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Anais do 11º Encontro Anual de Extensão e Cultura, EAEX 22 a 26 de outubro de 2018, UNICENTRO. ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DA RAIVA BOVINA NA REGIÃO DE GUARAPUAVA E PROTOCOLO DE VACINAÇÃO NA UDBL Área Temática: Saúde Autor(es): Milena Pontarolo Machado, milenapontarolo98@hotmail.com (PIBIS), Heloisa Godoi Bertagnon (hbertagnon@hotmail.com, Departamento de Medicina Veterinária - DEVET), Rafaela Arce Funes (rafaela_arce_funes@hotmail.com, DEVET), Gabriel Vinicius Bet Flores (gvbf.123@gmail.com, DEVET), Mariane Roepke (marianeroepke@yahoo.com.br, DEVET), Felipe Strickler (felipestrickler@gmail.com, DEVET) RESUMO: A raiva é uma zoonose caracterizada por encefalite progressiva fatal, causada por um vírus da família Rhabdoviridae e do gênero Lyssavirus, transmitida principalmente pelo morcego. A prevalência da raiva bovina no Brasil tem se tornado preocupante, com aumento de casos no Paraná, resultando em problemas de saúde pública e prejuízo econômico para o pecuarista. Diante do aumento da doença na região de Guarapuava, os alunos e professores integrantes da Unidade Didática de Bovinocultura de Leite (UDBL) da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Campus Cedeteg, realizou-se protocolo de vacina nos bovinos, embora não se tenha histórico da doença na unidade nem a presença de morcegos. Tal medida visou manter o rebanho livre da doença, com intenção de reduzir prejuízo econômico e o risco a saúde humana, tendo em vista que a unidade é uma propriedade modelo para pequenos produtores. PALAVRAS-CHAVE: epidemiologia; adapar; morcego 1. INTRODUÇÃO/CONTEXTO DA AÇÃO A Unidade Didática de Bovinocultura de Leite (UDBL) da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Campus CEDETEG é uma unidade leiteira com fins didáticos, conta com uma área de aproximadamente 38.000 m², sendo 20.000 m² de área de piquetes permanentes. A rotina é realizada por alunos do curso de Medicina Veterinária e Agronomia do CEDETEG, os quais realizam a ordenha duas vezes ao dia, o manejo geral dos animais, plantio de pastagens, limpeza das instalações, entre outras atividades. O rebanho é constituído por 33 animais, sendo 7 machos e 26 fêmeas, sendo todos da raça Jersey. A raiva é uma doença infectocontagiosa, de origem viral, que acomete todas as espécies domésticas e leva a prejuízos econômicos e produtivos. Se trata de uma zoonose de alta letalidade, sendo, portanto, um problema de saúde pública. Sua transmissão está associada ao morcego hematófago Desmodus rotundus, sendo essa a espécie mais importante na epidemiologia da doença (DAL PONT et al., 2017; KOTAIT et al., 1998). O agente etiológico da raiva é um vírus RNA fita simples, da família Rhabdoviridae, gênero Lyssavirus (DIVE, 2014). A transmissão ocorre por meio da inoculação do vírus contido na saliva do animal Anais do 11º Encontro Anual de Extensão e Cultura, EAEX 22 a 26 de outubro de 2018, UNICENTRO. raivoso, pela mordedura, arranhadura e lambedura de mucosas. A doença apresenta três ciclos de transmissão: o ciclo urbano, ciclo silvestre e ciclo rural, onde no último estão envolvidos animais herbívoros e o morcego. A raiva em cães e gatos, que representa o ciclo urbano, vem diminuindo, enquanto a raiva em herbívoros vem aumentando com o passar dos anos (KANITZ et al., 2014; PATRÍCIO et al, 2009). O Programa Nacional de Controle da Raiva dos Herbívoros é coordenado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e executado em cada estado pelo órgão respectivo responsável pela Defesa Sanitária Animal. No Paraná o controle é realizado pela Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (ADAPAR), a qual estabeleceu