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Oi! Sou professora de Língua Portuguesa e acho que posso te ajudar! “A coerência textual é o 
resultado de um processo de construção do sentido feito pelos interlocutores, numa situação 
de interação. Ela constitui a textualidade, ou seja, faz de uma seqüência lingüística um texto e 
não um amontoado aleatório de frases ou palavras. 
A coerência dá-se através de alguns fatores principais. São eles: 
* Elementos Lingüísticos: ajudam a ativar os conhecimentos armazenados na memória do 
leitor e o sentido dos enunciados que compõe cada texto. 
* Conhecimento de mundo: a coerência de um texto tem estreita relação com a experiência de 
mundo do sujeito que lê. Por isso temos a necessidade de adequar o texto ao universo 
cognitivo do leitor. 
* Intertextualidade: para o entendimento de um texto pode-se usar o conhecimento adquirido 
em outras leituras em forma de paráfrase. 
 
Vou te dar exemplos de frases incoerentes para que fique mais fácil de você perceber como se 
dá a coerência: 
a) Adoro novelas porque elas são chatas e cansativas. 
b) O meu quarto tem tudo o que uma garota precisa: tv, computador e aparelho de som. Na 
janela que fica para oeste, não coloquei cortina porque adoro ver o nascer do sol e contemplar 
o céu azul. 
c) Há anos que meu irmão foi morar em outra cidade. Minha mãe, que não recebeu notícias 
dele desde a sua partida, pede a ele que volte a morar conosco sempre que se encontram. 
Como você pode ver, todas essas frases apresentam pontos contraditórios, logo, não prestam 
informações claras. Tente torná-las compreensiveis e terá descoberto na prática o que é 
coerência. Espero ter te ajudado 
Produzimos textos porque pretendemos informar, divertir, explicar, convencer, discordar, 
ordenar, etc., ou seja, o texto é uma unidade de significado produzida sempre com uma 
determinada intenção. Assim como a frase não é uma simples sucessão de palavras, o texto 
também não é uma simples sucessão de frases, mas um todo organizado capaz de estabelecer 
contato com nossos interlocutores, influindo sobre eles. Quando isso ocorre, temos um texto 
em que há coerência. 
 
A coerência é resultante da não-contradição entre os diversos segmentos textuais que devem 
estar encadeados logicamente. Cada segmento textual é pressuposto do segmento seguinte, 
que por sua vez será pressuposto para o(s) que lhe estender(em), formando assim uma cadeia 
em que todos eles estejam concatenados harmonicamente. Quando há quebra nessa 
concatenação, ou quando um segmento atual está em contradição com um anterior, perde-se 
a coerência textual. 
 
A coerência é também resultante da adequação do que se diz ao contexto extraverbal, ou seja, 
àquilo o que o texto faz referência, que precisa ser conhecido pelo receptor. 
Ao ler uma frase como "No verão passado, quando estivemos na capital do Ceará Fortaleza, 
não pudemos aproveitar a praia, pois o frio era tanto que chegou a nevar", percebemos que 
ela é incoerente em decorrência da incompatibilidade entre um conhecimento prévio que 
temos da realizada com o que se relata. Sabemos que, considerando uma realidade "normal", 
em Fortaleza não neva (ainda mais no verão!). 
 
Claro que, inserido numa narrativa ficcional fantástica, o exemplo acima poderia fazer sentido, 
dando coerência ao texto - nesse caso, o contexto seria a "anormalidade" e prevaleceria a 
coerência interna da narrativa. 
No caso de apresentar uma inadequação entre o que informa e a realidade "normal" pré-
conhecida, para guardar a coerência o texto deve apresentar elementos lingüísticos instruindo 
o receptor acerca dessa anormalidade. 
Uma afirmação como "Foi um verdadeiro milagre! O menino caiu do décimo andar e não 
sofreu nenhum arranhão." é coerente, na medida que a frase inicial ("Foi um verdadeiro 
milagre") instrui o leitor para a anormalidade do fato narrado 
 
 
COERÊNCIA E COESÃO TEXTUAIS 
 
Conceitos nucleares da linguística textual, que dizem respeito a dois factores de garantia e 
preservação da textualidade. Coerência é a ligação em conjunto dos elementos formativos de 
um texto; a coesão é a associação consistente desses elementos. Estas duas definições literais 
não contemplam todas as possibilidades de significação destas duas operações essencias na 
construção de um texto e nem sequer dão conta dos problemas que se levantam na 
contaminação entre ambas. As definições apresentadas constituem apenas princípios básicos 
de reconhecimento das duas operações (note-se que o facto de designarmos a coerência e a 
coesão como operações pode ser inclusive refutável). A distinção entre estas duas operações 
ou factores de textualidade está ainda em discussão quer na teoria do texto quer na linguística 
textual. 
 
