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1 Gabriela Trajano Garcia 2 Nome do Professor tutor externo Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI -– Letras Português (LED 115) – Estudos Literários - 09/07/2020 Gabriela Trajano Garcia¹ Tutor Externo² RESUMO Este trabalho tem como objetivo informar e resgatar o interesse em relação a cultura nordestina dos cordéis. Reconhecendo-a como uma importante expressão cultural do país. Acredita-se que o processo de ensino da literatura de cordel, por ser simples em sua metodologia e possuir uma técnica de fácil adaptação, auxilia diretamente no processo criativo do ser humano e no desenvolvimento pessoal destes. Contudo, a eficácia desse exercício é mais evidente quando trabalhado desde a infância até a adolescência, estimulando o exercício da lógica, da criatividade e da socialização. Palavras-chave: Cordel. Cordelistas. Repente. 1. INTRODUÇÃO A diversidade de produção cultural brasileira é muito rica; principalmente entre o povo nordestino. Em especial a literatura de cordel, seus versos são cheios de relatos e acontecimentos artísticos, folclóricos, pitorescos e, até mesmo, fatos políticos. Sua produção simples remete ao povo; não necessitando de tanto formalismo, abrangendo assim, todas as classes sociais. Este trabalho tem como objetivo o reconhecimento e valorização deste gênero literário. Levando de forma didática para sala de aula, oferecendo um leque de recursos que contribuirão em diversas carências de aprendizagem presentes na produção textual, na leitura, na escrita, na apreciação artística e na socialização literária. Este campo pedagógico possui subsídios didáticos satisfatórios, possuindo diversos tipos de conteúdos para serem trabalhados pelos professores em sala de aula. Ao mesmo tempo, mantendo o foco de ampliar o reconhecimento e valorização dessa arte, despertando o gosto pelos artistas e cultura nordestina dentro da escola. O seguinte trabalho encontra-se dividido em quatro seções. Primeiramente, a fundamentação teórica apresenta “O que é literatura de cordel?”, “Características da literatura de cordel”, “Principais Cordelistas”, “Função da literatura de cordel”, e a “literatura de cordel em sala de aula”. Na segunda seção foram realizadas pesquisas bibliográficas em livros, periódicos e outros textos que contemplam a temática proposta. Na terceira seção leva em consideração os desafios do ensino nesses últimos tempos e o valor de passar aos alunos as diversidades dos gêneros textuais, principalmente a literatura de Cordel. Por fim, na quarta seção foi observado que a literatura de cordel incentiva a criatividade, a produção textual e a assimilação de valores. 2. O QUE É LITERATURA DE CORDEL E QUAL SUA ORIGEM? A literatura de cordel é uma modelo (expressão) literário especialmente ligada a cultura popular e ao nordeste brasileiro. Esse tipo de literatura originou-se prioritariamente nos estados de LITERATURA DE CORDEL 2 Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Pará, Rio Grande do Norte e Ceará. Não obstante, hoje em dia, tem se tornado comum encontrarmos literaturas de cordéis também no Sudeste, principalmente em feiras culturais. Entretanto, percorreu muitas épocas para chegar a ser o que conhecemos hoje. Os cordéis possuem uma origem singular, vinculada ao Trovadorismo Medieval. O início da literatura de cordel se deu na idade média com o trovadorismo. Por não existir imprensa nesta época, a literatura tinha pouca acessibilidade. Lembrando que, nesse período histórico, as pessoas costumavam trabalhar o dia inteiro, não possuindo muito tempo para a prática de tal atividade. A Literatura de Cordel faz parte do romanceiro popular do Nordeste e teve sua origem nos romances portugueses em versos, os quais surgiram em sua expressão oral, sendo depois passados para a escrita. Foi nessa região, local de menor letramento e de acesso mais difícil à imprensa, que o Cordel, essas narrativas em versos impressas em papel simples e penduradas num barbante, conhecido como cordel, encontrou terreno mais fértil para se propagar. (GALVÃO, 2001 apud ALVEZ, 2008, p. 105). Mesmo assim, como em qualquer cultura, a recreação era presente, pois é uma necessidade humana. Por essa razão, a forma mais comum de entretenimento eram os trovadores: esses homens compunham poemas simples e curtos para serem declamados ou cantados. Essa forma de literatura durou até o renascimento. Com o surgimento da