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59 UNIDADE 2 ANTIGUIDADE CLÁSSICA: GRÉCIA E ROMA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS Esta unidade tem por objetivos: • apresentar a história da arquitetura dos povos minoicos e micênicos, que precederam os gregos; • contextualizar e compreender a história da arquitetura e das cidades gregas; • apresentar a história da arquitetura dos etruscos, que precederam os romanos; • contextualizar e compreender a história da arquitetura e das cidades romanas. Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – OS PRECURSORES DOS GREGOS TÓPICO 2 – O LEGADO DA GRÉCIA TÓPICO 3 – OS PRECURSORES DOS ROMANOS TÓPICO 4 – O LEGADO DE ROMA 60 61 TÓPICO 1 OS PRECURSORES DOS GREGOS UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO A grande influência exercida pelos gregos e pelos romanos na Arquitetura, na Arte e no modo de pensar as cidades ocidentais é incontestável para a maior parte dos pesquisadores do assunto. Por este motivo optou-se por dedicar um capítulo exclusivo ao estudo dessas civilizações. Para adentrar o universo grego, faz-se necessário compreender a formação de seus territórios e das primeiras cidades lá instaladas, as características dos povos que as ocupavam e, claro, sua arquitetura. Para este fim, o tópico se concentrará em duas civilizações que surgiram no Mar Egeu: os minoicos e os micênicos, abordando a história, a cultura e a arquitetura desses povos considerados precursores dos gregos. 2 CULTURAS EGEIAS O Mar Egeu possui inúmeras ilhas e tem seus limites na península da Grécia a oeste, nas montanhas da Macedônia ao norte e na costa da Anatólia ao leste. Ao sul fica a ilha de Creta. Referimo-nos aos primeiros habitantes a se fixarem no território onde atualmente está a Grécia como ‘culturas egeias’, porque estes eram justamente navegadores e exploradores daquele mar e suas ilhas. Em aproximadamente 2 mil a.C., os recursos naturais da região estavam sendo amplamente utilizados pelos navegadores da região para produzir diversos artefatos. Estes, somados aos produtos agrícolas, serviam para negociar com os egípcios e com os povos das cidades do leste do Mediterrâneo, onde acabaram por construir pequenas vilas agrícolas e aldeias muradas, tanto nas ilhas quanto ao longo do litoral (FAZIO, 2011). Duas civilizações egeias foram reconhecidas por historiadores: a dos minoicos, na Ilha de Creta, e a dos micênicos, em diferentes locais da Grécia continental. Estas tinham algumas características em comum no que diz respeito à arte e cultura. Ambas produziam artigos de luxo que eram comercializados em todo o leste do Mediterrâneo, e foram muito importantes para dar origem ao patrimônio cultural da Grécia Clássica. UNIDADE 2 | ANTIGUIDADE CLÁSSICA: GRÉCIA E ROMA 62 2.1 MINOICOS O nome desta civilização parece ter derivado do Rei Minos, de acordo com lendas criadas pelos gregos posteriormente. Nessas lendas os gregos descreviam o Rei Minos, seu palácio, o labirinto de Cnossos e o Minotauro (metade homem, metade touro) que lá vivia. Pela importância, grandiosidade e características comuns, consideram-se três os grandes palácios minoicos no apogeu dessa sociedade, todos na Ilha de Creta: Festos, Archanes e Cnossos, este último o mais grandioso e conhecido de todos, por isso escolhido para ser apresentado a seguir neste livro de estudos. Cnossos, ou Knossos, contava com uma série de construções independentes e um grande pátio retangular central, que foram parcialmente destruídos por um terremoto em torno de 1700 a.C., para posteriormente serem reconstruídos em uma só construção, unificando múltiplos pavimentos (FAZIO, 2011). O arquiteto responsável pelo palácio de Cnossos chamava-se Dédalo, e por conta disso se utiliza o termo ‘arquitetura dedalina’ para referir-se à unidade arquitetônica dos palácios minoicos. O complexo ficava sobre uma colina, voltando-se para o porto. Os 1.400 cômodos de Cnossos se estendiam por mais de 20.000 m2. Continham a sala do trono, capelas, amplos apartamentos para os sacerdotes, pequenos apartamentos para os demais moradores, salas para os arquivos, ateliês para produção de manufaturas (tecido e cerâmica), depósitos e muitos corredores. Era equipado com água encanada boa para o consumo humano, sistema de ventilação e iluminação através dos poços de luz e um sistema de esgoto bastante complexo e eficiente para a época. Os vários andares do palácio se organizavam em múltiplos níveis, estabelecendo uma continuidade não linear, e pediam um número abundante de colunas. Esta característica evidencia que não havia por parte dos minoicos uma grande preocupação com unidade e simetria, já que as construções eram erigidas para se adaptarem à topografia, por justaposição. FIGURA 38 – RECONSTITUIÇÃO ARTÍSTICA DO PALÁCIO DE CNOSSOS SEGUNDO ARTHUR EVANS FONTE: Disponível em: <http://www.ensinarhistoriajoelza.com.br/minotauro-o-mito- e-suas-multiplas-leituras/>. Acesso em: 23 set. 2017. TÓPICO 1 | OS PRECURSORES DOS GREGOS 63 Por volta de 1450 a.C., Cnossos e outros palácios minoicos foram destruídos, mas apenas o primeiro foi reconstruído. A destruição final do sítio – por causa de um incêndio – aconteceu em 1380 a.C., aproximadamente (FAZIO, 2011). Sir Arthur Evans, arqueólogo da Universidade de Oxford e o mais importante nome da arqueologia cretense, iniciou as escavações no local em 1900 d.C. A investigação arqueológica em Cnossos continua até a atualidade, e a cidade, associada ao palácio, permanece soterrada. Também há, ainda, uma língua escrita não decifrada creditada aos minoicos, chamada Linear A. Apesar de existirem muitas incertezas em relação a este povo e sua cultura, através da observação de suas ruínas é possível chegar a algumas conclusões. Os afrescos nas paredes internas do palácio, por exemplo, sugerem que além de acolher o soberano, o local servia à prática religiosa, pois neles eram representadas sacerdotisas e celebrantes. Aparentemente, os primeiros habitantes da Ilha de Creta cultuavam deuses associados à natureza, como animais, árvores e flores. FIGURA 39 – PLANTA BAIXA, CNOSSOS, CRETA, CERCA DE 1700-1380 a.C. Portal oeste Corredor processional Depósitos Grande escadaria construída por Sir Arthur Evans Planta baixa do pavimento térreo Mégaron da Rainha Salão dos Machados Duplos Banheira Área do teatro Escada que levava à fonte lustral Sala do trono 23 24 Fonte lustral Pátio central Entrada norte Planta baixa do segundo pavimento (em grande parte pressuposta e com reconstrução aleatória) 22 p. 34 FONTE: Fazio (2011, p. 55) UNIDADE 2 | ANTIGUIDADE CLÁSSICA: GRÉCIA E ROMA 64 FIGURA 40 – SALA DO TRONO, CNOSSOS, CRETA, CERCA DE 1700-1380 a.C. FONTE: Fazio (2011, p. 56) NOTA Afresco – é uma pintura feita sobre uma parede, com base de gesso ou argamassa. Assume, frequentemente, a forma de mural. A palavra afresco é utilizada, por vezes, para designar a pintura mural de um modo geral. A arte observada nos afrescos do Palácio de Cnossos é naturalista, informal e alegre, contrastando com a rigidez e a formalidade da arte egípcia. Sua cultura parece diferir muito de outras civilizações contemporâneas, contudo, há muito que ainda não foi compreendido com clareza. Não se sabe, por exemplo, o significado do machado duplo, muito presente na arte minoica. O pesquisador Arthur Evans também foi responsável pela reconstrução da coluna minoica típica, com base em impressões das bases e dos pontos onde os capitéis tocavam na pedra. Ele as reconstruiu em concreto no próprio sítio arqueológico. Elas tinham um corpo com base de diâmetro menor do que sua porção superior. Arthur também reconstruiu os principais salões cerimoniais e vários poços de luz. Diferentemente dos templos egípcios, a circulação não ocorria ao longo de um eixo que interligava todos os recintos. Em vez disso, os acessos funcionavam através de corredores decorados de afrescoscom temas religiosos, que conduziam, através de algumas mudanças de direção, ao interior do palácio. TÓPICO 1 | OS PRECURSORES DOS GREGOS 65 NOTA Capitel – É a extremidade superior de uma coluna, de um pilar ou de uma pilastra, cuja função é transmitir os esforços para o fuste, que é parte da coluna entre a base e o capitel. Cnossos e os demais palácios minoicos têm algumas características em comum que os tornam inconfundíveis. A área do teatro nos palácios minoicos, por exemplo, é normalmente composta simplesmente de um pátio, local de chegada e evolução das procissões, e uma escadaria de mesma largura, onde provavelmente o Rei Minos, nas suas funções sacerdotais, aguardava os fiéis. Em alguns pontos do palácio foram descobertas fontes rasas (apenas 55 cm de profundidade) e acredita-se que utilizadas em rituais de iniciação. Foram encontradas também fileiras de depósitos subterrâneos em local escavado na própria colina. FIGURA 41 – ESCADARIA COM POÇO DE LUZ RECONSTRUÍDA, CNOSSOS, CRETA, CERCA DE 1700-1380 a.C. FONTE: Fazio (2011, p. 56) UNIDADE 2 | ANTIGUIDADE CLÁSSICA: GRÉCIA E ROMA 66 Enquanto os cultos populares aconteciam no pátio interno, nas capelas localizadas no interior do palácio ocorriam os cultos sacerdotais dirigidos à deusa Mãe, a mais importante dentre os deuses por eles cultuados. As capelas eram distribuídas por toda a área do complexo palaciano. Outra característica comum aos palácios minoicos era o fato de serem construídos sem muros, pois eram sempre erigidos em uma encosta de colina, provavelmente por ser uma sociedade pacífica. Os muros que se podem ver até hoje são apenas os muros de arrimo, visto que a construção era feita em uma encosta. Por fim, pouco se sabe sobre o fim da civilização minoica. Além de até então não ter sido decifrada sua língua (Linear A), ainda se debate sobre como esse povo desapareceu. Enquanto alguns pesquisadores alegam que estes foram conquistados, outros afirmam que foram absorvidos pacificamente. 