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pratica penal caso 4

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EXMO. SR. JUIZ DE DIREITO DA XX VARA CRIMINAL DA COMARCA DE CURITIBA/PR 
 
 
Processo nº. 
 
 
JORGE (nome completo), já qualificado nos autos do processo em epígrafe, através do seu 
advogado (procuração –fls.), no quinquídio legal, vem apresentar: 
 
ALEGAÇÕES FINAIS POR MEMORIAIS 
 
Com fulcro no art. 403, § 3º, do Código de Processo Penal e no art. 5º, LV, da Constituição da 
República Federativa do Brasil., pelas razões de fato e de direito a seguir: 
 
I - DOS FATOS 
O Ministério Público Estadual denunciou Jorge pela suposta prática de dois crimes de estupro 
de vulnerável, previsto no art. 217-A, na forma do art. 69, ambos do Código Penal, sob a 
alegação de que a vítima possuía 13 anos de idade a época dos fatos. Ainda, requereu o 
início de cumprimento de pena no regime fechado, apontando o art. 2º, §1º, da lei 8.072/90, e 
o reconhecimento da agravante da embriaguez preordenada, prevista no art. 61, II, alínea l, do 
CP. Jorge respondeu ao processo em liberdade, por ser réu primário, ter bons 
antecedentes e residência fixa. Na audiência de instrução e julgamento, Analisa afirmou que 
aquela teria sido a sua primeira noite, mas que tinha o hábito de fugir de casa com as amigas 
para freqüentar bares de adultos. Na sequência, as testemunhas de acusação afirmaram 
que não viram os fatos e que não sabiam das fugas de Analisa para sair com as amigas. Já 
as testemunhas de defesa afirmaram que o comportamento e a vestimenta da Analisa eram 
incompatíveis com os de uma menina de 13 (treze) anos e que qualquer pessoa 
acreditaria ser uma uma pessoa maior de 14 (quatorze) anos, e que Jorge não estava 
embriagado quando conheceu Analisa. No interrogatório Jorge disse que se interessou por 
Analisa, por ser muito bonita e por estar bem vestida. Afirmou que não perguntou a sua 
idade, pois acreditou que no local somente pudessem freqüentar pessoas maiores de 18 
(dezoito) anos. Corroborou que praticaram o sexo oral e vaginal na mesma oportunidade, de 
forma espontânea e voluntária por ambos. O Ministério Público, em memoriais, requereu a 
condenação de Jorge nos termos da denúncia. 
 
II - PRELIMINAR - DA AUSÊNCIA DE PROVAS DA SUPOSTA EMBRIAGUEZ PREORDENADA 
O Ministério Público requereu o reconhecimento da agravante do estado de embriaguez 
preordenada (art. 61, II, “l”, do CP), sem apresentar qualquer prova. Lembrando que a prova 
da alegação incumbe a quem a faz (art. 156 do CPP), e não havendo qualquer lastro 
probatório sobre a suposta embriaguez preordenada, tal acusação deve ser afastada de 
plano. Mesmo porque, quando não há prova suficiente da alegação, vigora o Princípio do 
in dúbio pro réu, maior razão ainda de não aceitar a acusação quando da ausência de provas 
III - INÍCIO DO CUMPRIMENTO DA PENA – REGIME SEMIABERTO – PRINCÍPIODA 
INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA –ART. 5º, XLVI, DA CRFB 
O Parquet requereu que o início de cumprimento de pena seja fixado em regime fechado, com 
base no artigo 2º, §1º, da Lei 8.072/90, no entanto, tal pedido que não deve prosperar. 
Em respeito à garantia constitucional da individualização da pena (art. 5º, XLVI, da CRFB), o 
início do cumprimento da pena deverá ser em regime semi-aberro (art. 33, §2º, “b”, do 
CP), considerando a primariedade e os bons antecedentes do acusado. 
 
Assim, tem decidido o E. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, ou seja, pela inconstitucionalidade 
da fixação ex lege, com base no art. 2º, § 1º, da Lei 8.072/1990, do regime inicial 
fechado, devendo o julgador, quando da condenação, ater-se aos parâmetros previstos 
no artigo 33 do CódigoPenal. 
 
