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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO (2020.1) ELIZABETH DO CARMO MOURA Automação de Processos: Um Caso de Ensino SALVADOR 2020 2 SUMÁRIO Sinopse .............................................................................................................. 3 1. O Caso. .......................................................................................................... 4 Informações sobre a organização. ............................................................................................ 4 Área específica de interesse. .................................................................................................... 6 Problema ou decisão. ................................................................................................................ 6 Alternativas ................................................................................................................................ 6 2. Notas de ensino ............................................................................................. 8 Breve comentário sobre o caso. ................................................................................................ 8 Objetivos educacionais e questões. .......................................................................................... 8 Estratégias para análise do caso............................................................................................... 9 Referências recomendadas para fundamentar a análise. ......................................................... 9 3. Análise do caso ............................................................................................ 10 Síntese da literatura. ................................................................................................................ 10 Síntese do caso e respostas ................................................................................................... 13 Referências adicionais ..................................................................................... 21 3 Sinopse Este trabalho explora o caso da Maximus Distribuidora S.A. uma organização que atua no segmento de comércio atacadista de distribuição de combustíveis derivados de petróleo e biocombustível que, ao apresentar problemas com o software de gestão de documentos, conteúdo e processos, precisava decidir se iria descontinuar o projeto e buscar um novo programa ou insistir confiando no projeto aprovado previamente. Uma síntese do caso aqui explorado pode ser vista no quadro seguinte. Quadro 1: Síntese do Caso Empresa ou organização Maximus Distribuidora S.A. A denominação da empresa, da cidade, dos personagens ou organizações envolvidas estão disfarçados com o objetivo de proteger a privacidade da organização e dos indivíduos. A situação problema se desenrola no setor de controles da empresa situada no Nordeste. Insight A empresa apresentava dificuldades de adaptação ao software de gestão de documentos, conteúdo e processos. Durante o período de aquisição o sistema atendia ao escopo do projeto. Contudo, durante o processo de implantação, dificuldades surgiram e com isso cresceu o receio de que não seria possível alcançar os resultados esperados. Assim, a empresa iniciou discussões sobre como proceder com a situação, sendo uma das possibilidades a descontinuação do software. Tipo de caso Caso com foco em decisão. Existem alternativas disponíveis, sendo necessário a escolha de uma das opções e a justificativa da escolha da mesma. Protagonista Luiz Prado. Gerente de Controles Tempo Segundo semestre de 2018 Forma de obtenção dos dados Entrevista feita com funcionários da empresa, relatórios internos Além da presente sinopse, este trabalho é constituído por outras três partes: a apresentação do caso, as notas de ensino e, por fim, a análise. 