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DISCIPLINA: FUNDAMENTOS EPISTEMOLÓGICO DA EDUCAÇÃO MEDIADORA: RAQUEL VASCONCELOS UNIDADE I OBJETIVOS: Estudar as teorias epistemológicas que circundam a formação docente e determina a concepção de conhecimento dos profissionais de educação CONTEÚDOS As teorias epistemológicas que circundam a formação docente As especificidades das ciências da educação – pedagogia. A pedagogia: cientificidade, teorias e concepções EPISTEMOLOGIA Epistemologia significa ciência, conhecimento, é o estudo científico que trata dos problemas relacionados com a crença e o conhecimento, sua natureza e limitações. É uma das principais áreas da filosofia, compreende a possibilidade do conhecimento, ou seja, se é possível o ser humano alcançar o conhecimento total e genuíno, e da origem do conhecimento. A epistemologia estuda a origem, a estrutura, os métodos e a validade do conhecimento, e também é conhecida como teoria do conhecimento e relaciona-se com a metafísica, a lógica e a filosofia da ciência. Estuda também o grau de certeza do conhecimento cientifico nas suas diferentes áreas, com o objetivo principal de estimar a sua importância para o espírito humano. A epistemologia surgiu com Platão, onde ele se opunha à crença ou opinião ao conhecimento. A crença é um ponto de vista subjetivo e o conhecimento é crença verdadeira e justificada. A teoria de Platão diz que conhecimento é o conjunto de todas as informações que descrevem e explicam o mundo natural e social que nos rodeia. A epistemologia provoca duas posições, uma empirista que diz que o conhecimento deve ser baseado na experiência, ou seja, no que for apreendido durante a vida, e a posição racionalista, que prega que a fonte do conhecimento se encontra na razão, e não na experiência. Segundo Japiassu*, as epistemologias vivas e significativas estão centradas sobre as interações do sujeito e do objeto: a fenomenológica (Husserl), a construtivista e estruturalista (Piaget), a histórica (Bachelard), a arqueológica (Foucault), a racionalista crítica (Popper), e a epistemologia crítica, que teria por objetivo interrogar-se sobre a responsabilidade social dos cientistas e dos técnicos, sendo Habermas um de seus representantes. AS ESPECIFICIDADES DAS CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – PEDAGOGIA. Na segunda metade do século XIX, indo da Alemanha aos países europeus, a teoria pedagógica se valida por constituir-se de um sentido amplo da ciência da educação. Campo este, científico de conhecimentos que tratam da “teoria e da prática e da formação” (Libâneo, 2003), não se limitando à instrução escolar. Nesta visão a pedagogia ultrapassaria a visão meramente metodológica para se instalar nas pautas de construção do pensar e refletir sobre a ação pedagógica realizada, sustentando um vasto campo de conhecimentos em que a sua natureza constitutiva trata da teoria e da prática da educação, incluindo a prática da formação humana (Libâneo, 2003). Como objeto de estudo se considera então: a reflexão sistemática do fenômeno educativo abrangendo as dimensões da prática educativa. A primeira das especificidades diz respeito aos campos cuja gênese é idêntica tais: ciências da saúde, ciências agrárias, ciências do ambiente, outros. Abrange também conhecimentos teórico-científicos em sub-campos que vão às diferentes áreas do conhecimento para fundamentar as reflexões da prática educativa, tais: história da educação, sociologia da educação, filosofia da educação, psicologia da educação. - Estes fundamentos contribuem para compor a teor reflexivo dos contextos da prática educativa. Mas não se pode afirmar que a natureza da pedagogia é solúvel em sua cientificidade simplesmente pela argumentação de sua composição a partir de um campo de estudos teórico-científico abrangente do conhecimento, como já vimos na primeira parte do texto. - A segunda especificidade apresenta o fato da pedagogia ter seu saber constituído no interior de suas práticas e não do exterior. Isto significa dizer que os investigadores terão que superar a relação de distanciamento e de exterioridade que existe entre o observador e o objeto observado, transpondo o referencial positivista e passar a exercer uma epistemologia da “escuta” em lugar da epistemologia do “olhar” (Canário 2005). - A terceira especificidade trata da separação