imprensa, alguns poemas simples eram impressos e expostos em coradas para exibição. Foi quando surgiu a nomenclatura “Cordel”. A princípio, os cordéis incluíam peças de teatro, como a do famoso Gil Vicente, escritor da famosa peça medieval “o auto da barca do inferno”. Com a descobrimento e posteriormente colonização do Brasil, trazido pelos portugueses, os cordéis chegaram ao Nordeste, sendo primeiro local de instalação do povo português. Em meados do século XVIII, alcançou grande repercussão; sendo assim popularizada, incorporando-se como parte da cultura brasileira. Ficando também conhecida como poesia popular, pois continha narrativas simplórias, trazendo temas folclóricos da região. Contribuindo assim, o acesso das pessoas a essas narrativas. Por possuir fortes traços estilísticos (tipo de escrita, temas, tamanho, formato), combinado a arte da xilogravura, tornou-se uma literatura facilmente reconhecida, sendo que seus autores são reconhecidos nessas regiões pelos nomes de: poetas de banca, cordelistas etc... 2.1 CARACTERÍSTICAS DA LITERATURA DE CORDEL A literatura de cordel possui a forte presença de oralidade e regionalismo tanto na fala como na escrita, valendo-se prioritariamente de linguagem coloquial. Tendo particularmente costumes, tradições e folclores do nordeste do país. Esses elementos da cultura brasileira são observados por meio da escrita em versos com métrica e rimas, atribuindo assim, musicalidade aos versos, herdado pela “trova dos trovadores”. Destaca-se também a presença de xilogravuras que são imagens a base de tinta, utilizando-se madeira, sendo uma arte típica do Nordeste. Tanto no humor quanto na ironia e no sarcasmo são abundantemente usados para representar temas cotidianos e sociais. Os folhetos de cordel medem cerca de 12x 16 cm, com folhas dobradas e a quantidade de páginas habitualmente sendo múltiplos de quatro. 2.2 PRICÍPAIS CORDELISTAS Sendo arte popular, há um extenso número de autores cordelistas, alguns muito famosos, outros nem tanto. Os cordelistas que mais marcaram a histórias nacional foram: Leandro Gomes de Barros, João Martins de Athayde e Patativa do Assaré. 2.2.1 João Martins de Athayde 3 João Martins de Athayde é reconhecido por fazer parte da primeira leva de escritores de cordel. Eles possuíam editoras próprias para divulgação. Após a morte de Leandro Barros, Athayde incumbiu-se de coletar as obras deixadas pelo autor e divulga-las, colaborando para o sucesso de ambos. Inovou ao empregar imagens de artistas de Hollywood como presença em seus próprios cordéis. 2.2.2 Patativa do Assaré Possuiu uma grande influência do século XX, sendo uma das principais figuras da música nordestina. Era poeta, escritor e cordelista. O Cearense de origem humilde cresceu em meio a uma família de agricultores e desde cedo aprendeu o valor do trabalho duro. Por conta do Sarampo que contraíra, ficou cego de um olho. Passou a frequentar a escola da comunidade que vivia; nesse período passou a compor repentes. Com 20 anos passou a ser conhecido pelo apelido de Patativa, o motivo era por conta de suas belas poesias que eram comparadas ao canto da ave. Frequentemente era convidado para cantar em festas e até em rádios regionais, por meio disso começou a tornar-se reconhecido nacionalmente. Seu famoso livro “Cordéis e outros poemas” fala a respeito das dificuldades da vida do homem nordestino. Com marcantes características da oralidade, seus poemas eram facilmenteguardados na memória, sendo recitados de geração em geração. 2.2.3 Leandro Gomes de Barros Foi o brasileiro propulsor na escrita de cordéis, produzindo mais de 240 obras. Recebeu grande influência dos romances de cavalaria medievais. Destacando-se também em temas nordestinos, com cordéis sobre cangaço. Alcançou grande popularidade quando veio a conexão com Ariano Suassuna, um famoso dramaturgo nordestino e autor da obra “O Auto da Compadecida”. A partir dessa associação, Leandro Barros deixa evidente a menção à obra de Suassuna ao compor cordéis com cenas da peça. O cordel nomeado “O testamento do cachorro” demonstra bem essa referência. 2.3 FUNÇÃO DA LITERATURA DE CORDEL Levando em consideração a importância e função da literatura de cordel, ela possui finalidades sociais realmente importantes e indispensáveis a nossa cultura, sendo fontes de preservação da identidade tanto folclórica quanto regional. A linguagem real não é um conjunto de signos independentes, uniforme e liso, em que as coisas viriam refletir-se como num espelho, para aí enunciar, uma a uma, sua verdade singular. É antes coisa opaca, misteriosa, cerrada em si mesma, massa fragmentada e ponto por ponto enigmática, que se mistura aqui e ali com as figuras do mundo [...]