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Manual-1.indd 1 3/12/18 9:09 AM FICHA TÉCNICA I Titulo: Relatório do Estudo Holístico da Situação do Professor em Moçambique, 2015 Edição: Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano (MINEDH) Copyrigth: MINEDH Autor: MINEDH Coordenação: Feliciano Mahalambe Revisão Linguística: Artur Bernardo Minzo Revisão de Gráficos e Dados Estatísticos: Carlos Lauchande Revisão Final: Célia Zandamela Maquetização e Arranjo Gráfico: Symfodesign Lda Ilustração: Crisóstomo Zefanias Uamusse Impressão: Académica, Lda Tiragem: 300 exemplares No. de Registo: 9313/RLINLD/2017 Maputo - Moçambique, 2017 Manual-1.indd 2 3/12/18 9:09 AM AGRADECIMENTOS O Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano agradece às instituições parceiras que deram o seu apoio técnico e financeiro para a realização deste estudo. Os autores são responsáveis pela escolha e apresentação dos factos contidos neste Relatório, assim como pelas questões expressas, as quais não são necessariamente compartilhadas pelas instituições parceiras, nem são da sua responsabilidade. As denominações empregadas e a apresentação do material no decorrer desta obra não implicam a expressão de qualquer opinião que seja da parte das instituições parceiras no que se refere à condição legal de qualquer país, território, cidade ou área, ou de suas autoridades, ou a delimitação de suas fronteiras ou divisas. II Manual-1.indd 3 3/12/18 9:09 AM EQUIPAS DE TRABALHO Equipa de Coordenação 1. Feliciano Mahalambe- DNFP/MINED (Coordenador Nacional) 2. Noel Chicuecue (UNESCO Maputo) 3. Daniel Nivagara (Universidade Pedagógica-Maputo) Equipa de Supervisão da Qualidade Científica 1. Joaquim Matavele 2. Stela Duarte 3. Marcos Cherinda 4. Adriano Fanissela Niquice 5. Bendita Donaciano 6. Luís Ventura Bila 7. Inocente Vasco Mutimucuio 8. Manuel Bazo 9. Miguel Buendia Gomez 10. Bento Rupia Equipas Técnicas de Elaboradores Capítulo 1: Contexto geral da Educação em Moçambique (demográfico, macroeconómico e orçamental, escolar e do corpo docente) 1. Destina Uinge-INE (Coordenadora da equipa) 2.António Armando (ONP) 3.Cassiano Chipembe (INE) 4.David Uassane Chinavane (MINEDH) Capítulo 2: As necessidades de professores em Moçambique (projecções estatísticas) 1. Constâncio Victor Adelino-MINEDH (Coordenador da equipa) 2. Judas Larçane Baloi (MINEDH) Capítulo 3: A formação de professores em Mpçambique (análise da formação de professores, análise estatística e análise de eficácia) 1. Jaime da Costa Alípio –UP (Coordenador da equipa) 2. Fernando Rachide (MINEDH) 3. Felizardto Semente (ONP) 4. Elisa Langa (IBIS) Capítulo 4: Gestão de professores em Moçambique (Recrutamento, colocação, absentismo e deserção) 1. Arsénio Jorge Monjane- MINEDH (Coordenador da equipa) 2. Inês Tembe Magode (MINEDH) 3.Maria Ivone Tamele (MINEDH) 4. Emília Francisco Paulo Dimande Osman (MINEDH) Capítulo 5: Gestão de professores (Estatuto Profissional, remuneração e carreiras) 1. Marcela dos Santos Lucas-MINEDH (Coordenadora da equipa) 2. José Mário Jeque (ONP) 3. Rosa Ernesto Tomé (ONP) 4. Armindo Tomás Mutimba (MINEDH) Capítulo 6: Contexto Profissional e Social do Professor em Moçambique (análise da satisfação de professores, mecanismos de diálogo social) 1. Manuel Zianja Guro-INDE (Coordenador da equipa) 2. David Lourenço Uamusse (MINEDH) Equipa de Assistência Técnica Internacional 1. Edem Adubra (TASK FORCE Internacional-Paris) 2. Arnaldo Nhavoto (ICCBA-Addis Ababa) 3. Marcelo Souto (IIPE-Buenos Aires) Revisores 1. Carlos Lauchande- Revisão de gráficos e dados estatísticos 2. Artur Bernardo Minzo – Revisão linguística 3. Célia Zandamela – Revisão final do texto III Manual-1.indd 4 3/12/18 9:09 AM IV PREFÁCIO Estimado leitor, O Relatório do Estudo Holístico sobre a Situação do Professor em Moçambique, que colocamos à sua disposição, é um documento de grande utilidade na concepção de uma Política Global sobre os Professores em Moçambique. O documento contém informação importante e de interesse profissional relacionada com os contextos laborais da actividade docente, a estimativa de necessidades em professores; os modelos de formação dos professores desde a independência nacional até à actualidade; a gestão dos professores no concernente ao recrutamento, colocação, absentismo e cessação de exercício e estatuto profissional, remuneração, carreira, bem como sobre o exercício e prática profissionais e do papel e desempenho dos professores, que ajudará a conhecer aspectos essenciais da vida laboral e profissional do professor. Estamos cientes de que uma visão geral sobre as condições de vida e profissionais dos professores e a consequente tomada de medidas no sentido de seu melhoramento é condição imprescindível para o alcance da Educação para todos e para a melhoria da qualidade de ensino. Os professores e educadores sempre estiveram na linha da frente no combate à ignorância e ao analfabetismo. Estamos confiantes de que continuarão com o mesmo entusiasmo, empenho, espírito de luta e de trabalho árduo para garantir a qualidade do ensino que todos almejamos no nosso País. Ao fornecer uma análise holística que conduza à elaboração de uma Política Global sobre Professores, esperamos que o Relatório do Estudo Holístico sobre a Situação do Professor em Moçambique seja uma mais-valia no desenvolvimento da Educação em Moçambique. “Vamos aprender” Construindo competências para um Moçambique em constante desenvolvimento! CONCEITA ERNESTO XAVIER SORTANE Ministra da Educação e Desenvolvimento Humano Manual-1.indd 5 3/12/18 9:09 AM SUMÁRIO EXECUTIVO Desde a independência nacional, proclamada a 25 de Junho de 1975, o Governo da República de Moçambique encara a Educação como um direito fundamental de cada cidadão, um instrumento para a formação e a integração do indivíduo na sociedade, bem como um factor indispensável para a continuação da construção de uma sociedade e para o combate à pobreza (MINED-PEE, 2010/2012/2016). O investimento na Educação é uma das prioridades do Governo, nos seus planos nacionais de desenvolvimento, tendo como objectivo educar os cidadãos a desenvolver a auto-estima e o espírito patriótico. A visão de desenvolvimento da escolarização básica e de uma educação ao longo da vida enquadra- se no compromisso do Governo Moçambicano com a Declaração de Dakar “Educação para Todos (2000) ” e engloba os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), adoptados na Assembleia Geral das Nações Unidas, em Setembro de 2000. Para a Educação, os ODM incluem a eliminação da desigualdade de género no Ensino Primário e Secundário (até 2005) e a conclusão do Ensino Primário, tanto para rapazes como para raparigas, até 2015. Ciente de que a realização dos seus objectivos está, inexoravelmente, ligada à actividade dos professores e da sua condição profissional e, para compreender as questões relacionadas com os professores, o Ministério da Educação, aderiu à Iniciativa Internacional da UNESCO, inicialmente orientada para os países da África Sub-Sahariana para a formação de professores. Trata-se de uma iniciativa lançada em 2006 pela UNESCO, com vista a apoiar os Estados-membros no diagnóstico holístico sobre a situação do contexto profissional e social do professor em diversas questões relacionadas com a docência. Na adesão à esta iniciativa, os países definem claramente as suas necessidades em termos de força de trabalho de docentes e mobilizam apoios de diferentes agências e organismos nacionais e internacionais no desenho de políticas sectoriais para os professores que sirvam de suporte para o alcance da escolarização universal. O Estudo Holístico sobre a Situação dos Professores resulta da aceitação da solicitação de adesão à iniciativa feita pelo Ministério da Educação à Directora-Geral da UNESCO em 2011. O objectivo geral do Estudo Holístico sobre a Situação do Professor em Moçambique é diagnosticar a situação global das questões sobreos professores, tendo como foco dados relacionados com os professores do Ensino Primário e do Ensino Secundário Geral. Trata-se de uma análise holística do contexto profissional docente para projectar e definir estratégias de formação (inicial e em exercício), de contratação e de gestão de carreira, para a melhoria de qualidade de aprendizagem no sistema educativo. V Manual-1.indd 6 3/12/18 9:09 AM VI Este estudo obedeceu a um guião metodológico definido pela Iniciativa Internacional da UNESCO que garante a elaboração de relatórios comparáveis entre os países que aderem à iniciativa. No seguimento do guião, foram constituídas quatro equipas de trabalho: equipa de Coordenação do Estudo, com funções operacionais executivas na realização do estudo; equipa de Coordenação e Supervisão Política, com funções de acompanhamento, monitoria e garantia da realização do estudo; equipa de Assistência Técnica Internacional, com a função de assessoria e avaliação técnica da regularidade da realização do Estudo; a equipa Técnica Nacional, dividida em duas - a de elaboração de cada um dos seis capítulos e a de Supervisão da Qualidade Científica, com a responsabilidade de garantir a qualidade de escrita e o rigor científico na elaboração do relatório do Estudo. O presente Relatório compreende seis capítulos, conclusões e algumas recomendações, uma categorização adaptada na estrutura recomendada pelo guião metodológico. O primeiro capítulo, “Contexto Geral da Educação em Moçambique”, debruça-se sobre aspectos genéricos, demográficos, macroeconómicos e orçamentais, correlacionando-os com a rede escolar e o corpo docente; o segundo capítulo, “Necessidades de Professores em Moçambique”, apresenta cenários de simulação de projecções estatísticas da