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Cidadania Digital_ Educando para o uso consciente da internet

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Cidadania Digital: Educando para o uso consciente da internet. (07.10.2020) 
 
A partir das mobilizações pioneiras da SaferNet, o tema "uso seguro e responsável 
da Internet" foi ganhando relevância, além de ampla cobertura da imprensa 
nacional. Em 2012 o Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da 
Comunicação (Cetic.br) montou um grupo de especialistas no Brasil e fez uma 
parceria com a ​London School of Economics and Political Science​ (LSE) para iniciar 
a TIC Kids Online, importante pesquisa que anualmente revela detalhes sobre os 
hábitos de uso da Internet por crianças e adolescentes com entre 9 e 17 anos de 
idade. A SaferNet Brasil, ao lado de outros especialistas e organizações brasileiras, 
têm trabalhado nos dados da TIC Kids Online para melhor compreender as 
variações nos usos e os novos desafios para a educação relacionada ao uso seguro 
e consciente da Internet. 
A presença constante da Internet na vida dos alunos, aspecto da realidade cotidiana 
na maior parte das escolas, é confirmada pelos dados da pesquisa, indicando que 
89% das crianças e dos adolescentes de 9 a 17 anos são usuários de Internet no 
Brasil, o que equivale a mais de 25 milhões de crianças e adolescentes (CETIC.br, 
2019). 
Uso privativo 
Uma das mudanças importantes nos últimos anos em que a pesquisa foi realizada é 
o aumento do acesso à Internet várias vezes ao dia e cada vez mais por meio dos 
celulares. O acesso a partir das escolas tem caído gradativamente. 
Desafios para mediação 
Há necessidade de mudança na dinâmica de orientação e prevenção quando 
comparamos o uso móvel com o que era feito por meio dos computadores de mesa 
nas ​lan houses​ e nas residências. 
Crianças e adolescentes percebem os riscos 
As crianças e os adolescentes reconhecem tanto os aspectos positivos quanto as 
situações de perigo que podem encontrar na Internet. 83% dos entrevistados com 
idade entre 11 e 17 anos reconhecem que há muitas coisas boas na Internet para 
pessoas da sua idade e 68% acham que sabem mais sobre Internet do que os pais 
(CETIC, 2019). 
É preciso estimular mais oportunidades 
Não podemos menosprezar sua capacidade de desfrutar dos novos recursos, mas 
precisamos mediar esses usos para que eles tenham melhores condições de 
otimizar as oportunidades e lidar com situações de risco para não produzir danos. 
Risco é diferente de dano. 
Educar para uso seguro e consciente não depende de pleno domínio sobre os 
aspectos técnicos da Internet, mas é muito importante que todos nós tenhamos 
noções básicas. Quanto mais tivermos noções gerais relacionadas à Internet, 
melhor poderemos trabalhar as questões de responsabilidade e uso cidadão. 
 
Certamente há diferenças entre nossos comportamentos dentro e fora das redes 
digitais, mas nunca podemos menosprezar a dimensão pública das redes sociais e 
de outros ambientes compartilhados na Internet. Isso não quer dizer que a Internet é 
sempre mais perigosa ou arriscada. O importante é perceber que, assim como em 
outros ambientes frequentados por muitas pessoas, nas redes também podemos 
estar expostos a um conjunto de riscos. 
Por exemplo, a habilidade instrumental que crianças e adolescentes têm de usar os 
botões do celular ou do ​tablet não garante que tenham condições de reconhecer os 
riscos que correm. Da mesma forma que uma criança de cinco anos não conseguirá 
reconhecer todos os potenciais riscos ao frequentar uma rua movimentada, nem 
sempre ela perceberá os riscos on-line. 
Na Internet não são apenas os amigos e familiares que podem entrar em contato, 
sugerir conteúdos ou mesmo ensinar coisas para crianças e adolescentes. Antes de 
apresentarmos uma tabela resumo de situações de risco para crianças na Internet, 
vale destacar a diferença entre risco e dano na rede. 
Risco ≠ Dano 
Nem toda situação de risco provoca um dano. Uma criança de cinco anos que vá 
sozinha de sua casa até a padaria, por exemplo, pode estar numa situação de risco 
que tem potencial para desencadear danos concretos: ficar perdida, sofrer um 
assalto, ser violentada ou até ser sequestrada. Estar diante de uma situação de 
risco não obrigatoriamente quer dizer que se sofrerá o dano. Nesse exemplo 
ilustrativo, haveria dano caso efetivamente alguma dessas situações se 
concretizasse. A chance de uma situação de risco se desdobrar em danos 
concretos depende do grau de mediação / proteção ou acompanhamento dos 
responsáveis pela criança e do grau de maturidade / habilidade da própria criança 
para a autoproteção. 
