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Educação Inclusiva Responsável pelo Conteúdo: Prof. Me. Bruno Pinheiro Ribeiro Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin Aspectos Históricos da Inclusão Escolar: Políticas Públicas da Educação Especial Aspectos Históricos da Inclusão Escolar: Políticas Públicas da Educação Especial • Refletir sobre o desenvolvimento sócio-histórico da Educação Inclusiva; • Conhecer como a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva se organiza no âmbito brasileiro; • Tomar contato com os documentos internacionais que orientam e sistematizam diretrizes para o aprimoramento e a ampliação da Educação Inclusiva. OBJETIVOS DE APRENDIZADO • Aspectos Históricos; • Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. UNIDADE Aspectos Históricos da Inclusão Escolar: Políticas Públicas da Educação Especial Contextualização Para iniciarmos a conversa sobre Educação Inclusiva, temos de enfocar seu per- curso histórico, os aspectos sociais e as Políticas Públicas envolvidas, que vêm sendo objeto de estudo e discussões no Brasil e no mundo. A dinâmica social ao longo da história consolidou estruturas que orientam pensa- mentos, hábitos, comportamentos, relacionamentos etc. Essas formas se sedimentaram e criaram modelos quase sempre inalcançáveis. Nesse processo, alguns grupos sociais que não se enquadravam aos modelos foram sendo destacados, colocados à margem. Com isso, formam-se barreiras, principalmente atitudinais, difíceis de serem ven- cidas. Nesse sentido, é preciso enfatizar os percalços sofridos pelas pessoas que apresentam algum tipo de deficiência. No âmbito da Educação Inclusiva, esta unidade propõe-se a discutir as políticas públicas referentes a essa modalidade de ensino. Sugestão de leitura: “Aprendendo na diversidade: implicações educativas” de Rosa Blanco, Diretora do Escritório da Organização de Estados Ibero-americanos no Chile. Disponível em: https://bit.ly/2XBOUoW 8 9 Aspectos Históricos Ao longo da história da Humanidade, não há registro, até por volta de 6.000 a.C. (ROSSETTO et al., 2006), de como viviam as pessoas portadoras de alguma deficiência. Na Grécia antiga, as crianças e os adultos eram preparados para servir ao Exér- cito com o objetivo de defender o Estado. As crianças que nasciam com algum tipo de deficiência eram lançadas, ribanceira abaixo, no abismo localizado na cadeia de montanhas Tahgetos, próximo a Esparta. Isso acontecia porque o Estado entendia que essas crianças não reuniam condições para servi-lo, vez que não eram saudáveis, fortes e belas. Em Atenas, a criança que nascesse com deficiência não tinha tratamento diferente dos espartanos. O extermínio era tido como um procedimento comum, com a coni- vência e determinação dos filósofos da época, sendo que os próprios pais tinham a incumbência de matar o filho quando ele nascesse com alguma “anormalidade”. Figura 1 – Cópia da estátua grega: Laocoonte e seus fi lhos Fonte: Wikimedia Commons Na Roma antiga, até meados do século V a.C., o tratamento oferecido às crianças que nasciam com deficiência era semelhante ao da Grécia, ou seja, os pais tinham permissão para matar os filhos com alguma deformidade. Após o século II a.C., com a profissionalização do exército romano, as crianças que nasciam com alguma deficiência passaram a contar, por parte do Estado e da Sociedade, com certa tolerância. Assim, algumas dessas crianças chegaram a se tornar imperadores quando adul- tos, como Tiberius, que era manco e gago, e Servius Galba, que tinha malformação nos pés. 9 UNIDADE Aspectos Históricos da Inclusão Escolar: Políticas Públicas da Educação Especial No entanto, as crianças com alguma deficiência e em situação de pobreza viviam uma situação bem diferente, pois ou eram abandonadas à própria sorte ou eram eliminadas. Na Idade Média, com a divisão das classes sociais, a Sociedade passou a ser com- posta por sacerdotes, guerreiros e trabalhadores. O controle era exercido pelos dois primeiros, sustentados pelos trabalhadores. Deixou-se de se eliminar as pessoas com