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1 TEORIA DO DIREITO (2.0) Atividade 1 (A1) TEXTOS BASE: Texto 1: “Analisamos as construções teóricas contratualistas (de Hobbes até Kant, passando por Locke e Rousseau), as quais apresentam a justificação do Estado como decorrente de um contrato social hipotético livremente firmado por indivíduos abstratamente livres e iguais, sendo o indivíduo empírico e histórico, portanto, ignorado, tal como as relações desiguais entre eles no plano fático. Neste tocante, o confronto entre a natureza a priori do pacto e a submissão decorrente da liberdade natural humana centram-se no conceito de sujeito abstrato, pressuposto dos ordenamentos jurídicos modernos e pedra angular do modelo político construído. A vontade geral, supostamente uma síntese da vontade de todos, é vista como expressão da razão universal e colocada como novo absoluto, ainda que na realidade seja caracterizada pela transformação da vontade particular – de grupos – para uma vontade com pretensão universal. Ressalta-se, neste sentido, que se trata de um pacto fictício que cria regras reais, de modo que a construção de um Estado real com fundamento num modelo eminentemente racional figura como problema congênito do Estado moderno, demonstrando um possível problema das teorias contratualistas na sua tentativa de justificar o Estado moderno então nascente. Destaque-se aí nossa crítica ao modelo à luz da suposta autolegislação decorrente do contratualismo moderno. Ademais, a natureza pressuposta e abstrata do pacto e uma construção arbitrária daquilo que supostamente é natural ao humano ocasionam um reflexo nos preceitos normativos que, meramente formais, confrontam-se com uma latente realidade social que as luzes da razão insistem em ignorar.” (GAMBA, João Roberto Gorini. Teoria geral do Estado e ciência política. São Paulo: Atlas, 2019, p. 97-98). Texto 2: 2 “O Estado Democrático de Direito é a modalidade do Estado constitucional e internacional de direito que, com o objetivo de promover e assegurar a mais ampla proteção dos direitos fundamentais, tem na dignidade humana o seu elemento nuclear e na soberania popular, na democracia e na justiça social os seus fundamentos. Nessa definição, o “democrático”, por sua própria dinâmica (o exercício da soberania popular), garante a atualização do Estado. O Direito, de outra parte, representa o seu elemento conservador, de tal forma que os fins e objetivos estatais, assim como a sua forma de realização, são determinados pela via do livre processo político, sob a ordem jurídica. O livre processo político exige cidadãos ativos, capazes de formular e expressar suas preferências, individual e coletivamente, dado que as suas preferências são os elementos direcionadores de políticas e ações governamentais. Essa concepção de democracia – que é correlata ao conceito de Estado de Direito em sentido amplo – supõe o pluralismo, o multipartidarismo e as garantias efetivas de direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais. Na evolução do Estado de Direito, a primeira mudança de paradigma do direito, em direção ao Estado constitucional de direito, exprimiu- se com a afirmação do princípio da legalidade e da onipotência do legislador. A segunda mudança, mais recente, deu-se com a afirmação da supremacia da Constituição sobre a lei, que a ela se subordina, com as seguintes consequências: para a teoria da validade das leis, a diferenciação entre forma e substância; para o princípio da separação de Poderes, a mudança do papel do Judiciário, que passa a ser encarregado de verificar a adequação da lei aos princípios e regras constitucionais; para a teoria do Direito, a alteração do seu paradigma epistemológico, o que lhe confere um papel ao mesmo tempo científico e crítico, voltado às necessárias correções de um sistema normativo complexo, como é o do Estado Democrático de Direito.” (RANIERI, Nina. Teoria do Estado: do Estado de Direito ao Estado Democrático de Direito. 2ª ed. Baueri, SP: Manole, 2019, p. 332-333). Texto 3: “A redefinição dos conceitos de liberdade, povo e vontade mostra que a vinculação a uma posição relativista cria a necessidade de se encontrar um meio para se estabelecer a unidade diante da pluralidade. Na obra de Kelsen esse meio é o Direito. É o Direito que diz, diante da diversidade cultural e de valores, quem é o povo; é o Direito que estabelece como será formada a vontade política por meio dos procedimentos previstos para a legislatura, é ainda o Direito que estabelece os limites da liberdade enquanto autonomia, pois os critérios de participação na elaboração das 3 leis são estipulados por uma constituição. É neste ponto que o relativismo se entrelaça com o normativismo, isto é, com a submissão da política ao Direito, e isso se torna mais evidente na definição do conceito de Estado. Nova- mente contrapondo-se aquilo que ele chama de absolutismo filosófico e político, Kelsen afirma que o Estado não é “uma realidade transcendente para além do conhecimento racional e empírico, mas uma ordem normativa específica que regula o comportamento mútuo dos homens.” Desse modo, o Estado é apresentado como algo que garante, por meio do Direito, a convivência de seus membros, podendo até mesmo recusar “o conceito de soberania como a ideologia de um poder político definido” e negar sua aplicação à realidade político-jurídica. (Kelsen, 2002, p. 193). Ao submeter o Estado à ordem normativa, Kelsen afasta-se do conceito metafísico de soberania surgido com o contratualismo, conceito este que assegurava a própria existência da comunidade política. A existência do Estado é agora assegurada pela “validade e eficácia de uma ordem normativa” e, em último plano, pelos indivíduos responsáveis pela criação desta ordem. (Kelsen, 2002, p. 193). Em suma, no que diz respeito à relação entre Direito e Moral, não há, na obra de Kelsen, uma subordinação do Direito à Moral, isto é, a validade do Direito não é afetada em razão