O equilíbrio entre mediação dos adultos e autocuidado varia de acordo com cada 
faixa etária e estágio do desenvolvimento, mas a efetiva proteção dependerá 
sempre de uma capacidade da própria criança saber discernir as situações de risco 
para evitá-las e/ou pedir ajuda para não sofrer nenhum dano. Os tipos de danos 
também variam muito. Na Internet, precisamos saber diferenciar as situações de 
risco potencial dos danos efetivos. Por exemplo, uma publicação imprópria não é 
obrigatoriamente uma publicação danosa. Os conteúdos impróprios, por exemplo, 
seriam conteúdos e expressões que soam desrespeitosos para alguns usuários e 
para outros não, sob o argumento de que as pessoas possuem valores, culturas, 
credos e pontos de vista diferentes, sendo necessário ponderar a liberdade de 
expressão de cada um no ambiente de diversidade. Já a publicação danosa seria 
aquela que causa algum dano ao discriminar pessoas ou grupos, violando seus 
direitos fundamentais. 
 
Nos últimos anos, o Cyberbullying tem sido um tema recorrente em reportagens 
publicadas na imprensa e também no cotidiano escolar. Para que possamos ter 
clareza sobre esse fenômeno, é sempre bom termos uma definição mais clara sobre 
ele. 
Cyberbullying 
Definição: A palavra Bullying é derivada de outro termo em inglês, ​"bully"​, que 
significa tirano, valente, truculento. Bullying representa uma relação de intimidação, 
de supremacia e controle de uma pessoa ou grupo sobre um indivíduo, buscando 
produzir a ideia de que há algo de errado ou inferior com a vítima, desqualificando-a 
e humilhando-a de maneira repetitiva e sistemática. Ele pode ocorrer por meio de 
agressões físicas, roubo de pertences, lanche ou brinquedos, isolamento em 
atividades coletivas, piadas e apelidos discriminatórios. 
O Cyberbullying é a modalidade virtual do Bullying, que é identificado pelas 
intimidações repetitivas entre crianças e adolescentes, mas com características 
próprias, pois tem um efeito multiplicador e de grandes proporções quando acontece 
na Internet. Na modalidade digital, as ferramentas tecnológicas (celulares e câmeras 
fotográficas, por exemplo) e os ambientes das redes e aplicativos sociais servem 
para produzir, veicular e disseminar conteúdos de insulto, humilhação e violência 
psicológica que provocam intimidação e constrangimento das crianças e dos 
adolescentes envolvidos. 
O Cyberbullying diferencia-se das brincadeiras e brigas comuns entre crianças e 
adolescentes por ser uma prática repetitiva que gera uma discriminação 
permanente, podendo comprometer a socialização e a autoestima das vítimas por 
toda a vida. 
Podemos enfatizar ​três aspectos​ centrais que caracterizam tanto o Bullying quanto o 
Cyberbullying: 
○ Comportamento intencional de perturbar, intimidar e/ou agredir; 
○ Repetição ao longo do tempo; 
○ Desequilíbrio de poder. 
Trata-se de um problema mundial, muitas vezes subestimado pelos adultos quando 
encarado como uma “brincadeira de crianças” ou “zoeiras normais”. Cyberbullying 
não é brincadeira. Só existe brincadeira quando todos os envolvidos se divertem. 
Quando há uma relação desigual de poder, em que uns se divertem e outros sofrem 
e são maltratados, é preciso queos adultos tomem uma providência. 
O Cyberbullying não é um problema entre duas pessoas ou apenas entre 
agressores e vítimas. Uma visão sistêmica sobre o fenômeno nos ajuda a perceber 
e compreender suas manifestações complexas. Ele envolve não apenas as 
pessoas, mas sempre tem um contexto e está relacionado a valores, a normas e à 
cultura do local no qual ocorre. 
Parte 2 
Dando prosseguimento a uma abordagem mais geral, vejamos os atores que 
precisam ser reconhecidos nos casos de Cyberbullying: 
Atores 
○ Agressores (pessoas ou grupos); 
○ Vítimas (pessoas ou grupos); 
○ Mediadores (agressores ou defensores); 
○ Espectadores / Testemunhas (ativos ou passivos). 