Entre os autores que apenas se referem a um dos aspectos, sem qualquer distinção, estão 
Halliday e Hasan, que, em Cohesion in English (1976), defendem ser a coesão entre as frases o 
factor determinante de um texto enquanto tal; é a coesão que permite chegar à textura 
(aquilo que permite distinguir um texto de um não-texto); a coesão obtém-se em grande parte 
a partir da gramática e também a partir do léxico. Por outro lado, autores como Beaugrande e 
Dressler apresentam um ponto de vista que partilhamos: coerência e coesão são níveis 
distintos de análise. A coesão diz respeito ao modo como ligamos os elementos textuais numa 
sequência; a coerência não é apenas uma marca textual, mas diz respeito aos conceitos e às 
relações semânticas que permitem a união dos elementos textuais. 
 
A coerência de um texto é facilmente deduzida por um falante de uma língua, quando não 
encontra sentido lógico entre as proposições de um enunciado oral ou escrito. É a 
competência linguística, tomada em sentido lato, que permite a esse falante reconhecer de 
imediato a coerência de um discurso. A competência linguística combina-se com a 
competência textual para possibilitar certas operações simples ou complexas da escrita 
literária ou não literária: um resumo, uma paráfrase, uma dissertação a partir de um tema 
dado, um comentário a um texto literário, etc. 
 
Coerência e coesão são fenómenos distintos porque podem ocorrer numa sequência coesiva 
de factos isolados que, combinados entre si, não têm condições para formar um texto. A 
coesão não é uma condição necessária e suficiente para constituir um texto. No exemplo: 
 
 
 
(1) 
 
A Joana não estuda nesta Escola. 
 
Ela não sabe qual é a Escola mais antiga da cidade. 
 
Esta Escola tem um jardim. 
 
A Escola não tem laboratório de línguas. 
 
 
 
o termo lexical “Escola” é comum a todas as frases e o nome “Joana” está pronominalizado, 
contudo, tal não é suficiente para formar um texto, uma vez que não possuímos as relações de 
sentido que unificam a sequência, apesar da coesão individual das frases encadeadas (mas 
divorciadas semanticamente). 
 
Pode ocorrer um texto sem coesão interna, mas a sua textualidade não deixa de se manifestar 
ao nível da coerência. Seja o seguinte exemplo: 
 
 
 
(2) 
 
O Paulo estuda Inglês. 
 
A Elisa vai todas as tardes trabalhar no Instituto. 
 
A Sandra teve 16 valores no teste de Matemática. 
 
Todos os meus filhos são estudiosos. 
 
 
 
Este exemplo mostra-nos que não é necessário retomar elementos de enunciados anteriores 
para conseguir coerência textual entre as frases. Além disso, a coerência não está apenas na 
sucessão linear dos enunciados mas numa ordenação hierárquica. Em (2), o último enunciado 
reduz os anteriores a um denominador comum e recupera a unidade. 
 
A coerência não é independente do contexto no qual o texto está inscrito, isto é, não podemos 
ignorar factores como o autor, o leitor, o espaço, a história, o tempo, etc. O exemplo seguinte: 
 
 
 
(3) O velho abutre alisa as suas penas. 
 
 
 
é um verso de Sophia de Mello Breyner Andresen que só pode ser compreendido uma vez 
contextualizado (pertence ao conjunto “As Grades”, in LivroSexto, 1962): o “velho abutre” é 
uma metáfora subtil para designar o ditador fascista Salazar. Não é o conhecimento da língua 
que nos permite saber isto mas o conhecimento da cultura portuguesa. 
 
A coesão textual pode conseguir-se mediante quatro procedimentos gramaticais elementares, 
sem querermos avançar aqui com um modelo universal mas apenas definir operações 
fundamentais: 
 
 
 
i. Substituição : quando uma palavra ou expressão substitui outras anteriores: 
 
(4) O Rui foi ao cinema. Ele não gostou do filme. 
 
