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Historia da Igreja Antiga e Medieval 3

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EA
D
Perseguições Romanas, 
Oficialização do Cristianismo 
e Aliança com o 
Estado Romano 3
1. OBJETIVOS
•	 Analisar	as	causas,	o	fundamento	jurídico,	a	cronologia,	o	
significado	e	os	escritos	anticristãos	relacionados	às	per-
seguições	do	Império	Romano	aos	cristãos.
•	 Identificar	as	características	da	Igreja	no	Império	Romano	
Cristão:	a	expansão	do	Cristianismo	nos	primeiros	sécu-
los,	 a	 conversão	de	Constantino,	 sua	política	 religiosa	e	
seus	sucessores	até	Teodósio.
•	 Interpretar	a	Igreja	no	Império	Romano	Cristão: expansão	do	
Cristianismo	nos	três	primeiros	séculos,	conversão	de	Cons-
tantino,	sua	política	religiosa	e	seus	sucessores	até	Teodósio	
e	a	oficialização	do	Cristianismo	no	Império	Romano.
2. CONTEÚDOS
•	 Perseguições	do	Império	Romano	aos	cristãos.
•	 Igreja	no	Império	Romano	Cristão.
© História da Igreja Antiga e Medieval140
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE
Antes	de	 iniciar	o	estudo	desta	unidade,	é	 importante	que	
você	leia	as	orientações	a	seguir:
1)	 O	conteúdo	que	expomos	neste	material		é	a	"porta	de	
entrada"	para	novos	conhecimentos.	Durante	o	estudo	
desta	disciplina,	você	terá	todos	os	subsídios	necessários	
para	realizar	pesquisas	e	aprofundar	seu	conhecimento	
sobre	o	assunto.	Por	isso,	contamos	com	sua	participa-
ção	e	dedicação	para	alcançarmos	mais	esse	objetivo.
2)	 Para	 a	 maior	 compreensão	 desta	 unidade,	 sugerimos	
que	você	leia	as	seguintes		obras:	
•	 PIERRARD,	P.	História da Igreja.	São	Paulo:	Paulinas,	
1982.	Tradução	de	Álvaro	Cunha.
•	 COMBY,	J.	Para ler a História da Igreja.	Tradução	de	
Maria	 Stela	 Gonçalves-Adail	 V.	 Sobral.	 São	 Paulo:	
Loyola,	1994.	v.	2.	
•	 GIBBON,	E.	Declínio e queda do Império Romano.		São	
Paulo:	Companhia	das	Letras,	1980.
•	 MARKUS,	R.	A.	O fim do cristianismo antigo.	São	Paulo:	
Paulus,	1997.
3)	 Observe	a	atitude	dos	primeiros	cristãos:	sua	coerência	
e	firmeza	de	fé	os	levavam	a	afrontar	o	império.	O	que	
você	pensa	sobre	os	cristãos	do	mundo	de	hoje?	Quais	
são	 os	 obstáculos	 que	 enfrentam?	 Têm	eles	menos	 fé	
que	os	homens	da	Antiguidade?
4)	 Os	cristãos	eram	acusados	de	ateus	por	não	participa-
rem	dos	cultos	romanos.
5)	 Reflita	sobre	as	acusações	enfrentadas	pelos	cristãos	da	
época,	relacionando-as	àquelas	de	outras	épocas.	
6)	 Para	 conhecer	 melhor	 o	 contexto	 dessa	 perseguição,	
sugerimos	que	você	assista	aos	filmes:	QUO VADIS.	Di-
reção	 Leroy.	 Intérpretes:	 Robert	 Laylor;	 Deborah	 Kerr;	
Leo	 Genn;	 Peter	 Ustinov	 e	 outros.	 Roteiro:	 S.N	 Behr-
man.	Estados	Unidos	da	América,	1951.	DVD	(171	min.),	
Wides	Creen,	color.;	CONSTANTINO E A CRUZ.	Direção:	
141© Perseguições Romanas, Oficialização do Cristianismo e Aliança com o Estado Romano
Lionello	de	 Felice.	 Produção:	Beaver	Champion	Attrac-
tions,	 Jardran	 Film.	 Intérpretes:	 Cornel	Wilde,	 Belinda	
Lee,	Massino	Serato,	Christine	Kaufmann,	Fausto	Tozzi,	
Tino	Carraro,	Carlo	Ninchi,	Vittorio	Sanipoli	e	outros.	Ro-
teristas:	Michel	Audley,	Fulvio	Palmieri,	Franco	Rossetti,	
Guglielmo	 Santangelo.	 Longa	 Metragem.	 [S.l.].	 Classic	
Line,	colorido.
7)	 Releia	pontos	considerados	mais	difíceis	para	poder	es-
clarecê-los.	Caso	permaneçam	dúvidas,	utilize	a	SAV	e,	
em	contato	com	o	tutor	e	os	colegas,	solucione-as.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na	Unidade	 2,	 você	 pôde	 compreender	 a	 organização	 e	 a	
constituição	da	Igreja.	Nesta	unidade,	focalizaremos	a	relação	de	
poder	estabelecida	pelo	Império	Romano	contra	os	cristãos.		Fo-
ram	diversas	as	frentes	de	hostilidades	levantadas	contra	os	cris-
tãos:	 as	 judaicas,	 as	 dos	 pagãos,	 as	 calúnias	 populares	 e	 as	 dos	
intelectuais.
Veremos,	também,	a	expansão	do	Cristianismo	nos	três	pri-
meiros	séculos,	a	conversão	de	Constantino,	sua	política	religiosa	
e	seus	sucessores	até	Teodósio.	
Vamos,	então,	aos	acontecimentos	no	mundo	cristão	daque-
la	época!
Informação –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Quando se trata o tema das perseguições sofridas pelos cristãos, é preciso es-
clarecer alguns pontos importantes:
• Nesta unidade, ponderaremos as perseguições sofridas pelos cristãos no perí-
odo que vai do século 1º ao 4º. No decorrer da História do Cristianismo, houve 
muitas perseguições contra os seguidores de Cristo e, ainda hoje, ocorrem 
perseguições contra cristãos.
• Outras religiões também sofreram perseguições em outros momentos da his-
tória humana.
• Os primeiros séculos da história cristã são chamados da época das perseguições. 
Também se fala da época da Igreja das catacumbas, ou ainda, da Igreja das per-
seguições, ou Igreja dos mártires. Estas expressões são oportunas, mas histo-
ricamente apresentam limitações. Nem todos os cristãos dos primeiros séculos 
© História da Igreja Antiga e Medieval142
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
foram martirizados, ou seja, morreram em nome da fé. Nem todos os cristãos 
deste período viveram escondidos nas catacumbas ou cemitérios subterrâneos 
(só no início do século 3º é que os cristãos adquiriram cemitérios).
• As perseguições foram iniciadas pelos judeus e, depois, mais organizadas e 
sistematizadas pelos romanos, a partir do ano 64 com Nero. 
• Asssim, as perseguições que mencionamos aqui são aquelas promovidas pelo 
Império Romano, de Nero (64 d.C) a Constantino e Licínio (311) d.C.
• Muitas perseguições foram locais (a de Nero só ficou em Roma), outras regio-
nais e outras, em todo o Império (como foi a de Diocleciano).
• Sabendo que as perseguições não duraram anos ininterruptos; muitos imperadores 
deste período protegeram ou não perseguiram os cristãos: entre a paz de Galieno 
(260-268) e a perseguição de Diocleciano (303) tivemos uns quarenta anos de paz.
• Número dos mártires: é impossível estabelecer um consenso. Há autores que 
falam de 100 mil e aqueles que falam de mais de 1 milhão.
• Espiritualidade martirial: modelo para os cristãos dos primeiros séculos que acre-
ditavam que o melhor caminho para se chegar à santidade seria pelo martírio.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
5. PERSEGUIÇÕES DO IMPÉRIO ROMANO AOS CRIS-
TÃOS
O	Cristianismo,	desde	suas	origens,	precisou	fortalecer	sua	
identidade	e	conquistar	seu	espaço	religioso	e	social	num	ambien-
te	marcado	pela	forte	presença	da	cultura	judaica	onde	nasceu	e,	
também,	pela	influência	política,		social	e	religiosa	das	culturas	ro-
mana	e	grega.	
Hostilidades judaicas 
Desde	as	primeiras	décadas	do	Cristianismo,	os	judeus	hosti-
lizaram	os	cristãos	(morte	de	Jesus,	de	Estevão,	prisão	de	Pedro	e	
dos	apóstolos	etc.),	e	muitos	escritores	cristãos	falam	que	as	sina-
gogas	judaicas	eram	"mananciais	das	perseguições".	
Assim,	o	primeiro	desafio	do	Cristianismo	foi	libertar-se	das	
influências	 judaicas,	pois	 tanto	 Jesus	como	seus	discípulos	eram	
todos	judeus.	Tanto	que,	inicialmente,	os	cristãos	conviviam	har-
monicamente	com	os	costumes	sociais	e	religiosos	judaicos,	e	só	
com	o	decorrer	de	algumas	décadas,	é	que	foram	se	separando	da	
tradição	judaica.
143© Perseguições Romanas, Oficialização do Cristianismo e Aliança com o Estado Romano
A	diferença	estava,	inicialmente,	no	fato	de	que	os	cristãos	
acreditavam	em	Jesus	como	o	Messias,	e	os	judeus	ainda	aguar-
davam	 o	 seu	 advento.	 Quando	 ficou	 nítida	 essa	 diferença	 e	 os	
cristãos	 insistiam	na	messianidade,	 ressurreição	e	novos	ensina-
mentos	trazidos	por	Jesus	Cristo,	foi	difícil	manter	a	unidade.	Não	
podemos	esquecer	que	naquela	época	o	Judaísmo	estava	dividido	
em	vários	grupos	ou	seitas;	assim,	muitos	consideravam	o	Cristia-
nismo	uma	seita	entre	tantas	outras.
A	cisão	aumentou	a	conversão	de	judeus	ao	Cristianismo	e,	
principalmente,	de	pagãos	ou	gentios.	Também,	com	a	destruição	
de	Jerusalém	no	ano	70	d.C,	e	com	a	consequente	dispersão	judai-
ca	a	separação	entre	Judaismo	e	Cristianismo	teve	seu	golpe	final.	
É	claro	que	essa	ruptura	foi	no	plano	mais	disciplinar	e	institucio-
nal,	pois	a	liturgia,	os	escritos	e	os	hábitos	judaicos	permaneceram	
presentes	na	vida	dos	cristãos.
Apósescrever	a	expansão	da	comunidade	cristã	jerosomili-
tana	e	o	início	de	um	grande	ciúme	por	parte	dos	judeus,	González	
assim	descreve	a	primeira	perseguição	sofrida	pelos	primeiros	cris-
tãos,	quando	fala	do	ocaso	da	Igreja	judaica:
Logo,	entretanto,	aumentou	a	perseguição	contra	todos	os	cristãos	
em	Jerusalém.	O	 imperador	Calígula	havia	dado	o	 título	de	 rei	a	
Herodes	Agripa,	neto	de	Herodes	o	Grande.	Segundo	At.	12,1-3,	
Herodes	fez	matar	Tiago,	o	irmão	de	João	–	que	não	deve	ser	con-
fundido	com	Tiago,	irmão	de	Jesus	–		e	a	o	ver	que	Ito	agradou	a	
seus	súditos	fez	encarcerar	também	Pedro,	que	escapou	milagrosa-
mente.	No	ano	62,	Tiago,	chefe	da	igreja,	foi	morto	por	iniciativa	do	
sumo	sacerote	e	ainda	contra	a	oposição	de	alguns	fariseus.	
Ante	 tais	 circunstâncias,	os	chefes	da	 igreja	de	 Jerusalém	decidi-
ram	transladar-se	a	Pela,	uma	cidade	em	sua	maioria	gentia	ao	ou-
tro	 lado	do	Jordão.	Ao	que	parece,	parte	de	seu	propósito	nessa	
mudança,	era	não	 só	 fugir	da	perseguição	por	 judeus,	mas	 tam-
bém	evitar	as	suspeitas	por	parte	dos	romanos.	Com	efeito,	nessa	
época	o	nacionalismo	judeu	estava	em	ebulição,	e	logo	eclodiria	a	
rebelião	que	culminaria	a	destruição	de	Jerusalém	pelos	romanos	
no	ano	70.	Os	cristãos	confessavam-se	seguidores	de	alguém	que	
havia	sido	morto	e	curcificado	pelos	romanos,	e	que	pertencia	à	
linhagem	de	Davi.	Ainda	mais,	depois	da	morte	de	Tiago,	o	irmão	
do	Senhor,	aquela	antiga	igreja	continuou	sendo	dirigida	pelos	pa-
© História da Igreja Antiga e Medieval144
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
rentes	de	Jesus,	e	a	chefia	passou	a	Simeão,	que	pertencia	à	mes-
ma	 linhagem.	Diante	do	nacionalismo	que	 florescia	na	Palestina,	
os	romanos	suspeitavam	de	qualquer	 judeu	que	pretendesse	ser	
descendente	de	Davi.	Portanto,	este	movimento	judeu,	que	seguia	
a	um	homem	condenado	como	malfeitor,	e	dirigido	por	pessoas	
da	 linhagem	de	Davi,	 tinha	de	parecer	suspeito	diante	dos	olhos	
romanos.	Pouco	tempo	depois	alguém	acusou	Simeão	como	des-
cendente	de	Davi	e	como	cristão,	e	este	novo	dirigente	da	 igreja	
judaica	sofreu	martírio.	Diante	dos	escassos	dados	que	sobrevive-
ram	à	passagem	dos	séculos,	nos	é	impossível	saber	até	que	ponto	
os	romanos	condenaram	Simeão	por	ser	cristão,	e	até	que	ponto	
condenaram	por	pretender	pertencer	à	casa	de	Davi.	Mas,	em	todo	
caso,	o	resultado	de	tudo	isto	foi	que	a	velha	igreja	de	origem	ju-
daica,	rejeitada	tanto	por	judeus	como	por	gentios,	viu-se	relegada	
cada	vez	mais	às	regiões	recônditas	e	desoladas.	