2.2 MICÊNICOS Micenas foi uma das cidades, aparentemente a maior, de uma sociedade mercantil governada por reis guerreiros e situada na Grécia continental a partir de aproximadamente 1600 a.C. Micenas alcançou seu ápice depois de 1450 a.C., talvez influenciada pelo contato com os minoicos, que eram, em tese, mais sofisticados (FAZIO, 2011). Um pesquisador chamado Heinrich Schliemann foi responsável por escavar Micenas no século XIX e encontrou objetos de ouro, como máscaras, taças e outros tesouros em túmulos desse período. Ao contrário do Palácio de Cnossos, que não era fortificado, a cidadela de Micenas era organizada com base em suas defesas. Fica em um terreno alto, protegida por montanhas ao sul e ao norte, e é ladeada por dois desfiladeiros que permitiam vigiar uma extensa área até a costa. Essa posição estratégica permitia controlar as principais rotas de transporte da região. Além disso, por volta de 1300 a.C., foram erigidas muralhas de 5,5 a 7,3 metros de espessura e que chegam a 12,2 metros de altura, construídas com grandes pedras assentadas sem argamassa. O Portal dos Leões era a principal entrada da cidadela, e foi alocado para que o visitante fosse obrigado a caminhar por uma passagem cada vez mais estreita ao longo da muralha, dando mais uma chance aos defensores de dentro da cidade de atacar possíveis invasores. TÓPICO 1 | OS PRECURSORES DOS GREGOS 67 O portal é considerado uma obra de arte desse povo, e possui um pórtico formado por uma pedra triangular na qual foram esculpidos os dois leões com as patas dianteiras sobre um altar, no qual há uma coluna de veneração à árvore. As cabeças desapareceram, pois foram esculpidas e adicionadas à parte (os furos onde estavam fixadas ainda são visíveis). NOTA Cidadela: é o nome que se dá a qualquer tipo de fortaleza ou fortificação construída em ponto estratégico de uma cidade, visando sua proteção. FIGURA 42 – PLANTA BAIXA DA CIDADELA DE MICENAS, CERCA DE 1600-1250 a.C. FONTE: Fazio (2011, p. 58) Entrada do palácio Pátio interno Portal dos Leões Círculo dos túmulos Habitações Posterna Escada até a cisterna Posterna Portal norte UNIDADE 2 | ANTIGUIDADE CLÁSSICA: GRÉCIA E ROMA 68 FIGURA 43 – DETALHE DO PORTAL DOS LEÕES, MICENAS, CERCA DE 1300 A.C. FONTE: Imagem disponível em <http://www.spiritusmundi.com.br/micenas/>. Acesso: 26 Jan. 2018. Os túmulos encontrados por Schliemann, cheios de tesouros, ficavam originalmente fora das muralhas da cidadela, mas esta sofreu uma ampliação e eles foram então incorporados à área murada. O palácio encontrado pelo estudioso não passa de ruínas, mas as fundações remanescentes sugerem que estava localizado no ponto mais alto da colina e que tinha bastante influência dos minoicos em sua organização e tipos de cômodos. O maior cômodo do palácio, chamado de Grande Sala ou de Mégaron, era formado por um quadrado de aproximadamente 12 metros de lado. Quatro colunas sustentavam a cobertura, cujas bases permanecem visíveis, bem como uma lareira central. De caráter religioso, o recinto possibilitava a conexão com os ancestrais. Esse modelo, de um cômodo maior (mégaron) rodeado por salas menores, repetia-se em outras construções micênicas. TÓPICO 1 | OS PRECURSORES DOS GREGOS 69 FIGURA 44 – PLANTAS BAIXAS DOS MÉGARONS DE MICENAS Prodomos Dreno Pátio Cozinha Corredor Depósitos no lado oeste O "Mégaron" da Casa Oeste, Micenas Primeira das Casas Panagia, Micenas O Mégaron do Palácio, Micenas Terraço Escada Domos FONTE: Fazio (2011, p. 61) A cidadela de Micenas era cercada por assentamentos menores, onde provavelmente viviam clãs que desejavam manter-se próximos aos túmulos de seus antepassados. As ruínas escavadas de moradias fora da área da cidadela mostram que eram bem próximas umas das outras. Uma delas, a Casa Oeste, está em melhor estado de preservação, e mostra que a entrada se dava por um pátio central, possivelmente a céu aberto, do qual sai uma sequência de três cômodos – o pórtico, o vestíbulo e o domos –, que são os maiores espaços da habitação. Um corredor leva a um conjunto de cômodos menores (depósitos) e a um terraço. Ao final do corredor há uma escada, que levava a um pavimento superior cujo uso não pode ser determinado. Os arqueólogos concluíram que essas moradias pertenciam a pessoas de poder aquisitivo, talvez envolvidas na produção de óleos aromáticos, pelos quais Micenas era conhecida. Nove túmulos circulares foram encontrados ao redor da cidade. O maior e melhor preservado é o tholos, conhecido como Tesouro de Atreu (de cerca de 1330 a.C.). Esta é uma câmara de alvenaria de pedra em forma de abóbada pontiaguda com 13,4 metros de altura e 33 fiadas de pedras, com planta baixa circular com 14,6 metros de diâmetro. Toda a alvenaria de pedra (exceto o caminho de entrada) foi coberta por um monte de terra cujo peso aumenta a estabilidade. Há também resquícios de que seu interior tenha sido decorado com placas de bronze. A função da câmara lateral é desconhecida. UNIDADE 2 | ANTIGUIDADE CLÁSSICA: GRÉCIA E ROMA 70 FIGURA 45 – PLANTA BAIXA E CORTES DO TESOURO DE ATREU, MICENAS, CERCA DE 1330 a.C. FONTE: Fazio (2011, p. 59) O declínio dos micênicos foi um processo lento, ocasionado por invasões seguidas de séculos de declínio cultural, durante os quais as tribos invasoras se estabeleceram, dominaram a linguagem escrita e internalizaram várias características da cultura e da mitologia micênicas, que posteriormente contribuiriam para o brilhantismo da Grécia Clássica, assunto melhor debatido no próximo tópico deste livro. 71 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você aprendeu que: • Referimo-nos aos primeiros habitantes do território onde hoje está a Grécia como ‘culturas egeias’, em razão de terem sido navegadores e exploradores das riquezas do Mar Egeu e suas múltiplas ilhas. • Duas civilizações egeias foram reconhecidas por historiadores: a dos minoicos, em Creta, e a dos micênicos, em diferenteslocais da Grécia continental. Ambas foram importantes para dar origem ao patrimônio cultural da Grécia Clássica. • Cnossos é o maior e o mais famoso sítio arqueológico escavado dentre as ruínas da civilização minoica. • Sir Arthur Evans iniciou as escavações em Cnossos por volta de 1900 d.C., e estas continuam até a atualidade, havendo ainda muito por descobrir. • Micenas foi uma das cidades, aparentemente a maior, de uma sociedade mercantil governada por reis guerreiros e situada na Grécia continental a partir de aproximadamente 1600 a.C. • O Mégaron era um recinto sagrado, em que, dentro do círculo central, disposto entre as quatro colunas, existia o “fogo sagrado”, de caráter religioso, que possibilitava a conexão dos micênicos com seus antepassados. • Ao contrário do Palácio de Cnossos, que não era fortificado, a cidadela de Micenas era organizada com base em suas defesas, sendo rodeada por montanhas, desfiladeiros e também muralhas construídas pelos seus habitantes. 72 AUTOATIVIDADE 1 Duas civilizações precederam a Grécia Clássica: minoica e a micênica. Os cretenses, ou minoicos, não eram gregos, nem falavam o idioma grego, mas tiveram uma influência significativa e duradoura sobre esse continente. Sobre a civilização, analise as alternativas a seguir classificando-as como verdadeiras (V) ou falsas (F): ( ) A civilização minoica renasceu a partir da chamada Idade das Trevas, uma era entre a extinta civilização micênica e o apogeu dos cretenses. ( ) O centro das civilizações minoicas era formado por palácios maravilhosos, ricamente construídos, o que era um forte indício da riqueza e poder de seus reis. ( ) A civilização minoica investiu no desenvolvimento do pensamento ético- religioso a partir de uma religião monoteísta. ( ) O Palácio de Cnossos, maior sítio arqueológico dessa civilização, foi encontrado em ótimo estado de conservação e pode ser visitado na atualidade para apreciação de suas colunas, poços de luz e escadarias monumentais. Agora, assinale a alternativa CORRETA: ( ) V – F – F – F. ( ) V – V – F – F. ( ) F – V – F – F. ( ) F – V – V – V. 73 TÓPICO 2 O LEGADO DA GRÉCIA UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO É comum referirmo-nos à Grécia como o berço da civilização ocidental. Este não é um termo exagerado, considerando tudo o que os gregos realizaram e a dimensão de sua influência. Além de Atenas ser a base da ideia de democracia, a civilização grega desenvolveu o esporte, a educação, a matemática, a astronomia, a filosofia e vários outros elementos presentes na nossa sociedade. Além disso, o ideal de beleza estabelecido pelos gregos em suas obras artísticas e arquitetônicas, bem como a sua dedicação imensa a obras científicas e filosóficas, consistem em um marco cultural sem precedentes, ainda que milhares de anos tenham se passado desde suas realizações. É, portanto, por todos os motivos citados anteriormente, um assunto de extrema importância aos acadêmicos de Arquitetura. Ao finalizarem seus estudos a respeito da Grécia, certamente ficará evidente que a harmonia e o equilíbrio da arquitetura e das cidades gregas são valores ainda hoje perseguidos pelos arquitetos. 