Buscar

8 TEORIA GERAL DOS CONTRATOS

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 89 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 89 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 89 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

DIREITO CIVIL 
TEORIA GERAL DOS CONTRATOS 
 
 
 
 
2 
 
SUMÁRIO 
 
1. CONCEITO DE CONTRATO .............................................................................................................. 4 
2. PRINCÍPIOS CONTRATUAIS NO CC/02 ............................................................................................. 7 
2.1. PRINCÍPIO DA AUTONOMIA PRIVADA ..................................................................................................... 8 
2.2. PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO ...................................................................................... 15 
2.3. PRINCÍPIO DA FORÇA OBRIGATÓRIA DO CONTRATO (PACTA SUNT SERVANDA) ...................................... 18 
2.4. BOA FÉ OBJETIVA .................................................................................................................................. 19 
2.5. PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE DOS EFEITOS CONTRATUAIS (RES INTER ATIOS) ......................................... 25 
3. FORMAÇÃO DOS CONTRATOS ...................................................................................................... 29 
3.1. FASE DE NEGOCIAÇÕES PRELIMINARES OU PONTUAÇÃO........................................................................ 29 
3.2. FASE DE PROPOSTA, POLICITAÇÃO OU OBLAÇÃO ................................................................................... 30 
3.3. FASE DE CONTRATO PRELIMINAR .......................................................................................................... 32 
3.4. FASE DE CONTRATO DEFINITIVO ............................................................................................................ 36 
4. REVISÃO JUDICIAL DOS CONTRATOS NO CC/02 ............................................................................ 37 
4.1. REQUISITOS PARA A REVISÃO DOS CONTRATOS CIVIL ............................................................................ 37 
5. VÍCIOS REDIBITÓRIOS .................................................................................................................. 43 
5.1. CONCEITO ............................................................................................................................................. 43 
5.2. PRAZOS DECADENCIAIS ......................................................................................................................... 45 
6. EVICÇÃO – ARTS. 447 A 457 ......................................................................................................... 50 
6.1. CONCEITO ............................................................................................................................................. 50 
6.2. PARTES DA EVICÇÃO.............................................................................................................................. 50 
6.3. EXCLUSÃO DA EVICÇÃO ......................................................................................................................... 51 
6.4. EVICÇÃO TOTAL E PARCIAL .................................................................................................................... 51 
6.5. ASPECTOS PROCESSUAIS DA EVICÇÃO .................................................................................................... 52 
7. EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ........................................................................................................ 56 
7.1. NORMAL ............................................................................................................................................... 56 
7.2. EXTINÇÃO POR FATOS ANTERIORES ....................................................................................................... 56 
7.3. EXTINÇÃO POR FATOS POSTERIORES À CELEBRAÇÃO ............................................................................. 58 
7.4. EXTINÇÃO POR MORTE .......................................................................................................................... 76 
8. O QUE FALTOU DESSE ASSUNTO .................................................................................................. 76 
8.1. O NOVO CÓDIGO CIVIL E OS CONTRATOS CELEBRADOS ANTES DA SUA VIGÊNCIA ................................... 77 
8.2. CONTRATOS BANCÁRIOS – JURISPRUDÊNCIA DO STJ .............................................................................. 79 
8.3. CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS .......................................................................................................... 84 
3 
9. DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO ................................................................................ 89 
10. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA ............................................................................................................ 89 
 
 
 
4 
ATUALIZADO EM 12/06/20191 
 
TEORIA GERAL DO CONTRATO – ARTS. 421 A 480 
 
1. CONCEITO DE CONTRATO 
 
Nem o CC/16, nem o CC/02 definiram o que seria contrato, deixando essa tarefa para a Doutrina. Parte da 
doutrina utiliza o conceito clássico do CC Italiano – MHD, Álvaro Villaça, por exemplo. É o conceito que ainda 
prevalece para fins de concurso público. 
 
Conceito clássico – negócio jurídico bilateral ou plurilateral que visa à criação, modificação ou extinção, entre 
as partes, de direitos e deveres que traduzem uma relação jurídica de conteúdo patrimonial. 
 
(1) “bilateral ou plurilateral”: Todo contrato é negócio jurídico, pelo menos, bilateral, por envolver duas 
pessoas ou duas vontades. Ex.: doação é negócio jurídico bilateral. CORRETO. A doação, por ser contrato, é 
negócio jurídico bilateral, ou seja, envolve duas pessoas, mas é contrato unilateral, como regra, por ter 
obrigações para apenas uma das partes. 
 
Existe autocontrato ou contrato consigo mesmo? 
 
Não se admite a existência de autocontrato ou contrato consigo mesmo. Todavia pode ocorrer a hipótese de 
ambas as partes se manifestarem por meio do mesmo representante, configurando-se, então, a situação de 
dupla representação. Pode ocorrer, ainda, que o representante seja a outra parte no negócio jurídico 
celebrado, exercendo, neste caso, dois papéis distintos: participando de sua formação como representante, 
atuando em nome do dono do negócio, e como contratante, por si mesmo, intervindo com dupla qualidade, 
como ocorre no cumprimento de mandato em causa própria, previsto no art. 685 do CC, em que o mandatário 
recebe poderes para alienar determinado bem, por determinado preço, a terceiros ou a si próprio. 
 
Surge, nas hipóteses, o negócio jurídico que se convencionou chamar de contrato consigo mesmo ou 
autocontrato. O que há, na realidade, são situações que se assemelham a negócio dessa natureza. No caso de 
 
1
 As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de 
diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos, 
porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do 
material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas 
jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos 
eventos anteriormente citados. 
5 
dupla representação somente os representados adquirem direitos e obrigações. E, mesmo quando o 
representante é uma das partes, a outra também participa do ato, embora representada pelo primeiro. 
*#UMPOUCODEDOUTRINA: Nesse sentido é o entendimento de Tartuce2: 
"(...) Vale lembrar que a alteridade se constitui pela presença de pelo menos duas pessoas quando da 
constituição do contrato. Justamente pela existência desses dois elementos é que seria vedada a 
autocontratação, ou celebração de um contrato consigo mesmo. Mas dúvidassurgem quanto a essa 
possibilidade, se analisado o art. 117 do Código Civil: “Art. 117. Salvo se o permitir a lei ou o representado, é 
anulável o negócio jurídico que o representante, no seu interesse ou por conta de outrem, celebrar consigo 
mesmo. Parágrafo único. Para esse efeito, tem-se como celebrado pelo representante o negócio realizado por 
aquele em quem os poderes houverem sido substabelecidos”. 
De acordo com o dispositivo em questão é possível a outorga de poderes para que a pessoa que representa 
outrem celebre um contrato consigo mesmo, no caso, um mandato em causa própria (mandato com cláusula in 
rem propriam ou in rem suam). Não estando presente essa autorização ou havendo proibição legal, o mandato 
em causa própria é anulável. A regra ainda merece aplicação em casos de substabelecimento (cessão parcial do 
mandato), conforme o seu parágrafo único. 
A grande dúvida que surge desse dispositivo é se ele traz ou não uma hipótese de autocontratação perfeita, em 
que não há a referida alteridade. Para este autor, a resposta é negativa. Para ilustrar, imagine um caso em que 
A outorga poderes para B vender um imóvel, com a autorização para que o último venda o bem para si mesmo. 
Celebrado esse negócio, haveria uma autocontratação, pelo menos aparentemente. Mas é interessante 
perceber que a alteridade continua presente, na outorga de poderes para que o segundo negócio seja celebrado. 
Desse modo, não há uma autocontratação perfeita, sem alteridade, na figura referenciada no art. 117 do CC. O 
elemento destacado, a presença de duas pessoas, continua sendo essencial para a validade de todo e qualquer 
contrato." 
No âmbito jurisprudencial, poucas decisões podem ser encontradas, sendo que mesmo assim, estas não são 
explícitas sobre o assunto de contrato consigo mesmo. Quando aceito, é feita, na verdade, uma interpretação 
do próprio artigo 117 do CC, exigindo-se a ausência do conflito de interesses como condição de admissibilidade 
do autocontrato. 
 
(2) É negócio jurídico inter vivos, não se confundindo com os negócios mortis causa, ex.: testamento (os efeitos 
serão após a morte). A divisão entre atos inter vivos e mortis causa está no art. 426 CC. Não pode ser objeto de 
contrato a herança de pessoa viva. Há, nesse artigo, a nulidade absoluta do pacto sucessório (pacta corvina). É 
 
2
 Tartuce, Flávio. Manual de direito civil: volume único. 7. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: 
MÉTODO, 2017. 
6 
nulo porque o art. 166, VII, fala que é nulo quando a lei proíbe e não estabelece sanção. Ex.: transação no 
divórcio feita por um marido que inclui herança não recebida (você fica com a minha parte da herança quando 
meu pai morrer). A proibição alcança tanto terceiros (potencial beneficiários da herança), como o próprio titular. 
 
(3) Patrimonialidade: na visão clássica, o contrato exige um conteúdo patrimonial. O casamento, por exemplo, 
não é contrato, por não ter a finalidade patrimonial. O pacto antenupcial é contrato. 
 
Questão de concurso: o casamento é um contrato? Honoré Balzac tem um livro chamado contrato de 
casamento. Existem duas correntes básicas: a corrente de direito público e a corrente de direito privado. A 
primeira afirma que o casamento não é um instituto privado, sendo um ato administrativo (não tem eco no 
direito moderno). A segunda corrente, que prevalece, diz que o casamento é um instituto de direito privado, 
mas se subdivide na corrente não contratualista e a contratualista. A primeira subcorrente diz que o 
casamento não é um contrato (Maria Helena Diniz), mas uma instituição ou, ainda, um negócio complexo com 
participação do juiz ou, como Leon Duguit, que dizia que o casamento era um ato-condição (aquele que quando 
realizado coloca-se em uma situação jurídica impessoal, com normas imodificáveis). Mas, é a segunda 
subcorrente que é forte no Brasil desde Clóvis Beviláqua (Silvio Rodrigues, Orlando Gomes) sendo um contrato 
especial de direito de família, pois o núcleo do casamento é o consentimento como qualquer outro contrato. 
 