4 1. O Caso. Naquela manhã, Luiz Prado, gerente de controle, chegou à empresa cedo para conduzir a reunião trimestral. Essa reunião serviria como forma de acompanhar o desempenho do setor na matriz e filiais, além de poder expor eventuais entraves nos procedimentos. Luiz sabia que as automações que estavam sendo promovidas pela empresa nos últimos anos ainda estavam passando por dificuldades de implantação e adaptação, ainda que isso estivesse melhorando com o passar do tempo. Durante o momento de relato das dificuldades para a utilização da ferramenta, os funcionários informaram problemas a respeito da adequação do software de gestão de documentos, conteúdo e processos. Estavam acontecendo travamentos constantes do sistema, bloqueio de processos sem maiores explicações, lentidão na transmissão de informações, processos lançados com erro e, o ponto mais crítico: o escopo do projeto não estava sequer perto de ser cumprido, mesmo após dois anos do seu início, superando em um ano e meio o prazo inicialmente proposto. Após receber todas as informações apresentadas, Luiz precisava decidir o que fazer e propor um plano para solucionar esse problema. Será que seria o momento de se abandonar esse projeto, buscando-se um novo software, ou seria melhor insistir, confiando no projeto aprovado anteriormente? Informações sobre a organização. Maximus Distribuidora S.A é uma empresa de capital fechado localizada no Nordeste do Brasil que atua no segmento de comércio atacadista de distribuição de combustíveis derivados de Petróleo e Biocombustível. A companhia iniciou suas atividades de 1997 e possui 10 bases em operação. No ano de 2014, a organização vendeu mais de 500 mil m³ de produto e faturou aproximadamente 1 bilhão e 200 milhões de reais e, atualmente, possui mais de 100 postos bandeirados e cerca de 1000 postos bandeira branca em diversas áreas do país. Nos últimos 5 anos, devido a políticas governamentais e questões econômicas, a companhia decidiu ampliar a automatização dos seus processos e implantar 5 softwares de gestão de documentos, conteúdo e processos, BPM (Business Process Management), BI (Bussiness Inteligence), entre outros. Inicialmente, o escopo do projeto foi definido pelo setor de Controle e Planejamento da organização. Após todas as especificações serem levantadas, os pré-requisitos foram levados para o mercado, para que fosse realizada a seleção das possíveis empresas. Para a contratação do software de gestão de documentos, conteúdo e processos foi checado o escopo do processo, comparando-se à compatibilidade do sistema, sendo, a partir daí, escolhida a opção vista como aquela de melhor custo benefício para a organização. Feito isso, a empresa de software contratada foi a Ômega, que possui convênio com mais de 25.000 empresas, em mais de 50 países ao redor do mundo. O sistema adquirido tem como principais funcionalidades: a captura e processamento de documentos, o gerenciamento de conteúdo, a gestão de processos de negócios, o gerenciamento de registros, a distribuição de documentos e a seguridade de dados com compliance. No começo da implantação do novo sistema o cenário projetado estava próximo da perfeição e os funcionários encontravam-se bastante motivados com a facilidade oferecida por esse processo de automação que tinha sua conclusão prevista para seis meses. Contudo, durante a execução do projeto, foram surgindo, gradativamente, alguns entraves, de forma que o projeto que buscava atender aproximadamente 20 processos organizacionais, após quase dois anos do início da sua implantação, ainda não havia conseguido fornecer nem ao menos um processo totalmente funcional. Uma das justificativas da empresa contratada para o atraso na entrega de resultados satisfatórios, guarda estreita relação com a ausência de um colaborador da Maximus Distribuidora dedicado exclusivamenteà condução desse processo. Segundo a Ômega, desse contexto emergem os diversos problemas, a exemplo dos atrasos de validação e da má definição do escopo do projeto. A Ômega reforça tal concepção ao afirmar que outras organizações que definiram um líder para o projeto conseguiram soluções mais rápidas e que as mesmas já estão implantadas como originalmente previsto. 6 Área específica de interesse. No setor de controle as principais atividades são faturamento de notas fiscais, controle de documentos, obrigações acessórias junto aos órgãos competentes que regularam o segmento. Os acompanhamentos referentes à automatização dos processos são realizados quinzenalmente pelos gestores, sendo trimestralmente apresentados em reunião, na qual são destacados os avanços, os processos implantados e os retrocessos vivenciados ao longo do período. Problema ou decisão. Tendo em vista a proximidade da próxima reunião trimestral, Luiz sabia que precisaria assumir uma posição sobre os problemas apresentados. Ele sabia que a instalação do sistema operacional gerou