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QUESTÃO SOCIAL NA CONTEMPO- RANEIDADE Me. Maria Cristina Araújo de Brito Cunha Esp. Daniela Sikorski GRADUAÇÃO Unicesumar Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Diretoria Executiva Chrystiano Minco� James Prestes Tiago Stachon Diretoria de Graduação Kátia Coelho Diretoria de Pós-graduação Bruno do Val Jorge Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Diretoria de Design Educacional Débora Leite Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira Gerência de Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas Gerência de de Contratos e Operações Jislaine Cristina da Silva Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisora de Projetos Especiais Yasminn Talyta Tavares Zagonel Coordenador de Conteúdo Maria Cristina de Brito Cunha Design Educacional Ana Claudia Salvadego Iconografia Amanda Peçanha dos Santos Ana Carolina Martins Prado Projeto Gráfico Jaime de Marchi Junior José Jhonny Coelho Arte Capa Arthur Cantareli Silva Editoração Melina Belusse Ramos Qualidade Textual Hellyery Agda, Daniela Ferreira dos Santos, Yara Martins Dias, Hellyery Agda g. Silva Ilustração Melina Belusse Ramos C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; SI- KORSKI, Daniela; CUNHA, Maria Cristina Araújo de Brito. Questão Social na Contemporaneidade. Daniela Sikorski; Maria Cristina Araú- jo de Brito Cunha. Reimpressão - 2018. Maringá-Pr.: UniCesumar, 2016. 569 p. “Graduação - EaD”. 1. Questão. 2. Social. 3. Contemporaneidade. 4. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-0362-8 CDD - 22 ed. 300 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Em um mundo global e dinâmi- co, nós trabalhamos com prin- cípios éticos e profissionalismo, não somente para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, profis- sional, emocional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de gradu- ação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes es- palhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Ma- ringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com de- zenas de cursos de gradua- ção e pós-graduação. Produ- zimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. So- mos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo mo- derno exige dos educado- res soluções inteligentes para as necessidades de todos. Para continuar rele- vante, a instituição de educa- ção precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a qualida- de. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensi- no presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conheci- mento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma so- ciedade justa e solidária. Vamos juntos! Diretoria Operacional de Ensino Diretoria de Planejamento de Ensino Seja bem-vindo(a), caro(a) aca- dêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pes- soal ou profissional, nos trans- formamos e, consequentemen- te, transformamos também a sociedade na qual estamos in- seridos. De que forma o faze- mos? Criando oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatí- vel com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará du- rante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os ho- mens se educam juntos, na trans- formação do mundo”. Os materiais produzidos ofe- recem linguagem dialógica e encontram-se integrados à pro- posta pedagógica, contribuin- do no processo educacional, complementando sua forma- ção profissional, desenvolven- do competências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes ma- teriais têm como principal ob- jetivo “provocar uma aproxima- ção entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desen- volvimento da autonomia em busca dos conhecimentos ne- cessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nes- se processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pe- dagógicos que o Centro Univer- sitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o STUDEO – Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lem- bre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sa- nar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendiza- gem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica. A U TO R Professora Esp. Daniela Si- korski Especialista em Política So- cial e Gestão de Serviços So- ciais pela Universidade Es- tadual de Londrina (UEL) e graduação em Serviço Social pela Universidade Estadu- al de Ponta Grossa (UEPG). Discente dos cursos de Ges- tão Educacional (pós-gradu- ação) e Processos Gerenciais (graduação) na Unicesumar. Tem experiência profissio- nal na área de Serviço Social na Educação, Terceiro Setor, Responsabilidade Social e Gestão na Área da Saúde. http://lattes.cnpq. br/7555727127923107 A U TO R Professora Me. Maria Cristi- na Araújo de Brito Cunha Mestre em Gerontologia So- cial pela Pontifícia Universi- dade Católica de São Paulo (PUC/SP). Especialista em Administração de Recursos Humanos pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Graduada em Serviço Social pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Coor- denadora do Curso de Servi- ço Social no Núcleo de Edu- cação a Distância (NEAD) Unicesumar. http://lattes.cnpq. br/5055081415728722 Seja bem-vindo(A)! Esta etapa que iniciamos agora é muito importante, pois tra- taremos da Questão Social e o Serviço Social. O objetivo é refle- tirmos acerca do surgimento da questão social e as suas mani- festações no meio urbano e rural, bem como a sua relação com o serviço social. Nos países capitalistas, e isto não exclui o Brasil, podemos perceber a questão social como elemento fundante do serviço social, enquanto especialização ao trabalho humano. Para a superação das proble- máticas postas a partir das questões sociais é necessário APRESENTAÇÃO QUESTÃO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE muita criatividade, com- petência, leitura crítica e, sobretudo, a soma de esfor- ços na mesma direção por parte de todos os envolvi- dos: governo, organizações e diversos profissionais que atuam no mercado de trabalho. Todos necessitam da nítida compreensão de que a socie- dade é dinâmica, a clareza de que o processo histórico nos diz muito sobre a sociedade que temos hoje, tanto nos fala dos avanços como nos sinalizam muito bem quanto às origens das problemáticas que enfrentamos, seja eco- nômica como social. APRESENTAÇÃO Os profissionais envolvidos diretamente com o trabalho com as demandas sociais que são geradas pelas expressões da questão social em nossa sociedade precisam ter claro que mesmo a questão social sendo a mesma ao longo dos tempos, ela assume caracte- rísticasdiferentes em cada realidade, manifesta-se de formas diferentes de acordo com as relações sócio-econô- micas estabelecidas e a cada dia novos conflitos surgem acrescentando novos ele- mentos as questões sociais. Estaremos juntos nas próxi- mas páginas e buscaremos refletir acerca das questões sociais e suas expressões. Esses APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO foram apenas questionamen- tos iniciais. Sendo assim, bom trabalho, boa leitura, e apro- veite este momento, pois as discussões propostas neste material darão o norte do agir profissional, bem como uma melhor compreensão de como surgiu a profissio- nal e como hoje ela é gestada no contexto social. Bons estudos! Profª Daniela Sikorski. Profª Maria Cristina A. B. Cunha. APRESENTAÇÃO SUMÁRIO UNIDADE I QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 23 Introdução 27 Adquirindo Novos Conhecimentos e Recapitulando Alguns Acontecimentos Acerca da Questão Social no Mundo 31 Questão Social e a História 47 Revolução Industrial 59 Lei dos Pobres 78 Nova Lei dos Pobres (Inglaterra - 1834) SUMÁRIO 84 As Workhouses 105 Considerações Finais 129 Referências 134 Gabarito UNIDADE II PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA 139 Introdução 143 A Questão Social na Sociedade Capitalista 162 A Questão Social no Processo de Industrialização do Brasil SUMÁRIO 183 A Questão Social no Brasil nas Décadas de 20 e 30 (Século XX) 227 Considerações Finais 253 Referências 260 Gabarito UNIDADE III CONCEITUANDO A QUESTÃO SOCIAL 269 Reflexões Recentes 295 Questão Social e Nova Questão Social - Reflexões e Conceitos 333 Refletindo Sobre o Objeto de Serviço Social SUMÁRIO 345 Considerações Finais 372 Referências 380 Gabarito UNIDADE IV MANIFESTAÇÕES DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA SOB O OLHAR DO SERVIÇO SOCIAL 385 Introdução 389 Questão Social – Serviço Social e Sua Intervenção 424 O Cenário Atual e suas Incidências na Questão Social 429 Considerações Finais SUMÁRIO 459 Referências 462 Gabarito UNIDADE V BUSCANDO RESPOSTAS ÀS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL NO BRASIL 466 Introdução 470 Questão Social e Serviço Social 505 A Família Atingida pelas Questões Sociais – Breve Explanação 531 Considerações Finais 558 Referências 563 Gabarito 564 Conclusão U N ID A D E I Prof. Esp. Daniela Sikorski Prof. Me. Maria Cristina A. de Brito Cunha QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM ■ Atualizar os conhecimentos acerca de alguns acontecimentos históricos mundiais que contribuirão para o entendimento da questão social hoje e o serviço social. U N ID A D E I Prof. Esp. Daniela Sikorski Prof. Me. Maria Cristina A. de Brito Cunha QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Adquirindo novos conhecimentos e recapitulando alguns acontecimentos acerca da questão social no mundo. ■ Questão Social e a história U N ID A D E ■ Revolução Industrial ■ Lei dos Pobres ■ Nova Lei dos Pobres (Inglaterra – 1834) ■ Workhouses I Prof. Esp. Daniela Sikorski Prof. Me. Maria Cristina A. de Brito Cunha QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 25 INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), atualmente, falamos muito em globalização e sistema capitalista, neolibera- lismo, porém se observarmos o constante crescimento da eco- nomia