Porém, parte da doutrina contemporânea contesta essa ideia de Patrimonialidade estrita, pois o contrato 
também pode envolver valores existenciais, relativos à tutela da pessoa humana. Surge assim um conceito 
contemporâneo ou pós-moderno de contrato. Paulo Nalin – contrato é uma relação intersubjetiva (entre 
pessoas), baseada no solidarismo constitucional, e que traz efeitos existenciais e patrimoniais não somente em 
relação às partes contratantes, mas em relação a terceiros. De fato, existem contratos que envolvem valores 
relativos à dignidade da pessoa humana. Exs.: plano de saúde, contratos de aquisição da casa própria, 
contratos de direitos de autor. 
 
Esse conceito já trata da função social do contrato. 
 
Em regra o descumprimento contratual causa dano patrimonial, mas pode haver dano moral e até mesmo 
social (caso da Amil que teve que pagar um milhão a uma instituição de caridade - TJSP). Caráter pedagógico. 
 
Enunciado 411, V Jornada – o descumprimento de contrato pode gerar dano moral, quando envolver valor 
fundamental protegido pela CF/88. 
 
Ainda prevalece o conceito clássico – bilateral, inter vivos e patrimonialidade –, mas estamos caminhando. 
 
7 
Embora o contrato seja anterior ao próprio direito romano, a Roma clássica consagrou o tratamento jurídico do 
contrato (contractus). 
 
Segundo Olando Gomes, foi o capitalismo que desenvolveu a teoria clássica do contrato, calcada em dois 
dogmas: autonomia da vontade e igualdade das partes contratantes (séculos XVIII e XIX). 
 
Porém, durante o século XX, percebeu-se, especialmente após as Grandes Guerras, que o Estado não poderia 
ser abstencionista, modificando o Estado Liberal para o Estado Social, alterando as fórmulas contratuais. 
Ocorreu, dessa forma, a socialização do direito (condicionar a autonomia privada em detrimento de valores 
sociais). 
 
A professora Judite Costa diz que a autonomia não é mais privada, mas solidária. Isso porque a autonomia 
privada não é absoluta, mas limitada. Tudo isso se chama de constitucionalização do direito civil. 
 
Forma 
 
No que tange à forma do contrato, vale lembrar que, em regra, vigora o princípio da liberdade da forma. Art. 
107 do CC – A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei 
expressamente a exigir. O contrato é um negócio jurídico, que tem forma livre, exceto no que for determinado 
pela lei. 
 
No entanto, há situações em que se exige a forma para efeito de prova do contrato em juízo, isto é, forma ad 
probationem. Há ainda situações em que a lei exige forma sob pena de nulidade (requisito de validade), é a 
chamada ad solemnitatem (art. 108, CCB – Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à 
validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos 
reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País). 
 
2. PRINCÍPIOS CONTRATUAIS NO CC/02 
 
Enunciado 167, III Jornada – Com o advento do CC/02, houve forte aproximação principiológica entre o CC e o 
CDC, no que respeita à regulação contratual, uma vez que ambos são incorporadores de uma nova teoria geral 
do contrato. Teoria dos diálogos das fontes. Essa aproximação principiológica se deu basicamente através de 
três princípios – autonomia privada, boa-fé objetiva e função social do contrato. Essa aproximação por 
princípios propicia a aplicação concomitante (simultânea) das duas leis – CC e CDC – a determinados contratos 
(transportes, seguros, etc.) por meio da Teoria do Diálogo das Fontes – Eric Jayme – alemão. 
 
8 
*#OUSESABER: A teoria do diálogo das fontes foi desenvolvida pela professora Cláudia Lima Marques e sua 
aplicação atualmente não se restringe apenas ao direito do consumidor, mastambém a toda inteiração entre 
os diversos ramos do direito, de modo que eles se autoinfluenciem e complementem. A proposta do diálogo das 
fontes visa superar os critérios clássicos de superação das antinomias jurídica (cronológico, hierárquico e da 
especialidade), permitindo que as incongruências sejam sanadas através de uma interação dialógica. O diálogo 
pode ser classificado como: (i) diálogo sistemático de coerência – quando há aplicação simultânea de duas leis, 
de modo que uma sirva de base conceitual para a outra, ex.: o conceito de contrato é extraído do Código Civil, 
complementando o conceito de contrato de adesão regido pelo CDC; (ii) diálogo de complementaridade e o 
diálogo de subsidiariedade ocorre quando a aplicação de duas normas ocorrer de modo coordenado direta ou 
indiretamente, respectivamente. Exemplo: Quando as cláusulas gerais de uma lei podem encontrar ato 
subsidiário ou complementar em caso regulado pela outra lei (diálogo de complementaridade), e quando o 
sistema geral de responsabilidade civil sem culpa ou o sistema geral de decadência podem ser usados para 
regular aspectos de casos de consumo, se trazem normas favoráveis ao consumidor (diálogo de 
subsidiariedade); (iii) diálogos de influências recíprocas sistemáticas ocorre quando conceitos estruturais de 
uma lei sofrem influências da outra. Exemplo: o conceito de consumidor pode sofrer influências do próprio 
Código Civil, bem como a aplicação do Código Civil pode ser restringida em face da caracterização da relação de 
consumidor. 
 
2.1. PRINCÍPIO DA AUTONOMIA PRIVADA 
 
São princípios clássicos – autonomia da vontade, força obrigatória dos contratos e relatividade dos efeitos do 
contrato (os efeitos estão limitados às partes). 
 
Princípios pós-modernos – boa-fé objetiva, função social do contrato e equilíbrio contratual. 
 
A função do Estado era apenas a de assegurar aos contratantes ampla liberdade para que pudessem ajustar as 
condições dos contratos como melhor lhes conviessem, daí a máxima do Estado liberal segundo a qual tudo o 
que é contratual é justo desde que as partes sejam livres para contratar. 
 
Todo contrato pressupõe certa liberdade intelectual. O contratualismo (Savigny: o contrato é o consenso das 
vontades na autorregulamentação de seus interesses privados) era uma das quatro bandeiras levantadas pela 
revolução francesa, e até mesmo a relação do homem para com o Estado foi representada pela forma 
contratual, como sabemos ao lermos o livro de Rosseau: “O contrato social”. 
 
Mas o século XX mostrou que só a LIBERDADE não era suficiente para sustentar o equilíbrio do contrato. 
Percebeu-se que era necessário também IGUALDADE MATERIAL. Foi assim que surgiu o dirigismo contratual, 
que caracterizou o século XX no campo dos contratos, ou seja, o Estado abandonou a postura de inércia, de 
9 
mero espectador dos contratos, para passar a controlá-los, a dirigi-los, impondo certas cláusulas de proteção ao 
mais fraco, ou vedando outras que denotavam a superioridade do mais forte. 
 
No REsp 1158815, o STJ considerou que, nos contratos empresariais, a autonomia privada (e assim também a 
força obrigatória dos contratos) tem maior intensidade, devendo a revisão do contrato ocorrer em casos 
excepcionais. É possível afirmar, assim, a existência de diferentes graus de autonomia privada (nos contratos 
de consumo, nos civis e nos empresariais). 
 
Autonomia privada é verdadeiro princípio que traduz a liberdade contratual, necessária em qualquer contrato, 
mas condicionada a princípios de contenção, a exemplo da função social e da boa-fé objetiva. 
 
Esse princípio substituiu o modelo liberal da autonomia da vontade. Enzo Roppo – O contrato: fala que os 
contratos são todos modelos. Virou um carimbo, por isso não poderia se falar em autonomia da vontade. 
 
Três razões pelas quais a autonomia privada tomou lugar da autonomia da vontade: 
 
1) Crise da vontade – gerou a crise do contrato. Fala-se em morte do contrato (Grant Gilmore). 
 
2) Dirigismo contratual – intervenção do Estado e da lei nos contratos. O Brasil hoje é conhecido por essa 
intervenção, principalmente para a proteção de vulneráveis. Ex.: CDC e CC/02 (função social do contrato). 
 
3) Império do contrato modelo estandardização contratual (“standard”). Prevalecem, na prática, os contratos 
de adesão. O que seria contrato de adesão? É aquele que tem o conteúdo imposto por uma das partes. O 
estipulante impõe o conteúdo, em parte ou totalmente, ao aderente contratual. CUIDADO! Não se confunde o 
contrato de consumo com o contrato de adesão. O contrato de adesão não necessariamente é de consumo 
(Enunciado nº 171 da III Jornada de Direito Civil). Exemplo: contrato de franquia (recebe as exigências do 
McDonald’s), o contrato não é de consumo. O oposto do contrato de adesão é contrato paritário ou 
negociado. 
 
*#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: A franquia é um contrato empresarial e, em razão de sua natureza, não está 
sujeito às regras protetivas previstas no CDC. A relação entre o franqueador e o franqueado não é uma 
relação de consumo, mas sim de fomento econômico com o objetivo de estimular as atividades empresariais 
do franqueado. O franqueado não é consumidor de produtos ou serviços da franqueadora, mas sim a pessoa 
que os comercializa junto a terceiros, estes sim, os destinatários finais. 
 