custos oriundos da compra das licenças de uso totalizando 10 unidades no valor de R$ 2.000 mensais. Além disso, ele havia solicitado uma pesquisa de mercado, na qual foi informado que há, atualmente, outros programas similares no mercado, mas já com as customizações necessárias para a empresa, programas esses, com um valor de R$ 1.000.000 (custo imediato, sem a cobrança de mensalidades). Outro ponto a ser considerado consiste que, em virtude das variações no mercado, a margem de lucro da organização reduziu-se, sendo, portanto, necessário promover-se um ajuste de estratégias específicas para colaborar na alavancagem de resultados. Desse modo, a Maximus estava depositando grande expectativa na automatização dos processos para otimizar tempo e redistribuir as tarefas dos colaboradores e assim possibilitar o tempo utilizado na execução possa se direcionar para a efetiva análise de informações mais dinâmicas, seguras e tempestivas. Alternativas Assim, Luiz viu-se frente a duas potenciais escolhas para a situação em questão: a. Descontinuar o uso do software. Considerando as informações transmitidas pelos funcionários, uma vez que o programa não estava se mostrado eficiente para a Maximus, além de estar subutilizado e já ter 7 ultrapassado o prazo esperado para sua adaptação. Contudo, essa decisão necessitaria que fosse negociada junto à diretoria a busca por uma nova opção que atendesse de forma mais adequada às reais necessidades vividas pela organização. Uma potencialidade dessa escolha seria a imediata redução de custo das licenças da Ômega, simultaneamente abrindo espaço para a contratação de um novo programa. Por outro lado, essa mudança também significa um período de adaptação dos funcionários à nova interface, etapa pela qual eles já passaram com o atual software. Além disso, os custos de programas similares ou melhores no mercado ultrapassavam o que tinha sido gasto até o momento com a Ômega. b. Confiar na potencialidade do atual programa. Durante o processo de contratação, já que o software da Ômega demonstrou atender todos os critérios do projeto. Dessa forma, uma próxima etapa necessária seria descobrir o motivo desses entraves, podendo-se assim buscar a criação de uma solução para tornar o atual sistema mais efetivo para a empresa. Essa opção inclui um menor obstáculo no sentido da adaptação dos usuários, dado que já estão trabalhando com esse software nos últimos dois anos. Ainda assim, novos usos do programa se farão necessários, ou seja, ainda haverá a necessidade de certo aprendizado por parte de alguns usuários. Um novo custo será adicionado, no entanto, pela contratação ou remanejamento de um funcionário que será dedicado ao processo de adaptação do software da Ômega ao contexto e necessidades da empresa, como sugerido por ela, contudo o custo mensal das licenças já consta no orçamento anual e não impacta no planejamento da empresa. Em vista desse conjunto de informações e das possíveis opções a serem tomadas, Luiz sentia que precisava reanalisar toda a situação com cuidado para que pudesse, com convicção e segurança, defender a sua decisão frente à diretoria. 8 2. Notas de ensino Breve comentário sobre o caso. O caso da Maximus Distribuidora S.A apresenta uma situação, na qual há um conflito sobre a melhor forma de gerir uma automação de processo. Nessa conjectura, o gerente Luiz Prado busca analisar o caso obtendo o maior número de informações para que possa ser tomada a decisão mais assertiva para os interesses da empresa. A automação de processos na organização surge como uma ferramenta para aumentar a competitividade da empresa, contudo na implantação do software irrompem dificuldades de execução do projeto. Com base nisso, o caso apresenta como desafio analisar e decidir se a empresa deve descontinuar o projeto e buscar um novo programa ou insistir confiando no sucesso do software da Ômega na organização. O caso é baseado em uma história real vivida por uma organização. Entretanto, alguns dos incidentes foram criados ou adaptados para facilitar a construção da narrativa. Nomes de cidades, organizações e pessoas foram alterados. Objetivos educacionais e questões. O caso é apropriado para aulas de graduação em Administração ou Contabilidade em disciplinas que discutam gestão de processos ou planejamento organizacional. As perguntas foram realizadas com o objetivo de facilitar a construção de um resumo sintético sobre o caso e instigar a habilidade do estudante de analisar e comentar a literatura com base no caso. Além disso, busca-se fomentar a sua capacidade de gerar soluções alternativas para o dilema organizacional apresentado. Com isso, têm-se em sequências as questões. 