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Historia da Igreja Antiga e Medieval 6

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EA
DO Auge e a Crise da 
Cristandade A Inquisição 
A Transição Entre 
a Idade Média e a 
Idade Moderna 6
1. OBJETIVOS
•	 Compreender	a	transição	entre	Idade	Média	e	Idade	Mo-
derna.	
•	 Conhecer	a	ciência	escolástica	e	a	mística	medieval.	
•	 Analisar	a	crise	da	Cristandade	e	os	movimentos	pré-lute-
ranos.
•	 Conhecer	as	heresias	medievais	(cátaros,	valdenses,	apo-
calípticos).	
•	 Identificar	os	movimentos	de	renovação	eclesial	(mendi-
cantes).
•	 Interpretar	a	Inquisição.
•	 Conhecer	 a	 transição	 da	 Igreja	Medieval	 para	 a	 Igreja	
Moderna.
© História da Igreja Antiga e Medieval228
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
2. CONTEÚDOS
•	 Auge	e	crise	da	Cristandade	(investiduras).
•	 Heresias	medievais	(cátaros,	valdenses,	apocalípticos).	
•	 Movimentos	de	renovação	eclesial	(mendicantes).
•	 Inquisição.
•	 Transição	entre	Idade	Média	e	Idade	Moderna.	
•	 Ciência	escolástica	e	a	mística	medieval.	
•	 Crise	da	Cristandade	e	os	movimentos	pré-luteranos.	
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE
Antes	de	 iniciar	o	estudo	desta	unidade,	é	 importante	que	
você	leia	as	orientações	a	seguir:
1)	 Um	estudo	organizado	com	sentido	é	 facilmente	 com-
preendido	 e	 interiorizado.	 Para	 que	 isso	 ocorra,	 você	
precisa	se	dedicar	a	descobrir	os	princípios	e	as	leis	que	
ligam	as	várias	partes	do	conteúdo	a	ser	estudado	nesta	
unidade.	Lembre-se	de	que	esta	visão	global	facilitará	o	
entendimento	dos	detalhes	e	da	aplicação	prática	do	as-
sunto	aqui	tratado.
2)	 Sabemos	que	pesquisar	e	estudar	são	hábitos	que	preci-
sam	ser	criados.	Assim	como	qualquer	outra	habilidade,	
no	início,	ler	e	estudar	precisam	ser	atividades	realizadas	
com	dedicação	e	esforço,	até	que	se	adquira	gosto	e	se	
torne	uma	tarefa	cotidiana	comum.	Pesquise!
3)	 Suas	 reflexões	 podem	 ser	 úteis	 na	 elaboração	 de	 sua	
monografia	ou	de	futuras	produções	científicas.	Assim,	
anote-as	no	Bloco	de	anotações	disponibilizado	na	Sala	
de	Aula	Virtual	ou	mesmo	no	CD-ROM.	Aproveite	esta	
oportunidade	para	amadurecer	sua	aprendizagem	sobre	
os	conteúdos	estudados	e	confrontá-los	com	sua	expe-
riência.
229© O Auge e a Crise da Cristandade A Inquisição A Transição Entre a Idade Média e a Idade Moderna
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
A	unidade	anterior	abordou	o	tema	da	Cristandade	medieval,	
o	Cisma	do	Oriente,	o	Islamismo	e	as	Cruzadas.	Agora,	na	Unidade	
6,	última	unidade	da	disciplina	História da Igreja Antiga e Medie-
val,	você	terá	a	oportunidade	de	estudar	conceitos	relacionados	
ao	auge	e	à	crise	da	Cristandade	medieval,	às	heresias	medievais	e	
aos	movimentos	de	renovação	eclesial,	à	Inquisição	e	à	transição	
entre	Idade	Média	e	Idade	Moderna,	destacando	a	ciência	esco-
lástica,	a	mística	medieval,	a	crise	da	Cristandade	e	os	movimentos	
pré-luteranos.	
Vamos	lá?
5. O AUGE E A CRISE DA CRISTANDADE (AS INVESTI-
DURAS)
Apogeu do poder eclesial (as reformas monásticas e 
eclesiásticas)
Já	vimos	nas	unidades	anteriores	que	a	partir	dos	papas	da	
segunda	metade	do	século	11,	com	destaque	para	a	reforma	de	
Gregório	VII	(1073-1085),	a	Igreja	foi	se	fortalecendo	e,	com	refor-
mas	eclesiais	e	monásticas,	foi	superando	seus	principais	proble-
mas	internos	e	externos,	até	chegar	no	período	do	auge	do	papado	
com	Inocêncio	III	(1198-1216),	período	da	hierocracia,	eclesiocra-
cia	ou	eclesiocentrismo.
Os	aspectos	mais	marcantes	da	reforma	eclesial	foram:	
•	 inves	tidura	leiga:	leigos	ocupando	cargos	e	funções	ecle-
siásticos;
•	 simonia:	 compra	 e	 venda	 de	 sacramentos	 e	 benefícios	
eclesiásticos;
•	 nico	laísmo:	a	questão	do	celibato	clerical.	
© História da Igreja Antiga e Medieval230
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
Com	a	superação	desses	problemas,	a	 Igreja	direcionou-se	
para	 uma	 forte	 estru	turação	 e	 domínio	 temporal	 da	 sociedade,	
fundamentando-se	no	sistema	de	Cristandade,	com	a	expansão	do	
pensamento	da	superioridade	absoluta	de	religião	cristã	sobre	to-
dos	aqueles	que	não	seguiam	os	seus	ensinamentos	e	eram	infiéis.	
Na	Cristandade,	a	Igreja	ocupava	o	centro	de	toda	a	vida	social,	re-
ligiosa,	econômica	e,	principalmente,	política	da	Europa	ocidental	
e,	a	partir	do	fim	do	século	15,	com	a	expansão	ibérica,	chegou	na	
América,	África	e	em	algumas	regiões	da	Ásia!
A	 Cristandade	 expandiu-se	 graças,	 em	 grande	 parte,	 à	 ex-
pansão	e	ao	trabalho	das	ordens	monásticas.	
Vamos	conhecer	um	pouco	mais	sobre	elas!
Reformas monásticas
Como	 já	vimos,	na	 segunda	 fase	da	 Idade	Antiga	da	 Igreja	
(séculos	 4º	 ao	 7º),	 surgiram	 várias	Ordens	 Religiosas	 no	 Cristia-
nismo.	Elas	 se	desenvolveram	a	partir	do	Oriente,	e	dali,	 poste-
riormente,	se	expandiram	para	o	Ocidente	cristão.	Como	muitas	
instituições	sociais	ou	religiosas,	já	na	Idade	Média,	várias	dessas	
Ordens	desapareceram.
Em	contrapartida,	 outras,	 especialmente	 a	Ordem	Benedi-
tina,	desenvolveram-se	muito,	trazendo	uma	grande	contribuição	
para	 a	 Igreja	 e	 ajudando	 no	 forta	lecimento	 do	 sistema	 de	 Cris-
tandade.	A	Ordem	Beneditina	teve	um	grande	destaque	em	todo	
este	processo.		Em	529,	São	Bento	de	Núrsia	fundou,	na	Itália,	o	
mosteiro	de	Monte	Cassino.
Na	Europa,	aconteceu	uma	grande	expansão	de	mosteiros	e	
a	regra	beneditina,	muito	precisa	e	fundamentada	no	ora et labo-
ra	(oração	e	trabalho),	foi,	aos	poucos,	impondo-se	sobre	as	outras	
regras	do	Ocidente.	No	início	do	século	8º,	com	o	apoio	dos	impe-
radores	em	seus	projetos	de	reforma	eclesial,	ela	foi	imposta	a	todo	
o	Ocidente	e	os	mosteiros	foram	fundados	em	todos	os	países,	nos	
231© O Auge e a Crise da Cristandade A Inquisição A Transição Entre a Idade Média e a Idade Moderna
locais	mais	inóspitos	e	distantes,	levando	progresso	e	novidades	re-
ligiosas,	agrícolas	e	culturais	para	várias	regiões	europeias.
Entretanto,	 em	 muitos	 mo	mentos,	 os	 próprios	 mosteiros	
precisavam	ser	 reformados,	pois,	 com	seu	crescimento	e	expan-
são,	tornaram-se	fontes	de	riquezas	e	passaram	a	ter	um	poder,	
tanto	eclesial	como	político,	muito	grande.
Além	disso,	era	grande	a	intromissão	dos	nobres	e,	nesta	si-
tuação,	decaiu	muito	a	vida	dos	monges,	o	que	provocou	a	neces-
sidade	de	reformas.	
Assim,	des	tacaram-se	as	reformas:
•	 de	Bento	de	Aniane,	no	início	do	século	9º;
•	 Lorenense,	no	século	10º;
•	 de	Cluny,	a	maior	reforma	mo	nástica,	na	França.	