. (FOCAULT, 2000, p. 47). Tendo como principal função informar, sem deixar de divertir os leitores; foi sendo considerado um entretenimento saudável, aumentando consideravelmente o hábito da leitura e o interesse por meio destas, sendo uma forma simples e eficaz de se expressar e ao mesmo tempo atingir todas as classes sociais. Sem esquecer que são fonte de informação e uma ótima oportunidade de crítica e conscientização social. Compreender o sentido de um texto escrito significa muito mais do que interpretar literalmente o sentido de cada um dos enunciados que o compõe […] devemos interagir com o que está sendo dito, buscar informações essenciais apresentadas, reconhecer relações 4 estabelecidas entre diferentes passagens de texto. (ABAURRE, M. L. M; ABAURRE, M. B.M; PONTARA, 2016, p. 249). 2.3.1 LITERATURA DE CORDEL E REPENTE Por serem manifestações populares do Nordeste, a literatura de cordel e o repente são comumente confundidas. Entretanto, são distintas, mas possuem pequenas características em comum. O Repente é uma manifestação particularmente embasada na poesia falada e improvisada. Seus autores conhecidos como repentistas, costumam declamar seus improvisos em público, tendo como acompanhamento alguns instrumentos musicais. A literatura de Cordel por outro lado não é improvisada, tendo como suporte os folhetins. A confusão causa a respeito dessas duas manifestações foi-se dada por conta das antigas feiras nordestinas, nas quais alguns cordelistas tentavam declamar seus cordéis na tentativa de divulgar a arte. Para chamar mais interesse, podiam fazer uso de instrumentos musicais. Contudo, a intenção era que comprassem seus folhetins; sendo, desta forma, diferente do Repente. 2.4 LITERATURA DE CORDEL EM SALA DE AULA Os gêneros textuais tem como objetivo desempenhar suas funções comunicativas. Auxiliando dessa forma o professor em seu trabalho por meio das vastas propriedades e utilidades dos gêneros textuais. Portanto, é importante que os professores trabalhem em sala de aula essa diversidade de gêneros, sem deixar de levar em consideração as condições socioeconômicas de cada aluno, e as condições materiais que cada um possuí fora da escola. A produção de textos em diferentes gêneros pressupõe organizá-los de acordo com a estrutura e demais características de cada gênero, a leitura de textos representativos de gêneros diversos pressupõe a adoção de procedimentos compatíveis com o reconhecimento dessas estruturas e características. Em outras palavras ler um editorial é diferente de ler uma notícia. (ABAURRE, M. L. M; ABAURRE, M. B. M; PONTARA, 2016, p. 249). Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998, p. 71), gerar leitores é algo que necessita de condições favoráveis, não só em relação aos recursos materiais disponíveis, mas, sobretudo, em relação ao uso que se faz deles nas práticas de leitura. Os Parâmetros Curriculares Nacionais evidenciam a necessidade da junção de diversos recursos e, principalmente, a forma como será realizado o trabalho com o gênero textual a ser estudado. Consequentemente, é de suma importância que o docente tenha domínio dos gêneros; quanto mais abrangente seu conhecimento, mais eficaz será seu ensino. Dessa forma, o que propomos é que a linguagem seja vista como um meio fundamental para a construção tanto de significados e conhecimentos quanto para a constituição da identidade do estudante, pois a cada dia que passa o mundo exige mais criatividade, senso crítico e capacidade de interpretação não só de textos como também do mundo. (ALVES, 2008, p. 104). No que concerne ao trabalho a ser realizado com a Literatura de Cordel em sala de aula, deve-se enfatizar a importância da cultura popular de nossa sociedade, tendo em vista que tal literatura é considerada como patrimônio histórico e cultural do povo nordestino. É importante que seja trabalhado esse gênero no ambiente escolar, usando várias formas de explorar possibilidades e sentidos advindos do texto como as vozes sociais que se referem a vários temas. A literatura de cordel contribuí na formação dos alunos, auxiliando o domínio de diversos outros conteúdos. Isso possibilita ao professor transmitir, através destes, conceitos de moralidade, variantes regionais e a religiosidade do povo brasileiro, conduzindo assim os alunos a compreenderem como foi retratada a 5 vida nesses poemas. A escola entra nesse ponto como veículo capaz de levar os alunos a entrar em contato com o maior número possível de gêneros textuais, fazendo com que eles sejam não somente ferramenta de comunicação, mas também objeto de ensino aprendizagem. Dessa forma, o texto de cordel pode ser usado como um meio, um recurso a mais para a interlocução do aluno com a sociedade. (ALVES, 2008, p. 106). 