deficiência, porque o Cristianismo não aceitava essa prática e essas pessoas defi- ciência passaram a ficar segregadas em Hospitais ou asilos. A princípio mantidos pela Igreja, com o desenvolvimento social, esses Hospitais foram sendo secularizados, mas como o número de Hospitais não era suficiente para atender a todos os indivíduos com deficiência, alguns eram aceitos para serem bobos da corte ou mesmo eram aceitos por razões supersticiosas. Outros tantos ficavam perambulando pelas ruas (ROSSETTO et al., 2006). Com o ritmo acentuado do desenvolvimento ocorrido através dos séculos que se seguiram, o trabalhador foi sendo afastado da manufatura de produtos e do campo e levado a migrar para os grandes centros urbanos: “O capitalismo está assentado sobre os pressupostos da propriedade privada, dos meios de produção, na relação assalariada do trabalho” (ROSSETTO et al., 2006, p. 106). Na busca incessante pela produção e pelo lucro cada vez maior, a pessoa com defi- ciência é vista como incapaz, incompetente para suprir tal demanda de mão de obra e sofre as consequências das barreiras que lhe são impostas por esse processo perverso. Entretanto, não é apenas no âmbito do Mercado de trabalho que se verifica esse Sistema pautado no preconceito, na discriminação e na formação de barreiras, prin- cipalmente, as atitudinais. No âmbito escolar, esse Sistema perverso toma dimensões significativas, pois a grande maioria de crianças e adolescentes com deficiência é excluída e negligenciada em seu processo de escolarização. Figura 2 – Jeremy Mann, 2017 Fonte: novosti-n.org 10 11 Desde a Declaração dos Direitos Humanos, há uma preocupação de inclusão para os cidadãos, pensada de maneira democrática e universalizante, em que cada indivíduo deve ser respeitado e integrado socialmente a partir de suas características específicas. Mas foi durante a década de 1990 que importantes diretrizes para um compro- misso global com a consolidação e a ampliação de políticas educacionais inclusivas foram ressaltadas por meio da assinatura de alguns documentos, tratados e proto- colos internacionais. A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) é um documento histórico de muita relevância e tem em seu corpo alguns Artigos que dialogam fundamental- mente com os princípios para uma Educação Inclusiva. Os dois primeiros Artigos atestam a igualdade dos indivíduos diante dos direitos e dos princípios de dignidade humana, rechaçando, assim, os processos discriminatórios: Art. 1º. Os seres humanos nascem livres e iguais, em dignidade e direitos; Art. 2º. Sem Sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacio- nal ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra. No Artigo 26, aparecem os parâmetros para o acesso à Educação, quando, no item 1, afirma-se que: Art. 26. Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gra- tuita, pelo menos a correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e profissional deve ser generalizado. Complementado pelo item 2, que diz que: Art. 26. A educação deve visar à plena expansão da personalidade hu- mana e ao reforço dos direitos do Homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos. A Declaração dos Direitos Humanos se estabelece como marco fundamental da história no sentido de sua democratização e visa a assegurar às pessoas com defi- ciência os direitos à liberdade, a uma vida digna, o acesso à educação escolar, o de- senvolvimento individual e social e a condição de participação na vida comunitária, sem nenhum tipo de discriminação. A Declaração de Jomtiem (1990), promulgada na Tailândia, deu um importante passo para a EducaçãoInclusiva, apostando na Educação Básica para todos como meta viável, a partir dos seguintes princípios: • Art. 1º: “Satisfazer as Necessidades Básicas de Aprendizagem”; • Art. 2º: “Expandir o Enfoque”; • Art. 3º: “Universalizar o Acesso à Educação e Promover a Equidade”; • Art. 4º: “Concentrar a Atenção na Aprendizagem”; 11 UNIDADE Aspectos Históricos da Inclusão Escolar: Políticas Públicas da Educação Especial • Art. 5º: “Ampliar os