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1 SÍNDROMES EXANTEMÁTICAS ABRAHAM NUNES CEZAR SCHNEERSOHN1 RESUMO Esta breve revisão de literatura tem como objetivo explanar e propiciar conhecimentos sobre os agentes etiopatológicos, manifestações clínicas e tratamento das síndromes exantemáticas. Para a elaboração deste, foram realizadas pesquisas em artigos nacionais e internacionais, diretrizes e casos clínicos, como objetivo de sistematizar de forma clara o supracitado. Será abordado de forma sucinta as causas e efeitos de doenças como varicela, sarampo, dengue, exantema súbito, eritema infeccioso, Kawasaki, mononucleose, rubéola, rash cutâneo medicamentoso, doença mão-pé-boca e escarlatina, tendo em vista corriqueira detecção dessas doenças em consultas médicas, especialmente na pediatria. Palavras-chave: Exantema. Escarlatina. Sarampo. ABSTRACT This brief literature review aims to explain and provide knowledge about etiopathological agents, clinical manifestations and treatment of exanthematic syndromes. For the preparation of this, research was carried out in national and international articles, guidelines and clinical cases, in order to clearly systematize the aforementioned. The causes and effects of diseases such as chickenpox, measles, dengue, sudden rash, infectious erythema, Kawasaki, mononucleosis, rubella, medicated skin rash, hand-foot-mouth disease and scarlet fever will be briefly addressed, with a common detection of these diseases in medical consultations, especially in pediatrics. Keywords: Rash. Scarlet fever. Measles. Data de Aprovação: 03 de abril de 2018. Disponibilidade: http://doi.org/10.29327/723689 1 INTRODUÇÃO Síndromes exantemáticas são sinais e sintomas que se manifestam na pele mediante ao acometimento por agentes infecciosos, medicamentosos, vasculares, irritantes ou imunológicos. São mais comuns em crianças e possuem níveis de gravidade variáveis, albergando parte significativa nos atendimentos médicos. Tais manifestações, a despeito de certa similaridade entre as várias etiologias, podem ser identificadas e diferenciadas conforme o quadro clínico, história de exposição e características das lesões cutâneas associadas com demais apresentações sintomatológicas. Com base em pesquisas recentes e em coleta de dados do ministério da saúde, foi elaborado esse artigo, que traz dados epidemiológicos, http://doi.org/10.29327/723689 2 semiológicos, clínicos e imagens ilustrativas com objetivo de corroborar os dados descritivos aqui abordados. É esperado que sejam elucidados os viés de confundimento, bem como proporcionado uma abordagem integrativa. Tendo em vista a trivialidade das admissões ambulatoriais e nos pronto atendimentos por ocasião de lesões cutâneas, é importante saber diferenciá-las, bem como associá-las com o quadro clínico geral do paciente, objetivando o diagnóstico preciso e precoce para consequente medida terapêutica a ser tomada. Doenças ocasionadas por agentes bacterianos, como escarlatina e impetigo requerem detecção precoce, logo que podem ocasionar lesões sistêmicas e comprometimento de órgãos específicos, culminando com substancial taxa de morbimortalidade. Quando o agente etiológico é viral, tende a apresentar quadro clinico autolimitado, embora possam surgir reações deletérias pós infecciosas, como danos cardíacos após infecção por coxsackie. Outrossim diz tocante aos exantemas resultantes de vasculites, como Kawasaki, que tem potencial de lesões coronarianas ou situações que envolve substâncias alergênicas globais ou idiossincráticas, com potencial evolução para choque anafilático e óbito, o que requer identificação e intervenção médica precoce. Por conseguinte, será abordado neste artigo os dados epidemiológicos, as principais semelhanças e diferenças e as medidas terapêuticas cabíveis de forma genérica e individualizada sobre as síndromes exantemáticas, para que ao final deste estudo, seja proporcionado um conhecimento sobre o tema, objetivando capacidade de diagnostico diferencial e possíveis intervenções. 