de sua contrariedade a uma ideia de moralidade ou de justiça. Isso por que Kelsen não acredita haver um conceito único de Moral ou de Justiça. Kelsen admite que os valores morais da maioria certamente ingressarão no Direito no momento de sua elaboração. Trata-se, contudo, de uma moralidade contingente ou dos valores morais da maioria, os quais encontram limites nos direitos e liberdades individuais protegidos constitucionalmente e na possibilidade de a minoria vir a se tornar maioria e modificar o Direito. Na relação entre Direito e política, por outro lado, verifica-se uma submissão da política ao Direito. Isso significa que a política deve ser realizada dentro dos parâmetros e limites formalmente estabelecidos pelo Direito, tais como os procedimentos elencados em uma constituição para a criação e revogação de normas jurí- dicas. No âmbito substantivo ou material, novamente, o Direito estabelece como limite para a política os direitos e liberdades fundamentais protegidos constitucionalmente. Afora isso, respeitados os procedimentos legais previamente estipulados, não há restrição de conteúdo para aquilo que se permite decidir por meio da política. O critério para avaliação das decisões políticas – se boas ou justas – é um critério jurídico, isto é, verifica-se se tais decisões são conformes ou contrárias ao Direito (procedimentos e direitos individuais). Ao filiar-se ao relativismo filosófico e político, Kelsen recusa a possibilidade de se recorrer a um conceito de Moral ou de justiça para avaliar o direito positivo e a política. No caso de um governo arbitrário como aquele instituído pelo nazismo, uma possível resposta a partir da teoria de Kelsen poderia ser a seguinte: primeiramente, no âmbito do Direito,poder-se-ia considerá-lo contrário à própria 4 Constituição de Weimar – uma constituição liberal e democrática na qual direitos individuais estavam protegidos – e, portanto, passível de reforma pela via do controle de constitucionalidade das leis; em segundo lugar, no âmbito da política, poder-se-ia considerá-lo uma autocracia por desrespeitar valores essenciais de um governo democrático. Contudo, no contexto do relativismo, a democracia é apenas mais um entre muitos valores e pode não ser o valor da maioria. Em outras palavras, a filiação ao relativismo filosófico e político retira a possibilidade de se fazer um julgamento de valor a respeito de uma determinada posição política, se justa ou injusta, isso pode ser apenas mais um posicionamento entre muitos”. Cristina Foroni Consani. KELSEN LEITOR DE KANT: CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DA RELAÇÃO ENTRE DIREITO E MORAL E SEUS REFLEXOS NA POLÍTICA. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/principios/article/view/9823 Texto 4: “Os projetos de fundamentação dos direitos humanos parecem acolher a problemática iluminista do valor absoluto da pessoa humana e o primeiro passo em falso de suas doutrinas é extrair direitos a partir de razões naturais que são pressupostas em um momento individual, no qual o homem é inquirido em uma situação isolada como indivíduo que possui características que são universais, imutáveis e iguais para todos, indiscriminadamente. Esse momento fictício tem suas raízes fixadas na argumentação metafísica dos direitos naturais e é também chamado de "estado de natureza", ou "estado natural", no qual, basicamente, todos os homens são considerados livres e iguais. O homem passa, então, a ser o foco da investigação, analisado de forma abstrata, como sujeito detentor de interesses privados ou de uma vontade livre; é imaginado e pensado por si próprio, como ser racional e detentor de direitos que lhe são, ou devem ser, "naturalmente" inatos, verificando-se, assim, a evidência e o favoritismo da razão e, por conseguinte, a utopia do progresso da humanidade, quando se conta a história de um homem emancipado, que estaria livre para escolher e tomar decisões. Para auferir direitos "naturais" ao ser humano, essas doutrinas tradicionais que dão coro à tese jusnaturalista terão que pressupor uma posição inicial e hipotética ao indivíduo, anterior à vida social e a priori a toda experiência possível, uma posição que seria capaz de fornecer uma razão prática para universalizar os direitos, tornando os direitos humanos, por assim dizer, em direitos absolutos”. 5 SILVA, André Luiz Olivier da. Os Direitos Humanos e o Estado "natural" de Fundamentação dos Direitos. Sequência (Florianópolis), Florianópolis , n. 71, p. 133-154, Dec. 2015 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2177- 70552015000200133&lng=en&nrm=iso>. access on 27 Sept. 2020. http://dx.doi.org/10.5007/2177-7055.2015v36n71p133. ATIVIDADE: Elabore uma dissertação que correlacione as ideias dos textos acima e que numa dissertação única trate a respeito de: Descrição e análise das teorias contratualistas que considere mais influentes para a justificação teórica do Direito e do Estado no contexto da modernidade; Associação das teorias contratualistas às teorias jusnaturalistas e crítica realizada pelo juspositivismo a partir da ideia de cientificidade do direito. REGRAS - Utilizar fonte Times New Roman, tamanho 12; - Utilizar espaçamento entre linhas de 1,15; - A dissertação não pode ultrapassar 2 páginas e não é preciso reproduzir os textos e perguntas; - Você deve citar ao menos 2 referências bibliográficas (livros ou artigos); - Ao citar alguma obra (livros/artigos) use aspas e cite a fonte em nota de rodapé; - Sua atividade deve ser salva num PDF único e deve ser enviada por meio do sistema (após salvar é preciso ENVIAR a atividade). 6 Para garantia do recebimento de sua atividade, você também deve enviar sua resposta por meio da Atividade criada no Google Classroom (envie necessariamente o mesmo arquivo para os dois sistemas); - Os dois sistemas fecharão às 23:59 do dia 18 de outubro de 2020 e não será possível enviar o documento após o prazo.
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