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1 INFLUÊNCIA DA FAMÍLIA NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM ESCOLAR INFANTIL INFLUENCE OF FAMILY IN SCHOOL CHILDREN LEARNING PROCESS Aldira Aparecida Pires de Melo Orientadoras: Lilian Sipoli Carneiro Cañete Wany Sousa e Silva e Campos Curso: Sociedade Universitária Redentor – Faculdade Redentor Rua João Vicente Locha, 83 Telefone: (32) 3441-8054 E-mail: aldirapmelo@hotmail.com RESUMO O presente estudo bibliográfico tem como tema “A influência da família no processo de aprendizagem infantil”. Considerando que a criança quando vai para a escola leva consigo todo um aprendizado cotidiano estimulado pela família e que, já na escola, a criança continua a ser influenciada pela família e pelos estímulos que lhe são ou não oferecidos no ambiente familiar, pretende servir de apoio aos profissionais que atendem à Educação Infantil, orientando-lhes sobre as interferências familiares e ajudando-lhes a identificar os reflexos desta na aprendizagem de seu aluno, pois o mesmo deve estar sempre preparado para identificar as necessidades do aluno e lidar diretamente com a família quando o relacionamento familiar estiver influenciando as atitudes, o comportamento e o aprendizado infantil. Palavras-chave: participação - família – educação infantil ABSTRACT This bibliographical study has as its theme "The influence of the family in children's learning process." Whereas when the child goes to school brings with it a whole learning everyday stimulated by the family and that already in school, the child continues to be influenced by family and stimuli which are not offered in the family, this is intended to serve support professionals who attend kindergarten, guiding him on interference and family helping you identify the reflections of the learning of their students, because it must always be prepared to identify student needs and deal directly with the family when family relationships are influencing the attitudes, behavior and learning in children. Keywords: participation - family – Upbringing 2 INTRODUÇÃO Considerando que o desenvolvimento físico, psíquico e social da criança depende em grande parte do seu relacionamento com os adultos e estes, não são só os da família, mas especialmente os da família, pois é a presença mais constante em sua vida, a análise das interações no seio do grupo familiar é fundamental, pois todo o crescimento e desenvolvimento é influenciado pela vivência dos pais. A função dos pais é dinâmica (êxitos e fracassos), as práticas educativas vão-se transformando ao longo das interações da família com a criança. Assim, as relações familiares, os mundos conhecidos da rotina da casa se tornam as primeiras referências da criança. “A criança é um agente ativo nessa interação, capaz de modificar o seu ambiente, como ser modificado por ele” (Marques. 1993). Ao entrar na escola, a criança deixa de participar apenas do mundo de seu lar e passa a conviver com outro mundo que lhe apresenta hábitos diferentes e que, ao mesmo tempo, lhe exige posturas diferentes. Por isso, a ida para a escola pode trazer problemas tanto para a criança quanto para os seus pais, que precisam identificar as mudanças ocorridas no comportamento de seu filho e incentivá-lo, pois é normal que a criança demonstre desinteresse em alterar sua rotina. Na escola, a criança enfrenta situações conflituosas que em família não lhes são comuns. Ela tem que dividir e compartilhar com outras crianças os brinquedos e objetos que antes utilizava sozinha; deve esperar sua vez e aprender a conviver com pessoas diferentes. Levando em conta que as outras crianças também estarão passando por essa ruptura com seu mundo, é natural que a criança apresente dificuldade de adaptação. 2. CONCEITO E EVOLUÇÃO SOCIAL DA FAMÍLIA A família tem sofrido profundas transformações em sua estrutura, diversificando seu papel diante da evolução social. Durante muito tempo, nem foi objeto de estudos, no entanto é na instituição familiar que vivenciamos a primeira forma de amor com que se tem contato na vida. No antigo modelo tradicional, a família era extensa e patriarcal; os casamentos baseavam-se em interesses econômicos, e a mulher, era destinada a castidade, a fidelidade e a subserviência. Tratava-se de uma estrutura patriarcal e patrimonialista onde tudo, ou quase tudo, era permitido aos pais na criação de seus filhos e todas as relações tinham como principal objetivo a manutenção do patrimônio. Por isso, de acordo com Pereira (1995), era comum aos pais escolherem os maridos ou esposas para seus filhos e filhas e, as crianças 3 somente podiam fazer o que lhes fosse permitido. A educação