A franquia não é um contrato de consumo (regido pelo CDC), mas, mesmo assim, é um contrato de adesão. 
10 
Segundo o art. 4º, §2º da Lei nº 9.307/96, nos contratos de adesão, a cláusula compromissória só terá eficácia 
se o aderente: 
• tomar a iniciativa de instituir a arbitragem; ou 
• concordar, expressamente, com a sua instituição, por escrito, em documento anexo ou em negrito, com a 
assinatura ou visto especialmente para essa cláusula. 
Todos os contratos de adesão, mesmo aqueles que não consubstanciam relações de consumo, como os 
contratos de franquia, devem observar o disposto no art. 4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96. Assim, é possível a 
instituição de cláusula compromissória em contrato de franquia, desde que observados os requisitos do art. 4º, 
§ 2º, da Lei nº 9.307/96. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.076-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/9/2016 (Info 591). 
 
*#OUSESABER #DEOLHONOSCONCEITOS: Liberdade de contratar x Liberdade contratual. 
Apesar de ser expressões similares, referidos institutos são diferentes. 
A liberdade de contratar está relacionada com a escolha da pessoa ou das pessoas com quem o negócio jurídico 
será celebrado, sendo, em regra, uma liberdade plena. 
Em contrapartida, a liberdade contratual está relacionada com o conteúdo do negócio jurídico, sendo uma 
liberdade bem mais restrita, já que não se é admissível negócio jurídico cujo objeto seja ilícito. 
 
*#OUSESABER: O que é contrato cativo de longa duração? Conforme ensina a doutrinadora Cláudia Lima 
Marques, trata-se de uma série de novos contratos ou relações contratuais que utilizam os métodos de 
contratação de massa (através de contratos de adesão ou de condições gerais dos contratos) para fornecer 
serviços especiais de mercado, criando relações jurídicas complexas de longa duração, envolvendo uma 
cadeia de fornecedores organizados entre si e com uma característica dominante: a posição de "catividade" ou 
“dependência dos clientes". Um exemplo que pode ser citado são os contratos de seguro em geral, mormente 
os de plano de saúde. Tal expressão já foi utilizada expressamente pelo STJ, no informativo 441. 
 
Contrato de adesão 
 
Os arts. 423 e 424 são novidades em nosso ordenamento. 
 
Os contratos de adesão só surgiram em razão de uma consequência inevitável da massificação da economia 
(revolução industrial). É feito um contrato igual para todos, cujas condições não podem ser modificadas pelas 
partes. É claro: as lesões individuais do passado hoje foram substituídas pelas lesões coletivas. Por isso é que 
foi preciso substituiras ações individuais do passado, em que um único titular do direito subjetivo violado 
ingressava em juízo para restaurá-lo. Essa foi uma previsão de Capeletti: as ações “átomos”, em que há um 
único titular do direito subjetivo, vão ser substituídas pelas ações “moleculares”, que são as ações públicas, são 
os direitos difusos, os direitos coletivos. 
11 
 
Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a 
interpretação mais favorável ao aderente. 
 
Art. 424. Nos contratos de adesão são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a 
direito resultante da natureza do negócio. 
 
Então, é possível colocar uma cláusula restritiva a direito num contrato de adesão, mas em destaque para que 
o aderente perceba a restrição ao seu direito (utilização do CDC por força da cláusula geral do art. 422, do CC). 
 
Ele possui as seguintes características: 
 
1) Uniformidade: as cláusulas são gerais e homogêneas para todas as pessoas. 
2) Predeterminação unilateral: o conteúdo do contrato é pré-determinado. 
3) Rigidez: não há discussão sobre as cláusulas. 
4) Superioridade material de uma das partes: essa característica está presente em quase todos os contratos de 
adesão. 
 
Não se pode confundir o contrato de adesão com o contrato obrigatório. O último é, não tanto um contrato, 
mas uma determinação da lei. EXEMPLO: contrato de seguro obrigatório (só é contrato no nome, mas não 
tem qualquer expressão de vontade; trata-se na verdade de uma imposição da lei). 
 
Enunciado nº 172 do CJF: Art. 424: As cláusulas abusivas não ocorrem exclusivamente nas relações jurídicas de 
consumo. Dessa forma, é possível a identificação de cláusulas abusivas em contratos civis comuns, como, por 
exemplo, aquela estampada no art. 424 do Código Civil de 2002. 
 
E o que se entende por autonomia privada? É o direito que a pessoa tem de regulamentar os próprios 
interesses, o que decorre dos princípios constitucionais da liberdade e da dignidade humana. No plano 
contratual, desdobra-se em dois conceitos. 
 
a) Liberdade de contratar: quando se contrata (agora) e quem se contrata (Banco do Brasil). 
 
b) Liberdade contratual: o que se contata e como se contrata – conteúdo, cláusulas. 
 
A autonomia privada não é absoluta, devendo ser mitigada pelas normas de ordem pública e sopesada com 
outros princípios. Ver art. 425 CC. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais 
fixadas neste Código. Contratos atípicos – sem regulamentação legal mínima. Devem ser respeitadas as normas 
12 
de ordem pública e outros princípios. Ex.: contrato de estacionamento (atípico misto – depósito e prestação de 
serviço). É comum a cláusula de não indenizar. Pode ser verbal (exemplo a plaquinha trazendo a cláusula). Essa 
cláusula é nula. O escopo do contrato é a segurança. 
 
Súmula nº 130, STJ – A empresa responde, perante o cliente, pela reparação de dano ou furto de veículo 
ocorridos em seu estacionamento. 
 
CUIDADO: se for roubo, o estacionamento não responde, salvo se for o bancário ou de consumo. 
 
ESTACIONAMENTO PRIVADO FURTO 
ESTACIONAMENTO EM RELAÇAO DE CONSUMO FURTO E ROUBO 
VALLET PARKING EM VIA PÚBLICA FURTO 
 
*#IMPORTANTE #AJUDAMARCINHO: 
SITUAÇÃO 
FORNECEDOR 
RESPONDE? 
EXPLICAÇÃO 
Furto ou roubo no cofre do banco 
que estava locado para guardar 
bens de cliente. 
SIM 
O roubo ou furto praticado contra instituição financeira e 
que atinge o cofre locado ao cliente constitui risco 
assumido pelo banco, sendo algo próprio da atividade 
empresarial, configurando, assim, hipótese de fortuito 
interno, que não exclui o dever de indenizar (REsp 
1250997/SP, DJe 14/02/2013). 
Cliente roubado no interior da 
agência bancária. 
SIM 
Há responsabilidade objetiva do banco em razão do risco 
inerente à atividade bancária (art. 927, p. ún., CC e art. 
14, CDC) (REsp 1.093.617-PE, DJe 23/03/2009). 
Cliente roubado na rua, após sacar 
dinheiro na agência. 
NÃO 
Se o roubo ocorre em via pública, é do Estado (e não do 
banco), o dever de garantir a segurança dos cidadãos e 
de evitar a atuação dos criminosos (REsp 1.284.962-MG, 
DJe 04/02/2013). 
Cliente roubado no 
estacionamento do banco. 
SIM 
O estacionamento pode ser considerado como uma 
extensão da própria agência (REsp 1.045.775-ES, DJe 
04/08/2009). 
Roubo ocorrido no estacionamento 
privado que é oferecido pelo banco 
aos seus clientes e administrado 
por uma empresa privada. 
SIM 
Tanto o banco como a empresa de estacionamento tem 
responsabilidade civil, considerando que, ao oferecerem 
tal serviço especificamente aos clientes do banco, 
assumiram o dever de segurança em relação ao público 
13 
em geral (Lei 7.102/1983), dever este que não pode ser 
afastado por fato doloso de terceiro. Logo, não se admite 
a alegação de caso fortuito ou força maior já que a 
ocorrência de tais eventos são previsíveis na atividade 
bancária (AgRg nos EDcl no REsp 844.186/RS, DJe 
29/06/2012). 
Cliente, após sacar dinheiro na 
agência, é roubado à mão armada 
em um estacionamento privado 
que fica ao lado, mas que não tem 
qualquer relação com o banco. 
NÃO 
Não haverá responsabilidade civil nem do banco nem da 
empresa privada de estacionamento. 
A empresa de estacionamento se responsabiliza apenas 
pela guarda do veículo, não sendo razoável lhe impor o 
dever de garantir a segurança e integridade física do 
usuário e a proteção dos bens portados por ele (REsp 
1.232.795-SP, DJe 10/04/2013). 
Passageiro roubado no interior 
do transporte coletivo (ex.: ônibus, 
trem, etc.). 
NÃO 
Constitui causa excludente da responsabilidade da 
empresa transportadora o fato inteiramente estranho ao 
transporte em si, como é o assalto ocorrido no interior 
do coletivo (AgRg no Ag 1389181/SP, DJe 29/06/2012). 
Cliente roubado no posto de 
gasolina enquanto abastecia seu 
veículo. 
NÃO 
Tratando-se de postos de combustíveis, a ocorrência de 
roubo praticado contra clientes não pode ser 
enquadrado, em regra, como um evento que esteja no 
rol de responsabilidades do empresário para com os 
clientes, sendo essa situação um exemplo de caso 
fortuito externo, ensejando-se, por conseguinte, a 
exclusão da responsabilidade (REsp 1243970/SE, DJe 
10/05/2012). 
Roubo ocorrido em veículo sob a 
guarda de vallet parking que fica 
localizado em via pública. 
NÃO 
No serviço de manobrista em via pública não existe 
exploração de estacionamento cercado com grades, mas 
simples comodidade posta à disposição do cliente. Logo, 
as exigências de garantia da segurança física e 
patrimonial do consumidor são menos contundentes do 
que aquelas atinentes aos estacionamentos de shopping 
centers e hipermercados (REsp 1.321.739-SP, DJe 
10/09/2013). 
Furto ocorrido em veículo sob a 
guarda de vallet parking que fica 
localizado em via pública. 
SIM 
Nas hipóteses de furto, em que não há violência, 
permanece a responsabilidade, pois o serviço prestado 
mostra-se defeituoso, por não apresentar a segurança 
14 
legitimamente esperada pelo consumidor. 
Furto ou roubo ocorrido em veículo 
sob a guarda de vallet parking 
localizado dentro do shopping 
center. 
SIM 
A ocorrência de roubo não constitui causa excludente de 
responsabilidade civil nos casos em que a garantia de 
segurança física e patrimonial do consumidor é inerente 
ao serviço prestado pelo estabelecimento comercial. 
Tentativa de roubo ocorrida na 
cancela do estacionamento do 
shopping center. 
SIM 
A ocorrência de roubo não constitui causa excludente de 
responsabilidade civil nos casos em que a garantia de 
segurança física e patrimonial do consumidor é inerente 
ao serviço prestado pelo estabelecimento comercial 
(REsp 1269691/PB, DJe 05/03/2014). 
*Roubo ocorrido no 
estacionamento externo e gratuito 
NÃO 
* A Súmula 130 do STJ prevê o seguinte: a empresa 
responde, perante o cliente, pelareparação de DANO ou 
FURTO de veículo ocorridos em seu estacionamento. Em 
casos de roubo, o STJ tem admitido a interpretação 
extensiva da Súmula 130 do STJ, para entender que há o 
dever do fornecedor de serviços de indenizar, mesmo 
que o prejuízo tenha sido causado por roubo, se este foi 
praticado no estacionamento de empresas destinadas à 
exploração econômica direta da referida atividade 
(empresas de estacionamento pago) ou quando o 
estacionamento era de um grande shopping center ou 
de uma rede de hipermercado. Por outro lado, não se 
aplica a Súmula 130 do STJ em caso de roubo de cliente 
de lanchonete fast-food, se o fato ocorreu no 
estacionamento externo e gratuito por ela oferecido. 
Nesta situação, tem-se hipótese de caso fortuito (ou 
motivo de força maior), que afasta do estabelecimento 
comercial proprietário da mencionada área o dever de 
indenizar. Logo, a incidência do disposto na Súmula 130 
do STJ não alcança as hipóteses de crime de roubo a 
cliente de lanchonete praticado mediante grave ameaça 
e com emprego de arma de fogo, ocorrido no 
estacionamento externo e gratuito oferecido pelo 
estabelecimento comercial. STJ. 3ª Turma. REsp 
1.431.606-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. 
Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 
15 
15/08/2017 (Info 613). #IMPORTANTE 
 