1. Quais os critérios de decisão do caso? 2. Qual seria a decisão recomendada para solucionar o problema do caso? 9 3. Qual plano de ação pode ser recomendado para resolver o problema vivenciado? 4. Conforme informações da literatura e do caso, quais outras alternativas poderiam ser propostas? Estratégias para análise do caso. O caso foi elaborado para ser discutido em uma ou duas aulas com consulta à literatura indicada. Além disso, sugere-se que o caso seja disponibilizado para os leitores com, no mínimo, quinze dias de antecedência. Referências recomendadas para fundamentar a análise. MARKUS, M. L. Power, Politics, and MIS Implementation. Communications of the ACM, v. 26, n. 6, p. 430-444. June 1983. HASTIE, S.; WOJEWODA, S. Standish Group 2015 Chaos Report - Q&A with Jennifer Lynch Disponível em: https://www.infoq.com/articles/standish -chaos- 2015/ Acesso em: 16 de novembro de 2019 PINHEIRO, A. Gestão por Processos: Um Estudo Sobre a Adoção de Sistema para Automação de Processos de Negócios, 2016 SANTOS, A. B.; OCTÁVIO, L.; JUNIOR, A. A. A Influência da Automação Industrial na Distribuição, Logística e Transporte de Derivados no Brasil. Rio Oil & Gas Expo and Conference 2006 STRASSMANN, P. The Economics and Politics of Information Management. KPMG Impact Program, junho de 1996. ZANELA, A.; MACADAR, M.; SOARES, R. Mudança Organizacional Provocada pela Utilização de Sistemas Integrados de Gestão Empresarial: Uma proposta de Estudo, 2001 10 3. Análise do caso Síntese da literatura. De acordo com Santos (1995 apud SANTOS ET AL, 2006 p. 1), a automação é um conjunto de técnicas pelas quais se constroem sistemas ativos capazes de atuar com eficiência ótima, com uso de informações recebidas do meio sobre o qual atuam. Assim, um sistema de automação calcula a ação mais apropriada e, rapidamente, a executa de forma a reduzir custos e diminuir desperdícios processuais. Esse conjunto de técnicas é operacionalizado a partir de um processo, ou seja,um conjunto de atividades sequenciadas formadas por um conjunto de tarefas objetivando gerar um resultado adequado para o cliente. (ARAUJO, 2011). No contexto de automação, isso pode consistir em alteração na forma como são alocados recursos materiais e intelectuais. Nessa situação pode haver o surgimento de novos procedimentos, aumento de padronização nos processos, simplificação de atividades, entre outros. (MOTTA,1998) Com base em um dos trabalhos publicados na Rio Oil & Gas Expo and Conference (2006), a automação da indústria do petróleo está presente desde o nível mais baixo, através da utilização de inúmeros elementos básicos típicos do “chão-de-fábrica”, até o nível mais alto. Nesse contexto, alguns dos principais benefícios acarretados pelo processo de automação industrial no mercado de distribuição de combustíveis são: aumento da eficiência, confiabilidade e produtividade (operação simultânea), redução de pessoal, redução de custos, agilização dos processos, inserção de técnicas de gestão e produção (sistema de planejamento), adequação a novas especificações, aumento da capacidade de produção, flexibilidade do processo, aumento da disponibilidade das informações, aumento de competitividade, aumento da rentabilidade, assim como outros benefícios. Contudo, apesar do investimento em automação propor diversos benefícios, nem sempre as empresas que mais investem em tecnologia são as que obtêm os melhores resultados nos seus setores de atuação. (STRASSMANN,1996) 11 Isso acontece pois o processo de automação leva em consideração diversos aspectos, sendo eles humanos e tecnológicos. Com base no relatório do caso do Standish Group (2015) 29% dos projetos implementados de TI são considerados bem-sucedidos (successful), 52% desafiadores (challenged) e 19% fracassados (failed). Além disso, de acordo com as pesquisas realizadas estão entre as características essenciais dos projetos que alcançam sucesso: suporte executivo, maturidade emocional, envolvimento do usuário, otimização do projeto para o negócio, profissionais capacitados, agilidade, expertise na gestão do projeto e objetivos claros. Conforme