rede escolar, de taxas de escolarização e das necessidades de professores numa visão temporal de longo prazo; o terceiro capítulo, “A Formação de Professores em Moçambique”, dedica-se à análise de vários aspectos sobre a formação inicial e em exercício de professores, considerando os diferentes modelos implementados, a eficiência e eficácia das instituições de formação. O quarto capítulo, “Gestão dos Professores em Moçambique”, consiste na análise da gestão dos professores quanto ao recrutamento, colocação, absentismo e deserção na carreira; enquanto o quinto, embora tenha também a designação “Gestão dos Professores em Moçambique”, reserva-se à análise da gestão dos professores com foco no estatuto profissional, na remuneração e na carreira docente. O sexto capítulo, “Contexto Profissional e Social do Professor em Moçambique”, apresenta a análise sobre a inserção e o prestígio social do professor, a satisfação e insatisfação do professor no ambiente de trabalho, incluindo a análise de mecanismos de diálogo social na carreira docente. As conclusões gerais do estudo apresentam os principais seguimentos e cenários a considerar na definição de estratégias e políticas futuras sobre a formação e admissão de professores no sistema educativo moçambicano, para que o País possa ter sucesso na atracção dos melhores professores, na melhoria do nível de formação, na oferta de benefícios adequados para reter os melhores professores no sistema, principalmente nas zonas rurais, na garantia da equidade na admissão e colocação de professores e no fortalecimento do sistema de gestão dos professores no sistema educativo. Este Relatório resulta do estudo realizado por uma equipa nacional e multissectorial, envolvendo técnicos seleccionados intencionalmente, de acordo com as funções e necessidades específicas de cada capítulo, descritas no guião metodológico. De salientar que o mesmo foi concluído em 2015. Manual-1.indd 7 3/12/18 9:09 AM Destaca-se o papel fundamental do então Ministro da Educação, Dr. Zeferino Andrade de Alexandre Martins, para a realização deste estudo e o envolvimento de funcionários do Ministério da Educação (actual Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano), do Ministério das Finanças (actual Ministério da Economia e Finanças), do Instituto Nacional de Estatística, Professores da Universidade Eduardo Mondlane e da Universidade Pedagógica e representantes da Organização Nacional dos Professores. Para garantir a sua aprovação e validação no contexto da UNESCO, a realização do Estudo foi tecnicamente acompanhada e assistida por uma equipa de funcionários séniores das instituições da UNESCO, destacando-se UNESCO-Escritório de Maputo, Task Force Internacional para professores para Educação para Todos da UNESCO-Paris (Teacher EFA), Instituto Internacional do Desenvolvimento das Capacidades em África-IICBA-UNESCO-Addis Abeba, Instituto Internacional de Planificação Educacional- IIPE-UNESCO-Buenos Aires e BREDA-UNESCO-Polo de Dakar. VII Manual-1.indd 8 3/12/18 9:09 AM VIII ÍNDICE 1. CAPÍTULO 1 : CONTEXTO GERAL DA EDUCAÇÃO EM MOÇAMBIQUE....................................1 1.1 Introdução.............................................................................................................................1 1.2 Apresentação Geral do País.................................................................................................1 1.3 Contexto Político-Administrativo...........................................................................................2 1.3.1 Contexto político........................................................................................................2 1.3.2 Contexto administrativo.............................................................................................3 1.3.2.1 Unidades administrativas..............................................................................3 1.3.2.2 Atribuições e funções educativas exercidas pelas unidades administrativas...4 1.3.3 Documentos orientadores da política educativa em Moçambique............................5 1.4 Contexto Demográfico...................................................................................................... ...5 1.4.1 Tamanho e estrutura da população...........................................................................5 1.4.2 Estrutura por sexo e idade.........................................................................................6 1.4.3 Distribuição territorial da população..........................................................................7 1.4.3.1 Taxas de crescimento...................................................................................7 1.4.4 Línguas moçambicanas do grupo bantu, 2007..........................................................8 1.4.5 População economicamente activa...........................................................................8 1.4.6 Indicadores de desenvolvimento humano.................................................................9 1.4.6.1 PIB per capita total segundo unidade territorial............................................9 1.4.6.2 Taxa de analfabetismo, total por sexo e unidade territorial.........................10 1.4.6.3 Taxa de mortalidade infantil, unidade territorial...........................................11 1.4.6.4 Índice de desenvolvimento humano (série histórica)..................................12 1.5 Contexto Macroeconómico e Orçamental...........................................................................13 1.5.1 Distribuição do PIB por ramos de actividade a preços constantes e correntes......13 1.5.2 Principais importações e exportações.....................................................................13 1.5.3 Investimento educacional........................................................................................13 1.5.3.1 Produto Interno Bruto em preços correntes e constantes..........................13 1.5.3.2 Gasto público em preços correntes, total e % em relação ao PIB por sectores.14 1.5.3.3 Gasto público em educação em preços correntes,total e em % em relação ao PIB e % em relação ao gasto público total............................................................14 1.5.3.4 Gasto privado / familiar em educação...................................................................16 1.6 Contexto Escolar.................................................................................................................16 1.6.1 Tamanho da população em idade escolar...............................................................16 1.6.1.1 Taxa de crescimento da população em idade escolar.................................16 1.6.2 Projecções de crescimento da população em idade escolar...................................16 1.7 Corpo Docente..................................................................................................................17 1.7.1 Número de professores com e sem formação pedagógica, por província................17 Manual-1.indd 9 3/12/18 9:09 AM 1.7.2 Rácio professor aluno por unidade territorial, nível educativo e sexo nos últimos dez anos..................................................................................................................17 1.7.3 Cobertura escolar.....................................................................................................18 1.7.4 Taxa bruta de escolarização no Ensino Primário, por província segundo o sexo...20 1.7.5 Quantidade de vagas oferecidas na rede escolar no ensino primário, por sexo segundo a província (taxa de admissão).................................................................21 1.7.6 Eficiência interna.....................................................................................................22 1.7.6.1 Taxa de repetição nos últimos dez anos por unidade territorial, nível educativo e sexo........................................................................................22 1.7.6.2 Taxa de abandono nos últimos dez anos por sexo segundo a província...22 1.7.7 Razões de insatisfação dos alunos.........................................................................23 1.7.8 Taxa de conclusão nos últimos dez anos por nível educativo e sexo segundo a província...................................................................................................................24 1.8 Conclusão............................................................................................................................25 2. CAPÍTULO 2: NECESSIDADES DE PROFESSORES..................................................................26 2.1 Introdução...........................................................................................................................26 2.2 Projecção Sobre a Necessidade de Professores para o Ensino Primário do Primeiro Grau (EP1).........................................................................................................................26 2.2.1 Projecção da população em idade escolar do ensino primário do primeiro grau EP1.........................................................................................................................27 2.2.2 Projecção linear das principais variáveis da educação para uma taxa de admissão universal no EP1.................................................................................................27 2.2.3 Número de professores necessários no EP1..........................................................28 2.3 Projecção Sobre a Necessidade de Professores para o Ensino Primário do Segundo Grau (EP2)..........................................................................................................................30 