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SUMÁRIO 1. Definição ................................................................................................................................3 2. Diagnóstico diferencial .....................................................................................................6 3. Sarampo (paramoxivírus; gênero Mobillivirus; família Paramyxoviridae) ......7 4. Rubéola (togavírus; gênero Rubivirus; família Tagaviridae) ............................10 5. Eritema Infeccioso (eritrovírus – parvovírus humano B19) ..............................13 6. Exantema súbito (Herpes vírus humano 6 ou 7) .................................................15 7. Varicela (varicela-zoster; família Herpetoviridae) ................................................17 8. Doença mão-pé-boca (Enterovírus coxsackie e enterovírus 71) ..................22 9. Escarlatina (Estreptococos pyogenes) .....................................................................26 10. Síndrome da pele escaldada estafilocócica (Estafilococos aureus) ...........28 11. Doença Kawasaki (etiologia desconhecida) .......................................................31 Referências Bibliográficas ................................................................................................36 3DOENÇAS EXANTEMÁTICAS (PEDIATRIA) 1. DEFINIÇÃO Os eritemas são alterações vascu- lares transitórias avermelhadas/ró- seas com duração e apresentação variada a depender do elemento cau- sal e, quando presente nas mucosas, essa alteração vascular é chamada de enantema. Na infância é recorren- te o acometimento por patologias que levam ao surgimento de erupções cutâneas eritematosas dissemina- das, também conhecidas como exan- tema (quando o eritema se estende por áreas extensas) ou rash cutâneo. A maioria das doenças exantemá- ticas são causas por vírus e, neste material, serão abordadas as princi- pais de etiologia tanto viral, quanto bacteriana enfatizadas por Dra. Na- thalia na vídeo-aula. CONCEITO! Eritema é uma lesão de pele com coloração avermelhada-róseo decorrente de alteração vascular. Quan- do é disseminada pelo corpo, chama-se eritema e, quando presente em muco- sas, chama-se enantema. A análise do tipo de lesão, sinais e sintomas associados, bem como a forma de progressão dos mesmos e a epidemiologia permitem infe- rir o diagnóstico etiológico sem ne- cessariamente recorrer a exames complementares, no entanto, como veremos a seguir, para algumas pa- tologias, a realização de sorologias ou testes específicos auxiliam a fechar o diagnóstico e estabelecer cuidados direcionados. De antemão, reconhecer as lesões elementares de pele que podem es- tar presentes é de extrema importân- cia que permitirão identificar os dois principais tipos de exantema que fa- laremos a seguir que é o exantema maculopapular e o papulovesicular e suas peculiaridades em cada doença. Os principais tipos de lesões elemen- tares dentro do contexto das doenças exantemáticas são: 4DOENÇAS EXANTEMÁTICAS (PEDIATRIA) Figura 1. Lesões Elementares (Fonte: AZULAY, 2015; RIVITTI, 2014). Os microrganismos podem causar erupção cutânea por diversos meca- nismos: por invasão e multiplicação direta na pele (varicela, herpes sim- ples), por ação de toxinas (escarlati- na e infecção estafilocócica), por ação imunoalérgica (maioria das viroses exantemáticas) ou por dano vascu- lar causando obstrução e necrose da pele (meningococemia – patologia que não abordaremos aqui). Com isso, pode-se dividir as apresenta- ções exantemáticas em dois tipos básicos de exantema: o maculopa- pular e papulovesicular. Estes, como já dito, têm características próprias em cada doença, mas é possível agrupar qual está mais relacionado a determinada etiologia: 5DOENÇAS EXANTEMÁTICAS (PEDIATRIA) Figura 2. Padrão de exantema e etiologias das doenças exantemáticas (Fonte das imagens: https://www.portalped. com.br/especialidades-da-pediatria/infectologia/zika-virus-quando-suspeitar/attachment/erupcao-papular-2/ ; https:// www.maemequer.pt/desenvolvimento-infantil/saude-infantil/dicionario-da-saude-do-bebe/herpes-zoster/). Vale ressaltar que, das patologias lis- tas acima, sarampo, rubéola e va- ricela são preveníveis por vacina o que mudou o panorama quanto à incidência destas doenças no Brasil já que tais vacinas fazem parte do esquema de imunizações preconiza- das pela Sociedade Brasileira de Imu- nizações. A vacina quádrupla viral protege a criança contra os vírus do sarampo+rubéola+caxumba+- varicela e 1ª dose deve ser dada aos 12 meses e a 2ª dose aos 15 me- ses, não havendo esta vacina, pode ser dada a tríplice viral (sarampo+ru- béola+caxumba) e, em administração separada, no mesmo dia, ser aplica- da a dose da varicela. Recomenda-se ainda um reforço da varicela aos 4 anos de idade. Em caso de surto ou exposição domiciliar ao sarampo an- tes dos 12 meses de vida, a 1ª dose pode ser aplicada a partir dos 6 me- ses de idade, em seguida, deve ser administrada aos 12 e 15 meses as doses previamente preconizadas. 6DOENÇAS EXANTEMÁTICAS (PEDIATRIA) SAIBA MAIS! Não há evidência que justifique a 3ª dose da tríplice viral como rotina. Esta pode ser conside- rada em caso de surto de caxumba e risco para a doença. Fonte: Recomendações da Socie- dade Brasileira de Imunizações 2019/2020 2. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Apesar da similaridade de alguns quadros nas doenças exantemáticas, outros possuem quadro clínico típico ou alguma peculiaridade que já per- mite um direcionamento diagnóstico. Para identificar os quadros clínicos tí- picos e peculiaridades é preciso reali- zar uma boa anamnese que englobe: faixa etária da criança, calendário va- cinal, tempo início e progressão do exantema, presença de sinais/sinto- mas prodrômicos e manifestações clínicas associadas. Além disso, um bom exame físico deve ser capaz de caracterizar bem o exantema e outras lesões em pele e mucosas associa- das, bem como outros sinais clínicos que ajudam a fechar o diagnóstico. DOENÇA/ ETIOLOGIA FAIXA ETÁ- RIA MAIS COMUM* PRÓDROMO CARACTERÍSTICA DISTRIBUIÇÃO SINAIS ASSOCIADOS Sarampo Lactentes. Febre, tosse, conjuntivite, enantema. Morbiliforme. Cefalocaudal: retro auricular – pesco- ço – face – tronco – extremidades Manchas de Koplik: man- chas brancas na mucosa oral na altura do 3º molar. Rubéola Crianças e adultos jovens. Febre baixa, linfadenopatia retroauricular e cervical. Puntiforme róseo de curta duração, vai sumindo confor- me progressão. Cefalocaudal: face – couro cabeludo – pescoço – tronco – extremidades Sinal de Fors- chemeir: peté- quias em palato mole. Eritema infeccioso Pré-es- colares e escolares. Em alguns casos: coriza, febre, mialgia e cefaleia. Róseo em região malar (“face es- bofeteada”) e em membros tem as- pecto rendilhado. Face e depois de 4 dias evolui para membros. Recorrência se: expo- sição ao sol, exercícios ou estresse. Sinal de Filatov: palidez perioral. Exantema súbito Lactentes. Febre alta (39- 40ºC) contínua, convulsão febril. Surge após a melhora da fe- bre, aspecto maculopapular. Tronco – face – cervical – membros - 7DOENÇAS EXANTEMÁTICAS (PEDIATRIA) DOENÇA/ ETIOLOGIA FAIXA ETÁ- RIA MAIS COMUM* PRÓDROMO CARACTERÍSTICA DISTRIBUIÇÃO SINAIS ASSOCIADOS Varicela Escolares. Inexistente ou inespecíficos: febre baixa/mo- derada, cefa- leia, mialgia. Papulovesicular polimórfico pru- riginoso (máculas – pápulas – vesí- culas – pústulas – crostas). Locais pouco expostos (couro cabelo, axilas, cavidade oral), em se- guida para tronco - Mão-pé-boca Lactentes. Febre baixa, irritabilidade e anorexia. Papulovesicular não pruriginoso. Exantema em extremi- dades associado a úlce- ras em cavidade oral. - Escarlatina Pré-es- colares e escolares. Sinais e sinto- mas de faringo- amigdalite. Micropapular áspe- ro (em lixa). Peitoral – tronco – membros – extremi- dades (poupa mãos e pés). Sinal de Pastia: linhas hiper- pigmentadasem dobras cutâneas. Língua em framboesa: vesículas em cavidade oral. Sinal de Filatov. S. pele escaldada Lactentes. Febre, irri- tabilidade e mal-estar. Maculopapular doloroso. Face – todo corpo. Sinal de Nikol- sky: descama- ção laminar da pele como se fosse bolhas. Kawasaki Lactentes. Febre alta que não cessa com medicamento há + 5 dias. Maculopapular polimórfico. - Descama- ção laminar em região periungueal. Tabela 1. Diagnóstico diferencial das principais doenças exantemáticas na infância (*: lactente=29 dias a 2 anos de idade, pré-escolar=2-7 anos de idade, escolar= 7-10 anos de idade, adolescente= 10 a 20 anos incompletos). 3. SARAMPO (PARAMOXIVÍRUS; GÊNERO MOBILLIVIRUS; FAMÍLIA PARAMYXOVIRIDAE) O sarampo é uma doença exante- mática viral extremamente contagio- sa que pode evoluir para óbitos em crianças < 1 ano e desnutridas. No Brasil, inúmeras são as medidas de controle do sarampo inseridas desde a introdução da vacina em 1968 até o momento atual, oscilando entre perí- odos de casos suspeitos e confirma- dos no território nacional. Em 2016, a OMS considerou as Américas livre da circulação do sarampo e, desde então o Brasil em fase de eliminação autóctone do vírus tanto do sarampo, quanto da rubéola. 8DOENÇAS EXANTEMÁTICAS (PEDIATRIA) SE LIGA! O sarampo é uma doença de notificação compulsória, devendo ser preenchida a respectiva ficha de Notifi- cação/Investigação de Doenças Exante- máticas Febris Sarampo/Rubéola mes- mo que o caso seja suspeito. Além disso, a respectiva Secretaria Municipal e Esta- dual devem ser informadas no máximo em 24h do caso. Fonte: GUIA DE VIGI- LÂNCIA EM SAÚDE, 2019. Mecanismo de transmissão Através de secreções nasofaríngeas expelidas ao tossir, falar, espirrar por meio de aerossóis com partículas vi- rais que ficam no ar. Período de incubação e de transmissão O período de incubação varia de 7-21 dias da data de exposição ao início do quadro exantemático. O período de transmissibilidade ocorre 6 dias an- tes e 4 dias após o exantema, sen- do o pico de transmissão 2 dias antes e 2 dias depois do início do exantema. Quadro clínico No período prodrômico ocorre febre > 38,5ºC, tosse inicialmente seca, cori- za, conjuntivite não purulenta, fotofo- bia, na região da orofaringe é possível notar enantema e, na altura do tercei- ro molar surgem as manchas de Ko- plik: manchas brancas/amareladas na mucosa oral. Cerca de 2-4 dias após o início do quadro intensifica-se aquele quadro inicial, o paciente fica prostrado e surge o exantema ma- culopapular morbiliforme, ou seja, existem áreas de pele livre de lesão entre as lesões. Este exantema tem progressão cefalocaudal (região retro auricular – pescoço – face – tronco – extremidades). CONCEITO! A mancha de Koplik é um sinal patognomônico de sarampo. Elas surgem 1-2 dias antes do exantema e desaparecem 2-3 dias após. Figura 3. Exantema morbiliforme (Fonte: CADERNOS ATENÇÃO BÁSICA, 2013). Figura 4. Manchas de Koplik (Fonte: DIVE, 2018). 9DOENÇAS EXANTEMÁTICAS (PEDIATRIA) Diagnóstico O diagnóstico é clinico, mas todos os casos suspeitos de sarampo devem ser submetidos a exames sorológicos para identificação de IgM e IgG do vírus em amostras de soro, urina e swabs de naso e orofaringe. A iden- tificação do vírus tem como objetivo conhecer o genótipo do mesmo para diferenciar um caso autóctone de um importado e diferenciar o vírus sel- vagem do vacinal, já que a vacina é feita com vírus atenuado. Para conse- guir realizar essas análises, o Minis- tério da Saúde recomenda coleta das amostras até o 7º dia após início do exantema, sendo que o IgM é pos- sível ser identificado desde o início da doença até 1 mês após a mes- ma. Importante ressaltar que, o ma- terial coletado deve ser enviado para o laboratório acompanhado daquela Ficha de Notificação Tratamento Não há tratamento específico, mas é possível realizar medidas de suporte com sintomáticos. Recomenda-se a administração de vitamina A (pal- mitato de retinol) em menores de 2 anos de idade (< 6 meses: 50.000 UI, 6-12 meses: 100.000 UI e > 12 me- ses: 200.000 UI), 1 vez ao dia, por 2 dias. Cuidado com os contactantes e prevenção Até 4 dias após o início do exantema deve ser realizado precaução respi- ratória com uso de máscara N95 e isolamento domiciliar do paciente. Deve-se aplicar vacina contra o sa- rampo até 72h após contágio e após este período, em até 6 dias, aplicar imunoglobulina. Crianças a partir de 6 meses podem receber a vacina, mas, independentemente disto, devem re- ceber as doses usuais programadas aos 12 e 15 meses. Para gestantes, imunocomprometidos e crianças me- nores de 6 meses deve-se aplicar so- mente a imunoglobulina. Complicações O sarampo pode apresentar compli- cações sobretudo em menores de 1 ano, adultos maiores de 20 anos e pessoas com comorbidades. A per- sistência da febre por mais de 3 dias após o início do exantema deve ser um sinal de alerta. Dentre as compli- cações a mais comum é a otite média aguda, mas a pneumonia é a compli- cação responsável por maior morbi/ mortalidade nas crianças. SE LIGA! Febre por mais de 3 dias após o início do Sarampo é um sinal de alerta! Importante se atentar para complicações (otite média, pneumonia, encefalites...). 