Ao buscarem reconhecimento, validação social e exercício de poder, os agressores 
dependem dos espectadores para que tenham algum retorno com relação à prática 
dessa violência. Há espectadores que participam ativamente curtindo, 
compartilhando e disseminando as humilhações e intimidações às vítimas, e existe 
o grupo de espectadores mais passivos que apenas assistem sem reagir, seja por 
medo ou por aceitarem a situação. Todos eles são atores diretamente envolvidos e 
que precisam ser sensibilizados, pois conquistar a validação social e/ou intimidar os 
espectadores são algumas das principais motivações dos agressores. 
Os mediadores podem ser considerados aqueles que participam colaborando 
indiretamente na produção das ofensas e agressões, estimulando, dando insumos, 
criando conteúdos que são usados diretamente pelos agressores. Há também 
situações de mediação em defesa da vítima, com intervenções que visam 
interromper a violência ou buscar ajuda, denunciando nos sites, apagando os 
conteúdos, mobilizando os colegas para não participar e desestimulando a 
replicação das humilhações. 
Como o problema está ligado diretamente a uma dinâmica de relacionamentos 
interpessoais e a um contexto de interações, vítimas e agressores não são papéis 
estanques. Algumas vítimas podem ter atuado como agressoras e agressores 
podem ter sofrido violências semelhantes no passado ou mesmo no presente, em 
outro contexto. A mudança nos papéis, caso a caso, exige que tenhamos sempre 
um olhar cuidadoso para não personalizar as situações. 
Ao reconhecer essa dinâmica complexa, as intervenções dos educadores, e mesmo 
das famílias, podem ser mais eficientes quando atuam nas referências que as 
crianças e adolescentes usam para seus relacionamentos interpessoais. Trabalhar 
com as habilidades individuais e coletivas para gerenciar conflitos, lidar com as 
frustrações, controlar a agressividade, desenvolver empatia e reconhecer suas 
próprias emoções são caminhos mais complexos, porém mais eficientes para 
prevenção de novos casos. Mais adiante, trataremos da importância da educação 
socioemocional como uma das estratégias de prevenção e enfrentamento ao 
Cyberbullying. 
Brincadeira ≠ Violência 
Como vimos, diferenciar Brincadeira de Violência é um dos maiores desafios, 
especialmente nos casos de Cyberbullying. Precisamos sensibilizar nosso olhar 
para conseguirmos diferenciar situações pontuais de brincadeiras violentas 
("zoeiras"), violência pontual e agressões sistemáticas que efetivamente se 
enquadram como Cyberbullying. 
Brincadeiras violentas: é necessário frisar que há situações em que o tipo de 
brincadeira está no limiar da expressão da agressividade entre pares. Por mais que 
sejam irrepreensíveis pelos adultos, ou mesmo proibidas nos ambientes escolares, 
há situações que podem ser consideradas apenas brincadeiras quando a resposta é 
sim para as perguntas: 
○ Todos estão se divertindo e gostando da brincadeira? 
○ A brincadeira tem começo, meio e fim? 
○ Todos têm o mesmo poder para escolher participar ou não? 
○ Há regras e todos são iguais diante dos limites estabelecidos? 
Se a resposta a uma dessas questões é não, podemos dizer que não se trata mais 
de uma brincadeira e sim de uma violência. Nesse caso, precisamos seguir com 
outras perguntas: 
○ Essa situação foi pontual? 
○ As mesmas pessoas são constantemente alvo das "zoeiras" e 
agressões? 
○ São alvos mesmo sem querer participar da brincadeira? 
Em algumas situações, a agressão, a humilhação ou a intimidação ocorre de forma 
isolada. Nesses casos podemos considerar que não há um caráter sistemático e 
repetitivo, mas uma violência pontual. Mesmo esse tipo de violência precisa ser 
rigorosamente tratado pelas escolas e por familiares, podendo gerar um conjunto de 
responsabilizações. 
Na Internet, um dos complicadores é justamente a dificuldade de algo ser pontual, 
pois uma vez no formato digital, mesmo uma brincadeira fora de contexto pode se 
multiplicar, persistir no tempo e atingir uma grande audiência rapidamente 
(“viralizar”), gerando intimidação e humilhação de grande intensidade, 
caracterizando Cyberbullying. Ainda que sejam violências e precisem ser tratadas 
com seriedade, não são exatamente Cyberbullying situações de: 
○ Episódio único de rejeição ou desagrado 
○ Ato isolado de desrespeito ou aborrecimento 
○ Agressão ou intimidação aleatória 
○ Episódio de briga ou desentendimento mútuo 
O fato de identificarmos uma brincadeira violenta como diferente do Cyberbullying 
não diminui a gravidade dos fatos e a necessidade de intervenção, porém ajuda a 
pensar em respostas que sejam proporcionais e adequadas a cada caso. Devemos 
sempre buscar um caminho de resolução pacífica dos conflitos para que haja algum 
aprendizado e não apenas punições aos envolvidos. 