2 DOENÇAS EXANTEMÁTICAS Exantema pode ser definido com lesões cutâneas caraterizadas pela presença de máculas, pápulas, bolhas, vesículas, placas, eritemas, exulcerações ou mesmo nódulos, não podendo como tal ser classificado, lesões únicas ou isoladas. O tipo de lesão apresentado varia de acordo com o agente etiológico em associação com características individuais do paciente. Além dos aspectos visíveis, é importante atentar para quadro evolutivo previsto mediante cada suspeita, além da idade do individuo e possíveis fatores coadjuvantes primários ou secundários. 2.1 CAUSAS VIRAIS O levantamento de dados epidemiológicos evidencia que cerca de 65% dos casos de crianças com síndromes exantemáticas apresentavam algum agente infeccioso como causa. Desses, 75% possuíam etiologia viral. Os demais 45% possuíam como fator de base, as reações alérgicas, medicamentosas, autoimunes e neoplásicas. Dentre as causas virais, podemos citar os exantemas presentes na doença mão-pé-boca, no eritema infeccioso, no exantema súbito, no rash cutâneo do dengue, na varicela zoster, no sarampo, na mononucleose e na rubéola. Embora possuem quadro clínico autolimitado, algumas dessas doenças podem resultar em danos cardíacos ou cerebrais de modo direto ou indireto. 3 2.1.1 Doença mão-pé-boca Causada pelo vírus Coxsackie, da família dos enterovírus, manifesta-se por meio de lesões cutâneas predominantemente nas regiões plantares, palmares e orais, sendo nestas podendo evoluir para ulcerações dolorosas e expandirem para a região palatal e tonsilar, ocasionando odinofagia e sialorreia e naquelas, apresentarem lesões bolhosas pequenas, como apresentado na imagem 1. Em tese, essas manifestações são precedidas de sintomas febris e tendem a se tornarem evidentes após o abrandamento da febre. Existem, porém, embora raras, as situações em que há comprometimento do sistema nervoso central, com evolução grave e significativo índice de mortalidade. A transmissão se dá por via fecal-oral, e acomete principalmente crianças com menos de 5 anos de idade. Imagem 1 (fonte: Vera Culley) 2.1.2 Eritema infeccioso Já no eritema infeccioso, cujo agente etiopatogênico é o Parvovirus B19, inexistem sinais prodrômicos definidos e caracteriza-se pelo surgimento de lesões maculopapulares na região malar, conhecido como face esbofeteada, que podem progredir para tronco e membros, como mostra a imagem 2. Esse tipo de exantema tende a desaparecer no período de alguns dias e podem recidivar perante situações de exposição ao calor, irritantes e choro intenso, com predomínio na face. Além dessas manifestações mais comuns, pode correr o acometimento da medula óssea, acarretando uma crise aplásica transitória. A transmissão se dá por meio de gotículas de saliva e respiração e acomete principalmente crianças de idade entre 5 e 15 anos. 4 2.1.3 Exantema Súbito Esta afecção causada pelos herpes vírus tipo HHV-6 (A e B) e HHV-7, se caracteriza pelo sinal prodrômico proeminente: febra alta, por vezes superior a 40 graus Celsius, que convalesce dando lugar ao exantema róseo não confluente iniciado no tronco (Imagem 3) com distribuição centrífuga e que desaparece rapidamente, sem deixar descamações. A esmagadora maioria dos casos evoluem de forma branda e benigna. Não obstante pode haver comprometimento do sistema nervoso central, resultando em encefalopatia e convulsões, em raras situações. Acomete mais crianças com idade entre 3 e 6 meses. Imagem 3 (fonte: Scott Camazine / Science Source Roséole) 5 2.1.4 Rash cutâneo do dengue Neste caso, além dos sintomas clássicos do dengue, causado por um flavivirus, podem surgir eritema ou erupções eritematosas de aspecto mosqueado na face, pescoço e tórax, coincidentes com o período pós febril, podendodesaparecer ou mesclar-se à erupção maculopapulosa (imagem4), típica por volta do sexto dia de doença. Esse tipo de exantema pode ser induzido através da prova do laço, em que se usa um manguito para compressão do membro superior e então identifica-se o surgimento de petéquias distalmente ao local comprimido. O vírus causador da doença é transmitido pelo vetor Aedes aegypti e não há predominância de faixa etária. Gubler DJ, Kuno G. Dengue and dengue hemor hagic fever. New York: CABI Publishing, 1997. 