2.2. PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO 
 
Qual a diferença entre conceito aberto e cláusula geral? Conceito aberto consiste simplesmente naquele 
conceito de conteúdo indeterminado ou fluídico, a ser preenchido no caso concreto, a exemplo da expressão 
justa causa (Arruda Alvin trata como conceito vago). Cláusula geral, a par de compreender o conceito aberto, 
traduz uma disposição normativa impositiva ao juiz de modo a conferir-lhe um mandado, uma determinação, 
em sua aplicação ao caso concreto (ex.: boa-fé objetiva). 
 
1) Conceito: é uma cláusula geral de natureza principiológica. A função social do contrato é entendida como 
um princípio limitativo da autonomia privada, pois se vive atualmente uma época de responsabilidade solidária. 
Orlando Gomes: função quer dizer finalidade; social quer dizer coletiva. Finalidade coletiva do contrato. Miguel 
Reale foi o responsável por colocar esse princípio no CC. Ele dizia que o contrato não deveria atender apenas 
aos interesses das partes, mas de toda a coletividade. 
 
Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato 
 
*#ATENÇÃO. Os arts. 421 e 423 foram alterados pela MP 881/19 que Institui a Declaração de 
Direitos de Liberdade Econômica. 
“Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do 
contrato, observado o disposto na Declaração de Direitos de Liberdade Econômica. 
Parágrafo único. Nas relações contratuais privadas, prevalecerá o princípio da intervenção 
mínima do Estado, por qualquer dos seus poderes, e a revisão contratual determinada de forma externa 
às partes será excepcional.” (NR) 
 
“Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas que gerem dúvida quanto à sua 
interpretação, será adotada a mais favorável ao aderente. 
Parágrafo único. Nos contratos não atingidos pelo disposto no caput, exceto se houver 
disposição específica em lei, a dúvida na interpretação beneficia a parte que não redigiu a cláusula 
controvertida.” (NR) 
Para Flávio Tartuce o Código Civil de 2002 trouxe, como uma das suas principais inovações, a 
preocupação de tutela do aderente como vulnerável contratual, não importando a sua posição 
econômica frente ao estipulante. Além da interpretação que lhe é favorável, prevista no dispositivo em 
estudo, o art. 424 da codificação privada estabelece a nulidade absoluta de qualquer cláusula de 
renúncia prévia a direito que resulte da própria natureza do negócio jurídico celebrado 
 
16 
A referida MP também incluiu dois novos artigos no final da Teoria Geral dos Contratos no 
Código Civil: 
“Art. 480-A. Nas relações interempresariais, é licito às partes contratantes estabelecer 
parâmetros objetivos para a interpretação de requisitos de revisão ou de resolução do pacto 
contratual.” (NR) 
“Art. 480-B. Nas relações interempresariais, deve-se presumir a simetria dos contratantes e 
observar a alocação de riscos por eles definida.” (NR) 
Para Tartuce na conversão da MP, os arts. 480-A e 480-B devem ser suprimidos, pois para ele 
não há qualquer necessidade de trazer regras próprias para os contratos empresariais, quando doutrina 
e jurisprudência já encontram certa estabilidade, na interpretação do Código Civil de 2002, no sentido 
de afastar a intervenção nesses negócios, especialmente se assumirem a forma paritária. 
 
Art. 2.035. A validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituídos antes da entrada em vigor deste 
Código, obedece ao disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, mas os seus efeitos, produzidos após a 
vigência deste Código, aos preceitos dele se subordinam, salvo se houver sido prevista pelas partes 
determinada forma de execução. 
 
2) Conceito: princípio contratual de ordem pública (art. 2.035 CC), pelo qual o contrato deve ser, 
necessariamente, interpretado/visualizado de acordo com o contexto da sociedade. O principal impacto desse 
conceito é a mitigação ou relativização da autonomia privada e da força obrigatória do contrato (pacta sunt 
servanda). 
 
Obs.: exame oral da MAGISTRATURA FEDERAL – 3ª região: Quais os dois erros técnicos do art. 421 CC? Art. 421. 
A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato. Esses dois erros 
foram observados pelos professores Junqueira e Villaça e constam no Projeto de Lei nº 699/2011: 1º) a função 
social do contrato não limita a liberdade de contratar, mas a liberdade contratual; 2º) função social não é a 
razão do contrato, mas sim limite ao conteúdo. A razão do contrato é a autonomia privada. Corrigindo ficaria: 
A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato. 
 
Sob essa ótica da função social do contrato, o contrato teria eficácia interna e externa (entendimento 
majoritário da doutrina e jurisprudência). Dupla eficácia. 
 
a) Eficácia interna ou intersubjetiva: entre as partes. Enunciado 36 IV Jornada. Aplicações: 
 
a.1) Proteção da dignidade da pessoa humana no contrato. Enunciado 23, I Jornada (CESPE adora esse 
enunciado): A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, não elimina o princípio da 
autonomia contratual, mas atenua ou reduz o alcance desse princípio quando presentes interesses 
17 
metaindividuais ou interesse individual relativo à dignidade da pessoa humana. Ex.: cláusula de celibato – 
proibição de casar (Canotilho); 
 
a.2) Vedação da onerosidade excessiva (desequilíbrio contratual). Efeito gangorra; 
 
a.3) Nulidade de cláusulas antissociais. Súmula 302, STJ – É abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que 
limita no tempo a internação hospitalar do segurado. 
 
a.4) Conservação contratual: a extinção do contrato é a última ratio. Enunciado 22, I Jornada: A função social do 
contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, constitui cláusula geral que reforça o princípio de 
conservação do contrato, assegurando trocas úteis e justas. Ex.: Teoria do adimplemento substancial 
(substantial performance): quando o contrato for quase todo cumprido, sendo a mora, não caberá a sua 
extinção, mas apenas outros efeitos como a cobrança. A análise é quantitativa e qualitativa. O percentual 
dependerá do caso concreto. 
 
*#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: Informativo 500 do STJ – ARRENDAMENTO MERCANTIL. REINTEGRAÇÃO DE 
POSSE. ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL. 
Trata-se de REsp oriundo de ação de reintegração de posse ajuizada pela ora recorrente em desfavor do 
recorrido por inadimplemento de contrato de arrendamento mercantil (leasing) para a aquisição de 135 
carretas. A Turma reiterou, entreoutras questões, que, diante do substancial adimplemento do contrato, qual 
seja, foram pagas 30 das 36 prestações da avença, mostra-se desproporcional a pretendida reintegração de 
posse e contraria princípios basilares do Direito Civil, como a função social do contrato e a boa-fé objetiva. 
Ressaltou-se que a teoria do substancial adimplemento visa impedir o uso desequilibrado do direito de 
resolução por parte do credor, preterindo desfazimentos desnecessários em prol da preservação da avença, 
com vistas à realização dos aludidos princípios. Assim, tendo ocorrido um adimplemento parcial da dívida muito 
próximo do resultado final, daí a expressão “adimplemento substancial”, limita-se o direito do credor, pois a 
resolução direta do contrato mostrar-se-ia um exagero, uma demasia. Dessa forma, fica preservado o direito de 
crédito, limitando-se apenas a forma como pode ser exigido pelo credor, que não pode escolher diretamente o 
modo mais gravoso para o devedor, que é a resolução do contrato. Dessarte, diante do substancial 
adimplemento da avença, o credor poderá valer-se de meios menos gravosos e proporcionalmente mais 
adequados à persecução do crédito remanescente, mas não a extinção do contrato. Precedentes citados: REsp 
272.739-MG, DJ 2/4/2001; REsp 1.051.270-RS, DJe 5/9/2011, e AgRg no Ag 607.406-RS, DJ 29/11/2004. REsp 
1.200.105-AM, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 19/6/2012. 
 
a.5) Proteção do vulnerável contratual. Protege o aderente. 
 
