaptações curriculares de pequeno porte. Segundo está descrito no meu livro “Surdez e Libras, conhecimento em suas mãos” podemos elencar: - Organização física e espacial da sala de aula; - Planejamento das estratégias de ensino que serão adotadas em função dos objetivos e conteúdos pedagógicos; - Flexibilização do tempo de aprendizagem; - Diversidade metodológica para o ensinoe a avaliação dos conteúdos curriculares. 31 Intérprete de Libras em salas de EB Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Conteúdo Os conteúdos curriculares de pequeno porte podem ser adaptados para o aluno surdo de inclusão. No entanto, para que isso seja possível é necessário demandar de muito tempo e estudo. Com a prática essas adaptações tronam-se cada vez mais fáceis e funcionais. Acréscimo de informações do conteúdo já apresentado, material visual, lista de vocabulário, indicação de vídeos complementares são só algumas das possibilidades. Há uma infinidade de outras opções que devem estar relacionadas as necessidades daquele aluno surdo em específico e estão diretamente ligadas ao seu conhecimento em Libras e na língua portuguesa escrita. Quanto mais o conhecimento desse aluno em Libras e/ou língua portuguesa escrita, menos a necessidade das adaptações curriculares e pequeno porte. Conteúdo e o Tradutor Intérprete Até que o professor tenha esse domínio o TILS pode ser de grande valia para as adaptações curriculares. Quando ele as conhece poderá auxiliar quais as melhores maneiras de adaptar esse conteúdo, ou seja, identificar as maiores dificuldades em relação a aprendizagem do aluno surdo, como trazer recursos visuais apara o conteúdo apresentado. Além de que, quando há uma boa relação profissional entre o professor e o intérprete de Libras ambos estarão buscando formas de trazer elementos para auxiliar um ao outro. Visto que eles possuem um objetivo em comum, o melhor desenvolvimento pedagógico para o aluno em questão. O que seriam essas adaptações de conteúdo? A exemplificação sempre nos permite uma melhor visualização. Então irei exemplificar. Imagine um aluno surdo do 1° ano escolar, chamado João. Ele não esteve frequentou a educação infantil, é surdo profundo (não escuta os sons das letras), não faz uso da Libras. Na verdade, João até aquele momento desconhecia a existência da língua de sinais. João tem TILS que, para a sua sorte, o acompanha em todas as aulas. A professora de João, Ana, é recém-formada, então para ela não só João é uma “novidade”, toda a dinâmica ainda é muito nova. Ana tem um livro sobre patos na lagoa e ela montou um material para trabalhar a história dos patos, com a música “5 patinhos” e aproveitar e amarrar esse conteúdo aos numerais na matemática. 32 Intérprete de Libras em salas de EB Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Sim, Ana embora recém-formada já é muito boa no que faz! Só a integração do conteúdo em diferentes disciplinas já faz dessa proposta da Ana um diferencial. O TILS poderia lhe dar sugestões de como aquele material programado seria ainda melhor utilizado para o aluno com surdez. Trazer elementos mais visuais, talvez uma folha com o vocabulário trabalhado (pato, numerais, lago ...). Se estas informações estiverem sendo discutida com antecedência o TILS poderia elaborar uma lista de sinais referentes a esse conteúdo para acrescentar a inicialização da introdução a Libras para esse aluno surdo. Fazendo com que ele comece a compreender que as coisas tem nome (escrito) e que também tem sinais (Libras). Contudo, relembrando sobre a subjetividade dessa relação professor / tradutor, como anteriormente visto, há um “mar” das mais inúmeras possibilidades desta relação. Desde uma excelente parceria profissional com trocas e desenvolvimento de material pedagógico adaptado (como exemplificado acima) até o professor ignorar as suas responsabilidades pedagógicas diante do aluno com surdez fazendo com que o TILS acabe por assumir esse papel e tutorear a educação desse aluno surdo. Ou