496 p. Imagem 4. (fonte: Jacob Frederik De Wolff) 2.1.5 Varicela Causada pelo vírus Varicela zoster, acomete principalmente crianças e apresenta como sintomas iniciais intensa irritabilidade, febre, astenia e sintomas gripais que cedem dando origem ao exantema polimórfico, cuja apresentação se dá pelo surgimento inicial de máculas, que evoluem para pápulas, vesículas, pústulas e crostas (vide a imagem 5). O período de transmissão se dá antes dos sinais prodrômicos e segue até a evolução de todas as lesões cutâneas para crostas. O vírus pode ficar albergado no organismo e retomar atividade futuramente através do surgimento do herpes zoster. https://www.researchgate.net/profile/Jacob_De_Wolff2 6 Imagem 5. (fonte: John-Kelly/Shutterstock) 2.1.6 Sarampo Tendo como agente etiopatogêncio o paramixovirus, essa doença pode ter evolução grave e é passível de vacinação. Os sintomas iniciais são inespecíficos, como febre alta, odinofagia, tosse e conjuntivite. Posteriormente pode surgir o sinal de Koplick (Imagem 6) na cavidade oral próximo aos molares, que se caracteriza por uma mácula pálida circundada por enantema. Logo após, o exantema morbiliforme, inicia- se com máculas irregulares associadas a pápulas, que adquirem coloração castanho- acobreada e sofrem posterior descamação. Devido a alta contagiosidade, imunização ativa ou passiva, a doença tende a não ter predominância de acordo com a faixa etária, podendo acometer qualquer idade desde que não haja imunização prévia. Imagem 6. (fonte: MOSS W. Measles. Lancet 2017; 10111: 2490-2502) 7 2.1.7 Mononucleose Causada pelo vírus Epstein Barr, a mononucleose, também conhecida como doença do beijo, tende a iniciar sintomas inespecíficos, como odinofagia, adenomegalia e febre. A faringite costuma ser similar à de causa bacteriana, por apresentar exsudato acinzentado e quadro álgico intenso. A dor abdominal, pode estar presente e é indicativa de possibilidade de complicação com rotura esplênica. Outra característica importante é o sinal de Hoagland (edema palpebral). Quanto ao exantema, costuma ser rubeoliforme, rosado (Imagem 7) e costumeiramente surge após administração de penicilina. Isso torna-se um viés de confundimento, visto que após a administração do antibiótico, pode haver confusão entre a etiologia do exantema, ou seja, se é por reação alérgica ou por ocasião do EBV. Porém, neste, não há prurido como naquele. Imagem 7. Exantema da mononucleose. (fonte: Infectious mononucleosis – The New England journal of medicine) 2.1.8 Rubéola Causada por um vírus da família Togaviridae e gênero Rubivirus, manifesta-se inicialmente por um leve mal-estar, febre baixa e irritação conjuntival e erupção cutânea similar a do sarampo, porém ausente de coalescência, como mostra a imagem 8. Inicia-se na região facial e cervical, espalhando então para o tronco e membros. Além disso podem surgir enantemas indolores seguidos de coalescência e evoluindo para formas eruptivas hiperemiadas e doloroas, podendo atingir a região posterior da faringe. Outro sinal que acompanha esta afecção é a linfadenomegalia cervical posterior e retroauricular. Esta doença possui importância vacinal tendo vista a teratogenicidade do vírus. Também não possui faixa etária predominante, podendo acometer qualquer pessoa não imunizada. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=20505178 8 Imagem 8. (fonte: National Center for Immunization and Respiratory Diseases - NCIRD). 2.2 CAUSAS BACTERIANAS Já a respeito dos exantemas relacionados a infecções bacterianas, podemos citar a escarlatina e o impetigo. Ambos podem cursar com sintomas febris, embora mais acentuado na primeira e mais dependente de disseminação ou área comprometida no segundo. Outrossim diz tocante a possibilidade de bacteremia e septicemia, que podem ocorrer nas duas situações a depender de fatores imunológicos do paciente bem como virulência específica do patógeno envolvido. Requerem, portanto, tratamento com antibioticoterapia além da terapia de suporte individualizada. 