2 CONTEXTO HISTÓRICO A partir de aproximadamente 1200 a.C., os dórios conquistaram o Peloponeso, as ilhas do Mar Egeu e parte da Ásia Menor (atual Turquia), absorvendo aspectos da cultura cretense e micênica (GYMPEL, 2001). Estabelecidos no território, começaram a sentir a necessidade de expandir as suas terras com finalidade agrícola. Além disso, procuravam minérios e novas parcerias comerciais, o que desencadeou um programa de colonização que ajudou a estabelecer novos povoados na Sicília e no norte da África. A partir de então, a história da Grécia e de sua arquitetura pode ser dividida em três períodos principais, que ajudam a demarcar os principais acontecimentos. São eles: Período Arcaico, que ocorreu aproximadamente entre 800 a 479 a.C.; Período Clássico, entre 479 e 338 a.C.; e Período Helenístico, entre 338 e 146 a.C. A partir de 800 a.C. começou a formar-se uma identidade nacional em toda a Grécia, com cultos, mitos e jogos em comum. Além disso, a arquitetura e as artes tornaram-se homogêneas pelo território. Este é o período que denominamos de Grécia Arcaica. UNIDADE 2 | ANTIGUIDADE CLÁSSICA: GRÉCIA E ROMA 74 As cidades-estado gregas que se estabeleceram por todo o Mediterrâneo eram chamadas de polis. Os cidadãos da polis (dos quais não faziam parte as mulheres, as crianças e os escravos) podiam observar e influenciar os acontecimentos da cidade, através de assembleias públicas. Ainda durante o Período Arcaico, o Império Persa floresceu na Mesopotâmia, ao comando de Dário e Xerxes, que atacaram cidades gregas tanto na península quanto ao redor do Mediterrâneo. As cidades da Ásia Menor já estavam sob o controle dos persas desde aproximadamente 600 a.C. O exército de Dário tentou invadir o continente grego em 490 a.C., mas foi derrotado por legiões combinadas entre cidades-estado gregas na Batalha de Maratona (FAZIO, 2011). Em 480 a.C. os persas atacaram novamente e destruíram toda a região ao redor da cidade de Atenas. Após isso, a marinha grega derrotou os persas perto de Salamina, e em 479 a.C. os persas foram também derrotados em terra, encerrando de uma vez por todas essa guerra. O período Clássico foi o período pacífico que se iniciou a seguir. Nele, Atenas emergiu como a principal cidade do continente, unindo-se a outras cidades para formar a Liga Délia. Nessa época, grande quantidade de dinheiro foi gasta na reconstrução da acrópole ateniense, que era como um santuário militar, político e religioso. A Grécia Clássica presenciou a glória da arquitetura grega, principalmente na cidade de Atenas e sua acrópole, como veremos ao longo de todo este tópico. O período clássico chegou ao fim com a Guerra do Peloponeso (431 – 404 a.C.), quando a Grécia entrou em crise econômica profunda. Partindo do norte da Grécia, Filipe II, um dos reis da Macedônia, conquista o país. No período helenístico, o filho de Filippe II, Alexandre, ampliou a difusão da cultura e do território grego ainda mais, criando um império que se estendia até as fronteiras da Índia. A estabilidade econômica que se seguiu deu nova força à difusão da arte e arquitetura gregas. 3 MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS E CULTURAIS A sociedade grega, em seu ápice, por volta do século V a.C., começou a produzir arquitetos, matemáticos, filósofos, artistas e dramaturgos do mais alto nível. TÓPICO 2 | O LEGADO DA GRÉCIA 75 Um dos matemáticos mais proeminentes da Grécia antiga, Pitágoras, era também filósofo e teve ideias que influenciaram nomes como Platão e Aristóteles. Pitágoras acreditava que as razões numéricas são a base da ordem do mundo físico, conceito que aplicou à escala musical e que posteriormente se manifestou nas proporções harmônicas da arquitetura e arte gregas. Outro matemático importante, também físico, engenheiro, inventor e astrônomo, foi Arquimedes, que deu valiosas contribuições para a Física. No campo da Astronomia, Eudoxo de Cnido foi o primeiro a usar a Geometria para descrever o movimento dos astros. Os gregos muito se interessavam por esportes e pelo pleno desenvolvimento do corpo. Criaram as Olimpíadas, que iniciaram em 776 a.C., realizada a cada quatro anos em honra a Zeus. Além de considerarem os esportes importantes para a saúde individual, eles eram também um modo de entretenimento. Os Agones, que eram as festas públicas em honra a alguma divindade ou herói, tinham no atletismo suas principais atrações, assim como nas corridas de carruagens. Em relação às artes, a Grécia antiga deixou como legado um conjunto de obras que inclui cerâmica, pintura e escultura, muitas realizadas com um nível de técnica e realismo nunca antes visto. No princípio, as manifestações artísticas gregas sofreram influência da arte egípcia, com seus deuses e faraós em postura rígida e estilizados. Com o tempo,os artistas gregos passaram a representar as figuras humanas ou não humanas o mais próximo possível da realidade. As divindades ganharam a aparência de mortais, e estão presentes em quase todas as obras. O conceito de beleza estabelecido nesse período ainda exerce influência e tem se mantido por mais de 25 séculos. O belo se baseava em um ideal de perfeição, onde razões matemáticas e arte se fundiam em simetria e equilíbrio. O artista grego necessitava respeitar uma série de princípios ou regras chamadas “cânone”, que estabeleciam as proporções ideais de um ser humano. UNIDADE 2 | ANTIGUIDADE CLÁSSICA: GRÉCIA E ROMA 76 FIGURA 46 – DISCÓBOLO DE MÍRON. CÓPIA ROMANA EM MÁRMORE, 150 a.C. FONTE: Disponível em: <https://fi neartamerica.com/featured/discobolo- lancellotti-ca-460-450-everett.html>. Acesso em: 25 set. 2017. NOTA Cânone é o título de um tratado sobre as proporções do corpo humano escrito pelo escultor grego Policleto, por volta do século V a.C. Também foi o nome dado por ele a uma estátua que criou para ilustrar suas teorias. A fi losofi a, um legado tipicamente grego, nasceu em Atenas no século V a.C., como uma tentativa de compreender o mundo e dar-lhe um sentido através da razão e do conhecimento científi co, rompendo pela primeira vez com a crença de que o mundo humano era regido pelas vontades dos deuses. Esse momento só aconteceu porque os gregos se sentiam livres para investigar, pensar e questionar de modo racional sobre a origem e o funcionamento do mundo. Sócrates foi mestre de Platão e este, de Aristóteles. Eles são considerados os três principais fi lósofos gregos e também seus pioneiros. Aristóteles é considerado também o precursor da Biologia, pois foi o primeiro pensador a examinar as plantas e os animais. TÓPICO 2 | O LEGADO DA GRÉCIA 77 Além de todas as façanhas descritas até aqui, vários outros nomes se associam a descobertas importantes que foram feitas pela civilização grega em seus tempos áureos. Eles também realizaram obras de literatura e música bastante relevantes até a atualidade, bem como descobertas no campo da Medicina que representariam um grande avanço, elevando esta área de conhecimento à ciência e eliminando sua ligação com religião e magia. 4 ARQUITETURA GREGA O templo é o gênero de construção mais importante quando se fala de arquitetura grega. Este era entendido como a morada de um deus, representado em uma estátua em seu interior. É evidente na arquitetura dos templos gregos a influência micênica. A coluna dórica, por exemplo, particularmente o seu capitel, parece ter sido inspirado no Palácio de Micenas (GYMPEL, 2001). Outra tipologia de arquitetura grega que serve de inspiração ainda hoje em dia é o teatro. Este foi utilizado também como local de celebração de cerimônias pelos gregos, e tinha acústica perfeita. O estádio também é um importante tipo de edificação grega. O público sentava-se ao longo da pista, em fileiras de assentos de pedra, e é interessante observar que o acesso ao estádio se dava por túneis que passavam por baixo dos assentos, exatamente como nos estádios esportivos da atualidade, mais de dois mil anos depois. 4.1 AS ORDENS CLÁSSICAS A difusão de um estilo grego homogêneo de construir, por todo o território mediterrâneo, foi resultado de um método que seguia regras matemáticas rígidas, e que tinha uma linguagem de combinação de elementos pertencentes às ordens arquitetônicas. As ordens clássicas definiam os tipos e estilos das colunas e as formas de estrutura e decoração que teriam as edificações. Elas são chamadas de ordens dórica, jônica e coríntia, e se desenvolveram sucessivamente. Cada uma delas originou-se em partes diferentes da Grécia. As colunas gregas, independentemente da ordem, foram um desenvolvimento das colunas egípcias, que simbolizavam feixes de junco amarrados (GLANCEY, 2001). Os capitéis representavam formas da natureza, como chifres ou folhas. UNIDADE 2 | ANTIGUIDADE CLÁSSICA: GRÉCIA E ROMA 78 A linguagem arquitetônica desenvolvida pelos gregos, além de colunas, envolve um tratamento estilizado para os elementos apoiados, aos quais chamamos de entablamento. As ordens davam aos templos e outros edifícios de uso cívico da Grécia (e posteriormente, de Roma) características bem diferentes. A ordem dórica é a mais antiga e sólida. A coluna não tem base, possui um corpo canelado e um capitel simples. Seu entablamento consiste de uma arquitrave simples, além de elementos decorativos alternados no friso, que é coroado com uma cornija. A ordem jônica é um desenvolvimento da primeira. Possui uma base e um capitel com volutas, em referência a chifres de carneiro ou pergaminhos. Seu entablamento também é composto de arquitrave e friso. Uma cornija também coroa esta ordem. A ordem coríntia possui plinto e é uma variação da jônica, surgindo apenas no Período Helenístico. Esta ordem possui um capitel ornamentado mais complexo e mais delicado, com folhas de acanto. Além dos elementos de composição das ordens arquitetônicas, também existiam convenções gerais que regulavam as proporções das partes, a altura total e o intercolúnio (distância entre colunas), que os antigos gregos ajustavam de acordo com a necessidade (FAZIO, 2011). FIGURA 47 – ORDENS CLÁSSICAS GREGAS E SEUS ELEMENTOS FONTE: Disponível em: <http://www.estilosarquitetonicos.com.br/arquitetura- classica/>. Acesso em: 23 set. 2017. Cornija Entablamento Arquitrave Plinto Fuste Base Capitel Friso DÓRICA JÔNICA CORÍNTIA TÓPICO 2 | O LEGADO DA GRÉCIA 79 4.2 ARQUITETURA DA GRÉCIA ARCAICA Durante o período arcaico surgiu uma das maiores contribuições que os arquitetos e construtores gregos deram para a história da arquitetura: o templo. A planta baixa era simétrica e consistia de uma câmara traseira, ou opistódomo, seguida por um naos (cela) e, na sequência, um pórtico frontal (pronaos). Os primeiros templos eram feitos de adobe, e a cobertura, de sapé, mas no século VIII a.C. o pequeno Templo de Ártemis, em