um programa de profilaxia e controle, que visa estabelecer e executar medidas de prevenção e controle da raiva bovina, como orientação a produtores rurais na prevenção da raiva transmitida por morcegos hematófagos; controle de colônias de morcegos hematófagos; vacinação de animais herbívoros em áreas estratégicas; e diagnóstico da raiva. Guarapuava é uma das 22 Unidades Regionais de Sanidade Agropecuária (URS), a qual ainda fazem parte outros 11 municípios: Laranjal, Palmital, Goioxim, Cantagalo, Campina do Simão, Turvo, Prudentópolis, Candói, Foz do Jordão, Reserva do Iguaçu e Pinhão (ADAPAR; DOGNANI et al, 2016). A raiva bovina é uma doença endêmica no Paraná, e dessa forma a ADAPAR desenvolve os informes epidemiológicos semanais, que são sínteses das doenças dos animais, notificadas ao serviço de Defesa Sanitária Animal, durante o período de uma semana (domingo a sábado). Os números de focos e de casos de raiva notificados até o período de 22/07/2018 a 28/07/2018, que corresponde à 30ª semana epidemiológica, estão apresentados na Tabela 1 (ADAPAR, 2018). Tabela 1 – Número de focos e casos de raiva na Unidade Regional de Sanidade Agropecuária de Guarapuava (URS), de acordo com os informes epidemiológicos semanais da ADAPAR entre 18/03/2018 a 28/07/2018. Semana Epidemiolóca Período Município Espécie Nº de Focos Nº de Casos 12ª 18/03/2018 a 24/03/201 Guarapuava Bovina 1 2 12ª 18/03/2018 a 24/03/201 Pinhão Morcego não hematófago 1 1 25ª 17/06/2018 a 23/06/2018 Guarapuava Bovina 1 1 25ª 17/06/2018 a 23/06/2018 Prudentópolis Bovina 1 12* 27ª 01/07/2018 a 07/07/2018 Goioxim Bovina 1 6** 29ª 15/07/2018 a 21/07/2018 Guarapuava Bovina 1 1 30ª 22/07/2018 a 28/07/2018 Turvo Bovina 1 4*** Fonte: CDME/ADAPAR, 2018 Nota: *01 diagnóstico laboratorial e 11 diagnósticos clínicos; **01 diagnóstico laboratorial e 05 diagnósticos clínicos; ***01 diagnóstico laboratorial e 03 diagnósticos clínicos Anais do 11º Encontro Anual de Extensão e Cultura, EAEX 22 a 26 de outubro de 2018, UNICENTRO. A profilaxia não é obrigatória e consiste principalmente na imunização dos animais susceptíveis. Não há tratamento e a doença é invariavelmente fatal, uma vez iniciados os sinais clínicos. A eutanásia dos animais suspeitos não é indicada, particularmente se ocorreu exposição humana, uma vez que o desenvolvimento da doença nos animais é necessário para estabelecer um diagnóstico (MAPA, 2009; RADOSTITS et.al., 2002). O diagnóstico clínico permite levar somente à suspeição da raiva, pois os sinais da doença não são característicos e podem variar de um animal a outro ou entre indivíduos da mesma espécie. Existem procedimentos laboratoriais padronizados internacionalmente, para amostras obtidas post mortem de animais ou humanos suspeitos de raiva. As técnicas laboratoriais são aplicadas preferencialmente nos tecidos removidos do SNC, e pode ser realizado teste para identificação imunoquímica do antígeno viral, além de isolamento viral. (MAPA, 2009). Com a confirmação desses casos de raiva na região de Guarapuava, gerou-se preocupação aos pecuaristas, assim como aos alunos e professores integrantes da UDBL, a qual visou estabelecer um protocolo de vacinação a fim de manter o rebanho livre da doença, tendo em vista o alto prejuízo econômico e o risco a saúde humana. 2. DETALHAMENTO DAS ATIVIDADES E/OU DA METODOLOGIA Não possui histórico de casos positivos de raiva ou da presença de morcegos hematófagos e não hematófagos no rebanho da UDBL, no entanto, com intuito de manter o lote livre da doença, foram vacinados 22 animais, fêmeas, com idade entre 129 meses e 11 meses, de diferentes categorias animais: lactantes, vacas secas, novilhas e bezerras. A primeira aplicação da vacina foi realizada no dia 02 de agosto de 2018, sendo utilizada a vacina RAI- VET LÍQUIDA da Biovet® contendo vírus inativado, na dosagem de 2mL por animal. A segunda aplicação será realizada após 30 dias da primeira vacinação, com o mesmo produto e na mesma dosagem, em todas as fêmeas primovacinadas. 3. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS, ANÁLISE E DISCUSSÃO A vacinação realizada teve por objetivo promover a imunizaçãonos animais, tendo em vista a prevalência de casos positivos de raiva na URS de Guarapuava, no entanto, como relatado por GASPAR, (2016) é difícil de se obter eficácia total da vacina. Para ter certeza de que todos os animais estão imunizados torna-se necessário realizar testes sorológicos, o que é financeiramente inviável para a UDBL. A Instrução Normativa nº 5, de 1° de março de 2002, preconiza que a vacinação dos animais seja realizada com vacina contendo vírus inativado, aplicando a dosagem de 2ml por animal, independentemente da idade, podendo ser aplicada via subcutânea ou intramuscular. O protocolo adotado na UDBL seguiu a IN, a respeito da dose e via de aplicação, aplicando-se a vacina por via subcutânea, mas não a respeito da idade dos animais, pois vacinou-se apenas nos animais acima de 4 meses. Os animais com menos de 4 meses ainda possuem imunidade colostral, e apesar dos anticorpos maternos serem importantes nos primeiros dias de vida, eles podem persistir por até 16 semanas de idade ou mais, em níveis considerados não protetores, mas que são capazes de interferir na vacinação, período denominado “janela de Anais do 11º Encontro Anual de Extensão e Cultura, EAEX 22 a 26 de outubro de 2018, UNICENTRO. suscetibilidade”. Este período pode ser variável em decorrência dos níveis de imunoglobulinas transferidas ao animal e tempo de meia-vida (MAPA, 2009). Em caso de ocorrência de focos da doença a vacinação deve ser adotada preferencialmente em bovinos com idade igual ou superior a 3 meses (MAPA, 2009). Quase todas as vacinas antirrábicas para os herbívoros são de vírus inativo, sendo que as vacinas inativadas em cultura celular para bovinos resultam em anticorpos neutralizantes um mês após a primovacinação. O reforço vacinal administrado um ano depois aumenta os títulos sorológicos, detectáveis por um ano após o reforço (RADOSTITS et.al., 2002) o que será estabelecido no protocolo vacinal da UDBL, com intenção de realizar-se o reforço vacinal após um ano. Alcançar eficácia total de imunização pode ser difícil, no entanto, ao adotar medidas corretas na hora da vacinação, maximizará o efeito da vacina. Como medidas higiênicas (limpeza do local de aplicação da vacina, uso de seringas e agulhas estéreis, em adequado estado de uso) e cuidados na utilização e manipulação de vacinas. Existem também falhas vacinais relacionadas ao animal, como já citado há interferência de anticorpos maternos nos animais vacinados jovens, e ainda condições impróprias do animal vacinado (estresse, doença, desnutrição ou infestação intensa por parasitas). Em relação à vacina, falhas no armazenamento podem inativá-las, sendo o ideal mantê-la armazenada à temperatura de refrigeração (entre 3°C e 8°C) e no momento da aplicação a temperatura deve estar abaixo ou semelhante à temperatura ambiental (GASPAR, 2016; FREITAS, 2012). Durante a vacinação dos animais da UDBL foram utilizados luvas, seringas e agulhas estéreis, sendo uma agulha utilizada para aplicação em somente um animal e descartada em seguida, além da antissepsia no local de aplicação com digliconato de clorexidina (Rihoex 2%®), a vacinação foi realizada utilizando medidas a fim de promover o mínimo de estresse possível nos animais, e ainda, com relação a nutrição, todas