era baseada, na maioria das vezes, no autoritarismo, na violência e na opressão. Os filhos não tinham vontade própria e deviam obedecer aos pais e aos mais velhos. No modelo tradicional de família cabia ao homem o sustento da mulher e dos filhos; além da manutenção e ampliação do patrimônio. Davies (1994), explicita que, nesse modelo tradicional a escola tinha o papel de ensinar e a família o papel de criar e educar sem interferência de outros entes. De acordo com o mesmo autor: “a escola também era opressora e para repassar os conhecimentos dos quais somente os professores, denominados mestres, eram detentores era permitido e recomendado „abusar‟ do autoritarismo e do uso de castigos físicos e psicológicos.” Gokhale (1980), ao fazer uma breve retrospectiva histórica demonstrou que “a política autoritária predominante até os anos 60, não apenas do Brasil, mas em muitas partes do mundo, fez com que os jovens e, principalmente, as mulheres, se revoltassem contra todo poder instituído, inclusive o patriarcal.” A partir disso, as mulheres começaram a assumir um papel de maior destaque tanto na família quanto na sociedade, seja trabalhando em empregos formais ou ajudando nas despesas domésticas. Com isso, aos poucos, esse modelo tradicional se rompeu e foram surgindo novos modelos de família, como bem ressalta Kaloustian (1988). Segundo Almeida (1987): “com a revolução feminina a mulher passando a trabalhar fora, contribuindo para o sustento do lar e assumindo posições de maior relevância no mercado de trabalho, o homem passou a dividir a responsabilidade pela criação dos filhos e, isso, fez também com que o número de filhos de uma família se tornasse menor, devido, inclusive, às dificuldades advindas pela ausência da mãe, antes presença constante no lar.” Gokhale (1980), relembra que a adoção de métodos contraceptivos também teve papel de destaque na diminuição do número de filhos de um casal, pois, trabalhando, colaborando com o sustento da família, podendo satisfazer suas necessidades e desejos de consumo, podendo evitar ou adiar a maternidade, a mulher passou a pensar em seu crescimento profissional dedicando muitas horas de seu dia à sua carreira. Assim, as famílias tornaram-se menores e a atenção dispensada pela mãe aos filhos também. A escola passou a desenvolver um papel de cooperação na educação dessas crianças, uma vez que os pais estavam cada vez mais ocupados no trabalho e na divisão de tarefas. 4 Considerando que a família vem-se transformando através dos tempos, acompanhando as mudanças religiosas, econômicas e socioculturais do contexto em que se encontram inseridas, reconhece-se que os papéis dos entes familiares também sofreram alterações. Para Minuchin (1990), essa mudança atinge primeiramente os adultos da família, cujos papéis variam muito. O autor cita alguns desses papéis, caracterizando-os: “socialização da criança – relacionado com as atividades contribuintes para o desenvolvimento das capacidades mentais e sociais da criança; cuidados às crianças, tanto físicos como emocionais – perspectivando o seu desenvolvimento saudável; papel de suporte familiar – inclui a produçãoe/ ou obtenção de bens e serviços necessários à família; papel de encarregados dos assuntos domésticos – onde estão incluídos os serviços domésticos, que visam o prazer e o conforto dos membros da família; papel de manutenção das relações familiares – relacionado com a manutenção do contato com parentes e implicando a ajuda em situações de crise; papéis sexuais – relacionados com as relações sexuais entre ambos os parceiros; papel terapêutico – implica a ajuda e apoio emocional aquando dos problemas familiares; papel recreativo – relacionado com o proporcionar divertimentos à família, visando o relaxamento e desenvolvimento pessoal.” De todas essas inovações no modelo de família aumentaram os filhos de casais não casados e o divórcio ampliou a possibilidade dos filhos serem criados por apenas um dos pais, fazendo surgir um novo modelo de família: a família monoparental, consagrada posteriormente pela Constituição Federal de 1988. Em se tratando de Constituição Federal (2004), esta aborda a questão da família nos artigos 5º, 7º, 201, 208 e 226 a 230. Legitimando as inovações sociais, Por exemplo, no artigo 226 inaugura a união estável como um novo conceito de família (§ 3º) e privilegia a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes (§ 4º), a já tratada família monoparental. E ainda reconhece que: os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher (§ 5º). Para Milano (1996): 5 “A Constituição Federal, além de reconhecer as mudanças estruturais no modelo de família, considerou a criança