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1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS CONSIDERAÇÕES INICIAIS (Pág. 19) PRIMEIRO CAPÍTULO. SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 O economista Amartya Sen constata que a fome coletiva não é uma consequência de uma súbita restrição na oferta da comida , mas principalmente , do modo como lidam os governos com essa escassez. O autor Alexandre afirma que com a imprensa livre e as eleições periódicas, os dirigentes tem um forte incentivo para ouvir a população, pois ouvindo as críticas buscam apoio nas eleições futuras. Existem problemas complexos pertinentes a relação entre DEMOCRACIA e LIBERDADE DE EXPRESSÃO, envolve a imposição de restrições a esse direito fundamental, essenciais para a proteção de outros direitos como por exemplo: honra, privacidade, proteção da infância e segurança nacional. Há aqueles que defendem ser a liberdade de expressão necessária para a promoção da satisfação individual, realização pessoal e busca da própria felicidade, tecendo considerações sobre a necessidade de proteção da autonomia moral e liberdade. 2.1 LIBERDADE DE EXPRESSÃO COMO MANIFESTAÇÃO DA AUTONOMIA INDIVIDUAL. LIBERDADE DE EXPRESSÃO COMO MANIFESTAÇÃO DA AUTONOMIA INDIVIDUAL (Pág.22) CAPITÚLO 2.1 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 A liberdade de expressão deriva antes de tudo de um imperativo moral fundado na proteção da autonomia individual. Os agentes autônomos devem ser livre para se expressarem como melhor lhes convier, devem ter possuir plena capacidade de auto orientação e consciência, ninguém é possuidor do direito de decidir o que outras pessoas falam ou pensam. O processo democrático deve garantir a cada pessoa seu desenvolvimento e o mesmo potencial de influenciar o resultado de decisões coletivas, respeitando assim o plano abstrato ao menos a sua autonomia e igualdade, qualquer decisão politica que não compatibilize com a possibilidade de que alguém fale ou atinja um determinado público seria constituído como uma restrição indevida de valores. Por mais que o objetivo da liberdade de expressão seja proteger o discurso para que as pessoas possam expressar seus valores, certo que a exclusão de qualquer mensagem individual é incompatível com o princípio da autodeterminação. Nas palavras de Redish ‘’ o valor que nós damos para a sociedade decidir seu próprio destino não implica que damos o mesmo valor ao poder dos indivíduos dirigirem suas próprias vidas pessoais’’. um equívoco também continuar a encarar a autonomia individual como um princípio constitucional previamente delimitado que paira acima dos processos judiciais, sociais e políticos, quando necessário seu conteúdo e limites surgem exatamente desse processo. É um papel central para a liberdade de expressão na garantia da busca da verdade e da democracia e é esse papel que impõe à regulamentação dos meios de comunicação e tratamento distinto daquele conferido a outras atividades. 2.2 LIBERDADE DE EXPRESSÃO COMO INSTRUMENTO PARA A BUSCA DA VERDADE 2.2 LIBERDADE DE EXPRESSÃO COMO INSTRUMENTO PARA A BUSCA DA VERDADE (Pág. 26) 2.2 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 Existem várias teorias como por exemplo a da relatividade (Einstein), sobre o sistema solar (Copérnico), sobre o inconsciente (Freud, Melanie Klein e Jung) até hoje ainda não são suscetíveis de corroboração ou refutação experimental. O melhor teste para o valor ou para a utilidade social de um pensamento é a sua capacidade de se fazer aceito na livre competição do mercado de ideias por meio de um debate robusto e livre da interferência estatal. Se o perigo de dano não é imediato, a gravidade e a probabilidade de sua ocorrência tornam-se irrelevantes, pois após apresentação dos argumentos contrários, as pessoas poderão escolher por si mesmas, racional e livremente, onde está a verdade. No direito americano a supressão da expressão individual será legitima se houver uma ligação imediata entre palavras e ação, pois se as palavras forem proibidas simplesmente por que são odiadas pela maioria ou podem futuramente produzir uma conduta vedada pelo direito, o mercado de ideias poderá ser facilmente violentado pela regulação estatal. Tendo em vista que a verdade é produto da criação e do consenso humano e que o diálogo não conseguirá eliminar todas as divergências existentes, a teoria clássica do mercado de ideias deve ser parcialmente reformulada. A proibição de discursos racistas com base em uma teoria que considere as falhas de mercado, por exemplo, é fundada no fato de que o alto custo psicológico desse tipo de expressão não é aleatoriamente distribuído por toda sociedade mas recai totalmente sobre grupos minoritários específicos. Discursos que desrespeitam a igualdade do outro e desvalorizam previamente seus argumentos em razão da religião, gênero ou condição individual que não contribuem para aumentar nosso entendimento sobre o mundo, método que exige a possibilidade de confronto entre os méritos. 2.3 LIBERDADE DE EXPRESSÃO COMO INSTRUMENTO PARA A REALIZAÇÃO DA DEMOCRACIA 2.3.1 SOBERANIA POPULAR SOBERANIA POPULAR (Pág. 34) CAPITULO 2.3.1 LIBERDADE DE EXPRESSÃO COMO INSTRUMENTO PARA A REALIZAÇÃO DA DEMOCRACIA (Pág. 32) CAPITÚLO 2.3 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 A primeira se chama concepção majoritária ou tênue, que exige o cumprimento de dois requisitos: A) a escolha dos líderes políticos por meio de eleições e B) a elaboração de leis políticas por meio de assembleia de cidadãos ou representantes eleitos. Nesta primeira concepção a liberdade de expressão é garantida quando o estafo de abstém de censurar o discurso que ele desaprove, mesmo na democracia meramente formal, a censura é a maior ameaça à legitimidade do sistema democrático pois impede a exposição de reclamações e perspectivas diferentes. democracia material explica as cláusulas constitucionais de proteção às minorias e os direitos individuais contra a maioria democrática, embora a concepção de majoritária não consiga fazê-lo. SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 Não existe uma democracia coparticipativa sem soberania popular e a liberdade de expressão é essencial para a proteção dessa soberania , que confere ao povo e não às autoridades, o poder supremo. 2.3.2 SUFRÁGIO UNIVERSAL SUFRÁGIO UNIVERSAL (Pág. 35) CAPITULO 2.3.2 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 Assim como na concepção tênue, a democracia densa também requer o sufrágio universal mas exige que os cidadãos sejam iguais como participantes desse processo. A completa abstenção do Estado com a entrega da esfera do discurso a regras puramente de mercado cria o risco d excluir a voz daqueles que não bancam o custo da admissão no mercado de comunicação social. Se o sistema foca apenas em na proibição da censura ele correrá o risco de permitir que a concentração do mercado de comunicação social na mão de poucos agentes torne-se uma ameaça a própria liberdade de expressão. 2.3.3 IGUALDADE ENTRE OS PARTICIPANTES IGUALDADE ENTRE OS PARTICIPANTES (Pág. 36) CAPITULO 2.3.3 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 O terceiro quesito da democracia coparticipativa é a igualdade entre os cidadãos e é aqui que duas concepções divergem sobre como devem atuar para preservar essa igualdade. A primeira concepção entende a liberdade de expressão como um instrumento do autogoverno, além de que foca na proteção de processos de decisão coletiva e deve proteger os meios pelas quais os indivíduos consideram sua decisão de governo legitima. A solução para este dilema está na garantia de que os cidadãos participem do processo antes e não após tomada de decisões especificaspelo governo. Para a segunda concepção o Estado pode e deve abolir alguns tipos de discurso para proteger a própria democracia e a igualdade entre os participantes. O principio da proporcionalidade, por si só, não garante nem segurança jurídica nem uma correta conformação entre a liberdade de expressão e outros princípios constitucionais como a honra, a segurança e a privacidade. 2.3.4 DISCURSO DEMOCRÁTICO DISCURSO DEMOCRÁTICO (Pág. 40) CAPITULO 2.3.4 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 Para a democracia coparticipativa, a liberdade não consiste apenas na garantia da livre escolha, mas consiste na possibilidade de o indivíduo ter suas próprias crenças e preferências formadas a partir de condições apropriadas. Democracia participativa enfatiza o papel do debate público para o equacionamento de divergências, a discussão pública também confere a legitimidade ao dissenso e à decisão da maioria. Embora o estado seja uma potencial fonte de censura, o alcance e a qualidade das discussões abertas podem ser melhorados por várias políticas públicas. A escolha da emissora ou do jornal confere ao público uma percepção sobre prioridades e que por consequência, afeta o comportamento do Executivo e Legislativo. Há boas razões para garantir a diversidade e o pluralismo nos meios de comunicação já que, nas sociedades contemporâneas eles ocupam uma função anteriormente desempenhadas pelas praças como locais relevantes de discussão. A ausência de pluralismo no setor de comunicação torna-se risco, pois quando um pequeno número de editores com pontos de vistas semelhantes que dominam as ideias do público. 3. LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 3. LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 (Pág. 46) CAPITULO 3 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 A livre manifestação de pensamento, a liberdade de consciência e de crença, a proibição de qualquer privação de direitos por motivo de convicção religiosa, filosófica ou política, a livre expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação e o livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão garantidos pela Constituição da República. Essa é, aliás, a razão do $ 5° do mesmo dispositivo da Constituição, segundo o qual os meios de comunicação social não poderão, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio, infere-se que a liberdade de expressão não se traduz em uma liberdade absoluta do proprietário da empresa de comunicação 94 e que o Estado deve também atuar positivamente para garantir o pluralismo e a livre circulação de ideias quando desigualdades distributivas e as limitações do mercado negar o acesso do cidadão a esses meios ou restringir informação. garantia constitucional de que o cidadão brasileiro, nos discursos realizados nos principais fóruns de discussão da democracia contemporânea, tem um papel maior do que o de mero espectador 95 Contudo, saber como e quando o Estado deve regular o mercado de comunicação social para preservar a saúde dos fóruns públicos de discussão nas democracias coparticipativas é algo complexo, em especial, quando as exigências constitucionais de pluralismo entram em conflito com a liberdade editorial e a racionalidade econômica do dono da empresa de comunicação. 4. LIBERDADE DE EXPRESSÃO: DIREITO NEGATIVO OU POSITIVO? LIBERDADE DE EXPRESSÃO: DIREITO NEGATIVO OU POSITIVO? (Pág. 51) CAPITULO 4 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 Muitos constitucionalistas veem os direitos negativos como uma espécie de esfera de proteção do indivíduo contra o governo, um escudo criado para proteger indivíduos contra atos abusivos das autoridades públicas. Um Estado inerte não é capaz de proteger nenhum direito, nem mesmo aqueles classicamente chamados de negativos, como o direito a não ser submetido a prisões arbitrárias ou a não ser torturado pela polícia 100 Os fiscais do Poder Executivo, seja essa fiscalização exercida pelo Poder Judiciário ou Legislativo, os juízes, que exercem sua jurisdição sobre a polícia, autarquias, fundações públicas etc. Nessa linha, admitir que a garantia dos direitos negativos também depende da fiscalização dos outros dois poderes e do exercício da jurisdição é visualizar que a proteção de qualquer direito depende de intervenção estatal, uma vez que todo titular de direitos é potencialmente um autor ou um réu em uma ação judicial. Também em razão da liberdade de expressão, pode-se impetrar habeas corpus para garantir a realização de atividades expressivas em ruas, praças e parques públicos e, inclusive, processar criminalmente, por abuso de autoridade, servidores públicos que atentem contra a liberdade de consciência e de crença; direito de reunião, por fim, essencial à liberdade de expressão, depende frequentemente de uma ação afirmativa estatal, que reserva ruas, desvia carros e confere segurança aos manifestantes 101 Em todas essas situações, a liberdade de expressão requer intervenção do Poder Público, que, além de lhe conferir proteção, atua diariamente na conformação de seus limites. Se, ao menos nas sociedades modernas, os direitos individuais também dependem de intervenção estatal e recursos públicos, não há mais fundamento na defesa da clássica oposição realizada entre direitos positivos, dependentes de intervenção governamental, e negativos, concretizados pela abstenção estatal. Mercados, o da liberdade de expressão inclusive, não conseguem se desenvolver sem a intervenção do poder público, fazendo com que a inércia de um governo, longe de acarretar mercados prósperos, possa levar à conformação de um sistema econômico contaminado pela força, intimidação e monopólios 103. Afinal, as normas jurídicas sempre proveem parte do plano de fundo sobre os quais as decisões de mercado são tomadas e mesmo o mais inteligente e comprometido jornalista escreve uma reportagem dentro de uma estrutura comunicativa limitada tanto pela lei quanto pelo mercado. 5. DIVERSIDADE E PLURALISMO NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DIVERSIDADE E PLURALISMO NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO (Pág. 55) CAPITULO 5 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 Diversidade e pluralismo são palavras muitas vezes usadas como sinônimos ou de forma associada nas discussões sobre os meios de comunicação. diversidade de produtos refere-se ao número de opções de programas ou textos disponíveis em um determinado momento, a de fontes refere-se ao número de meios de comunicação, estrutura da propriedade desses meios e a disponibilidade de substitutos reais e potenciais existentes. III- AS FALHAS E LIMITAÇÕES DO MERCADO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL 1. AS CARACTERÍSTICAS ECONÔMICAS DO DISCURSO AS CARACTERÍSTICAS ECONÔMICAS DO DISCURSO (Pág. 58) CAPITULO III - 1 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 No campo tributário, por seu turno, a imunidade conferida pelo art. 150, VI, "d", da CF aos livros, jornais e periódicos e o papel destinado à sua impressão constituem uma forma de intervenção estatal destinada à correção da natural falha existente no mercado de informação 122. É um subsídio dado pelo sistema político aos veículos responsáveis pela divulgação da informação e propagação da cultura e um incentivo concedido para corrigir a tendência de sub produção 123. Segue a mesma linha de raciocínio a obrigatoriedade imposta pelo art. 212 da Constituição Federal de aplicação de um percentual mínimo da receita pública federal, estadual e municipal na manutenção e desenvolvimento do ensino. Se, por um lado, as pessoas tendem a subavaliar o valor da informação, é necessário garantir especial incentivo à sua produção, ainda mais se considerandoas externalidades positivas geradas pelo ensino. 2. AS VANTAGENS DO MERCADO COMO MECANISMO PARA A EFETIVAÇÃO DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO AS VANTAGENS DO MERCADO COMO MECANISMO PARA A EFETIVAÇÃO DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO (Pág. 66) CAPITULO 2 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 No âmbito dos direitos fundamentais, portanto, torna-se falso e perigoso separar a esfera de proteção e conformação de um direito do arranjo institucional organizado para o seu exercício. Não obstante, em razão das próprias características da informação, o desenvolvimento das instituições de comunicação social, passado algum tempo, teve de optar entre um modelo dependente da verba proveniente do mercado publicitário ou oriundo do Poder Público 131 Explica-se. Nesse modelo, ou o Estado assume completamente a gestão dos meios de comunicação ou os financia diretamente, criando uma imprensa livre de pressões privadas, mas completamente sujeita a pressões políticas 133.Uma estrutura regulatória em que o Estado financie diretamente os meios de comunicação, embora viesse a impedir a imposição de critérios de consumo ou rentabilidade sobre as comunicações, implicaria a retrocessão drástica dos modelos políticos ocidentais, que se entregariam à dura tarefa de distinguir a esfera do livre pensamento daquela imposta pelo direcionamento estatal 134. Na TV aberta, por seu turno, mesmo os países democráticos que resolveram explorar esse setor por meio de um monopólio público não saíram incólumes à crítica de que seus respectivos governos tirar partido do impacto da televisão sobre a opinião pública para servirem os interesses políticos dos governantes 137. Ademais, no âmbito do discurso, compete aos indivíduos, na qualidade de emissores, distribuidores e receptores da comunicação, o impulso decisivo sobre o conteúdo das ideias e opiniões que devem ser geradas, divulgadas e acolhidas, e não ao Estado ou a qualquer autoridade de forma hierarquizada, centralizada e unilateral. 3.1 AS FALHAS E LIMITAÇÕES DO MERCADO AS FALHAS E LIMITAÇÕES DO MERCADO (Pág. 70) CAPITULO SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 Um sistema de liberdade de expressão basicamente financiado pela iniciativa privada significa que jornais, revistas, estações de rádio e televisão irão alocar o direito de comunicação levando em consideração principalmente a perspectiva de lucro 143. Sem negar que muitos proprietários de empresas de comunicação estão dispostos a sacrificar parte do retorno financeiro por maior qualidade e que as normas e princípios dos códigos de ética contribuem para melhorar o nível da informação, apenas se afirma que, de maneira geral, as empresas serão mais receptivas aos comunicadores que puderem trazer maior retorno econômico. Embora esse seja um sistema bem melhor do que aquele em que o discurso é controlador de maneira centralizada pelo governo, a ideia de que o acesso aos meios de comunicação social dependerá da dinâmica do mercado. 