as fêmeas vacinadas possuem escore corporal acima de 2,5 (escala de 1-5). A vacina permaneceu armazenada em caixa térmica com gelo durante todo o manejo a fim de mantê-la na temperatura recomendada. Mesmo não havendo histórico da doença na UDBL, presença de morcegos, ou mesmo a entrada de novos bovinos no rebanho, preferiu-se realizar a vacinação, tendo em vista que a doença tem alto potencial zoonótico e é fatal. Como a unidade é organizada e mantida principalmente pelos alunos, além de ser considerada uma unidade modelo para pequenos produtores, é de suma importância garantir a saúde humana. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS A raiva é uma doença endêmica no Paraná, e levando em consideração o aparecimento de focos e casos na região de Guarapuava nos últimos meses, a vacinação contra essa doença deve-se tornar um ponto a ser discutido entre os criadores de bovinos e equinos da região, mesmo não sendo uma vacina compulsória. Esse método de profilaxia pode evitar o aparecimento da doença no rebanho e minimizar o risco de morte dos animais e prejuízos econômicos ao pecuarista, além de diminuir as chances de ocorrência desta zoonose. O projeto proposto pela UDBL é que todo o processo seja realizado pelos próprios alunos, sendo de grande valia para a formação acadêmica participar das atividades, atribuindo uma carga de experiência ao aluno, sendo possível participar da organização do protocolo vacinal e ainda, da aplicação na prática. A implantação do protocolo contra a raiva bovina na UDBL visa Anais do 11º Encontro Anual de Extensão e Cultura, EAEX 22 a 26 de outubro de 2018, UNICENTRO. minimizar as chances da incidência da doença, tendo em vista o alto potencial zoonótico, se tornando um risco à saúde pública, a qual é uma das principais preocupações sanitárias do projeto. REFERÊNCIAS ADAPAR – Agência de Defesa Agropecuária do Paraná. Disponível em: http://www.adapar.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=94. Acesso: 04 de ago. 2018. DAL PONT, T.P.; GAVA, A.; CASGRANDE, R.A.; WISSER, C.; TRAVERSO, S.D. Raiva bovina: evolução clínica da doença e sua relação com a Intensidade das lesões e os métodos de diagnóstico. Seminario de Iniciação Cientifica UDESC, 2017. DIRETORIA DE VIGILANCIA EPIDEMIOLÓGICA. Manual de Coleta para a Raiva. DIVE, 2014. DOGNANI, R., et al. Epidemiologia descritiva da raiva dos herbívoros notificados no estado do Paraná entre 1977 e 2012. Pesquisa Veterinária Brasileira, 2016, v.36, n.12, p.1145-1154. FREITAS, T. M. S. Vacinas Utilizadas no Manejo Sanitário de Bovinos. 2012. Disponível em: https://ppgca.evz.ufg.br/up/67/o/Semin%C3%A1rio_1_-_Thais_Freitas.pdf?1350301993. Acesso: 18 de ago. 2018. KANITZ, F. A., et al. Epidemiologia molecular de surto de raiva bovina na região central do Rio Grande do Sul, 2012. Ciência Rural, 2014, v.44, n.5, p.834-840. KOTAIT, I.; GONÇALVES, C.A.; PERES, N.F.; SOUZA, M.C.A.M.; TARGUETA, M.C. Controle da raiva dos herbívoros. Instituto Pasteur, São Paulo, p. 15, 1998. MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Controle da Raiva dos Controle da Raiva dos Herbívoros. Manual técnico, 2009, ed.2, 125p. PATRÍCIO, M. A. C., et al. Prevalência da raiva em bovinos, ovinos e caprinos no ano de 2007 no estado do Paraná. Ciência Animal Brasileira, 2009. RADOSTITS, O. M., et al. Clínica Veterinária – Um Tratado de Doenças dos Bovinos, Ovinos, Suínos, Caprinos e Eqüinos. Ed.: Guanabara Koogan S.A. (ed.) Rio de Janeiro, 2002, v.09, p.1077-1083. http://www.adapar.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=94 https://ppgca.evz.ufg.br/up/67/o/Semin%C3%A1rio_1_-_Thais_Freitas.pdf?1350301993
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