Éfeso, foi construído com colunas de madeira que cercavam toda a câmara (colunas perípteras) onde se encontrava a estátua da divindade (FAZIO, 2011). Em cerca de 600 a.C., um templo em Olímpia dá continuidade a essa ideia, mas em escala maior. No Templo de Hera de Olímpia as colunas ainda foram construídas em madeira, mas posteriormente substituídas por pedra. As telhas eram então de argila cozida. FIGURA 48 – PLANTA BAIXA DO TEMPLO DE HERA, OLÍMPIA, CERCA DE 600-590 a.C. Colunas in antis Estilobata (ou plataforma) Colunas perípteras Pronaos Anta Cela ou naos Opistódomo FONTE: Fazio (2011, p. 63) UNIDADE 2 | ANTIGUIDADE CLÁSSICA: GRÉCIA E ROMA 80 Alguns autores creditam a transição da madeira para a pedra ao contato com os egípcios. Na arquitetura grega, os fustes das colunas de pedra apresentam caneluras semelhantes às encontradas no templo mortuário da Rainha-Faraó Hatshepsut. Ainda que as paredes e as colunas tenham passado a ser feitas de pedra, vigas de madeira continuaram a ser utilizadas para estruturar a cobertura, mas estas se deterioraram e não chegaram ao nosso tempo. Os templos dóricos primitivos eram construídos com os materiais disponíveis no local, frequentemente o calcário. Isso impunha limitações estruturais ao tamanho dos vãos vencidos e ao diâmetro das colunas necessárias para suportar a cobertura de telhas de barro. Os templos jônicos, por sua vez, eram construídos em mármore, uma pedra superior em termos de resistência à compressão e, portanto, tinham colunas mais esbeltas. Um outro templo construído para homenagear Hera, mas desta vez construído em Paestum, no sul da Itália, é talvez o mais importante remanescente da arquitetura grega arcaica. Foi construído por volta de 550 a.C. e possui pesadas colunas dóricas. O intercolúnio é pequeno, mostrando a limitação da pedra para o vencimento de vãos (FAZIO, 2011). No interior do templo, o vão central exigiu suporte extra, portanto uma linhade colunas passa pelo meio da cela. Isso explica as nove colunas que formam a lateral menor deste templo, um dos raros templos gregos com um número ímpar de colunas na fachada da entrada. FIGURA 49 – TEMPLO DE HERA EM PAESTUM, CERCA DE 550 a.C. FONTE: Fazio (2011, p. 65) TÓPICO 2 | O LEGADO DA GRÉCIA 81 4.3 ARQUITETURA DA GRÉCIA CLÁSSICA O Partenon, de 436 a.C., não é apenas a obra mais famosa da Grécia, mas talvez seja o mais influente edifício de todos os tempos (GLANCEY, 2001). Considerado por muitos como tendo beleza atemporal, é um templo dórico, dedicado a Atenas (deusa protetora da cidade) e é considerado por muitos especialistas como o ápice da arquitetura grega. Atualmente em ruínas, sobreviveu em bom estado graças ao material do qual foi feito, o mármore. O teto era de madeira e por isso se deteriorou, mas os pilares e a cela ainda estão em pé. FIGURA 50 – PARTENON NA ACRÓPOLIS, ATENAS, 436 a.C. FONTE: Disponível em: <https://bucks.instructure.com/courses/200544/files/ 2586299?module_item_id=1474344>. Acesso em: 23 set. 2017. O Partenon é períptero, formado por oito colunas de largura por 17 de profundidade. Esta é uma diferença desse templo para os demais templos dóricos, já que o usual seriam seis colunas. A cela está dividida em duas câmaras, sendo que a maior delas abrigava a estátua de Atenas. Como toda arquitetura grega, o exterior do edifício era mais importante que o interior. O clima propiciava muito tempo passado ao ar livre, portanto a colunata (corredores externos de colunas que cercam todos os lados de um templo grego) era muito importante. Ao contrário do que é possível pensar ao observarem-se ruínas atualmente, grande parte dos templos gregos no seu tempo, inclusive o Partenon, eram coloridos em tons de vermelho, azul e dourado. UNIDADE 2 | ANTIGUIDADE CLÁSSICA: GRÉCIA E ROMA 82 Para garantir que o templo tivesse linhas retas perfeitas, os arquitetos Ictinos e Calícrates usaram uma técnica conhecida como êntase para deformar levemente as colunas e arquitraves nas fachadas e laterais do edifício. A distorção leve faz o olho enxergar linhas retas, quando, de outro modo, elas pareceriam curvas. É uma técnica brilhante que mostra o raciocínio matemático dos arquitetos e também a grande habilidade dos construtores, que deveriam executar as peças e a montagem com exatidão. FIGURA 51 – PLANTA BAIXA DO PARTENON, ATENAS, 447-438 a.C. FONTE: Disponível em: <http://verdadyverdades.blogspot.com.br/2010/09/ planta-del-partenon.html>. Acesso em: 23 set. 2017. Esculturas adornavam o Partenon por dentro e por fora. Os dois frontões continham estátuas representando, no Leste, o nascimento de Atena testemunhado pelos deuses e, no Oeste, a batalha entre Atena e Poseidon pelo controle da cidade de Atenas. Para os gregos, o Partenon era não apenas a representação de um ideal de beleza, mas também um símbolo de todos os valores essenciais que os mantinham unidos como civilização. O legado desta edificação foi grande, sendo que inúmeras representações exatas deste templo foram construídas em diferentes partes do mundo, influenciando arquitetos de diferentes nacionalidades. NOTA Frontão: é um conjunto arquitetônico de forma triangular que decora normalmente o topo da fachada principal de um edifício, sendo composto de duas partes principais: a cimalha (base) e as duas empenas (que fecham o triângulo). TÓPICO 2 | O LEGADO DA GRÉCIA 83 FIGURA 52 – ELEMENTOS DE COMPOSIÇÃO DA FACHADA DE TEMPLO GREGO CLÁSSICO FONTE: Disponível em: <http://desenho-classico.blogspot.com.br/2016/05/o-templo- grego.html>. Acesso em: 23 set. 2017. 4.4 A ARQUITETURA DA GRÉCIA HELENÍSTICA O termo “helenístico” refere-se à arte e à arquitetura relacionadas ao extenso império de Alexandre e seus sucessores. Aparentemente, Alexandre tinha grande paixão pela herança grega, e trabalhou duramente em difundi-la em todo o território de seu domínio. A arquitetura deste período se afastou das tradições sóbrias que prevaleceram na região ao redor de Atenas e foi marcada pela preferência aos efeitos exagerados e às escadarias pomposas. Um dos motivos para isto ocorrer foi o bem-estar gerado pela estabilidade financeira do reinado de Alexandre, o Grande. As interpretações das ordens arquitetônicas se tornaram mais livres e exuberantes, como alguns exemplares encontrados ao longo da costa oeste da Ásia Menor. A ordem dórica foi substituída pela ordem jônica, mais ornamentada. Surgiu, neste período, a ordem coríntia, tendo seu primeiro uso conhecido no Templo de Apolo Epicuro, em Bassae, por volta de 450 a 425 a.C. (FAZIO, 2011). Projetado por Ictinos, na verdade apresenta as três ordens arquitetônicas: a dórica na colunata mais externa, a jônica nas fileiras laterais da cela, e a coríntia, na única coluna que fica na extremidade da cela. Uma estátua de Apolo estava alocada ao lado dessa coluna. O Templo de Apolo Epicuro se destaca pela orientação incomum: está voltado para o Norte, e não para o Leste, como seria costumeiro. Outra inovação está na porta lateral, possivelmente para permitir que o Sol iluminasse a estátua de Apolo no interior do templo. Frontão Entablamento Pódio Coluna UNIDADE 2 | ANTIGUIDADE CLÁSSICA: GRÉCIA E ROMA 84 Apesar de apresentar certas diferenças, o templo tem ainda várias similaridades com o que estava sendo construído na Acrópole ateniense. O edifício pode ser entendido como um misto de referências históricas a um projeto inovador. FIGURA 53 – PLANTA BAIXA DO TEMPLO DE APOLO, BASSAE, 450-425 a.C. FONTE: Disponível em: <http://www.auladehistoria.org/2016/02/templo-de-apolo-en-bassae- comentario.html>. Acesso em: 24 set. 2017. A ligação de elementos, como colunas e paredes, que antes se encontravam rigorosamente separados, tornou-se comum nas fachadas helenísticas. Se antes as fachadas eram homogêneas, e nenhuma se impunha em relação às outras, agora a arquitetura se tornava mais encenada e dramática. Outra edificação inovadora e que teve a ordem coríntia amplamente utilizada em sua construção foi o tholos do Santuário de Asclépio, em Epidauro, de cerca de 360-330 a.C. (FAZIO, 2011). Esta é uma edificação circular, de aproximadamente 22 metros de diâmetro, hoje em dia em ruínas. O Santuário era em homenagem ao deus Asclépio, filho de Apolo, e tinha o propósito de ser um lugar de cura. O tholos era uma das construções na área, que também continha estádio, ginásios, teatro, altares, fontes, banheiras, templos e acomodações para os pacientes. Apresentava uma colunata externa formada por 26 colunas dóricas, mais 14 colunas coríntias na colunata circular interna. O piso tinha um desenho preto e branco e o teto possuía caixotões ornamentados com motivos florais. Não se sabe ao certo qual era a função do tholos, mas há especulações de que seja uma espécie de monumento mortuário, fazendo referência à passagem para o mundo inferior, ao túmulo do Deus Asclépio. TÓPICO 2 | O LEGADO DA GRÉCIA 85 FIGURA 54 – PLANTA BAIXA (METADE INFERIOR) E PLANTA DE TETO PROJETADO (METADE SUPERIOR), THOLOS, EPIDAURO, CERCA DE 360–330 a.C. FONTE: Fazio (2011, p. 73) Durante o período helenístico também foram construídos inúmeros teatros em muitas cidades da periferia. Estes, em geral, aproveitavam o declive de uma colina para oferecer suporte aos assentos concêntricos voltados para a orquestra, uma área plana circular para apresentações. Atrás da orquestra ficava um edifício de fundo chamado de skene. A área entre a orquestra e o skene era chamada de proscênio, e era uma plataforma elevada onde os atores declamavam. Para declamar as falas dos deuses, ficavam de pé sob a cobertura da edificação. O Teatro de Epidauro está extremamente bem conservado, apenas o skene não existe mais. Não se sabe ao certo quem foi seu projetista, mas sabe-se que foi construído em dois estágios: no primeiro, foram construídos cinco mil assentos em 34 fileiras, datando de 350 a.C., e no segundo, foram acrescentadas 21fileiras superiores no século II a.C., chegando