Informação ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A reforma mo nástica de Cluny, na França, foi iniciada por um nobre, Guilherme, o 
Pio, de Aquitânia e São Berno, um grande reformador, e expandiu-se pela Fran-
ça, Itália, Es panha, Inglaterra, Portugal, Alemanha etc. No seu apogeu, foram 
mais de 1.500 mosteiros dependentes.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Nesse	mesmo	período,	novas	ordens	surgiram:
1)	 Em	950,	São	Nilo	fundou	o	mosteiro	na	Calábria	e,	de-
pois,	assumiu	a	abadia	de	Grottaferrata,	em	Roma.
2)	 Camaldolenses	de	São	Romualdo,	fundados	em	982,	na	
Itália.
3)	 Valombrosa	de	São	João	Gual	berto.
4)	 Congregação	da	Cava	etc.
Houve,	também,	as	reformas	do	clero	secular,	a	partir	do	sé-
culo	11,	que	iniciaram,	em	muitas	regiões,	um	tipo	de	"vida	comum"	
ou	"vida	canônica".	
Desse	 modo,	 com	 a	 Reforma	 Gre	goriana	 (1073	-1085),	 foi	
fortalecida	a	autoridade	papal	e	a	 tentativa	de	 se	acabar	 com	a	
intromissão	leiga	dos	nobres	e	príncipes	nos	assuntos	da	Igreja.	
© História da Igreja Antiga e Medieval232
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
Contemporaneamente	ao	apo	geu	da	Igreja,	surgiram	vários	
movimentos	 contra	 seu	 poder	 temporal,	 os	 quais	 exigiam	 uma	
Igreja	mais	evangélica,	pobre,	austera,	atenta	aos	mais	humildes	e	
desligadas	de	toda	espécie	de	po	der	e	domínio	deste	mundo.	
Apogeu do Papado com Inocêncio III
Inocêncio III (1198-1216) foi um dos maiores papas de toda a história 
da Igreja.
Como	já	vimos	na	Unidade	anterior,	as	reformas	eclesiásticas	
tiveram	seu	auge	nos	séculos	12	e	13,	quando	o	Papado	tornou-se	
a	maior	força	política	do	Ocidente.	Assim,	após	a	morte	do	Papa	
Gregório	VII,	em	1085,	seguiu-se	uma	fase	de	muita	instabilidade:	
•	 os	imperadoresalemães	e,	depois	os	franceses,	queriam	
dominar	a	Igreja,	os	papas	e	os	territórios	pontifícios;
•	 a	nobreza	romana	queria	a	cidade	de	Roma	livre	de	toda	
a	interferência	dos	imperadores	alemães	e	lutou	contra	a	
presença	deles	na	cidade	e,	também,	não	queriam	que	o	
papa	fosse	o	'senhor	da	cidade';	
•	 da	mesma	forma,	os	papas	tentavam	conquistar	seu	es-
paço,	defendendo	os	territórios	pontifícios	e	se	impondo	
em	Roma.
Vamos	rever	algumas	das	conquistas	de	Inocêncio	III?
1)	 restituiu	 ao	 papado	 o	 poder	 absoluto	 sobre	 o	 Estado	
Pontifício;	
2)	 retomou	os	"direitos	feudais"	sobre	várias	regiões;	
3)	 promoveu	a	reforma	da	corte	pontifícia;
4)	 lutou	contra	vários	movimentos	heréticos	que	es	tavam	
aflorando	na	Igreja;	
5)	 apoiou	vários	movimentos	de	reforma	nas	ordens	 reli-
giosas	e	a	fundação	dos	franciscanos	e	dominicanos.
233© O Auge e a Crise da Cristandade A Inquisição A Transição Entre a Idade Média e a Idade Moderna
Durante	seu	pontificado,	influ	en	ciou	e	controlou	a	vida	polí-
tica	ocidental	na:
1)	 Alemanha.	 	
2)	 França.	 	
3)	 Inglaterra.
4)	 Espanha.	 	
5)	 Portugal.	
6)	 Boêmia.
7)	 Hun	gria.	 	
8)	 Dinamarca.	
9)	 Islân	dia.
10)	Bulgária.	 	
11)	Armênia.	
12)	Constan	tinopla,	quan	do	os		cru	zados	tomaram	a	cidade,	
instau	rando	ali	um	império	latino.	
O	seu	pontificado	foi	uma	grande	obra	de	fortalecimento	do	
poder	eclesial.	
Informação ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O ponto culminante dessa obra foi o IV Concílio de Latrão, em 1215, que promul-
gou pela primeira vez a doutrina da transubstanciação (no ato da consagração, o 
pão e o vinho da comunhão se transformam substancialmente no corpo e sangue 
de Cristo).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
		Além	disso,	vale	destacar	os	seguintes	acontecimentos:
1)	 Foram	con	denados	os	val	denses,	os	albigenses	e	as	dou-
trinas	de	Joaquim	de	Fiore.	
2)	 Foi	decretada	a	Inquisição	epis	copal,	que	ordenava	a	cada	
bispo	in	vestigar	as	heresias	de	sua	diocese	e	extirpá-las.
3)	 Foi	proibido	fundar	ordens	religiosas	com	novas	regras	
monásticas.	
4)	 Ordenou-se	 que	 fossem	 criadas	 escolas	 nas	 catedrais	
para	a	educação	dos	pobres.	
5)	 Foi	proibido	que	os	clérigos	participassem	de	teatro,	de	
jogos,	de	caça	e	de	outros	passatempos	semelhantes.
© História da Igreja Antiga e Medieval234
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
6)	 Foi	requerida	a	confissão	de	pecados	por	parte	de	todos	
os	fiéis,	pelo	menos	uma	vez	por	ano.	
7)	 Foi	proi	bida	a	 introdução	de	novas	relíquias	sem	apro-
vação	papal.	
8)	 Ficou	estabelecido	que	os	judeus	e	muçulmanos	deveriam	
usar	roupas	especiais,	para	se	distin	guirem	dos	cristãos.	
9)	 Os	sacerdotes	ficaram	impedidos	de	cobrar	pela	admi-
nistração	dos	sacra	mentos.	
Desse	modo,	muitas	outras	medidas	seme	lhantes	foram	to-
madas.	
Se	levarmos	em	conta	que	o	Concílio	fez	tudo	isso	em	três	
sessões	de	um	dia	cada,	fica	claro	que	quem	tomou	essas	medidas	
não	foi	a	Assembleia,	mas	Ino	cêncio	III,	que	uti	lizou	o	Concílio	para	
referendar	as	medidas	que	ele	decidira	fazer.	
Por	tudo	isso,	não	resta	dúvida	de	que,	com	Inocêncio	III,	o	
ideal	de	uma	Cristandade	unida	sob	um	só	pastor	aproximou-se	
da	 sua	 realização.	Não	nos	 surpreende,	 então,	 o	 que	esse	papa	
chegou	a	dizer	(e	muito	dos	seus	contemporâneos	creram),	que	o	
papa	"está	entre	Deus	e	o	ser	humano;	abaixo	do	primeiro	e	acima	
do	segundo.	Menos	que	Deus,	e	mais	que	o	homem.	Julga	a	todos,	
mas	ninguém	o	julga"	(GONZALEZ,	1978,	p.	184-185).
O	pontificado	de	Inocêncio	III	marcou,	na	Igreja,	o	período	
da	supremacia	do	poder	espiritual	sobre	o	temporal.	Essa	fase	é	
confirmada	no	seguinte	discurso:	
[...]	 assim	 como	 Deus,	 o	 Criador	 do	 universo,	 estabeleceu	 dois	
grandes	luminares	no	firmamento,	o	maior	para	presidir	o	dia	e	o	
menor	para	presidir	sobre	a	noite;	assim	ele	também	estabeleceu	
dois	lumi	nares	no	firmamento	da	Igreja	universal	[...].		O	maior	para	
que	presida	sobre	as	almas,	como	dias,	e	o	menor	para	que	presida	
sobre	os	corpos,	como	noites.	Estes	são	a	autoridade	pontifícia	e	
o	poder	real.	Por	outro	lado,	assim	como	a	lua	recebe	a	luz	do	sol	
[...].	Assim	o	poder	real	recebe	da	autoridade	pontifícia	o	brilho	da	
sua	dignidade.	
Os	sucessores	de	Inocêncio	III	continuaram	a	sua	obra,	tanto	
na	relação	política	com	os	impera	dores	como	nos	assuntos	eclesi-
235© O Auge e a Crise da Cristandade A Inquisição A Transição Entre a Idade Média e a Idade Moderna
ásticos.	As	relações	da	Igreja	com	a	monarquia	alemã	foram	se	en-
fraquecendo	e,	simultanea	mente,	fortaleceu-se	a	aliança	da	Igreja	
com	a	monarquia	francesa,	de	modo	especial	com	o	rei	São	Luís	IX	
(1226	-1270).	