O fenômeno do Cyberbullying é um assunto sério, e precisamos reconhecer que 
pode ter graves consequências jurídicas tanto para as famílias quanto para os 
próprios adolescentes envolvidos. Antes de explicar alguns aspectos jurídicos 
envolvidos nas situações de intimidação e humilhação pública praticadas por 
crianças e adolescentes usando os recursos digitais, vale destacar a noção de 
proteção integral aos direitos humanos de crianças e adolescentes que amparam o 
Estatuto da Criança e do Adolescente no Brasil (ECA). 
Como sujeitos de direitos, crianças e adolescentes não podem ser considerados 
apenas tutelados pelos pais, mas também atores, protagonistas de direitos e 
deveres. A lei estabelece limites em respeito às diferentes fases de 
desenvolvimento e prevê uma autonomia relativa que precisa ser mediada e 
protegida pelos pais, pelo Estado e por toda a sociedade com prioridade absoluta, 
seguindo o que está previsto no Art. 227 da Constituição Federal. Na perspectiva 
jurídica, são considerados adolescentes os jovens entre doze e dezessete anos e, 
segundo o ECA, podem ser responsabilizados, junto com os pais, pelos atos 
praticados quando ferem alguma lei. 
Nesse sentido, a Lei nº 13.185 de 2015, que institui o Programa de Combate à 
Intimidação Sistemática (Bullying), é um grande estímulo para que educadores e 
pais atuem na educação para uma cultura de respeito e de paz. Em vez de buscar 
um novo enquadramento jurídico para o Cyberbullying, esta lei institui o dever de 
implementar e disseminar campanhas de educação, conscientização e informação 
para enfrentar o Bullying e o Cyberbullying. 
Acreditamos que os principais papéis das escolas devem ser a sensibilização, 
conscientização e prevenção aos casos de Cyberbullying. Uma vez identificados 
entre os alunos no contexto escolar, a recomendação é que haja um protocolo claro 
para enfrentar o problema com medidas de mediação de conflitos e, no extremo, 
orientaçãoàs famílias para denúncia formal às autoridades. Dentro de seus limites, 
as escolas têm um papel central em: 
○ criar ambiente seguro e positivo 
○ melhorar o relacionamento entre pares 
○ ampliar a conscientização 
○ reduzir oportunidades e recompensas para os agressores 
○ encaminhar casos graves às autoridades 
Antes de seguir para o fluxo de denúncias, vamos detalhar algumas alternativas 
pedagógicas. Se o papel das escolas é justamente apoiar na formação crítica dos 
alunos para que possam diferenciar brincadeiras de violências, não podemos deixar 
de pensar em estratégias que envolvam os alunos na resolução do problema. Nesse 
sentido, algumas estratégias diretas podem ser desenvolvidas pelos educadores e 
gestores: 
Ações possíveis 
○ Debater o tema a partir de reflexão crítica de vídeos e textos na área 
de linguagens (português, inglês ou espanhol); 
○ Promover uso seguro e responsável das tecnologias; 
○ Envolver representantes de alunos na criação e revisão das políticas 
de uso das Tecnologias Digitais na Escola; 
○ Elaborar relatórios periódicos sobre ocorrências e planejamento de 
ações no Projeto Político-Pedagógico; 
○ Realizar enquetes sobre o tema para trabalhar conceitos matemáticos; 
○ Buscar a origem e o significado das palavras "empatia", "conflito" e 
"respeito" para então refletir sobre o que significam no mundo digital; 
○ Desenvolver estratégias de mediação de conflitos com os 
representantes de turma e coordenação da escola para atuar também 
nos casos de Cyberbullying; 
○ Elaborar com os alunos uma proposta de fluxo de notificação anônima 
para os casos de Cyberbullying que tenham implicação na convivência 
escolar; 
○ Debater sobre as leis relacionadas e casos concretos de 
responsabilização das famílias e dos próprios alunos; 
○ Convidar especialistas e autoridades para palestras e atividades de 
sensibilização. 
A formação de pessoas conscientes e responsáveis começa na infância. A adoção 
de condutas pacíficas, inclusivas e de convívio harmonioso passa pela participação 
direta dos pais e responsáveis, bem como dos educadores. Para que as escolhas 
on-line também sejam inspiradas nesses princípios da convivência pacífica, quanto 
antes iniciarmos o trabalho diretamente com os alunos, maiores serão nossas 
chances de sensibilizar para prevenir e enfrentar o Cyberbullying. 