Naquelas	paragens	distantes,	o	cristianismo	judeu	entrou	em	con-
tato	com	vários	grupos	que,	em	datas	anteriores,	haviam	abando-
nado	o	judaísmo	ortodoxo	e	se	haviam	refugiado	além	do	Jordão.	
Carente	de	relações	como	resto	do	cristianismo,	aquela	 igreja	de	
origem	judaica	seguiu	seu	próprio	curso,	e	em	muitos	casos	sofreu	
o	influxo	de	diversas	seitas	entre	as	quais	ela	existia.	Quando,	em	
ocasiões	posteriores,	os	cristãos	de	origem	gentia	nos	oferecem	al-
gum	traço	daquela	comunidade	esquecida,	nos	falam	de	seus	he-
reges	e	de	seus	estranhos	costumes,	mas	raramente	nos	oferecem	
dados	de	valor	positivo	sobre	a	fé	e	a	vida	daquela	igreja	que	per-
durou	pelo	menos	até	o	século	V	(GONZÁLEZ,		1995,	p.35-36).
Império Romano e Cristianismo
Os	romanos,	que	dominavam	a	Palestina	no	tempo	de	Jesus,	
evitavam	se	intrometer	nas	questões	religiosas	dos	povos	por	eles	
conquistados	e	eram	tolerantes	em	matéria	religiosa.	
Inicialmente,	os	romanos	consideravam	os	cristãos	um	gru-
po	 judaico	com	suas	características	próprias	como	tantos	outros	
grupos	da	Palestina	e	eles	preferiam	que	os	 judeus	 resolvessem	
internamente	suas	questões	religiosas.	Eles	só	interviam	em	ques-
tões	delicadas,	e	isto	se	percebe	quando	o	Imperador	Cláudio	de-
cide	expulsar	os	judeus	de	Roma.	Como	afirma	González:
Um	caso	que	ilustra	esta	situação	é	a	expulsão	dos	judeus	de	Roma	
pelo	imperador	Cláudio,	por	volta	do	ano	51.	At	18:2	menciona	ETA	
expulsão,	ainda	que	sem	explicar	suas	razões.	Mas	o	historiador	ro-
145© Perseguições Romanas, Oficialização do Cristianismo e Aliança com o Estado Romano
mano	Suetônio	nos	oferece	um	dado	intrigante,	ao	nos	dizer	que	os	
judeus	foram	expulsos	de	Roma	porque	estavam	causando	distúr-
bios	constantes	"por	causa	de		Cresto".	A	maioria	dos	historiadores	
concorda	em	que	"Cresto"	é	o	próprio	Cristo,	cujo	nome	teria	sido	
mal	escrito.	Portanto,	o	que	sucedeu	em	Roma	parece	ter	sido	que,	
como	em	tantos	outros	lugares,	a	pregação	cristã	causou	tantas	de-
sordens	entre	os	judeus,	que	o	imperador	decidiu	expulsar	todos	
eles.	Em	Roma,	nestes	 tempos,	a	disputa	entre	 judeus	e	cristãos	
parecia	ser	uma	questão	interna	dentro	do	judaísmo	(1995,	p.	51).
Na	 relação	com	o	 Império	Romano,	a	dificuldade	em	rela-
ção	aos	cristãos	surgiu	quando	estes	propuseram	um	estilo	de	vida	
distinto	do	dos	romanos	e	quando	evitaram	adorar	os	deuses	do	
império,	pois,	 no	 contexto	daquele	 tempo,	 adorar	os	deuses	do	
império	era	um	gesto	de	fidelidade	política	ao	imperador,	que,	em	
alguns	momentos,	 também	era	visto	como	divindade.	Assim,	ao	
não	adorar	os	deuses	do	império,	os	cristãos	atraiam	a	ira	destes	
que	mandavam	muitas	desgraças	para	o	povo.
É	nesse	contexto	que,	já	no	século	1º,	surgiram	as	persegui-
ções.	As	primeiras	foram	motivadas	pelos	próprios	judeus,	e	com	
o	 imperador	romano	Nero,	no	ano	64,	 inicia	as	perseguições	ro-
manas	propriamente	ditas.	De	Nero	(ano	64)	até	Constantino	(ano	
313),	o	Cristianismo	foi	uma	religião	ilícita,	por	isso	foram	crescen-
do	as	hostilidades	e	calúnias	dos	romanos	contra	os	cristãos.
Hostilidades dos pagãos 
As	 chamadas	 "hostilidades	 pagãs"	 eram	 despertadas	 pelo	
modo	de	viver	dos	 cristãos	 (as	acusações	 iam	desde	as	 calúnias	
mais	grosseiras	até	as	objeções	mais	intelectuais)	e	também	pela	
fé	monoteísta.	Estas	calúnias	provocaram	o	surgimento	das	apolo-
gias	cristãs,	escritos	que	visavam	justificar	e	explicar	o	Cristianis-
mo.	Entre	os	apologistas,	podemos	destacar:
1)	 Aristides	de	Atenas	 (um	dos	primeiros	a	defender	a	 fé	
cristã	com	a	sua	Apologia).
2)	 Pápias	(bispo	de	Hierápolis	que	escreveu	uma	Exposição 
das Palavras do Senhor).	
© História da Igreja Antiga e Medieval146
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
3)	 Justino	(convertido	do	paganismo,	escreveu	duas	Apolo-
gias e	o	Diálogo de Trifão).	
4)	 Teófilo	(bispo	de	Antioquia	que	escreveu	Ad Autolico).	
5)	 Melitão	de	Sardes	(bispo	que	escreveu	uma	Apologia).
6)	 Atenágoras	de	Atenas	(escreveu	Súplica pelos cristãos).	
7)	 Irineu	de	 Lyon	 (grande	 intelectual,	 escreveu	Contra as 
heresias),	e	temos	muitos	outros	apologistas	que	defen-
deram	a	religião	cristã	dos	ataques	do	Império	Romano,	
dos	intelectuais	e	do	povo.
Calúnias populares 
O	povo	das	várias	cidades	onde	os	cristãos	fundavam	suas	
comunidades	não	tinha	acesso	ao	culto	cristão	e	isso	deixava	vá-
rias	interrogantes	ou	dívidas	sobre	o	que	era	e	como	se	desenvol-
viam	os	ritos	cristãos.	Por	outro	lado,	os	cristãos	não	participavam	
dos	cultos	públicos.	Assim,	os	cristãos	foram	acusados	de	ateísmo	
(negavam-se	a	participar	dos	cultos	tradicionais,	do	culto	imperial	
e	das	religiões	orientais)	–	o	povo	supunha	que	os	cristãos	não	ti-
nham	religião.	Para	a	mentalidade	antiga,	isso	era	uma	aberração	
que	ameaçava	o	equilíbrio	social,	com	ofensas	aos	deuses	que,	por	
isso,	enviavam	calamidades	(inundações,	terremotos,	epidemias,	
povos	bárbaros)	ao	império,	atingindo		toda	a	população.	
Muitos	romanos	acreditavam	que	os	cristãos	tinham	um	culto	
abominável,	o	culto	ao	asno	crucificado	ou	a	um	bandido	condenado	
à	cruz.	Deturpando	a	celebração	da	ceia	eucarística,	o	povo	acusava	
os	cristãos	de	prática	do	incesto,	já	que	se	amavam	com	os	irmãos	e	
isto	levava	a	crer	que	o	culto	tinha	muitas	orgias;		também	afirmavam	
que	a	eucaristia	tinha	como	momento	mais	importante	um	"banque-
te	infanticida",	em	que	se	comia	o	corpo	de	Cristo	e	se	bebia	o	seu	
sangue	(isso	podia	ocorrer	com	o	sacrifício	de	uma	criança).	
Aprofundando	esta	questão,	Jedin(1980,	p.	204-205)	afirma:	
As	comunidades	cristãs	que,	como	fruto	do	trabalho	missionário,	
surgiram	por	várias	cidades	do	império,	dado	sua	separação	de	tudo	
o	que	tinha	relação	com	o	culto	pagão,	tinham	que	atrair	sobre	si,	
147© Perseguições Romanas, Oficialização do Cristianismo e Aliança com o Estado Romano
tarde	ou	cedo,	a	atenção	do	paganismo	circunstante.	Mas	o	interes-
se	pagão	pelo	Cristianismo	teve	desde	o	princípio	uma	tendência	
negativa	e	até	hostil,	que	é	tanto	mais	surpreendente,	quanto	que,	
se	prescinde	de	estalidos	isolados	de	hostilidade	contra	o	judaísmo,	
não	era	comum	semelhante	reação	das	massas	gentias	contra	os	
novos	cultos	religiosos	vindos	do	oriente.	Estes	cultos	orientais	não	
cristãos	desenvolviam,	além	do	mais,	uma	viva	propaganda	que,	
em	casos	isolados,	conseguiu	êxitos	consideráveis.	As	causas,	pois,	
da	atitude	de	repulsa	por	parte	pagã	frente	aos	seguidores	da	nova	
religião	devem	ser	buscadas	nela	mesma.	A	causa	radicava	na	pre-
tensão	de	absolutez	com	que	aparecia	a	fé	cristã;	tal	e	como	essa	Fé	
se	entendia	a	si	mesma,	não	podia	ser	tolerante	com	respeito	a	ne-
nhum	outro	culto	religioso,	e	veio	assim	a	se	enfrentar,	por	princí-
pio	com	a	religião	estatal	romana.	Com	isso,	aparecia	pela	primeira	
vez	no	império	romano	um	movimento	que	não	considerava	a	seu	
Deus	com	o	um	deus	particular;	e	sim	como	único	verdadeiro	Deus	
e	o	só	salvador	do	mundo,	cujo	culto	não	podia	se	compadecer	com	
a	existência	de	qualquer	outro	culto.	Os	cristãos	em	sua	vida	diá-
ria	eram	conseqüentes	com	suas	convicções	e	se	fechavam	numa	
separação	absoluta:	por	 isso	 tinham	que	parecer	pouco	a	pouco	
ao	paganismo	circundante,	 inimigos	declarados	da	antiga	civiliza-
ção,	muito	marcada	de	manifestações	religiosas.	A	atmosfera	hostil	
que	assim	se	criava,	foi	além	do	mais,	como	se	pode	demonstrar,	
alimentada	pelo	judaísmo	da	diáspora,	que	não	podia	perdoar	aos	
judeu-cristãos	sua	apostasia	da	fé	de	seus	pais.	Esse	isolamento	dos	
cristãos	 fomentava	além	do	mais,	e	até	podiam	ser	semelhantes	
aos	obscuros	rumores	que	lhes	atribuíam	atos	dissolutos	em	seus	
encontros	noturnos	com	suspeitas	de	degeneração	no	culto	religio-
so.	Tudo	isto	constituía	terra	fértil	da	qual	brotaria	pouca	estima	pe-
los	cristãos;	estes	eram	para	o	pagão	vulgar	um	grupo	de	canalhas,	
que	tinham	bons	motivos	para	temer	a	luz	da	publicidade.	Bastava	
qualquer	fútil	pretexto	para	que	o	povo	pagão	descarregasse	sua	
desconfiança	e	rancor	represado	e	fizesse	justiça	com	suas	próprias	
mãos	sobre	os	partidários	da	nova	fé,	ou	os	arrastasse	ante	as	auto-
ridades	civis	pedindo	tumultuosamente	seu	castigo.	
Calúnias dos intelectuais
Celso,	no	século	2º,	e Porfírio,	no	século	3º,	foram	filósofos	
pagãos	que	estudaram	o	Cristianismo	para	melhor	orientar	suas	
acusações	contra	esta	nova	religião	que	crescia.	As	acusações	eram	
feitas	em	três	direções:		
1)	 Os	cristãos	são	pobres	homens	ignorantes	e	pretensio-
sos:	 ambos	 afirmavam	 que	 os	 cristãos	 saíam	 entre	 as	
© História da Igreja Antiga e Medieval148
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
classes	 sociais	 inferiores,	entre	os	escravos	e	 trabalha-
dores	braçais	explorados	e	excluídos	do	 sistema.	 	Diri-
giam-se	às	mulheres,	às	crianças	e	aos	escravos,	apro-
veitando-se	de	sua	credulidade	e	minavam	as	tradições	
patriarcais	e	a	família.	Para	eles,	o	Cristianismo,	com	sua	
doutrina	fechada	e	ambiciosa,	contradizia	os	valores	da	
civilização	romana.		
2)	 Os	cristãos	eram	maus	cidadãos:	pois	não	participavam	
dos	cultos	da	cidade	e	nem	do	culto	imperial;	não	aceita-
vam	os	"costumes	dos	antepassados";	rejeitavam	o	servi-
ço	militar	e	não	queriam	fazer	parte	do	exército	romano	
e	de	suas	conquistas	e,	finalmente,	não	tinham	interesse	
nos	assuntos	políticos	nem	na	salvação	do	império.
3)	 A	doutrina	cristã	era	opositora	da	razão:	vários	pontos	
da	doutrina	cristã	eram	vistos	com	desdém	e	contrários	
aos	sistemas	religiosas	da	época.	A	encarnação	era	en-
tendida	como	um	grande	absurdo	e	loucura.	Deus,	per-
feito	e	 imutável,	não	podia,	como	aconteceu	na	encar-
nação	de	 Jesus,	 se	 rebaixar	 a	ponto	de	 se	 tornar	uma	
criança	pequena;	Jesus,	para	eles,	não	foi	mais	que	um	
pobre	homem,	incapaz	de	ter	uma	morte	de	sábio	como	
Sócrates.	A	doutrina	de	Jesus	não	é	mais	que	uma	cópia	
imperfeita	das	doutrinas	egípcias	mais	antigas.	A	ressur-
reição	dos	corpos	é	outra	grande	mentira.	Os	ritos	dos	
cristãos	são	imorais,	pois	incentivam	a	pessoa	na	perma-
nência	dos	vícios	e	erros.	