veremos que este avanço não contribuiu para amenizar ou eliminar as desigualdades e disparidades sociais presente na sociedade. Vemos a cres- cente pobreza, ocasionada por falta de emprego, o que acaba desencadeando problemas habi- tacionais, de saúde, assistência social, violência, entre outros. O avanço econô- mico não gerou avanço e QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 26 desenvolvimento social, e em alguns momentos até o agravou, deixando muitos indivíduos à mercê da própria sorte. Desta maneira, iniciamos nossa dis- ciplina com reflexões acerca dos acontecimentos mundiais relacionados ao trabalho, princi- palmente, a transição do sistema feudal para o capitalista, no qual veremos um pouco mais sobre a Revolução Industrial, a cria- ção das Workhouses e a Lei dos Pobres de 1601 e 1834. Alguns pontos devem ser bem observados nesta unidade: a máxima do capital: aumentar o lucro, reduzindo as despesas, isso provocou no homem a ideia QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 27 de que para conseguir o que se queria (lucro) podia-se tudo, inclusive, passar por cima dos valores humanos. A distribuição de renda se torna concentrada nas mãos de poucos, propor- cionando um desequilíbrio econômico e, por consequência, social, pois o indivíduo traba- lhador mesmo cumprindo com suas funções, não possuía condi- ções de no final do mês prover o necessário. E ainda com a ilusão de que vida próspera para todos estava na cidade, muitas famílias começam a abandonar o campo, depositando suas esperanças nos centros urbanos, acontecendo assim um aumento significativo QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 28 na demanda de mão de obra, o aumento da população urbana, e o retrato do despreparo das cidades no recebimento des- tas famílias. Assim, agrava-se a questão social tanto na cidade quanto no campo. Vamos aproveitar para somar- mos conhecimento, muitos deles já se encontram na sua memória, basta fazer um pouco de esforço e retomar estes fatos. Sendo assim, vamos ativar a memória e mãos à obra! QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 29 ADQUIRINDO NOVOS CONHECIMENTOS E RECAPITULANDO ALGUNS ACONTECIMENTOS ACERCA DA QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO Neste início de leitura, creio que seja pertinente um primeiro exer- cício de reflexão, que consiste em refletir acerca da seguinte © Ily a B oy ko QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 30 citação: “Aqueles que esquecem o passado estão condenados e repeti-lo” (SANTAYANA, 1905 apud SCHIMDT, 1986, p.98). O questionamento é: o que real- mente quer dizer e o que significa para esta nossa discussão e, espe- cificamente, para este capítulo a colocação deste autor? Aproveite este momento, pois nenhuma cita- ção aparece em um texto por acaso ou mero enfeite, cada citação possui um significado e merece atenção, pois nos auxilia no entendimento do assunto, ela nos abre as portas da reflexão e do conhecimento. Após este exercício, partiremos em um passeio histórico, reto- mando conteúdos já vistos em QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 31 outras oportunidades, no pró- prio curso de Serviço Social e até mesmo em nossa vida escolar do ensino médio ou cursinho pré- -vestibular, o que muda agora é como nós estaremos analisando os acontecimentos históricos e o processo de surgimento das questões sociais no mundo (primeiramente). Estaremos mais que envol- vidos com a questão histórica, aliás, ela (a história) é mais que necessária para que possamos compreender como e por que temos e vivenciamos o mundo como ele é hoje. Não podemos apenas passar uma “borracha” em tudo o que já QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 32 foi construído ou simplesmente achar que os acontecimentos pas- sados não influenciam nas nossas vidas. Não podemos desconside- rar as tentativas de melhorar as condições de vida realizadas por nossos antepassados, os erros e acertos e a busca constante por um mundo melhor e que aten- desse as suas necessidades. Desta maneira, aproximaremo- -nos um pouco mais da história, no que se refere ao surgimento da questão social, as institui- ções de apoio ao necessitado na Inglaterra (as Workhouses); estaremos ampliando nosso conhecimento acerca da cha- mada Lei dos Pobres (Poor Law) QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 33 e ainda retomar alguns pontos no que se refere a Revolução Industrial. Vamos, então, ampliar nosso conhecimento? Aproveitem a leitura! QUESTÃO SOCIAL E A HISTÓRIA Quando falamos em questão social não estamos abordando nenhum tema recente ou algo novo. O surgimento da ques- tão social está inserido em um contexto histórico, ligado a umagama de relações – mais especi- ficamente trabalhistas. Relações contraditórias, desiguais e que QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 34 geraram mudanças na reali- dade social da época onde estava inserida. Assim, você pode compreen- der que a questão social deve ser apreendida a partir de como as relações se configuram e se apresentam na sociedade e como acontece, o enfrentamento da questão social (quais media- ções são buscadas) tanto no âmbito social quanto no âmbito político. QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 35 Tenha claro que neste momento, estaremos falando sobre uma realidade que não é a brasileira e sim inglesa, contudo, esta rea- lidade nos serve de ponto de partida, pois muito dos seus fei- tos refletiram em todo mundo e são percebidos até os dias atuais. Em seguida, vamos ler um pouco mais sobre a Lei dos Pobres (Poor Law) (1601 e 1834), uma vez que ela simboli- zou um marco no enfrentamento das questões sociais da Inglaterra e contribuiu para reflexão his- tórica da profissão. É importante termos sempre em mente que a leitura não só amplia nosso conhecimento QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 36 como também contribui para nossa visão de homem e de mundo, sem contar que quem lê, escreve e reflete muito melhor, sem contar no aperfeiçoamento do vocabulário e melhora nos níveis de discussão. Gosto sempre de começar o estudo sobre a questão social a partir da citação, a seguir, ela apresenta brevemente como a sociedade entendia o mundo e suas realações, leia atentamente e, em seguida, prosseguiremos: Desde o final do século XIX, o mundo imaginava que o ano 2000 seria o coroamen- to do processo civilizatório. Daí a grande questão so- QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 37 cial do século XXI: impe- dir que a desigualdade, já transformada em diferença nos dias atuais, chegue a se transformar em uma desse- melhança. O século XVIII descobriu a igualdade dos direitos dos homens. O sé- culo XIX iniciou a marcha para a sua construção. O sé- culo XX descobriu e iniciou a marcha para a construção do direito à igualdade, até mesmo no consumo supér- fluo. A revolução iluminis- ta do século XVIII trouxe o sonho. A revolução indus- trial do século XIX trouxe a possibilidade da igualdade QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 38 nos direitos. Com a revo- lução consumista, o século XX trouxe a possibilidade de redefinição do propósito igualitário rumo ao direito à igualdade, no lugar de ape- nas a igualdade ao direito. A humanidade, que buscava a igualdade dos direitos, pas- sou a buscar a igualdade do consumo, no mundo capi- talista ou socialista. Antes, o mundo se dividia em países, agora o mundo se divide em grupos sociais, os incluídos e os excluídos (BUARQUE, 2004, p. 01-08). Neste momento, vamos obser- var o contexto histórico do QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 39 surgimento da questão social no mundo, observando que este não é um fenômeno exclusivamente brasileiro, ele se apresenta em todo o mundo, e em cada lugar assume características diferen- ciadas conforme a realidade de cada lugar, de cada cultura. Destarte algumas colocações se fazem relevantes em relação aos direitos sociais no mundo do trabalho, uma vez que toda questão social surge de uma necessidade que foi ferida, ou melhor, que não está sendo sanada, isto necessariamente, implica na “violação de algum direito social”, contudo, fique atento: pois os direitos sociais QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 40 nem sempre foram assim enten- didos, aliás, de todos os direitos, os sociais foram os últimos a serem reconhecidos. Direitos Civis: Este elemento é composto dos direitos neces- sários à liberdade individual, como liberdade de ir e vir, li- berdade de imprensa, de pen- samento e religiosa, o direito à propriedade, o de estabelecer contratos e o direito à justiça. As instituições mais intima- mente ligadas aos direitos ci- vis são os Tribunais de Justiça. Direitos Políticos: Este elemen- to diz respeito à participação QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 41 no exercício do poder – o direi- to de votar e de ser votado. São instituições correspondentes aos direitos políticos do Parla- mento e as instituições de go- verno. Direitos Sociais: O elemento social da cidadania se refere a tudo o que vai desde um mí- nimo de bem-estar econômi- co e segurança até o direito de levar a vida de acordo com os padrões que prevalecem na sociedade. As instituições mais ligadas a este elemento social são o sistema educacional e os serviços sociais. Fonte: Adaptado de Dias (2005, p.124). QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 42 Logo, começaremos pela IDADE MÉDIA. No final da Idade Média, o trabalho consis- tia em uma estrutura familiar, esta estrutura que prevalecia na sociedade, em que o espaço temporal de trabalho era o dia, ou seja, o trabalhador iniciava suas atividades laborativas com o nascer do sol e parava seus tra- balhos somente ao anoitecer. © sh ut te rs to ck QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 43 Consideravam-se muito as for- ças místicas da natureza, eram muito comum os trabalhado- res se