Desse	modo,	o	sinal	do	estrei	tamento	da	relação	e	depen-
dência	da	Igreja	com	a	França	se	deu	com	a	convocação	do	Con-
cílio	Ecu	mênico	de	Lyon,	em	1274,	para	fortalecer	a	reforma	ecle-
siástica,	buscar	ajuda	para	a	Terra	Santa	e	para	se	tentar	a	união	
com	a	Igreja	Grega,	que	estava	separada	da	Igreja	ocidental	desde	
o	Cisma	do	Oriente	de	1054.	
Vale	ressaltar	que	com	o	Papa	Bonifácio	VIII	(1294-1303)	foi	
iniciada	 a	 fase	de	decadência	do	poder	 temporal	 dos	papas	em	
função	do	enfraque	cimento	da	Igreja.	
As	 nações	 europeias	 buscavam	 o	 forta	lecimento	 da	 auto-
nomia,	mais	preocupadas	com	os	seus	assuntos	 internos,	com	o	
forta	lecimento	das	novas	classes	burguesas	em	detrimento	da	no-
breza	feudal,	com	o	surgimento	do	humanismo	e	da	sociedade	e	
das	culturas	modernas.	Isto	também	fez	com	que	elas	se	envolves-
sem	menos	com	questões	externas	e	eclesiásticas.
Assim,	Bonifácio	VIII	não	conseguiu	dialogar	 com	as	novas	
realidades	que	surgiam	e	nem	com	o	poder	político	estabe	lecido	e	
acabou	ficando	sozinho.
A	Idade	Moderna	começava	e	a	Igreja	permanecia	à	parte,	
ten	tando	manter	as	estruturas	medievais,	antiquadas	para	a	nova	
realidade	emergente.	
Infe	liz		mente,	 a	 atitude	de	 fechamento	da	 Igreja	durou	até	
o	século	20.	O	fruto	desse	fechamento	foi	a	inse	gurança,	o	refor-
ço	das	 de	cisões	 e	 atitudes	 intransigentes	 e,	 conse	quen	temente,	
a	perda	da	capaci	dade	de	diálogo,	de	com	preensão,	de	discerni-
mento	e	de	abertura	para	o	novo.	
© História da Igreja Antiga e Medieval236
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
6. HERESIAS MEDIEVAIS (CÁTAROS, VALDENSES, 
APOCALÍPTICOS)
Heresias medievais 
A	formação	da	ortodoxia	cristã	teve	o	seu	auge	entre	os	sé-
culos	4º	e	7º,	época	dos	grandes	concílios	ecumênicos.	Com	o	Con-
cílio	Ecumênico	de	Constantinopla	(680		-681),	terminou	a	fase	das	
dis	cussões	antigas	sobre	a	dou	trina	da	Igreja.	
Na	primeira	fase	da	Ida	de	Média	(692-1073),	em	função	das		
várias	mudanças	sociais	e	eclesiais,	especialmente	a	questão	das	
instabilidades	ocorridas	pelas	 invasões	bárbaras	e	expansão	mu-
çulmana,	o	ambiente	não	foi	muito	favorável	para	a	re	flexão	teo-
lógica.	
Dentre	as	mudanças	sociais	na	primeira	fase	da	Idade	Média,	
estão:	que	da	do	império,	invasões	dos	"bár	baros",	fortalecimento	
do	sistema	feudal,	expansão	muçulmana	etc.
Assim,	não	surgiram	heresias,	mas	sim	várias	discus	sões	te-
ológicas	sobre	a	dou	trina	cristã	que	não	saíram	do	am	biente	dos	
mos			teiros	e	es	colas	teológicas:		
1)	 questão	da	Iconoclastia		sobre	a	ve	neração	das	ima	gens	
sagradas,	iniciada	em	Cons	tantinopla	e	es	clarecida	no	II	
Con	cílio	de	Niceia,	em	787;
2)	 questão	do	Filioque,	es	sa		discussão	provocou	o	aumen-
to	das		diferenças	entre	as	Igrejas	la	tina	e	grega	e	persiste	
ainda	ho	je;
3)	 questão	do	Adocianismo	(Jesus	teria	sido	adotado	como	
Filho	 de	 Deus,	 desde	 o	 batismo),	 sur	gida	 na	 Espanha	
com	os	bispos	Elipando	de	Toledo	e	Félix	de	Urge	e	con-
denada	no	sínodo	romano	de	798;
4)	 controvérsia	 sobre	 a	 Pre	destinação,	 levantada	 pelo	
monge	Godescalco,	do	mosteiro	de	Fulda,	na	Alemanha	
e	condenada	em	vários	sínodos	alemães;
237© O Auge e a Crise da Cristandade A Inquisição A Transição Entre a Idade Média e a Idade Moderna
5)	 controvérsias	eucarís	ti	cas	que	não	se	referiam	à	pre	sen	-
ça	real	de	Cristo	na	Eucaristia,e	sim	ao	modo	dessa	pre-
sença	real,	tiveram	vários	re	pre	sentantes:	
•	 	Pascasio	Rad	berto.
•	 Ratra	mno	de	Cor	bie,	no	século	9º.
•	 Berengário	de	Tours,	no	século	11.
Filioque: doutrina segunda a qual o Espírito Santo procede do Pai 
e do Filho.
Eles	foram	con	de	nados	e	o	es	cla	re	ci	men	to	final	veio	no	IV	
Concílio	do	La	trão,	com	o	Papa	Inocêncio	III,	em	1215,	quando	foi	
apro	vada	a	dou	trina	da	"tran	substanciação".
Na	segunda	metade	da	Idade	Média	(1073-1303),	a	Igreja	viveu	
a	fase	do	"apogeu	do	Papado".	Uma	Igreja	forte,	rica	e	po	derosa,	que	
muitas	vezes	se	con	fundia	com	os	poderes	deste	mundo	e		estava	com-
prometida	com	a	cor	rupção	e	o	luxo.	Nesse	contexto,	surgiram	muitos	
mo	vimentos	que	pregavam	a	renovação	da	Igreja	e	sua	volta	aos	tem-
pos	primitivos,	ou	seja,	pregavam	um	Cristianismo,	mas	pobre,	mais	
puro	e	mais	fiel	aos	ideais	do	Evangelho.	Al	guns		deles	perma	neceram	
na	comu	nhão	eclesial	e	outros	romperam	com	ela.
A	 partir	 do	 século	 12,	 surgiram	 várias	 heresias,	 com	 forte	
apelo	po	pular	e	com	um	caráter	forte	mente	an	ti	e	clesiástico.	Des-
se	modo,	as	causas	do	sur	gimento	dessas	heresias	de	vem	ser	bus-
cadas	na	decadência	da	vi	da	interior	e	religiosa,	na	ri	que	za,	na	vida	
mundana	e	no	luxo	dos	e	clesi	ás	ticos.	Além	do	aspecto	mais	ecle-
sial,	temos	de	mencionar	a	di	minui	ção	da	autoridade	do	Papado,	
com	as	lutas	deste	com	os	impe	ra	dores.
Finalmente,	existem	as	causas	políticas,	econômicas	e	cultu-
rais,	de	acordo	com	o	que	afirma	Ribeiro	Júnior:	
Do	século	XI	ao	século	XIII,	a	expansão	econômica	da	Europa,	a	reu-
nião	nas	cidades	de	merca	dores	e	das	classes	pobres,	mais	orga-
nizadas	 (tecelões,	 artesãos,	 mi	nei	ros	 etc.),	 pro	porcionaram,	 por	
© História da Igreja Antiga e Medieval238
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toda	 parte,	 o	 aparecimento	 de	mo	vimentos	 populares,	 os	 quais	
de	ram		origem	a	várias	heresias	e	levaram	a	Igreja	e	o	poder	civil	a	
montarem	um	violento	aparelho	re	pressivo,	uma	vez	que,	para	a	
so	ci	edade	feudal	cristã,	a	heresia	que	brava	as	ordens	divina	e	so-
cial,	alicerçadas	sobre	o	juramento	de	fidelidade	do	vassalo	a	seu	
senhor.	A	heresia	nem	sempre	nasce	da	dúvida	intelectual,	co	mo	
ocorreu	nos			séculos	anteriores.	Surge,	tam	bém,	das	con	dições	so-
ciais,	econômicas	e	políticas;	da	oposi	ção	das	clas	ses	a	uma	outra	
domi	nante.	Assim,	praticamente	todas	as	heresias	medievais	esta-
vam	li	ga	das	a	fatores	sócio	-eco	nômicos.	Os	cultos	da	pobreza	e	da	
vida	co	mum		re	pre	sen	tavam	não	só	uma	es				piritualização	das	con-
dições	ma						te	riais	e	xistentes	mas	também	uma	reação	contra	o	luxo	
e	a	ri	que	za	nascidos	do	desenvolvimento	do	capitalismo.	A	luta	de		
ten	dência	anti	feudal,	anticlerical	e	anti	-sa	cramental	que	se	desen-
volveu	nes	se	período	foi	uma	 luta	de	opri	midos	con	tra	o		 re	gime	
feudal,	o	e	piscopado	aristocrático	e	as	ins	titui	ções	religiosas	exclu-
sivistas	e	ambiciosas,	mas	uma	lu	ta		tra	du	zida	no	discurso	da	época,	
que	era	um	discurso	te	o	lógi	co	(1989,	p.	62-63).