Meios e o Raio de Ação da Educação Básica”; • Art. 6º: “Propiciar um Ambiente Adequado à Aprendizagem”; • Art. 7º: “Fortalecer as Alianças”; • Art. 8º: “Desenvolver uma Política Contextualizada de Apoio”; • Art. 9º: “Mobilizar os Recursos”; • Art. 10º: “Fortalecer a Solidariedade Internacional”. A Declaração de Salamanca (1994) foi mais um passo decisivo na ampliação das diretrizes para a Educação Inclusiva. Os signatários do documento proclamaram que: • Toda criança tem direito fundamental à educação, e deve ser dada a oportuni- dade de atingir e manter o nível adequado de aprendizagem; • Toda criança possui características, interesses, habilidades e necessidades de aprendizagem que são únicas; • Sistemas educacionais deveriam ser designados e programas educacionais deve- riam ser implementados no sentido de se levar em conta a vasta diversidade de tais características e necessidades; • Aqueles com necessidades educacionais especiais devem ter acesso à escola regular, que deveria acomodá-los dentro de uma Pedagogia centrada na criança, capaz de satisfazer a tais necessidades; • Escolas regulares que possuam tal orientação inclusiva constituem os meios mais eficazes de combater atitudes discriminatórias criando-se comunidades acolhe- doras, construindo uma sociedade inclusiva e alcançando educação para todos; além disso, tais escolas provêm uma educação efetiva à maioria das crianças e aprimoram a eficiência e, em última instância, o custo da eficácia de todo o sistema educacional. Declaração de Salamanca, disponível em: https://bit.ly/2Xynr7c A Convenção da Guatemala (1999) foi o mais um importante encontro interna- cional, do qual o Brasil fez parte, que tratou da temática do acesso e dos direitos das pessoas com deficiência, e reforçou que: [...] as pessoas portadoras de deficiência têm os mesmos direitos humanos e liberdades fundamentais que outras pessoas e que estes direitos, inclusi- ve o de não ser submetido a discriminação com base na deficiência, ema- nam da dignidade e da igualdade que são inerentes a todo ser humano. 12 13 Figura 3 – Passeata dos cem mil – Evandro Teixeira, 1968 Fonte: alainet.org No âmbito brasileiro, a Lei de Diretrizes e Bases – LDB (Lei n.º 9394, de 1996) garante a proposição de currículos, métodos, recursos educativos e organi- zações específicas para atender às necessidades do aluno, garantindo-lhe o acesso e a permanência numa escola com qualidade. Em 1993, foi elaborado, pelo Ministério da Educação (MEC), o Plano Decenal de Educação para Todos, documento destinado a cumprir, no período de uma década (1993 a 2003), as resoluções da Conferência Mundial de Educação para Todos, rea- lizada em Jomtien, na Tailândia, em 1990, pela Unesco, Unicef, PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) e Banco Mundial. Esse documento é considerado “um conjunto de diretrizes políticas voltado para a recuperação da escola fundamental no país”. Os objetivos do Plano Decenal de Educação para Todos são lembrados na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, aprovada em 1996, ao consolidar e ampliar o dever do Poder Público com a Educação em geral, e em particular com o Ensino Fundamental. A própria Constituição Federal (1988), no Artigo 208, Inciso III, do Capítulo III, garante a Educação como direito de todos, e a Constituição do Estado de São Paulo (1989), no Artigo 239, § 2º, assegura o direito ao atendimento especializado aos alunos com necessidades educacionais especiais. Apesar da correlação existente entre a idade dos alunos e o nível e as modalidades de ensino, as Leis e os Regulamentos Educacionais garantem o direito de todo cidadão de frequentar a Escola Regular em qualquer idade. No entanto, também é uma obrigação do Estado garantir os meios para que os jovens e os adultos que não tenham frequentado a Escola na idade adequada possam acelerar seus estudos e alcançar formação equivalente à Educação Básica. 