2.2.1 Escarlatina Causada pelo Strepotoccus pyogenes, especificamente do grupo A de Lancefield, nesta afecção o exantema surge em concomitância com a faringoamigdalite membranosa associada aos sintomas febris. O rash cutâneo apresenta-se com lesões puntiformes, disseminadas, em formato de luvas e botas com descamação posterior, como mostra a imagem 9. Uma das características que configuram o exantema escarlatiniforme é o aspecto de lixa, assim como a presença dos sinais de Pastia e Filatov, descritos como palor em regiões de dobras e perioral, respectivamente. Outro sinal presente é a língua em framboesa, que configura um aspecto pontilhado e saburroso. Se não tratado corretamente, pode evoluir com glomerulonefrite aguda, ou glomerulonefrite pós estreptocócica, febre reumática aguda e posterior cardiopatia reumática e coreia de Sydenham em indivíduos predispostos. Além disso, existem estudos que evidenciam a associação da doença com a desordem 9 psiquiátrica infantil denominada PANDAS (Pediatric Autoimmune Neuropsychiatric Disorders Associated with Streptococcal Infection), que se manifesta em crianças pré- púberes com histórico de infecção estreptocócica e se traduz por meio de tiques, ideias obsessivas e compulsivas, irritabilidade e movimentos coreiformes. Imagem 9. Exantema escarlatiniforme. (fonte: Centers for Disease Control and Prevention) 2.2.2 Impetigo Embora seja diferente das demais doenças citadas, por apresentar não um exantema clássico, mas sim lesões bolhosas ou crostosas, focais ou disseminadas, possui uma importância clínica relevante, visto que requer tratamento com antibióticos e pode evoluir com complicações renais ou sepse. Causado pelo Streptococcus pyogens ou Staphilococcus aureus, as vezes torna-se difícil a identificação do patógeno de acordo com as características das lesões. Em se tratando da infecção estreptocócica, difere da escarlatina pelo aspecto das lesões e pela ausência de acometimento orofaríngeo. Costumeiramente apresenta-se como impetigo crostoso (imagem 10), o que não exclui a forma bolhosa (imagem 11). Já a respeito da infecção cutânea estafilocócica, é mais comum a apresentação bolhosa, idem ao primeiro, não excluindo a forma crostosa. Embora no caso da infecção estreptocócica poder, assim como na escarlatina, acometer os rins por meio de glomerulonefrite (GNPE), diferente daquela, não há associação com febre reumática e as demais complicações possíveis na escarlatina. Em ambas as enfermidades citadas neste tópico, a origem da infecção pode se dar por meio de lesões cutâneas pré-existentes, visto que esses patógenos são encontrados trivialmente na pele de pacientes hígidos. Embora possa surgir em pacientes de qualquer idade, existe uma maior incidência em crianças entre 2 e 6 anos. 10 Imagem 10: impetigo crostoso. (fonte: Sociedade Americana de Doenças Infecciosas, SBP 2014). Imagem 11: impetigo bolhoso. (fonte: Clínica médica, volume 7: alergia e imunologia clínica, doenças da pele, doenças infecciosas e parasitárias. – 2. ed. – Barueri, SP: Manole, 2016). 2.3 Doença Exantemática Vascular Quando a doença exantemática é de origem vascular, pode ter como base fatoresautoimunes ou pós infecciosos. Tem como causa principal a Doença de Kawasaki e requer tratamento de suporte, além da terapêutica especifica, com a administração de imunoglobulina IV e ácido acetilsalicílico. O rash cutâneo caracteriza- se por ser polimorfo, podendo ser maculopapular, urticareiforme, morbiliforme ou escarlatiniforme, comprometendo principalmente o tronco e região perineal e é precedido por período febril intenso associado a outros sintomas constitucionais. Geralmente evolui com irritação conjuntival, eritema edemaciado e doloroso em regiões palmares e plantares com posterior descamação, surgimento de língua em 11 framboesa, enantema importante em mucosas (vide a imagem 12) e palidez periungeal. Doravante a evolução da afecção, podem surgir sintomas como artralgias e posterior acometimento de artérias coronarianas, visto que é uma vasculite de artérias de médio calibre, por meio da formação de