2.3.1 Projecção da população em idade escolar para o ensino primário do segundo grau (EP2)...............................................................................................................31 2.3.2 Projecção linear das principais variáveis da educação no ensino primário do segundo grau (EP2)................................................................................................31 2.3.3 Projecção de professores para o ensino primário do segundo grau (EP2)....................32 2.4 Projecção das Necessidades de Professores para o Ensino Secundário Geral do Primeiro Ciclo (ESG1).........................................................................................................34 2.4.1 Projecção da população em idade escolar para o ensino secundário geral do primeiro ciclo (ESG1)..............................................................................................34 2.4.2 Projecção linear das principais variáveis da educação para o ensino secundário geral do primeiro ciclo (ESG1)..............................................................35 IX Manual-1.indd 10 3/12/18 9:09 AM X 2.4.3 Número de professores necessários no ensino secundário geral do primeiro ciclo (ESG1)............................................................................................................36 2.5 Projecção da Necessidade de Professores para o Ensino Secundário do Segundo Ciclo (ESG2)........................................................................................................................39 2.5.1 Projecção da população em idade escolar para o ensino secundário geral do segundo ciclo (ESG2)..............................................................................................39 2.5.2 Projecção linear das principais variáveis da educação para o ensino secundário geral do segundo ciclo (ESG2)….........................................................................…39 2.5.3 Número de professores necessários no ensino secundário geral do segundo ciclo (ESG2)............................................................................................................41 2.6 Principais Constatações e Conclusões...............................................................................43 3. CAPÍTULO 3: A FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM MOÇAMBIQUE...................................45 3.1 Introdução...........................................................................................................................45 3.2 Historial da Formação de Professores em Moçambique....................................................45 3.2.1 Período transitório de formação de professores (1975 - 1976)................................45 3.2.2 Período de consolidação da formação de professores para o SNE (1977- 1991).......................................................................................................................46 3.2.3 Período de reforma do SNE e de reconstrução da rede escolar (1992 à presente data).........................................................................................................47 3.3 Perfil de Formação dos Actuais Professores em Exercício................................................47 3.3.1 Relação candidato-vaga no ingresso aos institutos de formação de professores..............................................................................................................49 3.3.2 Construção de modelos de formação de professores em Moçambique.................50 3.3.3 Procedimentos de admissão aos institutos de formação de professores do ensino primário........................................................................................................55 3.3.4 Duração dos cursos de formação inicial..................................................................55 3.3.5 Programa de formação............................................................................................55 3.3.6 Modalidades de ensino e supervisão durante a formação inicial............................55 3.3.7 Procedimentos de avaliaçãoe certificação dos docentes que concluem a formação inicial........................................................................................................56 3.3.8 Vínculo (relação) entre formação contínua e carreira docente................................57 3.4 Conceitos Essenciais Usados no Tratamento da Formação em Exercício.........................57 3.5 Formação em Exercício para o Ensino Primário.................................................................58 3.6 Situação dos Professores Quanto à Formação Profissional...............................................61 3.7 Principais Constatações......................................................................................................64 Manual-1.indd 11 3/12/18 9:09 AM 4. CAPÍTULO 4: GESTÃO DOS PROFESSORES EM MOÇAMBIQUE - RECRUTAMENTO, COLOCAÇÃO ABSENTISMO E DESERÇÃO..............................................................................65 4.1 Introdução............................................................................................................................65 4.2 Análise de Procedimentos de Recrutamento e Colocação de Professores........................65 4.2.1 Constituição da Relação de Trabalho no Estado....................................................65 4.3 Demanda de Docentes........................................................................................................67 4.4 Critério de Contratação do Docente Eventual.....................................................................68 4.5 Procedimentos do Processo de Contratação do Pessoal Docente.....................................69 4.5.1 Processo de Contratação e Colocação de Professores............................................69 4.6 Responsabilidade dos Intervenientes..................................................................................70 4.7 Análise de Mecanismos de Controlo de Assiduidade e Absentismo...................................73 4.8 Análise e Controlo de Abandono (Mobilidade) na Carreira Docente...................................74 4.9 Considerações e Conclusões..............................................................................................77 5. CAPÍTULO 5- GESTÃO DOS PROFESSORES EM MOÇAMBIQUE: ESTATUTO PROFISSIONAL. REMUNERAÇÃO E CARREIRAS.....................................................................78 5.1 Introdução...........................................................................................................................78 5.2 Análise da Carreira Docente...............................................................................................78 5.2.1 Estatuto profissional................................................................................................78 5.3 Qualificação para a Carreira Docente: Antecedentes e Situação Actual.............................81 5.4 Análise da Gestão da Carreira Docente..............................................................................86 5.5 Sistema de Progressão e Promoção na Carreira Docente.................................................86 5.6 Análise da Gestão da Evolução na Carreira Docente.........................................................91 5.7 Análise Comparativa da Remuneração dos Docentes........................................................92 5.7.1 Formas para pagamento de salários.......................................................................96 5.7.2 Prazo de pagamento...............................................................................................96 5.7.3 Componentes da remuneração...............................................................................97 5.7.4 Direito ao bónus especial........................................................................................97 5.7.5 Direito ao subsídio de localização...........................................................................97 5.8 Remuneração em Período de Formação............................................................................98 5.9 Remuneração por trabalho docente extraordinário.............................................................98 5.10 Factor 1.5............................................................................................................................98 5.11 Redução da Carga Horária.................................................................................................99 5.11.1 Bónus de rendibilidade..........................................................................................102 5.11.2 Bónus de rendibilidade para o pessoal docente....................................................102 5.12 Análise dos salários e remunerações................................................................................102 5.13 Considerações Gerais e Conclusões ................................................................................104 XI Manual-1.indd 12 3/12/18 9:09 AM XII 6. CAPÍTULO 6: CONTEXTO PROFISSIONAL E SOCIAL DO PROFESSOR EM MOÇAMBIQUE...106 6.1 Introdução.........................................................................................................................106 6.2 Análise de Satisfação/ Insatisfação dos Professores (Salário, Ambiente de Trabalho, Auto-Estima e Autonomia Profissional).............................................................................106 6.3 Satisfação de Professores Vis-à-Vis a sua Situação Profissional.....................................108 6.4 Causas da Insatisfação Profissional Docente...................................................................108 6.4.1 Situação Salarial....................................................................................................109 6.4.2 Condições de trabalho (rácio aluno-professor ).....................................................110 6.4.3 Falta de material didáctico e sua qualidade...........................................................111 6.4.4 Discrepância na mudança de classe em relação à experiência profissional.........111 6.4.5 Pagamento das horas extras.................................................................................112 6.5 Análise do Contexto Social (Inserção, Prestígio Social e ser Cidadão Confiante e Responsável).....................................................................................................................113 6.6 Análise de Satisfação dos Mecanismos de Diálogo Social (Sindicalização de Professores, Reconhecimento pelas Autoridades).................................................................................114 6.7 Considerações e Conclusões............................................................................................116 7. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES...................................................................................117 8. BIBLIOGRAFIA............................................................................................................................122 9. ANEXOS.......................................................................................................................................130 Manual-1.indd 13 3/12/18 9:09 AM XIII LISTA DE TABELAS Tabela 1.1: PIB per capita Moçambique 2007-2011..................................................................................9 Tabela 1.2: Taxas de analfabetismo por sexo, segundo a área de residência........................................10 Tabela 1.3: Taxas de mortalidade infantil, segundo a área de residência e província, Moçambique 1997- 2007.....................................................................................................................................................................11 Tabela 1.4: Índice de Desenvolvimento Humano em Moçambique, 2007-2011......................................12 Tabela 1.5: Gasto público em educação total e em %em preços correntes, Moçambique 2008 – 2010 (valores em 106MT)...............................................................................................................14 Tabela 1.6: Gasto público em relação ao PIB a preços correntes, 2008-2010, valores em 106MT)........15 Tabela 1.7: Despesas das famílias em educação (106MT).....................................................................16 Tabela 1.8: Taxa líquida de escolarização do Ensino Primário, Moçambique, 2007-2011......................19 Tabela 1.9: Taxa Bruta de Escolarização no Ensino Primário, Moçambique, 2007-2011........................20 Tabela 1.10: Quantidade de vagas oferecidas na rede escolar no Ensino Primário por sexo segundo província (taxa de admissão na 1ª classe)............................................................................21 Tabela 1.11: Taxa de repetição no Ensino Primário por sexo, segundo a província......................................22 Tabela 1.12: Taxa de Desistência no Ensino Primário, Mocambique, 2007-2010.....................................23 Tabela 1.13: Percentagem de alunos insatisfeitos nas escolas e causas da insatisfação, Moçambique, 2004/5 e 2008/9....................................................................................................................23 Tabela 1.14: Taxa de conclusão no Ensino Primário, Moçambique, 2007-2010........................................24 Tabela 2.1: População em idade escolar para o EP1..............................................................................27 Tabela 2.2: Principais indicadores do EP1, diurno - dados históricos......................................................28 Tabela 2.3: Principais indicadores do EP1, diurno - projecção................................................................28 Tabela 2.4: Necessidade de professores do EP1 - dados históricos.......................................................29 Tabela 2.5: Projecção da necessidade de professores para o EP1........................................................29 Tabela 2.6: Números de professores a recrutar anualmente...................................................................30 Tabela 2.7: Projecção do número de professores necessários por sector de educação supondo RAP igual.......................................................................................................................................30 Tabela 2.8: População em idade escolar para o EP2 (11-12 anos).........................................................31 Tabela 2.9: Principais indicadores da Educação para o EP2 diurno - dados históricos..........................32 Tabela 2.10: Principais indicadores da educação para o EP2 diurno - projecções...................................32 Tabela 2.11: Necessidade de professores no EP2, diurno - dados históricos...........................................33 Tabela 2.12: Necessidade de professores para EP2- projeções...............................................................33 Tabela 2.13: Número de professores a recrutar anualmente, público e diurno.........................................33 Tabela 2.14: Distribuição das necessidades de professores por sector da educação do EP2..................34 Tabela 2.15: População em idade escolar para ESG1...............................................................................35 Tabela 2.16: Principais indicadores da educação no ESG1 - dados históricos..................................................35 Tabela 2.17: Principais indicadores da educação no ESG1 - projecção....................................................36 Tabela 2.18: Números de alunos matriculados ESG1 - dados históricos...........................................................36 Tabela 2.19: Números de alunos matriculados no ESG1 - projecções......................................................37 Manual-1.indd 14 3/12/18 9:09 AM Tabela 2.20: Necessidade de professores para o ESG1, diurno - dados históricos..........................................37 Tabela 2.21: Necessidades gerais de professores para ESG1, diurno - previsão......................................38 Tabela 2.22: Previsão de professores por sector, diurno, supondo igual o rácio alunos-professor............38 Tabela 2.23: Necessidades anuais de recrutamento de professores para ESG1 curso diurno, público....38 Tabela 2.24: População em idade escolar para o ESG2............................................................................39 Tabela 2.25: Indicadores principais da educação no ESG2, diurno - dados históricos...................................40 Tabela 2.26: Principais indicadores da educação no ESG2, diurno - previsão..........................................40 Tabela 2.27: Número de matriculados no ESG2 diurno - histórico.............................................................41 Tabela 2.28: Número de matriculados no ESG2 diurno - previsão.............................................................41 Tabela 2.29: Necessidade de professores para o ESG2, diurno público - dados históricos...........................42 Tabela 2.30: Necessidades gerais de professores para ESG2 (diurno e público) - previsão.....................42 Tabela 2.31: Necessidades anuais de professores por sector no ESG2 (diurno e público) - dados históricos.....................................................................................................................43 Tabela 2.32: Necessidades anuais de recrutamento de professores do ESG2, público, diurno................43 Tabela 2.33: Previsão do número de professores por nível de ensino.......................................................44 Tabela 3.1: Relação entre vagas oferecidas e candidatos à formação docente nos IFP..........................49 Tabela 3.2: Instituições de formação de professores do Ensino Primário...............................................51 Tabela 3.3: Instituições que tiveram os primeiros ingressos de 10ª+1 em 2007......................................52 Tabela 3.4: Instituições que testam o novo currículo................................................................................53 Tabela 3.5: Módulos dos IFP.....................................................................................................................59 Tabela 4.1: Projecção da demanda de professores.................................................................................67 Tabela 4.2: Evolução do número de professores e do rácio alunos-professor (2006-2011).....................71 Tabela 4.3: Evolução do número de professores, público e comunitário..................................................71 Tabela 4.4: Total de professores sem formação pedagógica do ensino público e comunitário................72 Tabela 4.5: Casos de cessação de exercício de actividade pelos professores (2007-2011)....................75 Tabela 4.6: Casos de cessação de exercício de actividade pelos professores por regiões (2007-2011)....76 Tabela 5.1: Requisitos académicos para estatuto de docente contratado e tempo de serviço mínimo para o estatuto de funcionário................................................................................................79 Tabela 5.2: Estatuto profissional de docente por nível educacional.........................................................81 Tabela 5.3: Carreira docente do Ensino Primário no período colonial......................................................81 