a um total de 14 mil lugares (FAZIO, 2011). Os assentos mais próximos à orquestra tinham encostos e eram utilizados por autoridades, enquanto o resto do público se sentava em bancos contínuos sempre levemente elevados em relação à fileira da frente. Um sistema de corredores radiais e transversais organizava a circulação da entrada até os diferentes níveis. UNIDADE 2 | ANTIGUIDADE CLÁSSICA: GRÉCIA E ROMA 86 A acústica deste teatro é considerada perfeita, e permite que palavras pronunciadas em um tom de voz normal alcancem cada um dos 14 mil assentos. FIGURA 55 – TEATRO EPIDAURO, 350, SÉCULO II a.C. FONTE: Imagem disponível em < http://www.freemages.es/browse/photo-906-teatro-epidauro. html>. Acesso: 31 Jan. 2018. FIGURA 56 – PLANTA BAIXA DO TEATRO EPIDAURO, 350, SÉCULO II a.C. FONTE: Fazio (2011, p. 75) Pârod o Pârodo Rampa RampaProscênio Skene Orquestra TÓPICO 2 | O LEGADO DA GRÉCIA 87 5 CIDADES GREGAS Ainda no princípio da civilização grega, quando as cidades-estado começaram a expandir suas terras e criar colônias em porções da Ásia Menor, da Itália e da África, estas já eram surpreendentemente ordenadas: normalmente em longas quadras retangulares reunidas ao redor dos templos e do mercado, além de uma muralha para proteger toda a área. As habitações eram humildes e normalmente sem atrativos, e situavam-se em becos tortuosos nas cidades mais velhas. A sociedade não vivia silenciosamente em casa. Os espaços abertos da cidade, o teatro e os templos eram movimentados noite e dia. O cidadão-modelo grego era saudável de mente e espírito, portanto, a polis deveria oferecer a ele uma série de oportunidades de exercitar tanto um, quanto outro. Por essa razão, eram tão importantes, nas cidades gregas, os espaços públicos e de uso cívico, normalmente ligados a áreas de lojas, escritórios, oficinas, refeitórios, salões de assembleias, estádios, ginásios e teatros. As cidades gregas tinham uma população limitada, não só pela pobreza dos recursos, mas também por uma opção política. Quando crescia além de certo limite, organizava-se uma expedição para formar uma colônia em outro ponto do território. A população deveria ser suficientemente grande para formar um exército de guerra, mas não tanto que impedisse o funcionamento da assembleia, ou seja, que impedisse os cidadãos de conhecerem-se e escolherem seus magistrados. Atenas, nos tempos do governo de Péricles, tinha cerca de 40 mil habitantes, mas outras cidades gregas não ultrapassavam normalmente cerca de 20 mil pessoas (BENEVOLO, 2007). A polis representava, fisicamente, os valores de convivência civil grega. Era, por exemplo, um todo único, onde não existiam zonas fechadas e independentes. Poderia ser murada, mas não subdividida em recintos secundários. As casas eram todas do mesmo tipo, variando apenas em tamanho, mas não em tipologia. Eram distribuídas livremente pela cidade, ao invés de formar bairros residenciais específicos. O espaço da cidade grega pode ser explicado em três zonas: as áreas privadas (habitações), as áreas sagradas (templos) e as áreas públicas (comércio, assembleias, teatro etc.). Existem duas palavras bastante importantes quando pensamos nos espaços citadinos públicos gregos, palavras que precisamos compreender e cujo significado é de extrema importância em qualquer discussão sobre história da arquitetura. São elas: acrópole e ágora. UNIDADE 2 | ANTIGUIDADE CLÁSSICA: GRÉCIA E ROMA 88 A acrópole é, por definição, um platô que se eleva abruptamente acima da planície onde fica a cidade. É o local mais alto das antigas cidades gregas, que servia de cidadela e onde, eventualmente, erguiam-se templos e palácios. A ágora é um espaço público, uma praça principal das antigas cidades gregas, local em que se instalava o mercado e que muitas vezes servia para a realização das assembleias do povo; formando um recinto decorado com pórticos, estátuas etc. Os edifícios mais importantes em uma cidade grega eram os templos, pelo que representavam. Apesar disso, não eram muito grandes. Destacavam-se mais pela qualidade e pela sua localização do que pelo tamanho. Eram sempre construídos em posição dominante (acrópole), afastados dos outros edifícios. A cidade grega, como um todo, formava um organismo ligado ao ambiente natural de um modo delicado e minuciosamente 5.1 ATENAS Atenas é considerada ainda hoje a mais ilustre cidade grega. Está acomodada em uma planície central circundada por alguns montes, e é cortada por dois pequenos rios, o Cefiso e o Ilissos. A acrópole, 156 metros acima do mar, foi a sede dos primeiros habitantes da cidade. Posteriormente, a grande Atenas se formou quando a população foi obrigada, por Teseu (segundo uma lenda), a se concentrar em torno da acrópole. A nova aglomeração humana se formou, então, em uma depressão quase plana ao norte da acrópole, que se tornou território exclusivamente sagrado. Alguns importantes santuários, como os de Dionísio e de Zeus, foram construídos no declive sul da acrópole, na encosta mais exposta. Uma série de edifícios monumentais também foram construídos ao redor da ágora, na cidade baixa. Apesar de ter sido destruída em 479 a.C. pelos persas, foi reconstruída e ampliada posteriormente. No tempo de Péricles a acrópole foi praticamente toda reconstruída: constroem-se o Partenon, o templo de Atenas Niké, e mais tarde o Erecteion. É interessante notar que a construção de Atenas em nenhum momento teve um caráter regular e definitivo. As obras foram sendo construídas e modificando gradualmente o todo, inserindo-se com discrição na paisagem. Por outro lado, há uma extraordinária unidade na forma como foi organizada, mostrando grande coerência e senso de responsabilidade de governantes e projetistas. Observe, por exemplo, a imagem da ágora ateniense a seguir: TÓPICO 2 | O LEGADO DA GRÉCIA 89 FIGURA 57 – PLANTA BAIXA DA ÁGORA, ATENAS, CERCA DE 150 a.C. Stoa de Zeus Santuários de Afrodite Stoa Pintada Santuários dos Doze Deuses Stoa de Átalo Lojas Hephaisteion Monumeto aos Heróis Eponímicos Via Panateniense até a Acrópole 2,39 Stoa Intermediária Casa da Moeda Stoa Sul Novo Bouleterion Helaia Fonte Stoa Real Metroon (sítio original do boulererion) Tholos Arsenal FONTE: Fazio (2011, p. 77) Na imagem, em cinza, estão marcadas as edificações do período clássico. O caminho diagonal que atravessa a ágora é a Via Panateniense, uma rota processional que saía do acesso norte da cidade e ia em direção sudeste até a acrópole. O fato de que o centro cívico e comercial foi estabelecido ao redor desta antiga trilha demonstra a importância das divindades gregas e da religiosidade na vida urbana. A construção dos edifícios que compunham a ágora iniciou em aproximadamente 600 a.C., e seus limites foram definidos ainda antes do fim do Período Arcaico (FAZIO, 2011). Uma série de prédios cívicos, como templos, um santuário para Zeus e um Senado para acomodar 500 senadores, que compunham o governo eleito de Atenas, foram construídos. Outro edifício importante construído na ágora chamava-se Stoa Real, e era ocupado pelo principal magistrado religioso da cidade, responsável pelos sacrifícios oficiais e pela administração dos festivais locais, como as procissões. Os grandes espaços abertos da ágora serviam também como pista de corrida e arena para apresentações teatrais e danças. UNIDADE 2 | ANTIGUIDADE CLÁSSICA: GRÉCIA E ROMA 90 Depois das conquistas de Alexandre, o Grande, a ágora de Atenas seguiu sendo modificada. Algumas edificações clássicas foram modificadas no período helenístico, enquanto prédios novos foram construídos buscando transmitir uma sensação mais completa de ordem espacial e fechamento. Na imagem anterior é possível notar essa tentativa de fechamento nas stoas construídas no período helenístico, em branco. FIGURA 58 – PLANTA DE SITUAÇÃO DA ACRÓPOLE, ATENAS, CERCA DE 479 a.C. FONTE: Fazio (2011,p. 66) Observando a acrópole de Atenas, nota-se um pequeno retângulo hachurado em cinza próximo ao Erecteion, demarcando a posição das fundações de um templo antigo a Atenas Polia, destruído pelos persas. Os edifícios que restaram na acrópole ateniense foram distribuídos de modo que, à primeira vista, parecesse aleatório, embora, na verdade, o conjunto tenha sido planejado com cuidado, para responder às características específicas do terreno. O leiaute geral da acrópole buscava enfatizar a ideia da Grande Procissão Panateniense, que ocorria anualmente, no aniversário de Atena. O Partenon, por exemplo, está no ponto mais alto da acrópole, e está orientado de modo que o visitante o visualize gradualmente, em seu melhor ângulo, à medida que adentra o espaço da acrópole. De acordo com Fazio (2011, p. 76), “A harmonia estática de um templo com colunata é aprimorada pelas artes sutis do planejador do terreno, que lança mão da surpresa e de perspectivas dinâmicas para revelar todo o esplendor das formas de arquitetura”. O Propileu é um portal de entrada construído para acomodar a Via Panateniense, criando uma transição entre o mundo profano e o sagrado. Foi construído em aproximadamente 437 a.C., planejado pelo arquiteto Mnesicles. Para acomodar o percurso processional, o Propileu tem um intercolúnio central mais largo que os demais. PARA A ÀGORA Propileu Estátua de Atena Templo de Atena Niké Partenon 2.25 2.30 Anfipróstilo (nas duas extremidades) Antigo Tempo de Atena Polia Erecteion TÓPICO 2 | O LEGADO DA GRÉCIA 91 FIGURA 59 – PLANTA DE PAESTUM (POSEIDÔNIA), SÉCULO VII a.C. Templo de Hera Quadras habitacionais FONTE: Fazio (2011, p. 78) As cidades gregas dos períodos Arcaico e Clássico nem sempre eram assimétricas e construídas gradualmente, como ocorreu no caso de Atenas. Os gregos, por exemplo, comumente utilizavam plantas ortogonais regulares em suas colônias, a exemplo de Paestum (Poseidônia). Paestum foi planejada com quadras alongadas em uma grelha ortogonal. No centro estava o setor público, com comércio, edifícios