 
 
ii. Reiteração : quando se repetem formas no texto: 
 
(5) - «E um beijo?! E um beijo do seu filhinho?!» - Quando dará beijos o meu menino?! 
 
(Fialho de Almeida) 
 
 
 
A reiteração pode ser lexical (“E um beijo”) ou semântica (“filhinho”/”menino”). 
 
 
 
iii. Conjunção : quando uma palavra, expressão ou oração se relaciona com outras 
antecedentes por meio de conectores gramaticais: 
 
(6) O cão da Teresa desapareceu. A partir daí, não mais se sentiu segura. 
 
 
 
(7) A partir do momento em que o seu cão desapareceu, a Teresa não mais se sentiu segura. 
 
 
 
iv. Concordância : quando se obtém uma sequência gramaticalmente lógica, em que todos os 
elementos concordam entre si (tempos e modos verbais correlacionados; regências verbais 
correctas, género gramatical correctamente atribuído, coordenação e subordinação entre 
orações): 
 
(8) Cheguei, vi e venci. 
 
 
 
(9) Primeiro vou lavar os dentes e depois vou para a cama. 
 
 
 
(10) Espero que o teste corra bem. 
 
 
 
(11) Esperava que o teste tivesse corrido bem. 
 
 
 
(12) Estava muito cansado, porque trabalhei até tarde. 
 
 
 
De notar que os vários modelos teóricos sobre coesão textual prevêem uma rede mais 
complexa de procedimentos, muitos deles coincidentes e redundantes: Halliday e Hasan 
(1976), propõem cinco procedimentos: a referência, a substituição, a elipse, a conjunção e o 
léxico; Marcushi (1983) propõe quatro factores: repetidores, substituidores, sequenciadores e 
moduladores; Fávero (1995) propõe três tipos: referencial, recorrencial e sequencial. 
 
A coerência de um texto depende da continuidade de sentidos entre os elementos descritos e 
inscritos no texto. A fronteira entre um texto coerente e um texto incoerente depende em 
exclusivo da competência textual do leitor/alocutário para decidir sobre essa continuidade 
fundamental que deve presidir à construção de um enunciado. A coerência e a incoerência 
revelam-se não directa e superficialmente no texto mas indirectamente por acção da 
leitura/audição desse texto. As condições em que esta leitura/audição ocorre e o contexto de 
que depende o enunciado determinam também o nível de coerência reconhecido. 
 
O estudo dialéctico da literariedade - literário versus não literário - é acompanhado pelos 
mesmos problemas da definição da coerência e da coesão de um texto. Seja dado o seguinte 
exemplo: 
 
 
 
(13) 
 
! 
 
Experimenta falar pela minha boca, 
 
assoar-te pelo meu nariz... 
 
 
 
Este texto poderá ser considerado literário? Em caso afirmativo, como definir a sua 
literariedade? Poderemos dizer que é coerente? Poderemos dizer que é coeso? Se o texto 
estiver assinado por um autor reconhecido por uma comunidade interpretativa como escritor 
(o que significa invariavelmente: criador de textos literários), tal circunstância pode afectar o 
nosso juízo sobre a literariedade, a coerência e a coesão deste texto? Tal questão é 
equivalente a estoutra: Até que ponto a identificação autoral de um texto pode influenciar a 
determinação ou reconhecimento da sua literariedade, da sua coerência ou da sua coesão? 
 