Tabela 5.4: Carreira docente no período pós-independência...................................................................82 Tabela 5.5: Carreira docente actual..........................................................................................................83 Tabela 5.6: Docentes por carreira e nível de ensino que leccionam (Ensino Primário-EP e EnsinoSecundário Geral-ESG).........................................................................................................85 Tabela 5.7: Estrutura da carreira docente mista por classe e escalões/índices.......................................87 Tabela 5.8: Estrutura da carreira docente de classe única ou horizontal (escalões/ índices)..................88 Tabela 5.9: Situação de progressão dos docentes enquadrados nas carreiras de Classe Única (2007- 2011)......................................................................................................................................88 Tabela 5.10: Situação de progressão dos docentes enquadrados nas carreiras de Classe Mista (2007- XIV Manual-1.indd 15 3/12/18 9:09 AM XV 2011)......................................................................................................................................89 Tabela 5.11: Docentes do quadro por ano de ingresso e situação de promoção automática e por tempo de serviço nas carreiras mistas ( 2007-2011)........................................................................90 Tabela 5.12: Tabela salarial referente ao ano 2012 para a Carreira Docente de Classe Mista..................92 Tabela 5.13: Tabela salarial referente ao ano 2012 para a Carreira Docente de Classe Única.................93 Tabela 5.14: Evolução do salário dos docentes (2007-2011).....................................................................94 Tabela 5.15: Comparação entre salários das carreiras de Regime Geral e Específicas e das carreiras de Regime Especial da Educação.........................................................................................95 Tabela 5.16: Comparação entre salários das carreiras de Regime Especial da Educação, do Ministério da Justiça e da Autoridade Tributária....................................................................................96 Tabela 5.17: Tabela de atribuição do bónus especial.................................................................................97 Tabela 5.18: Tabela das percentagens do Subsídio de Localização..........................................................97 Tabela 5.19: Reduções na carga horária por tipo de escola.......................................................................99 Tabela 5.20: Dados comparativos sobre o total de docentes na sala de aula e o número de docentes com horas extraordinárias por província..............................................................................100 Tabela 5.21: Dados comparativos sobre o total de docentes na sala de aula e o número de docentes com segunda turma por província........................................................................................101 LISTA DE FIGURAS Figura 1.1: Divisão Administrativa de Moçambique....................................................................................1 Figura 1.2: Esquema de correspondência entre as unidades administrativas e os órgãos da Educação....4 Figura 1.3: Evolução do RAP....................................................................................................................18 Figura 2.1: Taxa anual de crescimento da população dos 6 aos 10 anos……………..............................27 Figura 2.2: Taxa de crescimento anual da população dos 11 aos 12 anos..............................................31 Figura 2.3: Taxa de crescimento anual da população em idade escolar para o ESG1............................35 Figura 2.4: Taxa de crescimento anual da população em idade escolar para ESG2...............................39 Figura 3.1: Matriculados e graduados......................................................................................................53 Figura 3.2: Relação entre graduados e necessidade de contratação por ano.........................................54 Figura 3.3: Situação dos professores quanto à formação profissional.....................................................61 Figura 3.4: Atribuição de formação em exercício (2006-2010).................................................................62 Figura 4.1: Evolução do número de professores......................................................................................68 Figura 5.1: Exemplo de evolução nas carreiras........................................................................................87 Figura 6.1: Satisfação com a profissão e a escola.................................................................................107 Figura 6.2: Situação salarial....................................................................................................................109 Figura 6.3: Membros da ONP..................................................................................................................115 Manual-1.indd 16 3/12/18 9:09 AM LISTA DE ABREVIATURAS E ACRÓNIMOS ADPP Ajuda para Desenvolvimento do Povo para Povo CFPP Centros de Formação de Professores Primários CNECE Conselho Nacional de Exames, Certificação e Equivalências CRESCER Cursos de Reforço Escolar: Sistemáticos, Contínuos, Experimentais e Reflexivos DDP Departamento de Direcção Pedagógica DIPLAC Direcção de Planificação e Cooperação DFID Department for International Development DN Docente do Nível (1, 2, 3, 4, 5) DNFP Direcção Nacional de Formação de Professores DPC Desenvolvimento Profissional Contínuo DPEC Direcção Provincial de Educação e Cultura DPPF Direcção Provincial do Plano e Finanças EFA Education For All EFEP Escola de Formação e Educação de Professores EDA Equipas Distritais de Apoio EGFAE Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado ENA Equipas Nacionais de Apoio EPA Equipas Provinciais de Apoio EZA Equipas Zonais de Apoio EP Ensino Primário EP1 Ensino Primário do primeiro grau EP2 Ensino Primário do segundo grau ESG Ensino Secundário Geral ESG1 Ensino Secundário Geral do primeiro ciclo ESG2 Ensino Secundário Geral do segundo ciclo ETP Ensino Técnico Profissional FE Faculdade de Educação FGE Formação de Gestores Escolares FPD Formação de Professores à Distância HIV Vírus de Imunodeficiência Humana IAP Instituto de Aperfeiçoamento de Professores IDH Índice de Desenvolvimento Humano IEDA Instituto de Educação Aberta e à Distância IFP Instituto de Formação de Professores IMAP Instituto de Magistério Primário IMP Instituto Médio Pedagógico XVI Manual-1.indd 17 3/12/18 9:09 AM INDE Instituto Nacional de Desenvolvimento da Educação INE Instituto Nacional de Estatística INEF Instituto Nacional de Educação Física EPF Escola de Professores do Futuro ISP Instituto Superior Pedagógico MINED Ministério da Educação MINEDH Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano MEPCPM Mozambique Education Policy Costing Planning Model NUFORP Núcleo de Formação de Professores ODM Objectivos de Desenvolvimento do Milénio OE Orçamento do Estado ONG Organização Não Governamental ONP Organização Nacional dos Professores ONU Organização das Nações Unidas OTEO Orientações e Tarefas Escolares Obrigatórias PCFP Professores com Formação Psico-Pedagógica PDPC Programa de Desenvolvimento Profissional Contínuo PEA População Economicamente Activa PEE Plano Estratégico de Educação PEEC Plano Estratégico de Educação e Cultura PES Plano Económico e Social PIB Produto Interno Bruto PSFP Professores sem Formação Psico-Pedagógica RAP Rácio alunos-professor REG Repartição de Ensino Geral REGFAE Regulamento Geral dos Funcionários e Agentes do Estado SACMEQ Southern African Consortium for Monitoring of Education Quality SCR Sistema de Carreiras e Remuneração SDEJT Serviço Distrital de Educação, Juventude e TecnologiaSIDA Síndrome de Imunodeficiência Adquirida SNE Sistema Nacional de Educação SNPM Sindicato Nacional dos Professores de Moçambique TA Tribunal Administrativo TIC Tecnologias de Informação e Comunicação UEM Universidade Eduardo Mondlane UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura UP Universidade Pedagógica ZIP Zona de Influência Pedagógica XVII Manual-1.indd 18 3/12/18 9:09 AM CAPÍTULO 1 : CONTEXTO GERAL DA EDUCAÇÃO EM MOÇAMBIQUE 1.1 Introdução A Qualidade de Educação de um país deve ser estudada, analisada com profundidade e numa esfera globalista. Ao perspectivar o desbravar dos caminhos que nos conduzem à assunção da condição do Professor em Moçambique há necessidade de tomar como ponto de partida, o que define Moçambique em termos socio- económicos, políticos, demográficos e culturais. O crescimento demográfico da população em Moçambique, o índice da população jovem e activa coloca, a cada ano lectivo, grandes desafios ao Ministério de tutela, pois debate-se sobre como prover melhores condições de aprendizagem aos alunos que incrementam o rácio alunos-professor. Aumentar o corpo docente, construir mais salas de aulas e expandir desta forma a rede escolar têm sido as acções colocadas em curso tendo em vista a materialização do plasmado no compromisso assumido por Moçambique em Dakar, 2000 (Educação para Todos). O presente capítulo apresenta o contexto geral do país e relaciona o contexto escolar com a situação demográfica, político-administrativa, macroeconómica e orçamental. Nos contextos abordados explora-se a situação do corpo docente em termos de formação profissional e a taxa de crescimento da população em idade escolar, o que concorre para a concretização da Política Educativa e flexibilização do esquema de correspondência entre as unidades administrativas e órgãos do Estado. Moçambique situa-se na faixa Sul-Oriental do Continente Africano, entre os paralelos 10°27’ e 26°52’ de latitude Sul e entre os meridianos 30°12’ e 40°51’ de longitude Este. A Norte, faz limite com a Tanzania; a Oeste, com o Malawi, a Zâmbia, o Zimbabwe e a Suazilândia; e a Sul, com a África do Sul. Toda a faixa Este é banhada pelo Oceano Índico numa extensão de 2.470 km. Esta extensão tem um significado vital tanto para Moçambique como para os países vizinhos situados no interior, que têm ligação com o oceano através dos portos moçambicanos. A superfície do território moçambicano é de 799.380 km2. O País está dividido em 11 províncias: no Norte, estão as províncias do Niassa, Cabo Delgado e Nampula; no Centro, encontram-se as da Zambézia, de Tete, Manica e Sofala; e a Sul, Inhambane, Gaza, Maputo e Maputo Cidade (ver figura:1.1.). 