Nesse	contexto,	as	heresias	sur		giram	e	se	expandiram	com	
grande	apoio	po	pular.	Destacamos	a	seguir	as	principais	heresias	
deste	período:	
1)	 Cátaros (puros)	 ou	 albigenses	 (da	 cidade	 francesa	 de	
Albi):	he	resia	proveniente	do	dualismo	maniqueu	 (luta	
entre	o	bem	e	mal,	Deus	e	o	Diabo,	com	vitória	de	Deus	
no	fim	dos	tempos)	oriental	e	do	leste	europeu	que	se	
fixou	em	vários	países,	es	pecialmente	na	França.	Eram	
ad	mirados	por	causa	de	sua	aus	teridade	e	do	combate	
às	riquezas	dos	clérigos.	Sua	doutrina	se	ba	seava	no	du-
alismo	e	rejeitava	tudo	o	que	era	material:	
a)	 pro	priedades	privadas;	
b)	 casamentos;
c)	 carne;
d)	 tra	ba	lho;		
e)	 guerra;		
f)	 negavam	o	valor	redentor	da	ressurreição	de	Jesus	e	
ensinavam	que	Ele	só	teve	um	corpo	aparente	e	foi	
o	mais	puro	dos	espíritos;
g)	 praticavam	 jejuns,	 ascetismo	 rigoroso	 e	 o	 suicídio	
era	um	ideal	de	santidade.
239© O Auge e a Crise da Cristandade A Inquisição A Transição Entre a Idade Média e a Idade Moderna
•	 	Condenados	no	 III	Concílio	do	Latrão,	em	1179,	
foram	desaparecendo	 com	as	Cruzadas	movidas	
contra	eles	e	pela	ação	da	 Inquisição.	Motsegur,	
a	 grande	 fortaleza	 cátara	no	 Languedoc	 francês,	
caiu	no	ano	1244.	
•	 Del	Roio	escreve	assim	sobre	eles:
A	mais	importante	heresia	que	o	papado	combateu,	se	considerar-
mos	o	número	de	adeptos	que	arregimentou,	foi	a	dos	cátaros,	cha-
mados	igualmente	de	albigenses,	devido	a	um	dos	seus	redutos,	a	ci-
dade	francesa	de	Albi.	As	posições	teológicas	do	catarismo	são	pouco	
conhecidas.	Seus	documentos	originais	foram	destruídos	e	chegaram	
até	nossos	dias	apenas	os	atos	de	processos	forjados	com	base	nas	
calúnias	dos	adversários	[...].	Aos	fiéis,	cabia	o	dever	do	ascetismo,	
o	afastamento	das	riquezas	e	prazeres	mundanos,	considerados	ar-
madilhas	do	mal	para	manter	os	humanos	ligados	à	matéria	[...].	O	
crescimento	da	heresia	deu	origem	a	várias	estruturas	organizativas,	
com	subdivisões	dentro	da	comunidade	com	o	nome	de	auditores,	
crentes	e	eleitos.	Estes,	representando	o	grau	maior	de	pureza,	inclu-
íam	as	mulheres	e	tinha	funções	similares	às	de	sacerdotes.	As	mui-
tas	ruínas	de	seus	templos	apresentam	indícios	de	que	praticavam	
ritos	esotéricos	de	difícil	compreensão.	Devessem	ou	não	os	cátaros	
ser	considerados	cristãos,	o	fato	é	que	com	eles	nascia	no	Ocidente	
latino,	no	final	do	século	XII,	uma	igreja	alternativa	à	de	Roma.	Coube	
ao	papa	Alexandre	III	(1159-1181)	lançar	o	anátema	sobre	os	cátaros	
(1179)	e	pedir	a	formação	de	uma	cruzada	para	combatê-los.	Era	um	
salto	qualitativo,	as	cruzadas	realizadas	até	então	tinham-se	voltado	
contra	os	não-cristãos,	religiões	situadas	nas	fronteiras	externas	da	
cristandade(1997,	p.	72-74).
2)	 Valdenses:	 fundados	por	um	rico	comerciante	 francês,	
chamado	Pedro	Valdo,	que	se	converteu	em	1173,	e	dis-
tribuiu	seus	bens	aos	pobres,	levou	vida	penitente	pre-
gando	a	Palavra	de	Deus	de	forma	itinerante	e,	com	seus	
discípulos,	formou	um	grupo	chamado	de	os	pobres	de	
Lyon.	Para	ele,	a	vida	pura	do	Evangelho	estava	intima-
mente	ligada	à	opção	pela	pobreza	e	no	serviço	aos	po-
bres.		Proibido	de	pregar	pelo	bispo	de	Lyon,	con	seguiu	
a	 permissão	 de	 fazê-lo	 do	 papa	 Alexandre	 III,	 no	 ano	
de	1179.	Ao	dirigir	 críticas,	porém,	contra	a	corrupção	
do	clero,	a	situação	piorou.	Foi	excomungado	em	1184,	
através	de	decreto	do	papa	Lúcio	III,	que	atingiu	também	
outros	radicais	hereges.	Não	se	sabe	como	Pedro	Valdo	
© História da Igreja Antiga e Medieval240
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morreu,	mas	parte	 de	 seus	 seguidores	 per	maneceram	
fiéis	à	Igreja,	e	parte	optou	por	uma	vida	fora	da	Igreja	e	
muitos	se	uniram	aos	hereges	cátaros.	Os	pontos	princi-
pais	da	doutrina	valdense	eram	esses:	
a)	 re	jeitavam	a	Igreja	visível;	
b)	 re	jeitavam	os	sa	cramentos,	menos	a	Euca	ristia;
c)	 exigiam	a	supressão	dos	dízimos	e	do	serviço	militar;
d)	 apreciavam	muito	a	Bíblia.
No	 século	 16,	 uni	ram-se	 aos	 calvinistas	 e	 existem	 até	
hoje,	como	Igreja	organizada,	na	Itália,	Suíça,	Argentina	
e	Uruguai.
3)	 Petrobrussianos:	discípulos	de	Pedro	de	Bruis,	que	pre-
gou	sua	doutrina	na	França,	no	início	do	século	11.	Ba-
seando-se	num	funda	mentalismo	evangélico,	criticavam	
a	hierarquia	eclesiástica	e	alguns	aspectos	da	doutrina	
cristã.	Eram	contrários	ao	batismo	de	crianças,	à	cons-
trução	de	Igrejas,	à	missa,	e	pregavam	a	desobediência	
ao	clero	e	à	hierarquia.	Para	os	Petrobrussianos,	deve-se	
rezar	em	qualquer	lugar.
•	 Pedro	 foi	 assassinado	 em	 1124,	 quando	 fazia	 um	
churrasco	com	o	fogo	aceso	sobre	cruzes	queimadas	
e	teve	sua	doutri	na	condenada,	em	1139.	Foram	seus	
discípulos:
•	 Henrique	de	Lau	san	ne;
•	 Tanquelmo	de	Brabante	Eon	de	Stella.
4)	 Irmãos Apóstolos:	 fundados	por	Geraldo	Segarelli,	 em	
1260,	e	por	Frei	Dolcino	de	Novara.	Pregavam	uma	po-
breza	rigorosa	e	romperam	com	a	Igreja	e,	em	1370,	fo-
ram	exterminados	por	um	exército	cruzado.
Geraldo Segarelli foi queimado em 1300e Frei Dolcino de Novara, 
em 1307.
5)	 Arnaldo de Bréscia:	 foi	 um	 cônego	 agostiniano,	 refor-
mador	eclesial	e	grande	asceta,	 com	propensão	ao	 fa-
241© O Auge e a Crise da Cristandade A Inquisição A Transição Entre a Idade Média e a Idade Moderna
natismo	e	radicalismo.	Criticou	as	riquezas	da	Igreja,	sua	
mundanidade	e	seu	poder	temporal;	foi	condenado	no	
Concílio	do	Latrão,	em	1139.	Em	Roma,	liderou	um	mo-
vimento	político	que	queria	o	afastamento	do	Papa	da	
cidade	e	foi	enforcado	em	1155.	