13 UNIDADE Aspectos Históricos da Inclusão Escolar: Políticas Públicas da Educação Especial Trocando Ideias... No último Censo Demográfico realizado no Brasil, em 2010, 45,6, milhões de pessoas declararam ter pelo menos um tipo de deficiência, seja do tipo visual, auditiva, motora ou intelectual. Isso é o equivalente a 23,9% da população brasileira. Vale também destacar que, de acordo com o censo escolar realizado em 2015, o número de matrí- culas iniciais na Educação Básica das Redes Públicas Municipal e Estadual de Ensino de áreas urbanas e rural era de 38.682.720, abrangendo Creche, Pré-Escola, Ensinos Fundamental e Médio, Educação de Jovens e Adultos e Educação Especial. Em 2015, estavam matriculadas em Creches 1.925.644 de crianças; na Pré-Escola, 3.651.786; no Ensino Fundamental, 22.756.164; no Médio, 6.811.005 e 2.792.758, na Educação Presencial de jovens e adultos, o que totalizava, então, 37.937.357. Na Educação Especial, eram 745.363 matrículas. Apesar de sabermos que ainda há muito por fazer quando o assunto é inclusão, dados recentes mostram que houve um aumento significativo no número de alunos com alguma deficiência em salas de aula da Escola regular. Entre 2005 e 2015, o salto foi o equivalente a 6,5 vezes, de acordo com o Censo Escolar, do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira). O total de alunos havia subido de 114.834 para 750.983. Já em 2017, eram, ao todo, 930.683 alunos com deficiência, transtornos de desenvolvimento e altas habi- lidades/superdotação no Ensino Regular e no EJA (Educação de Jovens e Adultos). Foto de dança artística, disponível em: https://bit.ly/3gfcX5q Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva A Legislação brasileira tem acompanhado o percurso de outros países. Tem uma das Legislações mais abrangentes, equiparando-se a países mais desenvolvidos, buscando, dessa forma, assegurar a promoção de oportunidades educacionais na Escola comum. Nesse sentido, a Educação Especial, como modalidade de ensino que deve ser promovida sistematicamente nos diferentes níveis de ensino, presta-se ao atendimen- to de pessoas com Necessidades Educacionais Especiais, preferencialmente, na Rede Regular de Ensino, com o objetivo de propiciar ao aluno o desenvolvimento de suas potencialidades, autonomia e independência, dentro dos princípios da Educação In- clusiva e assegurados por um Projeto Político Pedagógico. 14 15 Âmbito Federal Em 1961, a Lei n.º 4.024/61 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN já afirmava o direito dos “excepcionais” (termo utilizado nas décadas de 1950, 1960 e 1970 para designar pessoas com deficiência mental/intelectual) à Educação, preferencialmente, dentro do Sistema Geral de Ensino. A LDBEN foi alterada pela Lei n.º 5.692/71, que definiu tratamento especial aos alunos com deficiências físicas, mentais, os superdotados e aqueles que se encontra- vam em atraso quanto à idade regular de matrícula. Ainda dentro de iniciativas isoladas do Estado, foi criado o Centro Nacional de Educação Especial (1973). Com isso, o MEC passou a se responsabilizar pela Edu- cação Especial em todo o território Nacional, impulsionando as ações integracionistas voltadas tanto às pessoas com deficiência quanto às superdotadas. Em 1988, foi promulgada a Constituição Federal, tendo os objetivos fundamentais definidos nos seguintes Artigos: Art. 3º. IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação; Art. 205. A educaçãocomo um direito de todos, garantindo o desenvol- vimento da pessoa, assim como o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho; Art. 206. I – estabelece a igualdade de condições de acesso e permanência na escola; Art. 208. Garante como dever do Estado, a oferta do atendimento edu- cacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino. O Artigo 55 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei 8.069/90, deter- mina que “[...] os pais ou responsáveis têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino”. Assegura ao adolescente com deficiência o trabalho protegido, garantindo seu treinamento e colocação no mercado de trabalho, e o incentivo à criação de oficinas abrigadas. No Brasil, em 1994, publica-se o documento “Política