Seja, deixa a cargo única e exclusivamente do TILS a responsabilidade em transmitir conteúdo para o aluno surdo. Grande equívoco, mas uma realidade bem comum, infelizmente! O mais impressionante é que se formos analisar o exemplo acima ele trata-se de uma proposta para um aluno surdo, mas quantos outros alunos desta mesma sala poderiam se beneficiar com um simples olhar mais estratégico? Costumo dizer, que quase tudo que podemos fazer em relação as adaptações curriculares para surdo beneficiariam, não só a eles, mas a todos os outros alunos da sala e traria uma educação mais coesa e rica em informações. No final todos ganham! Avaliação Por padrão a avaliação é feita da mesma maneira para toda a sala. No entanto, um professor bem formado saberá que mesmo diante de uma avaliação padronizada, há a necessidade de um olhar diferenciado e individualizado para cada aluno. A avaliação deverá servir em si como um instrumento de analise do que está acontecendo no desenvolvimento pedagógico de cada aluno e não apenas uma formalização do conteúdo. Uma avaliação justa é quase que uma equação matemática. Ele precisa servir de 33 Intérprete de Libras em salas de EB Universidade Santa Cecília - Educação a Distância referencial do que o aluno sabe e o que ele tem aprendido, além de trazer dados do que foi falho nesse processo e o que pode ser melhorado. A avaliação pedagógica para o aluno com surdez não deve fugir à essa regra. Não se pode perder do foco que há uma diferença linguística inegável do surdo em relação a língua portuguesa. Trata-se de uma estrutura completamente diferenciada que se utiliza de meios sensoriais também distintos. Lembro que o primeiro lugar que trabalhei foi em uma instituição de crianças surdas (naquela época elas podiam ter um caráter educacional e social). Eu era a voluntária desta instituição e fazia a monitoria de um grupo de crianças com diferentes idades. Tinha 16 anos de idade, recém-saída do ensino médio e sem nenhuma experiencia em educação. Apenas no ano seguinte que eu iniciei a faculdade de educação especial. Nesta instituição tínhamos um projeto anual, que era dividido em subtemas bimestrais e cada setor deveria desenvolver o seu trabalho com base naquele tema proposto. Para uma melhor compreensão, se o tema era planetas, todas as áreas pedagógica, fonoaudiológicas, de artes, de artesanato, monitoria e outros mais, deveriam desenvolver suas atividades com esse tema. Isso nos fazia criar diferentes parecerias com as outras áreas daquela instituição. Bem, todo final de projeto (bimestre) nós tínhamos que fazer dois relatórios. Um era referente ao que foi planejado, o que aconteceu e o que não foi possível realizar. Diante deste primeiro relatório, fazíamos o segundo. Neste, mediante as informações do primeiro nós elaborávamos a proposta do próximo projeto focando em algumas melhoras para o que não deu certo. Parece complicado, mas não é. Dava trabalho? Dava muito! Era cansativo? Certamente! Mas, como disse é um hábito e requer prática. Depois de muito reclamarmos, às vezes com os outros profissionais, às vezes em silêncio. Mas, sou eternamente grata por essa proposta que ainda hoje em muito contribui para a profissional que me tornei. Avaliação e o Tradutor Intérprete. No exemplo dado acima, estávamos em uma instituição específica para crianças com surdez e eu fazia parte de uma equipe que tinham vários níveis de conhecimento em Libras, mas todos sabíamos o mínimo para podemos nos comunicar de maneira efetiva. No caso do professor de sala regular, dificilmente ele terá fluência se é que conhecerá a Libras. Além de que como uma língua que é ela tem características linguísticas bem específicas. 