e o adolescente como sujeitos de direitos, o que nenhuma legislação anterior havia feito. Anteriormente ambos eram tratados como propriedade familiar, podendo a família utilizar quaisquer meios para a promoção de sua educação, não podendo a sociedade e o Estado intervirem nas questões familiares. Isso fez com que a família e a escola repensassem seus papéis, pois se antes podiam usar da plena autoridade e autoritarismo que possuíam para „criar‟ e „educar‟ seus filhos e alunos, o que envolvia violência e repressão”. Como sujeitos de direitos, crianças e adolescentes, podem manifestar vontades e ter garantias quanto à sua integridade física, moral e psíquica, o que faz com que algumas formas de educar sejam contrárias à lei. Para consagrar definitivamente as crianças e adolescentes como sujeitos de direitos, a Constituição Federal determinou a criação de uma legislação específica de proteção desses direitos. Assim, em 1990, surgiu em nosso ordenamento jurídico o Estatuto da Criança e do Adolescente, conhecido como ECA (Brasil. 1990), a lhes garantir direitos específicos e políticas públicas de tratamento. Segundo Milano (1996), esse estatuto contemplou amplamente a família, destinando- lhe obrigações quanto à criação de seus filhos e pondo fim, ao menos legalmente, à educação pelo uso de castigos físicos. Para o mesmo autor, quanto à educação, o ECA (Brasil. 1990), inovou ao determinar que a família tem obrigação legal de matricular seus filhos na escola e cuidar de sua frequência às aulas, acompanhando a evolução de sua aprendizagem. O ECA (Brasil. 1990) dividiu a responsabilidade pelas crianças e adolescentes brasileiros entre a família, o Estado e a sociedade. Assim, de acordo com seu art. 4º: “É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com prioridade absoluta, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.” (Brasil. 1990) A reestruturação inaugurada por essa nova legislação, na certa, trouxe benefícios à criança, pois garantiu-lhe direitos e fez com que Estado e comunidade assumissem responsabilidades na sua criação. Com isso, a família que não tem condições plenas de fornecer o necessário à manutenção do sustento e da saúde de seus filhos, pode exigir posturas sociais e políticas públicas que lhes garantam uma sobrevivência digna. 6 Por outro lado, essa legislação, se não for bem interpretada, retira dos pais a obrigação de primar pela boa formação de seus filhos sob a alegação da responsabilidade de outros entes. Esse problema é atualmente enfrentado pelas escolas, pois, muitos pais alegam que perderam o controle sobre a criação de seus filhos com o excesso de proteção legislativa e delegam, cada vez mais, a função educadora à escola. É importante, no entanto, ressaltar que a família é a entidade responsável pela criação e educação de seus filhos, sendo os outros entes (sociedade e Estado) apenas colaboradores. Segundo Marques (1993): “à escola cabe complementar a educação dada pela família – seja ela tradicional, monoparental ou mista – ensinando a criança conceitos básicos de ética e cidadania, não podendo assumir responsabilidade integral na formação do caráter e de convicções que devem ser familiares, tais como a religião.” Independente da evolução social e das modificações no modelo de família, esta ainda é e sempre será o ente responsável pela formação da personalidade e do caráter da criança. Por isso, é a família que deverá fornecer as bases educacionais e todo o apoio necessário à escola para que a criança tenha um pleno desenvolvimento escolar, social e de caráter. Para Serra (1999), a família tem como função primordial a de proteção, tendo sobretudo, potencialidades para dar apoio emocional para a resolução de problemas e conflitos, podendo formar uma barreira defensiva contra agressões externas. Segundo Pereira (1995), (...) “a família constitui o primeiro, o mais fundante e o mais importante grupo social de toda a pessoa, bem como o seu quadro de referência, estabelecido através das relações e identificações que a criança criou durante o desenvolvimento”. 3. A FAMÍLIA E A APRENDIZAGEM INFANTIL “A educação infantil começa antes da ida da criança para a escola. A família é o primeiro suporte para essa educação, é ela que lhe satisfaz as necessidades básicas para sua sobrevivência, além de ser a responsável pelo desenvolvimento das qualidades instrumentais (percepção, motricidade, linguagem). Algumas dessas aprendizagens sociais são a linguagem, a capacidade de relacionamento entre os objetos, os acontecimentos ou as ações, etc.” (Kaloustian. 