da produção do conhecimento do processo de tomada de decisões visto que a investigação está diretamente implicada na prática educativa que constitui o seu objeto de estudo. - A quarta especificidade está relacionada na percepção de que a investigação em educação quando produz conhecimentos sobre o campo das práticas deve considerar que este é atravessado pelos campos do debate filosófico e político, o que caracteriza a cultura, costurando o pólo do saber ao das práticas e das finalidades. Esta dinâmica permite que os questionamentos investigativos partam dos diferentes pólos e entre eles. - A última especificidade vai de encontro ao modo de “como” as ciências da educação constrói os objetos de investigação. O como questiona o campo onde atua e a realidade contida nele. Constituindo assim “horizonte problemático” (Charlot, 2001, apud Canário, 2005). Essas cinco especificidades contribuem para firmar o campo de investigação da pedagogia como sendo possível a construção de um saber rigoroso, específico e pertinente ao mesmo tempo. Diante das exposições sobre as ciências da educação e/ ou pedagogia [a terminologia é utilizada por diferentes autores para designar a área de campo do conhecimento sobre/ da e para a educação], vamos caminhar no sentido de apresentar alguns conceitos de pedagogia. O primeiro passo para se entender o que é pedagogia é fazer uma revisão terminológica. É preciso localizar o termo “pedagogia”, e analisar o campo de sua delimitação e o que escapa desse. “Para tal, a melhor maneira de agir é comparar o termo „pedagogia‟ com outros três termos que, em geral, são tomados – erradamente – como seus sinônimos: „filosofia da educação‟, „didática‟ e „educação‟”. (Ghiraldelli Jr., 2003: 01). A educação é um ato que acontecido não se repete, é único e a experiência é intransferível. Vista desta forma pode-se dizer que a educação “é uma prática social da relação ensino-aprendizagem no tempo e no espaço” (Ghiraldelli Jr., 2003: 03). Mas o ensino-aprendizagem é permeado por uma relação em que há uma teoria que o sustente. O ato de “educar” então se dá na relação entre o professor e o estudante, com uma intencionalidade prevista e um conjunto de detalhes da prática-pedagógica envolvidos. A PEDAGOGIA: CIENTIFICIDADE, TEORIAS E CONCEPÇÕES A ciência da educação possui um significado particular perante seu caráter epistemológico ser considerado frágil. Considerar uma ciência da educação – pedagogia - , advinda das práticas educativas significa considerar que a pedagogia não é um conjunto de enunciados advindos de outras ciências ou de uma dada filosofia. Trata-se de entender a pedagogia sob o viés da cientificidade, ou seja, quando se coloca o problema de saber da qualificação científica estamos nos referindo aos problemas da identificação do que é específico da ciência que confere-lhe a distinção daquilo que não é ciência. O conhecimento científico é distinguido dos demais conhecimentos por duas características essenciais; o primado da teoria e a existência de um método consciente, explicitado e constantemente aberto a revisão e crítica (Canário 2005). Estas características imprimem que na ciência nada é “dado”, mas “construído”, firma o caráter conjetural e provisório dos fatos a serem refutados (Popper apud Canário, 2005). Para Bachelar (1984) o conhecimento científico não existe sem um questionamento. A sobrevivência do conhecimento científico está em se levantar os problemas e construiras suas respostas provisórias por meio da sistemática e do controle das informações empíricas. Assim, os problemas não estão presentes por si próprios, mas orientados e construídos pelos questionamentos orientando novos conhecimentos. Nessa dinâmica o método possibilita o pensamento e a explicação permanente e contínua do fato abrindo espaço para a simultaneidade de inferências teóricas externas, sujeitos a uma análise criteriosa e ao debate junto a comunidade científica. Podemos perceber, então, que quando o conhecimento é exposto a uma dada comunidade de investigadores essa comunidade estabelece em consenso coletivo que esse possui um caráter científico-teórico, conclui-se que o critério único de cientificidade não existe. Esse princípio confere às ciências sociais e da educação a sua institucionalização (Canário 2005). Assim, ciência no momento em que se apresenta como uma variável