10DOENÇAS EXANTEMÁTICAS (PEDIATRIA) Além disso, algumas crianças apre- sentam convulsão febril acompa- nhada ou não de sinais de irritação meníngea e hipertensão intracrania- na como sinais de encefalite após o sarampo, causada por um processo imunológico após a respectiva infec- ção. Ocorre também uma encefalite causada pelo sarampo onde o vírus ao atingir o sistema nervoso central (SNC), meses após o sarampo, pode acarretar epilepsia focal, perda auditi- va, progressão para coma e até mes- mo óbito. Outra complicação é a pa- nencefalite esclerosante subaguda (PEES) a qual pode ocorrer meses e até 10 anos após o quadro inicial do sarampo, com piora progressiva das funções motoras e cognitivas, convul- sões e até morte. 4. RUBÉOLA (TOGAVÍRUS; GÊNERO RUBIVIRUS; FAMÍLIA TAGAVIRIDAE) Assim como o sarampo, a rubéola é uma doença de etiologia viral alta- mente contagiosa e, sua importância epidemiológica está relacionada ao risco de abortos, natimortos e à sín- drome da rubéola congênita (SRC). Após diversas campanhas e ações de vigilância epidemiológica, no ano de 2010, o Brasil cumpriu a meta de eliminação da rubéola e da SRC e, em 2015 a Organização Pan-americana da Saúde (OPAS) declarou as Améri- cas livre da rubéola e SRC. SE LIGA! A Rubéola também é uma doença de notificação compulsória (deve ser preenchida a respectiva ficha de Notificação/Investigação de Doenças Exantemáticas Febris Sarampo/Rubéo- la) e prevenida por vacina (tríplice viral)! Mecanismo de transmissão A transmissão ocorro por gotículas de secreções nasofaríngeas e contato direto com pessoas infectadas. Período de incubação e de transmissão O período de incubação é entre 12 e 23 dias, sendo o período de transmissi- bilidade 7 dias antes e 7 dias após o início do quadro exantemático. Quadro clínico Febre baixa e linfoadenopatia retro- auricular e/ou occipital e/ou cervical podem ocorrer 5-10 dias antes do exantema, no entanto, em crianças pode não ocorrer tais pródromos. O exantema é maculopapular punti- forme róseo difuso com início na face – couro cabeludo – pescoço – tronco – extremidades, tais lesões têm curta duração (3 dias ou menos) e, con- forme o exantema progride para um novo local, as manchas presentes no local anterior vão desaparecen- do. Em alguns casos, nota-se peté- quias no palato mole conhecidas 11DOENÇAS EXANTEMÁTICAS (PEDIATRIA) como sinal de Forschemeir que não é patognomônico. Figura 5. Eritema maculopapular da rubéola (DIVE, 2018). Figura 6. Sinal de Forschemeir (Fonte: http://medsemio- logia.blogspot.com/2012/04/sinal-de-forchheimer.html) Diagnóstico É clínico, mas devido a dúvida diag- nóstica frequentementecausada, recomenda-se a testagem sorológi- ca de todos os pacientes em que há suspeita clínica de rubéola por meio de coleta sanguínea onde será tes- tado IgM e IgG desta patologia. As- sim como no sarampo, o Ministério da Saúde recomenda a detecção do ví- rus em urina e secreção de nasofarin- ge como forma de conhecer o genóti- po do vírus, diferenciando-o os casos autóctones dos importados e os vírus selvagens do vacinal. Tratamento O tratamento é realizado com base em sintomáticos, não havendo trata- mento específico direcionado ao vírus. Cuidado com os contactantes e prevenção O isolamento domiciliar por até 7 dias após o início do exantema diminui a intensidade dos contágios. A vacina é a única forma de prevenir a ocor- rência de casos, não havendo evi- dências suficientes para realização de profilaxia pós-exposição. Após contato com caso suspeito, deve ser realizada a vacinação daqueles que ainda não foram vacinados ou maio- res de 50 anos que não comprovem ter recebido alguma dose da tríplice viral. Gestantes suscetíveis e crianças menores de 6 meses devem ser afas- tadas do contato com casos suspei- tos/confirmados e seus respectivos contatos. 12DOENÇAS EXANTEMÁTICAS (PEDIATRIA) Complicações As complicações na criança são raras podendo ocorrer trombocitopenia que costuma ocorrer 2 semanas do início do exantema, no entanto, é autolimitada logo não é necessá- rio nenhum tratamento específico. De modo mais grave, como vimos na aula da Dra. Nathália, podem ocor- rer a encefalite pós-infecciosa e MAPA MENTAL SARAMPO E RUBEOLA SARAMPO Pródromo: febre alta, tosse, conjuntivite e enantema. RUBÉOLA Preveníveis por vacina Notificação compulsória Exantema: 2-4 dias após o início, aspecto morbiliforme. Progressão: cefalocaudal (retroauricular) Sinais associados: manchas de Koplik em mucosa oral é patognomônica. Diagnóstico: clínico + IgM e IgG + identificação do vírus em soro/urina/swab de orofaringe. Tratamento: suporte + Vitamina A Complicações: otite média, pneumonia, encefalites e PEES (panencefalite esclerosante subaguda). Pródromo: febre baixa e linfadenopatia Exantema: puntiforme róseo cefalocaudal, curta duração desaparecendo conforme progressão. Sinais associados: sinal de Forscheimer (petéquias em palato mole). Diagnóstico: clínico + IgM e IgG + identificação do vírus em soro/urina/swab de orofaringe. Tratamento: suporte. Complicações: trombocitopenia, encefalite pós infecciosa e panencefalite progressiva. panencefalite por rubéola. A primei- ra é decorrente do efeito viral direto, ocorre 7 dias após o início do exante- ma provocando convulsões, cefaleia e sinais neurológicos focais e levando ao óbito em 20% dos casos. Já a pa- nencefalite progressiva da rubéola que pode ocorrer anos após o qua- dro clínico da doença havendo um distúrbio neurodegenerativo evoluin- do com óbito em 2-5 anos. 13DOENÇAS EXANTEMÁTICAS (PEDIATRIA) 5. ERITEMA