orientarem e regularem suas vidas a partir da natureza. O espaço físico do trabalho era o lar, a residência e os arredores da casa familiar (os agriculto- res, os sapateiros e os alfaiates). É importante ressaltar como o trabalho feminino e o tra- balho infantil estão presen- tes nessa sociedade. As ne- cessidades de sobrevivência e as obrigações servis con- tribuem para isso. As crian- ças, desde que já possam exercer alguma atividade laborativa, ingressam no QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 44 mundo do trabalho para au- xiliar na economia familiar. Nessa lógica, quanto mais filhos, maior poderia ser o aproveitamento produtivo. Pelo menos era assim que se apresenta aquela socieda- de e, de maneira não muito distante, podemos observar a mesma lógica sendo em- pregada nas comunidades rurais mais atrasadas atu- almente (SAUCEDO; NI- COLAZZI Jr. In: GEDIEL, 2001, p. 84). Com o passar dos tempos, o comércio e o constante cresci- mento urbano vão ganhando destaque no final da Idade Média, QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 45 no qual gradativamente as cida- des vão se tornando espaço de trabalho, pois é neste espaço que ocorrem as trocas (produtos agrí- colas, artesanato etc.) e todo tipo de negócio. Estas transações ocor- riam tanto durante o dia como a noite, em casa ou nas fábricas, rom- pendo neste final da Idade Média toda estrutura feudal vigente, pois surge o sistema capitalista. A evidência mais marcante, com o advento do sistema capi- talista é a transformação das relações sociais, antes se tinha a relação senhor X servo, e com o novo sistema temos, o burguês X proletário. Outra caracterís- tica é o início da produção em QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 46 larga escala, lembrando que antes as produções eram base- adas na estrutura familiar sem muitos recursos. Priorizava-se o uso e, agora, a troca, apare- cendo o que Marx chamava de mais valia. ©User QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 47 Relações estabelecidas ao lon- go dos tempos. Perceba que sempre se apresentou uma constante oposição que pode- mos resumir entre “opressores e oprimidos”. Homem livre X Escravo Patrício X Plebeu Barão/Senhor X Servo Burguesia (patrão) X Proleta- riado (empregado) Fonte: Marx e Engels (1848, on-line)1. QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 48 Outro aspecto que permanece com o sistema capitalista é que assim como na estrutura feudal, todos os membros da família eram trabalhadores, sujeitos aos mesmos trabalhos, sem dis- tinção. O que diferenciava era que a grande busca por mulhe- res e crianças se dava por conta do baixo custo da mão de obra (mulheres recebiam salários bem menores que os homens), representando uma maneira de baratear os custos de produção e outro motivo era que estes dois grupos (mulheres e crianças) eram “facilmente” disciplinados e fáceis de dominar. QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 49 REVOLUÇÃO INDUSTRIAL A Revolução Industrial começou na Inglaterra (XVIII), alterandoas relações e condições de trabalho, “inchando” as cidades com a vinda das famílias do campo em busca de condições melhores de vida. Aumentar lucros e diminuir despesas, este era (é) o princípio do sistema capitalista, portanto, os proprietários buscam novas tecnologias para suas fábricas, exploram seus operários com carga horária de trabalho exorbi- tante, salários irrisórios e locais insalubres, tudo isto para jus- tificar o aumento da produção de mercadorias e o aumento do lucro para os proprietários. QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 50 A questão social, originalmen- te expressa no empobrecimen- to do trabalhador, tem suas bases reais na economia capi- talista. Politicamente, passa a ser reconhecida como proble- ma na medida em que os tra- balhadores empobrecidos, de forma organizada, oferecem resistência às más condições de existência decorrentes de sua condição de trabalhado- res para o capital. Fonte: Santos e Costa (2006, p. 12, on-line)2. QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 51 A partir deste cenário, origi- nário da Revolução Industrial, vemos o aumento descontrolado da população das cidades. Os camponeses deslumbrados com a ideia de uma vida mais fácil e melhores salários na cidade, sem pensar muito abandonavam suas vidas no campo, contudo, ao chegarem à cidade o que encon- travam era um cenário caótico e desesperador. ©shutterstock QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 52 Contribuindo para o cres- cimento dos problemas sócio-econômicos, pois não havia emprego para toda a demanda que chegava na cidade, começa a aparecer em larga escala o pro- blema do desemprego, fome, moradia (cortiços), prostitui- ção, alcoolismo, sem contar na ausência de leis trabalhis- tas que em muito facilitavam a exploração daqueles que ainda possuíam emprego. Neste contexto histórico, temos ainda a chamada Segunda Fase da Revolução Industrial (1871- 1914) que é compreendida pela: ■ Introdução de outras inova- ções tecnológicas. QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 53 ■ Fonte de energia: não só o vapor, mas também a eletri- cidade e o petróleo. ■ Criação de novas máquinas e ferramentas, com outra estrutura de trabalho que agora é colocada em prática: Avançada fragmentação de tarefas. ■ Ações eram repetidas infini- tamente até alcançar maior produtividade. ■ Para obter a colaboração dos funcionários foram estabele- cidos remuneração e prêmios extras. Assim, o trabalhador tornou- -se uma extensão da máquina, e QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 54 ainda hoje, vemos nitidamente os reflexos deste modelo de trabalho, um exemplo clássico deste formato é o apresentado no filme “Tempos Modernos” de Charlie Chaplin. Na leitura complementar desta unidade, vamos relem- brar alguns pontos acerca da © sh ut te rs to ck QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 55 Revolução Industrial, procure olhar além do fato apresen- tado, procure vivenciar a época, sentir o momento e tentar com- preender a situação sentida por milhões de pessoas nesta fase da história, e assim entender um pouco mais sobre a concepção da questão social. Seu surgimento, organização e fatores que con- tribuíram para seu agravamento na realidade apresentada. Faça uma boa leitura! Entre os anos de 1855 e 1866, houve um aumento bem sig- nificativo de “indigentes” na Inglaterra, esses não tinham alternativa que não fosse recorrer a caridade pública e acabavam QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 56 se submetendo aos serviços das workhouses, as quais veremos mais adiante. Cabe ressaltar que no campo a realidade não era muito dife- rente que a realidade da cidade. No campo se agravou a questão da fome, as mulheres e crian- ças foram os mais atingidos, já que a prioridade na alimentação era o homem, pois esse deveria estar bem alimentado para que pudesse trabalhar, e o restante da família vinha em “segundo lugar”. Quando analisamos este contexto de crescimento do empobrecimento das famí- lias tanto do campo quanto da QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 57 cidade, percebemos a origem do que hoje chamamos de questão social. Não esqueça que o sistema capitalista com seus crescen- tes conflitos de classes gerou o agravamento das desigualda- des sociais. O que trouxe à tona a discussão acerca da questão social, isso se deu a partir dos problemas dos trabalhadores, a crescente miséria, a insatisfa- ção com as condições sociais, as lutas por melhorias urbanas, estes pontos quando problema- tizados ganham na sociedade da época um caráter político. QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 58 [...] a questão social, origi- nalmente expressa no em- pobrecimento do trabalha- dor, tem suas bases reais na economia capitalista. Poli- ticamente passa a ser reco- nhecida como problema na medida em que os indivídu- os empobrecidos, de forma organizada, oferecem resis- tência as más condições de existência decorrentes de sua condição de trabalha- dores para o capital. No per- curso do desenvolvimento do capitalismo atravessado por lutas sociais entre capi- tal e trabalho constituem-se respostas sociais mediadas QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 59 ora por determinadas or- ganizações sociais, ora pelo Estado, em um processo im- pulsionado pelo movimen- to de reprodução do capital (SANTOS; COSTA, 2006, p. 3, on-line)2. Tudo isto gera uma grande insa- tisfação e, descontentamento, originando assim a organização dos operários, processo este que não ocorreu do dia para noite. Sendo assim, quem inter- veio neste contexto foi a Igreja Católica. Com vistas a “recu- perar” e melhorar os efeitos trágicos que caiam sobre a classe trabalhadora. Ela atuaria no espaço entre: QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 60 A recusa do Estado em as- sumi-la e a incapacidade das chamadas ‘classes infe- riores’ de decidir sobre seu destino. Nesse sentido, ela lançará mão de um conjun- to de procedimentos e es- tratégias de forte conteúdo moralizador, atuando basi- camente em três níveis: [...] assistência aos indigentes por meio de técnicas que antecipam o trabalho social no sentido profissional do termo; o desenvolvimento de instituições de poupança e de previdência voluntária que apresentam as premis- sas de uma sociedade se- QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 61 gurancial; a instituição da proteção patronal, garantia da organização racional do trabalho e, ao mesmo tem- po, da paz social (CASTEL, 1998 p. 319). LEI DOS POBRES Na Inglaterra por volta do final do reinado de Elizabeth, os seus parlamentares da época percebe- ram a necessidade de melhorar a política que estava relacionada ao auxílio aos mais pobres do país. Logo, no ano de 1597, é implan- tada uma nova lei que ordenava que as paróquias nomeassem o que chamaram de “inspetores” QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 