18 
Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a 
interpretação mais favorável ao aderente (prevê a interpretação contratual pro aderente). Se tiver dois prazos 
para pagamento – prazo maior prevalece. 
 
Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a 
direito resultante da natureza do negócio (nos contratos de adesão são nulas as cláusulas de renúncia de 
direito inerente ao negócio, exemplo: cláusula de não indenizar em contrato de segurança, guarda). O fiador 
que renuncia ao benefício de ordem. Se for no contrato de adesão, a renúncia é nula. Ex.: cláusula penal 
(redução de ofício pelo juiz). Outro exemplo é uma cláusula que impeça a teoria da imprevisão. 
 
OBS.: contratos que violam o princípio da função social são contratos nulos de pleno direito (art. 2035, § ú do 
CCB – Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os 
estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos). Chamada por 
alguns de nulidade virtual (aquela implícita, depreendendo-se da função da norma na falta de sanção 
expressa). 
 
b) Eficácia externa ou transobjetiva: além das partes. O contrato também gera efeitos perante terceiros. Trata-
se de uma extensão ao princípio da relatividade dos efeitos contratuais (que dá a ideia de que os contratos 
geram efeitos somente entre as partes). Enunciado 21, I Jornada. Aplicações: 
 
b.1) Tutela de direitos difusos e coletivos. Ex.: função socioambiental do contrato. Propriedade ribeirinha onde 
tiro areia e vendo para loja de material de construção. É bom para as duas partes, mas é prejudicial à 
sociedade por causar desequilíbrio ecológico. 
 
b.2) Tutela externa do crédito. Possibilidade de o contrato gerar efeitos perante terceiros ou de condutas de 
terceiros repercutirem no contrato. Ex.: Teoria do terceiro cúmplice. Art. 608, do CC. Aquele que aliciar – 
BRAHMA – pessoas obrigadas em contrato escrito – ZECA PAGODINHO – a prestar serviço a outrem – NOVA 
SCHIN – pagará a este – NOVA SCHIN – a importância que ao prestador de serviço, pelo ajuste desfeito, 
houvesse de caber durante dois anos. Ex.: Caso do Zeca Pagodinho. Havia um contrato entre a Nova Schin e 
Pagodinho. A Brahma aliciou Zeca e o contrato foi rescindido e ele voltou para a Brahma. Não existe nenhuma 
relação entre Nova Schin e Brahma. No entanto, a Brahma foi responsabilizada por ter violado o princípio da 
função social do contrato por ter aliciado o Zeca. 
 
2.3. PRINCÍPIO DA FORÇA OBRIGATÓRIA DO CONTRATO (PACTA SUNT SERVANDA) 
 
Continua tendo aplicação o princípio pelo qual o contrato faz lei entre as partes. Porem, esse princípio é 
fortemente relativizado pelos princípios da boa-fé objetiva e da função social do contrato. 
19 
 
2.4. BOA FÉ OBJETIVA3 
 
Histórico: a primeira fonte histórica encontra-se no direito romano dando uma ideia de comportamento 
individual ético (Cícero). O direito romano foi absorvido pelo direito alemão, de forma que o BGB reconstruiu e 
consagrou a ideia do princípio da boa-fé objetiva. O BGB tratou no §242, consagrando uma expressão “treu 
und glauben” (lealdade e confiança), traduzida juridicamente como boa-fé objetiva. O Direito Alemão é o berço 
dessa influência no Brasil, que está no art. 422 do CC/02. A BOA-FÉ OBJETIVA É INFLUÊNCIA DOS ALEMÃES. É 
cláusula geral 
 
I. Conceito 
 
Trata-se de uma evolução do conceito de boa-fé, que saiu do plano intencional (boa-fé subjetiva) para o plano 
de lealdade das partes (boa-fé objetiva). É o desdobramento de uma máxima cristã que diz que não basta ser 
bem intencionado, pois de bem intencionados o inferno está cheio. 
 
Exigência de um comportamento de lealdade das partes contratuais em todas as fases do contrato. 
 
Há, no direito privado, dois tipos de boa-fé: 
 
a) Boa-fé subjetiva: é um estado psicológico. É a boa-fé do: “eu não sabia”, ou seja, o indivíduo ignora o possível 
vício. Ex.: posse de boa-fé. Ex: possuidor de boa-fé, casamento putativo. 
 
b) Boa-fé objetiva: é uma boa conduta. É a boa-fé concreta. É a presente no plano dos contratos. Art. 422. Os 
contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de 
probidade e boa-fé. 
 
A boa-fé objetiva é relacionada aos deveres anexos, laterais ou secundários. Tais deveres são aqueles ínsitos a 
qualquer contrato, sem a necessidade de previsão no instrumento. Ex.: dever de cuidado, de respeito, de 
informação, lealdade, colaboração, transparência, confiança. A quebra desses deveres gera uma terceira 
modalidade de inadimplemento (os dois primeiros são absoluto e relativo), denominada violação positiva do 
contrato. Essa violação pode ocorrer nas fases pré e pós-processual e a parte pode cumprir os deveres 
principais e violar os anexos. Ex.: locatório que devolver o imóvel pintado de preto. O contrato não dizia a cor 
que deveria estar pintado. Cumpriu o principal? Sim. Violou, no entanto, o dever de respeito, colaboração. 
 
3
 A banca FCC, na prova da DPE-BA, considerou correta, sobre o princípio da boa-fé, a seguinte alternativa: “A boa-fé, como 
cláusula geral contemplada pelo Código Civil de 2002, apresenta indeterminação em sua fattispecie a fim de permitir ao 
intérprete a incidência da hipótese normativa a diversos comportamentos do mundo do ser que não poderiam ser 
exauridos taxativamente no texto legal.” 
20 
 
Enunciado 24 da 1ª JDC: Art. 422. Em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do novo Código Civil, 
a violação dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa – 
responsabilidade objetiva. 
 
II. Funções: 
 
a) Interpretativa: Os contratos devem ser interpretados de maneira mais favorável a quem está de boa-fé. 
Presume-se que o consumidor e o aderente estão de boa-fé. Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser 
interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. Regra de tráfego – aquilo que é comum 
no plano nos negócios. 
 
b) De controle ou reativa: aquele que viola a boa-fé objetiva no exercício de um direito comete abuso de 
direito, ou seja, um ilícito. Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede 
manifestamente os limites impostos pelo seufim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. 
 
c) Integradora: a boa-fé objetiva deve integrar todas as fases contratuais – pré-contratual, contratual e pós. O 
artigo não fala em pré. Crítica. Doutrina e jurisprudência aplicam. Art. 422. Os contratantes são obrigados a 
guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. 
Enunciados 25 e 170 – SEMPRE VÊM EM PROVA. Um dirigido ao juiz e o outro às partes. 
 
Enunciado 25 – Art. 422: o art. 422 do Código Civil não inviabiliza a aplicação pelo julgador do princípio da boa-
fé nas fases pré-contratual e pós -contratual. 
 
Enunciado 170 – Art. 422: A boa-fé objetiva deve ser observada pelas partes na fase de negociações 
preliminares e após a execução do contrato, quando tal exigência decorrer da natureza do contrato. 
 
*#ESQUEMATIZANDO:4 
FUNÇÕES DA BOA-FÉ OBJETIVA 
TELEOLÓGICA OU INTERPRETATIVA (art. 133, CC): a 
função interpretativa da boa-fé, a mais utilizada pela 
jurisprudência, serve de ORIENTAÇÃO PARA O JUIZ, 
devendo este sempre PRESTIGIAR, diante das 
convenções e contratos, a TEORIA DA CONFIANÇA, 
Exemplo na jurisprudência: as expressões “assistência 
integral e cobertura total” são manifestações que tem 
significado unívoco na compreensão comum e, não 
podem ser referidas num contrato de seguro de 
saúde, esvaziadas de seu conteúdo próprio, sem que 
 
4
 Tabela retirada do Livro “Coleção Leis Especiais para Concursos” – Direito do Consumidor – de Leonardo de Medeiros 
Garcia. 
21 
segundo a qual as PARTES AGEM COM LEALDADE na 
busca do adimplemento contratual. 
isso afronte o princípio da boa-fé na avença. 
CONTROLE OU LIMITADORA DE DIREITOS (art. 187, 
CC): a função de controle da boa-fé visa EVITAR O 
ABUSO DO DIREITO SUBJETIVO, limitando condutas e 
práticas comerciais abusivas, REDUZINDO, de certa 
forma, a AUTONOMIA DOS CONTRATANTES. 
Exemplo na jurisprudência: “INDEPENDENTEMENTE 
DE EXPRESSA PREVISÃO LEGAL, posterior ao contrato, 
a cláusula que nega cobertura ao segurado em caso 
de prorrogação da internação, fora do seu controle, é 
abusiva, pois não pode a estipulação contratual 
ofender o princípio da razoabilidade, anotando-se que 
a regra protetiva do CDC veda a contratação de 
obrigações incompatíveis com a boa-fé e a equidade”. 
INTEGRATIVA OU CRIADORA DE DEVERES 
LATERAIS/ANEXOS (art. 422, CC): a função insere 
NOVOS DEVERES para as partes diante das relações 
de consumo, pois além da verificação da obrigação 
principal, surgem NOVAS CONDUTAS A SEREM 
TAMBÉM OBSERVADAS. A violação a qualquer dos 
deveres anexos implica em inadimplemento 
contratual. 
#GANCHO: VIOLAÇÃO POSITIVA DO CONTRATO ou 
ADIMPLEMENTO RUIM. 
Exemplo na jurisprudência: “O DEVER DE 
INFORMAÇÃO e, por conseguinte, o DE EXIBIR A 
DOCUMENTAÇÃO que a contenha, é obrigação 
decorrente de lei, de integração contratual 
compulsória. Não pode ser objeto de recusa nem de 
boa-fé objetiva.” 
 