INFECCIOSO (ERITROVÍRUS – PARVOVÍRUS HUMANO B19) O eritrovírus B19 é um vírus de DNA com tropismo por células eritropoiéti- cas, replicando-se em células eritroi- des da medula óssea. Boa parte dos infectados é assintomático, no entan- to, devido a estas características do vírus, indivíduos saudáveis podem desenvolver aplasia eritroide acom- panhada do quadro exantemático que veremos a seguir, enquanto que, pacientes com doenças hematológi- cas (síndromes falcêmicas, talasse- mias...) e imunodeprimidos podem desenvolver quadro importante de anemia e até crise aplástica. Mecanismo de transmissão Transmitido por via respiratória, so- bretudo, em comunidades fechadas. Também pode ser transmitido por via placentária em caso de mães in- fectadas, o que pode levar a hidrop- sia fetal. Período de incubação e de transmissão Estima-se que o tempo de incubação seja entre 14-21 dias. A transmissão ocorre antes do exantema, porém não se sabe ao certo quantos duran- te quantos dias antes do surgimento do mesmo. Logo, quando há o surgi- mento do exantema o paciente não elimina mais o vírus, portanto, não há necessidade de isolamento. Quadro clínico Geralmente não costuma ter pródro- mos, mas alguns casos surgem sinto- mas prodrômico leves como mialgia, febre, coriza e cefaleia. O exantema maculopapular se inicia em face em região malar, dando o aspecto que alguns autores chamam de “face es- bofeteada” associado a palidez pe- rioral ou sinal de Filatov. Cerca de 4 dias depois o exantema evolui para membros superiores e inferiores, a mácula aumenta de ta- manho deixando uma palidez central conferindo o aspecto rendilhado do exantema que pode durar até 3 se- manas. Importante ressaltar que após desaparecimento pode haver recor- rência do eritema após exposição ao sol, variação da temperatura, exercícios e estresse devendo-se, portanto, explicar à família que tal fe- nômeno pode ocorrer não significan- do recorrência da doença em si. 14DOENÇAS EXANTEMÁTICAS (PEDIATRIA) Figura 7. Exantema maculopapular em região malar (“face esbofeteada”) e palidez perioral (sinal de Filatov) (Fonte: https://www.drakeillafreitas.com.br/eritema-infeccioso/). Figura 8. Exantema maculopapular rendilhado (Fonte: http://blognananene.blogspot.com/2011/06/eritema-in- feccioso.html). Diagnóstico O diagnóstico além de clínico, deve ser feito através da sorologia com de- tecção de anticorpos IgM para Parvo- vírus humano B19. Tratamento O eritema infecioso em geral é auto- limitado e não há tratamento especí- fico. Deve ser realizado tratamento de suporte com sintomáticos. Cuidado com os contactantes e prevenção Como já foi dito, não é necessário rea- lizar o isolamento do paciente, no en- tanto, deve-se tomar cuidados com contactantes caso algum possua he- moglobinopatias (conforme veremos a seguir pode haver complicações para pacientes com este diagnóstico). Não existem medidas de prevenção a serem tomadas, pois não há vaci- na que garanta imunidade contra tal vírus. 15DOENÇAS EXANTEMÁTICAS (PEDIATRIA) Complicações A artropatia é uma complica- ção presente em cerca de 8% das crianças infectadas pelo eritrovírus B19, mas é mais comum em mulhe- res adolescentes e adultas infectadas por tal vírus. Como dito anteriormente, em pes- soas com doenças hematológicas como doença falciforme, talassemias, anemias hemolíticas e aqueles que possuem algum tipo de imunodefici- ência, podem desenvolver uma crise aplástica transitória (CAT) decor- rente da infecção viral direta pelo parvovírus B19 que bloqueia tran- sitoriamente a produção de eritróci- tos. Com isso, ocorre redução abrup- ta da hemoglobina, dos reticulócitos e dos percussores eritroides na medula óssea havendo ou não plaquetopenia e leucopenia. A maior parte dos ca- sos apresenta resolução do quadro com 2 semanas, porém alguns po- dem evoluir com óbito. Estes pacien- tes com CAT podem necessitar de transfusão de hemácias durante o período de recuperação medular, po- rém alguns não possuem boa respos- ta ou não têm anticorpos suficientes, sendo necessário o tratamento com imunoglobulina humana. SE LIGA! A crise aplástica transitória é resultado da infecção direta pelo parvo- vírus B19, mais frequente em pacientes com hemoglobinopatias e imunodefici- ência. Há queda abrupta da hemoglobi- na associada a queda dos reticulócitos, o que difere do quadro das doenças hemo- líticas onde há aumento de reticulócitos. 6. EXANTEMA SÚBITO (HERPES VÍRUS HUMANO 6 OU 7) Esta doença viral de evolução benig- na, também chamada de roséola in- fantum, é causada pelo herpes vírus 6 e 7, sobretudo, o tipo 6 que é o mais frequente. A doença acomete apenas crianças entre 6 meses e 6 anos de idade, sugerindo que haja uma pro- teção por meio de anticorpos ma- ternos e que o vírus seja bastante prevalente na comunidade já que na idade pré-escolar quase todas as crianças já estão imunes. É mais prevalente em menores de 2 anos. Mecanismo de transmissão Transmitida por secreçãooral. Período de incubação e de transmissão O tempo de incubação é de 5-15 dias. A transmissão ocorre na fase de viremia que acontece principalmente no período febril. 16DOENÇAS EXANTEMÁTICAS (PEDIATRIA) Quadro clínico Assim como sugere o nome da doen- ça, o início do quadro clínico é súbito e sem pródromos, caracterizando- -se por uma febre alta (39-40ºC) e contínua que resulta em irritabilidade da criança e convulsão febril. Pode haver linfonodomegalia associado. Após 3-4 dias de febre esta cessa bruscamente e aparece o exantema de modo também súbito de aspecto maculopapular róseo com lesões que não coalescem com evolução de tronco – face – membros, de curta duração e sem descamação. CONCEITO! No exantema súbito as le- sões maculopapulares surgem, subita- mente, após o desaparecimento da fe- bre alta. Figura 9. Exantema súbito (Fonte: DIVE, 2018). Diagnóstico Clínico e laboratorialmente pode ser realizada sorologia na busca de anti- corpos IgM e IgG dos herpes vírus 6 ou 7. Tratamento O tratamento de suporte é realizado principalmente com antitérmicos por conta da febre alta. Em caso de imu- nodeprimidos pode-se usar Ganci- clovir pelo risco de acometimento do SNC. Cuidado com os contactantes e prevenção O isolamento é desnecessário uma vez que, como dito, a maioria das pessoas já terá entrado em contato com o vírus e, não existem medidas de prevenção a serem adotas. 