1998) A família, como dito anteriormente, é o primeiro e o principal espaço de formação da criança. É em casa que se inicia o processo de aprendizagem. A criança aprende a alimentar- se, a tomar cuidados com a higiene pessoal, a evitar perigos, etc. Sua formação social é 7 intensa desde cedo, pois os pais começam a estipular horários, locais de passeio e até mesmo a estimular a convivência com determinados grupos sociais. Ao mesmo tempo, também desde cedo, a família começa a auxiliar na formação da personalidade da criança ensinando-lhe o que pode ou não ser feito, corrigindo erros, incentivando acertos, dando-lhe conselhos, etc. Para Gokhale (1980), independente de ser a família formada por pais e filhos, por um dos pais e seus filhos, entre outros, é nela que a criança vivencia experiências que contribuirão para a construção de seus valores éticos e morais. Quando a criança atinge a idade escolar, a família procura a escola que melhor atenda às suas necessidades e a criança é matriculada na Educação Infantil. Nessa fase, pode-se ter a impressão que a responsabilidade familiar é dividida com a escola. Entretanto, isso não acontece, pois a criança pode sentir-se insegura diante de um mundo novo e desconhecido, exigindo da família maior atenção e dedicação nesse momento marcante e determinante de toda a sua vida escolar. Segundo Cordié (1996), a convivência com pessoas que não lhe são próximas, a trocade experiências com outras crianças, entre outras coisas que não faziam parte de sua rotina podem tornar a chegada na escola um momento muito difícil e decisivo para a criança. Importante ressaltar que esse momento é crucial para a definição da futura vida escolar da criança, pois, de acordo com Cury (2003), é nessa fase que a criança aprende a gostar ou não da escola. Uma situação que lhe cause um trauma pode torná-la uma criança com frequentes problemas na escola. Com o apoio da família preparando e orientando para essa nova fase, essa ruptura com seu mundo particular e seguro da exclusividade de atenção que a criança vivencia em seu lar pode ser mais tranquila, estimulando o prazer pelas atividades escolares. Já na escola, depois dessa fase de adaptação, a família continua a ter papel relevante na educação infantil, pois ela pode influenciar no processo de aprendizagem. Essa participação se torna mais efetiva à medida que os pais participam de reuniões, conhecem o projeto político-pedagógico da escola e se inteiram das necessidades escolares de seus filhos. De acordo com Marques (1993): “A família é uma fonte de ajuda ativa para a criança se for "saudável", se for um grupo bem organizado e estável, onde o sistema de autoridade seja claro e aceitável, onde a comunicação seja aberta, e onde os membros exerçam controle e apoio. É na família que se gera o prazer, a alegria que a criança sente à sua volta, indispensável ao seu desenvolvimento”. 8 O apoio dos pais é de suma importância tanto na participação efetiva na escola quanto auxiliando nas atividades levadas para casa, onde os mesmos devem mostrar-se sempre interessados no bom desenvolvimento da criança. Marques (1993), define a participação presencial da família na escola, e vice-versa, como vínculos suplementares, ou seja, pessoas que convivem em ambiente diferentes, mas são impelidas a se relacionar devido a um indivíduo que transita entre os dois contextos, no caso a criança. O convívio familiar influencia sobremaneira o desenvolvimento escolar da criança, em especial na educação infantil, pois nessa fase a criança não apresenta, ainda, maturidade para dissociar o contexto escolar do contexto familiar. Abordando os aspectos pedagógicos da família, Nogueira (1998) explica que a participação dos pais na vida escolar dos filhos pode influenciar de modo efetivo o desenvolvimento escolar dos filhos. Sabendo que a educação não começa na escola, que esse início se dá no seio da família, onde a criança passa por várias fases de desenvolvimento afetivo e cognitivo, precisando sentir-se suprida em suas necessidades básicas, é importante para o desenvolvimento da criança, que ela encontre um ambiente estável, onde o amor e a atenção sejam base para uma estruturação emocional e intelectual dentro de parâmetros que possibilitem progresso na ação educacional. Para Lobo (1997): “o amor, a atenção e o apoio são a melhor educação e o melhor meio de dar segurança e confiança a uma criança, isto é, a melhor maneira de fazê-la feliz e de dar a ela uma oportunidade justa para desenvolver suas potencialidades”. A educação e a formação da criança estão diretamente vinculadas à participação dos pais nesse processo, uma vez que para interpretar o mundo, toda criança precisa do apoio deles. A relação família-criança é um dos elementos que determinam um bom rendimento escolar, pois é na família que as crianças encontram os exemplos a serem seguidos e, principalmente, é na família que a criança recebe educação para a vida: com limites, atenção, bons ou maus exemplos, etc. 9 4. O PAPEL DA ESCOLA ”A Educação Infantil é um dos períodos mais significativos da vida da criança, pois lhe apresenta um mundo diferente do que ela está acostumada e lhe proporciona novas experiências, ao mesmo tempo em que marca o começo de sua independência em relação à família”. (Marques. 