Zanela, Macadar & Soares (2001), existem dois aspectos principais que precisam ser considerados na adoção de uma nova tecnologia. O primeiro é o agente de mudanças, que irá auxiliar na automação, focar nos objetivos, assessorar na superação de obstáculos, fomentar novas ideias e atitudes de forma que os outros membros da organização se identifiquem com esses novos comportamentos e internalizem ao perceber a eficácia no mesmo na melhoria do processo. O segundo é a resistência à mudança, quase inerente a processos de automação, podendo se manifestar de manifestar de forma implícita ou explícita, a exemplo de greves, absenteísmo e redução de produtividade. Markus (1983), apresenta três teorias para explicar o motivo da resistência à inovação são elas: determinado pelas pessoas, determinado pelo sistema e teoria da interação. A primeira afirma que a resistência é originada de fatores internos da pessoa ou do grupo, considerando que pessoas são naturalmente resistentes a mudanças. A segunda teoria postula que a pessoa ou grupo atribui a resistência a fatores inerentes da aplicação ou do sistema sendo implementado, a exemplo de softwares que não são user friendly. E, por fim, a terceira teoria apresenta que pessoas ou grupos resistem à inovação por causa da interação das características inerentes ao sistema e às pessoas, como exemplo pode-se citar programas altamente centralizadores de dados em empresas com estrutura de autoridade descentralizada. Essa resistência, conforme postulado por Markus (1983), precisa ser trabalhada dentro da organização, pois mesmo informal ou implicitamente ela pode interferir 12 e influenciar nas ações tomadas pelos gestores e analistas envolvidos na implementação da nova tecnologia. Ainda segundo Markus (1983), cada grupo de problemas descritos na recepção de inovações organizacionais possui seu respectivo leque de soluções. Isso quer dizer, por exemplo, que uma empresa que se enquadre nos problemas de implantação de inovações por conta da resistência determinada pelas pessoas, poderá aplicar técnicas como, treinar usuários na ferramenta, criar editais e políticas de uso do software e incentivar a participação do usuário em fóruns de sugestões criar envolvimento e comprometimento com a ferramenta. Por outro lado, empresas que apresentem problemas com implantação de inovações alinhados a teoria de resistência determinada pelo sistema, seriam ações recomendadas: educar o designer para oferecer melhores tecnologias, modificar a ferramenta para que a mesma se adeque aos processos operacionais e instigar a participação do usuário em fóruns de sugestões para ter novas propostas de designs mais user friendly. Já situações que se apliquem melhor a teoria da interação as sugestões seriam, resolver problemas organizacionais antes de introduzir o sistema, reestruturar incentivos para os usuários e reestruturar o modelo de relação entre usuários e designers. Outro ponto que merece destaque no que se refere a possíveis problemas de automação, é o baixo estabelecimento de metas processuais para realização da automação, o que de acordo com Locke & Latham (1985), atrapalha a performance, pois os esforços não são realizados de forma direcionada. Assim, a criação de metas processuais se faz necessária por permitir elencar prazos, prioridades, adaptações necessárias do sistema e pessoas envolvidas com feedbacks comparando o grau de progresso em relação à meta geral. De acordo com Pfleeger apud Paduelli (2011), a decisão de investir na evolução de um software ou abandoná-lo para iniciar um novo projeto é uma tarefa complexa. Essas decisões devem levar em conta custos, confiabilidade, capacidade de adaptação à mudanças futuras, desempenho e limitações atuais e comparação com outras opções disponíveis no mercado. Além disso, precisa-se avaliar se são necessárias adaptações do programa ou a substituição do mesmo por completo. Vale ressaltar que abandonar um sistema 13 existente para iniciar um projeto do zero representa uma perda considerável a organização. (Silva & Santander, 2004). Caso a substituição do software seja realizada na empresa será necessário realizar um novo planejamento, perpassando pelos cinco grupos de processo do gerenciamento de projetos, sendo eles o início, planejamento, execução, monitoramento e controle e encerramento. PMBOK (2018) O início corresponde à definição do escopo preliminar