62 dos pobres, esses tinham como função encontrar trabalho para aqueles que estivessem sem ocu- pação. Os inspetores dos pobres tinham ainda como tarefa a cons- trução de “paróquias-abrigo”, essas deveriam contar com hos- pitais e asilos. QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 63 As “paróquias-abrigo” eram utilizadas para acolher aqueles que não possuíam condições de garantir a sua própria subsistên- cia. Esse projeto era financiado com fundos públicos, dando origem ao que chamamos na história deste país (Inglaterra) de “bem-estar social” inglês. No ano de 1601, todas as medidas, gradativamente san- cionadas nesse sentido, foram organizadas em um estatuto que se chamou de Primeira Lei dos Pobres (Poor Law) man- tida, basicamente, inalterada até 1834. A Lei dos Pobres de 1601 foi estimulada pelas cir- QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 64 cunstâncias econômicas e pelo aumento populacional da Inglaterra em relação a épocas anteriores, que le- vou à expansão da pobreza. O homem pobre, destituí- do de seus direitos, não ti- nha trabalho, alimentação e moradia, nem condições para alimentar seus filhos, constituindo-se desta forma em um problema de ordem social (DORIGON, 2006, p. 119, on-line)4. Conforme explanação de Dorigon (2006, on-line)4, a Lei dos Pobres erafinanciada pelo imposto fundiário, estabe- lecendo para quem não tinha QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 65 meios de subsistência, o direito à assistência social. Acontecia a partir dos seguintes princípios: a. Obrigação de socorro aos necessitados. b. Assistência pelo trabalho. c. Taxa cobrada para o socorro dos pobres (poor tax). d. Responsabilidade das paróquias pela assistência de socorros e de trabalho. QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 66 A Lei dos Pobres foi pensada a partir do aumento da popula- ção carente no país, oriunda da expansão do sistema capitalista, o que afetou a estabilidade da ordem econômica. Claro que a lei não foi pensada somente por pura preocupação da classe dominante com os mais neces- sitados e afetados pelo sistema, por trás dessa ideia encontra-se a intenção desta classe burguesa em controlar este segmento da população. Dorigon (2006, p. 64, on-line)4 diz que: Essa lei definiu algumas es- tratégias: trabalho como punição para o desocupa- QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 67 do e para o pobre que tinha capacidade; pagamento em dinheiro, considerado uma pensão, para aqueles que não podiam trabalhar; proi- bição do auxílio ao mendi- go e ao frequentador casu- al dos asilos, que buscavam auxílio apenas naquele mo- mento. QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 68 É essencialmente na Lei dos Pobres que a medicina ingle- sa começa a tornar-se social, na medida em que o conjunto dessa legislação comportava um controle médico do pobre. A partir do momento em que o pobre se beneficia do sistema de assistência, deve, por isso mesmo, submeter-se a vários controles médicos. Com a Lei dos Pobres aparece, de manei- ra ambígua, algo importante na história da medicina social: a ideia de uma assistência con- trolada, de uma intervenção médica que é tanto uma ma- neira de ajudar os mais pobres a satisfazer suas necessidades de saúde, sua pobreza não QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 69 permitindo que o façam por si mesmos, quanto um con- trole pelo qual as classes ricas ou seus representantes no go- verno asseguram a saúde das classes pobres e, por conse- guinte, a proteção das classes ricas. Um cordão sanitário au- toritário é estendido no inte- rior das idades entre ricos e po- bres: os pobres encontrando a possibilidade de se tratarem gratuitamente ou sem grande despesa e os ricos garantindo não serem vítimas de fenôme- nos epidêmicos originários da classe pobre. Fonte: Foucault (1982, on-li- ne)3. QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 70 Depreende-se que a Lei visava evitar futuros pro- blemas sociais. Tendo em vista o número significati- vo de pobres desocupados em condições degradantes, buscava a repressão à men- dicância e à vagabundagem e a minimização da miséria. Perceba que já nesta época, as iniciativas de sanar as proble- máticas sociais eram permeadas de interesses pessoais da classe dominante, podemos imaginar que muitos poucos políticos da época, possuíam a real preocu- pação com o agravamento de tais problemáticas que assola- vam a vida daqueles que foram QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 71 atingidos da pior forma pela ins- tauração crescente do sistema capitalista, a estes não restou o acompanhamento do progresso nacional, muito menos a socia- lização dos ganhos financeiros gerados por tal sistema. Conforme vimos até agora, você percebeu alguma seme- lhança com os dias atuais? Al- guma semelhança com o nos- so país? QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 72 Perceba que estamos discutindo neste momento o que aconteceu no século XVII. Hoje no século XXI, como percebemos as ações de tentativas de resolver as ques- tões sociais em nosso país? Logo, podemos ver a seguinte questão acerca da Lei dos Pobres (Poor Law): Ela era, ao mesmo tempo, marcada por um sentimen- to de caridade cristã e por um violento preconceito social. A ideia de que a es- mola é uma ação piedosa e redime os pecados levava à distribuição ampla e in- discriminada de ajuda: mas não excluía, absolutamen- QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 73 te, a desconfiança e o te- mor em relação aos que re- cebiam. Daí as alternâncias de fraqueza e rigor na apli- cação dessa lei: em geral, o rigor venceu. Pretendiam fazer desaparecer a perigo- sa classe de mendigos pro- fissionais, que tivera, em meados do século XVI, um desenvolvimento temível. A obrigatoriedade do tra- balho, imposta a todos as- sistidos, exceto quando suas doenças os tornavam abso- lutamente incapazes, era re- forçada por severas penali- dades: chicote, no primeiro delito de vadiagem ou en- QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 74 vio a casa de correção; em caso de reincidência, chico- te e marca de ferro (MAN- TOUX, 1989, p. 443, on-li- ne, grifos do autor)5. Era objetivo da Lei dos Pobres eliminar os “vagabundos” e men- digos que perambulavam pelas ruas. Deixava claro que a Igreja deveria administrar os auxílios aos necessitados, bem como rea- lizaria o recolhimento das taxas dos locatários e as utilizava con- forme exposta na figura a seguir: QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 75 Figura 1 - Lei dos Pobres (1601) - Utilização das taxas e sua aplicabilicadade 1. Trabalho com os órfãos. 2. Com crianças cujos pais trabalhavam e não tinham com quem deixá-los, muito menos cuidá-los no trabalho. 3. Aquisição de materiais para que o pobre pudesse trabalhar, por exemplo: lã, linho e �ador para produção. 4. Oferta de auxílio àqueles impossibilitados de trabalhar (cegos, idosos, pessoas com de�ciência, entre outros casos). 5. Poderia ainda ser provido casas que serviriam de asilos ou poorhouses, que depois passariam a ser as Workhouses, conheci- das como casas de correção e instrução, que tinham como propósito fornecer acomodação e ao mesmo tempo trabalho. Fonte: a autora (2016). QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 76 Segundo Dorigon (2006, p. 65, on-line)4: A Lei dos Pobres de 1601 delegava autoridade legisla- tiva para o estabelecimento nas paróquias destas insti- tuições, que poderiam unir duas ou mais igrejas que iriam organizar as casas de trabalho para abrigar os po- bres, dar-lhes assistência, mas também ter lucros com eles, conforme o parágrafo primeiro da Lei dos Pobres de 1601. Todavia, embora muitas igrejas buscassem ganhar mais dinheiro com o trabalho dos pobres, grande parte dos que se abrigavam QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 77 nessas instituições eram do- entes, idosos e crianças, cujo trabalho dava pouco lucro, o que os levava a fugir das suas responsabilidades. Com todas estas medidas toma- das para a redução do número de pobres no país, logo, questio- namentos sobre a sua efetividade começaram a surgir, uma vez que a quantidade de ociosos aumen- tou significativamente. Isto de deu por volta do século XVIII. Bem como a atuação da Igreja também começou a ser inda- gada, mediante certos tipos de medidas tomadas, como você pode verificar a seguir: QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 78 Cada paróquia achava que só tinha que socorrer seus pobres, excluindo os re- cém-chegados, que consi- deravam intrusos: alias, é provável que algumas paró- quias tenham tentado de- sembaraçar-se dos encar- gos de sua competência às custas de outras paróquias, mais ricas ou menos avaras (MANTOUX, 1989, p. 443- 444, on-line)5. Todas estas discussões e análi- ses fizeram com que acontecesse a revisão e reformulação da Lei dos Pobres de 1601. Repensou-se o auxílio ao pobre, a sua admi- nistração, devendo-se agora QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 79 “ajudar” realmente e apenas aquele que necessitasse e puni- ria aqueles que se recusassem a trabalhar. Intensificou-se a cria- ção de instituições que visavam retirar o pobre da rua, dar-lhe educação e proporcionar-lhe trabalho, para que recuperasse sua condição. © sh ut te rs to ck QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 80 NOVA LEI DOS POBRES (INGLATERRA - 1834) Após os motivos explicitados acima, a Lei dos Pobres de 1601 foi reformulada e em 14 de agosto de 1834 foi criada a Nova Lei dos Pobres (Reinado de George III), e com ela, podemos perce- bera situação, segundo Trindade (1998, p. 29): A Nova Lei dos Pobres [...], um estatuto de insensibili- dade incomum, deu aos tra- balhadores (da Inglaterra) o auxílio-pobreza somente dentro das novas workhou- ses (onde tinham que se se- parar da mulher e dos filhos para desestimular o hábito QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 81 sentimental e não malthu- siano de procriação impen- sada) e retirou a garantia pa- roquial de uma manutenção mínima. Nessas ocasiões em que a miséria batesse à por- ta, sequer vestígios de cida- dania se preservariam: ‘[...] os indigentes abriam mão, na prática, do direito civil da liberdade pessoal devi- do ao internamento na casa de trabalho, e eram obriga- dos por lei a abrir mão de direitos políticos que pos- suíssem. Essa incapacidade permaneceu em existência até 1918’ (grifos do autor). QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 82 Podemos dizer que a Primeira Lei dos Pobres sucumbiu pelo fato de muitas pessoas que podiam trabalhar e que se negavam devido ao auxílio da Igreja, o que gera uma nova questão social. Uma das funções da Nova Lei dos Pobres era selecionar e nomear os c h a m a d o s comissários, que deve- riam atuar na administra- ção do auxílio QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 83 aos pobres e necessitados, con- forme o que pregava a lei. Os intitulados comissários tinham poder para execu- tar regras, ordens e regula- mentação da administra- ção do auxílio aos pobres e, além disso, coordenar casas que serviriam como abrigo, a educação das crianças e a administração das paró- quias. Desta forma, enten- de-se que o objetivo maior dessa lei era administrar o auxílio aos pobres da In- glaterra, bem como impe- dir o homem produtivo de reivindicar ajuda, prover refúgio para o doente e de- QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 84 samparado, formando um grupo para gerenciar as ins- tituições que estavam sendo organizadas e executar a lei, como estabelece o parágra- fo 15 da lei de 1834 (DORI- GON, 2006, p. 67, on-line)4. Os comissários eram selecio- nados pela comissão real for- mada por um grupo de pesso- as ligadas diretamente ao rei. Era função dos comissários administrar fazendo cumprir a Lei dos Pobres de 1834, ele- gendo os guardiões para cada Workhouse, os quais cumpri- ram as ordens estabelecidas QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 85 pela Lei. Os comissários deve- riam de tempos em tempos vis- toriar cada Workhouse e emitir relatórios sobre a administra- ção geral relacionada a todos os procedimentos desenvolvi- dos dentro de cada instituição. Fonte: Adaptado de Dorigon (2006, p. 123, on-line)4. A Lei dos Pobres de 1834 ampliava a lei dos pobres de 1601, contava com propósitos mais definidos para a administração do auxílio aos pobres e o controle dos gas- tos em todos os aspectos. Para tanto, as Workhouses foram organizadas para que se cum- prisse os objetivos previstos na QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 86 Lei e atendesse as necessida- des da população pauperizada daquele país. No próximo tópico, veremos um pouco mais sobre Workhouse e suas funções. AS WORKHOUSES Agora, aprenderemos um pouco mais sobre as Workhouse. As Workhouses eram gran- des casas fundadas para fornecer moradia, trabalho e educação ao homem des- tituído, mas apto a desen- volver um ofício e ingressar na sociedade de trabalho requisitada pela indústria. Esta nova organização exi- QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 87 gia uma nova concepção de trabalho, pois a forma como o homem se organizava na manutenção de sua vida já não respondia aos interes- ses produtivos. Tal concei- to de trabalho era diferente do até então vigente, tendo por objetivo adaptar o tra- balhador às novas necessi- dades produtivas. Algumas das Workhouses foram or- ganizadas pela união de várias igrejas para dividir melhor os custos, isto por- que muitas cidades peque- nas não tinham condições de manter uma instituição desse porte. Outras eram QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 88 construídas em terras com- pradas pela comissão real 10 ou em prédios que cor- respondessem às exigên- cias da lei para abrigar os que necessitavam, confor- me previa o parágrafo 23 da Segunda Lei dos Pobres, de 1834 (DORIGON, 2006, p. 125, on-line)4. Pudemos perceber a partir do exposto ao longo do texto que com a Revolução Industrial ocor- reram mudanças nas relações de trabalho; mudanças significati- vas na vida do trabalhador em virtude do processo crescente do capitalismo; houve avan- ços, mas, também se instaurou QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 89 muitas dificuldades e problemas, sobretudo, a exploração de mão de obra do homem, da mulher e da criança. Na medida em que os pro- blemas sociais e econômicos se agravavam, medidas eram tomadas com vistas a seu enfren- tamento, foram encontradas diversas saídas para sanar ou minimizar algumas problemá- ticas, dentre elas, a criação das Workhouses. As Casas de Trabalho (Workhouses) foram esta- belecidas em Inglaterra no século XVII. Segundo a Lei dos Pobres adaptada, em 1834, só era admitida uma QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 90 forma de ajuda aos pobres: o seu alojamento em casas de trabalho com um regi- me prisional; os operários realizavam aí trabalhos im- produtivos, monótonos e extenuantes; estas casas de trabalho foram designa- das pelo povo de “bastilhas para os pobres” (DICIO- NÁRIO..., on-line, grifos do autor)6. Dentro das suas atribuições era ainda missão da Workhouse atuar junto aos indivíduos empobrecidos e desajustados socialmente educando-os para o trabalho, desenvolvendo uma ação que auxiliasse a introduzir QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 91 e/ou reintroduzir também a sociedade. Estes indivíduos (homens, mulheres crianças e idosos) eram tidos muitas vezes como pessoas sem moral, assim o trabalho da workhouse con- templava a tarefa de torná-los novas pessoas, homem perante a si mesmo e a sociedade. De acordo com Bresciani (1986, p. 10), as workhouses objetivavam “transformar vagabundos em trabalhadores”. Os espaços que onde se insta- lavam estas casas, muitas vezes eram alugados, e quando se tra- tava de alimentação não havia nada de excesso ou exagero, ser- via-se apenas o necessário para QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 92 subsistência daquele que lá se encontrava. Devido a sua efici- ência, por volta de 1830 havia na Inglaterra centenas de workhou- ses atuando junto à assistência ao pobre e desocupado. Contudo, [...] as Casas de Traba- lho (Workhouses) deviam ser lugares, pouco atraen- tes para que seus ocupan- tes procurassem sair de lá o mais rápido possível. Não deviam se sentir conforta- dos em suas instalações, a vida em família e a boa re- feição representavam privi- légios, a merecida recom- pensa aos que ocupam seus dias com o trabalho produ- QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 93 tivo. Mesmo a disciplina e a intensidade do trabalho lá dentro, deveriam ser sensi- velmente mais rigorosas do que nas fábricas, de forma a atuarem como estímulo a busca de emprego (BRES- CIANI, 1986, p. 44). A s © sh ut te rs to ck QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 94 Workhouses possuíam rotinas bem definidas, bem como pro- cedimentos estabelecidos e que deveriam ser seguidos por todos os que lá se encontravam, por exemplo, processo de higieni- zação; saúde; padronização dos dormitórios; seguimento de uma religião; trabalhos distintos para mulheres, homens e idosos; edu- cação para crianças. Conhecer e compreender como o trabalho acontecia nas Workhouses é muito interessante, a seguir, você terá uma breve noção de como era operaciona- lizada uma destas instituições, acredito que você conseguirá fazer as devidas reflexões tanto QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 95 quanto a Lei dos Pobres, quanto do trabalho desenvolvido pelas Workhouses. O exemplo que uti- lizaremos é o da Workhouse de St. Marylebone, de Londres, fun- dada em 1730 e que em seu início se destinava ao abrigamento apenas para que os pobres per- noitassem. “Com o tempo, sua abrangência foi ampliada e ela foi requisitada com maisinten- sidade, passando a abrigar em tempo integral homens, mulhe- res e crianças” (DORIGON, 2006, p. 132, on-line)4. QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 96 Na tabela, a seguir, você poderá verificar melhor como as pessoas eram acolhidas, o que faziam, qual a sua rotina etc. Embora, todas as Workhouse fossem parecidas, a de St. Marylebone destacava-se, pela sua gestão, rigor e organização. QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 97 Tabela 1 - Como funcionava a Workhouse St. Marylebone AO CHEGAR À INSTITUIÇÃO Os “internos” passavam por um processo de higie- nização, pois devido à sua permanência nas ruas fi- cavam expostos a todos os tipos de enfermidade. Eram lavados com água quente e sabão, as roupas eram levadas para serem esterilizadas. UNIFORME Enquanto estivessem na instituição, no período no- turno usavam um “camisolão” de lã, e para o período diurno recebiam um uniforme, que todos deveriam usar, até mesmo para serem identificados e distin- guidos quando estivessem fora da Workhouse. O uso do uniforme pelos internos nas Workhouses relacio- na-se com a concepção do homem que se pretendia formar - um homem disciplinado, organizado, ordei- ro e obediente às regras. QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 98 DORMITÓRIOS Homens e mulheres ficavam separados. As crianças eram divididas em grupos de vinte e acompanha- das por quatro mulheres. As camas eram formadas de colchão e travesseiro. Nas paredes dos dormitó- rios havia textos bíblicos e os dez mandamentos, e as orações noturnas eram obrigatórias. Os quartos eram organizados de forma que as camas ficassem todas visíveis aos olhos dos guardiões, o que denun- cia o controle da ordem a partir de uma disciplina severa. As inscrições bíblicas nas paredes, por exem- plo: “Deus é bom”; “Deus é justo” e “Deus é amor” - apontam que esse controle também passava pela religião, que, em consonância com a ordem posta, exigia um homem moralizado. QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 