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DIREITO CIVIL TEORIA GERAL DOS CONTRATOS 2 SUMÁRIO 1. CONCEITO DE CONTRATO .............................................................................................................. 4 2. PRINCÍPIOS CONTRATUAIS NO CC/02 ............................................................................................. 7 2.1. PRINCÍPIO DA AUTONOMIA PRIVADA ..................................................................................................... 8 2.2. PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO ...................................................................................... 15 2.3. PRINCÍPIO DA FORÇA OBRIGATÓRIA DO CONTRATO (PACTA SUNT SERVANDA) ...................................... 18 2.4. BOA FÉ OBJETIVA .................................................................................................................................. 19 2.5. PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE DOS EFEITOS CONTRATUAIS (RES INTER ATIOS) ......................................... 25 3. FORMAÇÃO DOS CONTRATOS ...................................................................................................... 29 3.1. FASE DE NEGOCIAÇÕES PRELIMINARES OU PONTUAÇÃO........................................................................ 29 3.2. FASE DE PROPOSTA, POLICITAÇÃO OU OBLAÇÃO ................................................................................... 30 3.3. FASE DE CONTRATO PRELIMINAR .......................................................................................................... 32 3.4. FASE DE CONTRATO DEFINITIVO ............................................................................................................ 36 4. REVISÃO JUDICIAL DOS CONTRATOS NO CC/02 ............................................................................ 37 4.1. REQUISITOS PARA A REVISÃO DOS CONTRATOS CIVIL ............................................................................ 37 5. VÍCIOS REDIBITÓRIOS .................................................................................................................. 43 5.1. CONCEITO ............................................................................................................................................. 43 5.2. PRAZOS DECADENCIAIS ......................................................................................................................... 45 6. EVICÇÃO – ARTS. 447 A 457 ......................................................................................................... 50 6.1. CONCEITO ............................................................................................................................................. 50 6.2. PARTES DA EVICÇÃO.............................................................................................................................. 50 6.3. EXCLUSÃO DA EVICÇÃO ......................................................................................................................... 51 6.4. EVICÇÃO TOTAL E PARCIAL .................................................................................................................... 51 6.5. ASPECTOS PROCESSUAIS DA EVICÇÃO .................................................................................................... 52 7. EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ........................................................................................................ 56 7.1. NORMAL ............................................................................................................................................... 56 7.2. EXTINÇÃO POR FATOS ANTERIORES ....................................................................................................... 56 7.3. EXTINÇÃO POR FATOS POSTERIORES À CELEBRAÇÃO ............................................................................. 58 7.4. EXTINÇÃO POR MORTE .......................................................................................................................... 76 8. O QUE FALTOU DESSE ASSUNTO .................................................................................................. 76 8.1. O NOVO CÓDIGO CIVIL E OS CONTRATOS CELEBRADOS ANTES DA SUA VIGÊNCIA ................................... 77 8.2. CONTRATOS BANCÁRIOS – JURISPRUDÊNCIA DO STJ .............................................................................. 79 8.3. CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS .......................................................................................................... 84 3 9. DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO ................................................................................ 89 10. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA ............................................................................................................ 89 4 ATUALIZADO EM 12/06/20191 TEORIA GERAL DO CONTRATO – ARTS. 421 A 480 1. CONCEITO DE CONTRATO Nem o CC/16, nem o CC/02 definiram o que seria contrato, deixando essa tarefa para a Doutrina. Parte da doutrina utiliza o conceito clássico do CC Italiano – MHD, Álvaro Villaça, por exemplo. É o conceito que ainda prevalece para fins de concurso público. Conceito clássico – negócio jurídico bilateral ou plurilateral que visa à criação, modificação ou extinção, entre as partes, de direitos e deveres que traduzem uma relação jurídica de conteúdo patrimonial. (1) “bilateral ou plurilateral”: Todo contrato é negócio jurídico, pelo menos, bilateral, por envolver duas pessoas ou duas vontades. Ex.: doação é negócio jurídico bilateral. CORRETO. A doação, por ser contrato, é negócio jurídico bilateral, ou seja, envolve duas pessoas, mas é contrato unilateral, como regra, por ter obrigações para apenas uma das partes. Existe autocontrato ou contrato consigo mesmo? Não se admite a existência de autocontrato ou contrato consigo mesmo. Todavia pode ocorrer a hipótese de ambas as partes se manifestarem por meio do mesmo representante, configurando-se, então, a situação de dupla representação. Pode ocorrer, ainda, que o representante seja a outra parte no negócio jurídico celebrado, exercendo, neste caso, dois papéis distintos: participando de sua formação como representante, atuando em nome do dono do negócio, e como contratante, por si mesmo, intervindo com dupla qualidade, como ocorre no cumprimento de mandato em causa própria, previsto no art. 685 do CC, em que o mandatário recebe poderes para alienar determinado bem, por determinado preço, a terceiros ou a si próprio. Surge, nas hipóteses, o negócio jurídico que se convencionou chamar de contrato consigo mesmo ou autocontrato. O que há, na realidade, são situações que se assemelham a negócio dessa natureza. No caso de 1 As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos, porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos eventos anteriormente citados. 5 dupla representação somente os representados adquirem direitos e obrigações. E, mesmo quando o representante é uma das partes, a outra também participa do ato, embora representada pelo primeiro. *#UMPOUCODEDOUTRINA: Nesse sentido é o entendimento de Tartuce2: "(...) Vale lembrar que a alteridade se constitui pela presença de pelo menos duas pessoas quando da constituição do contrato. Justamente pela existência desses dois elementos é que seria vedada a autocontratação, ou celebração de um contrato consigo mesmo. Mas dúvidassurgem quanto a essa possibilidade, se analisado o art. 117 do Código Civil: “Art. 117. Salvo se o permitir a lei ou o representado, é anulável o negócio jurídico que o representante, no seu interesse ou por conta de outrem, celebrar consigo mesmo. Parágrafo único. Para esse efeito, tem-se como celebrado pelo representante o negócio realizado por aquele em quem os poderes houverem sido substabelecidos”. De acordo com o dispositivo em questão é possível a outorga de poderes para que a pessoa que representa outrem celebre um contrato consigo mesmo, no caso, um mandato em causa própria (mandato com cláusula in rem propriam ou in rem suam). Não estando presente essa autorização ou havendo proibição legal, o mandato em causa própria é anulável. A regra ainda merece aplicação em casos de substabelecimento (cessão parcial do mandato), conforme o seu parágrafo único. A grande dúvida que surge desse dispositivo é se ele traz ou não uma hipótese de autocontratação perfeita, em que não há a referida alteridade. Para este autor, a resposta é negativa. Para ilustrar, imagine um caso em que A outorga poderes para B vender um imóvel, com a autorização para que o último venda o bem para si mesmo. Celebrado esse negócio, haveria uma autocontratação, pelo menos aparentemente. Mas é interessante perceber que a alteridade continua presente, na outorga de poderes para que o segundo negócio seja celebrado. Desse modo, não há uma autocontratação perfeita, sem alteridade, na figura referenciada no art. 117 do CC. O elemento destacado, a presença de duas pessoas, continua sendo essencial para a validade de todo e qualquer contrato." No âmbito jurisprudencial, poucas decisões podem ser encontradas, sendo que mesmo assim, estas não são explícitas sobre o assunto de contrato consigo mesmo. Quando aceito, é feita, na verdade, uma interpretação do próprio artigo 117 do CC, exigindo-se a ausência do conflito de interesses como condição de admissibilidade do autocontrato. (2) É negócio jurídico inter vivos, não se confundindo com os negócios mortis causa, ex.: testamento (os efeitos serão após a morte). A divisão entre atos inter vivos e mortis causa está no art. 426 CC. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva. Há, nesse artigo, a nulidade absoluta do pacto sucessório (pacta corvina). É 2 Tartuce, Flávio. Manual de direito civil: volume único. 7. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017. 6 nulo porque o art. 166, VII, fala que é nulo quando a lei proíbe e não estabelece sanção. Ex.: transação no divórcio feita por um marido que inclui herança não recebida (você fica com a minha parte da herança quando meu pai morrer). A proibição alcança tanto terceiros (potencial beneficiários da herança), como o próprio titular. (3) Patrimonialidade: na visão clássica, o contrato exige um conteúdo patrimonial. O casamento, por exemplo, não é contrato, por não ter a finalidade patrimonial. O pacto antenupcial é contrato. Questão de concurso: o casamento é um contrato? Honoré Balzac tem um livro chamado contrato de casamento. Existem duas correntes básicas: a corrente de direito público e a corrente de direito privado. A primeira afirma que o casamento não é um instituto privado, sendo um ato administrativo (não tem eco no direito moderno). A segunda corrente, que prevalece, diz que o casamento é um instituto de direito privado, mas se subdivide na corrente não contratualista e a contratualista. A primeira subcorrente diz que o casamento não é um contrato (Maria Helena Diniz), mas uma instituição ou, ainda, um negócio complexo com participação do juiz ou, como Leon Duguit, que dizia que o casamento era um ato-condição (aquele que quando realizado coloca-se em uma situação jurídica impessoal, com normas imodificáveis). Mas, é a segunda subcorrente que é forte no Brasil desde Clóvis Beviláqua (Silvio Rodrigues, Orlando Gomes) sendo um contrato especial de direito de família, pois o núcleo do casamento é o consentimento como qualquer outro contrato. Porém, parte da doutrina contemporânea contesta essa ideia de Patrimonialidade estrita, pois o contrato também pode envolver valores existenciais, relativos à tutela da pessoa humana. Surge assim um conceito contemporâneo ou pós-moderno de contrato. Paulo Nalin – contrato é uma relação intersubjetiva (entre pessoas), baseada no solidarismo constitucional, e que traz efeitos existenciais e patrimoniais não somente em relação às partes contratantes, mas em relação a terceiros. De fato, existem contratos que envolvem valores relativos à dignidade da pessoa humana. Exs.: plano de saúde, contratos de aquisição da casa própria, contratos de direitos de autor. Esse conceito já trata da função social do contrato. Em regra o descumprimento contratual causa dano patrimonial, mas pode haver dano moral e até mesmo social (caso da Amil que teve que pagar um milhão a uma instituição de caridade - TJSP). Caráter pedagógico. Enunciado 411, V Jornada – o descumprimento de contrato pode gerar dano moral, quando envolver valor fundamental protegido pela CF/88. Ainda prevalece o conceito clássico – bilateral, inter vivos e patrimonialidade –, mas estamos caminhando. 7 Embora o contrato seja anterior ao próprio direito romano, a Roma clássica consagrou o tratamento jurídico do contrato (contractus). Segundo Olando Gomes, foi o capitalismo que desenvolveu a teoria clássica do contrato, calcada em dois dogmas: autonomia da vontade e igualdade das partes contratantes (séculos XVIII e XIX). Porém, durante o século XX, percebeu-se, especialmente após as Grandes Guerras, que o Estado não poderia ser abstencionista, modificando o Estado Liberal para o Estado Social, alterando as fórmulas contratuais. Ocorreu, dessa forma, a socialização do direito (condicionar a autonomia privada em detrimento de valores sociais). A professora Judite Costa diz que a autonomia não é mais privada, mas solidária. Isso porque a autonomia privada não é absoluta, mas limitada. Tudo isso se chama de constitucionalização do direito civil. Forma No que tange à forma do contrato, vale lembrar que, em regra, vigora o princípio da liberdade da forma. Art. 107 do CC – A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir. O contrato é um negócio jurídico, que tem forma livre, exceto no que for determinado pela lei. No entanto, há situações em que se exige a forma para efeito de prova do contrato em juízo, isto é, forma ad probationem. Há ainda situações em que a lei exige forma sob pena de nulidade (requisito de validade), é a chamada ad solemnitatem (art. 108, CCB – Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País). 2. PRINCÍPIOS CONTRATUAIS NO CC/02 Enunciado 167, III Jornada – Com o advento do CC/02, houve forte aproximação principiológica entre o CC e o CDC, no que respeita à regulação contratual, uma vez que ambos são incorporadores de uma nova teoria geral do contrato. Teoria dos diálogos das fontes. Essa aproximação principiológica se deu basicamente através de três princípios – autonomia privada, boa-fé objetiva e função social do contrato. Essa aproximação por princípios propicia a aplicação concomitante (simultânea) das duas leis – CC e CDC – a determinados contratos (transportes, seguros, etc.) por meio da Teoria do Diálogo das Fontes – Eric Jayme – alemão. 8 *#OUSESABER: A teoria do diálogo das fontes foi desenvolvida pela professora Cláudia Lima Marques e sua aplicação atualmente não se restringe apenas ao direito do consumidor, mastambém a toda inteiração entre os diversos ramos do direito, de modo que eles se autoinfluenciem e complementem. A proposta do diálogo das fontes visa superar os critérios clássicos de superação das antinomias jurídica (cronológico, hierárquico e da especialidade), permitindo que as incongruências sejam sanadas através de uma interação dialógica. O diálogo pode ser classificado como: (i) diálogo sistemático de coerência – quando há aplicação simultânea de duas leis, de modo que uma sirva de base conceitual para a outra, ex.: o conceito de contrato é extraído do Código Civil, complementando o conceito de contrato de adesão regido pelo CDC; (ii) diálogo de complementaridade e o diálogo de subsidiariedade ocorre quando a aplicação de duas normas ocorrer de modo coordenado direta ou indiretamente, respectivamente. Exemplo: Quando as cláusulas gerais de uma lei podem encontrar ato subsidiário ou complementar em caso regulado pela outra lei (diálogo de complementaridade), e quando o sistema geral de responsabilidade civil sem culpa ou o sistema geral de decadência podem ser usados para regular aspectos de casos de consumo, se trazem normas favoráveis ao consumidor (diálogo de subsidiariedade); (iii) diálogos de influências recíprocas sistemáticas ocorre quando conceitos estruturais de uma lei sofrem influências da outra. Exemplo: o conceito de consumidor pode sofrer influências do próprio Código Civil, bem como a aplicação do Código Civil pode ser restringida em face da caracterização da relação de consumidor. 2.1. PRINCÍPIO DA AUTONOMIA PRIVADA São princípios clássicos – autonomia da vontade, força obrigatória dos contratos e relatividade dos efeitos do contrato (os efeitos estão limitados às partes). Princípios pós-modernos – boa-fé objetiva, função social do contrato e equilíbrio contratual. A função do Estado era apenas a de assegurar aos contratantes ampla liberdade para que pudessem ajustar as condições dos contratos como melhor lhes conviessem, daí a máxima do Estado liberal segundo a qual tudo o que é contratual é justo desde que as partes sejam livres para contratar. Todo contrato pressupõe certa liberdade intelectual. O contratualismo (Savigny: o contrato é o consenso das vontades na autorregulamentação de seus interesses privados) era uma das quatro bandeiras levantadas pela revolução francesa, e até mesmo a relação do homem para com o Estado foi representada pela forma contratual, como sabemos ao lermos o livro de Rosseau: “O contrato social”. Mas o século XX mostrou que só a LIBERDADE não era suficiente para sustentar o equilíbrio do contrato. Percebeu-se que era necessário também IGUALDADE MATERIAL. Foi assim que surgiu o dirigismo contratual, que caracterizou o século XX no campo dos contratos, ou seja, o Estado abandonou a postura de inércia, de 9 mero espectador dos contratos, para passar a controlá-los, a dirigi-los, impondo certas cláusulas de proteção ao mais fraco, ou vedando outras que denotavam a superioridade do mais forte. No REsp 1158815, o STJ considerou que, nos contratos empresariais, a autonomia privada (e assim também a força obrigatória dos contratos) tem maior intensidade, devendo a revisão do contrato ocorrer em casos excepcionais. É possível afirmar, assim, a existência de diferentes graus de autonomia privada (nos contratos de consumo, nos civis e nos empresariais). Autonomia privada é verdadeiro princípio que traduz a liberdade contratual, necessária em qualquer contrato, mas condicionada a princípios de contenção, a exemplo da função social e da boa-fé objetiva. Esse princípio substituiu o modelo liberal da autonomia da vontade. Enzo Roppo – O contrato: fala que os contratos são todos modelos. Virou um carimbo, por isso não poderia se falar em autonomia da vontade. Três razões pelas quais a autonomia privada tomou lugar da autonomia da vontade: 1) Crise da vontade – gerou a crise do contrato. Fala-se em morte do contrato (Grant Gilmore). 