histórica concede á ciência da educação esta regra. As ciências da educação apresenta a mesma dinâmica de caráter histórico como todos os demais domínios científicos. Nos séculos XIX e XX os sistemas educativos na esfera dos estados-nação passa pelo processo de institucionalização de seu campo de conhecimento específico: a produção dos conhecimentos dos fenômenos educativos, que é concomitante ao surgimento de campos profissionais no nível universitário que se consolida com a expansão escolar da década de 60 (Canário 2005). Para Canário (2005) três dimensões referenciais determinam a cientificidade das ciências da educação e precisam ser esclarecidas: a dimensão das fronteiras da educação, a dimensão da identidade e a dimensão da pertinência. A Pedagogia, nos diz Mazzotti (2001), é uma teoria científica que parte da prática considerando a epistemologia quando não utilizamos as lógicas clássicas para compreender esta área de estudos e, inclusive, reconhecer a interdisciplinaridade dos conhecimentos e os limites de cada ciência e do que é próprio da pedagogia. Em primeiro lugar tomar a pedagogia como tecnologia é confundi-la com a Didática Geral ou com a Psicopedagogia, em segundo a pedagogia vista como ciência pode se confundir com as Ciências Sociais e, por último, vista como Filosofia Aplicada pode se traduzir em uma dada Filosofia educativa. É neste momento que retomamos as dimensões das ciências da educação – pedagogia (Canário, 2005). No quê as Ciências da educação diferem das ciências sociais. Na dimensão das fronteiras da educação a ruptura e intervenção de Canário (2005) é demasiada interessante, pois demonstra o paradoxo da luta na dissociação das fronteiras na área das ciências humanas, ou seja, a tentativa de distinção e partilha entre as várias ciências sociais no momento em que incidem sobre a investigação em que se dá a unidade do real e o caráter total dos fenômenos sociais e se têm a tentativa de segmentar a realidade para poder estabelecer uma “reserva de caça” (Ferraroti, 1986). Canário (2005) vê esse movimento de identificação como um dos problemas na área das ciências sociais. Braudel (1972) propõe uma imagem para visualizarmos esta problemática: supõe que se todas as ciências se interessassem por uma única e comum paisagem, seja do passado, presente ou futuro. E que desta paisagem teriam que definir evidenciar e demonstrar. Neste contexto as ciências humanas teriam tantos observatórios, pois cada um com suas especificidades de visões, argumentos e evidencias diferentes. Os recortes da paisagem são fragmentos de cada área não ajustáveis. Por acaso cada área não exige uma imagem de conjunto para poder tornar válida a função da imagem? O fato das áreas possuírem suas especificidades do fenômeno social não implica que estejam isoladas no único nicho de conhecimentos. As fronteiras nas ciências sociais podem ser evidenciadas a partir da forma de divisão do trabalho condicionadas as circunstâncias históricas e sociais, porém ao mesmo tempo de caracterizam por serem plásticas não tendo nenhuma disciplina em si o monopólio de conceitos, de métodos e técnicas, assuntos e ou coleta e tratamento de dados empíricos (Canário, 2005). O outro problema decisivo apresentado por Canário (2005) é quanto a abordagem da realidade social. Considera que em qualquer abordagem da realidade social é recortada em função da exaustividade do problema, isso ressalta mais a referência ao problema a estudar do que a reconhecer a interdisciplinaridade das fronteiras. O mais importante do que tentar definir e justificar as fronteiras disciplinares, é centrar esforços na construção de objetos científicos, metodologias, e modos próprios de cada investigação com base em um patrimônio teórico e conceitual voltado às várias ciências sociais, contribuindo significativamente e consciente para a transgressão das fronteiras disciplinares. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALARCÃO, Isabel (Org.). Formação reflexiva de professores: estratégias de supervisão. Portugal: Porto Codex, 1996. ALARCÃO, Isabel. Escola Reflexiva e nova racionalidade. Porto Alegre: Artmed, 2001. ANTUNES, Celso. Novas maneiras de ensinar: novas formas de aprender. Porto Alegre: Artmed, 2002. APPLE, Michael W.; FIGUEIRA, Vinicius. Ideologia e currículo. 3. ed. 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