Informação Complementar –––––––––––––––––––––––––––––
Celso foi um filósofo platônico do século 2º que escreveu um tratado contra os 
cristãos chamado "Discurso Verdadeiro". O tratado não chegou até nós, mas 
conhecemos partes de seu conteúdo porque ele foi objeto de uma refutação por 
Orígenes, um dos padres da Igreja, em seu tratado "Contra Celso", escrito 70 ou 
80 anos depois de Celso (SUBSOLO, 2007). 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Faz-se,	 então,	 necessário	 conhecer	 um	 pouco	 mais	 esses	
escritores	anticristãos.	Como	temos	mais	informações	de	Porfírio	
(nascido	em	233,	na	cidade	de	Tiro,	na	Fenícia),	vamos	nos	deter	
em	sua	vida.	Ele	viveu	numa	época	em	que	alguns	 imperadores	
perseguiam	os	cristãos	e	outros	lhes	ofereciam	privilégios	e	tem-
149© Perseguições Romanas, Oficialização do Cristianismo e Aliança com o Estado Romano
pos	de	paz.	Um	dos	imperadores	que	mais	protegeu	os	cristãos	foi	
Galieno	 (260-268),	 filho	de	Aureliano,	 imperador	que	perseguiu	
os	cristãos.	Galieno	emanou	um	rescrito,	documento	imperial,	que	
protegia	os	cristãos,	oferecendo	a	eles	liberdade	de	confissão,	de	
culto	e	de	pregação;	isso	não	quer	dizer	que	a	situação	dos	cristãos	
era	segura,	mas	eles	tiveram	uns	40	anos	de	paz	e	tranquilidade,	
bem	como	relativas	expansões	.	É	neste	contexto	que	viveu	Porfí-
rio.	Alguns	afirmam	que	por	conhecer	tão	bem	a	doutrina	cristã,	
ele	teria	sido	cristão	e	depois	apostatou.	Foi	discípulo	do	filósofo	
Plotino,	que	não	era	cristão,	mas	também	não	combateu	a	nova	
religião.
Segundo	Jedin	(1980,	p.	552-554):	
Em	Porfírio	se	percebe	uma	atitude	hostil	ao	Cristianismo	 já	nos	
seus	primeiros	escritos.	Em	sua	Filosofia	dos	oráculos	faz	que	um	
oráculo	de	Apolo	qualifique	a	uma	cristã	de	inconvertível	e	incor-
rigível;	a	infeliz	chorava	a	um	deus	morto,	a	quem,	não	obstante,	
juízes	retos	condenaram	à	pior	morte;	os	judeus	são	colocados	aci-
ma	dos	cristãos.	Os	quinze	livros	Contra	os	Cristãos,	em	que	Por-
fírio	trabalhava	desde	168,	representam	indubitavelmente	a	mais	
importante	 contribuição	 ao	 grandioso	 ensaio	 do	 neoplatonismo	
de	renovar	a	sabedoria	e	religiosidade	grega,	e	conservar	para	ela,	
frente	ao	avanço	vitorioso	do	cristianismo,	sobretudo,	a	classe	culta	
do	paganismo.	Realizar	com	êxito	a	tarefa	que	se	impunha	Porfírio,	
supunha	neste	tempo,	muito	mais	que	o	propósito	de	Celso	cem	
anos	antes.	O	cristianismo	produzira	obras	literárias	que	impunham	
respeito	aos	próprios	pagãos	instruídos	Agora	era,	sobretudo,	ne-
cessária	uma	ampla	discussão	da	Bíblia	que,	a	mercê	do	trabalho	
de	Orígenes,	alcançara	um	amplo	 influxo.	Para	conseguir	 realizar	
seu	plano	de	impugnação	geral	do	Cristianismo,	Porfírio	dispunha,	
como	o	provam	os	fragmentos	conservados,	de	um	conhecimento	
cabal	das	escrituras	dos	cristãos,	de	uma	inteligência	crítica,	com	
formação	filológica	completa	e	de	uma	notável	arte	de	exposição.		
Ao	contrário	do	´Alethes	logos´	de	Celso,	a	obra	de	Porfírio	provo-
cou	imediatamente	a	refutação	do	lado	cristão	[...]
Ainda	quando	Porfírio	não	condena	a	figura	de	Cristo	tão	acremente	
como,	por	exemplo,	aos	evangelistas,	apóstolos	e	cristãos	em	geral,	
no	entanto,	se	dão	nela	muitos	traços	que,	a	seu	juízo,	são	incompa-
tíveis	com	uma	personalidade	realmente	religiosa	e	heróica.
Cristo,	sobretudo,	não	demonstra	possuir	o	poder	divino	que	pre-
tende;	se	nega,	por	medo,	a	se	atirar	do	pináculo	do	tempo	abaixo,	
não	é	senhor	dos	demônios,	desfalece	lamentavelmente	ante	os	su-
© História da Igreja Antigae Medieval150
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
mos	sacerdotes	e	Pilatos;	toda	sua	paixão	é	indigna	de	um	ser	divino.	
Comparado	com	ele,	o	taumaturgo	Apolônio	de	Tiana,	do	século	I,	
oferece	uma	figura	mais	impressionante.	Depois	de	sua	ressurreição,	
em	vez	de	aparecer	a	mulheres	simples	e	desconhecidas,	Cristo	de-
via	ter	ido	se	apresentar	vivo	a	Pilatos	e	Herodes,	e	até	ao	senado	
romano,	e	deveria	ter	dado	à	sua	ascensão	aos	céus	um	marco	muito	
mais	grandioso;	com	isto	teria	economizado	a	seus	seguidores	duras	
perseguições,	pois	ante	tais	demonstrações	de	poder	teria	emude-
cido	qualquer	dúvida	sobre	sua	missão	divina.	Os	evangelistas,	com	
sua	exposição	dos	fatos	e	ditos	de	Jesus,	são	objeto	de	viva	repulsa,	
porque	os	inventam	eles	mesmos	e,	por	fim,	não	os	presenciaram.	
Seus	 relatos	estão	 cheios	de	 contradições,	 inexatidões	e	absurdos	
que	não	merecem	fé	alguma.	As	figuras	principais	da	Igreja	primitiva,	
Pedro	e	Paulo,	merecem	de	Porfírio	uma	grande	antipatia.	Pedro	não	
esteve,	de	modo	algum,	à	altura	do	alto	ofício	a	que	foi	chamado	
e	sua	eleição	foi	um	dos	mais	graves	erros	de	Cristo.	Paulo	é	apre-
sentado	por	ele	como	um	caráter	repelente:	é	duplo,	trambiqueiro,	
em	perpétua	contradição	consigo	mesmo;	se	corrige	uma	e	outra	
vez,	prega	em	sua	escatologia	a	doutrina	do	fim	do	mundo,	do	juízo	
final	e	da	ressurreição	dos	mortos,	que	provoca	ao	neoplatônico	a	
mais	áspera	contradição.	O	contraste	entre	Pedro	e	Paulo	a	respeito	
da	obrigatoriedade	da	lei	mosaica	para	judeu-cristãos	e	cristãos	da	
gentilidade,	tão	pouco	escapou	a	Porfírio;	segundo	ele,	um	e	outro	
aparecem	nesta	questão	como	tristes	figuras.	Também	as	doutrinas	
centrais	da	fé	cristã	e	os	traços	essenciais	do	culto	são	fortemente	
rejeitados.	A	doutrina	de	Cristo	exigiria	uma	fé	irracional	o	que	é	um	
atentado	contra	todo	pensamento	e	toda	formação	filosófica.	O	mo-
noteísmo	cristão	é,	no	fundo,	um	politeísmo	mal	dissimulado,	pois	
os	anjos	aparecem	igualmente	como	seres	divinos.	A	doutrina	da	en-
carnação	enche	de	espanto	a	todo	grego,	e	mais	ainda,	a	eucaristia	
cristã,	na	qual	Porfírio	vê	um	rito	que	não	tem	igual	nem	entre	as	
tribos	mais	selvagens.
Em	suma,	podemos	sintetizar	os	motivos	que	promoveram	
as	perseguições	contra	os	cristãos.	
a)	 Motivos	 pelos	 quais	 os	 judeus	 perseguiram	 a	 Jesus	 e	
seus	discípulos:
1)	 dificuldade	em	aceitar	a	divindade	e	messianidade	
de	Jesus	Cristo;
2)	 rejeitar	o	caráter	de	renovação	da	Lei	e	das	tradições	
que	Jesus	Cristo	tanto	pregou;
3)	 rejeitar	o	caráter	universa	lista	do	Cristianismo;
4)	 tratar	os	cristãos	traidores	da	pátria	e	da	religião	judaica.
151© Perseguições Romanas, Oficialização do Cristianismo e Aliança com o Estado Romano
b)	 Motivos	pelos	quais	os	romanos	perseguiram	os	cristãos:
1)	 desprezo	dos	romanos	pela	Palestina	e	tudo	o	que	
viesse	de	lá;
2)	 cristãos	valorizavam	a	mulher,	a	criança,	o	doente,	
o	 pobre,	 o	 escravo,	 os	 excluídos.	 Na	 cultura	 gre-
co-romana,	 estes	 segmentos	eram	menosprezados	
e	marginalizados;
3)	 cristãos	tinham	discurso	evangélico	marcado	pelo	paci-
fismo,	humildade,	solidariedade	e	fraternidade,	virtudes	
estas	pouco	cultivadas	pelos	romanos,	que	acreditavam	
na	força,	no	poder,	na	prepotência	e	no	orgulho;	
4)	 o	pacifismo	 fazia	 com	que	os	 cristãos	não	 se	 inte-
grassem	ao	exército,	o	que	era	visto	como	traição	e	
sinal	de	pouco	amor	ao	império;	
5)	 cristãos	não	praticavam	o	"culto	do	Imperador",	que	
ajudava	a	reforçar	a	integração	imperial	por	meio	da	
veneração	a	o	mesmo;
6)	 os	 cristãos,	 ao	 não	 praticar	 o	 culto	 ao	 Imperador,	
eram	considerados	traidores	da	pátria	e	opositores	
do	regime:	deveriam	ser	punidos;
7)	 atitude	 monoteístas	 dos	 cristãos	 que	 só	 adoravam	
ao	Deus	 de	 Jesus	 Cristo.	 Segundo	 a	 crença	 romana,	
os	deuses	do	Império	ficavam	descontentes,	 irados	e	
mandavam	 desgraças	 (secas,	 inundações,	 perda	 das	
safras,	invasão	dos	bárbaros,	derrotas	militares)	sobre	
o	Império;
8)	 cristãos	eram	considerados	ateus	e	maus	cida	dãos	
por	não	adorar	os	deuses	e,	por	isso,	 	deveriam	se	
retificar	ou	ser	condenados.	
Vejamos,	 a	 seguir,	 a	 cronologia	 das	 perseguições	movidas	
pelos	imperadores	romanos.	
Cronologia das perseguições movidas pelos imperadores 
romanos
As	perseguições	contra	o	Cristianismo	foram	muitas,	porém	as	da	
época	antiga	ocorreram	nos	três	primeiros	séculos	e	levaram	o	nome	
© História da Igreja Antiga e Medieval152
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
dos	imperadores	romanos	da	época.	Houve	imperadores	que	não	per-
seguiram	os	cristãos,	e	alguns	até	simpatizaram	com	o	Cristianismo.	
Outros	promoveram	perseguições	que	levam	seus	nomes	e	
nem	sempre	as	perseguições	duravam	todo	o	período	de	reinado	
dos	imperadores,	pois	havia	tempos	de	paz,	seguidos	de	tempos	
de	perseguição.
Vamos	conhecer,	agora,	alguns	imperadores:
Nero	(54-68):		foi	o	primeiro	imperador	a	perseguir	os	cris-
tãos,	provavelmente	por	instigação	de judeus	que	tinham	acesso	à	
corte	imperial.	A	perseguição	ocorreu	nos	anos	54-55	e	foi	gerada	
em	torno	de	um	incêndio	que	durou	sete	dias	e	teria	sido	provoca-
do	pelo	próprio	Nero,	que	desejava	reformar	uns	bairros	antigos	e	
pobres	do	centro	de	Roma.	Diante	da	insatisfação	do	povo	que	se	
revoltou	contra	Nero,	ele	acusou	os	cristãos	e	muitos	foram	cruel-
mente	torturados	e	martirizados,	entre	eles,	Pedro	e	Paulo.	Esta	
perseguição,	ao	que	tudo	indica,	ocorreu	só	na	cidade	de	Roma	e	
não	teve	incidência	em	outras	regiões	do	império,	o	que	poderia	
ter	ocorrido	posteriormente,	pois	suspeita-se	que	Nero	queria	es-
tender	a	perseguição	antes	de	sua	morte	(suicídio),	no	ano	68	d.C.	