Nacional de Educação espe- cial” que orientará o processo de “integração instrucional” no qual as crianças com capacidade de acompanhar e desenvolver atividades curriculares do ensino comum, no mesmo ritmo que os alunos “normais”, deveriam ser integradas as classes comuns. Essa orientação pode ser apontada como um retrocesso naquele momento e contradi- tória com o movimento da educação inclusiva, pois propõem uma integração pautada na normalização e homogeneização da aprendizagem, excluindo as pessoas com defi- ciência, contrário a valorização das diferenças como potência pedagógica e humana. Em 1996, a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n.º 9.394/96, trouxe inovações e vem estabelecendo normas e princípios norteadores da Educação 15 UNIDADE Aspectos Históricos da Inclusão Escolar: Políticas Públicas da Educação Especial nacional, englobando diferentes modalidades da Educação: básica, ambiental, sexual, religiosa, profissional e para o trabalho, contribuindo para a formação do cidadão, além de oferecer, dentro do Sistema Educacional, espaços com flexibilidade para atender ao alunado, inclusive aqueles considerados com necessidades educacionais especiais. A LDBEN busca promover maior autonomia para as Escolas da Rede Pública e a gestão democrática com o objetivo de potencializar a construção de propostas pedagógicas que propiciem melhor qualidade do ensino, que permita atendimento eficiente e a permanência de todos os alunos dentro da Escola. A LDBEN preocupou-se também com a formação e a capacitação de gestores e professores, além de enfatizar a importância da participação da família no processo educacional de seus filhos. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Capitulo V, Da Educação Especial. Disponível em: https://bit.Ly/2zzkbve Já em 2001, é formulado o Plano Nacional de Educação – PNE Lei n.° 010172/ 2001, que estabelece objetivos e metas para que os sistemas de ensino favoreçam o atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos, produzindo uma escola inclusiva que garanta o atendimento à diversidade humana. A Emenda Constitucional n.º 59/2009 mudou a condição do Plano Nacional de Edu- cação (PNE), que passou de uma disposição transitória da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n.º 9.394/1996) para uma exigência constitucional com periodi- cidade decenal, o que significa que planos plurianuais devem tomá-lo como referência. Plano Nacional de Educação, disponível em: https://bit.ly/3d8sHVS O Decreto Lei n.º 3956, de 2001, promulgou a Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência – Convenção da Guatemala (1999); A Resolução CNE/CEB n.º 2/2001, disponível em: https://bit.ly/2ZCSKkc A Resolução CNE/CP n.º 1/2002 estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, definindo que as Instituições de Ensino Superior devem prever, em sua organização curricular, formação docente voltada para a atenção à diversidade e que contemple conhecimentos sobre as espe- cificidades dos alunos com necessidades educacionais especiais. Também em 2002, a Língua Brasileira de Sinais – Libras foi reconhecida como meio legal de comunicação e expressão. Dessa forma, determinou-se que fossem garantidas formas de apoiar sua difusão e seu uso, por meio da inclusão de Libras no currículo dos Cursos de Formação de Professores e de Fonoaudiologia. 16 17 No mesmo ano, por meio da Portaria n.º 2678/02, o MEC aprovou as diretrizes e normas para o uso, ensino, produção e difusão do Sistema Braille em todas as modalidades de ensino. A Legislação sobre acessibilidade foi impulsionada pelo Decreto n.º 5.296/04, que regulamentou as Leis n.º 10.048/00 e 10.098/00, respectivamente, promoven- do a acessibilidade urbana para as pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. O Decreto n.º 5.626/05, que regulamentou a Lei n.