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ESCOLA InCLUSIvA assistência à pessoa com deficiência, e não o de educação de alunos que apresentam necessidades educacionais especiais. Educação especial x educação regular A Educação Especial é definida como a modalidade de ensino que se caracteriza por um conjunto de recursos e serviços educacionais especiais organizados para apoiar, suplementar e, em alguns casos, substituir os serviços comuns, de modo a garantir a educação formal dos educandos que apresentam necessidades educacionais diferentes das da maioria das crianças e jovens. A defesa da cidadania e do direito à educação das pessoas com deficiência é atitude muito recente em nossa sociedade. Manifestando-se por meio de medidas isoladas, de indivíduos ou grupos, a conquista e o reconhecimento de alguns direitos das pessoas com deficiências podem ser identificados como elementos integrantes de políticas sociais, a partir de meados do século XX, como vimos no primeiro capítulo. Ignorando sua longa construção sociocultural, muitos têm sido os que entendem a situação atual como resultado exclusivo de suas próprias ações ou de contemporâneos seus. Em razão disso, é extremamente valioso clarificar alguns momentos da evolução das atitudes sociais e sua materialização, particularmente aquelas voltadas para a educação da pessoa com deficiência. Nesse sentido, cabe alertar que, tanto na literatura educacional quanto em documentos técnicos, é frequente a referência a situações de atendimento a pessoas com deficiência (crianças e/ou adultos) como sendo educacionais, quando uma análise mais cuidadosa revela tratar-se de situações organizadas com outros propósitos, em sua maioria voltados para reabilitação, e não para a educação. Podemos dizer que convivemos com dois tipos de educação ou, no mínimo, de modos diferentes da educação. Quando falamos em Educação Especial, propomos integração, cursos específicos ou em nível de pós-graduação que tratam especificamente do assunto. A Educação Especial assume, no momento, papel de fundamental importância, tendo em vista as crescentes exigências de uma sociedade brasileira em expansão e os desequilíbrios do atendimento educacional aos alunos com deficiência, apesar do expressivo interesse que desperta e dos esforços realizados por instituições públicas e particulares. A problemática da Educação Especial vem sendo abordada de forma mais abrangente pelos educadores contemporâneos, que fazem uso do pensamento crítico, colocando as questões educacionais especiais vinculadas ao contexto escolar mais amplo, ou seja, pertencente à complexidade social. A abordagem da Educação Especial no Brasil sempre esteve calcada em duas vertentes: a médico-pedagógica (ciências médicas e biológicas) e a psicopedagógica (com a introdução dos testes de inteligência e da adequação de procedimentos para a educação dos deficientes mentais). 19 A ESCOLA InCLUSIvA • CAPÍTULO 2 As crianças são consideradas educacionalmente “especiais” somente quando suas necessidades exigem a alteração do programa, ou seja, quando os desvios de seu desenvolvimento atingem um tipo e um grau que requerem providências pedagógicas desnecessárias para as crianças típicas. Atenção O termo utilizado para nos referirmos às crianças que não são deficientes é típica. Por exemplo, quando comparamos uma criança no espectro autista com a sua colega de turma dizemos: ela é uma criança neurotípica (austista) e uma criança típica. Para fins didáticos, e para facilitar a comunicação entre os profissionais da Psicologia, Sociologia, Fisiologia, Medicina e Educação, as crianças são agrupadas na seguinte classificação: » Deficiências mentais, incluindo crianças que são: › intelectualmente superiores; › lentas quanto à capacidade de aprendizado. » Deficiências sensoriais, incluindo as crianças com: › deficiências auditivas; › deficiências visuais. » Desordens de comunicação, incluindo as crianças com: › distúrbios de aprendizagem; › deficiências de fala e linguagem. » Desordens de comportamento, incluindo: › distúrbio emocional; › desajustamento social. » Deficiências múltiplas e graves, incluindo várias combinações: paralisia cerebral e retardamento mental, surdez e cegueira, deficiências físicas e intelectuais graves. A visão social fragmentada, muitas vezes percebida como estática, incorpora e acredita nas concepções acerca da impossibilidade de mudança e de desenvolvimento dos alunos. Apesar da percepção do progresso do aluno, há a certeza do limite, estagnação, próximo. O Brasil, como vimos, tem mostrado avanços em termos de uma educação voltada para todos e para a inclusão social plena e efetiva de pessoas com deficiência. Uma das principais mudanças ocorridas diz respeito à ampliação da forma de abordar a deficiência, que passa a ser encarada 20 CAPÍTULO 2 • A ESCOLA InCLUSIvA também sob uma expectativa social. Nesse sentido, procura-se mostrar que a sociedade, em suas diferentes organizações, em muitos casos, cria empecilhos à participação dos indivíduos, por não estar estruturada para atender às necessidades das pessoas com deficiências. A política de inclusão dos alunos com deficiência na rede regular de ensino não consiste somente na permanência física desses alunos, como observávamos na época da integração escolar. O propósito de rever concepções e paradigmas, respeitando e valorizando a diversidade desses alunos, exigiu que a escola se responsabilizasse por seus alunos com deficiência, criando um espaço, de fato, inclusivo. Dessa forma, a inclusão significa que não é o aluno que se molda ou se adapta à escola, mas a escola, consciente de sua função, coloca-se à disposição do aluno. Cabe ressaltar que, nos dias atuais, aceitar a inclusão escolar e respeitar a diversidade não é mais uma opção. Desde 2016, qualquer escola, pública ou privada, que recuse matrícula de estudante com deficiência comete um crime punível com multa e prisão de dois a cinco anos. A determinação está na Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência e busca atender ao desafio da inclusão trazido pela meta 4 do Plano Nacional de Educação (PNE). De acordo com o PNE, crianças de quatro a 17 anos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação devem frequentar preferencialmente instituições de ensino e classes comuns. Atender à diversidade, possibilitar a cada aluno desenvolver suas potencialidades para aprender implica conhecer quem é o sujeito a quem se destina o fazer profissional do educador. Vygotsky, em seus estudos e pesquisas ligados a alunos com dificuldades de aprendizagem, afirma que desde os primeiros anos de vida a criança que apresenta uma deficiência ocupa uma posição social especial e as suas relações com o mundo transcorrem de maneira diferente daquelas que envolvem as crianças normais. Para esse teórico, a deficiência tem uma dupla função: se, por um lado, é uma limitação que cria obstáculos e dificuldades, por outro, serve de estímulo para o desenvolvimento das vias de adaptação, transformando-se em canais de compensação que podem levar do equilíbrio alterado a uma nova ordem na constituição da diferença. Ainda que as funções mentais superiores como a percepção, a atenção e a memória estejam comprometidas em seus aspectos funcionais, o desenvolvimento encontra vias de realização nas relações sociais. Portanto, para se realizar um trabalho pedagógico de qualidade, é necessário conhecer as possibilidades e os limites dos alunos: como se desenvolvem e aprendem; qual a sua história de vida, que concepções têm de si mesmos, como interagem com o mundo e internalizam os papéis vividos, como organizam seus sistemas de compensações e quais as mediações que auxiliam na sua aprendizagem, priorizando as descrições qualitativas da organização de seus comportamentos. 21 A ESCOLA InCLUSIvA • CAPÍTULO 2 Na concepção inclusiva, avaliamos a aprendizagem pela trajetória do aluno no decorrer do tempo de um ciclo