cívicos e templos. Este tipo de organização de sistema viário era típico do século VII a.C. Enquanto algumas cidades cresciam de modo orgânico, outras, destruídas pela guerra, eram reconstruídas de acordo com novos princípios de planejamento urbano, mais regulares. Essa regularização das malhas viárias ocorreu principalmente entre os séculos V e IV a.C., quando muitas cidades foram planejadas com grelhas e espaços abertos escolhidos cuidadosamente segundo as ideias de Hipódamo de Mileto, considerado por muitos como o pai do planejamento urbano. As plantas ortogonais já existiam há algum tempo, mas a contribuição de Hipódamo parece ter sido a forma como articulou os elementos comerciais, religiosos e sociais com as quadras regulares habitacionais. Foi responsável pela reconstrução de sua cidade natal, Mileto, que havia sido destruída pelos persas. Em seu projeto, Hipódamo fez mais do que especificar a localização dos prédios cívicos – o leiaute das ruas e a posição dos espaços abertos –, ele incluiu o projeto de moradias unifamiliares para uma população estimada de 15 mil a 20 mil pessoas. As casas foram orientadas com os principais cômodos voltados para o Sul. 5.2 CIDADES HELENÍSTICAS 92 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • A civilização grega viveu três períodos distintos, conhecidos como Grécia Arcaica, Clássica e Helenística. • Os gregos realizaram importantes descobertas científicas e estabeleceram conceitos de estética e forma que são perseguidos até a atualidade. • A tipologia mais importante da história da arquitetura grega é o templo, seguido do teatro e do estádio. • As ordens arquitetônicas clássicas definiam os tipos e estilos das colunas e as formas de estrutura e decoração que teriam as edificações. Elas são chamadas de ordens dórica, jônica e coríntia, e se desenvolveram sucessivamente. • Na Grécia Arcaica, construíram-se os primeiros templos e estes eram normalmente compostos de uma cela central que continha uma estátua da divindade e uma fileira de colunas perípteras, formando as quatro fachadas da edificação. • Na Grécia Clássica, evoluiu-se e consolidou-se o modelo de templo com cela e colunas perípteras, e obras como o Partenon foram construídas. • Na Grécia Helenística, as ordens arquitetônicas passaram a ter interpretação mais livre e exuberante, fazendo surgir modelos um pouco diferentes de templos, mas ainda com base nas referências históricas. • A polis (cidade-estado grega) representava fisicamente os valores de convivência civil grega. Era, por exemplo, um todo único, onde não existiam zonas fechadas e independentes. • A acrópole é um platô que se eleva acima da planície da cidade. É o local mais alto das antigas cidades gregas, que servia de cidadela e onde, eventualmente, erguiam-se templos e palácios. • A ágora é um espaço público, uma praça principal das antigas cidades gregas, local em que se instalava o mercado e que muitas vezes servia para a realização das assembleias do povo. • A cidade grega, como um todo, formava um organismo ligado ao ambiente natural de um modo delicado e minuciosamente pensado. Respeitava a paisagem natural, que era deixada intacta em muitos pontos. 93 • Atenas é considerada ainda hoje a mais ilustre cidade grega. Há uma extraordinária unidade na forma como foi organizada, mostrando grande coerência e senso de responsabilidade de governantes e projetistas. • Enquanto expandiam seus territórios, os gregos comumente utilizavam plantas ortogonais regulares em suas colônias, a exemplo de Paestum (Poseidônia). 94 AUTOATIVIDADE 1 A cultura grega desenvolveu-se, principalmente, na península do Peloponeso, nas ilhas próximas e na costa mediterrânea próxima à atual Turquia, durante o segundo e primeiro milênios a.C. O período considerado o mais relevante para os estudos da arquitetura grega é aquele que ocorreu entre o séculos VII a.C. e IV a.C. Neste período, a arquitetura religiosa – mais precisamente os templos – é construída com grande rigor de dimensões, estabelecendo proporções matematicamente precisas. Sobre a arquitetura que se estabeleceu na Grécia Clássica, classifique as afirmações a seguir como verdadeiras ( V ) ou falsas ( F ): ( ) Na Antiguidade Clássica, o templo constitui expressão maior da arquitetura grega e a coluna sua peculiaridade. As ordens dórica e coríntia são caracterizadas pelo emprego de motivos abstratos ou semiabstratos para simbolizar a vida orgânica, enquanto a ordem jônica é marcada pelo uso de ornamentos inspirados nas formas das folhas de acanto e de outras plantas. ( ) A acrópole é um platô elevado em uma cidade grega onde se localizam os edifícios mais importantes da vida pública dos cidadãos, como templos, teatros, mercado, santuário etc. ( ) Utilizando uma técnica chamada êntase, os construtores gregos criavam leves deformações nas colunas dos templos, fazendo com que os olhos humanos enxergassem as linhas retas, quando, de outro modo, pareceriam curvas. ( ) Os teatros gregos eram construídos normalmente em uma encosta de colina, e possuíam assentos concêntricos que se voltavam para uma superfície plana que se chamava orquestra. Atrás da orquestra havia ainda um edifício de fundo, como um cenário permanente, chamado skene. Agora, assinale a alternativa que apresenta a resposta CORRETA: ( ) F – F – V – V. ( ) F – V – V – F. ( ) V – V – F – F. ( ) V – F – F – V. 95 TÓPICO 3 OS PRECURSORES DOS ROMANOS UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Para compreender o legado dos romanos, é necessário estudar sua arte e arquitetura, a formação de seus territórios e de suas primeiras cidades, bem como as características dos povos que as ocupavam. Para atingir este objetivo, o presente tópico se concentrará na civilização que viveu na Etrúria, na Península Itálica, ao sul do rio Arno e ao norte do Tibre: os etruscos. Este povo, assim como os gregos,exerceu grande influência na civilização romana, e ambos ajudam a explicar os grandes feitos realizados por eles. 2 ETRUSCOS Ao mesmo tempo em que a civilização grega surgia no continente e no leste do Mediterrâneo, os etruscos desenvolviam sua própria cultura no centro- norte da Itália, na atual região da Toscana. Não se sabe ao certo de onde os etruscos vieram, mas acredita-se que migraram para a Península Italiana a partir da Ásia Menor por volta de 1200 a.C., depois do fim do Império Hitita (FAZIO, 2011). Nossa compreensão sobre esta civilização é escassa por falta de registros escritos. Diz-se que o povo etrusco sofreu diversas influências, sendo uma delas da Grécia durante os períodos Arcaico e Clássico. A linguagem utilizada, por exemplo, era expressada através de um alfabeto derivado do grego. Já a forma de lidar com os mortos parece ter sofrido influência egípcia, pois os etruscos davam grande importância a enterrar os mortos com objetos de uso diário, considerados uma necessidade no pós-morte. A arte etrusca parece ter se espelhado nas artes hitita, minoica e micênica, pois também continha relevos de feras protetoras nas entradas dos túmulos e decorações naturalistas com representações de golfinhos e pássaros. Dos assírios e babilônicos, os etruscos herdaram a tradição de ler presságios nas entranhas dos animais, e o uso de arcos e abóbadas em grandes portais indica relação com a Ásia Menor. 96 UNIDADE 2 | ANTIGUIDADE CLÁSSICA: GRÉCIA E ROMA Apesar de tantas influências, é importante ressaltar que os etruscos ainda assim desenvolveram sua própria cultura, e acabaram por exercer forte impressão na civilização romana. Os assentamentos etruscos eram organizados de modo disperso em cidades-estado independentes, em esquema similar aos da Mesopotâmia e da Grécia. A economia girava em torno da agricultura e do comércio com as regiões da atual Grã-Bretanha e a Espanha. A partir do século VIII a.C. a cultura etrusca era estável e exerceria influência crescente pelos próximos 200 anos, englobando a área desde o rio Pó, no norte da Itália, até a região ao redor de Pompeia, ao sul de Roma. Marzabotto, uma cidade próxima a Bolonha, possuía uma planta em grelha, o que quer dizer que suas principais ruas eram perpendiculares umas às outras, cruzando-se na região central. No futuro os romanos utilizariam plantas semelhantes em seus campos militares. É possível que a ideia da planta ortogonal tenha sido copiada das colônias gregas, conhecidas pelos etruscos por conta do comércio entre os povos. A arquitetura etrusca parece também ter tomado emprestadas algumas características das ordens arquitetônicas e da forma dos templos gregos, adequando-as aos seus próprios objetivos. Os templos gregos normalmente possuíam uma colunata contínua em torno de um santuário central (cela), com entradas em ambas as fachadas nas empenas, como estudamos em maiores detalhes no tópico anterior deste capítulo. Os templos etruscos, por sua vez, costumavam apresentar uma única entrada, através de uma colunata dupla no topo de um único lance de escadas. A complexidade das ordens gregas de composição foi deixada de lado em favor de uma ordem original bastante simplificada, conhecida como ordem toscana. Nesta linguagem, as colunas não apresentavam caneluras ou esculturas, tendo uma forma básica. O intercolúnio (espaço entre colunas) dos templos etruscos era também mais amplo que o grego, e o caimento do telhado consideravelmente mais baixo, criando uma ênfase na horizontalidade das construções. TÓPICO 3 | OS PRECURSORES DOS ROMANOS 97 FIGURA 60 – DESENHO DE UM TEMPLO ETRUSCO BASEADO NAS DESCRIÇÕES DE VITRÚVIO. PLANTA BAIXA, VISTA FRONTAL E VISTA LATERAL FONTE: Imagem disponível em <http://art.lostonsite.com/67021098-007/>. Acesso: 31 Jan. 2018. FIGURA 61 - DESENHO DE CAPITEL E FUSTE DA ORDEM TOSCANA (À ESQUERDA) EM COMPARAÇÃO À ORDEM DÓRICA GREGA (À DIREITA) FONTE: Disponível em: <http://www.estilosarquitetonicos.com.br/arquitetura- classica/>. Acesso em: 1º dez. 2017. As colunas e a estrutura do telhado eram construídas em madeira, e as paredes em adobe. Uma terracota mais resistente era utilizada no feitio das telhas, na ornamentação das fachadas e nas esculturas. Infelizmente, por conta da pouca durabilidade dos materiais utilizados, nenhum templo etrusco sobreviveu até a atualidade. Apesar disso, podemos inferir sua forma através de fontes literárias e arqueológicas que oferecem evidências adequadas. Os vestígios da arquitetura etrusca são limitados. Um exemplo desses vestígios são os túmulos e urnas funerárias feitos em forma de casas em miniatura. Desta forma, foi possível ter algumas pistas sobre as moradias da população etrusca mais abastada. Um bom exemplo são os túmulos escavados em Cerveteri. Os cômodos foram escavados em rocha vulcânica macia, eram acessados por um vestíbulo e ficavam distribuídos ao redor de um pátio central. Em alguns dos túmulos foram identificados elementos de arquitetura, como portas e vigas de cobertura; e também alguns acessórios, como cadeiras e utensílios domésticos, todos talhados em pedra. 