A	partir	 desse	momento,	 o	ódio	popular	 cresceu	 contra	os	 cris-
tãos	e	ocorreram	muitas	outras	perseguições	contra	aquela	que	
foi	chamada	de	uma	"nova	e	maléfica	superstição".	O	historiador	
romano	Tácito	na	obra	Anais,	15:44,	refere-se	a	este	fato	e	deixa	
entrever	que	os	 cristãos	 eram	 inocentes	 e	que	 foram	acusados,	
principalmente,	pelo	estilo	de	vida	que	levavam,	que	era	distinto	
da	maioria	das	pessoas	do	império.	Em	contrapartida,	percebe-se	
também	o	que	se	pensava	e	falava	dos	cristãos,	que	já	não	eram	
mais	identificados	como	judeus,	mas	sim	como	membros	de	uma	
outra	seita	palestinense,	fundada	por	Cristo.	Assim	escreve	ele:
Apesar	de	todos	os	esforços	humanos,	da	liberalidade	do	impera-
dor	e	dos	sacrifícios	oferecidos	aos	deuses,	nada	bastava	para	apar-
tar	as	suspeitas	nem	para	destruir	a	crença	de	que	o	fogo	havia	sido	
ordenado.	Portanto,	para	destruir	esse	 rumor,	Nero	 fez	aparecer	
como	culpados	os	cristãos,	uma	gente	odiada	por	todos	por	suas	
153© Perseguições Romanas, Oficialização do Cristianismo e Aliança com o Estado Romano
abominações,	e	os	castigou	com	mui	refinada	crueldade.	Cristo,	de	
quem	tomam	o	nome,	foi	executado	por	Pôncio	Pilatos	durante	o	
reinado	de	Tibério.	Detida	por	um	instante,	esta	superstição	dani-
nha	apareceu	de	novo,	não	somente	na	Judéia,	onde	estava	a	raiz	
do	mal,	mas	também	em	Roma,	esse	lugar	onde	se	narra	e	encon-
tram	seguidores	de	todas	as	coisas	atrozes	e	abomináveis	que	che-
gam	desde	todos	os	rincões	do	mundo.	Portanto,	primeiro	foram	
presos	os	que	 confessaram	 (ser	 cristãos),	 e	baseadas	nas	provas	
que	eles	deram	foi	condenada	grande	multidão,	ainda	que	não	os	
condenaram	tanto	pelo	incêndio	mas	sim	pelo	seu	ódio	à	raça	hu-
mana	(	GONZÁLES,	1994,	p.	55).
Domiciano	(81-96):	 	após	a	morte	Galba,	houve	um	tempo	
de	paz	para	os	cristãos	nos	reinados	de	Vespasiano	e	Tito,	entre	
os	anos	65	a	94.	Nessa	época,	no	ano	70	a	cidade	de	Jerusalém	
foi	destruída	pelo	general	romano	Tito	e	a	cisão	entre	cristãos	e	
judeus	foi	definitiva.	Por	outro	lado,	muitos	romanos	ainda	iden-
tificavam	os	cristãos	como	nacionalistas	 judeus.	Também	foi	um	
período	no	qual	houve	uma	grande	produção	de	escritos	cristãos:	
evangelhos	de	Marcos,	Lucas	e	João,	várias	cartas	paulinas,	as	car-
tas	de	Tiago,	Pedro	e	Judas	e	a	carta	aos	Hebreus;	isso	demonstra	
um	clima	de	segurança	e	estabilidade,	quesó	foi	rompido	com	a	
perseguição	de	Domiciano:	
No	ano	81	Domiciano	sucedeu	ao	imperador	Tito.	A	princípio,	seu	reino	
foi	tão	benigno	à	nova	fé	como	o	haviam	sido	os	de	seus	antecessores.	
Mas,	no	final	de	seu	domínio	desatou-se	novamente	a	perseguição.
Não	sabemos	com	certeza	por	que	Domiciano	perseguiu	os	cristãos.	
Sabemos	sim	que	Domiciano	amava	e	respeitava	as	velhas	tradições	
romanas,	e	que	boa	parte	de	sua	política	imperial	consistiu	em	res-
taurar	essas	tradições.	Portanto,	era	de	se	esperar	que	se	opusesse	
ao	 cristianismo,	 que	 em	algumas	 regiões	 do	 Império	 havia	 ganho	
muitíssimos	adeptos,	e	que	em	todo	caso	se	opunha	tenazmente	à	
antiga	religião	romana.	Além	disso,	agora	que	já	não	existia	o	Templo	
de	Jerusalém,	Domiciano	decidiu	que	todos	os	judeus	deviam	enviar	
às	arcas	imperiais	a	oferta	anual	que	antes	mandavam	a	Jerusalém.	
Quando	alguns	judeus	negaram	a	fazê-lo	ou	mandavam	o	dinheiro	
ao	mesmo	tempo	que	deixavam	claro	que	Roma	não	havia	ocupado	
o	lugar	de	Jerusalém,	Domiciano	começou	persegui-los	e	a	exigir	o	
pagamento	da	oferta.	Já	que	ainda	não	estava	totalmente	delimitada	
a	relação	do	judaísmo	com	o	cristianismo,	os	funcionários	imperiais	
começaram	a	pressionar	todos	os	que	praticavam	"costumes	judai-
cos".	Assim	se	desatou	uma	nova	perseguição	que	parece	haver	sido	
© História da Igreja Antiga e Medieval154
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
dirigida,	não	somente	contra	os	cristãos,	mas	também	contra	os	ju-
deus.	Como	no	caso	de	Nero,	parece	que	a	perseguição	não	foi	igual-
mente	severa	em	todo	o	Império.	De	fato,	é	só	de	Roma	e	da	Ásia	
Menor	que	temos	notícias	fidedignas	acerca	da	perseguição.
Em	Roma,	o	imperador	fez	executar	ao	seu	parente	Flavio	Clemt-
ne	e	a	sua	esposa	Flávia	Domitila.	Foram	acusados	de	"ateísmo"	e	
de	"costumes	judaicos".	Já	que	os	cristãos	adoravam	um	Deus	in-
visível,	em	geral	os	pagãos	os	acusavam	de	serem	ateus.	Portanto,	
é	muito	provável	que	Flávio	Clemente	e	sua	esposa	tenham	sido	
mortos	por	 serem	cristãos.	 Estes	 são	os	únicos	dois	mártires	 ro-
manos	no	tempo	de	Domiciano	que	conhecemos	pelo	nome.	Mas	
vários	escritores	antigos	afirmam	que	foram	muitos,	e	uma	carta	
escrita	pela	 igreja	de	Roma	à	de	Corinto	pouco	depois	da	perse-
guição	se	refere	a	"os	males	e	provas	inesperadas	e	seguidas	que	
sobrevieram	a	nós"	(I	Clemente	1).
Da	perseguição	na	Ásia	Menor	sabemos	mais,	graças	ao	Apocalipse,	
que	foi	escrito	em	meio	a	essa	dura	prova.	João,	o	autor	do	Apocalipse	
havia	sido	deportado	à	ilha	de	Patmos	e,	portanto,	sabemos	que	nem	
todos	os	cristãos	eram	condenados	à	morte.	Mas	há	muitas	outras	pro-
vas	de	que	foram	muitos	os	que	sofreram	e	morreram	em	tal	ocasião...	
Felizmente,	quando	se	desatou	a	perseguição	o	reino	de	Domiciano	
chegava	ao	fim.	Com	Nero,	Domiciano	havia	recebido	fama	de	tirano	e	
por	fim	foi	assassinado	em	seu	próprio	palácio	e	o	senado	romano	fez	
com	que	se	apagasse	o	seu	nome	de	todas	as	inscrições	e	monumen-
tos	em	sua	honra.	Uma	vez	mais,	o	Império	parece	ter	esquecido	os	
cristãos.	Assim,	a	nova	fé	pode	continuar	se	espalhando	pelo	Império,	
gozando	de	um	período	de	relativa	paz	(GONZÁLEZ,	1995,	p.	58-60).
Trajano	(97-117):		com	este	imperador	houve	uma	retomada	
do	expansionismo	político	e	comercial	romano	e	o	imperador	não	
se	ocupou	 tanto	com	as	questões	 religiosas.	O	problema	cristão	
vem	à	tona	quando	surge	uma	questão	de	jurisprudência	levanta-
da	pelo	governador	da	Bitínia,	Plínio	o	Jovem,	que	tinha	dúvidas	
sobre	o	perseguir	ou	não	os	cristãos	e	busca	o	conselho	do	impe-
rador.	Pierini	(1998,	p.64-66)	assim	relata	este	assunto,	após	falar	
dos	conflitos	entre	romanos	e	judeus:
A	novidade	da	época	é,	porém,	o	início	da	polêmica	entre	pagãos	e	
cristãos.	Sob	o	reinado	de	Trajano,	o	primeiro	a	levantar	a	questão	é	
Plínio,	o	Jovem.	Exercendo	o	cargo	de	procônsul	na	Bitínia,	vê-se	dian-
te	da	necessidade	de	julgar	indivíduos	acusados	simplesmente	de	ser	
cristãos.	Ele	sabe	que	os	cristãos	devem	ser	perseguidos	(é	o	rastro	
deixado	pelas	perseguições	de	Nero	e	Domiciano),	mas	não	sabe	como	
155© Perseguições Romanas, Oficialização do Cristianismo e Aliança com o Estado Romano
comportar-se	em	relação	ao	processo	e	ao	mérito	das	acusações;	toda-
via,	procede	da	maneira	costumeira,	interrogando-os	e	condenando-
os,	quando	obstinados.	Ocorrendo	dúvidas,	escreve	ao	imperador	em	
112	confessando	a	própria	ignorância	("não	sei	o	que	se	deve	fazer	ou	
até	que	ponto	se	deve	punir	ou	persegui-los")	a	respeito	da	substância	
mesma	da	questão	("se	se	deve	unir	o	próprio	nome	de	cristão,	ainda	
que	isento	de	crimes,	ou	os	crimes	independentemente	do	nome").
A	resposta	de	Trajano	exprime	não	só	as	anomalias	típicas	do	direito	
penal	romano,	mas	também	a	incerteza	frente	a	um	fenômeno	(o	
delito	de	opinião)	totalmente	fora	das	categorias	ordinárias:	"Não	
se	pode	estabelecer	-	escreve	o	imperador-	uma	regra	geral,	que	
possa	funcionar	com	o	uma	fórmula	fixa.	Não	é	o	caso	de	persegui-
los.	Se	forem	denunciados	e	houver	culpa,	devem	ser	punidos,	mas	
com	esta	restrição:	quem	negar	ser	cristão	e	o	provar	com	fatos,	
adorando	os	nossos	deuses,	poderá	com	seu	arrependimento	obter	
o	perdão,	ainda	que	seu	passado	seja	suspeito.	As	denúncias	anô-
nimas	não	devem	ter	nenhum	valor,	e,	nenhum	tipo	de	denúncia,	
porque	são	um	exemplo	deplorável	e	indigno	do	nosso	tempo".
Os	 mesmos	 conceitos,	 substancialmente,	 são	 reafirmados	 por	
Adriano,	por	volta	do	ano	128,	num	rescrito	ao	procônsul	da	Ásia	
Minúcio	Fundano,	acrescentando,	porém,	que	a	condenação	deve	
decorrer	de	uma	culpa	específica:	Se	o	acusador	demonstrar	que	
(os	cristãos)	infringiram	as	leis,	então	determina	a	pena	segundo	a	
gravidade	da	culpa".	Também	aqui,	na	falta	de	conceitos	jurídicos	
precisos,	apela-se	para	o	critério	do	"caso	a	caso!".	
Uma	outra	carta,	esta	bem	mais	favorável	aos	cristãos	atribuída	a	An-
tonino	Pio	e	endereçada	a	uma	assembléia	federal	na	Ásia,	não	espe-
lha	a	situação	real	e	é	considerada	totalmente	apócrifa.	As	atitudes	
das	autoridades	 imperiais	em	relação	aos	cristãos	 tornam-se	mais	
precisas	com	o	crescimento	da	polêmcia,	que	deixa	cada	vez	mais	
claros	os	termos	da	questão.	Por	volta	da	metade	do	século	II	acumu-
lam-se	as	censuras	de	Epíteto,	Frontão	de	Cirta,	Hélio	Aristides,	do	
filósofo	cínico	Crescente,	até	que	se	chaga	ao	juízo	pessoal	de	Marco	
Aurélio	a	respeito	dos	cristãos,	que	neles	destaca	depreciativamente	
a	"obstinação	da	vontade",	e	à	sátira	que	 lhes	 reserva	Luciano	de	
Samosata,	zombando	dos	dois	elementos	que	mais	impressionavam	
os	pagãos:	o	amor	fraterno	e	o	desprezo	pela	morte.	
Informação ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Mas houve momentos de perseguição contra os cristãos e aqui se destaca o 
mártir Santo Inácio de Antioquia, que foi levado a Roma para ser morto e neste 
contexto, escreveu sete belas cartas nas quais não renuncia à sua fé cristã e faz 
uma grande apologia do Cristianismo e da santificação por meio do martírio. Es-
creveu carta aos cristãos de Roma, Éfeso, Magnésia, Filadélfia, Esmirna, Trales, 
e uma pessoal a São Policarpo de Esmirna, também martirizado no ano 154.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
© História da Igreja Antiga e Medieval156
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
Adriano	(117-138):		em	seu	reinado	e	após	as	conquistas	de	
Trajano,	o	Império	Romano	chegou	à	sua	maior	extensão,	mas	já	
se	iniciavam	várias	revoltas	e	problemas	em	muitas	regiões,	o	que	
fez	com	que	tivesse	que	reforçar	as	fronteiras	e	centralizar	o	poder.	
De	132	a	135	ocorreu	a	rebelião	dos	judeus	e	Jerusalém	foi	destru-
ída	e	chamada	de	Aélia	Capitolina.	Adriano	exigiu	julgamento	mais	
correto	para	inibir	a	ação	de	alguns	fanáticos	que	perseguiam	os	
cristãos	sem	motivos	sérios.	Mas,	em	seu	reinado,	houve	também	
perseguição	contra	os	cristãos	e	muitos	foram	martirizados,	com	
destaque	para:	o	Papa	Telésforo,	Sinforosa,	Eustóquio.	