Hermann Staub, em 1902, denominou violações positivas do contrato essas expressões do inadimplemento. 
Karl Larenz, em 1953, alargou a denominação para violações positivas do crédito (ou pretensão), por entender 
que sua aplicação extrapola o âmbito dos contratos. Pontes de Miranda sugere extensão ainda maior: violações 
positivas do negócio jurídico e atos jurídicos stricto sensu. 
 
Exemplos de função integradora – em todas as fases. 
 
Exemplo 1: Caso dos tomates: empresa CICA distribuía sementes aos agricultores gaúchos e ela comprava os 
tomates a eles. Anos e anos fazendo isso. Em um certo ano, a CICA distribuiu as sementes, mas depois sumiu. 
Houve perda da produção e os agricultores foram indenizados por quebra do dever de confiança – pré-
contratual. 
 
Exemplo 2: A boa-fé objetiva vence a hipoteca. Súmula 308: A hipoteca firmada entre a construtora e o agente 
financeiro, anterior ou posterior à celebração da promessa de compra e venda, não tem eficácia perante os 
adquirentes do imóvel, desde que esteja de boa-fé. 
 
22 
Exemplo 3: Fase pós-contratual. Diante do dever de colaboração há a seguinte consequência: o credor tem o 
dever de retirar o nome do devedor de cadastro negativo, no prazo de 5 dias úteis, após acordo ou 
pagamento da dívida. 
 
Pergunta: os contratos realizados durante a vigência do Código de 1916 poderão ser relidos segundo os 
princípios da boa-fé e da função social dos contratos? A resposta será dada pelo STF por ocasião do julgamento 
da ADI contra o art. 2.035, do CC5. 
 
Art. 2.035, CC. A validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituídos antes da entrada em vigor deste 
Código, obedece ao disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, mas os seus efeitos, produzidos após a 
vigência deste Código, aos preceitos dele se subordinam, salvo se houver sido prevista pelas partes 
determinada forma de execução. 
Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os 
estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos. 
 
III. Conceitos parcelares da boa fé objetiva 
 
Funções reativas ou parcelares do princípio da boa-fé objetiva: O que são as “figuras parcelares”, “funções 
reativas” ou “desdobramentos da boa-fé objetiva“? São conceitos intimamente ligados à boa-fé objetiva, 
havendo quem diga que sejam subprincípios. 
 
a) Supressio: perda de um direito ou de uma posição jurídica pelo seu não exercício no tempo. Haveria uma 
perda por renúncia tácita. 
 
b) Surrectio: é o surgimento de um direito diante de práticas, usos e costumes. Simão diz que é o outro lado da 
moeda da supressio. Um perde e o outro ganha. Ex.1: Art. 330. O pagamento reiteradamente feito em outro 
local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato. O devedor começa a 
reiteradamente pagar no centro da cidade de SP, embora o local de origem seja Carapicuíba. Há uma 
supressio em relação ao credor e uma surrectio em relação ao devedor. Ex.2: Informativo 478 STJ – aplicou 
surrectio em contrato de mandato, entendendo que houve renúncia tácita em relação à correção monetária. O 
contrato de honorários previa a correção monetária, mas o escritório de advocacia passou seis anos sem 
cobrar. Mesmo dentro do prazo prescricional houve uma supressio, pela omissão no exercício do direito. 
 
Essas aquisições e restrições (prescrição), em nosso ordenamento jurídico, somente são admitidas mediante 
expressa disposição de lei, como se vê no art. 1.238 que trata da aquisição de propriedade pela usucapião 
 
5
 Ver ponto “15. O NOVO CÓDIGO CIVIL E OS CONTRATOS CELEBRADOS ANTES DA SUA VIGÊNCIA”, no final do arquivo. 
23 
extraordinária, bem como pelos arts. 205 e 206, do Código Civil, que tratam de prescrição extintiva, uma vez 
que a prescrição consiste na aquisição ou extinção de direitos, pelo decurso do tempo. É admitido, outrossim, a 
aquisição ou perda de direitos – “surrectio” ou “supressio”, respectivamente – pelo transcurso do tempo, em 
nosso ordenamento jurídico, desde que a ela se relacione uma situação de confiança, investida numa relação 
jurídica. Portanto, o transcurso de tempo, como forma de aquisição ou perda de um direito, afora das previsões 
legais, somente é possível mediante a conjugação do “venire contra factum proprium non potest”. 
 
*#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STJ: A Lei nº 10.209/2001 estabelece que a empresa que contratar uma 
empresa de transporte rodoviário deverá pagar, de forma antecipada e separada, os valores que o 
transportador terá que arcar com os pedágios nas estradas. Esse pagamento é chamado de Vale-Pedágio. O 
art. 8º da Lei prevê que o embarcador/contratante que não pagar ao transportador o valor do pedágio estará 
sujeito a uma multa equivalente ao dobro do valor do frete. Essa multa é conhecida como “dobrado frete”. A 
obrigação de pagamento antecipado do Vale-Pedágio previsto pela Lei nº 10.209/2001 é norma cogente que 
não admite o instituto da supressio. Isso significa que, mesmo que o transportador não tenha cobrado o 
pagamento antecipado do pedágio durante longo período, ele não perde o direito de exigir essa quantia. 
Além disso, a dobra do frete (art. 8º da Lei nº 10.209/2001) é uma sanção legal, de caráter especial, razão pela 
qual não é possível a convenção das partes para lhe alterar o conteúdo e também não é possível a sua redução 
com base no art. 412 do CC. STJ. 3ª Turma. REsp 1.694.324-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Moura 
Ribeiro, julgado em 27/11/2018 (Info 640). 
 
c) Tu quoque: quer dizer “até tu?” (até tu, Brutus?). Traduz a regra de ouro da boa-fé. Não faça como outro o 
que você não faria contra si mesmo. 
 
É um conceito decorrente da boa-fé objetiva que visa a impedir que uma das partes na relação negocial 
surpreenda a outra, colocando-a em situação injusta de desvantagem. Ex.: exceptio non adimpleti contractus 
(exceção de contrato não cumprido). Significa que um contratante que violou uma norma jurídica não poderá, 
sem a caracterização do abuso de direito, aproveitar-se dessa situação anteriormente criada pelo desrespeito 
– o sujeito não se pode valer da própria torpeza. Obs.: o que é a exceção de contrato não cumprido? Conceito: 
trata-se de uma defesa indireta de mérito, que a parte demandada opõe justificando o seu direito de não 
cumprir a prestação pactuada enquanto o demandante não adimplir a sua obrigação. Disciplinada a partir do 
art. 476 do CCB: 
 
Art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o 
implemento da do outro. 
 
Art. 477. Se, depois de concluído o contrato, sobrevier a uma das partes contratantes diminuição em seu 
patrimônio capaz de comprometer ou tornar duvidosa a prestação pela qual se obrigou, pode a outra recusar-se 
24 
à prestação que lhe incumbe, até que aquela satisfaça a que lhe compete ou dê garantia bastante de satisfazê-
la. 
 
Caso a primeira prestação seja cumprida de forma imperfeita, o demandado pode sim se defender alegando a 
exceptio non adimpleti contractus. A cláusula solve et repete ressalva a exceção de contrato não cumprido, uma 
vez que, se convencionada, o contratante estará renunciando à defesa, podendo ser compelido a pagar, 
independentemente do cumprimento da primeira prestação. Ex.: isso é comum nos contratos administrativos. 
 
A cláusula "solve et repete", significa "pague e depois reclame", é a que se estabelece em um contrato com o 
objetivo de tornar a exigibilidade de sua prestação a qualquer intenção contrária do devedor, sendo que o 
mesmo só poderá reclamar desta em outra ação, visando assim o pagamento ao credor sem outra oposição. A 
“solve et repete” é uma renúncia à “exceptio non adimpleti contractus”. 
 
d) Exepctio doli: excepctio é defesa e doli é dolo. É a defesa contra o dolo alheio. Ex.: exceção do contrato não 
cumprido. Ex.: Art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, 
pode exigir o implemento da do outro. 
 
e) Venire contra factum proprium non potest: é a vedação de comportamento contraditório. Requisitos: 
1) comportamento anterior; 
2) comportamento posterior; 
3) ausência de justa causa; e 
4) dano ou receio de dano. 
 
Ex.: REsp 95.539/SP. Marido vendeu imóvel sem outorga da esposa (causa de anulabilidade. No CC/16 era causa 
de nulidade). Em uma ação ela disse que concordou implicitamente com o venda. Posteriormente entra com 
uma ação de nulidade da venda. 
 
Qual a diferença com supressio? Supressio trabalha com omissão e no venire tem que ter pelo menos um ato 
positivo. 
 
Tem matriz histórica na Idade Média. Trata-se de uma regra conhecida em nível teórico como “doutrina dos 
atos próprios”. Veio essa expressão numa questão que você fez. 
 
No CC há regras que aplicam o venire, como por exemplo, o art. 180 (Art. 180. O menor, entre dezesseis e 
dezoito anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando 
inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior). No STJ, já existe aplicação do venire 
(Ag. Reg no REsp 396.489/PR e REsp 95539/SP). O professor Aldemiro Resende, em obra dedicada ao estudo do 
25 
venire, observa que não haverá violação à regra se o segundo comportamento realizado, aparentemente 
contraditório, for justificado. 
 