1.2 Apresentação Geral do País Situação Geográfica de Moçambique em África e na Região Figura 1.1: Divisão Administrativa de Moçambique 1 Manual-1.indd 19 3/12/18 9:09 AM O território moçambicano, como toda a região austral do continente africano, não apresenta grande variedade de paisagem. Da costa para o interior ocorrem três tipos de relevo: • A planície do litoral, que ocupa a grande parte do território (40 %), é a região natural onde se observa a maior concentração da população; • Os planaltos, com altitudes que variam entre 200 e 1.000 metros; • Os grandes planaltos e montanhas, que ocupam uma pequena parte do território nacional, com altitudes superiores a 1.000 metros. Do ponto de vista da distribuição geográfica da população, já que não constituem uma superfície contínua, não oferecem grandes obstáculos para assentamentos humanos. 1.3 Contexto Político-Administrativo 1.3.1 Contexto político Desde a independência nacional, proclamada a 25 de Junho de 1975, o Governo da República de Moçambique encara a Educação como um direito fundamental de cada cidadão, um instrumento para a formação e a integração do indivíduo na sociedade, bem como um factor indispensável para a continuação da construção de uma sociedade moçambicana e para o combate à pobreza (MINED, 2012a). O MINED é o órgão do aparelho do Estado que, de acordo com os princípios, objectivos e mandato definidos pelo Governo, planifica, coordena, dirige e desenvolve actividades no âmbito da Educação. O Ministério tem a responsabilidade de elaborar, planificar e orçamentar as grandes políticas e estratégias do sector e estabelecer padrões e normas, tendo em conta as prioridades do Governo para o Sector, assegurando a alocação eficiente e eficaz de recursos financeiros e humanos e garantindo a equidade e qualidade. Segundo o Estatuto Orgânico, aprovado pelo Ministério da Função Pública em Maio de 2011, o MINED está estruturado em 14 unidades orgânicas, cinco departamentos autónomos e tem quatro instituições subordinadas e quatro tuteladas. São unidades orgânicas do MINED: Inspecção-Geral da Educação, Direcção Nacional do Ensino Primário, Direcção Nacional do Ensino Secundário, Direcção Nacional do Ensino Técnico-Profissional, Direcção Nacional de Alfabetização e Educação de Adultos, Direcção Nacional de Formação de Professores, Direcção de Gestão e Garantia da Qualidade, Direcção de Administração das Qualificações, Direcção de Programas Especiais, Direcção para a Coordenação do Ensino Superior, Direcção de Planificação e Cooperação, Direcção de Recursos Humanos, Direcção de Administração e Finanças e Gabinete do Ministro. Os departamentos do MINED são os seguintes: Departamento de Educação Especial, Departamento de Gestão do Livro Escolar e Materiais Didácticos, Departamento Jurídico, Departamento de Tecnologias de Informação e Comunicação e Centro de Documentação. As instituições subordinadas do MINED são o Instituto Nacional de Desenvolvimento da Educação, o Instituto de Educação Aberta e à Distância, o Conselho Nacional de Exames, Certificação e Equivalências e o Instituto de Línguas. São instituições tuteladas o Instituto de Bolsas de Estudo, a Escola Internacional 2 Manual-1.indd 20 3/12/18 9:09 AM 3 de Maputo, o Instituto Nacional de Educação à Distância e o Conselho Nacional de Avaliação de Qualidade do Ensino Superior. Neste contexto, o Governo tem priorizado a criação e a expansão de oportunidades para assegurar o acesso de todas as crianças a uma educação básica de sete anos. Todavia, reconhece- se que a educação básica não é suficiente para apoiar e sustentar o desenvolvimento nacional num contexto de uma economia e sociedade globalizada em constantes mudanças. O Governo continua a priorizar, nos seus planos nacionais de desenvolvimento, o investimento na educação, com o objectivo de educar os cidadãos a desenvolver a auto-estima e o espírito patriótico, ou seja, formar pessoas capazes de intervir activamente na promoção do desenvolvimento económico, social, político e cultural do País. No contexto internacional, a visão de longo prazo do Governo para o desenvolvimento do ensino básico e de uma educação ao longo da vida enquadra-se no seu compromisso com a Declaração de Dakar “Educação para Todos (2000)”, que promove a aprendizagem de competências básicas para todos, crianças, jovens e adultos, para um desenvolvimento sustentável e para a criação e manutenção da paz, numa perspectiva de assegurar uma educação básica para todos e a redução da actual taxa de analfabetismo para metade, até 2015. A visão engloba ainda os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), adoptados na Assembleia Geral das Nações Unidas, em Setembro de 2000, cujos objectivos para a Educação incluem a eliminação da desigualdade de género no ensinos primário e secundário (até 2005) e a conclusão do Ensino Primário, tanto para rapazes como para raparigas, até 2015. 1.3.2 Contexto administrativo 1.3.2.1 Unidades Administrativas Ao nível das províncias existem as Direcções Provinciais de Educação e Cultura (DPEC) e nos distritos, os Serviços Distritais de Educação, Juventude e Tecnologia (SDEJT). Estas entidadessão responsáveis pela gestão local do sistema de educação, desde a abertura de escolas primárias até à colocação e movimentação de professores. As responsabilidades do sector da educação são assumidas pelos vários intervenientes em função de quatro grandes actividades, a saber: • Educação e formação; • Investigação e desenvolvimento curricular; • Gestão e planificação; • Controlo, supervisão e regulação. A responsabilidade pela administração dos serviços de educação e a gestão dos recursos humanos, materiais e financeiros é cada vez mais descentralizada até ao nível das escolas e das instituições com crescente autoridade financeira e poder de decisão. Manual-1.indd 21 3/12/18 9:09 AM 1.3.2.2 Atribuições e funções educativas exercidas pelas unidades administrativas Órgãos locais Os órgãos locais, as DPEC, os SDEJT e os municípios têm como responsabilidade principal a implementação dos programas do sector e devem elaborar os planos e definir as metas, de acordo com as políticas e estratégias gerais do sector, assegurando a sua integração nos planos e orçamentos anuais dos governos locais. A participação e contribuição dos órgãos locais na formulação de políticas e estratégias nacionais é crucial, uma vez que estes órgãos têm conhecimento da realidade local e têm a responsabilidade de garantir uma implementação eficaz e eficiente das políticas e estratégias definidas. A gestão de recursos humanos em todas as escolas do distrito é da responsabilidade dos governos distritais e é implementada pelos SDEJT. Estes desempenham um papel-chave no acompanhamento dos processos de ensino-aprendizagem ao nível das diferentes instituições do ensino, com particular atenção para o Ensino Primário (EP), o Ensino Secundário (ES) e os programas de alfabetização e educação de adultos. De acordo com a Lei dos Órgãos Locais (Lei 2/97, de 18 de Fevereiro), os municípios devem responsabilizar-se pelo financiamento e pela gestão das escolas primárias, observando as regras estabelecidas para a gestão dos recursos do sector público. No entanto, este procedimento ainda está a ser implementado, pois, em 2011 foi iniciada a transferência das competências de gestão das escolas primárias para o Município da Cidade de Maputo e será estendido aos restantes municípios do país, nos próximos anos. MINED DPEC SDEJT ZIP ESCOLAPOVOADO/ BAIRRO LOCALIDADE DISTRITO/ MUNÍCIPIO PROVÍNCIA NÍVEL CENTRAL 4 Figura 1.2: Esquema de correspondência entre as unidades administrativas e os órgãos da Educação Manual-1.indd 22 3/12/18 9:09 AM 5 1.3.3 Documentos orientadores da política educativa em Moçambique Existem vários documentos orientadores da Política Educativa, nomeadamente: Agenda 20-25, Planos Quinquenais do Governo, Lei 6/92 (Lei do Sistema Nacional de Educação, SNE), Plano Estratégico da Educação (PEE), Estratégias Sectoriais da Educação, Orientações e Tarefas Escolares Obrigatórias (OTEO’s), circulares, regulamentos, entre outros. Para efeitos deste estudo cingimo-nos principalmente à Lei 6/92, ao Plano Estratégico da Educação e às Estratégias sectoriais (do EP, do ES, da Formação de Professores, do Ensino Superior e da Alfabetização e Educação de Adultos). O SNE orienta-se por quatro princípios fundamentais: I - A educação como dever e direito de todos os cidadãos; II - A participação de outras entidades, incluindo comunitárias, cooperativas e empresariais na educação; III - A responsabilidade do Estado na organização e promoção do ensino, nos termos da Constituição da República; IV - A laicidade do ensino público. O SNE estrutura-se em três tipos de ensino: ensino pré-escolar; ensino escolar e ensino extra- escolar. O ensino pré-escolar é realizado em creches e jardins-de-infância, para crianças com idade inferior a seis anos, como complemento da acção educativa da família. O ensino escolar compreende o ensino geral (eixo central do SNE), o ensino técnico-profissional e o ensino superior. O ensino extra- escolar engloba actividades de alfabetização e de aperfeiçoamento e actualização cultural e realiza-se fora do sistema regular de ensino. O PEE define os objectivos, as prioridades e as estratégias principais para o desenvolvimento do sector da Educação num período de cinco anos, a partir da visão de longo prazo, que promove a educação como um direito humano e um instrumento eficaz para a afirmação e integração do indivíduo na vida social, económica e política, indispensável para o desenvolvimento do país e para o combate à pobreza. O PEE estrutura-se em os três pilares, nomeadamente: o acesso, a qualidade e o desenvolvimento da capacidade institucional. Trata-se de um documento dinâmico que evolui e é reajustado de acordo com a dinâmica da sociedade, em geral, e do processo educativo, em particular. As estratégias sectoriais, nomeadamente, de Alfabetização e Educação de Adultos, do EP, do ESG, da Formação de Professores e do ETP, definem a missão e a visão e estabelecem as estratégias para o desenvolvimento de cada subsistema de ensino e sua ligação com outros subsistemas. 