3.1.1 A INFLUÊNCIA DOS ANUNCIANTES A INFLUÊNCIA DOS ANUNCIANTES (Pág. 71) CAPITULO 3.1.1 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 O conteúdo da informação não é determinado apenas pela demanda dos leitores, telespectadores e ouvintes. Seja na mídia escrita, onde o papel da publicidade adquire cada vez maior importância, seja no mercado de radiodifusão (TV aberta e rádio), leitores, telespectadores e ouvintes são ao mesmo tempo consumidores e produto. Lins destaca que, para valorizar suas inserções comerciais, o líder de mercado deve alcançar o maior número possível de espectadores, colocando uma programação que satisfaça o "gosto médio" e o maior número de pessoas. Para que isso seja alcançado, a programação deve adotar uma linguagem simples, que reforce as convicções do espectador médio, de modo a mantê-lo confortável diante da programação e receptivo à publicidade, e, finalmente, que mantenha um fluxo de informações renovado e em ritmo veloz para afastar a monotonia. Em razão dessas características, Lins afirma que a programação do rádio e da televisão tende a ser reforçadora dos valores e hábitos arraigados no público, tendo um viés conservador. Nos Estados Unidos, Picard e Brody demonstraram que, na década de 1990, jornais procuraram gradativamente audiências menores, porém mais ricas, alterando os assuntos de interesse para atrair a classe mais alta e cortando a entrega em áreas onde o custo de distribuição era alto ou onde o perfil da população não atendeu às expectativas dos publicitários 149. Diante do fato de que os benefícios de assistir ou ler uma mensagem de caráter público não são completamente internalizados pelo receptor individual, escolhas racionais podem reduzir os benefícios sociais gerados pela informação. 3.1.2 A INFORMAÇÃO COMO UM BEM PÚBLICO A INFORMAÇÃO COMO UM BEM PÚBLICO (Pág. 74) CAPITULO 3.1.2 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 De acordo com Sunstein, a liberdade de escolha, entendida com base em critérios puramente econômicos, é uma solução incompleta quando lidamos com um bem que assume características públicas, como é a informação. Mesmo, como já visto, ocorre com a informação, em especial as informações relacionadas com a duplamente onerada mensagem de caráter público 150 Por outro lado, a sociedade recebe inúmeros benefícios com a realização de um debate amplo e aberto ou com a produção de uma grande quantidade de informação sobre assuntos públicos, seja pela revelação de fatos novos, seja pela exposição a diferentes perspectivas. De fato, grande parte dos benefícios de tornar uma pessoa um cidadão mais informado e participativo serão absorvidos por terceiros, em razão da contribuição dada por aquele indivíduo por meio de conversas e debates para a construção do processo político. As opções individuais, como a seleção de programas de rádio e televisão após um cansativo dia de trabalho, podem ser diferentes daquelas escolhas que as mesmas pessoas tomariam depois de debaterem e considerarem todas as alternativas. 3.1.3 EXTERNALIDADES POSITIVAS E NEGATIVAS PRODUZIDAS PELOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO EXTERNALIDADES POSITIVAS E NEGATIVAS PRODUZIDAS PELOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO (Pág. 77) CAPITULO 3.1.3 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 Se uma empresa decide limpar um rio para usar água pura no seu processo de produção, as pessoas que vivem às margens serão beneficiadas ainda que não tenham despendido nenhum valor monetário para melhorar seu bem-estar. A primeira decorre dos seus valores não econômicos, pois parece estranho tentar mesurar os eventuais prejuízos financeiros ocasionados aos pais de uma criança que assiste a uma cena de sexo explícito ou de tortura na televisão. A segunda refere-se ao fato de que as externalidades atribuídas à maior parte da informação relacionam-se com o sistema de liberdade de expressão, pois geralmente decorrem das crenças, valores, perspectivas ou preferências da audiência 157. Enquanto grupos de gays, lésbicas e simpatizantes entenderão que a informação colaborará com a redução do preconceito e o aumento da tolerância, contribuindo para a "melhoria" da coletividade, grupos religiosos, provavelmente, defenderão exatamente o contrário, argumentando que a mensagem deturpar os "bons" valores da sociedade 158. Embora não se negue a existência de telejornais e jornais altamente lucrativos, as dinâmicas do mercado fazem com que programas informativos e editoriais críticos sejam mais limitados quanto às oportunidades de geração de receitas, quando comparados a programas de entretenimento. No entanto, o ganho proporcionado pelo mercado para a produção de um jornalismo de qualidade não está diretamente relacionadoà importância de sua função fiscalizadora, mas ao custo da produção e a capacidade de a informação atrair consumidores 162. 3.1.4 MÍDIA ESCRITA x MÍDIA AUDIOVISUAL: AS RESTRIÇÕES DO SETOR DE RADIODIFUSÃO MÍDIA ESCRITA x MÍDIA AUDIOVISUAL: AS RESTRIÇÕES DO SETOR DE RADIODIFUSÃO (Pág. ) CAPITULO 3.1.4 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 Imagine que o Congresso Nacional aprove uma lei conferindo ao Estado o poder de previamente autorizar quem pode publicar jornais e revistas em cada cidade, o número máximo de jornais ou revistas que cada cidade pode ter e as regiões em que essas publicações podem ser vendidas. De forma limitada, a lei ainda proporciona ao Estado o poder de determinar parcialmente o conteúdo dessas publicações, que seriam obrigadas a dedicar ao menos algumas de suas páginas a assuntos de interesse público e a temas de interesse local. Art. 223 da Constituição, o processo de outorga inicia no Poder Executivo - especificamente no Ministério das Comunicações - e termina com a apreciação do ato de outorga pelo Congresso Nacional: algo que demanda tempo, dinheiro, conhecimentos específicos sobre a burocracia administrativa, além das regulares exigências técnicas e econômicas. 3.1.4.1 A ESCASSEZ DO ESPECTRO RADIOELTRETICO A ESCASSEZ DO ESPECTRO RADIOELETRICO (Pág. ) CAPITULO 3.1.4.1 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 A escassez do espectro radioelétrico ocorreu no início do século XX nos Estados Unidos 164, o rádio começou a ser usado comercialmente, especialmente nas comunicações marítimas. Não havia ideia se o rádio iria ser gerido, como o telégrafo e o telefone, aberto a todas as pessoas que desejam enviar mensagens, nem se a publicidade comercial seria suficiente para financiar a atividade 165. 3.2. OS RISCOS DE CONCENTRAÇÃO OS RISCOS DE CONCENTRAÇÃO (Pág. 87 ) CAPITULO 3.2 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 E monopólio quando uma empresa possui a titularidade exclusiva para a produção de um determinado bem ou serviço 177 Pela teoria econômica, nenhum dos agentes em um mercado competitivo é capaz de unilateralmente afetar os preços ou o nível de produção. E um fenômeno intermediário entre o monopólio e a concorrência perfeita, sabendo a empresa que, embora sua conduta possa afetar a quantidade, a diversidade e o preço dos produtos no mercado, há necessidade de levar em consideração as ações presentes e futuras de seus poucos concorrentes 179. Concentrações ilegais, nesse campo, não terão como consequência o mero aumento do preço do jornal, mas podem afetar o pluralismo, a veracidade e a objetividade da informação divulgada. Ademais, a diversidade dos produtos midiáticos exerce influência considerável sobre os valores da sociedade que consome tais produtos e contribui para a formação da agenda pública e da opinião da população sobre temas de relevante interesse nacional. Na área da comunicação social, em especial, concentração econômica significa concentração de influência, que pode ser facilmente usada para obtenção de lucros políticos e ideológicos, além dos regulares lucros comerciais. Intencionalmente ou não, isso pode ocorrer em razão de uma determinada perspectiva adotada pela instituição para exame da realidade ou por uma linha editorial que confira demasiada importância a determinados assuntos em detrimentos de outros. 3.2.1 NOVOS PARADIGMAS: CONCENTRAÇÃO, CONVERGÊNCIA TECNOLÓGICA E CONCORRENTES POTENCIAIS NOVOS PARADIGMAS: CONCENTRAÇÃO, CONVERGÊNCIA TECNOLÓGICA E CONCORRENTES POTENCIAIS (Pág.94) CAPITULO 3.2.1 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 As restrições à concentração impostas pela maioria dos países não impediram que a indústria dos meios de comunicação tenha se concentrado paulatinamente, fazendo com que os níveis permitidos fossem sistematicamente superados. Em parte, isso ocorreu porque empresas aproveitaram leis permissivas, vazios legais, atitudes tolerantes dos reguladores de comunicação ou mecanismos débeis de fiscalização para burlar as regras 190. No sistema capitalista, as empresas objetivam a maximização dos lucros, parecendo claro que, quanto maior o tamanho, maior a possibilidade de lucros, devido à sinergia, à economia de escala e à diminuição do número de atores no mercado. Ademais, buscam também reduzir ao mínimo a margem de atuação dos competidores para se converter em interlocutores privilegiados perante o poder público e criar barreiras de entrada a novos competidores 193 Além disso, algumas características do mercado de mídia incentivam ainda mais a concentração. 