2) Dirigismo contratual – intervenção do Estado e da lei nos contratos. O Brasil hoje é conhecido por essa intervenção, principalmente para a proteção de vulneráveis. Ex.: CDC e CC/02 (função social do contrato). 3) Império do contrato modelo estandardização contratual (“standard”). Prevalecem, na prática, os contratos de adesão. O que seria contrato de adesão? É aquele que tem o conteúdo imposto por uma das partes. O estipulante impõe o conteúdo, em parte ou totalmente, ao aderente contratual. CUIDADO! Não se confunde o contrato de consumo com o contrato de adesão. O contrato de adesão não necessariamente é de consumo (Enunciado nº 171 da III Jornada de Direito Civil). Exemplo: contrato de franquia (recebe as exigências do McDonald’s), o contrato não é de consumo. O oposto do contrato de adesão é contrato paritário ou negociado. *#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: A franquia é um contrato empresarial e, em razão de sua natureza, não está sujeito às regras protetivas previstas no CDC. A relação entre o franqueador e o franqueado não é uma relação de consumo, mas sim de fomento econômico com o objetivo de estimular as atividades empresariais do franqueado. O franqueado não é consumidor de produtos ou serviços da franqueadora, mas sim a pessoa que os comercializa junto a terceiros, estes sim, os destinatários finais. A franquia não é um contrato de consumo (regido pelo CDC), mas, mesmo assim, é um contrato de adesão. 10 Segundo o art. 4º, §2º da Lei nº 9.307/96, nos contratos de adesão, a cláusula compromissória só terá eficácia se o aderente: • tomar a iniciativa de instituir a arbitragem; ou • concordar, expressamente, com a sua instituição, por escrito, em documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula. Todos os contratos de adesão, mesmo aqueles que não consubstanciam relações de consumo, como os contratos de franquia, devem observar o disposto no art. 4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96. Assim, é possível a instituição de cláusula compromissória em contrato de franquia, desde que observados os requisitos do art. 4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96. STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.076-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/9/2016 (Info 591). *#OUSESABER #DEOLHONOSCONCEITOS: Liberdade de contratar x Liberdade contratual. Apesar de ser expressões similares, referidos institutos são diferentes. A liberdade de contratar está relacionada com a escolha da pessoa ou das pessoas com quem o negócio jurídico será celebrado, sendo, em regra, uma liberdade plena. Em contrapartida, a liberdade contratual está relacionada com o conteúdo do negócio jurídico, sendo uma liberdade bem mais restrita, já que não se é admissível negócio jurídico cujo objeto seja ilícito. *#OUSESABER: O que é contrato cativo de longa duração? Conforme ensina a doutrinadora Cláudia Lima Marques, trata-se de uma série de novos contratos ou relações contratuais que utilizam os métodos de contratação de massa (através de contratos de adesão ou de condições gerais dos contratos) para fornecer serviços especiais de mercado, criando relações jurídicas complexas de longa duração, envolvendo uma cadeia de fornecedores organizados entre si e com uma característica dominante: a posição de "catividade" ou “dependência dos clientes". Um exemplo que pode ser citado são os contratos de seguro em geral, mormente os de plano de saúde. Tal expressão já foi utilizada expressamente pelo STJ, no informativo 441. Contrato de adesão Os arts. 423 e 424 são novidades em nosso ordenamento. Os contratos de adesão só surgiram em razão de uma consequência inevitável da massificação da economia (revolução industrial). É feito um contrato igual para todos, cujas condições não podem ser modificadas pelas partes. É claro: as lesões individuais do passado hoje foram substituídas pelas lesões coletivas. Por isso é que foi preciso substituiras ações individuais do passado, em que um único titular do direito subjetivo violado ingressava em juízo para restaurá-lo. Essa foi uma previsão de Capeletti: as ações “átomos”, em que há um único titular do direito subjetivo, vão ser substituídas pelas ações “moleculares”, que são as ações públicas, são os direitos difusos, os direitos coletivos. 11 Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente. Art. 424. Nos contratos de adesão são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio. Então, é possível colocar uma cláusula restritiva a direito num contrato de adesão, mas em destaque para que o aderente perceba a restrição ao seu direito (utilização do CDC por força da cláusula geral do art. 422, do CC). Ele possui as seguintes características: 1) Uniformidade: as cláusulas são gerais e homogêneas para todas as pessoas. 2) Predeterminação unilateral: o conteúdo do contrato é pré-determinado. 3) Rigidez: não há discussão sobre as cláusulas. 4) Superioridade material de uma das partes: essa característica está presente em quase todos os contratos de adesão. Não se pode confundir o contrato de adesão com o contrato obrigatório. O último é, não tanto um contrato, mas uma determinação da lei. EXEMPLO: contrato de seguro obrigatório (só é contrato no nome, mas não tem qualquer expressão de vontade; trata-se na verdade de uma imposição da lei). Enunciado nº 172 do CJF: Art. 424: As cláusulas abusivas não ocorrem exclusivamente nas relações jurídicas de consumo. Dessa forma, é possível a identificação de cláusulas abusivas em contratos civis comuns, como, por exemplo, aquela estampada no art. 424 do Código Civil de 2002. E o que se entende por autonomia privada? É o direito que a pessoa tem de regulamentar os próprios interesses, o que decorre dos princípios constitucionais da liberdade e da dignidade humana. No plano contratual, desdobra-se em dois conceitos. a) Liberdade de contratar: quando se contrata (agora) e quem se contrata (Banco do Brasil). b) Liberdade contratual: o que se contata e como se contrata – conteúdo, cláusulas. A autonomia privada não é absoluta, devendo ser mitigada pelas normas de ordem pública e sopesada com outros princípios. Ver art. 425 CC. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código. Contratos atípicos – sem regulamentação legal mínima. Devem ser respeitadas as normas 12 de ordem pública e outros princípios. Ex.: contrato de estacionamento (atípico misto – depósito e prestação de serviço). É comum a cláusula de não indenizar. Pode ser verbal (exemplo a plaquinha trazendo a cláusula). Essa cláusula é nula. O escopo do contrato é a segurança. Súmula nº 130, STJ – A empresa responde, perante o cliente, pela reparação de dano ou furto de veículo ocorridos em seu estacionamento. CUIDADO: se for roubo, o estacionamento não responde, salvo se for o bancário ou de consumo. ESTACIONAMENTO PRIVADO FURTO ESTACIONAMENTO EM RELAÇAO DE CONSUMO FURTO E ROUBO VALLET PARKING EM VIA PÚBLICA FURTO *#IMPORTANTE #AJUDAMARCINHO: SITUAÇÃO FORNECEDOR RESPONDE? EXPLICAÇÃO Furto ou roubo no cofre do banco que estava locado para guardar bens de cliente. SIM O roubo ou furto praticado contra instituição financeira e que atinge o cofre locado ao cliente constitui risco assumido pelo banco, sendo algo próprio da atividade empresarial, configurando, assim, hipótese de fortuito interno, que não exclui o dever de indenizar (REsp 1250997/SP, DJe 14/02/2013). Cliente roubado no interior da agência bancária. SIM Há responsabilidade objetiva do banco em razão do risco inerente à atividade bancária (art. 927, p. ún., CC e art. 14, CDC) (REsp 1.093.617-PE, DJe 23/03/2009). Cliente roubado na rua, após sacar dinheiro na agência. NÃO Se o roubo ocorre em via pública, é do Estado (e não do banco), o dever de garantir a segurança dos cidadãos e de evitar a atuação dos criminosos (REsp 1.284.962-MG, DJe 04/02/2013). Cliente roubado no estacionamento do banco. SIM O estacionamento pode ser considerado como uma extensão da própria agência (REsp 1.045.775-ES, DJe 04/08/2009). Roubo ocorrido no estacionamento privado que é oferecido pelo banco aos seus clientes e administrado por uma empresa privada. SIM Tanto o banco como a empresa de estacionamento tem responsabilidade civil, considerando que, ao oferecerem tal serviço especificamente aos clientes do banco, assumiram o dever de segurança em relação ao público 13 em geral (Lei 7.102/1983), dever este que não pode ser afastado por fato doloso de terceiro. Logo, não se admite a alegação de caso fortuito ou força maior já que a ocorrência de tais eventos são previsíveis na atividade bancária (AgRg nos EDcl no REsp 844.186/RS, DJe 29/06/2012). Cliente, após sacar dinheiro na agência, é roubado à mão armada em um estacionamento privado que fica ao lado, mas que não tem qualquer relação com o banco. NÃO Não haverá responsabilidade civil nem do banco nem da empresa privada de estacionamento. A empresa de estacionamento se responsabiliza apenas pela guarda do veículo, não sendo razoável lhe impor o dever de garantir a segurança e integridade física do usuário e a proteção dos bens portados por ele (REsp 1.232.795-SP, DJe 10/04/2013). Passageiro roubado no interior do transporte coletivo (ex.: ônibus, trem, etc.). NÃO Constitui causa excludente da responsabilidade da empresa transportadora o fato inteiramente estranho ao transporte em si, como é o assalto ocorrido