A primeira reacção de um leitor comum é a de não reconhecer qualquer elemento específico 
que permita concluir tratar-se de um texto literário, mesmo que seja possível reconhecer nele 
coesão (o enunciado está construído linearmente e respeita todas as regras gramaticais de 
conexão). O que nos faz duvidar da literariedade (e da textualidade) deste “texto” é a sua 
aparente falta de sentido na relação entre o sinal gráfico de exclamação, centralizado como 
um título, e o enunciado subjectivo. De certeza, muitos resistirão inclusive à aceitação de tal 
texto como um texto e dirão tratar-se de uma "aberração linguística", um "capricho 
semântico", uma "construção acidental de palavras e sinais", ou qualquer outra coisa 
semelhante. Um leitor mais exigente poderá argumentar que tal construção é de facto um 
texto literário, cuja literariedade e textualidade estão associadas à combinação intencional 
entre um signo gráfico e signos linguísticos, com o objectivo de produzir uma relação 
significativa simbólica - existirá, portanto, uma certa coerência. A explicitação de tal relação 
significativa variará naturalmente de leitor para leitor, conforme a sensibilidade literária de 
cada um. Neste segundo caso, em que se procura uma significação literária para uma 
construção aparentemente não literária, dificilmente poderíamos defender a pretensa 
literariedade e a textualidade com argumentos lógicos para todos os leitores, o que nos leva a 
concluir que o que faz a literariedade e a textualidade de um texto é em primeiro lugar o 
reconhecimento geral dessa propriedade por toda uma comunidade interpretativa. A 
coerência do texto, ou seja, a negação de poder ser considerado um absurdo, segue o mesmo 
critério de aceitação. Contudo, mesmo esta regra, que parece satisfatória, está sujeita a 
excepções incómodas. Seja o exemplo, entre muitos outros, do poema "Ode marítima" de 
Álvaro de Campos. Quando foi publicado pela primeira vez no Orpheu 2 (1915), produziu 
escândalo na comunidade interpretativa da época, não sendo reconhecido como texto literário 
mas como pura "pornografia", "alienação", "literatura de manicómio" e outros epítetos do 
género - todos apontando a falta de coerência do texto e não certamente a sua falta de 
coesão. Todas as obras artísticas de vanguarda respeitam de alguma forma a exigência de 
provocação, que quase invariavelmente redunda em anátema. Isto significa que o princípio de 
aceitação universal da literariedade, da textualidade e da coerência de um texto está sujeito 
também a um certo livre-arbítrio. Todas as declarações de guerra à sintaxe tradicional que as 
literaturas de vanguarda costumam fazer são, logicamente, guerras à coesão gramatical dos 
textos literários de vanguarda. Contudo, não deixam de ser literários por essa falta de coesão, 
uma vez que a sua literariedade e a sua textualidade se conquista ao nível da coerência. 
 
Poderá a revelação da identidade autoral do texto (13) em particular levar a uma outra 
conclusão? Se eu tivesse apresentado o texto como um poema do autor surrealista Alexandre 
O'Neill, que pertence à série "Divertimento com sinais ortográficos", in Abandono Vigiado 
(1960), alguém duvidaria por um momento que se tratava não só de um texto coerente como 
de um texto literário? O que nos pode dizer o título "Divertimento com sinais ortográficos"? O 
facto de o autor intitular a sua criação como "Divertimento" inspira-nos uma nova pista para o 
reconhecimento da literariedade e da coerência textual: um texto será literário se contiver 
sinais, sugestões ou elementos que revelem o gozo (no sentido da lacaniana jouissance) que o 
seu autor experimentou ao criá-lo. A criação de um texto literário é a mais erótica de todas as 
criações textuais. A coerência de certos textos-limite só pode ser avaliada por este lado. Mas 
será que um texto não literário não pode arrastar consigo sinais de gozo de quem o criou? 
Roland Barthes admitiu em "Theory of the Text” (artigo inicialmente publicado em 
Encyclopaedia Universalis, 1973), que qualquer texto "textual" conduz pela sua essência 
criativa à jouissance do autor, seja literário ou não, isto é, conduz necessariamente não só a 
um prazer de escrita como a própria escrita ou texto produzido é umaespécie de clímax sexual 
- um têxtase. Se reduzíssemos este princípio de textualidade e decidíssemos que qualquer 
tentativa de levar o erotismo criativo da escrita para além de certos limites significa entrar de 
imediato no limiar do literário (=textualmente coerente), então teremos encontrado um 
critério de definição da literariedade e da textualidade. Do texto que seja resultado de um 
têxtase, diremos ser literário; mas também que é possível medir macrotextualmente o seu 
nível de coerência a partir dessa descoberta. 
 
O princípio do têxtase textual está naturalmente sujeito ao livre-arbítrio do leitor, como o está 
a detecção do grau de coerência textual. Ora, a teoria literária distingue-se das ciências 
exactas precisamente porque é intrinsicamente inexacta, dispensando o enunciado de leis 
universais de resolução de problemas. Em teoria literária, não é possível dizer: "Tenho a 
solução para este problema." Todas as soluções definitivas são absolutamente discutíveis, 
portanto, não há soluções definitivas, tal como não há leitores peritos. Todo o texto literário, 
enquanto cemitério de sentidos mortos-vivos, é uma ameaça constante para o leitor que se 
julgue perito nesse texto. Não há equações que permitam concluir com exactidão a coerência 
textual. Não esquecer ainda que qualquer texto pode resistir à tentativa de controlar a sua 
organização interna, isto é, pode resistir a qualquer delimitação do seu nível de coerência. 
Nisto se distingue da coesão, que possui um grau de resistência menor. A coerência está mais 
sujeita à interpretação do que a coesão. Se não é possível determinar uma taxonomia textual, 
porque não é possível sistematizar processos de resolução hermenêutica, já é possível 
determinar regras gramaticais de coesão e sistematizar processos de construção textual. 
 