17DOENÇAS EXANTEMÁTICAS (PEDIATRIA) MAPA MENTAL ERITEMA INFECCIOSO E EXANTEMA SÚBITO ERITEMA INFECCIOSO Pródromo: mialgia, febre, coriza, cefaleia. EXANTEMA SÚBITO Exantema: em região malar (“face esbofeteada”), depois de 4 dias para membros com aspecto rendilhado. Sinais associados: sinal de filatov (palidez perioral). Pode haver recorrência do exantema!! Diagnóstico: clínico + sorologia IgM e IgG. Tratamento: suporte. Complicações: artropatia; crise aplástica transitória: queda hemoglobina e reticulócitos. Pródromo: não ocorre. Exantema: surge subitamente após cessar febre alta; aspecto róseo, de curta duração. Diagnóstico: clínico + IgM e IgG. Tratamento: suporte. Se imunodeprimido usar Gsnciclovir. 7. VARICELA (VARICELA- ZOSTER; FAMÍLIA HERPETOVIRIDAE) Também conhecida por catapora, esta doença atualmente é prevenida por vacina na tetra viral o que levou a redução da sua incidência (1º dose com 15 meses e reforço aos 4 anos de idade). A infecção confere imuni- dade permanente, embora, raramen- te possa ocorrer um segundo epi- sódio de varicela. É uma doença de notificação compulsória apenas se caso grave, ou seja, que necessite internação. Apesar do maior número 18DOENÇAS EXANTEMÁTICAS (PEDIATRIA) absoluto de internações ser entre crianças, os adultos têm mais risco de evoluir com complicações e óbito. Em crianças imunocompetentes a vari- cela tem curso benigno, repentino e autolimitado. CONCEITO! A vacina da varicela é dada na tetra viral ou de forma isolada. A 1ª dose é com 15 meses e o reforço pode ser feito com 4 anos de idade. Mecanismo de transmissão Pessoa a pessoa por meio de secre- ções respiratórias ou contato direto e, de modo indireto, ocorre por meio do contato com objetos contaminados com a secreção das lesões de pele (vesículas). Período de incubação e de transmissão O período de incubação é de 10-21 dias e a transmissão se inicia 1-2 dias antes do surgimento do exan- tema e permanece até que as le- sões estejam em fase de crosta. Quadro clínico Apesar de na infância não costumar ocorrer pródromos, os mesmos po- dem aparecer como febre moderada/ baixa, cefaleia, anorexia e vômito por 2-3 dias. O exantema de característi- ca papulovesicular polimórfico pru- riginoso costuma surgir nas partes cobertas do corpo, como couro ca- beludo, axilas e mucosas oral e das vias aéreas superiores. Tais lesões surgem em surtos de evolução rápi- da coexistindo, em uma mesma re- gião do corpo, diferentes estágios: máculas, pápulas, vesículas, pústu- las e crostas. Figura 10. Exantema papulovesicular polimórfico da varicela (Fonte: DIVE, 2018). Diagnóstico O diagnóstico da varicela é clínico e costuma ser típico não necessitando a realização de testes comprobató- rios, no entanto, é possível em casos graves quando é necessário realizar diagnóstico diferencial pode-se rea- lizar coleta do líquido das lesões ve- siculares nos primeiros 3-4 dias de erupção. Também está disponível a sorologia com IgM e IgG. 19DOENÇAS EXANTEMÁTICAS (PEDIATRIA) Tratamento O tratamento envolve o uso de sinto- máticos como anti-histamínicos para atenuar o prurido, antitérmico e anal- gésicos (estes, não salicilatos). O tra- tamento específico é com Aciclovir para menores de 12 anos ou pes- soas com imunocomprometimento, comorbidades ou risco para agrava- mento do quadro. Além disso, deve- -se recomendar a lavagem das le- sões de pele com água e sabão, bem como é fundamental cortar as unhas da criança como forma de prevenir le- sões de pele secundárias em decor- rência o intenso prurido. SAIBA MAIS! A varicela está associada à síndrome de Reye, que ocorre especialmente em crianças e ado- lescentes que fazem uso do ácido acetilsalisílico (AAS) durante a fase aguda. Essa síndrome se caracteriza por um quadro de vômitos após o pródromo viral, seguido de irritabilidade, inquietude e diminuição progressiva do nível da consciência, com edema cerebral pro- gressivo. A síndrome de Reye é resultado do comprometimento hepático agudo, seguido de comprometimento cerebral. Portanto, está contraindicado o uso de AAS por pacientes com varicela. Fonte: Guia de Vigilância Epidemiológica, 2019. TRATAMENTO ESPECÍFICO DE VARICELA PARA CRIANÇAS Crianças sem comprometimento imunológico Crianças com comprometimento imunológico ou casos graves 20mg/kg/dose, via oral, 5 vezes ao dia, dose máxima de 800mg/dia, durante 5 dias. 10mg/kg, endovenoso a cada 8 horas, infundido durante uma hora, durante 7 a 14 dias. Tabela 2. (Dados da tabela: Guia de Vigilância Epidemiológica, 2019). Cuidado com os contactantes e prevenção Em situações de surto deve-se iden- tificar as pessoas que entraram em contato com o caso da doença para realização do bloqueio com vacina e imunoglobulina antivaricela. A vaci- na deve seguir as indicações do ca- lendário nacional de imunizações e deve ser administrada no período de 120h após contato com caso, poden- do ser realizada em crianças a partir dos 9 meses, devendo manter neste caso, posteriormente, o esquema va- cinal de rotina. Crianças < 9 meses, gestantes ou pessoas imunodeprimi- das devem receber a imunoglobu- lina antivaricela na dose de 125UI para cada 10kg. A criança com vari- cela deve permanecer em isolamento 20DOENÇAS EXANTEMÁTICAS (PEDIATRIA) respiratório e de contato até que to- das as lesões fiquem em forma de crosta. A prevenção deve ser feita através da vacina. Complicações A principal complicação é a infecção bacteriana secundária das lesões de pele, causadas por estreptoco- cos e estafilococos, em decorrência do prurido que abre porta de entrada para estes patógenos presentes na pele e que podem causar piodermi- tes, erisipela e celulite. A pneumonia intersticial também é uma complicação comum, sobretudo, em crianças imucomprometidas sen- do importante causa de óbito nes- te grupo. Além disso, podem ocorrer manifestações hemorrágicas, hepati- tes e complicações no SNC, esta últi- ma é mais frequente em crianças < 5 anos e pode tanto atingir o cerebelo causando ataxia, quanto pode levar ao quadro de encefalite responsável por sonolência, coma e hemiplegia. Herpes zoster Apesar deste quadro ocorrer