Antonino	Pio	(138-161):	com	ele	o	Império	Romano	vive	um	
período	de	equilíbrio	e	paz	dentro	e	fora	de	seus	domínios.	Contu-do,	aumentam	alguns	problemas,	especialmente	com	a	crise	agrí-
cola	e	com	a	pressão	em	várias	fronteiras	do	grande	império.	Ele	
também	evita	perseguir	os	cristãos	que	ainda	sofriam	acusações	
sem	 fundamentos.	Nessa	época,	 São	 Justino	escreve	 sua	Apolo-
gia	ao	imperador,	intercedendo	em	favor	dos	cristãos	e	expondo	
várias	provas	sobre	a	divindade	de	Cristo.	Mesmo	assim,	tivemos	
vários	martírios:	 Lúcio	e	Ptolomeu	em	Roma	e	São	Policarpo	de	
Esmirna	e	11	companheiros.
Marco	Aurélio	 (161-180):	no	tempo	do	 imperador	 filósofo,	
adepto	 do	 estoicismo,	 foram	 estourando	 vários	 problemas	 que	
afetaram	o	equilíbrio	do	grande	Império	Romano:	revoltas	em	vá-
rias	fronteiras	imperiais,	pestes,	fome	e	carestias	em	várias	partes.	
Para	resolver	os	problemas	e	aplacar	a	ira	dos	deuses,		ordenou-se	
a	todos	os	cidadãos	do	império	que	prestassem	sacrifícios	e	ritos	
expiatórios.	A	ausência	dos	cristãos	fez	com	que	surgissem	muitos	
mártires:	os	mártires	de	Lyon	na	França	(Fotino,	Blandina	e	outros	
mártires),	São	Justino	e	Santa	Cecília	em	Roma,	a	Legião	Fulmínea	
composta	 por	 soldados	 cristãos,	 seis	mártires	 de	 Cílio	 na	 África	
do	Norte,	o	bispo	Públio	de	Atenas	etc.	Nesta	época,	destacam-
se	dois	apologistas:	Melitão	de	Sardes,	que	defendia	uma	união	
entre	império	e	Cristianismo	e	Atenágoras	de	Atenas,	que	suplica	
o	favor	imperial	em	prol	dos	cristãos.	Neste	período	surgiu	o	pla-
157© Perseguições Romanas, Oficialização do Cristianismo e Aliança com o Estado Romano
tônico	Celso,	um	dos	principais	críticos	do	Cristianismo,	com	sua	
obra	Verdadeiro Logos	 ou	Discurso verdadeiro:	 ele	 aproveita	 as	
críticas	 judaicas	ao	cristianismo	e	 também,	aprofunda	vários	 te-
mas	da	doutrina	cristã	para	combatê-los:	a	encarnação,	divindade	
e	ressurreição	de	Jesus	e	várias	questões	bíblicas.
Cômodo	(180-192):		contrariando	o	estilo	de	seu	pai	Marco	
Aurélio,	Cômodo	fez	um	governo	desastroso.	Porém,	por	influência	
de	Márcia,	sua	concubina	que	era	cristã,	protegeu	os	cristãos.	Mas,	
mesmo	assim,	tivemos	muitos	mártires:	seis	mártires	de	Cartago,	
Apolônio	em	Roma,	Esperâncio,	Nazário	e	companheiros	etc.
Sétimo	Severo	(192-211):	o	período	desastroso	de	Cômodo	
faz	com	que	seja	escolhido	um	membro	do	exército.	Assim,	é	re-
forçada	a	militarização	do	grande	Império	Romano,	com	forte	cen-
tralização	do	poder	e	autoritarismo	do	imperador.	Em	relação	aos	
cristãos,	 ele	 tem	 atitude	 inicial	 de	 benevolência,	mas	 posterior-
mente	também	autoriza	a	perseguição	em	função	de	alguns	mo-
tins	judaicos,	também	preocupado	com	o	crescimento	do	número	
dos	cristãos;	assim,	proíbe	a	conversão	ao	Cristianismo,	atingindo	
especialmente	os	catecúmenos	e	neófitos.	Entre	os	mártires	des-
te	período,	citamos	Leônidas	de	Alexandria,	Perpétua	e	Felicidade	
em	Cartago.	
Nesta	época,	surge	um	dos	grandes	apologistas	cristãos,		Ter-
tuliano:	
Jurista	e	retórico	de	Cartago,	depois	de	sua	conversão,	escreve	uma	
defesa	 do	 cristianismo	 (o	 "Apologeticum"),	 destinada	 aos	 gover-
nantes	do	Império.	Ataca	as	violações	do	direito	dos	processos	con-
tra	os	cristãos:	ausência	de	advogado,	uso	da	tortura	não	para	ob-
ter	confissões,	mas	para	fazer	abjurar;	condenação	não	por	causa	
de	crime,	mas	por	causa	de	nome	("nomen	christianum");	de	outro	
lado,	os	filósofos	pagãos	podem	impunemente	negar	a	existência	
dos	deuses.	E	contudo:	as	execuções	não	aniquilam	a	fé,	mas	a	es-
palham	("semen	est	sanguis	christianorum'	–	o	sangue	dos	cristãos	
é	semente)				(FRÖHLICH,	1987,	p.	17).
Maximino	Trácio	(235-238):		após	a	morte	de	Sétimo	Severo,	
tivemos	vários	imperadores	que	foram	benevolentes	com	os	cris-
© História da Igreja Antiga e Medieval158
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
tãos	(Caracala,	Heliogábulo	e	Alexandre	Severo).	Maximimo	foi	o	
"primeiro	bárbaro"	a	ser	imperador	e	mandou	assassinar	Alexan-
dre	Severo	e,	com	isso,	perseguiu	seus	protegidos	e	decretou	per-
seguição	especial	contra	os	membros	da	hierarquia	cristã	e	mor-
reram	alguns	bispos:	Papas	Antero	e	Ponciano,	antipapa	Hipólito.	
Mas	a	perseguição	não	atingiu	muitas	regiões	do	império	e	Maxi-
mino	mesmo	pôs	fim	à	perseguição.	Após	sua	morte,	volta	a	reinar	
uma	paz	relativa	para	os	cristãos	com	Gordiano	II	e	Filipe	o	Árabe,	
que	para	muitos	era	cristão,	mas	não	o	assumiu	publicamente	por	
causa	da	relação	com	o	exército	e	com	os	setores	 imperiais	que	
eram	anticristãos.	Neste	período,	a	Igreja	vai	crescendo	e	se	orga-
nizando,	 inclusive,	 internamente	 já	 se	 fala	de	certo	 relaxamento	
dos	cristãos.	É	neste	contexto	que	teremos	uma	das	piores	perse-
guições	com	o	Imperador	Décio.
Décio	(249-251):		com	vários	problemas	internos	e	ameaças	
externas	nas	fronteiras,	Décio	quis	unificar	o	império	e	centralizar	
o	poder	com	a	lealdade	dos	súditos.	Para	isso,	decretou	que	todos	
os	cidadãos	deveriam	sacrificar	aos	deuses	imperiais,	mediante	as-
sinatura	de	um	documento	chamado	libelo.	Muitos	testemunha-
ram	sua	fé	com	os	martírios,	mas	muitos	sacrificaram	aos	deuses	e	
renegaram	a	fé	cristã.	Bihlmeyer	assim	relata	esta	perseguição:
Como	observa	São	Cipriano,	"para	provar	a	sua	família"	Deus	man-
dou	outra	perseguição.	Foi	de	breve	duração,	mas	violentíssima	e	
perigosa.	É	devida	a	Décio	(249-51),	um	dos	imperadores	militares	
pouco	 cultos,	mas	 cheios	de	energia,	 de	origem	panônico-ilírica,	
que	realizaram	uma	política	de	restauração	em	grande	estilo.	Ele	
queria	dar	ao	império,	quase	em	ruínas	pela	corrupção	e	a	invasão	
sufocante	do	costume	oriental,	maior	 força	de	 resistência	contra	
os	inimigos	externos	e	internos	e	recolocá-lo	no	esplendor	de	ou-
tros	tempos;	julgava	portanto,	seu	dever	submeter	à	antiga	religião	
nacional	unitária,	em	primeiro	lugar,	os	cristãos,	a	seu	ver	os	inimi-
gos	mais	perigosos	do	Estado	Romano.	Procedeu	om	tal	decisão	e	
tão	sistematicamente	que	a	sua	perseguição	tem	uma	importância	
superior	a	 todas	as	precedentes	e	 inaugura	um	novo	período	na	
história	das	mesmas.	Um	edito	do	fim	de	249	ou	do	início	de	250	
ordenava	a	 todos	os	súditos	oferecerem	aos	deuses,	 juntamente	
com	mulheres	e	devia-se	proceder	 recorrendo	a	 todos	os	meios	
próprios	de	uma	justiça	cruel:	cárcere,	confiscação	dos	bens,	exílio,	
159© Perseguições Romanas, Oficialização do Cristianismo e Aliança com o Estado Romano
trabalhos	 forçados;	 depois,	 aumentando	a	 aspereza,	 a	 tortura	e,	
finalmente,	em	certas	circunstâncias	–	não	em	muitos	casos	-	tam-
bém	a	pena	de	morte.	Os	bispos	eram	visados	de	modo	especial	
(tyrannus	infestus	sacerdotibus,	Cipr.	Ep.	55,9).	Décio	dizia	tolerar	
mais	facilmente	um	rival	no	império	do	que	um	bispo	cristão	em	
Roma.	Visto	que	o	golpe	desabou	como	um	raio	em	céu	sereno,	
grande	foi	o	espanto	dos	cristãos.	Infelizmente,	em	muitos	casos,	
eles	deram	prova	de	pouca	força	de	resistência:	nas	grandes	cida-
des	como	Alexandria,	Cartago,	Esmirna	e	Roma,	verificou-se	uma	
defecção	em	massa;	até	alguns	bispos	traíram	a	fé.	Uma	parte	dos	
cristãos	apóstatas	(lapsi)	ofereceu	sacrifícios	de	animais	ou	de	in-
censo	aos	deuses	(sacrificati,	turificati),	outros,	ao	invés,	sem	ofe-
recer	sacrifícios,	souberam	proceder	de	tal	modo,	seja	com	astúcia,	
seja	com	corrupção,	que	conseguiram	da	autoridade	o	certificado	
prescrito	de	sacrifício	realizado	(libellus)	e	o	registro	nas	listas	ofi-
ciais	(libellatici,	acta	ou	accepta	facientes).
Mas	houve	também	"uma	multidão"	(Cipr.	De	lapsis	2)	de	confes-
sores	de	mártires	de	todas	as	idades	e	sexo,	firmes	na	sua	fé;	entre	
outros	o	Papa	Fabiano,	uma	das	primeiras	vítimas	da	perseguição	
(a	 sua	 sede	permaneceu	vacante	mais	de	um	ano),	o	presbítero	
Piônio	de	Esmirna,	que	foi	queimado,	os	bispos	Babila	de	Antioquia	
e	Alexandre	de	Jerusalém,	os	quais	morreram	no	cárcere,	o	velho	
Orígenes,	que	sofreu	graves	torturas,	mas	depois	foi	libertado.	Mui-
tos,	como	os	bispos	Cipriano	de	Cartago,	Dionísio	de	Alexandria	e	
Gregório,	o	Taumaturgo,	de	Neocesaréia,	se	salvaram	a	custos	de	
graves	fadigas	com	a	fuga	(BIHLMEYER-TUECHLE,	1964,	p.	92-93).
A	perseguição	terminou	no	ano	251,	com	a	mortede	Décio	na	
batalha	contra	os	godos.	Fruto	desta	perseguição	foi	a	frustração	com	
tantos	que	abandonaram	a	fé.	Por	outro	lado,	muitos	que	sacrifica-
ram	aos	deuses	ou	compraram	o	libelo	quiseram	voltar	para	o	seio	
da	comunidade	cristã	e	isto	gerou	sérias	discussões	no	seio	da	comu-
nidade.	Surgiram	as	chamadas	"controvérsias	penitenciais",	com	um	
grupo	dos	chamados	"laxistas"	que	queriam	a	volta	de	todos	ao	seio	
da	comunidade	e	os	"rigoristas",		que	ou	não	aceitavam	o	retorno	dos	
lapsos,	ou	que	negaram	a	fé,	ou	que	aceitavam	o	retorno	mediante	
grandes	e	pesadas	penitências.	Surgiram,	inclusive,	vários	cismas	que	
provocaram	grandes	divisões	em	várias	cidades	do	império.
Com	o	Imperador	Galo	(251-253),	houve	um	tempo	de	paz,	
mas	depois	um	momento	breve	de	perseguição;	foram	exilados	os	
papas	Cornélio	e	Lúcio.
© História da Igreja Antiga e Medieval160
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
Valeriano	 (253-260):	no	 início	de	seu	governo	protegeu	os	
cristãos,	mas	a	partir	 de	257	os	perseguiu,	 de	modo	especial,	 a	
hierarquia,	minando	a	organização	eclesial;	proibiu	também	as	vi-
sitas	e	culto	nos	cemitérios.	Entre	os	mártires,	destacamos	o	Papa	
Sisto	 II,	 São	Lourenço,	São	Cipriano,	São	Frutuoso	de	Tarragona,	
Augúrio,	Eulógio	e	muitos	outros.
O	Imperador	Galieno	(260-268)	deixou	os	cristãos	em	paz	e	
restituiu	os	cemitérios	e	lugares	de	culto.	Aureliano	(270-275)	ten-
tou	fortalecer	o	culto	do	sol,	mas	não	perseguiu	os	cristãos.