1993) Nesse período a criança passa a receber influências de outras crianças e de comportamentos diferentes dos vivenciados em família. Tudo o que ela aprendeu no convívio familiar passará a ser utilizado na convivência com outras pessoas. Ela começará a trocar experiências, ter que dividir, ganhar e perder em situações que antes só lhes eram favoráveis. A rotina escolar é diferente da rotina familiar e essas mudanças são muito significativas para a criança. Por isso, a parceria entre a família e a escola é tão importante. Relembrando que os papéis da família e da escola, antes prioritariamente repressores, modificaram-se ao longo das últimas décadas e que uma das principais diferenças, segundo Costa (2000), “refere-se à transmissão do conhecimento, pois antigamente, essa transmissão dava-se apenas na escola, a agência por excelência destinada à transmissão dos conhecimentos acumulados pela sociedade”, enquanto que à família cabia ensinar valores e padrões de comportamento. Nesse ínterim, cabia à escola ensinar e à família educar na verdadeira acepção dos termos. Ainda segundo o autor: “atualmente, a família tem passado para a escola a responsabilidade de instruir e educar seus filhos e espera que os professores transmitam valores morais, princípios éticos e padrões de comportamento, desde boas maneiras até hábitos de higiene pessoal. Justificam alegando que trabalham cada vez mais, não dispondo de tempo para cuidar dos filhos. Além disso, acreditam que educar em sentido amplo é função da escola.” Contraditoriamente a essa expectativa em relação à função da escola, Di Santo (2005) 1 , as famílias, sobretudo as desprivilegiadas, não valorizam a escola e o estudo, que antigamente eram visto como um meio de ascensão social. Segundo Alves Pequeno (2004) 2 “a escola, por sua vez, afirma que o êxito do processo educacional depende, e muito, da atuação e participação da família, que deve estar atenta a todos os aspectos do desenvolvimento do educando.” 1 htpp://www.centrorefeducacional.com.br/famesco.htm - 18k- 2 htpp:// www.centrorefeducacional.pro.br/famiescola.htm - 43k 10 As relações entre a escola e a família, além de supostos ideais comuns, baseiam-se na divisão do trabalho da educação das crianças e envolvem expectativas recíprocas. Na verdade, conforme afirma a psicopedagoga Neide Noffs 3 : “(...) os papéis que pais e professores desempenham na primeira infância, na educação e no desenvolvimento da criança, estão muito próximos e devem mesmo ser complementares. Pode-se dizer que a família é o primeiro 'ensinante', pois são os pais que transmitem os valores com os quais desejam formar o filho para a vida. À escola cabe ampliar as ações que se iniciaram na família” Para que a relação família-escola seja produtiva, não basta que a família se disponha a fornecer o apoio necessário ao desenvolvimento escolar de seu filho, “a escola deve contemplar em seu projeto político-pedagógico a participação da família através de reuniões, projetos comunitários, voluntariado, etc.” (Davies. 1994), pois, especialmente de 0 aos 6 anos, quando a criança vai para a escola, a tarefa de educar está intimamente ligada aos cuidados que a criança exige, mas não se resume a isso. O tempo todo, com suas atitudes, pais e professores estão educando as crianças, pois, segundo Cury (2003), estas observam suas posturas diante de situações cotidianas e acabam por „imitar‟ determinados comportamentos de ambos, assimilando-os como exemplos. Além disso, a escola deve contemplar a participação da família em conselhos administrativos possibilitando aos pais interferir diretamente no funcionamento da escola, apresentando sugestões e tomando decisões quanto ao planejamento de atividades e a realização de políticas escolares. Os pais podem e devem ser chamados pela escola a interferiremnas questões de comportamento e ética e, até mesmo, na disposição das disciplinas. Além disso, a escola pode oferecer palestras, cursos e outros momentos que possibilitem a interação entre as famílias para a troca de experiências. A família pode contribuir muito com a organização escolar oferecendo, inclusive, serviços voluntários nas escolas que enfrentam dificuldades. Conforme Gokhale (1980): “tudo isso depende da estruturação do projeto político-pedagógico da escola, que deve reconhecer a importância da participação familiar e utilizar todos os recursos disponíveis para proporcionar oportunidades de contato com os pais, passando-lhes informações e solicitando-lhes sugestões e decisões”. Segundo Almeida (1987), “o trabalho dos pais integrado à escola torna-se essencial para que ambos falem a mesma linguagem, auxiliando na aprendizagem do educando”. 