Considerando a complexidade do fenômeno do Cyberbullying, temos trabalhado 
com uma visão mais sistêmica que envolve: PREVENIR - MEDIAR - REPORTAR - 
ACOMPANHAR. 
 
PREVENIR 
PREVENIR para ajudar os alunos, e mesmo as famílias, a perceber as diferenças 
entre brincadeiras e violências. Estimular maior autocrítica sobre as publicações nas 
redes e evitar consequências mais graves. 
MEDIAR 
MEDIAR: Antes de denunciar, vale apoiar os envolvidos a buscarem uma resolução 
pacífica. Uma conversa franca de desculpas, remoção da publicação ofensiva e 
uma publicação de apoio podem ser alternativas eficientes nos casos mais pontuais. 
O mesmo vale para as audiências, que devem remover o conteúdo em vez de 
compartilhá-lo. 
 
 
REPORTAR 
Nos casos graves nos quais não conseguimos atuar na mediação e não há 
engajamento dos envolvidos, REPORTAR pode ser necessário. A denúncia mais 
formal de casos de Cyberbullying deve ser feita pelos responsáveis legais dos 
alunos. As escolas podem ajudar na orientação dos passos a serem tomados tanto 
pelas vítimas quanto pelos espectadores que querem colaborar na interrupção e em 
denúncias dos casos. Na próxima unidade, apresentaremos um tutorial sobre como 
denunciar as situações mais graves. 
ACOMPANHAR 
Envolve não apenas monitorar os desdobramentos de casos concretos que foram 
mediados ou reportados, mas também acompanhar a saúde dos relacionamentos 
entre os alunos no contexto escolar. O acompanhamento pode ser feito em relação 
às mudanças repentinas de comportamentos de determinados alunos, um possível 
sinal de algum tipo de sofrimento emocional. 
Ainda que nem sempre estejam diretamente relacionadas a episódios de 
Cyberbullying, acompanhar as mudanças de comportamento com foco no bem-estar 
e na saúde emocional dos estudantes é sempre uma boa forma de prevenir e evitar 
que casos graves se desenvolvam. Os trabalhos de prevenção acabam sendo 
também uma maneira de realizar o acompanhamento em grupo, dando 
oportunidade para que os alunos eventualmente relatem incômodos ou desconfortos 
antes mesmo de se tornarem problemas mais graves. 
Como vimos, o trabalho de prevenção pode ser feito em diferentes disciplinas da 
grade curricular. Um dos recursos mais interessantes para disparar uma discussão 
sobre o tema são os vídeos com linguagem acessível e direta para os alunos. 
Parte 1 
Nos últimos anos você já deve ter ouvido algumas vezes a expressão “manda 
nudes” ou então ter tomado conhecimento de casos de vazamento de ​nudes​ de 
pessoas de diferentes idades. Há alguns anos o termo mais conhecido para esse 
tipo de imagem era ​sexting​. A fim de podermos compreender melhor essas práticas, 
é sempre bom termos uma definição mais clara sobre o que exatamente estamos 
falando. 
Como já vimos nos módulos anteriores, nosso foco é pensar em estratégias que 
possam ajudar os alunos a ter maior capacidade crítica sobre suas escolhas on-line, 
desenvolvendo maturidade para evitar situações de dano para si ou para seus 
pares. Isso nos leva a considerar alguns aspectos da sexualidade de crianças e 
adolescentes como parte da educação socioemocional. Vamos iniciar com algumas 
definições para compreender essas práticas e amparar nossas ações preventivas. 
Sexting: fruto da junção das palavras ​sex​ (sexo) + ​texting​ (torpedo), tem 
origem inglesa e surgiu para descrever a troca de mensagens de texto por 
SMS (​Short Message Service​) de caráter erótico e sexual. O termo é um dos 
exemplos de uso da Internet para expressão da sexualidade na adolescência. 
É uma prática na qual as pessoas, incluindo adolescentes e jovens, usam 
redes sociais, aplicativos e dispositivos móveis para produzir e compartilhar 
imagens de nudez e sexo. Envolve também mensagens de texto eróticas com 
convites e insinuações sexuais para namorado(a), pretendentes e/ou 
amigos(as). A palavra ​sexting​ já indica uma lacuna entre o discurso adulto e a 
experiência dos jovens. Quando se pergunta aos adolescentes sobre ela, 
nem sempre eles a conhecem ou usam. Com a popularização dos celulares 
com câmeras e conexão à Internet, o que antes era feito apenas com o 
recurso de texto hoje pode ser feito com vídeos e fotos de alta definição, em 
algumas ocasiões com compartilhamento ao vivo. Aí que entram os ​nudes​. 