e liberação do capital financeiro para o início da execução. O planejamento é o detalhamento do que foi definido na etapa de inicial, no qual é detalhado valor total do investimento, prazo, entre outros. Já na execução o que foi acordado passa a ser delegado para as equipes e o gestor passa a verificar o alinhamento das entregas com o escopo. O monitoramento e controle é encarregado do acompanhamento e realização de ajustes rápidos caso necessário. E por fim, o encerramento, no qual é formalizado o fechamento do projeto ou de uma das suas fases com um balanço e registro dos erros e acertos para posteriores melhorias. Síntese do caso e respostas 1. Quais os critérios de decisão do caso? Os critérios de decisão do caso levam em consideração a análise dos possíveis trade-offs inerentes a cada uma delas, ou seja, as vantagens e desvantagens relativos a cada uma das possíveis resoluções. Isso diz respeito tanto à decisão de manter ou de descontinuar o software, uma vez que, como dito anteriormente, são alternativas excludentes. Desse modo, para fins didáticos, os trade-offs aqui serão classificados em duas principais áreas: estruturais e pessoais. A primeira diz respeito às questões pertinentes à estrutura da organização, como disponibilidade de caixa;a segunda visa aspectos que envolvem os colaboradores. a. OPÇÃO 1: DESCONTINUAÇÃO DO SOFTWARE Assim, ao avaliar a possibilidade de descontinuar o uso do software haveria o trade-off estrutural: 14 Disponibilidade de caixa x Custo do programa Ocorreria assim a redução imediata de custos das licenças mensais, para um posterior aumento após a contratação do novo programa. Essa nova aquisição, como supracitado, geraria um investimento de aproximadamente R$ 1.000.000, sendo esse custo único, sem cobrança de mensalidades. Esse investimento poderia ser considerado pela diretoria como de alto risco em razão da atual redução da margem de lucro da empresa. Seria possivelmente necessário ajustar o orçamento anual realizando cortes em outras áreas para acomodar esse projeto. Além disso, haveria também um trade-off pessoal: Adaptação à nova interface x Condicionamento à ferramenta atual Os funcionários precisariam se adaptar à nova interface que seria contratada, etapa pela qual eles já passaram com o atual software. Nesse processo, existiria a necessidade de realizar medidas preventivas para que não surgisse resistência à inovação determinada pelas pessoas, pelo sistema ou pela teoria da interação. b. OPÇÃO 2: MANUTENÇÃO DO SOFTWARE Por sua vez, ao avaliar a possibilidade de manter o software tem-se como trade- off estrutural: Baixo custo x Sistema com baixa efetividade atual Considerando essa escolha, não haverá a necessidade de contratar um novo programa e o custo mensal das licenças já está orçado nas contas da companhia. Um novo custo seria adicionado somente se a organização decidisse contratar um funcionário dedicado ao processo de adaptação do software da Ômega. Por outro lado, há também a possibilidade de se realizar o remanejamento de um colaborador de outra área, que esteja disponível, sem incorrer em um custo extra à organização. Ademais, a ausência de uma solução imediata para tornar o atual sistema mais efetivo para a empresa é problemática, já que, até o momento, não se tem confirmação da causa da inefetividade do software. 15 Por fim, um trade-off pessoal dessa decisão seria: Expectativas dos funcionários x Desempenho do software Nesse caso, seria necessário lidar com a quebra de expectativa dos usuários que foram motivados com a facilidade oferecida pela tecnologia e se sentiriam desapontados com o desempenho do programa até o momento. Isso se deu em grande parte a diferença entre o cenário projetado - próximo da perfeição - e a execução do processo que tinha sua conclusão prevista para seis meses, mas já ultrapassa dois anos. 2. Qual seria a decisão recomendada para o problema do caso? Considerando os trade-offs relativos e a análise das teorias apresentadas no caso a decisão recomendada para a organização seria a manutenção do software atual realizando adaptações ao mesmo. Nesse caso, uma das teorias utilizada seria a de Markus (1983), sobre resistência à inovação para detectar a origem do problema e o curso de ação mais efetivo para solucioná-lo. Para isso a organização precisaria criar editais e políticas de uso do software, incentivar a participação do usuário em fóruns de sugestões, capacitar o designer para oferecer melhores tecnologias, modificar a ferramenta para que a mesma se adeque aos processos operacionais e instigar a participação do usuário em fóruns de sugestões para ter novas propostas de designs mais user friendly. Dessa forma, seria possível detectar a maior parte dos entraves apresentados pelos funcionários, bem como as possíveis soluções para os mesmos e, ainda, trazer-se a compatibilidade dessas ideias com a ferramenta disponibilizada pela Ômega. 