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Os bastidores da loucura

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ARBEX, Daniela. Holocausto Brasileiro. 
Rio de Janeiro, 06 de outubro de 2016, Max-HBO. 
 
 
OS BASTIDORES DA LOUCURA 
 
 
 O livro Holocausto brasileiro escrito por Daniela Arbex, jornalista e ativista que luta e defende os 
direitos humanos ganhou uma versão cinematográfica de forma documental, a mesma autora do 
livro assina o roteiro do longa estreado em 2016 produzido por Roberto Rios, Maria Ângela de 
Jesus, Paula Belchior e Patrícia Carvalho da HBO Latin American Originals; Alexandro e Daniela 
Arbex da Vagalume Filmes; direção da autora do livro e de Armando Mendz, fotografia de Mauro 
Pianta e montagem de Fábio Cabral. 
 O documentário conta a história do Hospital Colônia de Barbacena que foi construído no início 
do século vinte inicialmente para tratamento de pacientes com tuberculose, mais tarde se 
transformando em um dos principais hospitais psiquiátricos que o país já teve. A cidade de 
Barbacena em Minas Gerais, se tornou conhecida como “Cidade dos Loucos” por concentrar um 
grande número de manicômios. Encontramos um problema típico brasileiro, o prédio foi construído 
para comportar 200 pessoas, logo existiam cerca de cinco mil pacientes, estes que muitas vezes 
eram apenas pessoas diferentes, que a sociedade não aceitava, na grande maioria negros, também 
homossexuais, filhos indesejáveis e andarilhos. A cada página do livro que é lida ou a cada cena e 
fala do documentário vista é mais assustador, pessoas vivendo de forma desumana, comento até 
roedores para tentar sobreviver, exposto ao frio intenso da região e vivendo nus e aglomerados; 
equipe multidisciplinar despreparada e negligente quanto ao cuidados que deviam passar para 
aquelas pessoas. De fato, o Hospital Colônia se tornou uma forma de inferno que tudo aquilo que 
a alta sociedade, tida como um deus na época, não queria por perto era enviado para lá, para serem 
esquecidos. 
 Filme em forma de documentário trás consigo uma forma mais aberta e dinâmica a respeito do 
que aconteceu dentro daquelas paredes no século passado. Com imagens fortes e perturbadoras 
e com depoimentos pesados de pessoas que passaram pelo Colônia, tanto ex-funcionários como 
ex-pacientes, ou vítimas, o longa mostra uma visão mais completa do que foi aquele tenebroso 
hospício. 
 Vergonha, essa palavra expressa completamente o sentimento deixado por essa herança que 
tem laços fortes até os dias atuais. Pessoas que não se encaixavam e não se encaixam no padrão 
que foi criado de sociedade de pessoas perfeitas até hoje são crucificadas e abandonadas a mercê 
da própria sorte. O manicômio para esses falsos doentes mentais, só mudou de endereço, o 
homossexual hoje é hostilizado e julgado por gostar de pessoas do mesmo sexo, negros continuam 
sendo expostos a mortes, discriminação e racismo diariamente, o Hospital Psiquiátrico Colônia se 
foi, mas as hereditariedade de atitudes com pessoas que não se encaixam no padrão de certo 
formulado por pessoas, vive até hoje. 
 Para falar de pessoas que tinham realmente um tipo de problema mental, vamos mais a frente. 
O hospital, logo após perder espaço para tuberculosos na época, se tornou um marco na história 
de tratamentos psiquiátricos, os métodos medonhos e ultrapassados revelam que o intuito não era 
ajudar aqueles que precisavam, mas talvez quem sabe, deixar os loucos cada vez mais loucos. 
Pessoas que não tinham nenhum tipo de qualificação profissional ou nenhum tipo de formação para 
lhe dar com pacientes naqueles estágios, remédios que eram catalogados por cor, não pelo 
nomenclatura nem pelo poder que a droga tinha no organismo, ministrado por funcionários 
despreparados que não sabiam ao certo do que se tratava nem sabiam de seus efeitos colaterais, 