Obs.: no direito internacional é comum a consagração do venire por meio da denominada cláusula de stoppel. 
 
f) Duty to mitigate the loss: a origem é a Convenção de Viena sobre compra e venda. Art. 77. Enunciado 169, III 
Jornada – a boa-fé objetiva impõe ao credor o dever de mitigar o próprio prejuízo. 
 
Ex.: TJRS e TJMS: vigente um mútuo bancário, o banco não ingressa imediatamente com ação de cobrança 
para que a dívida cresça como bola de neve, em razão dos juros. Como o banco violou a boa-fé, os juros podem 
ser reduzidos. 
 
Ex.: compromisso de compra e venda – demorou muito tempo para entrar com a ação para retomar o bem. 
Informativo 439 STJ. 
 
*#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: A cláusula contratual que impõe ao comprador a responsabilidade pela 
desocupação de imóvel que lhe é alienado pela CEF não é abusiva. Não há abusividade porque a alienação se dá 
por preço consideravelmente inferior ao valor real do imóvel, exatamente pela situação peculiar que o imóvel 
possa se encontrar. A obrigação do adquirente de ter que tomar medidas para que o terceiro desocupe o imóvel 
é um ônus que já é informado pela CEF aos interessados antes da contratação. Tal informação consta 
expressamente no edital de concorrência pública e no contrato que é celebrado. A rápida alienação do imóvel, 
no estado em que se encontre, favorece o SFH porque libera recursos financeiros que serão revertidos para 
novas operações de crédito em favor de famílias sem casa própria. Por essas razões, não se mostra iníqua ou 
abusiva, não acarreta exagerada desvantagem para o adquirente nem cria situação de incompatibilidade com os 
postulados da boa-fé e da equidade a cláusula contratual que impõe ao adquirente a responsabilidade pela 
desocupação do imóvel. STJ. 3ª Turma. REsp 1.509.933-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 
4/10/2016 (Info 592). 
 
2.5. PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE DOS EFEITOS CONTRATUAIS (RES INTER ATIOS) 
 
Embora não conste em dispositivo legal específico (diferentemente do código da França, em seu art. 1165), esse 
princípio traduz a regra fundamental em nosso direito de que um contrato só deverá ter repercussão jurídica 
entre as próprias partes contratantes. Não se reveste daquela oponibilidade erga omnes que caracteriza os 
direitos reais, ao contrário, os contratos são sempre relativos, são erga singulum. 
 
Entretanto, vale mencionar que tal princípio não é absoluto, uma vez que a doutrina, em determinadas 
situações, reconhece uma eficácia transubjetiva do contrato (para além dos sujeitos contratantes). Ex.: art. 17 
26 
do CDC (terceiro equiparado ou bystander); algumas figuras contratuais também são exemplos que 
excepcionam a regra de que um contrato só repercute juridicamente entre as próprias partes: 
 
Em regra, o contrato gera efeitos entre as partes contratantes. Há exceções: 
 
1) Função social do contrato (eficácia externa): 
 
Transubjetividade jurídica da dimensão ética do negócio, especialmente para coibir interferência indevida de 
terceiro. O professor Antônio Junqueira de Azevedo denomina essa proteção necessária contra ingerência de 
terceiro de tutela externa do crédito. 
 
A Professora Judith Martins Costa, em um artigo, tratou do caso do Zeca Pagodinho. 
 
Obs.: na linha de pensamento da professora Judith Martins Costa, o princípio da relatividade dos efeitos do 
contrato não é um dogma absoluto, uma vez quese deve reconhecer, invocando Junqueira de Azevedo (USP), 
que todo contrato experimenta uma tutela externa do crédito, ou seja, existe uma eficácia ética transubjetiva 
visando a protegê-lo da interferência de terceiros (tort of induction). 
 
2) Contrato com pessoa a declarar: 
 
Surgiu na Idade Média. Era muito vergonhoso para os nobres comparecerem à praça para fazer o contrato e 
também era vergonhoso fazer um contrato de mandato. Atualmente esse contrato é mais uma cláusula do que 
um contrato em si. EXEMPLO 01: no contrato de compra e venda, uma das partes pode indicar quem é a pessoa 
que vai assumir o contrato. EXEMPLO 02: no contrato de locação que conste a pessoa que irá assumir (o locador 
somente celebraria o contrato com pessoa jurídica e o locatário ainda não tinha constituído a pessoa jurídica). 
Não se trata de uma cessão contratual. Segundo ORLANDO GOMES, trata-se de um contrato em que se 
introduz a cláusula PRO AMICO ELIGENDO ou PRO AMICO ELECTO, por meio da qual uma das partes se reserva 
a faculdade de indicar quem irá assumir a posição de contratante. 
 
Art. 467. No momento da conclusão do contrato, pode uma das partes reservar-se a faculdade de indicar a 
pessoa que deve adquirir os direitos e assumir as obrigações dele decorrentes. 
 
Art. 468. Essa indicação deve ser comunicada à outra parte no prazo de cinco dias da conclusão do contrato, se 
outro não tiver sido estipulado. 
Parágrafo único. A aceitação da pessoa nomeada não será eficaz se não se revestir da mesma forma que as 
partes usaram para o contrato. 
 
27 
Art. 470. O contrato será eficaz somente entre os contratantes originários: 
I - se não houver indicação de pessoa, ou se o nomeado se recusar a aceitá-la; 
II - se a pessoa nomeada era insolvente, e a outra pessoa o desconhecia no momento da indicação. 
 
Art. 469. A pessoa, nomeada de conformidade com os artigos antecedentes, adquire os direitos e assume as 
obrigações decorrentes do contrato, a partir do momento em que este foi celebrado. 
Art. 471. Se a pessoa a nomear era incapaz ou insolvente no momento da nomeação, o contrato produzirá seus 
efeitos entre os contratantes originários. 
 
* 3) Estipulação em favor de terceiro. Ex.: seguro de vida. (art. 436 a 438). As partes são segurado e seguradora 
e o terceiro, que não é parte, pode exigir o cumprimento. Os efeitos saem do contrato. 
 
3.1 Figuras: 
 
- estipulante 
- promitente - seguradora 
- beneficiária (pode ser qualquer pessoa, não necessariamente capaz – atentar para a legitimidade, pois 
concubina não pode ser beneficiária em contrato de seguro (CC, art. 793)). 
 
3.2 Natureza jurídica 
 
Prevalece que se trata de contrato sui generis, pelo fato de a prestação não ser realizada em favor do próprio 
estipulante, como seria natural. 
 
3.3 Peculiaridades 
 
Não é necessária a concordância do beneficiário para a perfectibilização do contrato, mas ele pode recusar, o 
que tira a eficácia, e não a validade do contrato. 
 
O terceiro não precisa ser determinado, basta ser determinável. 
 
Art. 436. O que estipula em favor de terceiro pode exigir o cumprimento da obrigação. 
Parágrafo único. Ao terceiro, em favor de quem se estipulou a obrigação, também é permitido exigi-la, 
ficando, todavia, sujeito às condições e normas do contrato, se a ele anuir, e o estipulante não o inovar nos 
termos do art. 438. 
 
28 
Art. 437. Se ao terceiro, em favor de quem se fez o contrato, se deixar o direito de reclamar-lhe a execução, não 
poderá o estipulante exonerar o devedor. 
 
Art. 438. O estipulante pode reservar-se o direito de substituir o terceiro designado no contrato, 
independentemente da sua anuência e da do outro contratante. 
Parágrafo único. A substituição pode ser feita por ato entre vivos ou por disposição de última vontade. 
 
*#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. ADMISSIBILIDADE. RECONHECIMENTO DE 
CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE VEÍCULO COM ESTIPULAÇÃO EM FAVOR DE TERCEIRO. OBJETO LÍCITO. 
VALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO. CONDUTA DE RESERVA MENTAL. IMPOSSIBILIDADE DE RECONHECIMENTO. 
SÚMULA 7/STJ.INCIDÊNCIA. - Se o acórdão recorrido estabeleceu que a recorrente “não perseguiu os fatos na 
busca da verdade real em flagrante conduta de reserva mental”, sua irresignação, quanto à violação do art. 110 
do CC/02, esbarra na Súmula 7/STJ, pois a desconstituição desse entendimento implica o reexame dos 
elementos de prova constantes dos autos. – Na estipulação em favor de terceiro, tanto o estipulante quanto o 
beneficiário podem exigir do devedor o cumprimento da obrigação (art. 436, par. único, do CC/02 ou art. 
1.098, par. único, do CC/1916). Com isso, o terceiro, até então estranho à relação obrigacional originária, com 
ela consente e passa efetivamente a ter direito material à prestação que lhe foi prometida. Nessas situações 
nem mesmo o estipulante pode lhe retirar o direito de pleitear a execução do contrato (art. 437 do CC/02). - 
Na hipótese específica dos autos, entende-se que a recorrente (promitente) não teria o direito de pleitear a 
resolução do contrato, mesmo que a empresa (estipulante) não tenha cumprido a sua parte na convenção, 
pelas seguintes razões: a) a recorrida (beneficiário) consentiu e aderiu de boa-fé à relação obrigacional;b) com 
a adesão, a recorrida adquiriu o direito material à prestação prometida; c) a recorrida possui um direito de 
ação próprio, autônomo, podendo exigir diretamente do promitente a prestação, sem a necessidade de 
interferência do estipulante; d) com a adesão da recorrida (beneficiário), o promitente não tem a faculdade 
de privá-la do seu direito, o que ocorreria por via indireta se admitida a resolução do contrato; e e) a 
resolução do contrato tornaria sem efeito o direito do beneficiário já incorporado ao seu patrimônio jurídico – 
Não há de se confundir inadimplemento contratual com ilicitude do objeto contratado. Como o acórdão 
recorrido confirmou tratar-se de um contrato cujo objeto seria a compra e venda de veículo em favor de 
terceiro, sem levantar qualquer dúvida sobre sua validade, pode-se concluir que a formação contratual não se 
deu com ofensa à lei e à moral. Ademais, considerando que a recorrente tem como atividade comercial a 
importação e exportação de veículos, não seria inoportuno consignar que a celebração desse tipo de contrato 
seria prática comum e rotineira. Recurso especial não provido. (REsp 1086989/RS, Rel. Ministra NANCY 
ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 23/02/2010, DJe 05/03/2010). 
 