tipi- camente na fase adulta, ou seja, não ser classicamente uma doença exantemática da infância, o mesmo será abordado de forma breve aqui de modo a acrescentar mais elementos para o diagnóstico diferencial entre ambas condições que podem estar eventualmente presente na infân- cia. A herpes zoster é decorrente da reativação do vírusda varicela, pois este após a infecção fica latente nos gânglios nervosos podendo ser rea- tivado em pessoas adultas (mais co- mum) ou em crianças/adolescentes que possuam um comprometimen- to da sua imunidade – portadoras de doenças crônicas, neoplasias, AIDS, etc. 21DOENÇAS EXANTEMÁTICAS (PEDIATRIA) Figura 11. Varicela e herpes zoster (Fonte: http://alergovaccine.com.br/mundo-das-doencas/herpes-zoster/). O quadro clínico é típico apresentando como pródromo: neurites, parestesias, ardência e prurido local, acompanha- do de febre, cefaleia e mal-estar. As lesões de pele surgem gradualmente após 2-4 dias e seguem o trajeto de um dermátomo, tais lesões também são polimórficas compreendendo um eritema papulovesicular locali- zado que evolui para crostas e, não havendo infecção de pele secundária associada, cura em 4 semanas. Figura 12. Eritema da herpes zoster (Fonte: https:// www.eletrofisiologiaclinica.com.br/post/2017/03/03/ herpes-zoster-e-aplica%C3%A7%C3%A3o-de-toxi- na-botul%C3%ADnica-como-tratamento) Imunossenescência – A partir dos 50 anos Doenças imunossupressoras Fármacos imunossupressores Cé lu la s T e sp ec ífi ca s a o VV Z 22DOENÇAS EXANTEMÁTICAS (PEDIATRIA) CONCEITO! Diferente da varicela, as le- sões papulovesiculares do herpes zoster são localizadas, seguem o trajeto de um nervo. Além das complicações já mencio- nadas na varicela, no caso da her- pes zoster há uma complicação mais prevalente em mulheres idosas, em que há comprometimento do nervo trigêmeo, chamada nevralgia pós- -herpética (NPH) caracterizada por dor persistente por 4-6 semanas após surgimento das lesões cutâ- neas sendo esta dor refratária ao tratamento. O tratamento do herpes zoster é de suporte com sintomáticos e Aciclovir deve ser prescrito em casos em que há risco para agravamento, além dis- so, o uso do Aciclovir nas primeiras 72h após surgimento das lesões de pele, reduz a ocorrência da NPH. 8. DOENÇA MÃO-PÉ-BOCA (ENTEROVÍRUS COXSACKIE E ENTEROVÍRUS 71) Síndrome mão-pé-boca (SMPB) ou doença-mão-pé-boca é causada por não-pólio-enterovírus principalmente o coxsackie A16 e o enterovírus 71. E, a infecção ocorre na forma de surtos. Mecanismo de transmissão: A transmissão ocorre por via fecal-oral. Período de incubação e de transmissão O período de incubação é 3-6 dias e o tempo de contágio é variável. Quadro clínico O período prodrômico consiste em febre baixa que melhora em 48h, irritabilidade e anorexia. Cerca de 1-2 dias após início da febre surgem vesículas na cavidade oral que rapi- damente se rompem formando úlce- ras dolorosas que causam desconfor- to na alimentação. Em seguida, surge o exantema papulovesicular princi- palmente em extremidades (mãos e pés), não pruriginosas, mas as ve- zes dolorosas. CONCEITO! Diferente das lesões pa- pulovesiculares da varicela, na SMPB as lesões não são pruriginosas, mas sim dolorosas. Figura 13. Vesículas em cavidade língua e ao redor da boca em paciente com doença mão-pé-boca (Fonte: https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/doen%- C3%A7as-infecciosas/enterov%C3%ADrus/doen%- C3%A7a-da-m%C3%A3o-p%C3%A9-boca-dmpb) 23DOENÇAS EXANTEMÁTICAS (PEDIATRIA) Figura 14. Lesões características de síndrome mão-pé-boca (Fonte: DIVE, 2018b) Diagnóstico É clínico e tipicamente característico. Tratamento A SMPB tem curso autolimitada, de modo que as lesões de pele costu- mam se resolver em 7-10 dias. O tra- tamento deve ser com sintomáticos para o quadro febril e álgico, deve-se também dar suporte hídrico e nutri- cional, pois muitas crianças chegam a desidratar pela dificuldade de in- gerir em decorrência das úlceras orais. Em caso de baixa adesão da dieta e hidratação deve-se internar a criança e considerar a realização de hidratação venosa. Cuidado com os contactantes e prevenção Deve ser realizada precaução de con- tato durante o período da doença, as- sim como realizar medidas de higiene frequente das mãos, sobretudo, após troca de fraldas. Não há vacina dispo- nível para tal patologia no momento. Herpangina Um importante diagnóstico diferen- cial da SMPB, também pelos coxsa- ckie vírus A16 e enterovírus 71. Tal patologia, frequente em crianças, não causa exantema, mas assim como a SMPB causa enantema e lesões vesiculares em região oral, mais es- pecificamente em palato mole, úvu- la e pilares amigdalianos (orofaringe posterior diferente da SMPB) que 24DOENÇAS EXANTEMÁTICAS (PEDIATRIA) evoluem para úlceras esbranquiça- das de halo eritematoso. Este qua- dro possui como pródromo uma febre alta súbita, cefaleia, disfagia, vômitos e linfadenopatia cervical. O tratamen- to é de suporte com sintomático e o quadro resolve-se espontaneamen- te em 5-10 dias. Figura 15. Herpangina (Fonte: https://www.trocandofraldas.com.br/wp-content/uploads/2018/08/herpangina2016.jpg). CONCEITO! As lesões vesiculares da herpangina localizam-se em orofaringe posterior, diferente das lesões da SMPB em que as mesmas ficam na região an- terior da cavidade oral. 25DOENÇAS EXANTEMÁTICAS (PEDIATRIA) MAPA MENTAL VARICELA E DOENÇA MAO-PE-BOCA VARICELA Pródromo: febre baixa, cefaleia, anorexia, vômitos. MÃO-PÉ-BOCA Vacina Exantema: polimórfico pruriginoso de evolução rápida (máculas/vesículas/crostas). Diagnóstico: clínico típico + IgM e IgG + cultura do líquido das lesões vesiculares. Tratamento: suporte + Aciclovir se < 12 anos ou imunodeprimido. Complicações: infecção bacteriana de pele secundária é a mais comum. Atenção: Herpes zoster: reativação do vírus latente, exantema localizado no dermátomo! Pródromo: febre baixa, irritabilidade e anorexia. Exantema: papulovesicular em mãos e pés + vesículas em cavidade oral que evoluem para úlceras. Diagnóstico: clínico característico. Tratamento: sintomáticos + suporte hídrico e nutricional. Complicações: atentar para desidratação pela dificuldade de ingerir alimentos e água. Atenção: Herpangina: mesmo vírus causando enantema e vesículas em orofaringe posterior. 