•	 Del	Roio	assim	sintetiza	sua	vida:	
Arnaldo	nasceu	nos	primórdios	de	1100	na	cidade	de	Bréscia	e	pouco	
se	sabe	da	primeira	parte	de	sua	vida,	apenas	que	era	um	monge	
notabilizado	pelos	ataques	ao	seu	bispo	Manfredo,	no	qual,	critica-
va	o	alto	nível	de	vida	que	levava.	Exilado,	rumou	para	Paris,	onde	
travou	elevados	debates	teológicos	com	Bernardo	de	CLairvaux,	seu	
acérrimo	inimigo.	Convocado	a	penitenciar-se	pelo	papa	Eugenio	III	
(1145-1153),	chegou	a	Roma	em	1145.	Encontrou	a	cidade	rebela-
da	contra	o	papado,	exigindo	maiores	liberdades.	Em	pouco	tempo	
transformou-se	num	dos	líderes	dos	insurretos	e	porta-voz	dos	seto-
res	mais	pobres	da	população.	Sua	apreciação	sobre	a	Igreja	institu-
cional	fez-se	sempre	mais	radical.	Aos	cardeais	dizia	que	[...]	as	suas	
moradias,	por	soberba,	avareza,	hipocrisia	e	muitas	outras	qualida-
des	execráveis,	não	era	a	 Igreja	de	Deus,	mas	um	mercado	e	uma	
taberna	de	ladrões	[...].	Nem	o	papa	escapava	de	suas	acusações:	[...]	
homem	sanguinário,	que	baseava	sua	autoridade	sobre	incêndios	e	
homicídios,	torturador	de	igrejas,	perseguidor	da	inocência	[...].	
O	remédio	que	propunha	era	simples:	a	Igreja	devia	abandonar	suas	
riquezas	e	o	poder	temporal,	entregando-se	aos	pobres,	cumprindo	
a	sua	missão	espiritual.	Em	junho	de	1148	foi	excomungado	e	em	
1155,	vencida	a	sublevação,	depois	da	volta	do	papa	a	Roma,	o	pre-
gador	bresciano	foi	preso.	Entregue	ao	braço	secular,	foi	queimado	
e,	provavelmente,	antes	de	colocado	na	fogueira,	estrangulado.	Em-
bora	declarado	herético,	na	verdade	seu	crime	consistiu	em	opor-se	
ao	dualismo	que	interligava	Igreja	e	Império,	poder	espiritual	e	po-
der	temporal,	que	a	seu	ver	degradava	a	missão	confiada	por	Cristo.	
Como	ele,	mesmo	que	exprimindo-se	numa	linguagem	menos	incen-
diária,	pensavam	muitos	sacerdotes	e	leigos	(1997,	p.	70-71).
A	Igreja	medieval	pre	cisava,	urgentemente,	de	uma	re	forma.	
Ela	se	enfraquecia	politicamente	e	precisava	mudar	o	seu	modo	de	
se	relacionar	com	a	nova	sociedade	que	surgia.	
Essas	heresias	mostraram		as	 insatisfações	popu	lares	e	ser-
viram	para	questionar	a	estrutura	eclesial.	 Infelizmente,	a	 Igreja	
não	se	desligou	dos	com	promissos	temporais	e	não	resol	veu	seus	
problemas	 internos	 e	 externos.	 A	 crise	 aumentou	 e	 pro	vocou	 o	
© História da Igreja Antiga e Medieval242
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surgimento	de	si	tuações	lamentáveis	que	tiveram	seu		auge	com	a	
Reforma	protes	tante,	liderada	por	Martinho	Lutero.
7. MOVIMENTOS DE RENOVAÇÃO ECLESIAL
Os	problemas	que	afetaram	a	Igreja	(crise	do	papado	e	luta	
com	os	imperadores,	contratestemunho	da	hierarquia,	riquezas	e	
luxúria	eclesiais,	 investidura	 leiga,	 simonia	e	nicolaísmo)	 fizeram	
com	que	surgissem	movimentos	de	reforma	que	conhe	ceremos.	
Elencaremos	alguns	movimentos	que	surgiram,	a	partir	do	
século	11,	e	que	geraram	heresias	e	movimentos	unidos	à	Igreja:
•	 Os	Apocalípticos	fundados	pelo	monge	cisterciense	Joa-
quim	de	Fiore	(+1202),	monge	da	Calábria,	grande	refor-
mador	da	Igreja.	Ele	escreveu	sobre	a	era	espiritual	que	
deveria	ser	assumida	pela	Igreja	e	se	concretizaria	naque-
la	época;	seus	escritos	tiveram	muitos	seguidores,	inclu-
sive	 consegui	 a	 simpatia	 do	monge	 e	 papa	Celestino	V,	
eleito	em	1294,	com	ideal	de	pobreza	e	pureza,	chamado	
de	o	"papa	evangélico",	mas	que	renunciou	com	menos	
de	um	ano	de	papado,	decepcionado	com	os	 rumos	da	
Igreja	e	com	as	pressões	dos	cardeais.	
•	 As	beguinas	que	surgiram	no	fim	do	século	12	nos	Países	
Baixos	e	foram	fundadas	por	Santa	Bega	ou	pelo	pregador	
Laberto,	e	levavam	vida	apostólica	comum	num	sistema	
rigoroso	e	sem	votos.
•	 Os	 Irmãos	Pobres	da	Penitência	da	Ordem	de	São	Fran-
cisco	de	Assis	ou	beguinos,	dis	sidentes	franciscanos	que	
pre	ga	vam	a	renúncia	total	dos	bens	ma	teriais;	muitos	fo-
ram	presos	e	con	denados	pela	Inquisição;	os	Fran	ciscanos	
Espirituais	ou	frati	celli,	ordem	monástica	que	lutava	por	
uma		Igreja	pobre	e	pura.
No	contexto	da	Vida	Religiosa	Consa	grada,	 surgiram	várias	or-
dens	que	queriam	a	renovação	eclesial:	cistercienses	de	São	Roberto	
243© O Auge e a Crise da Cristandade A Inquisição A Transição Entre a Idade Média e a Idade Moderna
de	Molesme	(fundados	em	1098,	na	França	e	seguidores	da	regra	bene-
ditina	e	dedicavam	bom	tempo	ao	trabalho	manual	e	trouxeram	muitas	
inovações	tecnológicas	para	a	agricultura	e	um	dos	grandes	represen-
tantes	desta	ordem	foi	São	Bernardo	de	Claraval,	um	dos	personagens	
mais	importantes	do	Cristianismo	do	século	13);	cartuxos	de	São	Bruno	
de	Colônia,	os	premonstratenses	de	São	Norberto	de	Xantén	etc.	
Segundo	Del	Roio,	no	capítulo	em	que	trata	sobre	a	Deca-
dência da teocracia: 
Mesmo	em	seus	piores	momentos,	governada	por	homens	incapa-
zes,	envolvida	em	guerras	e	mergulhada	na	corrupção,	a	estrutura	
da	 igreja	 resistiu	a	 todas	as	 tempestades.	Em	grande	parte,	esse	
desempenho	dever	ser	creditado	às	ordens	religiosas.	Diferencia-
das	entre	sim,	elas	exerceram	uma	vasta	e	multifacetada	influência	
na	sociedade	européia,	abrangendo,	entre	outros,	os	campos	mili-
tar,	econômico,	artístico	e	universitário.	Seu	aparecimento	deu-se	
processualmente,	na	medida	em	que	novas	tarefas	e	dificuldades	
apresentavam-se	ao	cristianismo	romano.	Algumas	não	resistiram	
ao	tempo,	todas	conheceram	crises	e	divisões,	embora	tenham	re-
presentado	parte	importante	na	história	da	Igreja	(1997,	p.	85).
Mas	 o	 maior	 movimento	 de	 renovação	 eclesial	 foi	 o	 dos	
mendicantes,	no	me	dado	a	várias	ordens	religiosas	que	surgiram	
nos	séculos	12	e	13	e	pregavam	a	pobreza	total	da	Igre	ja,	dos	mos-
teiros	e	dos	monges	(frades-irmãos),	que	viveriam	na	pobreza,	na	
aus	te	ridade	e	na	mendicância.	
Del	 Roio	 situa	 o	 contexto	 de	 surgimento	 dos	mendicantes	
desta	forma:
Se	fosse	possível	a	um	cristão	latino,	no	início	de	1200,	proceder	
uma	análise	objetiva	da	realidade	de	sua	Igreja,	motivos	não	falta-
riam	para	que	ficasse	muito	preocupado.	Os	cruzados	em	retirada,	
inexistência	quase	completa	de	casos	de	conversão	de	islâmicos	ao	
cristianismo,	freqüente	conversão	de	cristãos	ao	islamismo,	expan-
são	das	heresias,	preferência	dos	hereges	à	morte	mais	dolorosa	a	
ter	que	abandonar	seus	próprios	princípios,	perda	da	capacidade	
de	sacrifício	entre	os	cristãos	romanos,	tudo	isso	evidenciava	a	ur-
gência	de	se	encontrarem	novas	formas	de	comportamento	e	de	
expressão	religiosa	na	Igreja	romana.	A	chama	para	essa	mudança	
surgiria	com	Giovanni	di	Pietro	de	Bernardone,	também	chamado	
de	Francisco	(1997,	p.	89-90).