4) Promessa de fato de terceiro (art. 439 e 440). Ex.: Promessa de um show de um cantor que não comparece. 
Aquele que fez a promessa vai responder. É a situação oposta – os efeitos são de fora para dentro do contrato 
– endógenos. 
29 
 
O único vinculado é o que promete, assumindo obrigação de fazer que, não sendo executada, resolve-se em 
perdas e danos. 
 
Uma vez se obrigando o terceiro, o promitente resta desobrigado. 
 
Art. 439. Aquele que tiver prometido fato de terceiro responderá por perdas e danos, quando este o não 
executar. 
Parágrafo único. Tal responsabilidade não existirá se o terceiro for o cônjuge do promitente, dependendo da 
sua anuência o ato a ser praticado, e desde que, pelo regime do casamento, a indenização, de algum modo, 
venha a recair sobre os seus bens. 
 
Art. 440. Nenhuma obrigação haverá para quem se comprometer por outrem, se este, depois de se ter 
obrigado, faltar à prestação. 
 
3. FORMAÇÃO DOS CONTRATOS 
 
O professor segue Darcy, Stolze, etc. São quatro fases. 
 
1. Negociações preliminares 
2. Proposta, policitação ou oblação 
3. Contrato preliminar 
4. Contrato definitivo 
 
Obs.: os efeitos jurídicos são crescentes nessas quatro fases. 
 
3.1. FASE DE NEGOCIAÇÕES PRELIMINARES OU PONTUAÇÃO 
 
Ocorrem os debates prévios, visando ao contrato definitivo. Ex.: carta de intenções ou acordo de cavalheiros. 
Isso não tem força vinculativa. Aliás,essa fase não está tratada no CC. É uma proposta não formalizada. Porém, 
havendo quebra da boa-fé objetiva (caso dos tomates), poderá surgir uma responsabilização pré-contratual. 
 
Obs.: essa responsabilidade teria natureza contratual ou extracontratual? É extracontratual. É o entendimento 
majoritário. Maria Helena, Junqueira, Bittar, Zanetti. 
 
30 
*#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: Informativo 507 do STJ: DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL PRÉ-
CONTRATUAL. A parte interessada em se tornar revendedora autorizada de veículos tem direito de ser 
ressarcida dos danos materiais decorrentes da conduta da fabricante no caso em que esta — após anunciar em 
jornal que estaria em busca de novos parceiros e depois comunicar àquela a avaliação positiva que fizera da 
manifestação de seu interesse, obrigando-a, inclusive, a adiantar o pagamento de determinados valores — 
rompa, de forma injustificada, a negociação até então levada a efeito, abstendo-se de devolver as quantias 
adiantadas. A responsabilidade civil pré-negocial, ou seja, a verificada na fase preliminar do contrato, é tema 
oriundo da teoria da culpa in contrahendo, formulada pioneiramente por Jhering, que influenciou a legislação de 
diversos países. No Brasil, o CC/1916 não trazia disposição específica a respeito do tema, tampouco sobre a 
cláusula geral de boa-fé objetiva. Todavia, já se ressaltava, com fundamento no art. 159 daquele diploma, a 
importância da tutela da confiança e da necessidade de reparar o dano verificado no âmbito das tratativas 
pré-contratuais. Com o advento do CC/2002, dispôs-se, de forma expressa, a respeito da boa-fé (art. 422), da 
qual se extrai a necessidade de observância dos chamados deveres anexos ou de proteção. Com base nesse 
regramento, deve-se reconhecer a responsabilidade pela reparação de danos originados na fase pré-contratual 
caso verificadas a ocorrência de consentimento prévio e mútuo no início das tratativas, a afronta à boa-fé 
objetiva com o rompimento ilegítimo destas, a existência de prejuízo e a relação de causalidade entre a ruptura 
das tratativas e o dano sofrido. Nesse contexto, o dever de reparação não decorre do simples fato de as 
tratativas terem sido rompidas e o contrato não ter sido concluído, mas da situação de uma das partes ter 
gerado à outra, além da expectativa legítima de que o contrato seria concluído, efetivo prejuízo material. REsp 
1.051.065-AM, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 21/2/2013. 
 
3.2. FASE DE PROPOSTA, POLICITAÇÃO OU OBLAÇÃO 
 
Essa fase tem tratamento no CC. Arts. 427 a 435. É a fase de proposta formalizada que tem força vinculante. As 
partes são: 
 
a) Proponente, policitante ou solicitante – faz a proposta (vinculado). 
b) Oblato, policitado ou solicitado – recebe a proposta. 
 
Obs.: se a proposta originária é subitamente alterada pelo oblato, há uma contraproposta e os papeis se 
invertem. Art. 431. 
 
Art. 427. A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza 
do negócio, ou das circunstâncias do caso. 
 
Art. 428. Deixa de ser obrigatória a proposta: CAI SEMPRE! 
31 
I - se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita (CONTRATO COM DECLARAÇÃO 
CONSECUTIVA). Considera-se também presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de 
comunicação semelhante; - ELETRÔNICO = ENTRE PRESENTES. HÁ DIVERGÊNCIA. 
II - se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao 
conhecimento do proponente; CONTRATO COM DECLARAÇÕES INTERVALDAS. Foi pensado para o caso de se 
mandar proposta por carta. 
III - se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado; 
IV - se, antes dela (PROPOSTA), ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte (OBLATO) a 
retratação do proponente. 
 
Nessa fase o contrato pode ser formado: 
 
a) Entre presentes (inter praesentes): está formado quando o oblato aceita a proposta – encontro de vontades. 
Simultaneamente. 
b) Entre ausentes (inter absentes). Ex. contrato epistolar. Quanto a sua formação o CC adota duas teorias, uma 
regra e uma exceção. 
 
- Regra: Teoria da agnição ou aceitação, na subteoria da expedição – expedição da aceitação. 
 
- Exceção: teoria da agnição ou aceitação, na subteoria da recepção. Quando? Retratação do aceitante e quando 
as partes convencionarem. 
 
Art. 434. Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida (Teoria da agnição, 
na subteoria da expedição), exceto (teoria da agnição, na subteoria da recepção). 
I - no caso do artigo antecedente; RETRATAÇÃO – vale ali a regra da cognição. 
II - se o proponente se houver comprometido a esperar resposta; - CONVENCIONADO. 
III - se ela não chegar no prazo convencionado - CONVENCIONADO. 
 
Enunciado 173 – art. 434. A formação dos contratos realizados entre pessoas ausentes, por meio eletrônico 
(POR E-MAIL), completa-se com a recepção –TEORIA DA RECEPÇÃO – da aceitação pelo proponente. 
 
Em verdade, essas teorias já estão ultrapassadas há uns 50 anos. Prevalece, na Europa, a teoria da 
confirmação, ou do “duplo clique”, usada em contratos eletrônicos lá fora. O enunciado 173 da III Jornada 
(entendimento doutrinário) tenta resolver a questão, já que o Brasil não aceitou a teoria do duplo clique. 
Propõe a teoria da recepção. 
 
32 
Importa saber, contudo, que o projeto de reforma do CDC (PL nº 281/2013) adota a teoria da confirmação. É 
duplo clique porque não basta receber a aceitação, tem que confirmar que recebeu. Um aceita e o outro 
confirma o recebimento da aceitação. Por isso duplo clique. 
 
#RESUMO: 
a) REGRA CC – Teoria da expedição 
b) Exceções CC – Teoria da recepção (retratação ou convencionado) + e-mail 
c) CDC – Teoria da confirmação ou duplo clique (Europa) 
 
Para terminar essa segunda fase é preciso fazer duas observações. 
 
Obs.1: O art. 429 CC prevê oferta ao público, e tem força vinculativa. O contrato seria entre ausentes porque 
não se sabe quem vai aceitar. 
 
Art. 429. A oferta ao público equivale a proposta quando encerra os requisitos essenciais ao contrato, salvo se o 
contrário resultar das circunstâncias ou dos usos. 
Parágrafo único. Pode revogar-se a oferta pela mesma via de sua divulgação, desde que ressalvada esta 
faculdade na oferta realizada. 
 
Obs.2: O local de celebração do contrato é o local da proposta (art. 435, CC). Isso gera problemas em provas, 
pois a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB), no art. 9º, §2º, diz que é no lugar em que 
residir o proponente, que não obrigatoriamente é o local da proposta. Solução: o art. 435 é aplicado para 
contratos nacionais, enquanto o art. 9º para contratos internacionais. Cai em primeira fase bastante. É um 
solução, contudo, bem simplista, pois tem contratos bem complexos evolvendo várias empresas e países. 
 
Art. 9o Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem – INTERNACIONAIS 
§ 1o Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de forma essencial, será esta observada, 
admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato. 
§ 2o A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o proponente. 
 
Art. 435. Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que foi proposto – NACIONAIS 
 
3.3. FASE DE CONTRATO PRELIMINAR 
 
Também é disciplinada pelo CC/02, arts. 462 a 466. Fase preparatória do contrato definitivo, com força 
vinculante e efeitos jurídicos maiores do que a fase anterior. Ex.: arras ou sinal (417 a 420, CC). 
 
33 
O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve ter todos os requisitos de validade do contrato definitivo 
(art. 462, CC). 
 
Segundo Maria Helena Diniz, o contrato preliminar, também chamado de compromisso de contrato, admite 
duas modalidades básicas: 
 
a) Compromisso

Outros materiais