98 UNIDADE 2 | ANTIGUIDADE CLÁSSICA: GRÉCIA E ROMA FIGURA 62 – INTERIOR DO TÚMULO DOS RELEVOS, NA NECRÓPOLE ETRUSCA, CERVETERI FONTE: Disponível em: <http://www.ancient-origins.net/ancient-places-europe/cerveteri- necropolis-etruscan-city-dead-002602>. Acesso em: 1º dez. 2017. Os etruscos, juntamente com os latinos e dos sabinos, povos nativos da Itália, habitaram as colinas nos dois lados do rio Tibre, que possuía solo pantanoso, que os construtores etruscos passaram a drenar, escavando a vala que posteriormente se tornaria o maior esgoto da Roma antiga, conhecido como Cloaca Máxima. Conta a lenda popular romana que a cidade de Roma foi fundada pelos irmãos Rômulo e Remo nestas colinas em 753 a.C. e governada entre 616 e 510 a.C. por membros da família real etrusca, os chamados tarquínios. Estes foram depostos pelos latinos em aproximadamente 500 a.C., estabelecendo então a República Romana. Apesar disso, os etruscos não desapareceram completamente da Itália subitamente, sendo que outras de suas cidades-estado ainda prosperavam ao norte; alheias ao aumento da autoridade romana, foram gradativamente sendo incorporadas às forças romanas até cerca de 88 a.C. (FAZIO, 2011). Por conta da convivência com os etruscos, muitos aspectos de sua cultura foram absorvidos à vida romana, como as corridas de biga e as batalhas sangrentas de gladiadores. Além do mais, a arte e a arquitetura etruscas influenciaram fortemente as obras romanas, como veremos a seguir. TÓPICO 3 | OS PRECURSORES DOS ROMANOS 99 NOTA Biga: Uma biga é um carro de guerra de duas rodas, movido por dois cavalos. Foi usada na Antiguidade como carro de combate e, eventualmente, como carro de corridas. FIGURA 63 – BIGA ETRUSCA DE MONTELEONE DI SPOLETO FONTE: Disponível em: <http://www.canino.info/inserti/monografie/etruschi/ vari/ biga_monteleone/index.htm>. Acesso em: 1º dez. 2017. 100 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • Ao mesmo tempo em que a civilização grega surgia no continente e no leste do Mediterrâneo, após o declínio dos povos micênicos, os etruscos desenvolviam sua própria cultura no centro-norte da Itália, na atual região da Toscana. • Apesar de terem sofrido influência de diversas civilizações, os etruscos desenvolveram sua própria cultura e acabaram por exercer forte impressão na civilização romana. • A arquitetura etrusca parece ter tomado emprestadas algumas características das ordens arquitetônicas e da forma dos templos gregos, adequando-as aos seus próprios objetivos. • Os templos etruscos costumavam apresentar uma única entrada, através de uma colunata dupla no topo de um único lance de escadas. • As colunas toscanas não apresentavam caneluras ou esculturas, tendo uma forma ainda mais básica que as colunas da ordem dórica grega. • Após a dominação dos latinos e a fundação deRoma, etruscos e romanos ainda conviveram por alguns séculos, por isso, a arte e a arquitetura etruscas influenciaram fortemente as obras romanas. 101 1 Os etruscos eram bons construtores, mas pouco restou de suas edificações, construídas em materiais pouco resistentes ao tempo. Entre o que restou, por ser de pedra, estão fundações de muralhas, conjuntos de casas pavimentadas, túmulos e ruas. Sobre os etruscos e sua arquitetura, analise as afirmações a seguir, classificando- as como verdadeiras (V) ou falsas (F): ( ) Os túmulos etruscos são como réplicas do interior de suas casas, e têm molduras, arcos e abóbadas, estes importados do Oriente e posteriormente transmitidos a Roma, depois que os etruscos os aperfeiçoaram. ( ) A engenharia etrusca lembra a egípcia. Eles introduziram na Itália o uso do arco, da abóbada e da cúpula. As casas eram providas de átrio. ( ) Construíam templos religiosos (com base de pedra, estrutura de madeira e revestimento em barro na arquitrave e beirais) que em grande parte se assemelhariam aos templos gregos simples. ( ) Podium e embasamento elevados de pedra foram introduzidos pelos etruscos e também eram comuns na arquitetura grega. Sua função era elevar o templo sobre o nível do calçamento, forçando a entrada das pessoas ao mesmo pela escada da fachada lateral. Agora, assinale a alternativa CORRETA: ( ) V – V – V – F. ( ) F – V – V – F. ( ) F – F – V – V. ( ) V – F – V – F. AUTOATIVIDADE 102 103 TÓPICO 4 O LEGADO DE ROMA UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO O estudo da civilização romana encerrará nossa imersão na arquitetura e no planejamento urbano da Antiguidade Clássica, que certamente são as grandes bases das cidades ocidentais. Na Europa Ocidental, a arquitetura que iremos estudar neste tópico ficou abandonada por séculos após a queda do Império Romano, mas renasceu no século XV, em decorrência das investigações e dos experimentos feitos pelos italianos e, logo depois, por outros arquitetos europeus, como veremos ao longo de nosso curso em História da Arquitetura. Além disso, o povo romano foi o primeiro da antiguidade a construir amplos espaços internos e, para isso, dominou a arte da construção de abóbadas de alvenaria, usando tijolo e pedra, além de concreto na Península Italiana, onde estava disponível a pozolana, uma importante matéria-prima. O grande salto nas técnicas construtivas resultou em um avanço surpreendente nas formas arquitetônicas, bem como no estabelecimento e difusão de novos usos para as construções. 2 CONTEXTO HISTÓRICO Roma surgiu ao mesmo tempo que as civilizações gregas, etruscas e as dinastias egípcias tardias. Porém, ao contrário destas culturas, a civilização romana prosseguiu crescendo em importância ao final do milênio antes de Cristo, chegando a seu auge nos séculos I e II d.C. Segundo a mitologia, Roma foi fundada no século VIII a.C. por dois irmãos, Rômulo e Remo. A data oficial da fundação de Roma, por tradição, é 21 de abril de 753 a.C., e é conhecida como o ‘Natal de Roma’. Inicialmente, a cidade de Roma se tornou a capital de uma república governada por um Senado composto de membros de famílias de prestígio e por magistrados ou cônsules eleitos. 104 UNIDADE 2 | ANTIGUIDADE CLÁSSICA: GRÉCIA E ROMA Com o passar do tempo, os exércitos romanos foram conquistando mais territórios na Itália e demais regiões, e os problemas para manter o sistema governamental começaram a aparecer. Administrar com eficiência todos os territórios e agradar tanto à aristocracia rural (os patrícios) e à classe geral de cidadãos livres (plebeus) tornaram-se tarefas cada vez mais difíceis. No século I a.C. uma crise política e econômica teve como desfecho a tomada do poder pelo líder militar Júlio César. Este foi posteriormente assassinado, mas ainda assim seu governo acelerou a ascensão do Império Romano e deu início a uma sucessão de imperadores, começando com Augusto César em 27 a.C. (FAZIO, 2011). Para melhor compreender a sucessão de governos de Roma em relação à construção de alguns importantes edifícios, observe a cronologia a seguir: QUADRO 3 – CRONOLOGIA DE ROMA CRONOLOGIA ROMA ANTIGA Apogeu da civilização etrusca 550 a.C. República Romana 509-27 a.C. Ditadura de Júlio César 46-44 a.C. Reinado de César Augusto/Início do Império Romano 27 a.C.-14 d.C Vitrúvio escreve 'De architectura' Cerca de 27 a.C. Reinado de Nero 54-68 d.C. Reinado de Vespasiano 69-79 Construção do Coliseu Concluído em 80 Reinado de Domiciano 81-96 Reinado de Trajano 98-117 Reinado de Adriano 117-138 Construção do Panteão Cerca de 125 Reinado de Sétimo Severo 193-211 Reinado de Diocleciano 284-305 Reinado de Constantino 310-337 FONTE: A autora. 3 MANIFESTAÇÕES CULTURAIS E ARTÍSTICAS Existem diversos aspectos deixados pelas civilizações antigas que foram, pouco a pouco, sendo incorporados ao nosso cotidiano. E os romanos foram responsáveis por deixar profundas marcas em nossas vidas. Criaram o latim, que serviu de base para vários idiomas, entre eles o espanhol, o francês e o português. Além do mais, o alfabeto romano é utilizado até hoje na maioria dos países do mundo. Até mesmo línguas que não são de origem latina (alemão, por exemplo) utilizam o alfabeto romano. Os números romanos (algarismos), criados e usados na Roma antiga, também chegaram até nós. Porém, utilizamos atualmente este sistema mais para fazer referência aos séculos do que para cálculos matemáticos. TÓPICO 4 | O LEGADO DE ROMA 105 Para administrar o gigante império e ainda criar ordem dentro das cidades, os romanos desenvolveram leis, que deram origem posteriormente aos códigos jurídicos e ao Direito Civil. No mundo das artes, os romanos foram fortemente influenciados pelas artes visuais da Grécia antiga, por exemplo, na busca pela reprodução do corpo humano e dos elementos da natureza. Apesar de tudo o que compartilhavam em comum, na escultura, os romanos diferiam bastante dos gregos não representando o ideal de beleza, mas esculpindo cópias realistas das pessoas. Um exemplo disso é a estátua do imperador romano Augusto, criada por volta de 19 a.C. Atualmente está em exposição no Braccio Nuovo nos Museus Vaticanos. A estátua, baseada no Doríforo de Policleto do século V a.C., é uma imagem idealizada de Augusto, foi talhada em mármore e estava na casa de Lívia Drusa, esposa do imperador. Ainda contém alguns resquícios de tintas douradas, púrpuras, azuis e outras cores com as quais ela foi policromada. O realismo nas esculturas e pinturas, embora tenha sido deixado de lado na Idade Média, acabaria sendo resgatado posteriormente, na época do Renascimento, e preservado por várias correntes e escolas artísticas posteriores, chegando também até os dias de hoje. FIGURA 64 – AUGUSTO DE PRIMA PORTA. MÁRMORE 19 a.C. FONTE: Disponível em: <http://www.encicloarte.com/arte- romano/>. Acesso em: 29 set. 2017. A cultura popular romana retratava uma sociedade bastante violenta, já que aparentemente os romanos tinham paixão pelo massacre de animais e pessoas no Coliseu e em outros anfiteatros, bem como o hábito de crucificar como pena de morte. 