© História da Igreja Antiga e Medieval244
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Vejamos	agora	algumas	ordens	religiosas:
1)	 Franciscanos:	fundados	por	São	Francisco	de	Assis	(1181-
1226),	um	dos	santos	mais	co	nhe	cidos	da	Igreja	por	sua	
po	breza	e	austeridade.	Nas	cido	no	apogeu	do	Papado,	o	
pe	ríodo	no	qual	a	Igreja	esteve	mais	com	prometida	com	
os	po	deres	des	te	mundo	e	com	as	ri	quezas.	A	pro	vados	
em	1223,	aju	daram	na	re	for	ma	da	Igreja,	no	ser	viço	aos	
po	bres,	nas	missões	e	nas	universi	dades	cristãs	recém-
fun	dadas:
Filho	de	família	rica	da	cidade	de	Assis,	região	umbra	da	Itália,	deci-
diu	entregar-se	à	vida	em	total	pobreza,	tal	como	Valdésio	de	Lion.	
Aos	que	o	chamavam	de	louco,	respondeu:	"aquela	que	era	o	mais	
rico	de	todos	me	escolheu,	junto	com	sua	beatíssima	mãe,	viver	na	
pobreza".	Nele	se	concentravam	todas	as	contradições	da	cristan-
dade	latina.	Se	os	leprosos	eram	considerados	malditos,	intocáveis,	
viveria	junto	a	eles.	Se	a	naturezaera	vista	como	inimiga	que	assus-
tava	o	homem	medieval,	Francisco	inverte	essa	posição	a	ponto	de	
tratar	o	lobo,	animal	mais	temido	da	época,	como	irmão.	Se	a	mu-
lher	era	considerada	como	inferior	e	perigosa,	ele	se	apresenta	ao	
lado	de	Clara	de	Assis	e	a	trata	como	uma	igual.	Viajará	até	o	Egito,	
onde	manterá	boas	relações	com	o	sultão	e	pronunciará	discurso	
duro	contra	os	cruzados	e	seus	crimes.	
Acompanhado	por	um	grupo	de	seguidores,	visitará	Roma	em	1210	
e	obterá	de	Inocêncio	III	aprovação	oral	para	a	primeira	versão	das	
regras	da	ordem	que	pretendia	fundar.	Exigia	daqueles	que	preten-
diam	militar	em	suas	fileiras	uma	vida	em	pobreza,	simplicidade	e	
disposição	para	uma	existência	peregrina,	sem	habitação	definitiva,	
em	favor	das	crianças	e	dos	mais	humildes.	Pouco	antes	de	mor-
rer,	diz	a	tradição,	rebentaram	em	seus	corpos	feridas	semelhantes	
às	de	Cristo.	Com	seu	desaparecimento,	a	ordem	iria	se	dividir	en-
tre	os	espirituais,	que	exigiam	coerência	como	o	pensamento	e	a	
ação	de	Francisco,	e	os	conventualistas,	que	pediam	a	atenuação	
do	rigor	das	regras,	sobretudo	no	que	dizia	respeito	à	opção	pela	
pobreza,	que	desejavam	fosse	substituída	pelo	direito	à	posse	de	
bens	em	comum.	Apesar	do	papado	ter-se	decidido	a	favor	destes	
últimos,	a	divisão	subsistiria	por	muito	tempo,	ao	longo	do	qual	se-
tores	consistentes	dos	espirituais	se	aproximaram	do	joaquimismo	
(DEL	ROIO,	1997,	p.	91-92).
•	 A	Regra	escrita	por	Francisco	em	1221	foi	aprova-
da	pelo	papa	Onório	 III	 em	1223.	Mesmo	 com	as	
divisões	 internas,	 a	 Ordem	 Franciscana	 teve	 uma	
expansão	 extraordinária	 e	 no	 fim	 do	 século	 13	 já	
245© O Auge e a Crise da Cristandade A Inquisição A Transição Entre a Idade Média e a Idade Moderna
tinha	mais	de	1500	conventos,	e	nesse	período	se	
destacaram	Elias	de	Cortona,	sucessor	de	Francisco	
e	 São	Boaventura.	 Em	1517,	 após	 três	 séculos	 de	
conflitos	internos,	foi	aprovada	a	divisão	da	Ordem	
em	dois	ramos:	Irmãos	Menores	e	Irmãos	Menores	
Conventuais.	
2)	 Dominicanos:	 fundados	por	São	Domingos	de	Gusmão	
(1170	-1221),	contemporâneo	de	São	Fran	cisco.	Preocu-
pavam-se	com	a	falta	de	formação	do	clero	e	com	a	ex-
pansão	das	heresias.	Ajudaram	na	reforma	eclesial,	na	
formação	do	clero	e	no	combate	às	heresias:	
Domingos,	pertencente	a	uma	abastada	 família	de	Castela	e	 for-
mado	em	filosofia,	seria	enviado	juntamente	com	os	 legados	pa-
pais	à	zona	hegemoneizada	pelos	cátaros,	com	a	incumbência	de	
convertê-los.	Anos	de	 insucessos	o	convenceram	da	necessidade	
de	fundar	uma	ordem,	dotada	de	quadros	bem	preparados	e	ins-
truídos,	com	a	finalidade	de	predicar	o	evangelho	e	as	verdades	da	
Igreja	entre	as	pessoas.	Acompanhado	por	apenas	seis	companhei-
ros,	obteve	do	papa	Honório	III	(1216-1227)	o	reconhecimento	de	
sua	ordem	e	a	autorização	para	predicar.	Era	uma	grande	novidade,	
já	que	apenas	aos	bispos	era	concedida	tal	prerrogativa.	Em	1220,	
sob	a	influência	de	Francisco	de	Assis,	impôs	o	voto	de	pobreza	a	
seus	seguidores.	Como	os	franciscanos,	criou	uma	ordem	feminina	
e	outra	leiga.	Grandes	nomes	viriam	pertencer	a	essa	ordem,	como	
Alberto	Magno,	Tomás	de	Aquino,	Catarina	de	Siena.	Infelizmente,	
em	1233	o	papa	Gregório	IX	iria	delegar	aos	dominicanos	a	tare-
fa	de	servirem	à	inquisição.	Embora	apenas	um	pequeno	número	
dentre	eles	tenha	cumprido	essa	determinação,	comparados	com	o	
conjunto	de	religiosos	que	nela	se	envolveram,	esse	fato	pesa	ainda	
hoje	como	mácula	indelével	(DEL	ROIO,	1997,	p.	92-93).
3)	 Carmelitas:	 nasceram	 em	 Je	ru		sa	lém,	 possivelmente	 a	
partir	 do	 ere	mi	tério	 fundado,	 em	 1156,	 pelo	 cru		zado	
Berto	de	Calábria	e	um	gru		po	de	companheiros.	Trans-
fe	riram-se	para	a	Europa	e	se	dedicaram	às	missões	e	à	
formação	do	povo.
4)	 Mercedários:	 fundados	 por	 São	 Pedro	 Nolasco	 e	 São	
Raimundo	Peñafort,	em	1222.
5)	 Servitas:	fundados	por	sete	piedosos	homens	de	Floren-
ça,	Itália,	em	1233.
© História da Igreja Antiga e Medieval246
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
6)	 Trinitários:	 fundados	 por	 São	 João	 da	 Mata.	 Foram	
aprova	dos	em	1198.
Assim,	 a	 Igreja	 medieval	 te	ve	 muitas	 luzes,	 mas	 também	
mui	tas	sombras.	Dessa	maneira,	ela	apren	deu	que	sua	missão	não	
pode	estar	vin	cu	lada	aos	sistemas	e	às	estru	tu	ras	des	te	mundo,	e	
buscar	sua	for	ça	e	autoridade	na	obra	de	Je	sus	Cristo,	nas	verda-
des	do	Evan	gelho	e				no		exemplo	de	tantos	cristãos	que	souberam	
"amar	a	Deus	sobre	todas	as	coisas".
8. INQUISIÇÃO
Agora,	estudaremos	a	"inquisição",	entidade	mais	criticada	
e	mais	incompreendida	de	toda	a	História	do	Cristianismo.	Ela	foi	
um	tribunal	criado	pela	própria	 Igreja	para	combater	os	hereges	
e	aqueles	que	não	se	adequavam	ao	sistema	da	Cristandade	me-
dieval.	Aprofundando,	podemos	dizer	que	ela	foi	uma	instituição,	
com	aspectos	jurídicos	precisos,	que	teve	sua	atenção	voltada	para	
investigação	dos	hereges	medievais	e	suas	teorias,	tendo	como	ob-
jetivo	identificá-los	e	tomar	as	medidas	para	controlá-los	e	excluí-
los	do	contexto	da	Cristandade	latina	medieval.