Diocleciano	(284-305):	inicialmente	ele	manteve	a	política	im-
perial	anterior	E	não	incomodou	os	cristãos.	Ele	promoveu	a	tetrar-
quia,	dividindo	o	grande	Império	Romano	em	quatro	regiões	admi-
nistrativas,	com	forte	acento	militar;	esse	projeto	fez	com	que	anos	
mais	tarde	Constantino	chegasse	ao	poder	imperial	e,	entre	tantas	
ações,	promovesse	a	liberdade	aos	cristãos.	Houve	um	grande	cres-
cimento	do	número	de	cristãos	com	muitas	conversões,	inclusive	a	
própria	esposa	de	Diocleciano	e	sua	filha	eram	cristãs.	Ocorreram	
muitas	construções	de	igrejas	em	várias	regiões.	Galério,	um	dos	im-
peradores,	era	adepto	do	culto	ao	imperador	e	induziu	Diocleciano	
à	perseguição	que	teve	seu	início	no	ano	303	e	foi	muito	forte	e	in-
tensa,	exigindo	destruição	das	igrejas	e	entrega	dos	livros	sagrados.	
Houve	muitos	mártires:	Papa	Marcelino,	o	bispo	Antimo,	Vítor,	Mau-
ricio,	Cândido,	Legião	de	Tebas,	Santa	Úrsula,	Pânfilo	de	Cesareia,	
Luciano	de	Antioquia,	Pedro	de	Alexandria	etc.	A	situação	começou	
a	mudar	quando	Diocleciano	abdicou,	no	ano	305,	e,	depois,	quan-
do	as	resistências	foram	sendo	amainadas.
As	perseguições	cessaram	com	o	Edito	de	Tolerância,	dos	Im-
pe	radores	Constantino,	Galério	e	Licínio,	no	ano	de	311.	Neste	edito,	
os	 imperadores	 recriminam	os	cristãos	pela	desobediência	diante	
das	lideranças	romanas;	permitem	a	prática	da	religião	e	pedem	as	
orações	cristãs	para	os	imperadores	e	prosperidade	imperial.
Nem	 todos	 os	 imperadores	 perseguiram	os	 cristãos,	 havia	
relativa	paz	nas	comunidades	cristãs.		Segundo	alguns	cálculos,	so-
161© Perseguições Romanas, Oficialização do Cristianismo e Aliança com o Estado Romano
mados	os	anos	de	perseguições	aos	cristãos,	chega-se	a	um	total	
de	129	anos.
É	 impossível	calcular	o	número	de	vítimas,	alguns	afirmam	
que	foi	em	torno	de	100	mil	e	outros	10	milhões,	o	que	é	impensá-
vel.	É	claro	que	não	devemos	falar	só	dos	mártires	(testemunhas)	
que	morreram	pela	 fé,	mas	 também	dos	 que	 foram	 torturados,	
desterrados,	dos	que	tiveram	seus	bens	confiscados	etc.	Entre	as	
vítimas	das	perseguições,	citamos	grandes	santos	e	santas	da	Igre-
ja:	Pedro,	Paulo,	Flávia	Domitila,	 Inácio	de	Antioquia,	Simeão	de	
Jerusalém,	Policarpo	de	Esmirna,	 Justino,	Blandina,	Cecília,	 Inês,	
Perpétua	e	Felicidade,	Ponciano,	Antero,	Fabiano,	Lourenço,	Eulá-
lia,	Sebastião	etc.
As	 perseguições	 tiveram	 consequências	 negativas	 para	 a	
Igreja:	dificultou	a	organização	e	expansão	eclesial;	os	apóstatas	e	
lapsos	deram	maus	exemplos;	os	cristãos	foram	menosprezados	e	
marginalizados.	
O	 lado	positivo:	os	mártires	são	considerados	uma	riqueza	
eclesial;	as	perseguições	fizeram	com	que	aumentasse	o	fervor	e	
a	piedade	cristã;	o	mar	tírio	tornou-se	ideal	de	santidade	para	os	
cristãos;	os	mártires	eram	admirados	pelos	pagãos,	gerando	mui-
tas	conversões	para	a	Igreja.
A	Igreja	sempre	se	orgulhou	e	valorizou	seus	mártires,	pois	
eles	testemunham	a	fé	cristã	e	o	compromisso	da	construção	do	
Reino.	São	sinais	de	que	o	Evan	gelho	do	Reino	ainda	não	é	uma	
realidade	palpável	no	mundo	e	que	a	 justiça,	 a	 solidariedade,	 a	
fraternidade,	a	verdade	e	o	amor	ainda	estão	longe	da	vida	huma-
na.	Os	mártires	acenam	para	o	valor	da	verdadeira	vida	e	incomo-
dam	todos	aqueles	e	todas	as	estruturas	que	não	valorizam	nem	
respeitam	a	dignidade	do	ser	humano,	imagem	de	Deus.	Eles	nos	
recordam	que	a	vida	celestial	futura	deve	ser	o	ideal	a	ser	buscado	
no	"aqui	e	agora"	da	história	humana.
O	Cristianismo	teve	Mártires	da	fé,	do	amor	e	da	justiça	na	
história	 antiga,	medieval,	moderna	 e	 contem	porânea.	O	mundo	
© História da Igreja Antiga e Medieval162
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
precisa	desses	profetas,	ainda	mais	agora	em	que	os	 ideais	neo-
liberais	 e	 pós-moder	nos	 geram	 tanta	 exclusão,	 margi	nalização,	
violência,	sofrimento	e	morte.	Cito	aqui	alguns	mártires	da	atuali-
dade,	muitos	dos	quais	ainda	não	estão	nos	altares	da	Igreja,	mas	
que,	em	pleno	século	20,	foram	capazes	de	dar	a	vida	pelo	Reino	
e	pelo	pró	ximo,	 testemunhando	a	virtude	do	amor	e	da	 justiça:	
Maximiliano	Kolbe;		Edith	Stein;		Rutílio	Grande;		Oscar	Arnulto	e		
Romero.	No	Brasil,	podemos	citar:	João	Bosco	Penido	Burnier;		Eze-
quiel	Ramin;		Pe.	Josimo	Santo	Dias	da	Silva;		Ir.	Adelaide	Molinari;		
Ir.	Cleusa	Carolina	Rody	Coelho,	Ir.	Doroty	Stang	e	tantos	outros.
As	perseguições	terminaram	com	o	Édito	de	Tolerância,	as-
sinado	pelos	Imperadores	Constantino,	Galério	e	Licínio,	no	dia	30	
de	abril	de	311.	
Com	o	Édito	de	Milão,	no	ano	313,	os	cristãos	ganharam	a	li-
berdade	de	culto	e,	no	final	do	século	4º,	com	o	Imperador	Teodó-
sio,	o	Cristianismo	tornou-se	a	religião	oficial	do	Império	Romano.	
Vejamos,	agora,	como	foi	a	aproximação	entre	a	 Igreja	e	o	
Império	Romano.
6. IGREJA NO IMPÉRIO ROMANO CRISTÃO 
O	século	4º	provocou	grandes	reviravoltas	no	Cristianismo:	
de	 religião	perseguida	até	o	ano	311,	passou	a	 ser	 religião	 livre	
no	ano	313	e,	já	no	final	do	século,	com	vários	éditos	imperiais	de	
Teodósio,	entre	390	e	395,	ano	de	sua	morte,	tornou-se	a	religião	
oficial	do	Império	Romano.	
A	atitude	 favorável	do	 Imperador	Constantino	para	os	cristãos	
trouxe	como	consequência	uma	mudança	profunda	no	curso	dos	acon-
tecimentos	da	Igreja.	O	"Édito	de	Milão"	do	ano	313	admitia	a	liberda-
de	dos	cidadãos	adorarem	ao	Deus	em	quem	acreditavam:	inúmeros	
historiadores	admitem	que	a	mudança	introduzida	por	Constantino	nas	
relações	entre	a	Igreja	e	o	Império	Romano	foi	um	acontecimento	de	
consequências	incalculáveis	na	relação	entre	Estado	e	Religião.
163© Perseguições Romanas, Oficialização do Cristianismo e Aliança com o Estado Romano
Informação Complementar –––––––––––––––––––––––––––––
Há várias posições sobre a relação entre Cristianismo e Estado. Existem os que 
consideram que a aliança entre a Igreja e o Estado, até chegar a converter-se o 
Cristianismo em religião oficial do império (390), colocou os cristãos e a hierar-
quia eclesiástica numa dependência diante do Estado (cesaropapismo). Outros a 
veem como uma situação de privilégio, porque a "liberdade religiosa" decretada 
em Milão foi substituída a favor da Igreja e contra o paganismo, o que provocou 
muitos equívocos até nossos dias. Inclusive, houve momentos, especialmente na 
Idade Média, em que o Cristianismo assumiu o poder político e temporal, muitas 
vezes afastando-se do Evangelho e da justiça social, e praticando atos de nepo-
tismo, corrupção e abuso de poder. Mas, isto veremos em outra unidade.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A	situaçãocriada	com	a	conversão	de	Constantino	favoreceu	
muito	a	expansão	do	Cristianismo,	que	penetrou	nas	classes	supe-
riores	do	império	e	chegou	até	as	regiões	mais	distantes	e	isoladas.	
Mas	também	deu	lugar	a	conversões	menos	sinceras	e	por	moti-
vos	menos	nobres.	Podemos	afirmar	que	houve	luzes	e	sombras,	
pontos	positivos	e	negativos	para	ambos.
Assinalo	 aqui	 elementos	 positivos	 da	 aproximação	 entre	
Igreja	e	Estado:
•	 a	liberdade	da	Igreja,	com	a	qual	esta	conseguiu	expandir	
todas	as	suas	forças	internas;	
•	 a	 organização	 eclesial	 alcançou	 um	 grande	 desenvolvi-
mento:	 hierarquia,	 liturgia,	 concílios,	 catequese,	 ações	
beneficentes	etc.;	
•	 a	expansão	missionária	teve,	também,	um	extraordinário	
incremento	e	 foi	possível	evangelizar	as	 regiões	monta-
nhosas	e	os	lugares	mais	afastados	das	cidades.	
Enquanto,	no	início	do	século	4º,	apenas	a	décima	parte	do	
Império	Romano	era	cristã,	um	século	depois	pode-se	dizer	que	
quase	todo	o	império	fora	batizado;	mérito	não	pequeno	da	Igreja	
desse	tempo	é	a	sistematização	teológica	da	mensagem	evangélica	
por	obra	dos	grandes	padres	e	doutores	da	Igreja,	como	Atanásio,	
Basílio,	Gregório,	Agostinho	e	Jerônimo.	
Existem	 também	 espessas	 trevas	 na	 Igreja	 desse	 segundo	
período	da	Idade	Antiga:	
© História da Igreja Antiga e Medieval164
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•	 a	excessiva	dependência	do	poder	político,	que	chegou	a	
se	degenerar	em	autêntico	cesaropapismo;	
•	 a	decadência	alarmante	do	altíssimo	nível	de	moralidade	
e	de	exigências	da	vida	cristã,	que	havia	caracterizado	os	
cristãos	dos	primeiros	três	séculos.
Pode-se	afirmar,	desse	modo,	que	o	mundo	romano	estava	
batizado,	mas	não	convertido.	
Império Romano cristão: expansão do Cristianismo durante os 
três primeiros séculos
Os	primeiros	cristãos	exerceram	grande	atividade	missioná-
ria	 (Mt	24,	10):	as	viagens	dos	apóstolos	e	de	São	Paulo	por	di-
versas	 regiões	do	 Império	Romano,	a	 fundação	de	comunidades	
cristãs	nas	principais	cidades	do	império,	embora	houvesse	pouca	
penetração	cristã	nas	regiões	rurais.
Informação Complementar –––––––––––––––––––––––––––––
Segundo cálculos aproximativos, sobre uma população de 50 milhões de habi-
tantes no Império Romano, eram cristãos uns 6 ou 7 milhões no início do século 
4º. Os cristãos eram, em sua maioria, procedentes das classes inferiores; mas 
também existiam cristãos vindos das classes altas (nobres e intelectuais). 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Existiam, no século 4º, em torno de 1500 sedes episcopais, sendo 
umas 800 na parte oriental do império e 700 no ocidente.
Estudiosos	apontam	vários	motivos	que	 favoreceram	a	ex-
pansão	cristã	e	elencamos	aqui	alguns	deles:	o	desejo	da	verdade	
explícita	nos	Evangelhos;	respostas	para	vários	temas	(desejo	da	
libertação	da	fatalidade	e	do	pecado,	imortalidade	da	alma,	esco-
po	da	vida	terrena,	 justiça	distributiva	etc.);	desejo	da	santidade	
interior;	milagres	e	carismas;	curas	e	expulsão	de	demônios;	amor	
fraterno	e	ação	caritativa;	firmeza	dos	mártires	e	fervor	dos	cris-
tãos.	Temos,	também,	os	motivos	que	impediam	a	conversão	ao	
165© Perseguições Romanas, Oficialização do Cristianismo e Aliança com o Estado Romano
Cristianismo:	preconceitos	contra	os	cristãos;	renúncia	ao	passado	
(família,	 sociedade,	 profissões	 pagãs,	 religião	 dos	 grandes);	mo-
noteísmo	cristão	em	face	ao	politeísmo	romano	e	ateísmo	cristão;	
adesão	a	dogmas	misteriosos;	culto	esotérico	e	misterioso;	rigoris-
mo	moral;	rejeição	dos	cristãos	ao	serviço	militar	e	à	guerra;	perigo	
constante	de	morte	na	época	das	perseguições.	Sobre	este	tema,	
BIHLMEYER-TUECHLE	o	aprofunda	quando	 fala	dos	motivos que 
favoreceram a rápida difusão do Cristianismo	e	dos	obstáculos à 
propagação e causas da perseguição do Cristianismo. O processo 
contra os cristãos	(1964,	I,	p.	76-84).
Conversão e política religiosa de Constantino
O	 tema	 da conversão de Constantino	 foi	 e	 continua	 sen-
do	discutido	por	muitos	estudiosos,	pois	há	os	que	afirmam	que	
Constantino	se	converteu	ao	Cristianismo	por	interesses	políticos	
e	há	os	que	dizem	que	foi	em	razão	de	um	processo	gradativo	de	
simpatia	pela	doutrina	e	pelo	testemunho	dos	cristãos	que	o	levou	
a	privilegiar	o	Cristianismo	e	a	se	batizar	antes	de	sua	morte,	no	
ano	337.	