4. O PODER DO ESTADO NA REGULAÇÃO DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO O PODER DO ESTADO NA REGULAÇÃO DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO (Pág. 98) CAPITULO 4 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 As falhas e limitações do mercado analisadas sugerem a adoção de algumas medidas regulatórias para assegurar maior diversidade e pluralismo nos meios de comunicação, algo essencial para o bom funcionamento de uma democracia coparticipativa. Por outro lado, as características da informação tornam ilegítima qualquer medida estatal que tenda a encarecer o custo de participação ou aumenta as desigualdades de acesso aos fóruns públicos propiciados pelos meios de comunicação. Veremos que a concentração existente no mercado brasileiro de hoje, por exemplo, decorre em boa parte do modo como ele foi regulado: uma estrutura que permitiu o uso de outorgas como moeda de troca política e que, ao restringir durante quase sessenta anos a propriedade de empresas de comunicação a pessoas físicas, limitou o conjunto de indivíduos que poderia participar do processo 207. O que se deve questionar agora que tipo de regulação deve-se ter para promover o interesse público, já que, no sistema de liberdade de expressão, essa promoção em boa medida é concebida como a redução das falhas de mercado, de modo a viabilizar a efetiva participação do cidadão, a concorrência de ideias e o pluralismo cultural. IV. O SETOR DE COMUNICAÇÃO SOCIAL E AS FALHAS DE GOVERNO O SETOR DE COMUNICAÇÃO SOCIAL E AS FALHAS DE GOVERNO (Pág. 105) CAPITULO IV SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 As falhas e limitações de mercado analisadas no capítulo anterior sugerem a necessidade de intervenção estatal para a aproximar o mercado de comunicação a um “mercado perfeito de ideias” por meio de redução de barreiras de entrada. As teorias analisadas no primeiro capítulo sobre liberdade de expressão indicam que há algo de especial na informação que a torna essencial para a democracia, uma vez que a legitimidade do processo de discussão é essencial para a própria legitimidade do direito. As leis falham por que são fundadas em erros de diagnóstico, análises superficiais ou informação inadequada. Muitos legisladores e juízes, por exemplo, tornam-se indiferentes ao custo quando o assunto é referente a direitos classificados como inalienáveis. A regulação utilizará um instrumento inadequado para responder a um problema existente no mercado privado. Leis também podem produzir resultados completamente inesperados. As escolhas institucionais ocorrem entre alternativas imperfeitas, levando a necessidade de uma análise comparativa entre os prejuízos e benefícios causados por diferentes modelos regulatórios. 2. OS PROBLEMAS EXISTENTES NO CAMINHO DO CONSENSO OS PROBLEMAS EXISTENTES NO CAMINHO DO CONSENSO (Pág. 108 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 Sociedades modernas caracterizam-se por um alto grau de complexidade social e especialização. Eles destacam-se também pela existência de uma pluralidade de valores e tendências políticas; Nessesistema pressupõe que cada grupo de cidadãos elegerá seus parlamentares para representa-los e que esses parlamentares gozarão de influência política. A democracia representativa é uma forma de redução dos custos de transação e coordenação entre as diversas tendências presentes na esfera pública pluralista. Aqueles que inicialmente discordavam da proposta reveem suas posições originais após o debate. A hipercomplexidade da sociedade moderna representada no parlamento, contudo, com uma enorme contraditória diversidade de valores e interesses tornam-se praticamente impossíveis. À medida que o dissenso diminui e se aproxima o consenso, aumenta o valor da nova adesão. Para a racionalidade econômica, assim a substituição da unanimidade pela maioria torna-se essencial para diminuir os custos de transação e coordenação. Diferentes tendências políticas não precisarão mais cooperar para obter de forma unânime o entendimento, mas competirão para atingir a maioria e distribuir recursos estatais e concretizar a regulação de acordo com sua própria concepção de interesse público. 2.1 OS ACORDOS POLITICOS OS ACORDOS POLITICOS (Pág. 110) CAPITULO 2.1 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 A maioria dos cidadãos reconheçam que todos acordos políticos são necessários em uma democracia, essas mesmas não se sentem confortáveis ao saber que ao saber que políticos trocam votos. A troca de votos no Parlamento desse modo pode beneficiar a sociedade e dar aos eleitores o que eles querem. Para a teoria econômica um representante no Congresso convivendo com outros parlamentares com diferentes interesses, valores e expectativas procurando agir de forma que maximize a sua utilidade. Um erro comum é acreditar que para sua validade ou sua aplicabilidade, a teoria econômica dependa de alguém motivado apenas por razões egoístas em todos os aspectos de seu comportamento. O parlamento assim, torna-se nada mais do que um conjunto de procedimentos que possibilita a criação de decisões coletivas. A teoria econômica chega mesmo a se aproximar das ideias das Habermas sobre as sociedades modernas. Todos os parlamentares terão um único voto para a aprovação de todas as leis, ainda que muitos conheçam pouco do assunto que está sendo objeto da discussão. Se interesses conflitantes não são resolvidos por meio da discussão , é por meio da troca que representantes de concepções diversas de mundo conseguem reconciliar seus interesses. Quando há mais de uma opção de política pública, um parlamentar ou partido político pode votar em uma proposta que não é aquela que prefere, impedir que uma opção ainda menos desejada vença o processo de votação. 3. OS GRUPOS DE INTERESSE OS GRUPOS DE INTERESSE (Pág. 115) CAPITULO 3 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 Do ponto de vista econômico, leis podem ser classificadas em quatro grupos: aquelas que impõem benefícios concentrados a grupos específicos em detrimento de um grande e difuso número de pessoas; aquelas que conferem custos a grupos concentrados e bem organizados em benefício de grupos difusos e numerosos de pessoas, aquelas que impõem benefícios e custos difusos a um grande número de pessoas e as que impõem benefícios e custos a grupos específicos e bem organizados230 Leis que caem na primeira e segunda categorias tendem a ser inadequadamente elaboradas. Esses grupos são concentrados no sentido de que cada membro do grupo tem muito a perder ou ganhar com o resultado do processo político, ainda que o resultado para o resto da população não imponha grandes benefícios ou perdas individuais 231 Também chamada de teoria da captura por alguns, os defensores dessa teoria partem da percepção de que alguns grupos exercem uma influência desproporcional sobre os legisladores e reguladores. Segundo Komesar, embora a maioria não seja estúpida nem impassível, nessas situações, o impacto per capita de uma legislação sobre a maioria dos indivíduos será tão pequeno que não justificará sequer a disponibilização do tempo necessário para tomar conhecimento da situação. 3.1 A INDÚSTRIA DACOMUNICAÇÃO SOB A PERSPECTIVA DA TEORIA DOS GRUPOS DE INTERESSE A INDÚSTRIA DACOMUNICAÇÃO SOB A PERSPECTIVA DA TEORIA DOS GRUPOS DE INTERESSE (Pág. 120) CAPITULO 3.1 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 A indústria da comunicação enquadra-se exatamente na área onde a regulação do setor tende a impor custos e benefícios para grupos concentrados em oposição a custos e benefícios de um grande e difuso número de receptores de informação. Considere os esforços para promover uma programação de alta qualidade e diversidade no rádio e na televisão: de um lado, há o poder econômico e político da indústria, de outro, há o caráter difuso de grupos de ouvintes e telespectadores que eventualmente se beneficiariam com a regulação. O lucro também pode explicar a forma como as empresas fazem o lobby durante o processo legislativo. Imagine que a indústria da comunicação tenha que decidir entre dedicar recursos para a produção de leis que concedam subsídios à cultura ou para a produção de leis que restrinjam a competição. Por um lado, subsídios irão atrair novas empresas para o mercado da comunicação e podem assim gerar a redução dos lucros. Por outro, a restrição à competição irá criar lucros maiores decorrentes de um mercado monopolista ao mesmo tempo em que aumentará as barreiras de entrada para concorrentes potenciais. Dessa forma, frequentemente a restrição à competição será a primeira escolha de uma indústria regulada, pois empresas já estabelecidas têm interesse em excluir concorrentes potenciais do mercado. 3.2 O SETOR DE COMUNICAÇÃO E A TIRANIA DA MAIORIA O SETOR DE COMUNICAÇÃO E A TIRANIA DA MAIORIA (Pág. 122) CAPITULO 3.2 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 As ameaças para regulação do setor de comunicação social não advêm apenas de grupos de interesses especiais, que possuem dimensão relativamente reduzida, mas de altos níveis de interesse sobre a legislação. Originam-se também da maioria social ou dos grupos que defendem os seus interesses difusos e impedem a afirmação comunicativa das minorias; Maiorias - apesar do pequeno benefício per capita — podem em algumas situações se organizar e usar seu grande número para dominar o processo político 244. Grandes grupos, por exemplo, costumam se valor de seu elevado número para impedir a concessão legal de direitos civis a grupos minoritários. Na linha econômica, a tão propalada tirania da maioria ocorre quando ela impõe sua decisão às minorias mesmo quando o benefício social para o maior grupo é bem menor do que o prejuízo absorvido pelo menor. Para o sistema de liberdade de expressão, desse modo, o objetivo não é apenas evitar o controle dos mecanismos regulatórios por grupos de interesse específicos, mas também impedir o domínio abusivo do sistema por parte das maiorias políticas e sociais, que podem usar seu poder para limitar os direitos de acesso e, consequentemente, o exercício das atividades de expressão por grupos minoritários. 4. MUDANÇAS FÁTICAS VALORATIVAS E OBSOLÊNCIA NO SETOR DE COMUNICAÇÃO MUDANÇAS FÁTICAS VALORATIVAS E OBSOLÊNCIA NO SETOR DE COMUNICAÇÃO (Pág. 123) CAPITULO 4 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 Para um sistema de recursos escassos, o modelo regulatório brasileiro encontra dificuldades para se adaptar a um mundo com uma tecnologia maior por exemplo: Tv a cabo, digital, por satélite e a internet. A nova tecnologia incentiva as empresas de telecomunicação, audiovisual e informática a diversificarem as suas áreas de atividade e mesmo a colaborarem umas com as outras. O crescimento exponencial das possibilidadescomunicativas, com custos marginais cada vez mais baixos aumenta a possibilidade de dividir e individualizar a oferta audiovisual. Apesar dos pressupostos fáticos a CF de 1988 -em especial a Emenda Constitucional n°8- trata a radiodifusão de maneira distinta dos outros meios de comunicação. O desenvolvimento tecnológico acaba reforçando as dimensões subjetivas e intersubjetivas da comunicação. A tecnologia assim pode reduzir os custos da participação cívica, aumentar as oportunidades comunicativas e nos aproximar do modelo ideal de democracia coparticipativa. Não havendo como aumentar a diversidade de fontes sem aumentar o acesso dos cidadãos ás plataformas de comunicação. 