O	Pe.	Giacomo	Mar	tina,	histo	riador	je	suíta,	faz	um	juízo	da	
Inquisição	com	es	tas	pala	vras,	tra	du	zidas	do	ori	ginal	italia	no:	
A	Inquisição	repre	senta	um	dos	pontos	nevrálgicos	da	cristandade	me-
dieval,	e,	em	ge	ral,	da	História	da	Igreja.	É	necessário,	porém,	compre-
ender	o	espírito	que	permitiu	o	seu	nasci	mento	e	desen	volvi	mento:	a	
intole	rância	era	comum	em	toda	a	Idade	Média	e	a	tolerância	se	afir-
mou	fatidica	mente	só	na	idade	moderna	mais	re	cente.	A	Igreja,	pois,	
fez	uso	dos	meios	que	o	procedi	mento	penal	da	quele	tempo	lhe	colo-
cava	à	dis	posição.	Com	pre		ender	isto,	porém,	não	significa	justificar	ou	
absolver.	Não	temos	neces	sidade	de	justi	ficar	a	Inquisição	medieval	e	
não	o	fa	re	mos.	A	acei	tação	de	algumas	de		núncias,	tam	bém	anôni	mas	
e	a	con	servação	do	segredo	acerca	de	tex	tos	pe	sa	dos,	a	exclusão	qua-
se	ge	ral	de	um	defensor,	a	ex	cessiva	ex	tensão	do	con	ceito	de	here-
sia,	a	apli	cação	da	tortura,	apesar	dos	li	mites	e	cau	telas	previs	tos	pelo	
Di	reito,	a	pena	de	morte,	são	atos	tão	dis	tantes	do	ge	nuíno	espírito	
evangélico:	não	resta	senão	re	co	nhecer	que,	ao	me	nos	nisto,	a	ida	de	
mo	derna,	mesmo	com	erros	e	desvios,	com	preen	deu	melhor	as	exi-
gências	da	men	sagem	cristã	(	1980,	p.	130).
247© O Auge e a Crise da Cristandade A Inquisição A Transição Entre a Idade Média e a Idade Moderna
A	 Inquisição	de	ve	 ser	 compre	en	di	da	no	 con	texto	his	tórico	
no	qual	ela	nas	ceu	e	se	de	sen	volveu.	Como	sabe	mos,	a	Inquisição	
nasceu	e	se	desenvolveu	no	contexto	do	mundo	medieval	(sécu-
los	12-14),	na	época	em	que	surgiram	muitas	heresias	contrárias	à	
Igreja	enquanto	instituição	e	na	época	em	que	a	Cristandade	esta-
va	no	seu	apogeu,	teve	seu	período	mais	forte	na	Idade	Moderna	
(séculos	14-17)	e	foi	se	enfra	quecendo	até	desaparecer	nos	sécu-
los	19	e	20.
Na	Idade	Antiga,	até	o	início	do	século	4º,	os	cristãos	resol-
viam	 internamente	os	 seus	problemas,	quando	 surgiam	dúvidas	
dou	trinais,	ou	sobre	a	fé	ou	proce	dimento	mo	ral	e	comunitário	de	
um	membro	da	comunidade.	
	Quando	o	Cristia	nismo,	no	Edito	de	Milão	 (313),	ganhou	a	
liber	dade	de	 culto	e,	 a	partir	 do	 Impe	rador	 Te	o	dósio	 (392),	 tor-
nou-se	 religião	 oficial	 do	 Império	 Ro	mano,	 as	 coi	sas	 mu	daram.	
Os	impe	ra	dores	e	reis	acre	ditavam	que	a	u	ni	dade	im	pe	rial	só	se-
ria	 con	se	gui	da	com	a	unidade	 reli	gio	sa;	por	 is	so,	 com	bateram	e	
perse	guiram	todos	aque	les	que	po	diam	ferir	a	união	imperial.	Nes-
se	contexto,	mexer	ou	mudar	a	or	dem	religiosa	era	o	mesmo	que	
fazê-lo	com	a	or	dem	universal	que			rida	e	dese	jada	por	Deus.	
Assim,	 todos	os	hereges	eram	con	side	rados	 co	mo	aqueles	
que	minavam	e	com	pro	metiam	a	or	dem	religiosa	e,	conse	quente-
mente,	a	ordem	social;	isto	fazia	com	que	eles	fossem	rejei	tados	e,	
no	espírito	da	intolerância	me	dieval,	deviam	ser	banidos	do	conví-
vio	social	e	religioso,	ou	seja,	condenados	e	mortos.
Na	 Idade	 Antiga,	muitos	 papas,bispos	 e	 teólogos	 cristãos	
con	denaram	as	atitudes	violentas	do	Estado	e	de	setores	da	Igreja,	
que	já	aceitavam	a	prática	da	violência	para	condenar	os	hereges.	
Na	Idade	Média,	porém,	poucos	levantaram	a	voz	contra	as	atitu-
des	intolerantes	e	antievangélicas	dos	proce	dimentos	inquisitórios	
ecle	siásticos	e	reais.
Tentando	 es	cla	recer	 mais	 ain	da	 essa	 ques	tão,	 em	 que	 se	
funda	mentava	essa	intolerância	me	dieval,	o	Pe.	Gia	como	Mar	tina	
© História da Igreja Antiga e Medieval248
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
(1980,	p.	128),	na	obra	anteriormente	ci	tada,	men	ciona	os	se	guin-
tes	as	pectos:
•	 Pensava-se	que	o	batizado	(no	Cristianismo)	não	pudesse	
perder	a	fé	a	não	ser	por	própria	culpa".	En	tão,	a	here	sia	
a	pa		recia	co	mo	um	er	ro	con	tra	a	ver	dade,	mas	 tam	bém	
como	um	cri	me	con		tra	a	so	cie	dade,	uma	ten	tati	va	de	mu-
dar	a	or	dem	ci	vil,	fun	da	da	sobre	a	religião.
•	 Outra	cir	cuns	tância	deci	siva	foi	o	renova	do	influxo	do	di-
reito	ro	mano	que,	ao	contrário	da	tradição	pa	trís		tica,	se	
mostrava	muito	se	vero	com	os	donatistas	e	os	mani	queus,	
comparando	a	sua	culpa	a	uma	alta	traição	digna	de	mor-
te.	 Ino	cên	cio	 III	 já	se	 inclina	para	esta	tese,	o	bser	vando	
que	quem	re	nega	a	Cristo	co	mete	uma	cul	pa	mais	gra	ve	
que	o	delito de lesa-majes tade,	punido	com	a	morte.	
•	 É	preciso	não	esque	cer	que	dian	te	dos	casos	de	 lin	cha-
men	to	dos	he	reges	que	se	veri	fi	ca	vam	na	Fran			ça	e	na	Ale-
manha,	era	ne	ces			sário	 con	ter	e	 con			tro	lar	o	arbítrio	das	
massas	 e	 regular	 juridi	camente	 o	 proce	dimento	 contra	
os	here	ges.	Devemos	acrescentar	que	a	prática	do	lincha-
mento	arbitrário	era	muito	comum	nesse	período	e	que,	
num	sistema	de	clas	ses,	os	menos	favorecidos	não	tinham	
direito	de	apelação	e	eram	facilmente	domi	nados	pelos	
mais	fortes.	
Além	disso,	a	Inquisição	surgiu	num	período	em	que	a	ten-
dência	dualista	era	muito	forte.	O	que	é	esse	dualismo?	É	a	crença	
de	que	existem	no	mundo	duas	grandes	forças	irreconciliáveis,	to-
talmente	opostas	uma	à	outra.	O	bem	e	o	mal	eram	forças	expres-
sas	com	vários	antônimos	(Deus	e	diabo,	dia	e	noite,	luz	e	trevas,	
espírito	e	ma	téria,	alma	e	corpo,	espiritual	e	tem	poral,	santo	e	pe-
cador,	homem	e	mulher	etc.).
Nesse	 contexto,	 o	mais	 importante	 era	 salvar	 a	 alma	para	
que	ela	descan	sasse	junto	a	Deus.	Assim,	o	corpo	era	considera-
do	como	uma	prisão	para	a	alma,	que	deveria	se	 libertar	de	le	e	
249© O Auge e a Crise da Cristandade A Inquisição A Transição Entre a Idade Média e a Idade Moderna
das	 coi	sas	do	mundo,	quan	do	estas	o	afastavam	do	divino	e	do	
eclesial.	Ora,	se	pa	ra	li	bertar	a	al	ma	de	um	he	rege	ou	pe	cador	era	
ne	ces	sário	tor	turá-lo	ou	matá-lo,	para	o	bem	dessa	mes	ma	alma,	
is		so	deveria	ser	feito.
Após	es	ses	escla	recimentos,	 vejamos	como	 foram	o	nasci-
mento	e	o	fortalecimento	da	Inquisição.	Ela	surgiu	no	período	em	
que	estavam	aflorando,	 na	 Europa,	 as	 heresias	medievais,	 tema	
visto	no	número	passado.	Ini	cialmente,	a	Igreja	quis	mantê-la	sob	
seu	controle.	