Nude: basicamente significa “nu”, mas o termo em inglês se popularizou para se 
referir às imagens de nudez e outros tipos de conteúdos íntimos produzidos 
principalmente com as câmeras dos celulares. Os ​nudes são contemporâneos das 
selfies​. 
Selfie: é um tipo de foto tirada por si mesmo e de si mesmo por uma câmera, ou 
dispositivo móvel, para ser compartilhada pela web. Geralmente os ​nudes são 
selfies​ tiradas de partes íntimas do corpo. 
Em 2013, o comportamento ficou tão popularizado, inclusive entre celebridades, que 
o Dicionário Oxford escolheu ​selfie como a palavra do ano. Um dos motivos para a 
escolha foi o fato de o uso da palavra em inglês ter crescido 17.000% em 2013, o 
que confirma o seu estatuto de uma das palavras mais procuradas em um ano. O 
neologismo que ganhou a rede tem origem no termo ​self-portrait​, que significaautorretrato. A particularidade de uma ​selfie é que ela é tirada com o objetivo de ser 
compartilhada em uma rede social ou aplicativo de mensagem. Ela pode ser tirada 
com apenas uma pessoa, com amigos, celebridades, estranhos ou paisagens de 
fundo. 
A prática de tirar ​selfies ganhou popularidade global, e algumas tiveram milhões de 
visualizações. Alguns exemplos famosos são aquelas tiradas por um grupo de 
jovens com o Papa Francisco e aquelas tiradas em premiações do Oscar, em que 
aparecem várias estrelas de Hollywood. Uma ​selfie também pode estar no centro de 
uma polêmica, como é o caso de uma tirada no funeral de Nelson Mandela. Fazer 
uma ​selfie não é um problema em si, mas é importante avaliar sempre a situação 
em que se encontra para refletir sobre os comportamentos apropriados para cada 
ocasião social. 
Vazamento de ​nude 
Uma vez que um ​nude é enviado, ainda que para uma única pessoa, muito 
facilmente podemos perder o controle sobre seu conteúdo. Aquele que 
recebeu pode ter o celular roubado, perdido ou invadido por alguém mal 
intencionado e que pode replicar os conteúdos íntimos, gerando enorme dano 
à vida das vítimas. Para além dos casos de perda ou roubo, infelizmente 
temos visto muitas situações nas quais os ​nudes são vazados, 
compartilhados sem consentimento e com intuito de humilhar e intimidar. 
Há situações nas quais os ​nudes são compartilhados com melhores amigos, 
depois com outro amigo e o que era restrito ao parceiro ou à parceira passa a 
circular por toda a escola, por todo o bairro ou cidade, sem limite de 
exposição das vítimas. Ainda que a motivação inicial não seja, por exemplo, a 
vingança pelo término de um relacionamento, qualquer exposição sem 
autorização ou fora dos acordos estabelecidos pelos donos das fotos é 
também uma violência grave que precisa ser prevenida e combatida. Em 
2018 o compartilhamento deste tipo de imagem sem autorização passou a 
ser crime no Brasil, como veremos a seguir. 
Pornografia de vingança (​revenge porn​) 
Um dos casos mais frequentes de violência envolvendo ​nudes é o vazamento de 
conteúdo íntimo depois do término de um relacionamento. Uma das partes, 
geralmente os meninos/homens, torna públicas as imagens íntimas que foram 
compartilhadas em uma relação de confiança com o(a) parceiro(a). Quando o 
compartilhamento não consentido é feito com intuito de vingança, a prática é 
popularmente chamada de pornografia de vingança. 
Aqui cabe uma observação importante: não consideramos o termo apropriado, pois 
a publicação de conteúdos sem autorização é um crime e não um tipo de 
pornografia, ainda que o agressor publique o conteúdo em sites pornográficos ou 
simule a oferta de serviços sexuais em nome das vítimas. Quando envolve menores 
de 18 anos, esse ato criminoso é ainda mais grave, pois se trata de produção e 
divulgação de imagens de um crime contra a dignidade sexual de crianças ou 
adolescentes, um tipo de violência sexual. 