99 ROTINA O despertar ocorria às 7h, em seguida, se dirigiam ao refeitório e se alimentavam, sendo essa refei- ção considerada o café da manhã. Logo, após, os internos eram encarregados de desenvolver diver- sos tipos de trabalho, na maioria, relacionados à manutenção da Workhouse, além de obterem uma aprendizagem destinada à execução de um ofício. MULHERES Designadas para os trabalhos domésticos, na co- zinha ou na lavanderia, ou seja, a elas era destina- da a manutenção relacionada à higienização da Workhouse, bem como os cuidados com a alimenta- ção e indumentária de todos que ali se instalavam. Também poderiam executar outras atividades, por exemplo, escolher pequenos pedaços de corda ve- lha, usados para preencher buracos nas laterais dos navios de madeira. QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 100 HOMENS Destinados aos trabalhos árduos, como quebrar pe- dras, moer grãos com pesados moinhos, triturar os- sos para servirem de fertilizantes e rachar madeira. No entanto, o ponto axial nessas atividades era a or- dem e a disciplina, em uma reprodução do que seria a sua vida no mundo das fábricas. IDOSOS O trabalho era mais ameno. Na maioria das vezes cabia-lhes a colheita de carvalho, o que não dispen- sava a mesma prática disciplinadora adotada pela instituição, tendo em vista a docilização do homem, independentemente da sua idade. DOENTES Não tinham obrigação de desenvolver nenhum tra- balho; eram encaminhados às enfermarias, onde o médico promoveria todos os procedimentos, até mesmo o internamento, se fosse o caso, mas sem- pre tendo em conta o seu restabelecimento para ser reintegrado ao trabalho. Fonte: Adaptado de Dorigon (2006, p.132-140, on-line) 4. QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 101 Por fim, ainda tem nos registros que: De 1897 a 1901, a Workhou- se de St. Marylebone passou por novas orientações. Foi organizado um espaço para berçário e jardim de infân- cia. Homens velhos e doen- tes foram separados dos de- mais em um bloco exclusivo, buscando-se dessa forma uma organização mais ade- quada, para livrar crianças e homens saudáveis de possí- veis contaminações. De 1914 a 1915 essa casa re- cebeu outras funções: aco- lher os refugiados da Guer- ra Belga. De 1918 a 1921 foi QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 102 utilizada como quartel de de- tenção militar, e na Primei- ra Guerra Mundial serviu a propósitos do exército. Na Segunda Guerra Mundial foi destinada a ser um centro de recreação para trabalha- dores civis, e após a guerra serviu de abrigo para pesso- as deslocadas e excluídas do seu continente. Em 1965, a Workhouse de St. Maryle- bone foi fechada, seus ocu- pantes foram enviados para outros lugares e, posterior- mente, edificou-se no local a Escola Politécnica de Lon- dres, [...]. (DORIGON, 2006, p.140, on-line)4. QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 103 E, então, o que você achou? Conseguiu ter uma ideia de como funcionava uma Workhouse? Espero que tenha lhe auxiliado. Sendo assim, vamos dar conti- nuidade e ver outro exemplo da tratativa das questões sociais. Agora, podemos analisar muito brevemente a questão da assis- tência na França, percebemos a partir das decisões do Barão de Gérando, esse apresenta uma proposta para a assistência ao “indigente”. Esta assistência con- sistia em aplicar como estratégia de ação, a doação de donativos, porém, tão ação não acontecia de maneira imediata, estabeleceu que o profissional responsável, QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 104 por tal função deveria estar atento às condições de cada indivíduo e sua família, não de maneira aleatória, e sim, estando atento às necessidades (permanente ou provisória, ou por má-formação da moral) de tais pessoas neces- sitadas de auxílio. Desse modo, exercia um controle efetivo sobre o pro- cesso de seleção e distribui- ção, na medida em que uti- lizava a prestação da ajuda como instrumento de recu- peração moral, submetendo o serviço de socorros a boa conduta do assistido. Assim, o ‘visitador do pobre’ reali- zava uma intervenção fun- QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 105 dada em uma relação pesso- al, com acompanhamento, onde procurava fazer um diagnóstico e solucionar os problemas individuais. Essa forma de atuação, se- gundo Castel, dará origem ao trabalho social profissio- nalizado. Convém ressaltar que essa maneira de abor- dar a assistência, ou seja, a corrente da scientific chari- ty se expandirá pelos países anglo-saxônicos durante a segunda metade do século XIX. Nessa mesma direção, segue o case work, que sur- ge nos Estados Unidos em sua instituição formal no QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 106 início do século XX, a partir de uma necessidade de cen- tralizar novamente a inter- venção social entre o agen- te e os beneficiários. Essas constatações indicam, mes- mo para pensadores exter- nos ao circuito profissional do Serviço Social, evidên- cias históricas na relação entre a questão social e as origens do Serviço Social (SANTOS; COSTA, 2006, p. 6, on-line, grifos do au- tor)2. QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 107 CONSIDERAÇÕES FINAIS Para encerrarmos esta unidade, deixo o seguinte questiona- mento: como o homem sendo um animal racional, que pro- cura inúmeras saídas para que suas necessidades sejam supri- das, permitiu que a disparidade social chegasse a tal ponto? Quem sancionou a supremacia de uns poucos indivíduos sobre muitos, dando-lhes permissão para explorá-los, em nome do ganho capital? Pense nisto. Tenha sempre presente que o mundo que temos hoje, é parte de um processo histórico, aquilo que temos é reflexo de um pas- sado, assim como o futuro será QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 108 reflexo da história que cons- truirmos hoje. Por isso é que precisamos estar atentos aos fatos históricos. O que seria do mundo sem a organização dos proletários e a Revolução Industrial? Todas as mobilizações, rebeliões e revolu- ções? Não falo, aqui, das mortes e opressões, das dores geradas pela violência que muitos acon- tecimentos geraram, falo do ideal, do sonho e da luta pelos direitos. Estes despertam no ser humano aforça intrínseca que habita em todo ser humano ameaçado. Pudemos ainda refletir acerca da relação capital trabalho e o QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 109 surgimento do sistema capita- lista em substituição ao sistema feudal. Os avanços e dificulda- des gerados pelo mesmo. Tivemos a oportunidade de aprofundamos nossa ideia sobre a Revolução Industrial e conhe- cermos um pouco mais sobre as políticas de assistência na Inglaterra e na França. Como lidavam com os seus pobres, indigentes e desocupados, as estratégias de enfrentamento dos diversos problemas sociais da época. Ao tratarmos da Lei dos Pobres de 1601 e 1834, pudemos ter noção de como a classe domi- nante enxergava a sociedade e QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 110 suas diferenças, isto fica claro quando passamos a conhecer um pouco mais as Workhouses (casas de trabalho), isto revela que as contradições, diferença e o sentimento de “superioridade social” Revolução Industrial A substituição das ferramentas pelas máquinas, da energia hu- mana pela energia motriz e do modo de produção doméstica pelo sistema fabril constituiu a Revolução Industrial; revolu- ção, em função do enorme im- pacto sobre a estrutura da so- ciedade, em um processo de transformação acompanhado por notável evolução tecnoló- gica. A Revolução Industrial aconte- ceu na Inglaterra na segunda metade do século XVIII e en- cerrou a transição entre feu- dalismo e capitalismo, a fase de acumulação primitiva de capitais e de preponderância do capital mercantil sobre a produção. Completou ainda o movimento da revolução bur- guesa iniciada na Inglaterra no século XVII. Etapas da industrialização Podem-se distinguir três perí- odos no processo de industria- lização em escala mundial: 1760 a 1850 – A Revolução se restringe à Inglaterra, a “ofici- na do mundo”. Preponderam a produção de bens de consu- mo, especialmente têxteis, e a energia a vapor. 1850 a 1900 – A Revolução es- palha-se por Europa, Améri- ca e Ásia: Bélgica, França, Ale- manha, Estados Unidos, Itália, Japão e Rússia. Cresce a con- corrência, a indústria de bens de produção se desenvolve, as ferrovias se expandem; sur- gem novas formas de energia, como a hidrelétrica e a deriva- da do petróleo. O transporte também se revoluciona, com a invenção da locomotiva e do barco a vapor. 