microaneurismas e suas consequentes complicações, como tamponamento cardíaco e infarto. Sabe-se que a doença é mais incidente e prevalente em pacientes pediátricos da primeira infância e de origem asiática. Imagem 12. (fonte: Anais Brasileiros de Dermatologia) 2.4 Reação Alérgica Quando o exantema tem como substrato as reações alérgicas de origem medicamentosa, irritativas, atópica ou contato por inoculações de alergênicos, toxinas ou picadas de inseto, é comum o surgimento de placas eritematosas pruriginosas em alto-relevo mais ou menos disseminadas (Imagem 13). O aparecimento das lesões tende a ocorrer de forma abrupta e progressiva. Além disso pode ocorrer outras manifestações mais sistêmicas, a depender a resposta anafilática individual, quantidade de alergênico envolvida, bem como a capacidade da substância de realizar tais reações. Essas lesões urticariformes costumam perdurar e causar intenso incômodo, até que haja intervenção medicamentosa com o objetivo de cessar a reação. Picadas de insetos, especialmente os que possuem capacidade de inocular substâncias, ácido metanoico das formigas por exemplo, podem culminar em aparecimento rápido das placas eritematosas pruriginosas com potencial envolvimento 12 de vias aéreas superiores, como edema de glote, a depender da resposta de cada paciente. Outro fator importante é que existem medicamentos capazes de causar reações cutâneas não exantemáticas, como o lítio, com lesões acneiformes, hiperemia por vasodilatadores ou mesmo equimoses por anticoagulantes, sendo que neste caso são provenientes de pequenos sangramentos. Não existe faixa etária mais predominante. Porém sabe-se que quanto mais grave for a anafilaxia em um primeiro contato, mais severo tende a ser o quadro em contatos subsequentes com o mesmo fator desencadeante. Imagem 13. Placas eritematosas. (fonte: Sociedade Brasileira de Dermatologia) 3 EXAMES LABORATORIAIS Como pode ser notado, o diagnóstico das doenças exantemáticas requer uma boa avaliação clínica para sua detecção e diferenciação. Para isso, é necessário que seja feita uma boa anamnese, um exame físico pormenorizado, além de considerar fatores étnicos, etários, epidemiológicos e culturais. Porém, existem casos em que o diagnostico laboratorial pode ser recorrido, visto que devido a gravidade de algumas afecções citadas neste artigo, faz-se fundamental um diagnostico de certeza procedido de um acompanhamento médico. Embora boa parte das alterações laboratoriais encontradas sejam inespecíficas, alguns achados tornam mais sugestivos ou não, de uma doença especifica e pode 13 servir como fator prognóstico. Um exemplo claro é o aumento de segmentados em infecções bacterianas, a linfocitose ou linfopenia em quadros virais, a eosinofilia em quadros alérgicos ou parasitários, a plaquetopenia ou trombocitose em situações vasculares e autoimunes ou mesmo um hemograma dentro dos padrões de normalidade. Exames como VHS, são uteis na doença de Kawasaki, dosagem de IgE, nas reações alérgicas, pesquisa de anticorpos específicos para cada patógeno suspeito ou mesmo cultura de secreção orofaríngea em busca de achados inerentes infecção por estreptococos na escarlatina. 3.1 Exames laboratoriais na doença māo pé boca Os exames laboratoriais podem vir com algumas alterações. No caso da doença mão-pé-boca, pode ser identificado uma leucocitose com desvio a esquerda, que tem valor inespecífico. Porém, pode ser realizado testes sorológicos para identificação do vírus, como o Coxsackievírus anticorpos IgG e IgM. Sakane PT, Bellizia Neto L, Marques HHS. Doenças exantemáticas. In: Grisi S, Escobar AM. Prática pediátrica. São Paulo. 1a ed. São Paulo: Atheneu, 2000. p. 385- 92. 3.2 Exames laboratoriais no eritema infeccioso No caso do eritema infeccioso, o hemograma pode evidenciar uma redução nos níveis de hemoglobina da ordem de 1 a 2 g/dl e uma leucopenia significativa. Caso seja realizada uma contagem de reticulócitos, os valores podem vir inalterados na maioria dos casos. Porém, uma reticulocitopenia pode ser detectada em situações de evolução para crise aplásica, o que requer a realização de um exame citológico da medula, a critério médico. 