no interior do coletivo (AgRg no Ag 1389181/SP, DJe 29/06/2012). Cliente roubado no posto de gasolina enquanto abastecia seu veículo. NÃO Tratando-se de postos de combustíveis, a ocorrência de roubo praticado contra clientes não pode ser enquadrado, em regra, como um evento que esteja no rol de responsabilidades do empresário para com os clientes, sendo essa situação um exemplo de caso fortuito externo, ensejando-se, por conseguinte, a exclusão da responsabilidade (REsp 1243970/SE, DJe 10/05/2012). Roubo ocorrido em veículo sob a guarda de vallet parking que fica localizado em via pública. NÃO No serviço de manobrista em via pública não existe exploração de estacionamento cercado com grades, mas simples comodidade posta à disposição do cliente. Logo, as exigências de garantia da segurança física e patrimonial do consumidor são menos contundentes do que aquelas atinentes aos estacionamentos de shopping centers e hipermercados (REsp 1.321.739-SP, DJe 10/09/2013). Furto ocorrido em veículo sob a guarda de vallet parking que fica localizado em via pública. SIM Nas hipóteses de furto, em que não há violência, permanece a responsabilidade, pois o serviço prestado mostra-se defeituoso, por não apresentar a segurança 14 legitimamente esperada pelo consumidor. Furto ou roubo ocorrido em veículo sob a guarda de vallet parking localizado dentro do shopping center. SIM A ocorrência de roubo não constitui causa excludente de responsabilidade civil nos casos em que a garantia de segurança física e patrimonial do consumidor é inerente ao serviço prestado pelo estabelecimento comercial. Tentativa de roubo ocorrida na cancela do estacionamento do shopping center. SIM A ocorrência de roubo não constitui causa excludente de responsabilidade civil nos casos em que a garantia de segurança física e patrimonial do consumidor é inerente ao serviço prestado pelo estabelecimento comercial (REsp 1269691/PB, DJe 05/03/2014). *Roubo ocorrido no estacionamento externo e gratuito NÃO * A Súmula 130 do STJ prevê o seguinte: a empresa responde, perante o cliente, pelareparação de DANO ou FURTO de veículo ocorridos em seu estacionamento. Em casos de roubo, o STJ tem admitido a interpretação extensiva da Súmula 130 do STJ, para entender que há o dever do fornecedor de serviços de indenizar, mesmo que o prejuízo tenha sido causado por roubo, se este foi praticado no estacionamento de empresas destinadas à exploração econômica direta da referida atividade (empresas de estacionamento pago) ou quando o estacionamento era de um grande shopping center ou de uma rede de hipermercado. Por outro lado, não se aplica a Súmula 130 do STJ em caso de roubo de cliente de lanchonete fast-food, se o fato ocorreu no estacionamento externo e gratuito por ela oferecido. Nesta situação, tem-se hipótese de caso fortuito (ou motivo de força maior), que afasta do estabelecimento comercial proprietário da mencionada área o dever de indenizar. Logo, a incidência do disposto na Súmula 130 do STJ não alcança as hipóteses de crime de roubo a cliente de lanchonete praticado mediante grave ameaça e com emprego de arma de fogo, ocorrido no estacionamento externo e gratuito oferecido pelo estabelecimento comercial. STJ. 3ª Turma. REsp 1.431.606-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 15 15/08/2017 (Info 613). #IMPORTANTE 2.2. PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO Qual a diferença entre conceito aberto e cláusula geral? Conceito aberto consiste simplesmente naquele conceito de conteúdo indeterminado ou fluídico, a ser preenchido no caso concreto, a exemplo da expressão justa causa (Arruda Alvin trata como conceito vago). Cláusula geral, a par de compreender o conceito aberto, traduz uma disposição normativa impositiva ao juiz de modo a conferir-lhe um mandado, uma determinação, em sua aplicação ao caso concreto (ex.: boa-fé objetiva). 1) Conceito: é uma cláusula geral de natureza principiológica. A função social do contrato é entendida como um princípio limitativo da autonomia privada, pois se vive atualmente uma época de responsabilidade solidária. Orlando Gomes: função quer dizer finalidade; social quer dizer coletiva. Finalidade coletiva do contrato. Miguel Reale foi o responsável por colocar esse princípio no CC. Ele dizia que o contrato não deveria atender apenas aos interesses das partes, mas de toda a coletividade. Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato *#ATENÇÃO. Os arts. 421 e 423 foram alterados pela MP 881/19 que Institui a Declaração de Direitos de Liberdade Econômica. “Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato, observado o disposto na Declaração de Direitos de Liberdade Econômica. Parágrafo único. Nas relações contratuais privadas, prevalecerá o princípio da intervenção mínima do Estado, por qualquer dos seus poderes, e a revisão contratual determinada de forma externa às partes será excepcional.” (NR) “Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas que gerem dúvida quanto à sua interpretação, será adotada a mais favorável ao aderente. Parágrafo único. Nos contratos não atingidos pelo disposto no caput, exceto se houver disposição específica em lei, a dúvida na interpretação beneficia a parte que não redigiu a cláusula controvertida.” (NR) Para Flávio Tartuce o Código Civil de 2002 trouxe, como uma das suas principais inovações, a preocupação de tutela do aderente como vulnerável contratual, não importando a sua posição econômica frente ao estipulante. Além da interpretação que lhe é favorável, prevista no dispositivo em estudo, o art. 424 da codificação privada estabelece a nulidade absoluta de qualquer cláusula de renúncia prévia a direito que resulte da própria natureza do negócio jurídico celebrado 16 A referida MP também incluiu dois novos artigos no final da Teoria Geral dos Contratos no Código Civil: “Art. 480-A. Nas relações interempresariais, é licito às partes contratantes estabelecer parâmetros objetivos para a interpretação de requisitos de revisão ou de resolução do pacto contratual.” (NR) “Art. 480-B. Nas relações interempresariais, deve-se presumir a simetria dos contratantes e observar a alocação de riscos por eles definida.” (NR) Para Tartuce na conversão da MP, os arts. 480-A e 480-B devem ser suprimidos, pois para ele não há qualquer necessidade de trazer regras próprias para os contratos empresariais, quando doutrina e jurisprudência já encontram certa estabilidade, na interpretação do Código Civil de 2002, no sentido de afastar a intervenção nesses negócios, especialmente se assumirem a forma paritária. Art. 2.035. A validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituídos antes da entrada em vigor deste Código, obedece ao disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, mas os seus efeitos, produzidos após a vigência deste Código, aos preceitos dele se subordinam, salvo se houver sido prevista pelas partes determinada forma de execução. 2) Conceito: princípio contratual de ordem pública (art. 2.035 CC), pelo qual o contrato deve ser, necessariamente, interpretado/visualizado de acordo com o contexto da sociedade. O principal impacto desse conceito é a mitigação ou relativização da autonomia privada e da força obrigatória do contrato (pacta sunt servanda). Obs.: exame oral da MAGISTRATURA FEDERAL – 3ª região: Quais os dois erros técnicos do art. 421 CC? Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato. Esses dois erros foram observados pelos professores Junqueira e Villaça e constam no Projeto de Lei nº 699/2011: 1º) a função social do contrato não limita a liberdade de contratar, mas a liberdade contratual; 2º) função social não é a razão do contrato, mas sim limite ao conteúdo. A razão do contrato é a autonomia privada. Corrigindo ficaria: A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato. Sob essa ótica da função social do contrato, o contrato teria eficácia interna e externa (entendimento majoritário da doutrina e jurisprudência). Dupla eficácia. a) Eficácia interna ou intersubjetiva: entre as partes. Enunciado 36 IV Jornada. Aplicações: a.1) Proteção da dignidade da pessoa humana no contrato. Enunciado 23, I Jornada (CESPE adora esse enunciado): A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, não elimina o princípio da autonomia contratual, mas atenua ou reduz o alcance desse princípio quando presentes interesses 17 metaindividuais ou interesse individual relativo à dignidade da pessoa humana. Ex.: cláusula de celibato – proibição de casar (Canotilho); a.2) Vedação da onerosidade excessiva (desequilíbrio contratual). Efeito gangorra; a.3) Nulidade de cláusulas antissociais. Súmula 302, STJ – É abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que limita no tempo a internação hospitalar do segurado. a.4) Conservação contratual: a extinção do contrato é a última ratio. Enunciado 22, I Jornada: A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, constitui cláusula geral que reforça o princípio de conservação do contrato, assegurando trocas úteis e justas. Ex.: Teoria do adimplemento substancial (substantial performance): quando o contrato for quase todo cumprido, sendo a mora, não caberá a sua extinção, mas apenas outros efeitos como a cobrança. A análise é quantitativa e qualitativa. O percentual dependerá do caso concreto. *#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: Informativo 500 do STJ – ARRENDAMENTO MERCANTIL. REINTEGRAÇÃO DE POSSE. ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL. Trata-se de REsp oriundo de ação de reintegração de posse ajuizada pela ora recorrente em desfavor do recorrido por inadimplemento de contrato de arrendamento mercantil (leasing) para a aquisição de 135 carretas. A Turma reiterou, entreoutras questões, que, diante do substancial adimplemento do contrato, qual seja, foram pagas 30 das 36 prestações da avença, mostra-se desproporcional a pretendida reintegração de posse e contraria princípios basilares do Direito Civil, como a função social do contrato e a boa-fé objetiva. Ressaltou-se que a teoria do substancial adimplemento visa impedir o uso desequilibrado do direito de resolução por parte do credor, preterindo desfazimentos desnecessários em prol da preservação da avença, com vistas à realização dos aludidos princípios. Assim, tendo ocorrido um adimplemento parcial da dívida muito próximo do resultado final, daí a expressão “adimplemento substancial”, limita-se o direito do credor, pois a resolução direta do contrato mostrar-se-ia um exagero, uma demasia. Dessa forma, fica preservado o direito de crédito, limitando-se apenas a forma como pode ser exigido pelo credor, que não pode escolher diretamente o modo mais gravoso para o devedor, que é a resolução do contrato. Dessarte, diante do substancial adimplemento da avença, o credor poderá valer-se de meios menos gravosos e proporcionalmente mais adequados à persecução do crédito remanescente, mas não a extinção do contrato. Precedentes citados: REsp 272.739-MG, DJ 2/4/2001; REsp 1.051.270-RS, DJe 5/9/2011, e AgRg no Ag 607.406-RS, DJ 29/11/2004. REsp 1.200.105-AM, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 19/6/2012. a.5) Proteção do vulnerável contratual. Protege o aderente. 18 Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente (prevê a interpretação contratual pro aderente). Se tiver dois prazos para pagamento – prazo maior prevalece. Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio (nos contratos de adesão são nulas as cláusulas de renúncia de direito inerente ao negócio, exemplo: cláusula de não indenizar em contrato de segurança, guarda). O fiador que renuncia ao benefício de ordem. Se for no contrato de adesão, a renúncia é nula. Ex.: cláusula penal (redução de ofício pelo juiz). Outro exemplo é uma cláusula que impeça a teoria da imprevisão. OBS.: contratos que violam o princípio da função social são contratos nulos de pleno direito (art. 2035, § ú do CCB – Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos). Chamada por alguns de nulidade virtual (aquela implícita, depreendendo-se da função da norma na falta de sanção expressa). b) Eficácia externa ou transobjetiva: além das partes. O contrato também gera efeitos perante terceiros. Trata- se de uma extensão ao princípio da relatividade dos efeitos contratuais (que dá a ideia de que os contratos geram efeitos somente entre as partes). Enunciado 21, I Jornada. Aplicações: b.1) Tutela de direitos difusos e coletivos. Ex.: função socioambiental do contrato. Propriedade ribeirinha onde tiro areia e vendo para loja de material de construção. É bom para as duas partes, mas é prejudicial à sociedade por causar desequilíbrio ecológico. b.2) Tutela externa do crédito. Possibilidade de o contrato gerar efeitos perante terceiros ou de condutas de terceiros repercutirem no contrato. Ex.: Teoria do terceiro cúmplice. Art. 608, do CC. Aquele que aliciar – BRAHMA – pessoas obrigadas em contrato escrito – ZECA PAGODINHO – a prestar serviço a outrem – NOVA SCHIN – pagará a este – NOVA SCHIN – a importância que ao prestador de serviço, pelo ajuste desfeito, houvesse de caber durante dois anos. Ex.: Caso do Zeca Pagodinho. Havia um contrato entre a Nova Schin e Pagodinho. A Brahma aliciou Zeca e o contrato foi rescindido e ele voltou para a Brahma. Não existe nenhuma relação entre Nova Schin e Brahma. No entanto, a Brahma foi responsabilizada por ter violado o princípio da função social do contrato por ter aliciado o Zeca. 2.3. PRINCÍPIO DA FORÇA OBRIGATÓRIA DO CONTRATO (PACTA SUNT SERVANDA) Continua tendo aplicação o princípio pelo qual o contrato faz lei entre as partes. Porem, esse princípio é fortemente relativizado pelos princípios da boa-fé objetiva e da função social do contrato. 19 2.4. BOA FÉ OBJETIVA3 Histórico: a primeira fonte histórica encontra-se no direito romano dando uma ideia de comportamento individual ético (Cícero). O direito romano foi absorvido pelo direito alemão, de forma que o BGB reconstruiu e consagrou a ideia do princípio da boa-fé objetiva. O BGB tratou no §242, consagrando uma expressão “treu und glauben” (lealdade e confiança), traduzida juridicamente como boa-fé objetiva. O Direito Alemão é o berço dessa influência no Brasil, que está no art. 422 do CC/02. A BOA-FÉ OBJETIVA É INFLUÊNCIA DOS ALEMÃES. É cláusula geral I. Conceito Trata-se de uma evolução do conceito de boa-fé, que saiu do plano intencional (boa-fé subjetiva) para o plano de lealdade das partes (boa-fé objetiva). É o desdobramento de uma máxima cristã que diz que não basta ser bem intencionado, pois de bem intencionados o inferno está cheio. Exigência de um comportamento de lealdade das partes contratuais em todas as fases do contrato. Há, no direito privado, dois tipos de boa-fé: a) Boa-fé subjetiva: é um estado psicológico. É a boa-fé do: “eu não sabia”, ou seja, o indivíduo ignora o possível vício. Ex.: posse de boa-fé. Ex: possuidor de boa-fé, casamento putativo. b) Boa-fé objetiva: é uma boa conduta. É a boa-fé concreta. É a presente no plano dos contratos. Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. A boa-fé objetiva é relacionada aos deveres anexos, laterais ou secundários. Tais deveres são aqueles ínsitos a qualquer contrato, sem a necessidade de previsão no instrumento. Ex.: dever de cuidado, de respeito, de informação, lealdade, colaboração, transparência, confiança. A quebra desses deveres gera uma terceira modalidade de inadimplemento (os dois primeiros são absoluto e relativo), denominada violação positiva do contrato. Essa violação pode ocorrer nas fases pré e pós-processual e a parte pode cumprir os deveres principais e violar os anexos. Ex.: locatório que devolver o imóvel pintado de preto. O contrato não dizia a cor que deveria estar pintado. Cumpriu o principal? Sim. Violou, no entanto, o dever de respeito, colaboração. 3 A banca FCC, na prova da DPE-BA, considerou correta, sobre o princípio da boa-fé, a seguinte alternativa: “A boa-fé, como cláusula geral contemplada pelo Código Civil de 2002, apresenta indeterminação em sua fattispecie a fim de permitir ao intérprete a incidência da hipótese normativa a diversos comportamentos do mundo do ser que não poderiam ser exauridos taxativamente no texto legal.” 20 Enunciado 24 da 1ª JDC: Art. 422. Em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do novo Código Civil, a violação dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa – responsabilidade objetiva. II. Funções: a) Interpretativa: Os contratos devem ser interpretados de maneira mais favorável a quem está de boa-fé. Presume-se que o consumidor e o aderente estão de boa-fé. Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. Regra de tráfego – aquilo que é comum no plano nos negócios. b) De controle ou reativa: aquele que viola a boa-fé objetiva no exercício de um direito comete abuso de direito, ou seja, um ilícito. Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seufim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. c) Integradora: a boa-fé objetiva deve integrar todas as fases contratuais – pré-contratual, contratual e pós. O artigo não fala em pré. Crítica. Doutrina e jurisprudência aplicam. Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. Enunciados 25 e 170 – SEMPRE VÊM EM PROVA. Um dirigido ao juiz e o outro às partes. Enunciado 25 – Art. 422: o art. 422 do Código Civil não inviabiliza a aplicação pelo julgador do princípio da boa- fé nas fases pré-contratual e pós -contratual. Enunciado 170 – Art. 422: A boa-fé objetiva deve ser observada pelas partes na fase de negociações preliminares e após a execução do contrato, quando tal exigência decorrer da natureza do contrato. *#ESQUEMATIZANDO:4 FUNÇÕES DA BOA-FÉ OBJETIVA TELEOLÓGICA OU INTERPRETATIVA (art. 133, CC): a função interpretativa da boa-fé, a mais utilizada pela jurisprudência, serve de ORIENTAÇÃO PARA O JUIZ, devendo este sempre PRESTIGIAR, diante das convenções e contratos, a TEORIA DA CONFIANÇA, Exemplo na jurisprudência: as expressões “assistência integral e cobertura total” são manifestações que tem significado unívoco na compreensão comum e, não podem ser referidas num contrato de seguro de saúde, esvaziadas de seu conteúdo próprio, sem que 4 Tabela retirada do Livro “Coleção Leis Especiais para Concursos” – Direito do Consumidor – de Leonardo de Medeiros Garcia. 