1.4 Contexto Demográfico 1.4.1 Tamanho e estrutura da população As tendências dos componentes demográficos (nascimentos, óbitos e migrações) determinam não só o tamanho e crescimento da população, como também mudanças na sua composição por idades e distribuição espacial. Manual-1.indd 23 3/12/18 9:09 AM Por tamanho da população entendemos o número de pessoas que residem num determinado território e momento. Esse tamanho, quando confrontado com a superfície, dá-nos a ideia do número médio de habitantes por km2, ou seja, a densidade demográfica. Portanto, a distribuição espacial da população refere-se à forma como as pessoas estão repartidas ao longo do território. E, entende-se por composição ou estrutura da população a sua distribuição por sexo e idade. 1.4.2 Estrutura por sexo e idade Grande parte de especialistas ligados às estatísticas populacionais tem começado por analisar e, posteriormente, caracterizar a estrutura da população por sexo e idade, pelo facto de, em termos socioeconómicos, cada segmento etário e sexual demandar necessidades e serviços diferentes. Deste modo, é sempre imperioso caracterizar o número total de habitantes relacionando-o com outras variáveis demográficas, principalmente “sexo” e “idade”, dada a sua inevitável importância, tanto no estudo de outras variáveis tais como a mortalidade e fecundidade, assim como para a planificação do desenvolvimento socioeconómico. Para o caso de planificação da oferta de serviços na área de educação, os dados da população por sexo e idade são indispensáveis na medida em que contribuem, de uma forma significativa, para dar respostas à demanda de serviços necessários para oferecer uma educação de qualidade. Dependendo do tipo da estrutura por sexo e idade da população, a pressão pela procura dos serviços na área de educação tem sido diferente de país para país. Por exemplo, os países que apresentam elevadas taxas de fecundidade tendem a ter uma população maioritariamente jovem, representando um desafio para responder à demanda dos serviços educacionais, que se tem caracterizado por ser elevada. Contrariamente, nos países onde as taxas de fecundidade são baixas, a população tem sido maioritariamente adulta ou velha, e a pressão sobre os serviços de educação é menor e, em contrapartida, a prioridade passa a ser o desenvolvimento do sector de apoio à velhice e da saúde. Dados do Ministério da Saúde (2013) indicam que Moçambique tem conhecido rápido crescimento da população como resultado das elevadas taxas de fecundidade que se mantiveram quase constantes ao longo dos últimos anos e da diminuição das taxas de mortalidade. A tabela 1, em anexo, apresenta a distribuição da população moçambicana por idade e sexo durante o período que vai de 2007 a2017. É de referir que a população de 2007 corresponde aos resultados do Recenseamento Geral da População e Habitação 2007, enquanto a dos anos de 2012 e 2017 são projecções da população (INE, 2010). A evolução da estrutura da população em Moçambique pode ser resumida em três grandes grupos de idade: ■ O grupo dos jovens (0-14 anos), representando 45.6% da população em 2007; 45.2% em 2012; 44.5% em 2017; 6 Manual-1.indd 24 3/12/18 9:09 AM ■ O grupo dos potencialmente activos ou adultos (15-64 anos), que constituía 51.3% em 2007; 51.7% em 2012; e 52.4% em 2017; ■ Finalmente, o grupo dos idosos (65 anos e mais) corresponde a 3.1% da população em 2007, 2012 e 2017 respectivamente. Como se pode depreender, a tendência dos 15-64 anos é crescente, enquanto dos 65 anos para diante, é estacionária. Este comportamento da evolução da estrutura etária da população no período em referência explica a elevada taxa de dependência demográfica, que mostra que, em cada 100 indivíduos de idades de 15-64 anos, existem 93 indivíduos de 0-14 anos e de 65 anos para diante, isto é, os que devem ser suportados por aqueles que estão em condições de trabalhar (INE, 2013). Olhando para a variável “sexo” de modo geral, mais de 50% da população nos três anos de referência correspondem a do sexo feminino, isto é, 51.9%, 51.8% e 51.7% da população em 2007, 2012 e 2017 respectivamente são do sexo feminino, cabendo o resto à população masculina. 1.4.3 Distribuição territorial da população A população de Moçambique é predominantemente rural. Em 2007, residiam nas áreas rurais 69,7% da população e, segundo estimativas, a percentagem seria 68,9% em 2012 e será 67,7% em 2017. Esta diminuição é explicada pelo processo de urbanização em curso no País (INE, 2010). De acordo com a tabela 2, em anexo, que mostra a distribuição geográfica da população no país, por província, em 2007, Nampula era a que tinha maior percentagem da população, com 19.8% da população total de Moçambique, seguida pela província da Zambézia com 18.9%; sendo que Maputo Cidade e Maputo Província com 5.4% e 5.6%, respectivamente, as que tiveram menos população. De acordo com as previsões, esta tendência verificar-se-ia também em 2012 e verificar-se-á em 2017. Olhando para a densidade populacional, Maputo Cidade, com 300km2, concentra cerca de 3 705 habitantes por km2 em 2007, 3 980 em 2012 e perspectivando-se 4 244 habitantes km2 em 2017, enquanto Niassa, com a maior superfície ao nível do País apresenta 9, 11 e 14 habitantes por km2 em 2007, 2012 e 2017, respectivamente. De um modo geral, as províncias do litoral concentram maior densidade populacional em relação às do interior do País. 1.4.3.1 Taxas de crescimento De 1997 a 2007, como resultado da elevação de taxas de fecundidade, diminuição de mortalidade infantil e consequente aumento da esperança de vida, a população de Moçambique tem conhecido acelerado crescimento populacional, que é reflectido pela taxa de 2.6%, considerada elevada. A nível das províncias, registam-se, grandes diferenças de crescimento da população, facto que se deve não só à fecundidade e mortalidade, mas também à migração. Por exemplo, no período em referência, as províncias de Maputo e Tete tiveram taxas mais elevadas, acima de 4% (4.2 e 4.1, respectivamente). Nestas 7 Manual-1.indd 25 3/12/18 9:09 AM duas províncias, a migração desempenhou um papel importante (INE, 2013), tendo Maputo Província ganho muita população proveniente de Maputo Cidade e a Província de Tete teve ganhos provenientes de outras províncias e países vizinhos. No mesmo período, as províncias de Gaza, Maputo Cidade e Inhambane foram as que tiveram taxas de crescimento abaixo da média nacional (ver tabela 2 em anexo). 1.4.4 Línguas moçambicanas do grupo bantu, 2007 Depois da proclamação da independência nacional e reconhecendo a existência da enorme diversidade de línguas moçambicanas, o Governo adoptou a língua portuguesa como oficial, embora a maior parte da população moçambicana tenha as línguas moçambicanas do grupo bantu como suas maternas e as usem na sua comunicação diária. As línguas mais faladas em Moçambique, com excepção da língua portuguesa, são Emakhuwa, Xichangana, Cisena e Elomwe. A língua Emakhua é falada por 28.9% dos 11,194,514 habitantes da zona rural, enquanto, dos 5,176,255 residentes da área urbana apenas 17.8% falam a língua. Xichangana é falada por 10.5% da população total e 15,4% da população urbana do país. Cisena é mais falada nas zonas rurais (8.4%) relativamente às urbanas (4.6%). O Elomwe é apenas falado por 8.7% da população rural. As outras línguas como Ciyao, Kimwani, Shimakonde, Coti, Cinyanja, Cimanika, Chitwe, Echuwabo, Cindau, Bitonga, Chichopi, Xirhonga e Xitshwa são faladas em diversas províncias, notando-se a sua predominância por regiões Norte, Centro e Sul (ver tabela1.10, em anexo). 