IV - DO MÉRITO 
A - DO ERRO SOBRE O ELEMENTO DO TIPO – ART. 20 DO CP. 
Jorge, aos 21 anos de idade, somente manteve contato íntimo com Analise, a época 
com 13 anos, porque, diante das circunstâncias, estava convicto da jovem ser maior. Tal 
conclusão é comprovada no conjunto probatório do presente processo. 
Citam-se: depoimento de Analise (fls.x), quando afirmou que “tinha o hábito de fugir de casa 
com as amigas para frequentar bares de adultos”; oitiva de testemunhas (fls.x):“disseram que 
o comportamento e a vestimenta da Analisa eram incompatíveis com uma menina de 13 
(treze) anos e que qualquer pessoa acreditaria ser uma pessoa maior de 14 (quatorze) 
anos...”; interrogatório de Jorge: disse que “não perguntou a sua idade, pois acreditou 
que no local somente pudessem frequentar pessoas maiores de 18 (dezoito) anos.”. 
A situação posta configura-se perfeitamente erro de tipo essencial, pois Jorge estava com uma 
falsa percepção da realidade, e conforme a previsão do art. 20 do CP, exclui-se 
completamente o dolo. Portanto, considerando que não existe o tipo de “estupro de 
vulnerável” na modalidade culposa, Jorge deverá ser absolvido, com fundamento no art. 386, 
III e VI, do CPP. Assim, embora haja convicção na absolvição de Jorge, apenas em observância 
ao Princípio da Concentração da Defesa (Princípio da Eventualidade), passa-se a expor: 
B – DA SUPOSTA PRÁTICA DE DOIS CRIMES DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL 
O Ministério Público ofereceu denúncia narrando, supostamente,que teria havido dois crimes 
de estupro de vulnerável (2 x 217-A do CP), por terem Jorge e Analisa realizado sexo vaginal e 
oral. 
O delito do art. 217-A do CP é classificado de “tipo misto alternativo”, pois prevê uma 
multiplicidade de comportamento: “ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso”. 
Assim, mesmo que se tenha realizado mais de uma ação, como foi em um mesmo 
contexto fático, eventual responsabilização somente poderia ser por crime único. 
Logo, jamais poderia haver a responsabilização pelo cometimento de dois crimes, diante 
do caso em análise. 
C – PRESENÇA DA ATENUANTE DA CONFISSÃO ESPONTÂNEA 
Jorge, em momento algum, negou que teria mantido contato com Analisa, como foi reiterado 
no seu interrogatório (fls.x). Assim, por ter assumido que esteve com Analisa, em caso 
de eventual condenação, deverá ser aplicada a atenuante da confissão espontânea (art. 
65, III, “d”, do CP). 
V –DO PEDIDO 
Posto isso, requer-se a absolvição do réu, pela atipicidade da conduta, com fundamento no 
art. 386, III e VI, do CPP, considerando a configuração de erro de tipo (art. 20 do CP). 
Subsidiariamente, em caso de eventual condenação, requer-se: 
1. a não aplicação da agravante do estado de embriaguez preordenada (art. 61, II, “l”, do CP), 
considerando a total ausência de provas (art. 156 do CPP); 
2. a não configuração de dois crimes do art. 217-A do CP, em concurso material (art. 69 do CP), 
pois a conduta realizada em um mesmo contexto fático resulta em um único crime; 
3. Por ser primário e possuir bons antecedentes, a fixação da pena base no mínimo legal; 
4. O reconhecimento da atenuante da confissão espontânea (art. 65, III, “d”, do CP), pois o réu 
corroborou ao narrar a realização do fato; 
5. O início do cumprimento da pena no regime semi-aberto (art. 33, §2º, “b”, do CP), em 
respeito à garantia constitucional da individualização da pena (art. 5º, XLVI, da CRFB), 
considerando a primariedade e os bons antecedentes do acusado. 
 
Termo em que, 
Pede e espera deferimento 
Curitiba/PR, 29 de abril de 2014 
ADVOGADO – OAB/RJ XX

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