21 segundo a qual as PARTES AGEM COM LEALDADE na busca do adimplemento contratual. isso afronte o princípio da boa-fé na avença. CONTROLE OU LIMITADORA DE DIREITOS (art. 187, CC): a função de controle da boa-fé visa EVITAR O ABUSO DO DIREITO SUBJETIVO, limitando condutas e práticas comerciais abusivas, REDUZINDO, de certa forma, a AUTONOMIA DOS CONTRATANTES. Exemplo na jurisprudência: “INDEPENDENTEMENTE DE EXPRESSA PREVISÃO LEGAL, posterior ao contrato, a cláusula que nega cobertura ao segurado em caso de prorrogação da internação, fora do seu controle, é abusiva, pois não pode a estipulação contratual ofender o princípio da razoabilidade, anotando-se que a regra protetiva do CDC veda a contratação de obrigações incompatíveis com a boa-fé e a equidade”. INTEGRATIVA OU CRIADORA DE DEVERES LATERAIS/ANEXOS (art. 422, CC): a função insere NOVOS DEVERES para as partes diante das relações de consumo, pois além da verificação da obrigação principal, surgem NOVAS CONDUTAS A SEREM TAMBÉM OBSERVADAS. A violação a qualquer dos deveres anexos implica em inadimplemento contratual. #GANCHO: VIOLAÇÃO POSITIVA DO CONTRATO ou ADIMPLEMENTO RUIM. Exemplo na jurisprudência: “O DEVER DE INFORMAÇÃO e, por conseguinte, o DE EXIBIR A DOCUMENTAÇÃO que a contenha, é obrigação decorrente de lei, de integração contratual compulsória. Não pode ser objeto de recusa nem de boa-fé objetiva.” Hermann Staub, em 1902, denominou violações positivas do contrato essas expressões do inadimplemento. Karl Larenz, em 1953, alargou a denominação para violações positivas do crédito (ou pretensão), por entender que sua aplicação extrapola o âmbito dos contratos. Pontes de Miranda sugere extensão ainda maior: violações positivas do negócio jurídico e atos jurídicos stricto sensu. Exemplos de função integradora – em todas as fases. Exemplo 1: Caso dos tomates: empresa CICA distribuía sementes aos agricultores gaúchos e ela comprava os tomates a eles. Anos e anos fazendo isso. Em um certo ano, a CICA distribuiu as sementes, mas depois sumiu. Houve perda da produção e os agricultores foram indenizados por quebra do dever de confiança – pré- contratual. Exemplo 2: A boa-fé objetiva vence a hipoteca. Súmula 308: A hipoteca firmada entre a construtora e o agente financeiro, anterior ou posterior à celebração da promessa de compra e venda, não tem eficácia perante os adquirentes do imóvel, desde que esteja de boa-fé. 22 Exemplo 3: Fase pós-contratual. Diante do dever de colaboração há a seguinte consequência: o credor tem o dever de retirar o nome do devedor de cadastro negativo, no prazo de 5 dias úteis, após acordo ou pagamento da dívida. Pergunta: os contratos realizados durante a vigência do Código de 1916 poderão ser relidos segundo os princípios da boa-fé e da função social dos contratos? A resposta será dada pelo STF por ocasião do julgamento da ADI contra o art. 2.035, do CC5. Art. 2.035, CC. A validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituídos antes da entrada em vigor deste Código, obedece ao disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, mas os seus efeitos, produzidos após a vigência deste Código, aos preceitos dele se subordinam, salvo se houver sido prevista pelas partes determinada forma de execução. Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos. III. Conceitos parcelares da boa fé objetiva Funções reativas ou parcelares do princípio da boa-fé objetiva: O que são as “figuras parcelares”, “funções reativas” ou “desdobramentos da boa-fé objetiva“? São conceitos intimamente ligados à boa-fé objetiva, havendo quem diga que sejam subprincípios. a) Supressio: perda de um direito ou de uma posição jurídica pelo seu não exercício no tempo. Haveria uma perda por renúncia tácita. b) Surrectio: é o surgimento de um direito diante de práticas, usos e costumes. Simão diz que é o outro lado da moeda da supressio. Um perde e o outro ganha. Ex.1: Art. 330. O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato. O devedor começa a reiteradamente pagar no centro da cidade de SP, embora o local de origem seja Carapicuíba. Há uma supressio em relação ao credor e uma surrectio em relação ao devedor. Ex.2: Informativo 478 STJ – aplicou surrectio em contrato de mandato, entendendo que houve renúncia tácita em relação à correção monetária. O contrato de honorários previa a correção monetária, mas o escritório de advocacia passou seis anos sem cobrar. Mesmo dentro do prazo prescricional houve uma supressio, pela omissão no exercício do direito. Essas aquisições e restrições (prescrição), em nosso ordenamento jurídico, somente são admitidas mediante expressa disposição de lei, como se vê no art. 1.238 que trata da aquisição de propriedade pela usucapião 5 Ver ponto “15. O NOVO CÓDIGO CIVIL E OS CONTRATOS CELEBRADOS ANTES DA SUA VIGÊNCIA”, no final do arquivo. 23 extraordinária, bem como pelos arts. 205 e 206, do Código Civil, que tratam de prescrição extintiva, uma vez que a prescrição consiste na aquisição ou extinção de direitos, pelo decurso do tempo. É admitido, outrossim, a aquisição ou perda de direitos – “surrectio” ou “supressio”, respectivamente – pelo transcurso do tempo, em nosso ordenamento jurídico, desde que a ela se relacione uma situação de confiança, investida numa relação jurídica. Portanto, o transcurso de tempo, como forma de aquisição ou perda de um direito, afora das previsões legais, somente é possível mediante a conjugação do “venire contra factum proprium non potest”. *#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STJ: A Lei nº 10.209/2001 estabelece que a empresa que contratar uma empresa de transporte rodoviário deverá pagar, de forma antecipada e separada, os valores que o transportador terá que arcar com os pedágios nas estradas. Esse pagamento é chamado de Vale-Pedágio. O art. 8º da Lei prevê que o embarcador/contratante que não pagar ao transportador o valor do pedágio estará sujeito a uma multa equivalente ao dobro do valor do frete. Essa multa é conhecida como “dobrado frete”. A obrigação de pagamento antecipado do Vale-Pedágio previsto pela Lei nº 10.209/2001 é norma cogente que não admite o instituto da supressio. Isso significa que, mesmo que o transportador não tenha cobrado o pagamento antecipado do pedágio durante longo período, ele não perde o direito de exigir essa quantia. Além disso, a dobra do frete (art. 8º da Lei nº 10.209/2001) é uma sanção legal, de caráter especial, razão pela qual não é possível a convenção das partes para lhe alterar o conteúdo e também não é possível a sua redução com base no art. 412 do CC. STJ. 3ª Turma. REsp 1.694.324-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Moura Ribeiro, julgado em 27/11/2018 (Info 640). c) Tu quoque: quer dizer “até tu?” (até tu, Brutus?). Traduz a regra de ouro da boa-fé. Não faça como outro o que você não faria contra si mesmo. É um conceito decorrente da boa-fé objetiva que visa a impedir que uma das partes na relação negocial surpreenda a outra, colocando-a em situação injusta de desvantagem. Ex.: exceptio non adimpleti contractus (exceção de contrato não cumprido). Significa que um contratante que violou uma norma jurídica não poderá, sem a caracterização do abuso de direito, aproveitar-se dessa situação anteriormente criada pelo desrespeito – o sujeito não se pode valer da própria torpeza. Obs.: o que é a exceção de contrato não cumprido? Conceito: trata-se de uma defesa indireta de mérito, que a parte demandada opõe justificando o seu direito de não cumprir a prestação pactuada enquanto o demandante não adimplir a sua obrigação. Disciplinada a partir do art. 476 do CCB: Art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro. Art. 477. Se, depois de concluído o contrato, sobrevier a uma das partes contratantes diminuição em seu patrimônio capaz de comprometer ou tornar duvidosa a prestação pela qual se obrigou, pode a outra recusar-se 24 à prestação que lhe incumbe, até que aquela satisfaça a que lhe compete ou dê garantia bastante de satisfazê- la. Caso a primeira prestação seja cumprida de forma imperfeita, o demandado pode sim se defender alegando a exceptio non adimpleti contractus. A cláusula solve et repete ressalva a exceção de contrato não cumprido, uma vez que, se convencionada, o contratante estará renunciando à defesa, podendo ser compelido a pagar, independentemente do cumprimento da primeira prestação. Ex.: isso é comum nos contratos administrativos. A cláusula "solve et repete", significa "pague e depois reclame", é a que se estabelece em um contrato com o objetivo de tornar a exigibilidade de sua prestação a qualquer intenção contrária do devedor, sendo que o mesmo só poderá reclamar desta em outra ação, visando assim o pagamento ao credor sem outra oposição. A “solve et repete” é uma renúncia à “exceptio non adimpleti contractus”. d) Exepctio doli: excepctio é defesa e doli é dolo. É a defesa contra o dolo alheio. Ex.: exceção do contrato não cumprido. Ex.: Art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro. e) Venire contra factum proprium non potest: é a vedação de comportamento contraditório. Requisitos: 1) comportamento anterior; 2) comportamento posterior; 3) ausência de justa causa; e 4) dano ou receio de dano. Ex.: REsp 95.539/SP. Marido vendeu imóvel sem outorga da esposa (causa de anulabilidade. No CC/16 era causa de nulidade). Em uma ação ela disse que concordou implicitamente com o venda. Posteriormente entra com uma ação de nulidade da venda. Qual a diferença com supressio? Supressio trabalha com omissão e no venire tem que ter pelo menos um ato positivo. Tem matriz histórica na Idade Média. Trata-se de uma regra conhecida em nível teórico como “doutrina dos atos próprios”. Veio essa expressão numa questão que você fez. No CC há regras que aplicam o venire, como por exemplo, o art. 180 (Art. 180. O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior). No STJ, já existe aplicação do venire (Ag. Reg no REsp 396.489/PR e REsp 95539/SP). O professor Aldemiro Resende, em obra