1900 até hoje – Surgem con- glomerados industriais e mul- tinacionais. A produção se au- tomatiza; surge a produção em série; e explode a sociedade de consumo de massas, com a expansão dos meios de comu- nicação. Avançam a indústria química e eletrônica, a enge- nharia genética, a robótica. Artesanato, manufatura e ma- quinofatura O artesanato, primeira forma de produção industrial, surgiu no fim da Idade Média com o re- nascimento comercial e urba- no e se definia pela produção independente; o produtor pos- suía os meios de produção: ins- talações, ferramentas e maté- ria-prima. Em casa, sozinho ou com a família, o artesão realiza- va todas as etapas da produção. A manufatura resultou da am- pliação do consumo, que levou o artesão a aumentar a produ- ção e o comerciante a dedicar-se à produção industrial. O manu- fatureiro distribuía a matéria- -prima e o artesão trabalhava em casa, recebendo pagamen- to combinado. Esse comercian- te passou a produzir. Primei- ro, contratou artesãos para dar acabamento aos tecidos; de- pois, tingir; e tecer; e finalmen- te fiar. Surgiram fábricas, com assalariados, sem controle so- bre o produto de seu trabalho. A produtividade aumentou por causa da divisão social, isto é, cada trabalhador realizava uma etapa da produção. Na maquinofatura, o trabalha- dor estava submetido ao regi- me de funcionamento da má- quina e à gerência direta do empresário. Foi nesta etapa que se consolidou a Revolução Industrial. [...] Revolução Social A Revolução Industrial con- centrou os trabalhadores em fábricas. O aspecto mais im- portante, que trouxe radical transformação no caráter do trabalho, foi esta separação: de um lado, capital e meios de produção (instalações, máqui- nas e matéria-prima); de outro, o trabalho. Os operários passa- ram a assalariados dos capita- listas (donos do capital). Uma das primeiras manifesta- ções da Revolução foi o desen- volvimento urbano. Londres chegou ao milhão de habitan- tes em 1800. O progresso des- locou-se para o norte; centros como Manchester abrigavam massas de trabalhadores, em condições miseráveis. Os arte- sãos, acostumados a controlar o ritmo de seu trabalho, agora tinham de submeter-se à dis- ciplina da fábrica. Passaram a sofrer a concorrência de mu- lheres e crianças. Na indústria têxtil do algodão, as mulheres formavam mais de metade da massa trabalhadora. Crianças começavam a trabalhar aos 6 anos de idade. Não havia ga- rantia contra acidente nem in- denização ou pagamento de dias parados neste caso. A mecanização desqualificava o trabalho, o que tendia a redu- zir o salário. Havia frequentes paradas da produção, provo- cando desemprego. Nas novas condições, caíam os rendimen- tos, contribuindo para reduzir a média de vida. Uns se entre- gavam ao alcoolismo. Outros se rebelavam contra as máqui- nas e as fábricas, destruídas em Lancaster (1769) e em Lan- cashire (1779). Proprietários e governo organizaram uma de- fesa militar para proteger as empresas. A situação difícil dos campone- ses e artesãos, ainda por cima estimulados por ideias vindas da Revolução Francesa, levou as classes dominantes a cria- rem a Lei Speenhamland, que garantia subsistência mínima ao homem incapaz de se sus- tentar por não ter trabalho. Um imposto pago por toda a comu- nidade custeava tais despesas. Havia mais organização entre os trabalhadores especializados, como os penteadores de lã. Inicialmente, eles se cotizavam para pagar o enterro de associados; a associação passou a ter caráter reivindicatório. Assim, surgiram as tradeunions, os sindicatos. Gradativamente, conquistaram a proibição do trabalho infantil, a limitação do trabalho feminino, o direito de greve. Fonte: Chaves (2014, on-line)7. 1. Antes mesmo da Revolução Industrial, a pobreza e a mi- séria eram cultivadas e utili- zadas como forma de manter as desigualdades existentes e o “status quo” das camadas dominantes. A pobreza e os demais problemas sociais eram tratados como um problema de ordem: a. Natural, individual e moral, suas causas eram associadas à preguiça e à incapacidade como características inatas aos não integrados. b. Natural, coletiva e amoral, suas causas eram associadas à superinteligência e à capa- cidade como características natas aos não integrados. c. Adquirida, individual e con- tagiosa, suas causas eram associadas à preguiça e à in- capacidade como caracterís- ticas natas aos integrados. d. Natural, individual e moral, suas causas eram associadas sobra de talento pessoal e profissional. e. Sobrenatural, individual e le- gal, suas causas eram associa- das à vontade plena de Deus. 2. Lei que se tornou referência no enfretamento das ques- tões sociais na Inglaterra e acabou sendo incorporada por outros países europeus: a. Lei Áurea. b. Lei de Diretrizes e Bases. c. Lei dos Pobres. d. Leis de Bem-Estar Social. e. Lei dos Miseráveis. 3. Aponte, a seguir, a alternati- va que não condiz com as es- tratégias adotadas na Lei dos Pobres: a. Trabalho como punição para o desocupado e para o pobre que tinha capacidade. b. Pagamento em dinheiro, considerado uma pensão, para aqueles que não podiam trabalhar. c. Proibição do auxílio ao men- digo e ao frequentador casu- al dos asilos, que buscavam auxílio apenas naquele mo- mento. d. Proibição de gerar mais fi- lhos, sendo adotado como punição para aqueles que não obedecessem a Lei, a en- trega do filho ao Estado. e. As formas de “proteção” assis- tencial na Lei dos Pobres va- riavam da mera distribuição de alimentos, passando pelo complemento de salários até o recolhimentoem asilos e reclusão nas workhouses. 4. A definição a seguir diz res- peito a que instituições do sé- culo XVII: “casas correcionais”, com o objetivo de atender e formar a camada aleijada da sociedade: a. Hospitalhouse. b. Workhouses. c. Carhouse. d. Horsehouse. e. Churchouse. 5. A proposta de uma “nova tecnologia de assistência” na França, que consistia em dis- tribuir donativos aos indigen- tes, não de forma aleatória, mas examinando cuidadosa- mente quais as suas necessi- dades (permanentes ou oca- sionais), criou um novo tipo de profissional chamado de: a. Fiscalizador do pobre. b. Condutor do pobre. c. Visitador do pobre. d. Criador do pobre. e. Gerenciador do pobre MATERIAL COMPLEMENTAR P e l l e : O Conquistador O filme “Pelle – O Conquistador” se passa no século XIX, onde pai e filho saem da Suécia e vão para Dinamarca, pois estão em busca de melhores condições de vida. Começam a trabalhar em uma fazenda, na condição de escravos, sob condições precárias. O pequeno Pelle aprende a língua do país e sonha em busca de uma vida melhor para ele e seu pai. Comentário: O filme retrata MATERIAL COMPLEMENTAR muito bem as mudanças sociais do século XIX, podendo ser percebido claramente as transformações advindas com a Revolução Industrial. O pai de Pelle tem uma atuação emocionante, como incentivador, contudo, se utiliza da violência física como método de educar o pequeno Pelle. Para ampliarmos nosso conhecimento, podemos utilizar vários recursos, um deles são os filmes cinematográficos. Logo, para refletir mais sobre a Revolução Industrial, você poderá assistir ao filme “Pelle: O Conquistador”. MATERIAL COMPLEMENTAR Apresentação: Para saber mais sobre a realidade inglesa, relatos e acontecimentos abordados no ponto Lei dos Pobres, leia o texto: “A grande diáspora irlandesa” de Pierre Joannon, acessando ao link: Disponível em: <http://www2. uol.com.br/historiaviva/ reportagens/a_grande_ diaspora_irlandesa_imprimir. html>. REFERÊNCIASREFERÊNCIAS BRESCIANI, M. S. M. Londres e Paris no século XIX: o espe- táculo da pobreza. São Paulo: Brasiliense, 1982. _____. Lógica e dissonância: Sociedade e Trabalho: lei, ci- ência disciplina e resistência operária. Revista Brasileira de História. São Paulo, v.6, n.11, p.7-44, 1986. BUARQUE, C. A questão social do século XXI. In: Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciên- cias Sociais, 8, 2004, Coimbra: Portugal. Anais... Coimbra: CES – FEUC, 2004. CASTEL, R. As metamorfoses da questão social: uma crô- REFERÊNCIAS nica do salário. Petrópolis: Vo- zes, 1998. DIAS, R. Introdução à So- ciologia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. GEDIEL, J. A. (Org.). Os cami- nhos do cooperativismo. Curitiba: UFPR, 2001. SCHIMDT, B. V.; FARRET, R. L. A questão urbana. Rio de Ja- neiro: Jorge Zahar, 1986. SANTOS. E. P; COSTA, G. M. Questão social e desigual- dade: novas formas, velhas raízes. Revista Ágora, n. 4, (on-line), jul 2006. Disponível em: <http://www.estudosdo- REFERÊNCIAS trabalho.org/5RevistaRET6. pdf>. Acesso em 12 mar. 2016. TRINDADE, J. D. de L. Anota- ções sobre a história social dos direitos humanos. In: São Pau- lo (Estado). Direitos Huma- nos: Construção da liberda- de e da Igualdade. São Paulo: Centro de Estudos da Procu- radoria Geral do Estado, 1998, p. 23-163. REFERÊNCIA ON-LINE 1 - <http://www.ebooksbrasil. org/adobeebook/manifesto- comunista.pdf>. Acesso em: 05 mai. 2016. REFERÊNCIAS 2 - <http://www.estudosdo- trabalho.org/5RevistaRET6. pdf>. Acesso em: 05 mai. 2016. 3 - <http://www.nodo50.org/ insurgentes/biblioteca/A_Mi- crofisica_do_Poder_-_Mi- chel_Foulcault.pdf>. Acesso em: 05 mai. 2016. 4 - <http://www.ppe.uem.br/ dissertacoes/2006-Nelci_Do- rigon.pdf>. Acesso em: 05 mai. 2016. 5 - <http://www.nossaes- cola.com/acer vop.php?i- dpesq=151>. Acesso em: 05 mai. 2016. REFERÊNCIAS 6 - <https://www.marxists. org/portugues/dicionario/ verbetes/w/work houses. htm>. Acesso em: 05 mai. 2016. 7 - <http://www.culturabra- sil.pro.br/revolucaoindustrial. htm>. Acesso em: 05 mai. 2016. GABARITOGABARITO 1. C 2. C 3. D 4. B 5. C U N ID A D E II Prof. Esp. Daniela Sikorski Prof. Me. Maria Cristina A. de Brito Cunha PRODUÇÃO E REPRO- DUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM ■ Retomar alguns acontecimentos históricos brasileiros que possibilitarão ao aluno a melhor compreensão da questão social e o serviço social. U N ID A D E II Prof. Esp. Daniela Sikorski Prof. Me. Maria Cristina A. de Brito Cunha PRODUÇÃO E REPRO- DUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ A questão social na sociedade capitalista ■ A questão social no processo de industrialização do Brasil ■ A questão social nas décadas de 20 e 30 (século XX) PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA 141 INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), nesta uni- dade, trabalharemos alguns pontos relacionados à questão social na sociedade capitalista, trazendo elementos que auxilia- rão no entendimento da questão social no processo de industria- lização do Brasil, dando enfoque a questão social nas décadas de 20 e 30 (século XX). Como eram as relações estabe- lecidas no Brasil nestes períodos e como se deu o agravamento das questões sociais, sabendo que o processo de industria- lização gera uma demanda excedente de mão de obra, PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA 142 ocasionando a competição e a exploração dos trabalhadores. Nesta época, consta a inexistên- cia das leis trabalhistas, que vem a surgir mais tarde com objeti- vos principalmente de acalmar os ânimos exaltados dos tra- balhadores, procurando evitar possíveis rebeliões e ameaça à classe dominante. No campo a situação foi agra- vada, tanto pela exploração, quanto pelo êxodo. Veremos que a questão social no Brasil