Pornografia infantil 
Pornografia infantil é um tipo de violência sexual contra crianças e adolescentes que 
se refere a qualquer representação, por qualquer meio, de uma criança envolvida 
em atividades sexuais explícitas reais ou simuladas, ou qualquer representação dos 
órgãos sexuais de uma criança para fins primordialmente sexuais (Decreto 5.007, 
de 08/03/2004). Podemos considerar que é mais adequado falar em imagens de 
crianças e adolescentes sendo abusados, imagens de exploração ou violência, já 
que na pornografia se supõe participação voluntária dos atores na cena. Quando há 
imagens de crianças ou adolescentes, há abuso ou exploração, logo, não são 
imagens de pornografia e, sim, de crime e violência praticados. 
A Legislação Brasileira em vigor tipifica como crime a(s) conduta(s) de: 
"Apresentar, produzir, vender, fornecer, divulgar ou publicar, por qualquer meio de 
comunicação, inclusive rede mundial de computadores ou Internet, fotografias ou 
imagens com pornografia ou cenas de sexo explícito envolvendo criança ou 
adolescente". 
Fonte: Art. 241 do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
Outro ponto que merece destaque é a necessária diferenciação entre Pedofilia e 
Pornografia Infantil. 
Pedofilia ≠ Pornografia infantil 
A palavra "pedofilia" vem do grego e é fruto da união de duas palavras: ​Pedo​, que 
significa infância, criança, juventude e ​Filia​, que é a atração, filiação, amizade ou 
gosto. A pedofilia é um distúrbio do comportamento classificado como uma parafilia. 
As parafilias representam diferentes formas de perversão sexual. 
A característica principal de uma parafilia é a recorrência de comportamentos, 
anseios e fantasias sexuais intensas, geralmente envolvendo: 
○ Objetos não humanos; 
○ Sofrimento e humilhação de si mesmo ou do seu parceiro; 
○ Crianças ou outras pessoas sem o seu consentimento. 
A pedofilia é a atração sexual compulsiva por crianças e adolescentes. É 
classificada no DSM IV, livro que define os critérios de diagnóstico, no item F65.4 - 
302.2. Pedofilia em si não pode ser tida como crime, ela é um transtorno da 
personalidade. Já o abuso de crianças e adolescentes praticado por pedófilos é 
considerado prática criminosa. Portanto, a prática criminosa é a passagem ao ato: 
dos desejos impulsivos ao abuso sexual. O crime é o abuso de crianças ou 
produção de pornografia infantil. 
Outro exemplo para diferenciar a prática criminosa do transtorno de personalidade é 
o caso da cleptomania (transtorno impulsivo). O cleptomaníaco é o sujeito que sofre 
de um transtorno impulsivo que o leva a roubar compulsivamente certos tipos de 
objetos. O crime é o furto dos objetos. Nem todos os sujeitos que têm o transtorno 
praticam os atos criminosos, mesmo tendo um sofrimento psíquico. Além das 
severas punições definidas pela justiça, esses criminosos precisam de tratamento 
médico e psicológico para evitar que façam novas vítimas ao saírem da prisão. 
Assim como discutimos as consequências jurídicas nos casos de Cyberbullying, 
aqui também adolescentes podem responder pelo ato infracional equivalente a 
posse, produção e divulgação de pornografia infantil, conforme artigo 241 do 
Estatuto da Criança e do Adolescente. 
Parte 3 
Apesar de tanto meninos quanto meninas produzirem e compartilharem ​nudes​, um 
aspecto muito cruel no que diz respeito a essas práticas é o fato de que a maioria 
absoluta dos casos de violência (compartilhamento não autorizado) tem as meninas 
e as mulheres como vítimas. A violência contra a mulher se manifesta de maneira 
muito explícita nessa temática e é lamentável perceber que as novas gerações 
estão reproduzindo esse tipo de agressão contra a dignidade das mulheres desde a 
infância. Essa dimensão de violência precisa ser incluída em nosso trabalho de 
prevenção aos casos envolvendo alunos nas escolas. Novamente voltamos para 
aspectos da educação socioemocional, incluindo relações afetivas, empatia, 
respeito e noções de ética, que também são necessárias para pensar sobre a 
sexualidade de crianças e adolescentes. É um grande desafio, mas temos alguns 
caminhos educacionais que ajudam a quebrar o silêncio, sem precisar passar pelopânico moral nem pela inclusão de conteúdos impróprios para os alunos. Um passo 
importante nessa direção é perceber a diferença entre sexo e sexualidade. 
Sexualidade ≠ Sexo 
Sexualidade e sexo não são a mesma coisa e precisamos perceber suas diferenças 
para educar nossas crianças e adolescentes sobre seus direitos sexuais sem 
confundir as coisas. Sexo é uma das expressões da sexualidade já amadurecida 
que envolve a escolha de um(a) parceiro(a) e que pode acontecer a partir do 
desenvolvimento da puberdade, quando já conquistada certa maturidade 
psicológica. 