4.2 ASPECTOS VALORATIVOS ASPECTOS VALORATIVOS (Pág. 126) Capitulo 4.2 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 Parece haver consenso de que há um claro descompasso entre a atual Constituição e a legislação infraconstitucional do setor de comunicação. A declaração de inconstitucionalidade da Lei de Imprensa (Lei n. 5.250/1967 ) na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental n. 130 foi, ao menos, um aviso dado pelo Supremo Tribunal Federal de que o modelo legal anterior foi forjado com base em uma ordem constitucional (a de 1967/1969), que não possui praticamente qualquer relação com a atual. Apesar disso, diversos projetos para o setor de comunicação tramitam há bastante tempo pelo Congresso Nacional sem qualquer esperança de consenso próximo. De maneira geral, os embates em torno das proposições em trâmite são oriundos de concepções antagônicas a respeito da liberdade de expressão. A primeira interpreta esse direito fundamental, exclusivamente, como garantia para proteção da autonomia discursiva dos indivíduos, ou seja, é centrada na autonomia privada do emissor da mensagem e no direito à expressão de pensamento sem qualquer interferência externa. A segunda vê a liberdade de expressão como instrumento de autogoverno, utilizado de modo a permitir que os cidadãos sejam informados sobre assuntos de interesse geral e assim possam livremente formar a sua convicção. Coloca, assim, o destinatário da mensagem como o centro da preocupação. Os primeiros veem o Estado como o principal inimigo desse direito fundamental; enquanto os outros acreditam que o Estado seja seu principal promotor. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS CONSIDERAÇÕES FINAIS (Pág. 127 ) CAPITULO 5 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 Na modernidade, não há mais dúvidas de que a presença do Estado é necessária para viabilizar o desenvolvimento, corrigir falhas de mercado e garantir, mais do que a igualdade formal, a igualdade material entre os cidadãos. Ao buscar esse objetivo, no entanto, não se pode olvidar que, de certa maneira, os mesmos fatores que contribuem para excluir as pessoas do mercado miséria, ignorância, falta de educação formal - também contribuem para diminuir sua capacidade de influenciar o processo político. Nesse sentido, embora a análise econômica do direito não tenha a pretensão de explicar todo e qualquer comportamento do político, ela traz insights que permitem ao jurista perceber os motivos pelos quais a regulação nem sempre corrige as desigualdades provocadas por um mercado livre. Em uma sociedade cada vez mais especializada, ela destaca a atuação dos grupos de interesse e expõe os motivos pelos quais, no processo político, há situações em que uma maioria enganada é convencida a apoiar leis que, na verdade, lhe são prejudiciais. V. AS FALHAS PECULIARES DO SETOR DE RADIOFUSÃO BRASILEIRO 1. AS ELITES POLÍTICAS AS ELITES POLÍTICAS (Pág. 131) CAPITULO 1 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 primeira característica marcante da A estrutura do setor de comunicação social brasileiro é o seu estreito vínculo com os grupos políticos nacionais e regionais. Em 7 de dezembro de 1980, Elvira Lobato publicou no Jornal do Brasil, sob o título "No ar, a voz do dono", o resultado de uma pesquisa que mostrava o nome e a filiação partidária de 103 políticos de 16 estados que controlavam, direta ou indiretamente, emissoras de rádio e/ou televisão. À época, o art. 38, parágrafo único, do Código Brasileiro de Comunicação já determinava que não poderia exercer a função de diretor ou gerente de concessionária de serviço de radiodifusão quem estivesse no gozo de imunidade parlamentar ou de foro especial254 O vínculo entre radiodifusão e política, no entanto, perpassou os tempos do regime militar ingressando com facilidade no período democrático do país. Ao final do último governo militar, um dos temas que atraiu o interesse público foi o número elevado de outorgas de concessões de canais de rádio e televisão num período de tempo extremamente reduzido. Dados do Ministério das Comunicações divulgados à época e analisados por Lima revelaram que, enquanto em 1982 foram outorgadas 134 novas concessões, 80 em 1983 e 99 em 1984, somente nos últimos 74 dias de seu governo, o general Figueiredo assinou 91 decretos de concessões de canais de radiodifusão - ou mais de 1,22 decretos de outorga por dia. Segundo Lima, a maior parte dos beneficiados eram políticos que recorriam aos mais variados artifícios e obtinham o controle de emissoras de rádio e televisão por meio de parentes e/ou "testas de ferro". 2. A PRESENÇA DE GRUPOS FAMILIARES A PRESENÇA DE GRUPOS FAMILIARES (Pág. 135) CAPITULO 2 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 A segunda característica peculiar do sistema de comunicação brasileiro é a presença de grupos familiares. Por quase sessenta anos, as Constituições impediram a propriedade de empresas de radiodifusão e jornalísticas por parte de pessoas jurídicas 267. As sucessivas normas sempre tiveram a finalidade de permitir a identificação dos proprietários das empresas e impedir o controle do setor de comunicação social por estrangeiros 268. Não obstante, ao impedir a propriedade de pessoas jurídicas, a regra teve como efeito colateral a criação de um setor basicamente dominado por poucas famílias 269. A Emenda Constitucional n. 36/2002 e a Lei n. 10.610, de 2002, alteraram esse quadro, pois passaram a permitir a participação de pessoas jurídicas na formação do capital social das empresas de radiodifusão e jornalísticas, incluídas as de capital estrangeiro. A mudança legislativa, contudo, ainda não produziu significativa alteração no mercado de comunicação, fazendo com que o comando das empresas permaneça praticamente inalterada 270. Pesquisa realizada por Nuzzi, em 1995, indicava que 90% da mídia brasileira eram sujeitas ao controle de apenas 15 grupos familiares. Segundo Caparelli e Lima, por sua vez, os oito principais grupos do setor de rádio e televisão são: a) nacionais: a família Marinho (Globo), a família Saad (Bandeirantes) e a família Abravanel (SBT) e b) regionais: a família Sirotsky (RBS), a família Daou (TV Amazonas), a família Jereissati (TV Verdes Mares), a família Zahran (MT e MS) e a família Câmara (TV Anhanguera). Desses oito grupos, apenas dois não são sócios afiliados das Organizações Globo. Explicam Lima e Capparelli que aos oito grupos do setor de radiodifusão, que também atuam na produção de conteúdos e outras formas de imprensa escrita e eletrônica, devem ainda ser acrescentados outros cinco grupos familiares, a saber: Civita (Abril); Mesquita (Grupo OESP); Frias (Grupo Folha); Martinez (CNT) e Levy (Gazeta Mercantil). 3. O PROCEDIMENTO PARA OUTORGA DE CONSESSÕES E PERMISSÕES DE RÁDIO E TELEVISÃO O PROCEDIMENTO PARA OUTORGA DE CONSESSÕES E PERMISSÕES DE RÁDIO E TELEVISÃO (Pág. 138) CAPITULO 3 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 A política para a radiodifusão repercute diretamente no pluralismo externo, já que oaumento do número de opções comunicativas surgidas com a TV a cabo, via satélite e Internet no Brasil ainda não foi suficiente para modificar a atual estrutura de comunicação. Apenas 10% da população assistem às TVs de acesso condicionado (TVs pagas), somente 50% dos municípios brasileiros contam com alguma programação local de rádio e televisão e a grande maioria da população não lê jornais, livros e revistas ou tem acesso à Internet. A Constituição Federal de 1988 conferiu à União a competência para exploração direta, ou mediante concessão, permissão ou autorização, dos serviços de radiodifusão sonora de sons e imagens (art. 21, XII, "a"). Por sua vez, o art. 22, IV, da Constituição dispôs ser da União a competência privativa para legislar sobre telecomunicações e radiodifusão. A grande novidade do texto constitucional foi a atribuição ao Congresso Nacional de competência exclusiva para apreciar os atos de concessão e renovação de concessão das emissoras de rádio e televisão, antes processadas exclusivamente pelo Poder Executivo. Não houve, contudo, mudança substancial na legislação infraconstitucional sobre o tema. A legislação infraconstitucional permite a atribuição de um bem considerado público e escasso a particulares sem regras claras sobre a licitação. Segundo Lopes, os parâmetros estabelecidos pelo Decreto referem-se basicamente a capacidade técnica e financeira do interessado, havendo poucos requisitos referentes aos termos em que ocorrerá a prestação do serviço. De acordo com a autora, além de serem poucas as exigências relacionadas ao cumprimento do art. 221 da Constituição Federal, elas não são vinculantes para a delegação. Pelos termos do Decreto, o Ministro das Comunicações e o Presidente continuam com um grande poder discricionário sem qualquer parâmetro legal (lei em sentido estrito) para pautar sua atuação 24. 