primei- ramente era tratada como caso de polícia, no qual aqueles pobres, desocupados eram tidos como os principais responsáveis pela sua condição inexistiam a ideia PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA 143 de que os problemas sociais eram oriundos das contradições do sis- tema que se instaurava no país. Na era Vargas inicia-se a refle- xão de outro sentido para as questões sociais, este passa a ser tratado como caso de polí- tica, começa-se a gerar formas de enfrentamento as proble- máticas existentes, mas ainda não com seu sentido totalmente ligado a noção de direito, esta noção ainda contemplava os ideais burgueses, pois se sen- tiam ameaçados pela população vulnerabilizada. Criam-se estra- tégia de enfrentamentos, mais para sossegar os medos bur- gueses do que para atender a PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA 144 demanda necessitada de assis- tência, contudo é um começo, e, hoje, podemos ver o aperfeiçoa- mento de algumas leis e medidas trabalhistas tomadas naquela época, que de certa forma con- tribuíram para a regulação das relações trabalhistas e sociais brasileiras. Bons estudos! PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA 145 A QUESTÃO SOCIAL NA SOCIEDADE CAPITALISTA A história revela que mesmo o homem sendo um ser de rela- ções e em constante evolução, foi capaz de gerar entre a sua própria espécie a segregação e divisão, instaurando a “ver- dade” de que uns “abençoados” PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA 146 são melhores e ”superiores” que outros coitados. O progresso econômico e social da humanidade foi capaz de produzir também a aliena- ção, a exploração de uns poucos sobre muitos, bem como a divi- são desigual de bens e lucros, gerando assim as desigualdades de problemáticas sociais, estas questões foram sendo cada vez mais agravadas com o passar do tempo, crescia na mesma pro- porção que a industrialização e aumento do lucro. O avanço veio à custa daque- les que eram obrigados a vender a sua força de trabalho, já que estaera a única coisa que tinha PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA 147 a oferecer em troca do mínimo para garantir a sua subsistência. Alegre aquele que ainda possuía este recurso, e não dependia ape- nas da caridade alheia. O operário se torna mais pobre quanto mais rique- za produz, quanto mais aumenta a produção em poderio e em extensão. O operário converte-se em mercadoria cada vez mais barata à medida que cria mais mercadorias. O valor crescente do mundo das coisas determina a propor- ção direta da desvaloriza- ção do mundo dos homens. O trabalho produz não só PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA 148 mercadorias; se produz a si mesmo e ao operário como mercadorias; e o faz na pro- porção em produz às mer- cadorias em geral (MARX, 2004, p. 68). Marx, em sua obra “O Capital” (1985), já aponta esta explora- ção do patrão sobre o empre- gado, aponta a retirada da mais valia, com vistas à acumulação do capital; no qual, gradativamente, poucos vão ©shutterstock PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA 149 acumulando muito enquanto muitos cada dia mais expe- renciam a dor da exploração, miséria e desigualdade. A relação de exploração do trabalho vivo pelo capital é uma relação social de pro- dução historicamente deter- minada, na qual os trabalha- dores são despossuídos dos meios de produção e obri- gados a vender sua força de trabalho. É no mercado que são encontrados os capita- listas dispostos a comprar tal mercadoria para valorizá-la no processo de produção e realizá-las continuamente como capital. PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA 150 Quando o capitalista gasta a soma inicial de dinheiro com o objetivo de autovalo- rizar o dinheiro acumulado primitivamente, ele acaba por transformar os meios de produção e a capacidade de trabalho em capital. As mer- cadorias compradas pelo ca- pitalista não são capital por natureza ou por suas carac- terísticas físicas próprias; elas se tornam capital em relações históricas e sociais determinadas (CASTELO BRANCO, 2006, p. 144). Logo, podemos dizer que as relações que se estabelecem assim, desta forma desigual e PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA 151 tão conflituosa entre o capi- tal e o trabalho é que acabam por configurar as questões sociais, onde o sistema eco- nômico se encontra. A partir do exposto, vamos entender uma das fontes das desigualdades presentes há tem- pos na sociedade, aonde o valor de troca vai dando lugar ao valor de uso. Entendamos um pouco mais o que significa o termo mais valia, de acordo com Karl Marx (2003): A teoria marxiana da mais- -valia consiste não só em perceber o trabalho como fonte geradora do valor, mas, principalmente, em PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA 152 perceber que existe uma dupla natureza do trabalho – concreto e abstrato – e uma diferença de magnitu- de do valor de troca e do va- lor de uso da força de traba- lho, o que significa dizer que o trabalhador não recebe o valor integral da jornada de trabalho, mas tão somente uma fração da mesma. “O possuidor do dinheiro pagou o valor diário da força de trabalho; pertence- lhe, portanto, o uso dela durante o dia, o trabalho de uma jornada inteira. A manutenção quotidiana da força de trabalho custa PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA 153 apenas meia jornada, e o valor que sua utilização cria em um dia é o dobro do próprio valor-de-troca” (MARY, 2003, P.227, grifos do autor). Além da exploração do homem pelo homem, por conta do sistema, gerando assim os pro- blemas sociais, vemos também nesta relação à alienação do homem. Procure neste momento esta- belecer uma busca científica, pois esta discussão já foi estabe- lecida em outras oportunidades, em outras disciplinas, tais como sociologia, psicologia social, filo- sofia, entre outros momentos em PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA 154 que pudemos analisar a aliena- ção advinda a partir do sistema capitalista. Lembre-se que existem vários tipos de alienação. Ela pode ser religiosa, filosófica, política e sócio-econômica. Percebemos que a partir das obras marxianas, inúmeras críticas à alienação, e Marx (2003) aponta que esta é revestida de várias formas, ou seja, a alienação social e econô- mica acontece por meio da: PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA 155 Figura 1 - Tipos de Alienação 1. Separação entre o homem e o trabalho que desempenha na sociedade, quando este o priva do processo de decisão de como e o quê fazer. 2. Quando o homem é apartado do produto de seu trabalho, quando isso acontece ele se torna impossi- bilitado de exercer controle sobre o que é feito, sobre o que é resultado de seu trabalho, caracterizando assim a exploração. 3. Quando o homem por meio do processo competiti- vo se afasta de seus iguais. Fonte: Adaptado de Marx (2003). PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA 156 O sistema prega que o homem deve sempre fazer o seu máximo, alcançar o topo, de forma que este doe toda a sua energia e concen- tre todo seu potencial para que o lucro (que não será partilhado com ele) seja aumentado, vendo assim a lógica do capitalismo aumentar os lucros e reduzir as despesas. O homem acredita que se fizer o seu melhor, não se importando com os demais poderá ingressar na parte da pirâ- mide onde só poucos têm acesso. PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA 157 É importante ter em mente que não se pode intervir junto aos problemas que não se conhece, para tanto é preciso conhe- cer a história, dialogar com os pensadores e teóricos e, assim, formularmos nossos concei- tos e ideias acerca da questão social, este momento sinaliza o início do processo de desaliena- ção. Já parou para pensar nisto? Então, vamos continuar nossa Nós teríamos alguma saída para os problemas sociais exis- tentes em nosso país e no mun- do? Qual seria a estratégia de ação? PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA 158 empreitada. Retomar nosso estudo. Os trabalhadores percebendo todo este movimento explo- ratório ligado à exploração e acumulação desigual de capi- tal resolve se organizar em movimentos reivindicatórios, © sh ut te rs to ck PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA 159 movimentos de luta, buscando melhores condições de vida e trabalho, sem contar na solu- ção dos problemas sociais que se alastrava nas diversas reali- dades, tanto do campo quanto da cidade. Desta maneira, partindo desta nova organização que surgia na sociedade começa a se perce- ber a implantação de políticas sociais pelo mundo, por volta do final de século XIX (Europa e Estados Unidos), e no Brasil a partir de 1930. Porém, devemos estar atentos para que não reduzamos as polí- ticas sociais apenas ao ângulo da reprodução da exploração PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA 160 capita- l i s t a , t e m o s a i n d a que con- siderar a rea- l i d a d e da cor- relação de for- ças sociais existentes, e até mesmo da contradição visível do próprio sistema. A classe tra- balhadora deve ser vista como sujeito, como ator e protago- nista, uma vez que buscam seus direitos, que se criem e se efetive as políticas sociais criadas para PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA 161 responder a demanda surgida a partir do agravamento das ques- tões sociais. Quando falamos na ação do Estado na elaboração de políticas sociais não podemos concebê- -la unicamente como uma ação autônoma e beneficente deste, tais ações revelam muitas vezes “[...] o resultado de concretas, prolongadas e muitas vezes vio- lentas demandas das classes populares” (VILAS, 1978, p. 7). Vamos dar início a nossa refle- xão acerca da questão social no Brasil, é necessário que isto dê de forma tranquila, logo se algo ficar meio confuso em seu entendimento
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