dedicada ao estudo do 25 venire, observa que não haverá violação à regra se o segundo comportamento realizado, aparentemente contraditório, for justificado. Obs.: no direito internacional é comum a consagração do venire por meio da denominada cláusula de stoppel. f) Duty to mitigate the loss: a origem é a Convenção de Viena sobre compra e venda. Art. 77. Enunciado 169, III Jornada – a boa-fé objetiva impõe ao credor o dever de mitigar o próprio prejuízo. Ex.: TJRS e TJMS: vigente um mútuo bancário, o banco não ingressa imediatamente com ação de cobrança para que a dívida cresça como bola de neve, em razão dos juros. Como o banco violou a boa-fé, os juros podem ser reduzidos. Ex.: compromisso de compra e venda – demorou muito tempo para entrar com a ação para retomar o bem. Informativo 439 STJ. *#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: A cláusula contratual que impõe ao comprador a responsabilidade pela desocupação de imóvel que lhe é alienado pela CEF não é abusiva. Não há abusividade porque a alienação se dá por preço consideravelmente inferior ao valor real do imóvel, exatamente pela situação peculiar que o imóvel possa se encontrar. A obrigação do adquirente de ter que tomar medidas para que o terceiro desocupe o imóvel é um ônus que já é informado pela CEF aos interessados antes da contratação. Tal informação consta expressamente no edital de concorrência pública e no contrato que é celebrado. A rápida alienação do imóvel, no estado em que se encontre, favorece o SFH porque libera recursos financeiros que serão revertidos para novas operações de crédito em favor de famílias sem casa própria. Por essas razões, não se mostra iníqua ou abusiva, não acarreta exagerada desvantagem para o adquirente nem cria situação de incompatibilidade com os postulados da boa-fé e da equidade a cláusula contratual que impõe ao adquirente a responsabilidade pela desocupação do imóvel. STJ. 3ª Turma. REsp 1.509.933-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 4/10/2016 (Info 592). 2.5. PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE DOS EFEITOS CONTRATUAIS (RES INTER ATIOS) Embora não conste em dispositivo legal específico (diferentemente do código da França, em seu art. 1165), esse princípio traduz a regra fundamental em nosso direito de que um contrato só deverá ter repercussão jurídica entre as próprias partes contratantes. Não se reveste daquela oponibilidade erga omnes que caracteriza os direitos reais, ao contrário, os contratos são sempre relativos, são erga singulum. Entretanto, vale mencionar que tal princípio não é absoluto, uma vez que a doutrina, em determinadas situações, reconhece uma eficácia transubjetiva do contrato (para além dos sujeitos contratantes). Ex.: art. 17 26 do CDC (terceiro equiparado ou bystander); algumas figuras contratuais também são exemplos que excepcionam a regra de que um contrato só repercute juridicamente entre as próprias partes: Em regra, o contrato gera efeitos entre as partes contratantes. Há exceções: 1) Função social do contrato (eficácia externa): Transubjetividade jurídica da dimensão ética do negócio, especialmente para coibir interferência indevida de terceiro. O professor Antônio Junqueira de Azevedo denomina essa proteção necessária contra ingerência de terceiro de tutela externa do crédito. A Professora Judith Martins Costa, em um artigo, tratou do caso do Zeca Pagodinho. Obs.: na linha de pensamento da professora Judith Martins Costa, o princípio da relatividade dos efeitos do contrato não é um dogma absoluto, uma vez quese deve reconhecer, invocando Junqueira de Azevedo (USP), que todo contrato experimenta uma tutela externa do crédito, ou seja, existe uma eficácia ética transubjetiva visando a protegê-lo da interferência de terceiros (tort of induction). 2) Contrato com pessoa a declarar: Surgiu na Idade Média. Era muito vergonhoso para os nobres comparecerem à praça para fazer o contrato e também era vergonhoso fazer um contrato de mandato. Atualmente esse contrato é mais uma cláusula do que um contrato em si. EXEMPLO 01: no contrato de compra e venda, uma das partes pode indicar quem é a pessoa que vai assumir o contrato. EXEMPLO 02: no contrato de locação que conste a pessoa que irá assumir (o locador somente celebraria o contrato com pessoa jurídica e o locatário ainda não tinha constituído a pessoa jurídica). Não se trata de uma cessão contratual. Segundo ORLANDO GOMES, trata-se de um contrato em que se introduz a cláusula PRO AMICO ELIGENDO ou PRO AMICO ELECTO, por meio da qual uma das partes se reserva a faculdade de indicar quem irá assumir a posição de contratante. Art. 467. No momento da conclusão do contrato, pode uma das partes reservar-se a faculdade de indicar a pessoa que deve adquirir os direitos e assumir as obrigações dele decorrentes. Art. 468. Essa indicação deve ser comunicada à outra parte no prazo de cinco dias da conclusão do contrato, se outro não tiver sido estipulado. Parágrafo único. A aceitação da pessoa nomeada não será eficaz se não se revestir da mesma forma que as partes usaram para o contrato. 27 Art. 470. O contrato será eficaz somente entre os contratantes originários: I - se não houver indicação de pessoa, ou se o nomeado se recusar a aceitá-la; II - se a pessoa nomeada era insolvente, e a outra pessoa o desconhecia no momento da indicação. Art. 469. A pessoa, nomeada de conformidade com os artigos antecedentes, adquire os direitos e assume as obrigações decorrentes do contrato, a partir do momento em que este foi celebrado. Art. 471. Se a pessoa a nomear era incapaz ou insolvente no momento da nomeação, o contrato produzirá seus efeitos entre os contratantes originários. * 3) Estipulação em favor de terceiro. Ex.: seguro de vida. (art. 436 a 438). As partes são segurado e seguradora e o terceiro, que não é parte, pode exigir o cumprimento. Os efeitos saem do contrato. 3.1 Figuras: - estipulante - promitente - seguradora - beneficiária (pode ser qualquer pessoa, não necessariamente capaz – atentar para a legitimidade, pois concubina não pode ser beneficiária em contrato de seguro (CC, art. 793)). 3.2 Natureza jurídica Prevalece que se trata de contrato sui generis, pelo fato de a prestação não ser realizada em favor do próprio estipulante, como seria natural. 3.3 Peculiaridades Não é necessária a concordância do beneficiário para a perfectibilização do contrato, mas ele pode recusar, o que tira a eficácia, e não a validade do contrato. O terceiro não precisa ser determinado, basta ser determinável. Art. 436. O que estipula em favor de terceiro pode exigir o cumprimento da obrigação. Parágrafo único. Ao terceiro, em favor de quem se estipulou a obrigação, também é permitido exigi-la, ficando, todavia, sujeito às condições e normas do contrato, se a ele anuir, e o estipulante não o inovar nos termos do art. 438. 28 Art. 437. Se ao terceiro, em favor de quem se fez o contrato, se deixar o direito de reclamar-lhe a execução, não poderá o estipulante exonerar o devedor. Art. 438. O estipulante pode reservar-se o direito de substituir o terceiro designado no contrato, independentemente da sua anuência e da do outro contratante. Parágrafo único. A substituição pode ser feita por ato entre vivos ou por disposição de última vontade. *#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. ADMISSIBILIDADE. RECONHECIMENTO DE CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE VEÍCULO COM ESTIPULAÇÃO EM FAVOR DE TERCEIRO. OBJETO LÍCITO. VALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO. CONDUTA DE RESERVA MENTAL. IMPOSSIBILIDADE DE RECONHECIMENTO. SÚMULA 7/STJ.INCIDÊNCIA. - Se o acórdão recorrido estabeleceu que a recorrente “não perseguiu os fatos na busca da verdade real em flagrante conduta de reserva mental”, sua irresignação, quanto à violação do art. 110 do CC/02, esbarra na Súmula 7/STJ, pois a desconstituição desse entendimento implica o reexame dos elementos de prova constantes dos autos. – Na estipulação em favor de terceiro, tanto o estipulante quanto o beneficiário podem exigir do devedor o cumprimento da obrigação (art. 436, par. único, do CC/02 ou art. 1.098, par. único, do CC/1916). Com isso, o terceiro, até então estranho à relação obrigacional originária, com ela consente e passa efetivamente a ter direito material à prestação que lhe foi prometida. Nessas situações nem mesmo o estipulante pode lhe retirar o direito de pleitear a execução do contrato (art. 437 do CC/02). - Na hipótese específica dos autos, entende-se que a recorrente (promitente) não teria o direito de pleitear a resolução do contrato, mesmo que a empresa (estipulante) não tenha cumprido a sua parte na convenção, pelas seguintes razões: a) a recorrida (beneficiário) consentiu e aderiu de boa-fé à relação obrigacional;b) com a adesão, a recorrida adquiriu o direito material à prestação prometida; c) a recorrida possui um direito de ação próprio, autônomo, podendo exigir diretamente do promitente a prestação, sem a necessidade de interferência do estipulante; d) com a adesão da recorrida (beneficiário), o promitente não tem a faculdade de privá-la do seu direito, o que ocorreria por via indireta se admitida a resolução do contrato; e e) a resolução do contrato tornaria sem efeito o direito do beneficiário já incorporado ao seu patrimônio jurídico – Não há de se confundir inadimplemento contratual com ilicitude do objeto contratado. Como o acórdão recorrido confirmou tratar-se de um contrato cujo objeto seria a compra e venda de veículo em favor de terceiro, sem levantar qualquer dúvida sobre sua validade, pode-se concluir que a formação contratual não se deu com ofensa à lei e à moral. Ademais, considerando que a recorrente tem como atividade comercial a importação e exportação de veículos, não seria inoportuno consignar que a celebração desse tipo de contrato seria prática comum e rotineira. Recurso especial não provido. (REsp 1086989/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 23/02/2010, DJe 05/03/2010). 