3.1 TVs EDUCATIVAS TVs EDUCATIVAS (Pág.140) CAPITULO 3.1 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 No caso das TVs Educativas, dispõe o art. 14, $ 29, do Decreto-Lei n. 236/1967 que "a outorga de canais para a televisão educativa não dependerá da publicação do edital previsto no art. 34 do Código Brasileiro de Telecomunicações". Por sua vez, o art. 13, § 1°, do Decreto n.52.79 5/63, com redação dada pelo Decreto n° 2.108/1996, estabelece que é "dispensável a licitação para outorga para execução de serviço de radiodifusão com fins exclusivamente educativos". Com base nessa regulação, o Ministério das Comunicações entende que a escolha do concessionário de TV educativa decorre exclusivamente do poder discricionário da Administração. O entendimento, contudo, afronta os arts. 21, XII, a, XXI, e 175 da Constituição Federal. 3.2 REPETIDORAS E RETRANSMISSORAS DE TELEVISÃO REPETIDORAS E RETRANSMISSORAS DE TELEVISÃO (Pág. 142) CAPITULO 3.2 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 De acordo com o Decreto n. 5372005 o Serviço de Retransmissão de Televisão (RTV) destina-se a retransmitir, de forma simultânea ou não simultânea, os sinais de estação geradora de televisão para a recepção livre e gratuita pelo público em geral. O Serviço de Repetição de Televisão (RpTV) destina-se ao transporte de sinais de sons e imagens oriundos de uma estação geradora de televisão para estações repetidoras e retransmissoras ou, ainda, para outra estação geradora de televisão, cuja programação pertença à mesma rede. Ambos têm a finalidade de possibilitar que os sinais das estações geradoras sejam recebidos em locais por eles não atingidos diretamente ou atingidos em condições técnicas inadequadas. A definição de quem será o vencedor da outorga nesses casos também não se funda em lei e nem exige licitação. As autorizações são concedidas diretamente por portarias do Ministério das Comunicações e têm caráter precário, com prazo indeterminado para a extinção. Conforme o Decreto, portanto, o Ministério pode, a qualquer momento, cancelar as permissões ou mantê-las indefinidamente sem ser necessário que elas passem por qualquer processo de avaliação do serviço como requisito para a renovação das outorgas (art. 9° do Decreto). 3.3 RÁDIOS COMUNITÁRIAS RÁDIOS COMUNITÁRIAS (Pág. 143) CAPITULO 3.3 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 As rádios comunitárias são um importante passo para a realização da democracia participativa e de um sistema aberto de liberdade de expressão. Representam também a concretização parcial do art. 223 da Constituição segundo o qual o serviço de radiodifusão observará o princípio da complementaridade entre os sistemas privados, público e estatal 280.Nos anos 1990, diversas associações civis que atuavam com rádios comunitárias pressionaram a Administração Pública para a edição de uma lei que conferisse maior segurança às rádios comunitárias. O resultado foi a aprovação da Lei n° 9.612/1998, que, apesar de constituir um avanço, é extremamente restritiva em relação ao funcionamento dessas entidades. Conforme o art. 1º da lei, o limite máximo de potência da antena de uma estação de rádio comunitária é de 25 watts e a altura do sistema irradiante não pode ser superior a trinta metros. Esse limite é ínfimo em relação à potência das emissoras comerciais. Apenas para exemplificar, a radio Transamérica opera em Brasília com autorização para uma antena com potência de 48.6kW. 3.4 O PRAZO E A FORMA DE RENOVAÇÃO DAS CONSESSÕES E PERMISSÕES DE RÁDIO E TELEVISÃO O PRAZO E A FORMA DE RENOVAÇÃO DAS CONSESSÕES E PERMISSÕES DE RÁDIO E TELEVISÃO (Pág. 146) CAPITULO 3.4 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 Assim como no Brasil, no México existe um claro predomínio do modelo comercial nos meios eletrônicos, além de elevada concentração, particularmente, na televisão. Segundo Beatriz Solis Leree, ao longo de mais de quarenta anos, o processo de outorga de concessões no México realizou-se conforme políticas discricionárias que propiciaram uma relação de mútuas conveniências entre os industriais dos meios de comunicação e os governo 286. Embora o número de licenças seja alto, a maioria das empresas licenciadas é apenas repetidora, fazendo com que a audiência se divida praticamente entre apenas duas empresas: a Televisa e a TV Azteca. As duas empresas controlam juntas 95% da televisão mexicana, com 437 das 461 concessões existentes. Essa concentração, consoante Leree, ocorre a partir da titularidade de frequências, pela afiliação de empresas locais e pela associação para a transmissão de programação que, em resumo, geram uma oferta de programação limitada e um escasso crescimento das emissoras locais. 4. A CONCENTRAÇÃO NO MERCADO BRASILEIRO DE COMUNICAÇÃO A CONCENTRAÇÃO NO MERCADO BRASILEIRO DE COMUNICAÇÃO (Pág. 149) CAPITULO 4 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 Em agosto de 2007, a Article 19 uma organização não governamental inglesa destinada a promover e defender a liberdade de expressão - divulgou um relatório preocupante sobre a concentração do mercado de comunicação brasileiro 290 Segundo a organização, a situação do Brasil distancia-se dos padrões internacionais, haja vista a propriedade dos meios de comunicação estar demasiadamente concentrada nas mãos de poucos, o que constitui uma grave violação ao direito do público de receber informações de fontes variadas de comunicação. 5. A INOPERÂNCIA DO CONSELHO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL A INOPERÂNCIA DO CONSELHO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL (Pág. 152) CAPITULO 5 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 De acordo com o art. 224 da Constituição Federal, o Conselho de Comunicação Social é órgão que, na forma da lei, é responsável por auxiliar o Congresso Nacional em matérias que envolvam a regulação do setor.O art. 2° da Lei n. 8.389/1991 atribuiu ao Conselho a realização de estudos, pareceres, recomendações e outras solicitações que lhe forem encaminhadas pelo Congresso Nacional a respeito do capítulo da Constituição referente à comunicação, em especial sobre a) liberdade de manifestação do pensamento, da criação da expressão e da informação; b) propaganda comercial de tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos, medicamentos e terapias nos meios de comunicação social; c) diversões e espetáculos públicos; d) produção e programação das emissoras de rádio e televisão; e) monopólio ou oligopólio dos meios de comunicação social; f) finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas da programação das emissoras de rádio e televisão; g) promoção da cultura nacional e regional, e estímulo à produção independente e à regionalização da produção cultural, artística e jornalística; h) complementariedade dos sistemas privado, público e estatal de radiodifusão; i) defesa da pessoa e da família de programas ou programações de rádio e televisão que contrariem o disposto na Constituição Federal; j propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens; 1) outorga e renovação de concessão, permissão e autorização de serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens; m) legislação complementar quanto aos dispositivos constitucionais que se referem à comunicação social. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS CONSIDERAÇÕES FINAIS (Pág. 153) CAPITULO 6 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 Como exceção da Internet, pode-se dizer que o mercado de comunicação, em razão de suas próprias características, possui altas barreiras de entrada. Quando uma nova emissora ou jornal entram no mercado, o único jeito de conquistar a audiência é investir na programação. Como um conteúdo de qualidade, porém, geralmente é custoso, e a audiência para uma nova empresa é baixa, a receita da firma será zero ou próxima disso. Para evitar o ciclo vicioso no qual o conteúdo de baixo orçamento resulta em baixa audiência a qual por sua vez proporcionará uma programação de baixo orçamento -, uma nova emissora ou jornal devem manter seus investimentos em programação de qualidade, a despeito de inicialmente as receitas advindas da audiência não cobrir seus custos. O risco de investir em custos irrecuperáveis assim é elevado, mas apenas agindo desse modo é possível a um novo canal ou jornal entrar num "ciclo virtuoso", no qual maiores audiências levam a maiores orçamentos para investimento em conteúdo e assim sucessivamente. VI. A REGULAÇÃO DO PLURALISMO NO SETOR DE RADIOFUSÃO 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS CONSIDERAÇÕES INICIAIS ( Pág. 157) CAPITULO 1 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 Mesmo se sabendo que a intervenção regulatória é imperfeita e possui também falhas, no decorrer do presente trabalho, constatou-se ser possível introduzir reformas no mercado de comunicação de modo a conseguir a ampliação das possibilidades de participação e comunicação de diferentes grupos sociais. Dignas de nota foram as propostas de correção das falhas de mercado e de diminuição dos custos de manifestação a fim de ampliar a capacidade de expressão de todos aqueles que a valorizem. Outra importante constatação repousou sobre o fato de que, à medida que se reduzem os obstáculos tecnológicos e econômicos à participação do cidadão nos debates comunicativos, essas dificuldades não podem ser substituídas por outras de natureza jurídica, que acabem por produzir um efeito semelhante. Igualmente relevante foi a necessidade de introdução de medidas regulatórias que diminuam a influência excessiva de alguns grupos de interesse nos processos comunicativos e reduzam a possibilidade de captura dos órgãos governamentais por autoridades públicas ou por grupos políticos específicos. 