3 http://revistacrescer.globo.com/Crescer/0,19125,EFC406301-2216,00.html' 11 Para Costa (2000) 4 , “é importante que os pais participem constantemente das atividades proporcionadas pela escola, incentivando seus filhos para o mesmo, pois esta união de esforços enriquecerá todo o processo de ensino-aprendizagem”. Para Di Santo (2005), é papel da escola instruir os pais acerca do comportamento adequado na orientação das atividades escolares e mesmo nas atividades cotidianas que auxiliem no desenvolvimento da aprendizagem. Dúvidas e esclarecimentos também cabem à escola que, por ter uma equipe especializada, deveria ter condições de promover debates, ensinar, orientar, trocar informações sobre os mais diversos assuntos de interesse da comunidade escolar 5 . À escola cabe planejar os objetivos, transformando a realidade num processo contínuo e dinâmico, com uma proposta pedagógica coerente com a sua clientela, reconhecendo que a aprendizagem é constituída na interação do conhecimento, na realidade e vivência no âmbito familiar. CONCLUSÃO Assim como toda a sociedade, família e escola sofreram, ao longo dos anos, profundas mudanças em sua estrutura. Essas mudanças fizeram alterar ao longo dos anos os papéis da escola e da família na educação infantil. A escola deixou de ser apenas responsável pela alfabetização e o repasse de conhecimentos para se tornar educadora, desempenhando ao lado dos pais a função de fornecer à criança uma boa formação global. Os pais estão cada vez mais comprometidos com assuntos externos à educação dos filhos, o que faz com que parte dessa tarefa seja delegada à escola. Os meios de comunicação, a capacidade de consumo e as diversas interferências na educação infantil também são notórias no decorrer do desenvolvimento escolar. Por isso, conclui-se que uma relação produtiva entre a escola e a família inclui ganhos para a família (coesão, empoderamento.) para a escola (eficácia), para os estudantes (o sucesso de todos) e para a sociedade (a construção democrática a partir da base e do cotidiano). 4 http://www.escola2000.org.br/pesquise/texto/textos_art.aspx?id=3 5 Ibidem. Ibdem. http://www.escola2000.org.br/pesquise/texto/textos_art.aspx?id=3 12 As escolas devem se adaptar a essa nova função de educadora solicitando e possibilitando uma participação ampla da família no contexto escolar, uma vez que a função primordial de educar é da família e que a escola deve ser coadjuvante nesse processo. Sendo a Educação Infantil um marco na vida escolar da criança, é preciso que o profissional dessa modalidade esteja preparado para lidar com as famílias, consciente de que nem todas terão a mesma reação diante da solicitação de sua participação ativa na vida escolar de seu filho. Através do estudo realizado, pode-se perceber que alguns pais sentem realmente a necessidade dessa interação com a escola e, por isso, se tornam mais fáceis de lidar. Outros, entretanto, precisam ser conscientizados de sua importância para o desenvolvimento da aprendizagem de seu filho. Por isto a função da escola não é fácil e exige habilidade para lidar com estas situações. É preciso buscar formas de atrair os pais à escola fazendo-os sentirem-se imprescindíveis na formação de seu filho, não somente na formação do caráter e do comportamento, mas na formação plena e global deste como indivíduo. A Educação Infantil marca a chegada da criança na escola, sendo fator determinante de seu futuro como aluno. Por isso, pais e escola devem estimular a criança em suas primeiras aprendizagens escolares para que o ambiente escolar seja prazeroso para a criança. 13 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALARCÃO, Isabel. Professores Reflexivos em uma Escola Reflexiva. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2003. ALMEIDA, A.M. de. Pensando a Família no Brasil. Da Colônia à Modernidade. Rio de Janeiro, Espaço e Tempo, UFRJ, 1987. BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei nº 8069, de julho de 1990 BRASIL. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial: livro 1. Brasília, MEC/SEESP, 1994. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. 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