26DOENÇAS EXANTEMÁTICAS (PEDIATRIA) 9. ESCARLATINA (ESTREPTOCOCOS PYOGENES) A escarlatina é uma doença infeccio- sa aguda causada pelo Estreptoco- cos pyogenes ou estreptococos beta hemolítico do grupo A, mais especi- ficamente, pelas toxinas pirogênicas que este libera quando está infectado por um bacteriófago produtor de exo- toxinas pirogênicas, ou seja, a escar- latina não é fruto da infecção direta pela bactéria, mas sim pelo efeito das toxinas produzidas quando a bactéria é infectada por um bacte- riófago. As toxinas produzidas po- dem ser tipo A, B ou C e, o quadro de- senvolvido por um toxina não oferece imunidade às infecções pelas outras, logo, é possível que um indivíduo te- nha o mesmo quadro de escarlatina até 3 vezes. Tal patologia está mais frequentemente associada a faringite e, ocasionalmente aos impetigos. Mecanismo de transmissão A transmissão ocorre por contato com gotículas e secreção de nasofaringe de indivíduos com faringoamigdalite estreptocócica aguda. Período de incubação e de transmissão O período de incubação é de 2-5 dias e a transmissão se inicia tão logo ini- ciem os sintomas, caso o tratamento seja realizado adequadamente a transmissão só persiste por 24h do início do mesmo. Quadro clínico O período prodrômico ocorre duran- te 12-24h com febre alta, dor à de- glutição, mal-estar geral, náuseas e vômitos. Após este período o pacien- te apresenta o quadro de faringoa- migdalite com exsudato purulento, adenomegalia cervical e enantema na mucosa oral. Em seguida, cerca de 12-48h após o início do quadro, surge um exante- ma micropapular àspero (aspecto de lixa) em peitoral que se expande para tronco – pescoço – membros, poupando palma das mãos e pés. Este exantema apresenta-se mais in- tenso nas dobras cutâneas formando locais com linhas hiperpigmentadas chamadas linhas de Pastia. Na face, o eritema malar confere o aspec- to chamado de “face esbofeteada”associado ao sinal de Filatov, além disso, ocorre hipertrofia das papilas da língua dando a esta o aspecto de framboesa o que é chamado de “lín- gua em framboesa”. 27DOENÇAS EXANTEMÁTICAS (PEDIATRIA) Figura 16. Linha em framboesa (Fonte: https://www.otempo.com.br/cidades/escarlatina-volta-a-preocupar-1.1391770). Figura 17. A: Exantema da escarlatina. B: Sinal de Pastia (Fonte: https://slideplayer.com.br/slide/10183170/). Cerca de 1 semana após o início do quadro as manifestações clínicas ci- tadas acima desaparecem e se inicia um período de descamação furfu- rácea em face – pescoço – tronco – membros – extremidades. 28DOENÇAS EXANTEMÁTICAS (PEDIATRIA) Figura 18. Descamação laminada (Fonte: https://slideplayer.com.br/slide/10183170/). Diagnóstico Além de clínico o diagnóstico pode ser feito pela cultura de secreção da orofaringe coletada com swabs para identificação do estreptococo beta-hemolítico do grupo A, este, é o padrão-ouro para o diagnóstico. No entanto, é possível também fazer do- sagem de anticorpo antiestreptolisina O (ASLO) que auxilia a presumir in- fecção pelo estreptococo em questão. E ainda, é possível realizar teste rápi- do para identificação do pyogenes. Tratamento O exantema tem curso autolimitada, porém, indica-se o tratamento com antibiótico para eliminar a bactéria, de modo a reduzir as possibilida- des de transmissão, além de preve- nir febre reumática e complicações supurativas. O tratamento de escolha é com Penicilina G benzatina, intra- muscular, dose única: 600.000 UI para crianças < 25kg e 1.200.000UI para > 25kg e adultos. 10. SÍNDROME DA PELE ESCALDADA ESTAFILOCÓCICA (ESTAFILOCOCOS AUREUS) A síndrome da pele escaldada estafi- locócica (SPEE) antigamente chama- da de doença de Filatov-Dukes como vimos na aula de Dra. Nathalia, cha- mada também de Síndrome de Ritter, é uma doença exantemática asso- ciada a quadro bolhoso importante. A SPEE ocorre quando há quebra das barreiras protetoras da pele, permitindo a infecção pelo S. aureus, como por exemplo, infecções de coto 29DOENÇAS EXANTEMÁTICAS (PEDIATRIA) umbilical de recém-nascidos ou in- fecção bacteriana secundária asso- ciada ao quadro de varicela. Costuma acometer mais crianças antes dos 5 anos de idade, mas pode acometer adultos, sobretudo, aqueles que têm doença renal crônica ou doenças que causa uma depressão do sistema imunológico. As toxinas produzidas por cepas 55 e 71 do S. aureus clivam a desmo- gleína, proteína constituinte dos des- mossomos responsáveis por manter as células epidérmicas unidas. Com isso, há um desprendimento da epi- derme da camada granulosa, o que acarreta na descamação superficial da pele típica da doença. Quadro clínico Sintomas prodrômicos incluem febre, irritabilidade, mal-estar, em seguida inicia-se a fase exantemática com exantema maculopapular doloroso que inicia em face e se expande por todo corpo. A pele começa a exsudar criando crostas melisséricas ao re- dor de boca e nariz, além de formar descamações laminares como se fos- sem bolhas decorrentes do desloca- mento da epiderme superficial (si- nal de Nikolsky). Figura 19. Exantema da Síndrome da pele escaldada estaafilocócica (Fonte: https://exenin.com/wp-content/uplo- ads/2018/09/s%C3%ADndrome-da-pele-escaldada-estafiloc%C3%B3cica.jpg). 30DOENÇAS EXANTEMÁTICAS (PEDIATRIA) Figura 20. Crostas melisséricas em região perioral e nasal. (Fonte: https://www.slideshare.net/annalima11/ infeces-de-pele-e-anexos) Diagnóstico O diagnóstico além de clínico pres- supõe o isolamento do S.aureus com coleta de do sítio suspeito e posterior cultura do material. Tratamento Consiste em limpeza e curativo da pele, sem a administração de anti- bióticos tópicos, além de medidas de suporte. A doença continua a pro- gredir até que a toxina seja eliminada pelos rins ou neutralizada por anticor- pos, mas em crianças tem um prog- nóstico excelente havendo regres- são do quadro em 2-3 semanas. No entanto, o tratamento específico pode ser feito usando antibiótico en- dovenoso para eliminar o patógeno do organismo, sendo o medicamento de escolha a Oxacilina. 