2. É POSSIVEL ADOTAR MODELOS REGULATÓRIOS RADICALMENTE DISTINTOS? 2.1 A REGULAÇÃO DOS CANAIS DE RÁDIO E TELEVISÃO PELO SISTEMA DE PROPRIEDADE A REGULAÇÃO DOS CANIAS DE RÁDIO E TELEVISÃO PELO SISTEMA DE PROPRIEDADE (Pág. 158) CAPITULO 2.1 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 Costuma-se afirmar que o sistema de outorgas no setor de radiodifusão é essencial para a preservação e a defesa do interesse público em uma área considerada estratégica em qualquer nação. De maneira geral, dois são os argumentos para justificar esse sistema: o primeiro, já visto no capítulo III, refere-se à escassez do espectro radioelétrico e a possibilidade de interferência ; o segundo estaria na especial capacidade da radiodifusão para influenciar as mentes e os corações humanos. Para inúmeros autores, o rádio e a televisão desempenhariam um papel muito mais importante na formação educacional e cultural da população do que jornais, livros e revistas, pois seriam veículos mais importantes e eficientes de disseminação da língua, das manifestações culturais e da valorização dos hábitos e costumes nacionais. A televisão, por meio de documentários e mesmo novelas, também se colocaria como a principal alternativa a leitura como forma de aprender sobre o nosso passado e histórico cultural. 2.2 A CRIAÇÃO DE UM ESPECTRO RADIOELÉTRICO LIVRE A CRIAÇÃO DE UM ESPECTRO RADIOELÉTRICO LIVRE (Pág. 162) CAPITULO 2.2 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 Imagine vários estudantes universitários em uma aula de engenharia, cada um deles com o seu respectivo laptop. Na universidade, um sistema wireless possibilita a pronta conexão de todos os aparelhos com a Internet. Todos estão conectados à rede pela mesma faixa de frequência, mas nenhum dos computadores produz interferência na atividade do outro nem um estudante consegue ver a caixa de correio eletrônico de seu colega. Por que não há interferência, já que todos dividem a mesma frequência? Muitos de nós ainda pensamos que uma coordenação do governo é necessária para evitar a interferência no espectro radioelétrico e, consequentemente, o caos. Essa ideia é errada. As ondas de rádio não precisam da ajuda de um sistema de concessões para fazer o seu trabalho, pois hoje podem funcionar exatamente como pessoas em uma festa. Quando estamos em um salão lotado, embora estejamos rodeados por uma imensa variedade de sons, conseguimos nos concentrar e dialogar com apenas uma ou um número reduzido de pessoas. Equipamentos eletrônicos atualmente podem funcionar de forma bastante semelhante, pois podem ser configurados para ouvir e comunicar assim como as pessoas em uma festa, focadas apenas em uma conversa específica. O melhor exemplo dessa tecnologia está no Wi-fi. Esse é o nome popular de uma tecnologia que reúne um conjunto de protocolos que juntos permitem aos computadores compartilhar a mesma faixa de frequência. Os dados trafegam compartilhando a mesma banda e cada computador, em razão de seu protocolo, sabe quais dados deve ou não processar. 3. POLÍTICAS PARA O MODELO REGULATÓRIO ATUAL POLÍTICAS PARA O MODELO REGULATÓRIO ATUAL (Pág. 168) CAPITULO 3 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 Não se pode negar um aspecto eminentemente especulativo para o tópico inicial do presente capítulo. Não há exemplos históricos de um sistema de radiodifusão regulado pelo sistema de propriedade e nem o autor pode dizer nada sobre os custos técnicos relacionados à implementação de um sistema como esse. Ademais, não se pode afirmar com absoluta certeza que o desenvolvimento da tecnologia nos proporcionará um espectro radioelétrico praticamente ilimitado para a transmissão e divulgação de mensagens e quais seriam os custos envolvidos nesse processo. Poder- se-ia também argumentar que o fim do uso das concessões como moeda de troca política, da renovação praticamente automáticadas outorgas atuais e de tantas outras falhas de governo e mercado relacionadas ao sistema brasileiro de concessões poderiam ser obtidas simplesmente com a melhora da atual regulação, e não com uma completa transformação do modelo regulatório 318. Finalmente, ainda que haja alternativas radicalmente diferentes para a estruturação do mercado de comunicação, a simples regulação pelo sistema de propriedade ou o mero desenvolvimento da tecnologia não seriam capazes de eliminar, por si só, os riscos para a democracia de um sistema de comunicação envolvido com o sistema político, demasiadamente concentrado, com pouca discussão sobre temas de interesse público, entre outros problemas. Os tópicos seguintes, desse (art. 54, I, a, e II, b). De um contrato de concessão, não necessariamente decorre um favor da União, podendo-se argumentar inclusive que seria necessária uma lei ordinária para definir o sentido da expressão "favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público". Aliás, isso restou expresso no art. 24 da Constituição de 1891, que veio a ser regulado pela Lei n. 35, de 26 de janeiro de 1892. 3.1 A PROPRIEDADE DAS EMPRESAS DE RADIODIFUSÃO POR POLÍTICOS A PROPRIEDADE DAS EMPRESAS DE RADIODIFUSÃO POR POLÍTICOS (Pág. 168) CAPITULO 3.1 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 Dispõe o art. 54 da Constituição que os deputados e senadores não poderão I - desde a expedição do diploma: a) firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público, salvo quando o contrato obedecer a cláusulas uniformes; b) aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remunerado, inclusive os de que sejam demissíveis ad nutum, nas entidades constantes da alínea anterior; e II desde a posse: a) ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público, ou nela exercer função remunerada; b) ocupar cargo ou função de que sejam demissíveis ad nutum, nas entidades referidas no inciso I, a; c) patrocinar causa em que seja interessada qualquer das entidades a que se refere o inciso I, 9. 3.2 A REGULAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO A REGULAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO (Pág. 171) CAPITULO 3.2 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 A realização do pluralismo nos meios de comunicação é um objetivo muito mais político do que econômico 326 Entretanto, sua realização hoje depende também das forças de mercado, já que a maioria das fontes de comunicação de massa são empresas privadas. Tendo isso em consideração, um importante passo a ser adotado para realizar o pluralismo nos meios de comunicação é a adoção de medidas que impeçam demasiada concentração econômica, pois uma mídia concentrada é capaz de esconder do público mais fatos do que uma mídia descentralizada. Para atingir esse fim, alguns países impõem limites à quantidade de cotas/ações que alguém pode ter de uma única entidade de comunicação. Esses limites geralmente são estipulados para emissoras de televisão e estabelecem o percentual máximo de cotas ou ações que uma única pessoa pode ter da companhia com o objetivo de criar uma estrutura de propriedade mais fragmentada. Na França e Espanha, por exemplo, ninguém pode ter mais de 49% das ações com direito a voto de uma emissora de televisão 327. Em Portugal, os concessionários de televisão detentores de canais comerciais de cobertura nacional estão sujeitos à forma de sociedade anônima ou cooperativa, na tentativa de que um controle descentralizado da propriedade contribua para o pluralismo de vozes na esfera pública. Há também normas que criam transparência para a população, pois obrigam a divulgação dos nomes dos detentores das maiores participações sociais das empresas jornalísticas e dos operadores de televisão. 3.3 A CRIAÇÃO DE TVs PÚBLICAS A CRIAÇÃO DE TVs PÚBLICAS (Pág. 178) CAPITULO 3.3 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 Considere uma entidade de comunicação que não precise se preocupar com o lucro ou que não necessite divulgar programas formatados para incentivar o público a consumir os produtos dos patrocinadores e anunciantes. Imagine uma entidade que possa agir sem a pressão por maximização de audiência ou vendagem de jornais e revistas. Imagine que não seja necessário a essa entidade agradar a um público médio ou evitar assuntos polêmicos capazes de deixar desconfortável parcela da audiência. Em princípio, essa entidade estaria em melhor situação para optar por programações voltadas para segmentos da população geralmente excluídos por canais privados de comunicação, tais como adultos desempregados ou minorias raciais, étnicas e religiosas. Ela também conseguiria analisar com mais profundidade e extensão problemas vividos por determinada comunidade. Poderia, por exemplo, divulgar documentários sobre as razões do trabalho escravo e da violência em vez de se restringir à divulgação da notícia sobre trabalho escravo e atos violentos. Poderia expor com profundidade os impactos negativos do jeitinho brasileiro, por mais que isso deixasse desconfortável grande parcela da população. No mais, essa entidade não teria ainda nenhum incentivo para dar prioridade a programas que não tendessem a oferecer mais externalidades positivas, tais como aqueles voltados à discussão sobre temas de interesse público. 