e, que quando não agiam da maneira que possivelmente deveria, esses pacientes eram levados 
em áreas especificas para tratamentos super invasivos, que envolvia força bruta e até mesmo 
choques elétricos. 
 A negligência médica era tamanha, que corpos passaram a ser vendidos para universidades de 
medicina para servir de peças anatômicas para estudos. Quando não acontecia dessa forma, os 
corpos eram mergulhados em ácido, ou, cinco ou seis enterrados juntos em uma mesma cova. Um 
cemitério logo se formou, porque também, eles não podiam ser enterrados no mesmo terreno onde 
eram enterradas as pessoas que eram consideradas normais, assim como negros. 
 Os pacientes eram torturados, humilhados e assassinados. Isso foge completamente do conceito 
de hospital. O tempo todo o centro psiquiátrico é comparado aos grandes campos de concentração 
nazista durante a segunda guerra mundial, até o trem que levavam as pessoas para os ditos campos 
de concentração na Alemanha tinha por aqui, as pessoas eram amontoadas de forma desumanas 
e cruéis tendo como destino final o depósito de pessoas Hospital Colônia de Barbacena. 
 A marca de entrada da Igreja Católica na administração da instituição se dá com a chegada das 
Irmãs Vicentinas na década de 30. Algumas ajudavam, outras atrapalhava, depoimentos deixam 
claro que as freiras eram vistas no local apenas no período da manhã, e que exploravam bastante 
os pacientes a fim de fazer trabalhos manuais. 
 Afinal de contas, de quem é a culpa? A autora do livro e do roteiro do documentário deixa em 
evidência que um dos seus ex funcionários disse que a culpa é coletiva, uma vez que toda uma 
sociedade participou, de maneira direta mandando pessoas que não tinham nenhum tipo de 
transtorno para lá, ou indiretamente, que sabia do que se passava lá dentro mas não tinha como 
denunciar. Foram oito décadas de direitos humanos violados, que passaram por lá milhares de 
pessoas, a cidade conviveu com isso, os funcionários, os médicos participaram dessa tragédia, foi 
um genocídio contínuo, foram 60 mil vitimas que foram esquecidas e mortas. 
 Convido a você agora, voltarmos ao tempo e adentrarmos as portas do Hospital Colônia, que 
agora, hipoteticamente está aberto, imagine, um casarão antigo de bela arquitetura, mas, após os 
portões, pessoas tão magras que a pele encosta no osso, gravidas com medo de ser forçada a 
abortar que se sujava inteira de fezes para afastar os funcionários e outros colegas, e até mesmo 
pacientes que passavam os dias caçando ratos e pombos para se alimentar, e aquele que seria o 
seu único alimento por um bom tempo. Cerca de metade das pessoas internadas não tinham 
diagnostico algum de loucura ou outro tipo de doença mental. 
 O documentário é fantástico. Chama muito a atenção pela maneira que os temas delicados são 
abordados. O longa tem pouco mais de uma hora e trinta minutos de duração, mas te prende de 
uma maneira que o tempo passa rápido. Todo brasileiro deveria assistir ou ler essa obra, não para 
se orgulhar de termos tido um grande hospital psiquiátrico no país, mas sim para termos noção do 
que foi feito em solo brasileiro, a história de tortura e assassinatos em massa no Brasil não se 
resume apenas a época da escravatura, infelizmente, o que houve no Colônia foi só mais um 
capitulo das crueldades que o solo brasileiro é testemunha. 
 A história desse grande manicômio do Brasil, onde 60 mil pessoas foram mortas não pode nunca 
ser esquecida. A intenção do documentário é de mostrar as atrocidades que ocorrem no nosso país 
por detrás de muros de hospitais, e salientar que locais como o Colônia nunca mais deveria existir 
novamente. 
 
 
 
Gabriel Nunes Lima – Saúde Mental – Curso Téc. Enfermagem – Humaniza 
Salvador 2020

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