3.3 Exames laboratoriais no exantema súbito Em se tratando do exantema súbito, o hemograma também tende a ser inespecífico, apresentando leucopenia ou leucócitos normais. Pode ser realizado sorologia para detecção de anticorpos contra o herpes vírus tipo HHV-6 (A e B) e HHV- 7, embora a doença seja autolimitada e exames laboratoriais não são solicitados com frequência. 14 3.4 Exames laboratoriais no dengue O hemograma pode apresentar importante fator preditivo e prognóstico. Visto que esta arbovirose pode cursar com trombocitopenia, a contagem de plaquetas é primordial para estadiamento do nível de gravidade e possibilidade de hemorragias. Outrossim diz respeito ao hematócrito, que em seu aumento prediz possibilidade de desidratação e perda de plasma para o terceiro espaço, indicando gravidade do quadro e necessidade de internamento para medidas terapêuticas mais agressivas. Os testes sorológicos com detecção de IgM e IgG podem ser realizados a partir do quinto dia de sintomas, o que não exclui ou confirma diagnóstico, visto que existem cinco sorotipos diferentes e estes podem contribuir para resultados em falsos positivo e negativo. 3.5 Exames laboratoriais na varicela Testes sorológicos e hemograma podem ser solicitados mediante suspeita de varicela. Não obstante, o diagnóstico clínico tende a ser conclusivo, deixando os exames laboratoriais para segundo planto. De qualquer forma, a sorologia para o vírus Varicela zoster pode vir positivada em pacientes expostos por vacinação ou imunização ativa. Quanto ao hemograma, também pode apresentar resultados inespecíficos. 3.6 Exames laboratoriais no sarampo Quando a suspeição é referente ao sarampo, o hemograma pode revelar leucopenia, linfocitose relativa, neutropenia absoluta e trombocitopenia. Visto que o paramixovirus pode causar quadros de hepatite, quando existir essa suspeita, é importante que seja realizados testes de função hepática, para verificação de aumento de transaminases. Na fase aguda, a realização de testes sorológicos como ELISA ou imunofluorescência direta e inibição da hemaglutinação para detectar a presença de IgM. Outro exame possível é por meio do isolamento viral ou transcrição reversa (RT)- PCR, sendo, portanto, mais específico. 3.7 Exames laboratoriais na mononucleose Um achado frequente no hemograma de pacientes acometidos por mononucleose é a atipia linfocitária. Além desta, pode estar presente também uma leucocitose, basofilia e trombocitopenia. Os testes sorológicos podem evidenciar a presença de anticorpos heterófilos ou anticorpos específicos. Ademais, a detecção viral pode se dar por meio de antígenos virais, DNA viralou PCR. 15 3.8 Exames laboratoriais na rubéola No que se refere a rubéola, a leucopenia é um achado frequente no hemograma, que também pode ter a presença de plasmócitos, que são células habitualmente teciduais e não aparecem no sangue periférico em circunstâncias normais. Quanto a sorologia, a detecção de anticorpos IgM específicos para rubéola, sugere infecção aguda ou recente, visto que a presença de IgG, prediz imunidade permanente oriunda de vacinação ou imunização por contato prévio. 3.9 Exames laboratoriais na escarlatina O hemograma pode evidenciar leucocitose com neutrofilia e desvio à esquerda, além de eventual eosfinofilia. Além de testes sorológicos e pesquisa de anti- streptolisina-A (ASLO), pode ser realizada a cultura de orofaringe para detecção do Streptococcus Beta hemolítico do grupo A de Lancefield. Exames de VHS, fator reumatoide, função renal e urina de 24h podem ser requisitados conforme dados clínicos evolutivos e a critério médico. 3.10 Exames laboratoriais no impetigo No impetigo, o hemograma pode evidenciar leucocitose leve com desvio nuclear à esquerda. A velocidade de hemossedimentação (VHS) pode estar aumentada. Além desses exames, podem ser requisitados a cultura das secreções para detecção do patógeno específico. Veronesi R. Infecções estafilocóccicas e estreptococcias. In: Veronesi R, Focaccia R. Tratado de infectologia. 