3.4 O USO DO V- CHIP CONTROLANDO DE FORMA INDIRETA O CONTEÚDO O USO DO V-CHIP CONTROLANDO DE FORMA INDIRETA O CONTEÚDO (Pág. 183) CAPITULO 3.4 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 O Violence-chip é um pequeno dispositivo eletrônico instalado nas televisões para possibilitar aos pais o bloqueio de programas de acordo com uma prévia lista de classificação. Esse mecanismo não impede as emissoras de continuar a produzir e divulgar os programas que desejam. O único aspecto modificado é o aumento da capacidade dos pais para, no exercício do poder familiar - arts. 1.630 e a recepção 1.643, I, do CC-, bloquear de conteúdos que eles consideram inadequados para suas crianças e adolescentes. É inevitável a constatação de que diversas famílias divergem sobre o modo adequado de educar os seus filhos e que a educação irá depender de diversos aspectos, tais como a religião, a classe econômica e mesmo a localização geográfica, haja vista os jovens nos centros urbanos, via de regra, serem criados de uma maneira considerada mais liberal do que os do interior. Segundo Gibbons, a multiplicidade de valores existentes em uma sociedade plural inevitavelmente aumenta a probabilidade de que mensagens transmitidas ofendam pessoas em algum lugar, não havendo uma resposta fácil para os limites da criatividade e da liberdade de expressão diante da sensibilidade da audiência349 A inexistência de um código moral universal ou um padrão único que possa ser aplicado a qualquer tipo de programação ou para todo o público torna difícil para boa parte da população confiar em poucos servidores públicos para distinguir de maneira adequada as cenas oriundas de um documentário sobre o holocausto e do filme "Clube da Luta", embora ambos tragam cenas violentas, ou discriminar de maneira razoável cenas de um programa sobre educação sexual e o último filme pornô. 3.5 A GARANTIA DE DIREITOS DE ACESSO AOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO A GAERANTIA DE DIREITOS DE ACESSO AOS MEIOS DE COUNIAÇÃO (Pág. 186) CAPITULO 3.5 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 Uma das questões fundamentais relacionadas ao pluralismo refere-se à possibilidade de o falante acessar os meios de comunicação a fim de transmitir sua própria mensagem. O direito geral de acessar a mídia como fórum democrático de discussão,no entanto, não confere direitos subjetivos de acesso ao cidadão, pois o mero desejo de usar os meios de comunicação de massa para transmitir uma mensagem particular considerada importante não é motivo suficiente para que o discurso de uma pessoa tenha prioridade sobre outra. A liberdade de expressão não confere a particulares o direito de exigir que terceiros veiculem sua própria mensagem. Em princípio, cada indivíduo deve suportar o custo de veiculação de suas próprias ideias e opiniões, cabendo ao Estado, como ente regulador, intervir para diminuir esses custos, e não a terceiros suportá-los. Nessas situações, ainda que o acesso seja concedido, ou para viabilizar a diversidade de perspectivas ou para permitir a indivíduos o exercício do direito de resposta, isso ocorrerá às custas de outras pessoas que poderiam ter usado a mídia em seu lugar (custo de oportunidade). Tal situação não deixa de levantar complexos problemas relacionados à liberdade de expressão, na medida em que os limites dos direitos de acesso são heteronormamente definidos em benefício de uns em detrimento de outros. De um lado, há editores reclamando sobre o comprometimento de sua autonomia quando são obrigados a publicar ou transmitir opiniões que não desejam e, de outro, há cidadãos reclamando que editores impedem a comunicação de suas mensagens e a diversidade de opiniões. 3.5.1 DIREITO DE ANTENA DIREITO DE ANTENA (Pág.187) CAPITULO 3.5.1 O direito de antena assegura a concessão de espaço na mídia a entidades representativas da sociedade civil. Em diferentes países, o direito de antena adquire alcance mais ou menos alargado consoante abranja diferentes titulares provenientes de distintos sistemas de ação social. Em Portugal, por exemplo, o art. 40 da Constituição confere aos partidos políticos, às organizações sindicais, profissionais e representativas das atividades econômicas, bem como a outras organizações sociais de âmbito nacional, de acordo com a sua relevância e representatividade, tempos de antena no serviço público de rádio e de televisão. Em países como Alemanha, França, Espanha, e Holanda, existem previsões similares que possibilitam uma maior participação da sociedade civil na mídia 357 No Brasil, o direito de antena é restrito aos partidos políticos, conforme o art. 17, § 39, da Constituição, que confere a essas entidades acesso gratuito à rádio e à televisão na forma da lei. De acordo com o art. 45 da Lei n. 9.096/1995, a propaganda partidária, gravada ou ao vivo, será realizada entre 19h30min e 22h, vedada a propaganda paga. Além disso, a Lei n. 9.504/1997 regula a propaganda eleitoral. 3.5.2 DIREITO DE RESPOSTA E RETIFICAÇÃO DIREITO DE RESPOSTA E RETIFICAÇÃO ( Pág. 189) CAPITULO 3.5.2 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 O art. 5°, V, da Constituição Federal assegura "o direito de resposta proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem" causados pela notícia. Para boa parte da doutrina, constitui esse direito basicamente uma reação ao uso indevido da mídia ostentando típica natureza de desagravo. É meio de proteção da honra individual, da reputação e da imagem que se soma à pretensão de danos morais e materiais decorrentes do exercício da liberdade de expressão 360. Embora o direito de resposta implique uma restrição à liberdade editorial das entidades de comunicação, encontra também forte justificação no fato de que as lesões resultantes do discurso devem ser combatidas, preferencialmente, por meio de mais discurso. No mais, pode ainda ser justificado pela corrente que defende a incidência dos direitos fundamentais nas relações privadas, haja vista a existência de uma relação comunicativa entre os indivíduos e meios de comunicação fortemente marcada pela desigualdade. E ainda mais um meio para garantir o pluralismo e a diversidade de ideias para que a sociedade possa, por si mesma, julgar a verdade. Tendo isso em vista, é essencial destacar que a função do direito de resposta vai muito além da reparação do dano individual, pois a sociedade também possui direito à diversidade de informação. 3.5.3 DIREITO DE COMPRA DE ESPAÇO PUBLICITÁRIO DIREITO DE COMPRA DE ESPAÇO PUBLICITÁRIO (Pág. 192) CAPITULO 3.5.3 SANKIEVICZ, Alexandre LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO, SÃO PAULO, 2011 No início da década de 1970 nos Estados Unidos, o Democratic National Committee tentou comprar das emissoras CBS e ABC espaço publicitário para divulgar uma propaganda contra a guerra do Vietnã. Ambas as emissoras negaram a venda, o que levou o comitê ao Judiciário pleitear proteção com base na primeira emenda. Segundo o autor, as emissoras violavam sua liberdade de expressão quando, em razão do conteúdo do anúncio, negavam a venda de espaço publicitário disponível regularmente para qualquer anunciante. Seria o clássico caso de censura, com uma única diferença: exercida nesse caso por entidades privadas, e não pelo governo. Por maioria, a Suprema Corte Americana negou o pleito, pois não poderia o governo impor controle editorial sobre o que será divulgado pela mídia e ao mesmo tempo considerá-la responsável pelo conteúdo eventualmente ilícito das mensagens transmitidas. Aceitou também o argumento dos réus no sentido de que uma política com essa finalidade poderia prejudicar mais do que beneficiar a liberdade de expressão. O direito de comprar espaço publicitário permitiria aos mais ricos influenciar de forma desequilibrada a agenda política e, assim, poderia colocar em risco a própria diversidade e imparcialidade exigida dos canais de comunicação. No mais, permitiria ao Estado controlar diretamente o conteúdo do que seria divulgado, pois caberia a ele decidir diuturnamente sobre as pessoas que teriam direito de acesso. 3.6 A REGULAÇÃO DA OBJETIVIDADE E DO PLURALISMO INTERNO 6 A REGULAÇÃO DA OBJETIVIDADE E DO PLURALISMO INTERNO (Pág. 195) CAPITULO 6 No site o processo que leva à produção de determinado artigo é totalmente transparente, pois todos os debates travados entre os redatores daquele conteúdo e, consequentemente, as divergências manifestadas podem ser acessados pelo internauta. No mercado tradicional de comunicação social é necessário criar outros mecanismos de controle para assegurar a credibilidade à informação. Esse rol adquire importância instrumental, pois visa a proteger os mecanismos necessários à divulgação de ideias e à formação da opinião pública. 3.6.1 DOS DEVERES DOS JORNALISTAS DOS DEVERES DOS JORNALISTAS (Pág. 195) CAPITULO 3.6.1 De quem informa, a doutrina exige objetividade, veracidade e oportunidade. Totalmente implícito ao dever de objetividade encontra-se o imperativo de não fabricar ou encenar fatos; Sobressalta ainda o imperativo de verificar as informações adquiridas, procurando fontes fieis e diversificadas de informações . A obrigação do jornalista, evidentemente não libera a obrigação do meio de comunicação de zelar pela objetividade da informação como gestor e administrador da mensagem que o jornalista produz. A veracidade informativa não deve ser confundida como verdade absoluta. O conceito de veracidade no campo da comunicação social deve ser harmonizado com as condições concretas que o jornalista e as empresas de comunicação são submetidas, pois um erro de informação pode levar o jornalista a ser punido. No Brasil é o Código de Ética que trata dos deveres dos jornalistas. O código de ética diz no Art. 2° que: A divulgação da informação, precisa e correta, é dever dos meios de divulgação pública, independente da natureza de sua propriedade. E diz também no Art. 9° que é dever do jornalista: Divulgar todos os fatos que sejam de interesse público; Lutar pela liberdade de pensamento e expressão; Defender o livre exercício da profissão; Valorizar, honrar e dignificar a profissão;
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