3. Qual plano de ação poderia ser recomendado para resolver o problema? Para o presente caso o plano de ação pode ser dividido em 6 passos: i. Realocar ou contratar funcionários para o processo de otimização do software; 16 ii. Levantar os entraves apresentados tanto na perspectiva dos funcionários, quanto da empresa contratada; iii. Viabilizar uma reunião da organização com a empresa contratada, expondo os entraves e as possíveis soluções para os mesmos; iv. Criar um fórum com as propostas apresentadas para votação de prioridades e sugestões por parte dos funcionários que utilizam a ferramenta; v. Definir prazos e prioridades de acordo com os resultados esperados e; vi. Executar o projeto de melhoria Buscando melhor entendimento das ações a serem tomadas foi escolhido o uso da metodologia 5W2H. Essa ferramenta foi criada no Japão e inicialmente foi utilizada na indústria automobilística nos estudos sobre qualidade total. Entretanto, atualmente esse método é usando em diversas áreas da administração como uma forma de desenvolver um checklist que valide e auxilie no desenvolvimento do plano de ação de um projeto. (PALADINI, 2009) Esse método parte da criação de um formulário ou tabela que possui as seguintes questões: O que? – objetivo da atividade; Quem? – pessoas envolvidas na atividade; Onde? – definição do local da ação; Por quê? – os motivos para a realização da ação; Quando? Como? – a forma como deve ser executada; Quanto custa? – o custo do processo. A partir daí é possível definir as métricas básicas do plano de ação e acompanhar o seu desenvolvimento de acordo com as informações apresentadas. (PALADINI, 2009) 17 Setor: Operações Objetivo: Otimizar o uso do software de gestão de processos Responsável: Supervisor de Operações Plano de ação O que? Quem? Onde? Por quê? Quando? Como? Quanto Custa? Alocar ou contratar funcionários para o processo de otimização do software Gerente de Operações/ Recursos Humanos Escritório Central Gerar soluções mais rápidas e efetivas com um colaborador coordenando o processo de implantação do software como atividade principal. N/A Avaliar com outros setores da organização se existe um funcionário passível de alocação para essa atividade. Caso não existe nenhum colaborador disponível a organização deve iniciar um processo seletivo para contratação de novo funcionário. Em caso de contratação R$ 1.600 Levantar os entraves apresentados tanto na perspectiva dos funcionários quanto da empresa contratada. Setor de Operações Escritório Central e Bases de Operações Compreender a demanda de forma mais objetiva para gerar soluções assertivas N/A Realizar levantamento das reclamações abertas no software. Abrir fórum de reclamações dentro da plataforma. Solicitar formalização por e-mail dos entraves que a empresa contratada está encontrando na realização do projeto. Sem custo adicional (incluso no custo das licenças e contração de funcionários) Organizar uma reunião da organização com a empresa contratada expondo os entraves e as possíveis soluções. Setor de Operações e Ômega Escritório Central Alinhar expectativas do que a empresa deseja realizar e as possibilidades efetivas disponíveis pelo software N/A Marcar data da reunião com a Ômega Sem custo adicional (incluso no custo das licenças) Criar fórum com as propostas apresentadas para votação de prioridade e Setor de Operações e Ômega Online Envolver os funcionários no processo de melhoria e diminuir a N/A Solicitar a Ômega a criação do fórum com votação para a propostas de solução Sem custo adicional (incluso no custo das licenças) 18 Em vista das peculiaridades da relação da autora do caso com a organização não foi possível realizar estimativas de duração das atividades. Caso desejado a empresa pode realizar a estimativa das datas de acordo com a necessidades de execução presentes no momento. A partirdesse ponto é aconselhado