Para além da linguística textual, podemos discutir os conceitos de coesão e sobretudo o de 
coerência no âmbito da textualidade puramente literária, por exemplo, na construção de uma 
narrativa. Tradicionalmente, todas as formas naturais (para distinguir das formas subversivas 
de vanguarda) de literatura ambicionam a produção de textos coesos e coerentes, por 
exemplo, no caso do romance, com personagens integradas linearmente numa narrativa, com 
uma intriga de progressão gradual controlada por uma determinada lógica, com acções 
interligadas numa sintaxe contínua, com intervenções do narrador em momentos decisivos, 
etc. Por outro lado, nunca ficará claro que todas as formas de anti-literatura possam ser 
desprovidas de coesão e de coerência. As experiências textuais que tendam a contrariar as 
convenções de escrita e/ou até mesmo as regras da gramática tradicional também podem 
distinguir-se por uma forte coesão ou coerência dos seus elementos. Sejam os dois textos: 
 
 
 
(14) 
 
A fome alastrava. A estação fria acossava os homens, os coelhos do mato, os morcegos, e 
fechava-os nas tocas. As árvores ficavam nuas, as grandes chuvas voltavam. 
 
(Carlos de Oliveira, Casa na Duna) 
 
 
 
(15) 
 
dezembro 9 soaram de fora os passos pesados da dona descendo um bater depois hesitante 
na porta a voz dela hesitante: então o senhor não vai votar? Não não vou talvez logo à tarde 
estou ainda deitado. no quarto de janelas fechadas com riscos de luz das frestas na parede a 
lâmpada apagada desde a véspera amávamos possessos de amor um do outro. 
 
(Almeida Faria, Rumor Branco) 
 
 
 
Nenhum leitor terá dificuldade em reconhecer a coesão textual de (14), com os seus 
elementos léxico-gramaticais devidamente postos numa sequência lógica, e a coerência das 
ideias comunicadas num contínuo narrativo convencional. Numa primeira leitura, o texto (15) 
oferece resistência a ser considerado um texto, a ser considerado um texto coeso, a ser 
considerado um texto coerente. Este texto é uma forma de anti-literatura, cuja coesão e 
coerência dependem em exclusivo da capacidade de abstracção do leitor para poder ser 
entendido. Se começámos por dizer que um falante necessita de possuir uma competência 
textual e uma competência linguística para reconhecer a coerência e a coesão de um 
enunciado escrito ou oral, também é legítimo exigir uma competência literária e cultural ao 
leitor que quiser interpretar um texto anti-literário (¹ não literário) ou de textualidade literária 
não convencional. 
 
Não é de desprezar o conceito de coerência dentro da filosofia, nomeadamente no âmbito das 
especulações sobre a verdade, que ocuparam pensadores como Espinoza, Leibniz, Hegel , 
Bradley, Neurath ou Hempel, cada um defendendo abordagens diferentes entre si, mas todos 
estudando o critério da verdade a partir do conceito de coerência. Bohdan Chwedenczuk 
(1996: p.335) resume assim as principais proposições que os teóricos da coerência discutem: 
1) a coerência é o critério da verdade; 2) a coerência é uma propriedade essencial do mundo; 
3) a verdade só pode ser definida em termos de coerência. Ora, se não há filosofia sem a 
coerência de juízos, também não há teoria nem crítica literária, ou qualquer ciência que 
pretenda alcançar alguma forma de conhecimento. Em termos de textualidade convencional, 
um texto necessita da mesma coerência de juízos para formar sentido e poder constituir-se 
como texto legível. Esta coerência pode ser aceite como critério geral de textualidade como é 
aceite na avaliação filosófica da veracidade dos juízos. O teórico da literatura só não precisa de 
concordar (ou de provar) que o mundo seja igualmente coerente - tarefa das crenças 
ontológicas na coerência. Ao contrário da matemática, por exemplo, a literatura não é uma 
rede de verdades que consideramos verdadeiras porque é possível provar objectivamente que 
são coerentes com outras verdades - em literatura, uma verdade não implica necessariamente 
outra verdade, tal só deve ser possível e lógico ao nível da textualidade pura, que exclui certos 
problemas epistemológicos como a indeterminação ou a indecidibilidade, verdadeiros inimigos 
da coerência, não da literatura. Por tudo isto, a coerência como critério de textualidade só faz 
sentido se buscarmos uma determinada ordem sistemática num texto, em oposição à 
desordem que proporciona a ilegibilidade, cuja aceitação dependerá sempre da posição crítica 
do leitor. 
 