º 10.436/02, visando ao aces- so à Escola dos alunos surdos, dispõe: Sobre a inclusão da Libras como disciplina curricular, a formação e a certi- ficação de professor, instrutor e tradutor/intérprete de Libras, o ensino da Língua Portuguesa como segunda língua para surdos e a organização da educação bilíngue no ensino regular. (BRASIL, 2010, p. 14) Em 2005, foram implantados os Núcleos de Atividades de Altas Habilidades/ Superdotação – NAAH/S em todo o território nacional para o atendimento educa- cional especializado, orientação às famílias e formação continuada dos professores, com o objetivo de oferecer atendimento aos alunos na Rede Pública de ensino. A Organização das Nações Unidas – ONU aprovou, em 2006, a Declaração dos Direitos das Pessoas com Deficiência, assegurando um Sistema de Educação Inclusi- va, em todos os níveis de ensino, em ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e social. O lançamento do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (2006) apre- senta o objetivo de contemplar, no currículo da educação básica, temáticas relativas às pessoas com deficiência e desenvolver ações afirmativas que possibilitem acesso a e permanência na Educação Superior. Em 2007, foi implantado o Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE, Decreto n.º 6.094/07: [...] que estabelece nas diretrizes do Compromisso Todos pela Educação, a garantia do acesso e permanência no ensino regular e o atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos, fortalecendo seu ingresso nas escolas da rede pública. O PDE tem como eixos a formação de professores para a educação espe- cial, a implantação de salas de recursos multifuncionais, a acessibilidade arquitetônica dos prédios escolares, acesso e permanência das pessoas com deficiência na educação superior e monitoramento do acesso à es- cola dos favorecidos pelo Benefício de Prestação Continuada – BPC. (BRASIL, 2010, p. 15-16) A Resolução CNE/CEB n.º 4, de 2 de outubro de 2009, regulamenta o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, Modalidade Educação Especial. Entende-se como Atendi- mento Educacional Especializado o conjunto de atividades, recursos de acessibilidade e peda- gógicos organizados institucionalmente, prestado de forma complementar ou suplementar à formação dos alunos no ensino regular (BRASIL, 2009), disponível em: https://bit.ly/2yC8Q2o 17 UNIDADE Aspectos Históricos da Inclusão Escolar: Políticas Públicas da Educação Especial A Resolução CNE/CEB n.º 4, de 13 de julho de 2010, CNE/CEB, define Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica, disponível em: https://bit.ly/2M1gpm8 Âmbito Estadual A Resolução SE n.º 95, de 21 de novembro de 2000, dispõe sobre o atendi- mento de alunos com Necessidades Educacionais Especiais nas Escolas da Rede Estadual de Ensino. Âmbito Municipal O Decreto n.º 45.415, de 18 de outubro de 2004, estabelece diretrizes para a Política de Atendimento a Crianças, Adolescentes, Jovens e Adultos com Necessidades Educacionais Especiais no Sistema Municipal de Ensino, São Paulo. Decreto n.º 45.415, de 18 de outubro de 2004, disponível em: https://bit.ly/3d2645y O Decreto n.º 45.652, de 23 de dezembro de 2004, dá nova redação ao parágra- foúnico do Artigo 7º do Decreto n.º 45.415, de 18 de outubro de 2004, que estabelece diretrizes para a Política de Atendimento a Crianças, Adolescentes, Jovens e Adultos com Necessidades Educacionais Especiais no Sistema Municipal de Ensino. Decreto n.º 45.652, de 23 de dezembro de 2004, disponível em: https://bit.ly/3d3icTD Além das Leis, Resoluções e Decretos, enfatiza-se que vários documentos inter- nacionais contribuíram para a elaboração, implantação e implementação das Leis, Resoluções e Decretos e Normas Técnicas vigentes em nosso país. Documentos Internacionais • Declaração Universal dos Direitos Humanos, dezembro de 1948: Docu- mento básico das Nações Unidas, enumera os direitos que todos os seres humanos possuem; • Recomendação n.º 99/1955: Relativa à reabilitação profissional das pessoas com deficiência, princípios e métodos de orientação vocacional e treinamento profissional, como meio de aumentar oportunidades de emprego para as pesso- as com deficiência (emprego protegido); • Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes (ONU) – Resolução n.