o uso da metodologia PDCA para acompanhamento do projeto. O ciclo do PDCA é composto de 4 etapas: plan, do, check e act, sendo a primeira etapa composta da definição pela análise do problema, definição da meta e elaboração do plano de ação, a segunda a execução do plano, a terceira a verificação do resultados e a quarta a padronização dos resultados e ações corretivas no insucesso. (PALADINI, 2009) sugestões por funcionários utilizando a ferramenta. resistência com a tecnologia apresentadas após a reunião Alocar prazos e prioridades de acordo com os resultados. Setor de Operações Online Garantir que as melhorias comecem a gerar resultados significativos para a organização o mais breve possível N/A Funcionário contratado pela Maximus irá mapear e planilhar as informações de acordo com as prioridades de resultado e enviar para a Ômega. Sem custo adicional (incluso no custo da contratação do funcionário) Executar projeto de melhoria. Ômega Online Otimizar tempo de trabalho e realizar análise de informações mais dinâmicas, seguras e tempestivas. N/A Com base na alocação de prioridades apresenta a Ômega irá iniciar as alterações no software para realizar as melhorias necessárias com suporte do funcionário contratado pela Maximus. Sem custo adicional (incluso no custo das licenças) 19 Figura 1: Ciclo do PDCA Disponível em: https://www1.tce.pr.gov.br/conteudo/ciclo-pdca/235505/area/46 Acesso em: 04 de maio de 2020 Contudo, essa continuidade foge ao escopo pretendido pelo autor desse caso de ensino, sendo um possível futuro desdobramento em outro caso de ensino ou aprofundamento dessa estratégia em sala de aula de acordo com a estrutura desejada pelo professor que utilizar esse material. 4. Conforme informações da literatura e do caso, quais outras alternativas poderiam ser propostas? Na literatura atual são apresentadas apenas duas teorias, que são: adaptações do programa ou a substituição do mesmo por completo. Isso se deve ao fato de as mesmas apresentarem alternativas mutuamente excludentes. Caso haja uma substituição do software e adoção de uma nova tecnologia, a empresa terá no seu foco, inicialmente, encontrar os pré-requisitos desejados no mercado para posteriormente organizar a implantação do mesmo na empresa. Assim, eventualmente, passará pelos cinco grupos de processo do gerenciamento de projetos: início; planejamento; execução; monitoramento e controle; encerramento. 20 Em contrapartida, caso ocorra a manutenção do programa, a empresa se concentrará em entender problemas e conflitos internos. Essa iniciativa visa compreender as limitações referentes ao desenvolvimento e aplicação da tecnologia em contraste com questões oriundas da mão de obra humana. Nesse processo, é necessário analisar quem são os agentes de mudança e quais as resistências à mudança que podem ter surgido durante a implantação do software. Considerando os conteúdos existentes na literatura atualmente, os autores são unânimes na concepção de que, independentemente da decisão tomada pela organização, o processo para a realização do projeto é permeado por questões de complexidade diversa. Desse modo, não existe uma decisão padrão que seja melhor para qualquer modelo de organização. Vale a ressalva que essa consideração é feita a partir da análise dos autores utilizados no referencial teórico e listados nas referências que compõem o material do presente trabalho. 21 Referências adicionais ARAUJO, L.C.G., GARCIA, A.A, MARTINES, S. Gestão de Processos – Melhores Resultados e Excelência Organizacional, São Paulo, 2011. BRUNI, Adriano Leal. Manual do Caso de Ensino; 2014. MOTTA, P. R. Transformação Organizacional: A Teoria e a Prática de Inovar. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1998. PALADINI, Edson. Gestão Estratégica da Qualidade. Atlas, 2009 SAKURAI, M. Gerenciamento Integrado de Custos. São Paulo: Atlas, 1997. SILVA, L. DE P.; SANTANDER, V. F. A. Uma Análise Crítica dos Desafios para Engenharia de Requisitos em Manutenção de Software. In: Workshop em Engenharia de Requisitos, Tandil, Argentina, dezembro; 2004 PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE. Um Guia do Conhecimento em Gerenciamento de Projetos (Guia PMBoK); 6ª edição; 2018 PADUELLI, M. M. Manutenção de software: problemas típicos e diretrizes para uma disciplina específica. USP- São Carlos; 2007
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