34 Intérprete de Libras em salas de EB Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Então como saber que está sendo feita uma avaliação justa? Partindo-se do mesmo pressuposto tratado acima. Reconhecer o uso da avaliação como um norteador do que está se evoluindo pedagogicamente e onde é possível melhorar. Entenda, não estou focando na melhora pedagógica apenas do aluno, estou me referindo a uma autoanálise da sua própria conduta pedagógica e doque pode ser melhorado. Abordando para a questão do aluno com surdez. O que seria uma avaliação justa? A mesma coisa! Ao se pensar em avaliação para o surdo deve-se pensar em o que foi lhe apresentado, qual o seu conhecimento em Libras e da língua portuguesa, como ele absorveu essa informação e qual é a melhor forma dele retornar o que aprendeu. Nesse momento, o TILS pode ser de grande valia. O tradutor precisa ter fluência em Libras e na língua portuguesa. Deve ter conhecimento e capacidade de transitar nessas duas línguas sem grandes dificuldades. O tradutor é também a pessoa que está diretamente ligada ao surdo no que diz respeito a interpretação do que está sendo disso. Como o professor nem sempre tem conhecimento a cerca das nuances da Libras, o TILS poderá ser esse identificador do que o surdo conhece e o quanto ele foi capaz de se desenvolver. Não estou falando que é o tradutor intérprete que avalia, essa responsabilidade é do professor. Mas, ele pode auxiliar desde possíveis adaptações da avaliação em si. Tais como, acréscimo de imagens, banco de palavras chaves, estruturação das questões. Vale mais uma ressalva importantíssima! O fato do TILS poder auxiliar no que foi dito anteriormente, não significa que necessariamente o professor deseja esse auxílio ou que o tradutor esteja disposto ou saiba fazê-lo. O que estou propondo é que o TILS pela proximidade diária com o aluno surdo poderia ser uma ferramenta a mais nessa avaliação, sendo que o professor nem sempre é um conhecedor da Libras. A função de um não pode desmerecer a do outro. 35 Intérprete de Libras em salas de EB Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 6. NA REALIDADE PRÁTICA Casos na Prática Esta é a última parte da disciplina de intérprete de Libras em salas de Educação Básica. Buscando fazer um fechamento de tudo que vimos até agora, deixei o último tópico para falarmos das questões mais práticas. Para tal farei 2 relatos de casos reais, um está descrito abaixo e o outro está na Videoaula 6. Eu era a tradutora de ambos e que embora exercesse a mesma função, essas experiências ocorreram de maneiras completamente opostas, de acordo com todos os atenuantes que podem ocorrem, sejam físicos ou humanos. Não informarei o gênero, ambos estarão no masculino. Um foi caso foi em uma escola particular e outra em uma escola pública, mas não direi qual caso foi em qual instituição. Deixarei a imaginação de vocês fluir. Vamos a eles! Caso 1: Aluno surdo, não fazia uso da oralidade (não falava), nome fictício Paulo, 11 anos, 3° ano do fundamental, defasado na relação idade/ano escolar, mas devido as suas dificuldades com a língua portuguesa a escola optou por deixa-lo em um ano que eles acreditavam que ele poderia “acompanhar”. Só havia tido intérprete por 6 meses no ano anterior. Nessa escola havia o AEE no contraturno, mas Paulo não frequentava. Não apresentava fluência em Libras, tinha alguns sinais caseiros (sinais criado por ele ou por alguém da sua família, mas que não é o mesmo utilizado na Libras), não estava alfabetizado, sabia escrever o seu nome completo, mas não sabia escrever outras informações, o seu endereço ou a cidade em que morava. Escrevia o primeiro nome dos seus pais. Seu vocabulário escrito era composto de palavras isoladas e não formava frases por escrito. Os poucos sinais que possuía eram também isolados, tendo muita dificuldade em manter-se em um diálogo com a intérprete. Iniciei o ano escolar já como a sua intérprete. Eu não conhecia a professora, e nem a instituição escolar. Já no primeiro encontro com o Paulo, ao me apresentar, já foi possível observar que ele não entendeu tudo o que eu estava falando em Libras, mas que concordava sempre com a cabeça. A professora começou a conversar com ele em voz mais alta que o normal, com a intenção que ele pudesse entender melhor. Já que