º 3.447/1975; • Declaração de Sunderberg (1981): Conferência Mundial sobre Ações e Estra- tégias para Educação, Prevenção e Integração; 18 19 • Programa de Ação Mundial para as Pessoas com Deficiência (ONU) – 1982; • Declaração Mundial Sobre Educação Para Todos: Conferência de Jomtien, 1990; • Resolução n.º 45 da ONU, 1990; • Dia Internacional das Pessoas com Deficiência – ONU: dia 3 de dezembro adotado como o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, 1992; • Declaração de Salamanca: Sobre Princípios, Política e Prática em Educação Especial, delegados da Conferência Mundial de Educação Especial, 1994; • Resolução n.º 48/96 – ONU: Normas sobre a Equiparação de Oportunidades para Pessoas com deficiência; • Convenção Interamericana para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as Pessoas Portadoras de Deficiência – ONU: Guatemala, 1999; • Carta para o Terceiro Milênio: Os direitos humanos de cada pessoa, em qual- quer sociedade, devem ser reconhecidos e protegidos, 1999; • Declaração de Pequim: Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência no Novo Século, Pequim, 2000; • Declaração de Dakar – Educação Para Todos (EPT): Para cada cidadão e cada sociedade, cidade de Dakar, 2000; • Declaração Internacional de Montreal: Sobre a Inclusão, 2001; • Declaração de Verona: Sobre o envelhecimento das pessoas com deficiência, Itália, 2002; • Declaração de Madri: A não discriminação e a ação afirmativa resultam em inclusão social. Ano Europeu das Pessoas com Deficiência, 2003; • Declaração de Quito – Equador: Normas e padrões existentes em relação aos direitos das pessoas com deficiência, 2003; • Declaração de Tenerife: Vida independente, eliminação de discriminação con- tra pessoas com deficiência, 2003; • Carta Mundial do Direito à Cidade: Elaborada por um conjunto de movimen- tos sociais, ONGs, associações de profissionais, fóruns e redes nacionais e in- ternacionais da sociedade civil comprometidos com as lutas sociais por cidades mais justas, democráticas, humanas e sustentáveis; • Fórum Social das Américas – Quito, julho 2004; • Fórum Mundial Urbano – Barcelona, outubro 2004; • Declaração de Montreal sobre Deficiência Intelectual, Montreal, 2004; • Resolução CEI 138. R11 – Organização Pan-Americana, 2006; • Declaração Decênio das Américas pelos Direitos e Dignidade das Pessoas Portadoras de Deficiência (2006-2016), Santo Domingo, 2006; 19 UNIDADE Aspectos Históricos da Inclusão Escolar: Políticas Públicas da Educação Especial • Resolução da Convenção Internacional de Deficiência – ONU, 2006: Direitos das pessoas com deficiência, abrangendo a Área Civil e Política, Inclusão Social, Saúde e Educação, Emprego e Proteção Social. Nossas Políticas Públicas de Educação Especial estão entre as mais avançadas do mundo. No Brasil, o atendimento às pessoas com deficiência foi uma das ações inovadoras, ainda no período imperial de D. Pedro II. Em 1854, foi criado o Instituto Imperial dos Meninos Cegos, atual Instituto Benjamin Constant – IBC. Três anos depois, foi criado o Instituto dos Meninos Surdos-mudos, atual Instituto Nacional da Educação dos Surdos – INES. Já no século XX, em 1926, foi fundado o Instituto Pestalozzi. Em 1945, Helena Antipoff criou a Sociedade Pestalozzi, oferecendo o primeiro atendimento educacional especializado aos superdotados. A primeira Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais foi fundada em 1945, para o atendimento às pessoas com deficiência mental. A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva tem como objetivo a participação e a aprendizagem dos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e superdotação/altas habilidades nas escolas regulares da rede de ensino, garantindo-lhes a promoção de respostas adequadas às suas necessidades educacionais especiais (BRASIL, 2010, p. 19). Assim, a Educação Inclusiva é, portanto, reflexo da nossa capacidade de entender e reconhecer o outro e, assim, ter o privilégio de estar, conviver e compartilhar a vida com outras pessoas diferentes de nós, atendendo, de forma acolhedora, a todas