1.4.5. População economicamente activa Em Moçambique, a população economicamente activa (PEA) regista uma rápida expansão como resultado do rápido crescimento da população. Esta expansão, muitas vezes, supera a capacidade de absorção laboral do sistema económico. Este desequilíbrio tem sido particularmente sério nas áreas urbanas, onde o crescimento natural da população tem sido acelerado pelas imigrações de origem rural, um problema que tem como consequência o desemprego. Segundo as recomendações internacionais, a PEA é a população que participa na actividade económica e que tem 15 anos ou mais. Consequentemente, a análise da PEA que é realizada neste estudo tem como universo a população de 15 anos e mais. Observando Moçambique como um todo, a população economicamente activa é mais representativa na zona rural (76.5%) comparativamente com a zona urbana (54.4%), a sua distribuição por ramos de actividade tem uma expressão mais significativa na agricultura (75.2%), seguida de comércio e finanças (10.0%), indústria manufactureira (3.2%) e construção (2.5%), o que confirma o referido anteriormente sobre a concentração da PEA nas zonas rurais (INE, Censo da População, 2007a). Esta estrutura da população por ramos de actividade, em que a maioria se concentra no sector de agricultura e, por se tratar de agricultura familiar de poucos rendimentos, sugere que os agregados familiares tenham dificuldades em financiar os estudos das suas crianças e, consequentemente, se registem elevados índices de abandono escolar. 8 Manual-1.indd 26 3/12/18 9:09 AM 1.4.6 Indicadores de Desenvolvimento Humano O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é uma medida comparativa usada para classificar os países pelo seu grau de desenvolvimento humano e para distinguir os países desenvolvidos (desenvolvimento humano muito alto), em desenvolvimento (desenvolvimento humano médio e alto) e subdesenvolvidos (desenvolvimento humano baixo). A estatística é composta a partir de dados sobre a taxa de mortalidade infantil, a esperança de vida ao nascer, a educação, o produto interno bruto (PIB) e a taxa de escolarização. Para avaliar a dimensão da educação, o cálculo do IDH considera dois indicadores: a taxa de analfabetismo e a taxa de escolarização. A esperança de vida ao nascer avalia a longevidade e mostra a quantidade de anos que uma pessoa nascida num determinado ano de referência pode viver. O PIB indica a distribuição da riqueza, enquanto a taxa de mortalidade infantil está associada às condições ambientais e socioeconómicas, daí que o seu valor serve para qualificar o nível de desenvolvimento socioeconómico e o estado de saúde de uma população. 1.4.6.1 PIB per capita total segundo unidade territorial O PIB representa a soma (em valores monetários) de todos os bens e serviços finais produzidos num determinado espaço geográfico (região, país, estado, província, etc.) durante um período determinado (mês, trimestre, ano, etc.). O PIBé um dos indicadores mais utilizados na macroeconomia com o objectivo de medir a actividade económica de uma dada região. O PIB per capita é a produção interna bruta individual e é calculado pelo quociente entre o PIB e a quantidade de habitantes de uma região. Embora não tenha em consideração a distribuição desigual da riqueza, observando a Tabela 1.1, é notória a flutuação da distribuição da renda em Moçambique durante o período que vai de 2007 (394 USD) a 2011 (580 USD), pois, no período intermédio, oscilou com tendência decrescente de 469 USD em 2008, 439 USD em 2009 e 426 USD em 2010. Esta flutuação, particularmente em 2010, deveu-se à crise económica internacional. Esta tendência também se verifica ao observar o PIB per capita por regiões, com excepção da região Sul, onde o crescimento é notório, de 808 USD em 2007 para 1165 USD em 2011. Tabela 1.1: PIB per capita Moçambique 2007-2011 Fonte: INE - 2011 9 Regiões Moçambique 2007 2008 2009 2010 2011 Norte Centro Sul Moçambique 260 317 298 292 388 269 319 300 290 413 808 959 898 871 1165 394 469 439 426 580 Valores em USD/Ano Manual-1.indd 27 3/12/18 9:09 AM Tabela 1.2: Taxas de analfabetismo por sexo, segundo a área de residência 1.4.6.2 Taxa de analfabetismo, total por sexo e unidade territorial Saber ler e escrever em qualquer língua (isto inclui escrever e ler correctamente uma frase e fazer o básico de cálculo aritmético, isto é, o mais elementar) é considerado como uma condição essencial para integração adequada dos indivíduos dentro da sociedade. Deste modo, muitos países em desenvolvimento, onde os níveis de analfabetismo são considerados elevados, têm tentado superar o problema, através de programas de alfabetização de adultos. No que diz respeito à luta pela diminuição do número de pessoas que não sabem ler e nem escrever, Moçambique, desde que ficou independente em 1975, tem estado a desenvolver amplos programas de educação no geral, assim como programas específicos de educação de adultos. Como resultado deste esforço, os níveis de analfabetismo têm vindo a diminuir substancialmente, como se pode verificar na tabela 1.2, na qual os dados mostram que de 1997 a 2007, a taxa de analfabetismo no país diminuiu em cerca de 10 pontos percentuais, ao passar de 60.5% em 1997 para 50.3% em 2007. Entre as províncias, há bastante variação nas taxas de analfabetismo: de 66.6% em Cabo Delgado a 9.8% em Maputo Cidade. Em geral, nas províncias da região Sul as percentagens são inferiores se comparadas com as das regiões Norte e Centro. Esta situação manteve-se durante o período de 10 anos que separa os dois censos (1997 e 2007). Ainda de acordo com a mesma tabela, as taxas de analfabetismo tendem a ser mais baixas nas áreas urbanas e, por isso, pode dizer-se que um dos determinantes da percentagem de analfabetos é o nível de urbanização da província, daí que, quanto maior for o nível de urbanização, menor é a prevalência de analfabetismo. Fonte: INE, 2007a Total Área de residência Urbana Rural Província Niassa Cabo Delgado Nampula Zambézia Tete Manica Sofala Inhambane Gaza Maputo Província Maputo Cidade Taxas de analfabetismo 1997 2007 Homens MulheresTotal Homens MulheresTotal Área de residência e província Total 64.1 35.4 77.4 76.3 80.9 77.4 83.4 71.5 59.6 61.9 52.7 48.8 30.5 14.8 34.5 14.2 45.3 44.6 50.8 46.5 46.7 39.3 23.8 23.0 24.3 23.5 12.1 4.4 50.3 25.0 62.8 61.0 66.6 62.3 66.2 56.2 43.0 43.4 41.3 38.5 22.0 9.8 74.1 46.2 85.1 84.2 88.5 85.9 85.2 81.0 73.9 74.8 66.4 63.0 45.9 22.6 44.6 19.4 56.4 52.2 60.0 56.7 53.2 50.0 38.5 35.9 35.1 35.8 20.2 7.1 60.5 33.0 72.2 69.0 75.0 71.7 70.3 66.8 57.7 56.2 54.2 52.7 34.3 15.0 10 Manual-1.indd 28 3/12/18 9:09 AM As diferenças que se registam no nível de analfabetismo entre as diferentes províncias e áreas de residência no país podem ser reflexo das diferenças de frequência escolar. Assim, espera-se que, num futuro próximo, as províncias que tiverem maior percentagem das crianças a frequentar o EP, possam reduzir as suas taxas de analfabetismo. Contrariamente, as taxas de analfabetismo tenderão a ser maiores naquelas províncias que tiverem menor frequência escolar, porque, para além dos mais velhos que não foram a escola, o número de analfabetos será acrescido por aquelas crianças que não puderem estudar. Por isso, maior cobertura de frequência escolar e menores taxas de abandono escolar contribuem também para a diminuição das taxas de analfabetismo. 1.4.6.3 Taxa de mortalidade infantil, total e por unidade territorial A mortalidade infantil é a morte de crianças que não atingiram um ano de vida, por isso, é definida como sendo a probabilidade de morrer durante o primeiro ano de vida. A mortalidade infantil é um dos indicadores mais usados na comparação da qualidade dos serviços de saúde entre países ou regiões. Como já foi referido, o nível de mortalidade infantil está associado às condições ambientais e socioeconómicas onde as crianças vivem. O seu valor serve para qualificar o nível de desenvolvimento socioeconómico e a qualidade de vida de uma população, ou seja, quanto menor for o valor de mortalidade infantil, maior será o nível de desenvolvimento socioeconómico e a qualidade de vida da população do país ou região e vice-versa. Neste contexto, a maioria dos países em desenvolvimento corresponde aos que apresentam taxas de mortalidade infantil muito elevadas, pois os seus níveis chegam a ser três a quatro vezes maiores, se comparados com os dos países desenvolvidos ou até mesmo os de médio desenvolvimento, sendo a situação mais crítica na África Sub-Sahariana. Tabela 1.3: Taxas de mortalidade infantil, segundo a área de residência e província, Moçambique 1997-2007 Fonte: INE, 2007a 11 Área de residência e Província 1997 2007 Total 146.0 93.6 Urbana 101.0 78.3 Rural 160.0 98.6 Niassa 151.0 116.6 Cabo Delgado 167.0 87.7 Nampula 166.0 98.2 Zambézia 183.0 101.6 Tete 127.0 82.6 Manica 129.0 100.1 Sofala 144.0 96.5 Inhambane 109.0 80.4 Gaza 113.0 89.0 Maputo Província 83.0 70.6 Maputo Cidade 61.0 61.6 Manual-1.indd 29 3/12/18 9:09 AM A tabela 1.3 apresenta a mortalidade infantil segundo área de residência e província. Os dados mostram que, no País, se registou uma queda da mortalidade infantil durante o período 1997-2007, quase em todas as províncias do País, excepto Maputo Cidade, que teve tendência de estagnação. As províncias da Zambézia, Nampula, Cabo Delgado e Niassa foram as que, em 1997, apresentaram mortalidade infantil acima da média nacional. Notam-se ainda diferenças na taxa de mortalidade infantil entre a área urbana e rural. Assim, em 2007, a mortalidade infantil na área urbana foi de 78.3 óbitos em cada 1,000 nascidos vivos e, na área rural, o seu valor foi de 98.6, correspondendo a uma diferença de 26%. As diferenças da mortalidade infantil entre as duas áreas tendem a reduzir bastante, pois, segundo resultados do Censo de 1997, esta era na ordem de 58.3%. As reduções nas diferenças da mortalidade infantil revelam que há melhorias nas condições de vida, principalmente das áreas rurais, no que diz respeito ao consumo de água potável, melhoramento da segurança alimentar, alargamento das campanhas de vacinação e, consequentemente, a diminuição da prevalência das doenças infecciosas. 1.4.6.4 Índice de desenvolvimento humano (série histórica) A estatística para a obtenção do Índice de Desenvolvimento Humano
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