31DOENÇAS EXANTEMÁTICAS (PEDIATRIA) MAPA MENTAL ESCARLATINA E PELE ESCALDADA ESCARLATINA Pródromo: faringoamigdalite com exsudato purulento S. PELE ESCALDADA Exantema: micropapular áspero (em lixa) em peitoral – tronco – membros e eritema malar (“face ebofeteada”) Sinais associados: linhas de pastia (hiperpigmentação nas dobras); língua em framboesa; sinal de filatov. Diagnóstico: cultura de orofaringe ou dosar ASLO ou teste rápido para estrepto. Tratamento: penicilina G benzatina, dose única. Atenção: descamação furfurácea da pele após desaparecimento das manifestações clínicas. Pródromo: febre, irritabilidade, mal-estar. Exantema: doloroso com descamações, presença de crostas melisséricas em região perioral e nasal. Sinais associados: sinal de Nikolsky: fricção da pele ocorre deslocamento da epiderme (parece bolha) Diagnóstico: clínico + coleta de secreção do sítio suspeito para isolamento do S. aureus. Tratamento: limpeza e curativo da pele + Oxacilina endovenosa 11. DOENÇA KAWASAKI (ETIOLOGIA DESCONHECIDA) A doença de Kawasaki (DK) é im- portante causa de vasculite na fai- xa etária pediátrica, sendo causa importante de cardiopatia e infarto agudo do miocárdio. Sua etiologia é desconhecida, mas acredita-se que seja decorrente de uma resposta imune patológica a agentes ambien- tais ou infecciosos em indivíduos com predisposição. O diagnóstico e tra- tamento precoce até o 10º dia da 32DOENÇAS EXANTEMÁTICAS (PEDIATRIA) doença é fundamental para a redu- ção da complicação mais temidas que é o aneurisma de coronárias. Diagnóstico e quadro clínico: O diagnóstico da DK é eminentemen- te clínico, sendo baseado nos seguin- tes critérios: FEBRE HÁ MAIS DE 5 DIAS + 4 DOS SEGUINTES SINAIS: Hiperemia conjutival bilateral. Alterações orais: eritema labial e/ou em orofaringe e/ou fissura labial e/ou língua em framboesa. Alterações de extremidades: edemas de mãos e pés e/ou eritema palmo-plantar e/ou descamação periungueal. Exantema polimórfico. Adenomegalia cervical > 1,5cm. Tabela 3. Critérios diagnósticos Doença Kawasaki (Fonte: SPSP, 2009). A febre costuma ser abrupta com du- ração de 10-12 dias, podendo du- rar até 4 semanas, uma vez que não responde aos antitérmicos. O exan- tema ocorre em 90% dos casos e é maculopapular polimórfico. Nas ex- tremidades, em 80% dos casos nota- -se edemas, eritema palmo-plantar e descamação laminar em região periungueal. 33DOENÇAS EXANTEMÁTICAS (PEDIATRIA) Figura 21. Doença de Kawasaki (Fonte: https://lh3.googleusercontent.com/proxy/SwC6ROuMYmOzlZi6HxVkR9D- c8pNmfWrFV-4TgskUhPHq4MQDNx_gAqy-2QxXh8aDG1shvpOQkILQWEjkO8Toh8yDC4fLbkY__OoJ_7YP6_dE- queAqvgDPkZVLKkIH3V-S9tVJEiubhO5CBqizrF15vmARl3I). CONCEITO! A descamação da pele na DK é em região periungueal, o que difere das descamações da Escarlatina (onde havia o exantema) e da fragilidade da epiderme da SPEE. Outros achados clínicos podem estar presentes como artralgia, diarreia, dor abdominal de modo que a diferencia- ção inicial entre a DK e as outras do- enças exantemáticas da infância é di- fícil, sobretudo, nos primeiros dias de doença. 34DOENÇAS EXANTEMÁTICAS (PEDIATRIA) Boa parte das crianças não preen- cherá 4 ou mais critérios diagnósti- cos acima, tendo o que é chamada de “DK incompleta”, no entanto, naque- las que forem menores de 6 meses e tiverem febre com mais de 1 se- mana de duração com evidência la- boratorial de inflamação (elevação e VHS e PCR) sem outra causa co- nhecida, recomenda-se a realização de um Ecocardiograma (ECO). Vale ressaltar que, caso haja doença co- ronariana comprovada por um ECO, não são necessários 5 dias de febre para estabelecer o diagnóstico. Tratamento Apesar da incerteza quanto a etiolo- gia, o tratamento deve ser instituído precocemente (antes de completar 10 diasdo início quadro) como for- ma de evitar complicações cardio- vasculares e, consiste em administrar imunoglobulina 2g/kg em infusão contínua de 10 horas. Associado a isto, inicia-se o ácido acetilsalicílico (AAS) em dose anti-inflamatória de 80-100mg/kg/dia até que o paciente esteja afebril. A falha terapêutica ocorre naqueles pacientes que mantêm ou têm recor- rência da febre após 36h do início do tratamento. Nestes casos, pode-se repetir a imunoglobulina até 2 vezes. Caso a mesma não seja eficaz pode ser feito pulsoterapia com metilpred- nisolona 30 mg/kg/dia. Complicações Os aneurismas coronarianos são complicações que ocorrem precoce- mente, sendo os de tamanho >8mm de diâmetro os mais temidos pelo risco aumentado de obstrução e is- quemia. Como forma de monitorar o surgimento desta complicação e prognóstico ruim de alguns pacien- tes, recomenda-se a realização de ECO em 2 momentos: na fase aguda (2-3 semanas após o caso) e com 6-8 semanas. Caso em alguns des- ses resultados apareça o resultado de aneurisma de coronárias deve-se proceder um acompanhamento mais frequente do caso. 35DOENÇAS EXANTEMÁTICAS (PEDIATRIA) MAPA MENTAL KAWASAKI KAWASAKI Tratamento: Imunoglobulina + AAS , se febre não melhora em 36h: repete imunoglobulina Complicações: aneurisma coronarianos. Fazer ECO em 2-3 semanas do quadro e outro após 6-8 semanas. Exantema: polimórfico, palmo-plantar e descamação periungueal. Diagnóstico: com base em CRITÉRIOS: Febre > 5 dias + 4 sinais: hiperemia conjuntival, alterações orais, alterações de extremidades, exantema polimórfico, adenomegalia> 1,5cm Se < 6 meses: febre > 1 semana + elevação VHS/PCR + não sabe a causa: FAZER ECO! Atenção: Se doença coronariana em ECO prévio, não precisa 5 dias de febre para diagnosticar. 36DOENÇAS EXANTEMÁTICAS (PEDIATRIA) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Ministério da Saúde. Guia de Vigilância em Saúde. Volume único [recurso eletrônico] / Mi- nistério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Coordenação-Geral de Desenvolvi- mento da Epidemiologia em Serviços. – 3ª. ed. – Brasília, 2019. Diretoria de Vigilância Epidemiológica. Doenças Exantemáticas Febris. Governo do Estado de Santa Catarina, 2018. Tratado de pediatria: Sociedade Brasileira de Pediatria. – 2.ed. – Barueri, SP: Manole, 2010. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Acolhimento à demanda espontânea: queixas mais comuns na Atenção Básica. 1. ed.; 1. reimp. – Brasília, 2013. Rivitti, Evandro A. Manual de dermatologia clínica de Sampaio e Rivitti. São Paulo : Artes Médicas, 2014. Azulay, Rubem David. Dermatologia. 6. ed., rev. 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