segundo ela, ele não ouvia direito. Na primeira aula, ela se apresentou e quis conhecer os alunos. Paulo não fez parte dessa apresentação, ela apenas olhou para mim e falou para o restante da turma, “Esse é um aluno surdo-mudo e ele vai estar conosco durante o ano. Essa é a Michelle, ela é a tradutora 36 Intérprete de Libras em salas de EB Universidade Santa Cecília - Educação a Distância dele e veio para ajudar ele aqui na sala.” Ao final daquele dia fui conversar com ela, que até então me ignorou completamente. Nesta conversa fui me apresentar melhor e disser o que eu fazia na sala e que precisaria que ela, quando possível, pudesse me antecipar o conteúdo ou material que ela iria apresentar. Ela disse que iria tentar, mas que nem sempre ela possuía o material. Também relatou sua “alegria” por eu estar lá e ajudar o Paulo, pois ela já sabia que ele era repetente e que não tinha condições nem de estar no 3°ano. Assim ela ficaria tranquila que alguma coisa ele iria aprender, pois a intérprete do ano anterior fazia tudo por ele. Informei-a que faria o que fosse possível, mas que aquela não era a minha função. Mas, que no que eu pudesse ajuda-la estaria à disposição, inclusive, caso ela quisesse de lhe explicar sobre o aluno. No decorrer do primeiro bimestre, o trabalho foi basicamente de, além dos conteúdos pedagógicos, buscar formas de melhorar a minha comunicação com ele, para que pudesse ampliar o seu vocabulário. Além de que, mesmo com certa resistência da professora, levava para ela informações a respeito do Paulo e de como ele estava se desenvolvendo. Minha comunicação com ele era sempre em Libras, e embora ele não entendesse tudo, eu sinalizava sem simplificar nada. Também consegui o conteúdo programático daquele bimestre, através da coordenadora pedagógica que gentilmente solicitou que a professora me entregasse, visto que ela havia se negado a fazê-lo. Daí já é possível observar que a minha relação com a professora da sala não era das melhores, mas mantínhamos a cordialidade. Além do mais, os alunos que sentavam próximos a nós tentavam interagir comigo e com Paulo. E eu ajudava para que eles pudessem “conversar”. O fato de Paulo se mais velho que o restante da sala, já causava um certo constrangimento nele, que no começo dizia que os outros alunos eram bebês e que ele não gostava. Como os alunos tinham curiosidade no que fazíamos, deixei que isso se transformasse na aproximação deles. Ensinei alguns sinais para quem me pedia, às vezes, isso acontecia durante as aulas (o que eu evitava), às vezes quando eles me encontravam na entrada ou na saída ou nas trocas de professores (ed. Física e artes). Nas avaliações deste semestre, a professora me entregou a folha e disse que era para eu avaliar o aluno e depois dizer para ela como ele se saiu. No segundo bimestre, Paulo já não estava tão resistente aos outros alunos, inclusive ele era “seguido” por alguns que queriam aprender Libras e que gostaram da convivência. O interesse de Paulo para conhecer os sinais aumentou consideravelmente, até porque devido o interesse dos outros alunos ele queria saber mais para mostrar mais. 37 Intérprete de Libras em salas de EB Universidade Santa Cecília - Educação a Distância O que era no mínimo interessante e curioso. Pedagogicamente, Paulo e eu formávamos um mundo a parte na sala de aula, basicamente eu tutorava ele e a professora não se envolvia, pois para ela eu já estava lá e como ela não sabia nada sobre aquilo, achava melhor deixar que eu fizesse. Ela não tinha a mínima intenção de saber o que eu fazia, porque fazia ou para que. Ela apenas me pediu para que as avaliações fossem feitas na folha dela, para que ela tivesse o registro. Inclusive, nas reuniões de classe, quando questionada em relação à Paulo, ela respondia que era eu quem sabia. Toda essa situação eu já havia relatado para a coordenadora da escola e também fiz um relatório, explicando o que estava acontecendo
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