as pessoas, com ou sem deficiência: aquelas portadoras de transtornos mentais ou de superdotação/altas habilidades, as que fazem parte das minorias, crianças e ado- lescentes discriminados por quaisquer outros motivos (MEC, 2010, p. 19). Temos de enfatizar que a inclusão escolar não é responsabilidade do professor única e exclusivamente, mas de toda a Escola. Assim, a Escola, como um todo, tem de se mobilizar para acolher o aluno. É, portanto, um processo abrangente, vez que consi- derar a deficiência de uma criança ou de um jovem como mais uma das muitas características diferentes que os alunos podem ter pressupõe que todas as crianças tenham as mesmas oportunidades de acesso, de permanência e de aproveitamento na Escola, independentemente de qualquer característica peculiar que possa apre- sentar. É esse o fundamento básico da Escola Inclusiva, ou seja, garantir a igualdade de oportunidades, o respeito à diversidade multicultural do nosso país. Nesse sen- tido, Mantoan (2003) argumenta que a Escola que aceita e convive com a diversi- dade possibilita uma Educação para a verdadeira cidadania, com o que toda a comu- nidade escolar se beneficia. Foto de Robert Doisneau, 1934, disponível em: https://bit.ly/3bPFATi 20 21 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Repórter Brasil Debate Inclusão Escolar de Pessoas com Deficiência https://youtu.be/Lq_jzlDRayQ Linha do Tempo: Educação Inclusiva https://youtu.be/a4Ntfg98xlY Leitura Os Desafios da Educação Inclusiva: Foco nas Redes de Apoio https://bit.ly/2A5Zrk7 Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE): Avaliação da Educação Básica e Desempenho Docente https://bit.ly/3gn6YLZ Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE e a Visão Sistêmica de Educação https://bit.ly/2THYxRL 21 UNIDADE Aspectos Históricos da Inclusão Escolar: Políticas Públicas da Educação Especial Referências ALIAS, G. Desenvolvimento da aprendizagem na Educação Especial: Princípios, fundamentos e procedimentos na Educação Inclusiva. São Paulo, SP: Cengage, 2016. CAPELLINI, V. L. M. F.; RODRIGUES, O. M. P. R. (org.). Educação inclusiva: fundamentos históricos, conceituais e legais. Bauru: UNESP/FC, 2012. (Coleção: Práticas educacionais inclusivas). 201 p. Il. v. 2. DECLARAÇÃO DE JOMTIEM. 1990. Disponível em: <https://www.unicef.org/ brazil/declaracao-mundial-sobre-educacao-para-todos-conferencia-de-jomtien-1990>. DECLARAÇÃO DE SALAMANCA. 1994. Disponível em: <http://portal.mec.gov. br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf>. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS (1948). Disponível em: <https://declaracao1948.com.br/declaracao-universal/declaracao-direitos- huma nos/?gclid=CjwKCAjwvZv0BRA8EiwAD9T2VWrPLfCeUVc3VCaft6vO0Ekieu58w b9CXuyQFLpaZM9Fcaqb-6fpOBoC2DcQAvD_BwE>.INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas em Educação Anísio Teixeira. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/sobre/educacao/sistema-educacional/edu- cacao-basica>. Acesso em: 6 ago. 2012. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Lei n.º 9.394/96. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. PDE – Plano de Desenvolvimento da Educação. Decreto n.º 6.094/07. Dispo- nível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Decreto/ D6094.htm>. ________. O Plano de Desenvolvimento da Educação: Razões, Princípios e Progra- mas. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/arquivos/livro/livro.pdf>. ROSSETTO, E. et al. Aspectos Históricos da Pessoa com Deficiência. Educare et Educare. v. 1, n. 1, 2006, p. 103-8. SILVA, A. M. da. Educação especial e educação escolar: história e fundamentos. Curitiba: InterSaberes, 2012. SMITH, D. D. Introdução à educação especial: ensinar em tempos de inclusão. 5.ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. VIEIRA, N. J. W. Políticas públicas educacionais no Rio Grande do Sul: indicadores para discussão e análise na área das altas habilidades, Revista de Educação Especial Revisada, v. 23, n. 37, p. 273-86, 2010. 22
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