3 ed. São Paulo, SP: Atheneu; 2005. 3.11 Exames laboratoriais na doença de Kawasaki Já no que diz tocante à doença de Kawasaki, é fulcral um acompanhamento médico associado a exames laboratoriais, de imagem e eletrocardiográficos. O hemograma evidencia leucocitose com acentuado desvio à esquerda, anemia normocítica leve e trombocitose (≥ 450.000/μL). Há também a elevação do VHS ou proteína C reativa (PCR). O ECG pode sugerir arritmias, hipertrofia ventricular esquerda, bem como diminuição de voltagem. Já ecocardiograma é importante para detecção de aneurisma coronariano, peri ou miocardite e regurgitação valvular, que a depender da dimensão, pode ser identificado na ausculta. Outro exame de imagem importante é a arteriografia coronariana, para que se possa dimensionar a extensão e magnitude dos aneurismas. 16 3.12 Exames laboratoriais nas reações alérgicas Já nos casos de farmacodermia e reações alérgicas que cursam com exantema, é comum a presença de eosinofilia no hemograma. A dosagem de IgE também pode ser útil na detecção de alergias. Existem exames específicos para identificação dos alérgenos. Porém, nem sempre os pacientes conseguem sugerir quais os fatores causais ou substâncias desencadeantes para que sejam agregadas aos testes cutâneos específicos. Como visto, existem vários métodos para diagnostico de doenças exantemáticas. Embora o diagnóstico seja primordialmente clínico, a vinculação com exames laboratoriais, exames de imagem e eletrográficos propiciam um direcionamento mais incisivo, além de possibilitar predições a respeito da gravidade e acompanhamento do quadro evolutivo, tornando possível a tomada de medidas interventivas precoces. 4 CONCLUSÃO Mediante tamanhas semelhanças em congruência com dados clínicos, epidemiológicos e laboratoriais peculiares, as doenças exantemáticas perduram como importante fator de confundimento na área e visão biomédica. As lesões são costumeiramente precedidas de sinais constitucionais associados a apresentações idiossincráticas e evoluções clínicas ramificadas. Avaliando as variadas formas, dimensões e métodos expansivos dos exantemas, é possível atingir um diagnóstico sólido. Visto que acometem preferencialmente crianças, com exceção das farmacodermias e rash cutâneo do dengue, as síndromes exantemáticas causam desconforto, irritabilidade e estigmas em seus portadores. Ainda que autolimitadas, em sua maioria, cursam tangenciando complicações graves e potencialmente letais. Tais desfechos desfavoráveis comumente vêm vinculados a diagnóstico tardio ou tratamento relapso. As evidências de que as intervenções antecipadas são favoráveis se dão não só pelas possibilidades de estabelecimento de medidas terapêuticas eficazes como também pela sua aplicação precoce. É notório que o tratamento para essas afecções, quando iniciados de maneira tenra, na ausência de complicações em potencial ou já estabelecidas, resulta em um sucesso terapêutico mais promissor. Outrossim diz tocante as sequelas ocasionadas por um sinergismo entre acompanhamento obsoleto e uma diagnose tardia. Perante todas as peculiaridades inerentes a cada doença abordada, é imprescindível um direcionamento diagnóstico com associação laboratorial coerente, além do raciocínio prognóstico cauteloso e conduta intervencionista resolutiva. Declaro que não há conflitos de interesses. 17 REFERÊNCIAS 1. CHERRY, J.D. - Cutaneous manifestations of systemic infections. In FEIGIN, R.D. & CHERRY, J.D. - Textbook of Pediatric Infectious Diseases. Philadelphia, Saunders, 1981. p. 574. 2. OSELKA, G.W. & HUTZLER, R.U. - Doenças exantemáticas. In MARCONDES, E. - Pediatria Básica. 7? ed. São Paulo, Sarvier, 1985. p. 881. 3. MedlinePlus [Internet]. Bethesda (MD): National Libray of Medicine (US); Rashes; [atualizado em 2012]. Disponível em: http://www.nlm.nih.gov/medlineplus/rashes.html. 4. Fölster-Holst R, Kreth HW. Viral exanthems in childhood--infectious (direct) exanthems. Part 1: Classic exanthems. J Dtsch Dermatol Ges. 2009;7(4):309- 16. 5. Gubler DJ, Kuno G. Dengue and dengue hemor hagic fever. 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