CONTEXTO; DISCURSO; LINGUÍSTICA TEXTUAL; LITERARIEDADE; TEXTO; TEXTUALIDADE 
 
Bib.: A. Vilarnovo: “Teorias explicativas de la coherencia textual”, Revista española de 
linguistica, 21, 1 (1991); Aleksander Szwedek: “Lexical Cohesion in Text Analysis”, Papers and 
Studies in Contrastive Linguistics, 11 (1980); Bohdan Chwedenczuk: “Coerência”, in 
Enciclopédia Einaudi, vol.33 (Lisboa, 1996); Carla Marello: “Text, Coherence and Lexicon”, in 
Janos S. Petofi (ed.): Text vs. Sentence: Basic Questions of Text Linguistics (1979); Claude 
Tatilon: “Linguistique du texte: Comment analyser la cohesion”, La Linguistique: Revue de la 
Sociétè Internationale de Linguistique Fonctionnelle, 16, 1 (1980); Don Wellman (ed.): 
Coherence (1981); Douglas F. Stalker (ed. & introd.): Linguistics and Philosophy, 7, 1: 
Coherence (1984); Emel Sözer (ed. & foreword):Text Connexity, Text Coherence: Aspects, 
Methods, Results (1985); Fritz Neubauer (ed. & foreword): Coherence in Natural Language 
Texts (1983); I. Bellert: "On a Condition of the Coherence of Texts", Semiotica 2:4 (1970); 
Ingedore G. Villaca Koch: “A Articulação entre Orações no Texto”, Cadernos de Estudos 
Linguísticos, 28 (Campinas, 1995); John W. Oller Jr. e Jon Jonz (eds.): Cloze and Coherence 
(1994); Leonor Lopes Fávero: Coesão e Coerência Textuais (3ªed., 1995); Lita Lundquist: “La 
Coherence textuelle reviseé: Une étude pragmatique”, Folia Linguistica: Acta Societatis 
Linguisticae Europaeae, 25, 1 (1991); Luiz Carlos Travaglia: “Contribuições do Verbo a Coesão e 
a Coerência Textuais”, Cadernos de Estudos Linguísticos, 27 (Campinas, 1994); M. A. K. Halliday 
e R. Hasan:Cohesion in English (1976); Maria Elisabeth Conte, Janos S. Petofi e Emel Sozer 
(eds.): Text and Discourse Connectedness (1989); Michel Charolles: “Cohesion, coherence et 
pertinence du discours”, Travaux de linguistique: Revue internationale de iinguistique 
française, 29 (Louvain la Neuve, Bélgica, 1994); Michel Charolles et alii (eds.): Research on Text 
Connexity and Text Coherence: A Survey (1986); Patricia L. Carrell: “Cohesion Is Not 
Coherence”, TESOL Quarterly, 16, 4 (1982); Philip C. Stine: “Cohesion in Literary Texts: A 
Translation Problem”, Journal of Literary Semantics, 9 (1980); R. de Beaugrande e M. U. 
Dressler: Einführung in die Textlinguistik (1981); Rachel Giora: "Notes Towards a Theory of Text 
Coherence", Poetics Today, 6:4 (1985); Solomon Marcus: “Textual Cohesion and Textual 
Coherence”, Revue Roumaine de Linguistique, 25 (1980); T. Reinhart: “Conditions for Text 
Coherence”, Poetics Today, 1, 4 (1980); W. Heydrich et alii (eds.): Connexity and Coherence. 
Analysis of Text and Discourse (1989); Waldemar Gutwinski: Cohesion in Literary Texts: A Study 
of Some Grammatical and Lexical Features of English Discourse (1976)

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