Já a sexualidade é uma dimensão da vida humana que está presente em todo o 
desenvolvimento do indivíduo, mas com características diferentes em cada etapa da 
vida. A sexualidade na criança, por exemplo, é muito diferente da sexualidade no 
adulto. Ao reconhecermos essas diferenças, acreditamos que é muito importante 
desenvolver atividades de reflexão crítica sobre as expressões da sexualidade na 
Internet nas escolas e nas famílias. Sabemos que esse é um tema sensível e que 
cada família tem suas abordagens, mas é preciso ter consciência da importância de 
haver diálogo sobre sexualidade desde a infância, sem repressão, com 
esclarecimento e orientação para evitar que, também na Internet, crianças e 
adolescentes fiquem expostos a situações de extremo risco como a exposição não 
consentida ou mesmo violência sexual. 
É muito importante que adolescentes e jovens tenham acesso à informação e 
à educação sexual com foco no autocuidado, na saúde, no respeito e na ética 
para relações de amizade e intimidade. Falar sobre sexualidade na juventude 
não é incentivar o sexo, é informar e orientar para o desenvolvimento sexual 
saudável. Alguns fatores de risco no âmbito da sexualidade são justamente o 
silêncio e o tabu que priva adolescentes de orientações e referências 
confiáveis para que desenvolvam gradativamente sua maturidade também na 
dimensão de intimidade e de respeito com a intimidade dos seus pares. 
A mediação tecnológica pode favorecer uma exposição maior do que aquela que é 
feita na interação presencial. Diante do computador ou do celular, as crianças e 
adolescentes nem sempre percebem a extensão da publicidade e exposição ao 
compartilhar uma foto ou um vídeo. Os ​nudes não são compartilhados apenas em 
um aplicativo ou site específico. 
Os serviços preferidos pelos adolescentes mudam muito. Os aplicativos de 
mensagens usados para conversar com amigos e/ou partes de um relacionamento 
afetivo tendem a ser os mesmos usados para trocar conteúdo íntimo, uma vez que 
essas imagens passam a compor o repertório conversacional de muitos 
adolescentes no mundo contemporâneo. 
No caso dos ​nudes​, o usuário perde o controle sobre a imagem de si com muita 
facilidade. Imagens de nudez podem se tornar virais, sendo distribuídas 
rapidamente fora dos limites previstos. Elas podem permanecer por anos na Internet 
e aparecer vinculadas ao nome do(a) envolvido(a) durante um longo período de sua 
vida. 
Quando não há espaços mediados pelos educadores nem pelos pais, a descoberta 
da sexualidade na adolescência acaba contando apenas com a ajuda de amigos 
nas próprias redes sociais, de respostas obtidas nos buscadores ou de conversas 
íntimas feitas com estranhos considerados amigos virtuais. Especialmente na 
adolescência, é fundamental que haja referências para que essas questões sejam 
abordadas de forma saudável, segura e com respeito às etapas do 
desenvolvimento. 
As habilidades de segurança dos adolescentes têm melhorado nos últimos anos, 
mas ainda temos muita urgência na promoção de atividades sobre uso seguro para 
que as novas gerações incorporem as dicas de segurança em seus hábitos. 
Vejamos algumas dicas básicas que todos nós precisamos seguir quando estamos 
on-line ou quando usamos aparelhos digitais. 
Proteção dos aparelhos e contas é um elemento básico para ampliar nossa 
segurança on-line. Um passo inicial e que vale tanto para as contas quanto para os 
aparelhos é usar sempre uma boa senha. As senhas são necessárias não apenas 
nas contas de redes sociais, e-mails e jogos, mas também em aparelhos celulares, 
tablets, modems, roteadores e até pen drives. Com o advento da chamada Internet 
das Coisas, precisamos começar a pensar em senhas para todo e qualquer objeto 
que se conecte à Internet, como câmeras de vigilância, televisões e outros 
aparelhos. 
Infelizmente, muitas pessoas ainda não levam suas senhas a sério e ficam 
vulneráveis a: 
Senhas fracas facilitam... 
○ invasão de contas; 
○ roubo de dados pessoais; 
○ ter o perfil ou e-mail usado por criminosos. 
Existem rankings das piores senhas em uso, com base em listas de contas 
atacadas ao redor do mundo. Alguns exemplos de senhas muito fáceis e que nunca 
deveriam ser usadas: 
○ senha 
○ 123456 
○ data de aniversário 
○ nome de time ou esportistas 
○ número da residência 
○ fusão de nomes de casais 
○ nome do animal de estimação

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