106 UNIDADE 2 | ANTIGUIDADE CLÁSSICA: GRÉCIA E ROMA 4 ARQUITETURA ROMANA Ao longo de seu desenvolvimento como civilização, Roma absorveu a cultura dos etruscos, dos egípcios, dos gregos e de outros povos, compondo um império com um estilo de arte e de arquitetura bastante homogêneo. A exemplo do que ocorreu com a cultura, as técnicas de construção romanas eram uma fusão de várias fontes, principalmente etruscas e gregas, mas as formas da arquitetura eram, em geral, bastante originais. Os romanos conquistaram a Grécia, e embora admirassem os gregos em termos de vestuário, política, estilo arquitetônico e cultura geral, seus feitos de engenharia vão além dos da civilização grega que os antecedeu, com sua elegância e perfeccionismo estético. Um desses feitos é a ligação de seus extensos territórios conquistados por meio de uma rede de excelentesestradas. Outro são os aquedutos, fornecendo água a suas grandes cidades, trazida de colinas e montanhas a mais de 80 km de distância. Também se preocupavam em oferecer banhos e lavatórios públicos, esgoto e transporte público. Fizeram também grande uso de aquecimento subterrâneo. Construíam blocos de apartamentos que chegaram a ter oito andares. Isso foi possível através da descoberta do concreto. Os romanos misturavam areia vulcânica com calcário e outro material, por exemplo, ladrilho quebrado, o qual permitia que construíssem grandes estruturas, como as cúpulas, cobrindo grandes áreas sem sustentação direta. Esta invenção revolucionou a forma e as possibilidades da arquitetura. O uso do concreto permitiu que os romanos construíssem não apenas cúpulas, mas também abóbadas completas e grandes construções em arcos, como o Coliseu. Desse modo, puderam construir muito mais livremente e em grande escala. Como o concreto permitia construir sem o uso de colunas, muitas vezes estas eram utilizadas como elementos decorativos em templos, banhos públicos e arenas. Foi assim que surgiram as ‘pilastras’, que são colunas planas ou meias- colunas incorporadas às paredes. Apesar de para nós esses hábitos parecerem excessivamente brutais, devemos ter em mente que, dentro do contexto de sua época e local, nos quais a escravidão, o extermínio de civis por exércitos invasores e as punições violentas, como a crucificação, faziam parte dos sistemas judiciais vigentes, eram considerados normais tanto para os romanos quanto para outras culturas próximas. Por outro lado, eram bastante avançados em outras categorias. Eram, por exemplo, juristas e administradores competentes, davam bastante valor à vida familiar e à parte mais importante para você, estudante de Arquitetura: construtores extremamente talentosos e inovadores, como veremos em maiores detalhes ao avançar neste tópico. TÓPICO 4 | O LEGADO DE ROMA 107 Ao longo dos séculos os romanos foram aperfeiçoando suas técnicas e, atualmente, por conta da deterioração dos revestimentos das edificações remanescentes, podemos observar a evolução de suas técnicas construtivas com bastante clareza. As primeiras paredes de concreto eram feitas de pedregulho ao redor de um núcleo de concreto (opus incertum), uma técnica que foi sendo refinada até chegar às pedras piramidais (opus reticulatum), com faces quadradas e pontas inseridas na parede, gerando uma aparência externa mais lisa. Durante o império (depois de 27 a.C.), os romanos começaram a usar cada vez mais os tijolos triangulares como revestimento de concreto (opus testaceum), assentando esses blocos de modo a alcançar um exterior liso e uma face interna irregular, obtendo uma superfície de fixação máxima internamente. Por sua resistência, durabilidade e economia, o concreto se mostrou um material bastante versátil para edificação em larga escala, exatamente o que precisava o Império Romano, e em meados do século I d.C. já era utilizado com grande sofisticação. FIGURA 65 – CONSTRUÇÃO DE PAREDES DE CONCRETO NA ROMA ANTIGA. DA ESQUERDA PARA A DIREITA: OPUS INCERTUM, OPUS RETICULATUM E OPUS TESTACEUM Opus incertum Opus reticulatim Opus testaceum FONTE: Fazio (2011, p. 128) Dentre as tipologias mais importantes construídas pelos romanos estão os templos, as basílicas, os anfiteatros ou arenas, os estádios, os palácios e os fóruns (equivalentes às ágoras gregas). Os romanos criaram diversos tipos de edifícios públicos para funções específicas, por exemplo: a basílica, que servia a várias funções, como tribunal, comércio e reuniões. As basílicas de caráter religioso surgiram apenas mais tarde; os grandes auditórios jurídicos; as termas, isto é, edificações contendo recursos de banho e recreativos; e o teatro, que foi baseado no modelo grego, mas ampliado para se tornar um anfiteatro capaz de receber eventos maiores. Os templos romanos nunca eram construídos como estruturas isoladas, como ocorria na Grécia Clássica, mas sim como parte de um conjunto de edifícios organizados ao longo de um eixo, dentro de um contexto urbano, normalmente dos fóruns. 108 UNIDADE 2 | ANTIGUIDADE CLÁSSICA: GRÉCIA E ROMA As termas, ou banhos públicos, eram os maiores edifícios romanos com abóbadas. Eram edifícios equipados principalmente para higiene, mas também permitiam a prática de exercícios, o relaxamento e a socialização – atividades atualmente associadas aos spas e clubes de esportes. Essa diversidade de atividades exigia também uma diversidade de espaços: vestiários, latrinas, salas para banhos quentes, mornos e frios; equipamentos para a prática de exercícios, áreas de relaxamento e, se possível, jardins. O abastecimento adequado de água era primordial. Os torneios esportivos e as apresentações teatrais eram parte da cultura da Grécia antiga. Os romanos – que herdaram essas tradições e acrescentaram a elas as disputas de gladiadores dos etruscos – precisavam de teatros e arenas que pudessem comportar tais eventos. Os gregos costumavam escavar o volume dos teatros ou arenas em uma colina. Já os romanos edificavam esses equipamentos independentemente da topografia. Para que isso fosse possível, construíram grandes estruturas abobadadas, criando assim a inclinação necessária para a arquibancada, como veremos a seguir. Cada tipo de edifício trouxe novos desafios espaciais e construtivos, e todos contribuíram para o desenvolvimento da arquitetura. Por fim, os romanos fizeram extenso uso das ordens dórica, jônica e coríntia gregas, acrescentando a elas duas ordens próprias: a toscana, uma ordem dórica modificada (vinda dos etruscos) e a compósita, uma combinação das ordens jônica e coríntia. 4.1 ARQUITETURA DA REPÚBLICA ROMANA Para ajudar a compreender a arquitetura romana que surgiu durante o período republicano, contamos com uma obra de valor inestimável, muito citada nas universidades e faculdades de Arquitetura de todo o mundo ocidental, e de conhecimento geral dos estudantes e dos profissionais da arquitetura. Trata-se da obra chamada ‘Os Dez Livros da Arquitetura’ (De Architectura, em latim), escrita no final do século I a.C. por Marcus Vitruvius Pollio, conhecido em nosso meio simplesmente como Vitrúvio. O texto escrito por Vitrúvio descreveu, de forma muito detalhada, a arquitetura grega, e é o único do gênero. Tem grande importância histórica, pois é o único tratado clássico de arquitetura que sobreviveu até os dias atuais. Além disso, foi o único conhecido pelos estudiosos da Renascença, influenciando a arquitetura produzida no período, e fundamentada em três princípios: Utilitas (comodidade e função); Firmitas (solidez); Venustas (beleza). Chamamos a esta trilogia de princípios de ‘Tripé Vitruviano’, e estes valores regeram não apenas a arquitetura romana, mas influenciaram diversos arquitetos de tempos posteriores, sendo citados ainda hoje como boas referências de projetos e obras de arquitetura. TÓPICO 4 | O LEGADO DE ROMA 109 FIGURA 67 – PONT DU GARD, NIMES, FRANÇA, SÉCULO I A.C. FONTE: Disponível em: <https://www.camping-les-plans.fr/en/camping-pont-gard/>. Acesso em: 27 set. 2017. Os temas debatidos por Vitrúvio englobam o projeto de edificações, a engenharia militar, o projeto de máquinas e até o planejamento urbano, indicando que os arquitetos daquele tempo tinham um escopo de trabalho muito mais amplo do que temos na atualidade. O avanço nas técnicas construtivas, anteriormente descritas, foi utilizado inicialmente para funções utilitárias. Um dos melhores exemplos da engenharia romana remanescentes é provavelmente um longo aqueduto, de 274 metros, chamado Pont Du Gard, localizado em Nimes, na França. Do século I a.C., levava água para a cidade de Nimes em um canal 55 metros acima do rio Gard. O projeto deste aqueduto é extremamente simples: as duas camadas inferiores são fileiras idênticas de arcos plenos com 18 metros de diâmetro, exceto no vão sobre o rio, onde têm 24 metros. A arcada superior
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