Além	 disso,	 pode-se	 acrescentar	 que	 seu	 pai,	 Constâncio	
Cloro,	evitou	perseguir	os	cristãos;	que	ele	teria	parentes	cristãos,	
que	se	admirou	muito	com	a	convicção	dos	mártires	cristãos	etc.	
Além	de	tudo	isso,	há	o	fato	de	ele	ter	assinado	o	Édito de 
Tolerância (311)	e	o	Édito de Milão	(313)	e,	depois	disso,	ter	ajuda-
do	muito	o	Cristianismo	na	construção	de	igrejas,	no	apoio	ao	cle-
ro	e	na	eliminação	da	legislação	pagã	e	adaptação	das	leis	romanas	
de	acordo	com	a	moral	cristã.
O Édito de Milão (313 d.C.) declarava que o Império Romano se-
ria neutro em relação ao credo religioso, acabando, oficialmente, 
com toda perseguição sancionada, especialmente contra o Cris-
tianismo.
© História da Igreja Antiga e Medieval166
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Acrescente-se	 o	 episódio	 da	 batalha	 contra	 Maxêncio,	 na	
ponte	Milvia,	quando,	com	estandartes	e	com	a	cruz	cristã,	Cons-
tantino	venceu	a	batalha,	segundo	afirmam	vários	historiadores,	
com	destaque	para	Eusébio	de	Cesareia,	com	a	ajuda	do	Deus	dos	
cristãos,	e	o	fato	de	ele	se	colocar	contra	os	imperadores	que	se	
posicionaram	contra	os	cristãos	(Galério,	Maxêncio,	Licínio).
Constantino	 não	 se	 contentou	 em	 deixar	 em	 liberdade	 a	
Igreja,	mas	passou	a	fazer	inúmeros	favores	a	ela	e	foi	adequando	
a	vida	do	Império	Romano	aos	hábitos	e	à	moral	cristã:	
1)	 exonerou	o	clero	dos	encargos	municipais	(313);	
2)	 concedeu	aos	bispos	jurisdição,	inclusive	em	causas	civis	
(318);	
3)	 reconheceu	a	Igreja	como	sociedade	civil,	com	capacida-
de	para	receber	legados	(321);	
4)	 elevou	o	domingo	a	dia	de	repouso	obrigatório	(321);	
5)	 confiou	a	cristãos	os	postos	mais	elevados	do	Estado;	
6)	 construiu,	por	sua	conta,	várias	basílicas:	São	Pedro	no	
Vaticano,	São	Paulo	na	Via	Ostiense,	Santo	Sepulcro,	Be-
lém	etc.;	
7)	 transladou	 a	 residência	 imperial	 para	 Constantinopla,	
fundando	uma	cidade	inteiramente	cristã	(330);	
8)	 publicou	 um	 Édito	 no	 qual	manifestava	 seu	 desejo	 de	
que	 todos	os	súditos	do	 império	abraçassem	o	Cristia-
nismo	(324);	
9)	 proibiu	que	alguém	fosse	incomodado	por	suas	crenças	
religiosas.
Informação Complementar –––––––––––––––––––––––––––––
Constantino morreu no dia de Pentecostes de 337, dois meses depois de receber 
o batismo. A Igreja grega o venera como santo, juntamente com sua mãe, Santa 
Helena. A Igreja Ocidental não rendeu culto a Constantino, mas atribuiu-o à sua 
mãe.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Pierini,	sintetizando	a	obra	de	Constantino,	assim	escreve:
[...]	 como	bom	militar	e	astuto	político	herda	as	 reformas	da	 te-
trarquia,	mas	as	corrige,	livrando	avante	só	as	mais	seguras:	assim,	
acentua	a	autocracia	do	poder	imperial,	mantendo	contemporane-
167© Perseguições Romanas, Oficialização do Cristianismo e Aliança com o Estado Romano
amente	a	divisão	administrativa	do	 Império	 introduzida	por	Dio-
cleciano;	concentra	em	suas	mãos	o	poder	militar,	mas	ao	mesmo	
tempo	aperfeiçoa	a	já	iniciada	distinção	entre	tropas	de	fronteira	e	
tropas	de	manobra	 interna,	 incrementando	e	privilegiando	parti-
cularmente	as	últimas;	aperfeiçoa	a	burocracia	palaciana,	mas	ao	
mesmo	tempo	procura	 tornar	cada	vez	mais	articulada	e	estável	
a	 burocracia	 subalterna;	 mostra-se	 respeitoso	 em	 relação	 à	 an-
tiga	Roma,	mas	ao	mesmo	tempo	funda	uma	nova,	em	Bizâncio,	
dando-lhe	seu	próprio	nome	(Constantinopla,	11	de	maio	de	330);	
renuncia	à	defesa	do	poder	de	compra	das	classes	inferiores,	mas	
ao	mesmo	tempo	procura	garantir	a	solidariedade	dos	segmentos	
mais	abastados,	favorecendo-os	com	a	monetização	áurea	(o	"soli-
dus");	respeita	o	velho	paganismo,	mas	ao	mesmo	tempo	favorece	
os	cristãos,	atéfazer-se	batizar,	no	leito	de	morte.
Esse	tipo	de	política	mostra-se	"revolucionário"	apenas	o	suficiente	
para	manter	o	'status	quo':	com	esse	critério,	que	se	deduz	de	todo	o	
comportamento	de	Constantino,	deve	ser	julgada	também	a	atitude	
religiosa	do	 imperador.	Constantino,	como	bom	militar,	 tinha	sido,	
na	juventude	(até	por	volta	de	306),	seguidor	da	religião	de	Mitra	e	
do	"Sol	invictus",	ou	seja,	do	enoteísmo	solar	introduzido	no	Império	
por	Aureliano,	de	306	a	310,	casando-se	com	Fausta,	filha	de	Maxi-
miano	Augusto,	passou	a	participar	da	família	imperial	"hercúlea"	e,	
portanto,	da	concepção	religiosa	que	estava	na	raiz	da	tetrarquia;	de	
310	a	312,	depois	da	ruptura	com	o	sogro	Maximiano,	voltou	ao	eno-
teísmo	solar,	a	partir	de	312,	quando	começa	a	luta	contra	Maxêncio,	
interessa-se	cada	vez	mais	pelo	cristianismo,	não	tanto	por	influência	
da	mãe,	a	cristã	Helena,	e	mais	por	uma	visão	política	e	religiosa	dos	
acontecimentos,	algo	que	lhe	era	congenial.
Nessas	 circunstâncias,	 em	312,	 antes	 do	 confronto	 decisivo	 com	
Maxêncio,	acontece	a	famosa	"visão"	da	cruz	e	das	palavras	"Com	
este	sinal	vencerás",	ou	um	mero	sonho,	ou	uma	simples	prece	de	
Constantino	ao	Deus	dos	 cristãos.	 Seja	 como	 for,	 trata-se	de	um	
começo	de	conversão.	De	fato,	Constatino,	ao	entrar	em	Roma	em	
outubro	de	312,	 logo	depois	da	vitória	contra	Maxêncio,	não	vai	
ao	Capitólio	para	oferecer	o	sacrifício	a	Júpiter;	recebe	a	homena-
gem	de	uma	estátua	erigida	na	Basílica	de	Maxêncio,	que	trazia	um	
"salutare	sgnum",	provavelmente	igual	àquele	que	mandou	colo-
car	nos	estandartes	e	nos	escudos	dos	soldados	(monograma	de	
Cristo?);	cruz	monogramática?,	sinal-da-cruz	propriamente	dito?);	
em	315,	recebe	homenagem	do	arco	do	triunfo,	perto	do	Coliseu	
(atual	arco	de	Constantino),	com	uma	inscrição	que	atribui	a	vitó-
ria	constantiniana	à	"	inspiração	da	divindade",	sem	precisar	qual	
(enoteísmo	solar,	monoteísmo	cristão?).
É	 só	o	começo	da	conversão	ao	Cristianismo,	além	 	do	mais	por	
razões	políticas,	que	se	manifestará	de	maneira	bastante	ambígua	
© História da Igreja Antiga e Medieval168
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
(mas	sempre	levando	em	conta	o	interesse	político)	nos	anos	se-
guintes,	concluindo-se	enfim,	como	já	acenamos,	com	o	batismo	
cristão,	recebido	no	leito	de	morte	das	mãos	de	Eusébio	de	Nico-
média,	bispo	da	corte	e	semi-ariano.	(PIERINI,		1986,	p.	127-129)
Após	 a	morte	 de	 Constantino,	 com	 seus	 filhos	 (Constâncio	
que	ficou	com	a	Ásia	e	Egito;	Constante,	que	ficou	com	Ilíria,	Itália	
e	África	e	Constantino,	que	 II	 ficou	com	a	Gália,	Península	 Ibérica	
e	Britânia)	e	com	seus	sucessores,	o	Cristianismo	continuou	tendo	
privilégios,	mas	foram	surgindo	e	se	fortalecendo	algumas	heresias	
(arianismo	com	suas	várias	facções	e	o	donatismo)	que	provocaram	
cismas	e	divisões,	assim	como	várias	intervenções	imperiais,	muitas	
delas	motivadas	mais	por	interesses	políticos	que	religiosos.	Neste	
mesmo	período,	o	paganismo	não	estava	exterminado	e	conseguiu	
importante	 reabilitação	 com	o	 poder	 imperial,	 quando	 Juliano,	 o	
Apóstata	(361-363),	sobrinho	de	Constantino,	chegou	ao	trono	im-
perial	e	com	sua	morte	chegou	ao	fim	a	dinastia	constantiniana
Após	um	período	de	grande	instabilidade	política,	chegou	ao	
trono	o	 Imperador	Teodósio	 (378-395).	Com	ele	as	restrições	ao	
paganismo	aumentaram	e	o	Cristianismo	foi	elevado	à	religião	ofi-
cial	do	Império	Romano.	Teodósio,	na	parte	ocidental,	mostrou-se	
ainda	mais	severo	com	os	pagãos	e	apóstatas:
1)	 declarou	que	 "é	 sua	vontade	que	 todos	os	povos	 sub-
metidos	a	seu	império	abracem	a	fé	que	a	Igreja	romana	
recebera	de	Pedro"	(380);
2)	 por	diferentes	leis,	tirou	dos	apóstatas	da	religião	cristã	
o	direito	de	chefia;
3)	 proibiu	os	sacrifícios	pagãos	(381-383);
4)	 instituiu	lei	pela	qual	se	ordenava	o	fechamento	de	to-
dos	 os	 templos	 pagãos,	 que	 deveriam	 ser	 convertidos	
em	templos	cristãos	(386);
5)	 o	auge	de	sua	legislação	antipagã	foi	alcançado	com	uma	
lei	pela	qual	se	considera	como	"crime	de	lesa-majesta-
de"	os	cultos	pagãos.	O	Édito	de	liberdade	religiosa	de	
Milão	de	313	ficava,	assim,	anulado,	 indo	contra	o	pa-
ganismo.	 O	 Cristianismo	 permaneceria	 como	 "religião	
oficial	do	Império	Romano"	(392).
169© Perseguições Romanas, Oficialização do Cristianismo e Aliança com o Estado Romano
Pierini	 assim	 descreve	 a	 chegada	 de	 Teodósio	 ao	 poder	 e	
seus	primeiros	atos:
[...]	morto	Valente,	no	dia	9	de	agosto	de	378,	em	Adrianópolis,	
quando	tentava	conter	a	invasão	gótica,	e	tendo-lhe	sucedido	no	
Império	do	Oriente	Teodósio,	este	e	Graciano	publicaram	em	Tes-
salônica,	no	dia	27	de	fevereiro	de	380,	o	edito	Cunctos	populos,	
com	o	pqual	prescrevem	a	todos	os	súditos	do	Império	romano	a	
religião	"transmitida	pelo	apóstolo	Pedro	aos	romanos"	e	agora	en-
sinada	pelo	bispo	de	Roma,	Damaso,	e	pelo	de	Alexandria,	Pedro.	
Em	391,	enfim,	é	proibido	completamente	o	culto	pagão,	sob	todas	
as	formas.
A	união	da	causa	imperial	com	a	cristã	caminha,	pois,	para	se	tornar	
integral:	isso,	no	entanto,	não	consegue	afasar	a	ameaça	que	pesa	
sobre	o	Império,	inclusive	porque,	dado	que	os	seculares	inimigos	
persas,	no	Oriente,	ressuscitaram	o	zoroatrismo	para	opor-se	me-
lhor	às	religiões	do	Império	romano,	assim	os	bárbaros	ou	são	pa-
gãos	ou	são	cristãos	de	confissão	ariana,	pregada	a	eles	pelo	bispo	
godo	Ulfila,	entre	os	anos	341	e	383.
A	divisão	religiosa,	porém,	não	é	a	única	nem	a	mais	importante:	a	
causa	imperial,	pelo	menos	no	Ocidente,	está	definitivamente	arrui-
nada,	porque	as	inflitrações	e	as	invasões	bárbaras,	cada	vez	mais	
freqüentes,	recebem	apoio	dos	escravos	fugitivos,	dos	colonos	que	
não	suportavam	os	laços	com	a	terra,	dos	artesãos	proletarizados	e	
de	todos	os	outros	segmentos	que	haviam	encontrado	um	momen-
to	de	fusão	logo	após	a	batalha	de	Adrianópolis,	quando	os	godos	
vitoriosos	saqueiam	a	Trácia,	e	se	reencontram	quando	os	godos	de	
Alarico,	subindo	a	Ilíria	e	descendo	pela	Itália,	chegam	às	portas	de	
Roma.	(1986,	p.	131-132).