4) Promessa de fato de terceiro (art. 439 e 440). Ex.: Promessa de um show de um cantor que não comparece. Aquele que fez a promessa vai responder. É a situação oposta – os efeitos são de fora para dentro do contrato – endógenos. 29 O único vinculado é o que promete, assumindo obrigação de fazer que, não sendo executada, resolve-se em perdas e danos. Uma vez se obrigando o terceiro, o promitente resta desobrigado. Art. 439. Aquele que tiver prometido fato de terceiro responderá por perdas e danos, quando este o não executar. Parágrafo único. Tal responsabilidade não existirá se o terceiro for o cônjuge do promitente, dependendo da sua anuência o ato a ser praticado, e desde que, pelo regime do casamento, a indenização, de algum modo, venha a recair sobre os seus bens. Art. 440. Nenhuma obrigação haverá para quem se comprometer por outrem, se este, depois de se ter obrigado, faltar à prestação. 3. FORMAÇÃO DOS CONTRATOS O professor segue Darcy, Stolze, etc. São quatro fases. 1. Negociações preliminares 2. Proposta, policitação ou oblação 3. Contrato preliminar 4. Contrato definitivo Obs.: os efeitos jurídicos são crescentes nessas quatro fases. 3.1. FASE DE NEGOCIAÇÕES PRELIMINARES OU PONTUAÇÃO Ocorrem os debates prévios, visando ao contrato definitivo. Ex.: carta de intenções ou acordo de cavalheiros. Isso não tem força vinculativa. Aliás,essa fase não está tratada no CC. É uma proposta não formalizada. Porém, havendo quebra da boa-fé objetiva (caso dos tomates), poderá surgir uma responsabilização pré-contratual. Obs.: essa responsabilidade teria natureza contratual ou extracontratual? É extracontratual. É o entendimento majoritário. Maria Helena, Junqueira, Bittar, Zanetti. 30 *#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: Informativo 507 do STJ: DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL PRÉ- CONTRATUAL. A parte interessada em se tornar revendedora autorizada de veículos tem direito de ser ressarcida dos danos materiais decorrentes da conduta da fabricante no caso em que esta — após anunciar em jornal que estaria em busca de novos parceiros e depois comunicar àquela a avaliação positiva que fizera da manifestação de seu interesse, obrigando-a, inclusive, a adiantar o pagamento de determinados valores — rompa, de forma injustificada, a negociação até então levada a efeito, abstendo-se de devolver as quantias adiantadas. A responsabilidade civil pré-negocial, ou seja, a verificada na fase preliminar do contrato, é tema oriundo da teoria da culpa in contrahendo, formulada pioneiramente por Jhering, que influenciou a legislação de diversos países. No Brasil, o CC/1916 não trazia disposição específica a respeito do tema, tampouco sobre a cláusula geral de boa-fé objetiva. Todavia, já se ressaltava, com fundamento no art. 159 daquele diploma, a importância da tutela da confiança e da necessidade de reparar o dano verificado no âmbito das tratativas pré-contratuais. Com o advento do CC/2002, dispôs-se, de forma expressa, a respeito da boa-fé (art. 422), da qual se extrai a necessidade de observância dos chamados deveres anexos ou de proteção. Com base nesse regramento, deve-se reconhecer a responsabilidade pela reparação de danos originados na fase pré-contratual caso verificadas a ocorrência de consentimento prévio e mútuo no início das tratativas, a afronta à boa-fé objetiva com o rompimento ilegítimo destas, a existência de prejuízo e a relação de causalidade entre a ruptura das tratativas e o dano sofrido. Nesse contexto, o dever de reparação não decorre do simples fato de as tratativas terem sido rompidas e o contrato não ter sido concluído, mas da situação de uma das partes ter gerado à outra, além da expectativa legítima de que o contrato seria concluído, efetivo prejuízo material. REsp 1.051.065-AM, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 21/2/2013. 3.2. FASE DE PROPOSTA, POLICITAÇÃO OU OBLAÇÃO Essa fase tem tratamento no CC. Arts. 427 a 435. É a fase de proposta formalizada que tem força vinculante. As partes são: a) Proponente, policitante ou solicitante – faz a proposta (vinculado). b) Oblato, policitado ou solicitado – recebe a proposta. Obs.: se a proposta originária é subitamente alterada pelo oblato, há uma contraproposta e os papeis se invertem. Art. 431. Art. 427. A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso. Art. 428. Deixa de ser obrigatória a proposta: CAI SEMPRE! 31 I - se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita (CONTRATO COM DECLARAÇÃO CONSECUTIVA). Considera-se também presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante; - ELETRÔNICO = ENTRE PRESENTES. HÁ DIVERGÊNCIA. II - se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente; CONTRATO COM DECLARAÇÕES INTERVALDAS. Foi pensado para o caso de se mandar proposta por carta. III - se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado; IV - se, antes dela (PROPOSTA), ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte (OBLATO) a retratação do proponente. Nessa fase o contrato pode ser formado: a) Entre presentes (inter praesentes): está formado quando o oblato aceita a proposta – encontro de vontades. Simultaneamente. b) Entre ausentes (inter absentes). Ex. contrato epistolar. Quanto a sua formação o CC adota duas teorias, uma regra e uma exceção. - Regra: Teoria da agnição ou aceitação, na subteoria da expedição – expedição da aceitação. - Exceção: teoria da agnição ou aceitação, na subteoria da recepção. Quando? Retratação do aceitante e quando as partes convencionarem. Art. 434. Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida (Teoria da agnição, na subteoria da expedição), exceto (teoria da agnição, na subteoria da recepção). I - no caso do artigo antecedente; RETRATAÇÃO – vale ali a regra da cognição. II - se o proponente se houver comprometido a esperar resposta; - CONVENCIONADO. III - se ela não chegar no prazo convencionado - CONVENCIONADO. Enunciado 173 – art. 434. A formação dos contratos realizados entre pessoas ausentes, por meio eletrônico (POR E-MAIL), completa-se com a recepção –TEORIA DA RECEPÇÃO – da aceitação pelo proponente. Em verdade, essas teorias já estão ultrapassadas há uns 50 anos. Prevalece, na Europa, a teoria da confirmação, ou do “duplo clique”, usada em contratos eletrônicos lá fora. O enunciado 173 da III Jornada (entendimento doutrinário) tenta resolver a questão, já que o Brasil não aceitou a teoria do duplo clique. Propõe a teoria da recepção. 32 Importa saber, contudo, que o projeto de reforma do CDC (PL nº 281/2013) adota a teoria da confirmação. É duplo clique porque não basta receber a aceitação, tem que confirmar que recebeu. Um aceita e o outro confirma o recebimento da aceitação. Por isso duplo clique. #RESUMO: a) REGRA CC – Teoria da expedição b) Exceções CC – Teoria da recepção (retratação ou convencionado) + e-mail c) CDC – Teoria da confirmação ou duplo clique (Europa) Para terminar essa segunda fase é preciso fazer duas observações. Obs.1: O art. 429 CC prevê oferta ao público, e tem força vinculativa. O contrato seria entre ausentes porque não se sabe quem vai aceitar. Art. 429. A oferta ao público equivale a proposta quando encerra os requisitos essenciais ao contrato, salvo se o contrário resultar das circunstâncias ou dos usos. Parágrafo único. Pode revogar-se a oferta pela mesma via de sua divulgação, desde que ressalvada esta faculdade na oferta realizada. Obs.2: O local de celebração do contrato é o local da proposta (art. 435, CC). Isso gera problemas em provas, pois a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB), no art. 9º, §2º, diz que é no lugar em que residir o proponente, que não obrigatoriamente é o local da proposta. Solução: o art. 435 é aplicado para contratos nacionais, enquanto o art. 9º para contratos internacionais. Cai em primeira fase bastante. É um solução, contudo, bem simplista, pois tem contratos bem complexos evolvendo várias empresas e países. Art. 9o Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem – INTERNACIONAIS § 1o Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de forma essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato. § 2o A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o proponente. Art. 435. Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que foi proposto – NACIONAIS 3.3. FASE DE CONTRATO PRELIMINAR Também é disciplinada pelo CC/02, arts. 462 a 466. Fase preparatória do contrato definitivo, com força vinculante e efeitos jurídicos maiores do que a fase anterior. Ex.: arras ou sinal (417 a 420, CC). 33 O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve ter todos os requisitos de validade do contrato definitivo (art. 462, CC). Segundo Maria Helena Diniz, o contrato preliminar, também chamado de compromisso de contrato, admite duas modalidades básicas: a) Compromisso
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