3. METODOLOGIA Na tentativa de atingir os objetivos desta pesquisa, foram realizadas pesquisas bibliográficas de livros, periódicos e outros textos que contemplam a temática proposta. Autores como Focault (2000), Abaurre (2016), Alves (2008) e as PCNS (1988). O trabalho se utilizará da demonstração da importância do conhecimento dos gêneros literários em nosso no país. Para realização do presente estudo, propomos a estruturação em cinco capítulos, a saber: O primeiro capítulo, intitulado “O que é literatura de cordel e qual sua origem?”, refletimos sobre a importância da existente de tal gênero. No segundo subtítulo, “Características da literatura de cordel”, analisamos as principais características do gênero e suas particularidades. Já na terceira parte, está evidenciado os “Principais Cordelistas” e a importância de cada um para a literatura de cordel. Na quarta parte, a ênfase está ligada à “função da literatura de cordel” e suas principais diferenças em relação a repente. Por último, no quinto subtítulo, o foco foi posto na “Leitura de cordel em sala de aula”, contribuindo na formação do aluno cidadão e criativo. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES Reconhecendo os desafios do ensino nesses últimos anos e o valor de passar aos alunos as diversidades de gêneros textuais, o presente artigo busca evidenciar à importância da Literatura de Cordel tanto nos anos finais quanto no fundamental. Tendo como objetivo prioritário expor a dinamicidade do gênero textual cordel, sendo ele capaz de despertar a criatividade e o incentivo à leitura. Este tipo de literatura é de grande importância, pois, nesse sentido, trata-se do resgate de nossas raízes culturais, ajudando dessa forma a despertar o senso crítico, político, econômico e histórico dessa manifestação popular brasileira. Portanto, é de suma importância que hajao contato dos alunos com esse tipo de literatura, levando até à escola, e motivando o aluno a reconhecer melhor a formação cultural do nosso povo. Vale lembrar que a temática dos cordéis não é apenas fictícia, mas também retratam acontecimentos do cotidiano e da realidade dos cordelistas, podendo ser utilizada como um eficaz instrumento no incentivo à leitura com o foco na oralidade, devido a fácil memorização. 5. CONCLUSÃO Neste trabalho, contemplaram-se questões que colaboraram na reflexão sobre o tema da literatura de cordéis, sendo embasado em estudiosos, os quais evidenciaram o que vem a ser esse gênero linguístico e sua importância. Foi observado, que a literatura de cordel incentiva na criatividade, produção textual e na 6 assimilação de valores por ser um gênero de fácil entendimento. Portanto, é necessário que os professores tenham domínio desta prática para saberem como trabalhar esse tipo gênero em sala de aula, trazendo inovação e interesse dos alunos. Dessa forma, será mais fácil despertar o senso crítico, político, econômico e histórico neles. Ademais, é de suma importância o contato destes com essa literatura, levando-a até à escola, e, por fim, motivando o aluno a reconhecer melhor a formação cultural do nosso povo. Em suma, a literatura de Cordel pode ser utilizada como um instrumento eficaz no incentivo à leitura com o foco na oralidade, pois são de fácil memorização. REFERÊNCIAS ABAURRE, M. L. M et al. Português: Contexto, Interlocução e Sentido. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2016. ALVES, Roberta Monteiro. Literatura de cordel: por que e para que trabalhar em sala de aula. Fórum Identidades, Sergipe, v. 4, p. 104-110, jul-dez.2008. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: introdução aos parâmetros curriculares nacionais / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1998. FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas. 8. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
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