Teodósio	 morreu	 em	 395.	 O	 império	 dividiu-se	 definitiva-
mente	em	duas	partes	entre	os	filhos	de	Teodósio,	o	Grande:	Arcá-
dio	(395-408),	no	Oriente;	Honório	(395-423),	no	Ocidente,	que	le-
vou	a	capital	para	a	cidade	de	Ravenna,	deixando	Roma	nas	mãos	
dos	bárbaros	em	410,	o	que	fez	com	que	crescesse	a	desagregação	
do	Império	Romano	no	Ocidente	até	sua	queda	em	mãos	dos	bár-
baros,	em	476.	
No	 fim	do	século	4º,	com	o	 Imperador	Teodósio,	a	aliança	
com	o	Império	Romano	aumentou,	e	o	Cristianismo	passou	a	ser	
a	religião	oficial	do	Estado.	Dessa	maneira,	ele	passou	a	ter	mais	
privilégios	e	a	 correr	o	 risco	do	 cesaropapismo,	ou	 seja,	 a	 influ-
© História da Igreja Antiga e Medieval170
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ência	do	poder	temporal	nos	assuntos	eclesiásticos.	Cessando	as	
perseguições	e	com	os	privilégios	conseguidos,	para	muitos	o	Cris-
tianismo	tornou-se	uma	religião	fácil	e	de	busca	de	interesses	com	
um	consequente	descuido.	As	grandes	massas	chegaram	à	Igreja	e	
à	obra	missionária	intensamente,	mas	muitos	neoconvertidos	es-
tavam	marcados	pela	superstição	e	pelos	cultos	pagãos,	interessa-
dos,	apenas,	em	pertencer	à	religião	oficial	do	Estado.	
Assim,	concomitante	ao	crescimento	do	Cristianismo,	conso-
lidaram-se	as	heresias	Trinitárias	(Arianismo	e	Subordinacionismo),	
Cristológicas	(Apolinarismo,	Nestorianismo,	Docetismo,	Monofisis-
mo	e	Monotelismo)	e	Soteriológicas	(Donatismo	e	Pelagianismo),	
que	provocaram	grandes	cismas.	Nesse	contexto	de	expansão	do	
Cristianismo,	a	necessidade	de	uma	maior	organização	pastoral	e	
o	combate	às	heresias	geraram	a	necessidade	de	se	convocar	os	
primeiros	concílios	ecumênicos:	
1)	 Concílio	de	Niceia	(325).	
2)	 três	em	Constantinopla	(381,	553	e	681).	
3)	 Éfeso	(431).		
4)	 Calcedônia	(451).
Desse	modo,	este	período	foi	marcado	pela	organização	das	ati-
vidades	missionárias,	pelo	surgimento	do	monacato	e	o	trabalho	mis-
sionário	ingente	de	centenas	de	monges	em	váriaspartes	do	império; 
pelas	invasões	bárbaras,	pela	queda	do	Império	Romano	do	Ocidente	
no	ano	476	e	a	consequente	ascensão	do	Cristianismo	como	liderança	
da	Europa	continental.	Outro	acontecimento	marcante	deste	período	
foi	o	surgimento	do	Islamismo,	com	Maomé,	em	622,	o	que	provocou	
grande	instabilidade	na	parte	oriental	do	Império	em	áreas	que	eram	
predominantemente	dominadas	pelo	Cristianismo.	
Nesse	contexto	de	tantas	mudanças,	a	obra	de	organização	
eclesial	e	de	sistematização	da	ortodoxia	cristã	foi	grande	a	tarefa	
exigida	às	lideranças	cristãs,	especialmente,	aos	Padres	da	Igreja,	
que	fomentaram	a	ciência	eclesiástica	a	partir	do	século	4º.	As	di-
ferentes	ciências	teológicas	adquiriram	sua	expressão	própria.	As	
171© Perseguições Romanas, Oficialização do Cristianismo e Aliança com o Estado Romano
escolas	teológico-catequéticas	de	Alexandria,	de	Antioquia,	de	Ce-
sareia,	de	Roma	e	de	Constantinopla	se	consolidaram.	
Na	 segunda	metade	 do	 século	 5º,	 começou	 a	 decadência	
da	ciência	eclesiástica.	Não	por	que	faltassem	escritores,	mas	por	
não	haver	entre	eles,	com	exceção	de	Gregório	Magno	(+604)	no	
Ocidente	e	de	São	João	Damasceno	(+749)	no	Oriente,	nenhuma	
estrela	de	grande	magnitude.	Na	verdade,	as	circunstâncias	exte-
riores	 não	 permitiam	 entrega	 absoluta	 às	 ciências	 eclesiásticas;	
os	 transtornos	 econômicos	 e	 sociais,	 produzidos	 pelas	 invasões	
bárbaras,	paralisaram	o	florescimento	teológico	e	literário	da	épo-
ca	anterior.	Nesse	contexto,	a	antiguidade	foi	cedendo	espaço	ao	
mundo	medieval,	com	todas	as	suas	novas	características.
O	 estudioso	 de	 Patrologia,	 Hamman,	 contextualiza	 as	mu-
danças	ocorridas	no	 século	4º	e	o	 contexto	eclesial	e	 social	dos	
Santos	Padres	dos	séculos	4º	e	5º,	deste	modo:
As	 coisas	mudaram	 com	a	 ascensão	progressiva	 de	Constantino,	
que	 se	 tornou	 finalmente	o	único	 senhor	do	 Império.	Depois	de	
dois	séculos	de	perseguição,	a	Igreja	foi	legalizada,	passando	logo	
depois	a	ser	religião	do	Estado.	O	imperador,	preocupado	em	res-
tabelecer	a	unidade	e	a	força	sobre	bases	novas,	percebeu	o	bom	
aliado	que	o	cristianismo	poderia	 tornar-se	para	ele.	A	mudança	
era	inaudita,	a	ponto	de	os	contemporâneos	acreditarem	estar	as-
sistindo	à	realização	do	reino	de	Deus	na	terra.	
A	realidade,	porém,	ia	ser	bem	outra.	A	Igreja,	libertada	da	opres-
são,	conheceria	uma	provação	mais	terrível	talvez	do	que	a	hostili-
dade:	a	proteção	facilmente	onerosa	do	Estado.	As	grandes	perso-
nalidades	da	Igreja	não	tardarão	a	perceber	a	ameaça	e	a	opor-se	
aos	sucessores	de	Constantino.	Para	avaliar	isto,	basta	lembrar-se	
de	que	o	imperador,	-	e	não	o	Papa	-		foi	quem	tomou	a	iniciativa	de	
convocar	o	concílio	ecumênico	de	Nicéia,	o	qual	se	realizou	no	seu	
palácio.	O	príncipe	em	pessoa	fez	o	discurso	de	abertura	(mais	ou	
menos	como	se	John	Kennedy	ou	Charles	de	Gaulle	tivesse	aberto	
o	concílio	Vaticano	II).	O	imperador	nem	era	batizado.
A	intromissão	política	do	governo	da	Igreja	ameaçará	gravemente	
a	ortodoxia.	Os	imperadores	estão	à	mercê	dos	bispos	cortesãos.	
Metem-se	 a	 legislar	 em	 teologia	 como	 legislam	 em	 política.	 Os	
bispos,	como	Atanásio	e	Hilário,	acham-se	à	altura	dos	aconteci-
mentos.	Nem	a	intriga	nem	o	exílio	porão	fim	à	sua	resistência.	O	
Império	é	que	é	obrigado	a	ceder.
© História da Igreja Antiga e Medieval172
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Ao	longo	deste	quarto	século,	os	grandes	doutores	terão	de	lutar	
contra	as	seqüelas	da	heresia	e	consertar	as	brechas	que	ela	pro-
vocou	na	Igreja.	Os	três	capadócios	ocupam	a	maior	parte	do	seu	
tempo	e	de	seus	estudos	para	refutar	o	erro.	Quando	Gregório	de	
Nazianzo	foi	feito	bispo	de	Constantinopla,	a	Igreja	ortodoxa	com-
preendia	apenas	um	punhado	de	homens.	Graças	a	o	esforço	dos	
Padres,	a	ortodoxia	e	a	unidade	hão	de	ter	a	última	palavra.
A	segunda	metade	do	século	vê	 florescer	o	que	os	historiadores	
chamaram	de	idade	e	ouro	dos	Padres	da	Igreja.	Os	maiores	nomes	
da	antiguidade	cristã,	pastores	e	teólogos,	tanto	do	Oriente	como	
do	Ocidente,	situam-se	nesta	época	de	intensa	fermentação	inte-
lectual.	Formaram-se	nas	escolas	da	cultura	pagã.	Esta	é	colocada	
por	eles	a	serviço	do	Evangelho.
´Os	Padres	do	século	IV	e	o	início	do	século	V	representam	um	mo-
mento	de	equilíbrio	particularmente	precioso	entre	uma	herança	
antiga,	ainda	bem	pouco	atingida	pela	decadência	e	perfeitamente	
assimilada,	e,	por	outro	lado,	uma	inspiração	cristã	que	já	chegou	à	
maturidade´,	escreve	H.	Marrou.
A	maioria	 deles	 só	 recebeu	 o	 batismo	 na	 idade	 adulta,	 embora	
oriundos	de	 famílias	profundamente	cristãs.	Depois	dos	estudos,	
exerceram	uma	profissão	profana.	Todos	os	padres	gregos	fizeram	
uma	espécie	de	noviciado	com	os	Padres	do	deserto,	e	depois	in-
gressaram	 no	 grupo	 deles.	 Eram	 eles	 os	 candidatos	 designados	
para	os	cargos;	primeiro	padres,	em	seguida	bispos.	É	uma	era	de	
grandes	bispos	para	a	Igreja.
O	ensino	cristão	é	ministrado	através	da	catequese	e	da	pregação.	
Trata-se	de	esclarecer	o	espírito	e	de	formar	os	costumes.	Os	Padres,	
intelectualmente	formados	pelas	escolas	de	seu	tempo,	tomam	po-
sição	nas	controvérsias	teológicas.	Servem	à	fé	com	os	recursos	da	
cultura	filosófica.	Longe	de	limitar	sua	ação	à	elite,	permanecem	jun-
to	de	seu	povo,	da	multidão	dos	pobres	e	humildes.	Jamais	pactuam	
com	os	poderosos	e	ricos,	mas	recordam-lhes	os	grandes	temas	da	
justiça	e	do	respeito	ao	homem,	e	estabelecem	os	fundamentos	de	
uma	ordem	social	cristã.	Os	Padres	enriquecem	a	Igreja	com	todos	os	
recursos	do	patrimônio	grego.	Sua	atuação	e	suas	obras	abrem	uma	
nova	era	e	lançam	as	bases	da	civilização	cristã	(1980,	p.105-106).	
Assim,	 concluindo	 este	 período,	 podemos	 salientar	 alguns	
aspectos	principais:
O	Cristianismo	nasceu	e	desenvolveu-se	dentro	da	estrutura	
do	antigo	Império	Romano.	Já	vimos	o	tema	das	perseguições	nos	
primeiros	séculos,	época	muito	difícil	para	os	cristãos,	mas	que,	ao	
173© Perseguições Romanas, Oficialização do Cristianismo e Aliança com o Estado Romano
mesmo	tempo,	provocou	um	amor	radical	a	Cristo	e	uma	adesão	e	
fidelidade	inquebrantáveis	à	Igreja.
Com	o	Edito	de	Tolerância,	em	311,	os	cristãos	passaram	a	ser	
aceitos,	mas	a	emancipação	completa	ocorreu	com	a	assinatura	do	Edi-
to	de	Milão,	em	313.	Desse	documento	imperial,	assinado	pelos	Impe-
radores	Constantino	e	Licí	nio,	o	Cristianismo	passou	a	ser	uma	"religião	
lícita".	Mais	tarde,	com	o	Imperador	Teodósio,	no	final	do	século	4º,	
tornou-se	a	religião	oficial	do	Império	Romano,	e	os	cultos	e	as	religiões	
pagãs	deixaram	de	ser	reconhecidos	e	tolerados	em	todo	o	Império	Ro-
mano.	Esse	fato	provocou	grande	mudança	na	estrutura	eclesial	cristã.
No	século	4º,	os	cristãos	representavam	uns	12%	da	popu-
lação	imperial,	ou	seja,	em	torno	de	5	a	7	milhões.	No	final	do	sé-
culo,	quase	toda	a	população	imperial	estava	batizada,	quase	que	
obrigatoriamente,	pois	muitos	se	convertiam	ao	Cristianismo	por	
interesse	ou	em	busca	de	status	e	poder	social.	
Como	afirmam	muitos	Santos	Padres	deste	período,	a	Igreja	
"cresceu	em	número,	mas	diminuiu	em	santidade".	
Com	essa	mudança,	a	Igreja	teve	de	se	organizar:
1)	 grandes	igrejas	foram	cons	truí	das;
2)	 liturgia	tornou-se	muito	mais	rica,	surgiram	novos	ritos	e	
a	espiritualidade	cristã	foi	cada	vez	mais	conhecida;
3)	 iniciaram-se	 os	 grandes	 concílios	 ecumênicos	 (Nice	ia,	
Cons	tantinopla,	Éfeso,	Calcedônia),	convocados	para	re-
solver	problemas	ligados	à	organização	e	vida	eclesial	e,	
principalmente,	 para	 solucionar	 o	 grave	 problema	 das	
heresias	que	dividiram	a	Igreja	e	a	vida	imperial;
4)	 a	reflexão	teológica	desenvolveu-se,	fortalecendo	o	dog-
ma	e	sua	sistematização;
5)	 cresceu	 a	 atividade	missio	nária,	 principalmente	diante	
da	possibilidade	de	se	evangelizar	os	povos	bárbaros;
6)	 a	estrutura	social	e	a	política	romana	foram	absorvendo	os	
valores	da	ética	cristã,	fazendo	com	que	os	valores	do	Evan-
gelho	fossem	assumidos	por	toda	a	população	imperial.
© História da

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