Entretanto,	 com	o	 passar	 do	 tempo,	 a	 Inquisição	 caiu	 nas	
mãos	dos	reis	e	imperadores,	que	a	utilizaram	para	combater	seus	
inimigos	políticos	e	eliminá-los.	Muitas	vezes,	as	 lideranças	polí-
ticas	agiram	contra	riamente	aos	desejos	da	Igreja,	que,	cada	vez	
mais	fraca,	não	podia	fazer	frente	a	esses	abusos.
Martina	(1980.	p.	128),	na	obra	Storia della Chiesa,	Cen	tro	
Ut Unum Sint,	Roma,	 	menciona	quatro	fases	na	evolução	da	In-
quisição:
Inquisição	episcopal:	a	 repressão	da	heresia	 foi	confiada	aos	bis-
pos,	que	direta	ou	indireta	mente,	inspecionavam	periodica	mente	
as	dioceses.	Tal	procedi	mento	foi	esclarecido	pelo	papa	Lúcio	III,	no	
encontro	de	Verona,	com	Frederico	Barba-	Roxa,	no	ano	de	1184.
Inquisição	legatícia:	a	defesa	da	fé	era	confiada	aos	legados	escolhi-
dos	pelo	Papa.	O	sistema	tornou-se	mais	freqüente	com	Inocêncio	
III,	no	início	do	século	13.	O	Papa	enviou	como	legados	à	França,	
muitas	vezes,	os	Cister	cienses,	mais	com	o	objetivo	de	pregar	e	de	
converter	do	que	com	o	de	condenar.
Inquisição	 monástica:	 Gre	gório	 IX	 confiou	 aos	 Francisca	nos	 e	
Domini	canos	a	Inquisição,	a	partir	de	1231.
Inocêncio	IV	(1243-1254)	per	mitiu	o	uso	da	tor		tura,	mal	gra	do	o	pare-
cer	con	trário,	emitido,	quatro	séculos	antes,	pelo	papa	Nicolau	II.
Pierini	também	trata	o	tema	das	distintas	"inquisições",	afir-
mando	que:
A	inquisição	medieval,	em	vigor	em	quase	todos	os	países	cristãos	
entre	o	final	do	século	XVI,	deve	ser	distinguida	da	cruzada	contra	
os	albigenses	 (1209-1229)	e	das	outras	 formas	de	 investigação	e	
© História da Igreja Antiga e Medieval250
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
luta	contra	os	hereges,	como	a	inquisição	dogal	veneziana	(1249-
1289),	a	 inquisição	régia	 francesa	(1251-1314),	a	 inquisição	régia	
espanhola	(1478-1834),	a	inquisição	romana	(instituída	pelo	papa	
Paulo	 III,	em	1542,	e	que	se	 tornou,	depois,	um	dos	organismos	
da	Cúria	romana,	até	se	transformar	na	atual	"Congregação	para	a	
doutrina	da	Fé")	(1998,	p.	116).
Qual	o	modo	de	proceder	da	inquisição?	Vamos	conhecê-la?
•	 a	acusação	era	feita	com	o	nome	do	acusado	não	se	fa-
zendo	público;
•	 o	 interrogatório	do	acusado	era	 feito	em	torno	de	 suas	
ideias	heréticas;
•	 a	tortura	era	aplicada,	quando	a	culpa	era	evidente,	para	
que	o	réu	a	confessasse.
A	sentença	poderia	ser	de	três	tipos:	
1)	 se	ele	se	arrependesse,	era	"absolvido"	e	 recebia	uma	
"peni	tência	eclesiástica";	
2)	 se	a	conversão	não	parecesse	sincera,	era	condenado	à	
"prisão	perpétua";	
3)	 condenação.
Desse	modo,	havia	várias	penas:
1)	 cárcere;
2)	 peregrinação	a	um	lugar	santo;
3)	 construção	de	uma	Igreja;
4)	 exercício	de	uma	ou	várias	obras	de	caridade;
5)	 obrigação	de	carregar	um	sinal	discriminatório;
6)	 pena	de	morte	confiada	e	aplicada	pelo	"braço	secular",	
ou	seja,	pelo	Estado.
A	 questão	 da	 condenação	 aplicada	 pelo	 "braço	 secular"	
sus		citava	questiona	mentos,	como	a	do	teólogo	católi	co	Jean	Ma-
thieu-Rosay,	ao	afirmar	que	"a	hipocrisia	da	I	gre	ja	foi	assom	brosa".	
Partindo	do	prin	cípio	de	que	Ec cle sia non sitit san guinem	(a	Igre	ja	
não	é	se	denta	de	sangue),	não	exe	cutava	ela	mesma	as	senten	ças	
capitais	que	seus	juízes	haviam	proferido.	
251© O Auge e a Crise da Cristandade A Inquisição A Transição Entre a Idade Média e a Idade Moderna
Assim,	 entre	gava	os	 condenados	 ao	braço	 se	cular,	 com	os	
votos	piedosos	de	que	este	lhes	poupasse	a	vida.	"Oração	mera-
mente	fictícia,	pois,	ao	mesmo	tempo,	ameaçava	suas	sentenças	
e	que,	por	este	motivo,	passassem	a	ser,	eles	mesmos,	heréticos	
passíveis	de	perseguição"	(	MATHIEU-ROSAY,	1990,	p.	178).	
Para	Pierini:
A	função	dos	juízes	eclesiásticos	era	apenas	verificar	se	A	função	dos	
juízes	eclesiásticos	era	apenas	verificar	se	havia	hereges	conscien-
tes	e	convictos	ou	recidivos.	Os	juízes	e	as	autoridades	civis,	bem	
como	as	instituições	leigas,	faziam	o	resto,	segundo	as	leis	locais	em	
vigor.	De	fato,	foram	um	rei	(Pedro	II	de	Aragão)	e	um	imperador	
(Frederico	II),	o	primeiro	em	1197	e	o	segundo	em	1220,	que	decre-
taram	a	pensa	de	morte	na	fogueira	para	os	hereges	contumazes.	
O	papa	Inocêncio	IV	foi	quem	autorizou,	em	1252,	os	inquisidores	
eclesiásticos	a	usarem	a	tortura,	já	em	vigor	nos	processos	leigos,	
contrapondo-se,	assim,	à	condenação	desse	método	bárbaro	for-
mulada	em	866	pelo	seu	predecessor,	o	papa	Nicolau	I.
No	curso	da	inquisição	eclesiástica,	porém,	as	torturas	eram	muito	
raras,	infinitamente	menos	comuns	do	que	nos	processos	presidi-
dos	pelos	 juízes	 leigos;	e	caíram	em	desuso	por	volta	da	metade	
do	século	XVI,	enquanto	nos	tribunais	liegos	se	mantiveram	até	o	
início	do	século	passado,	apesar	das	denúncias	de	Casar	Beccaria,	
a	partir	de	1764.	Note-se	também,	que	com	freqüência	era	a	 in-
quisição	eclesiástica	(que,	sozinha,	não	podia	ordenar	a	morte	de	
ninguém)	que	salvava	certas	pessoas	das	garras	de	alguns	sobera-
nos	(como	o	imperador	Frederico	II	ou,	maistarde,	o	rei	da	França,	
Filipe,	o	Belo);	às	vezes	tratava-se	de	bons	cristãos,	mas	que,	apesar	
disso,	eram	torturados	e	levados	à	morte	sob	o	pretexto	de	heresia,	
quando	a	motivação	de	fundo	era	eminentemente	política	(1998,	
p.	116-117).
A	Inquisição	expandiu-se	por	todos	os	países	da	Euro	pa	com	
muita	rapidez.	Foram	julgados	por	ela	não	só	atos	contra	a	fé	cris-
tã,	mas	também	os	mais	variados	delitos:
1)	 roubo;
2)	 estelionato;
3)	 magia;
4)	 alqui	mia;
5)	 blasfêmia;	
© História da Igreja Antiga e Medieval252
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
6)	 adultério;
7)	 bigamia;
8)	 prostituição;
9)	 ler	livros	proibidos;
10)	 infanticídio	etc.
Entre	os	inquisidores	mais	co	nhecidos,	destacam-se:
1)	 Ber	nardo	Gui.
2)	 Tomás	de	Torquemada.
3)	 Con	rado	de	Marburgo.
4)	 Pedro	de	Vero	na.
Calcula-se	 que,	 dos	 processos	 levados	 a	 termo,	 só	 foram	
conde	nados	à	pena	de	morte	5%	dos	acusados.	Tristes	foram,	tam-
bém,	as	acusações	contra	centenas	de	milhares	de	mulheres,	acu-
sadas	inocentemente	de	bruxaria,	em	vários	países	da	Europa.
A	 Inquisição	 instalou-se	 tam	bém	na	Espanha,	em	1480,	e	
em	Portugal,	em	1540.	Calcula-se	que	nesses	dois	países	houve	
mais	de	30	mil	hereges	queimados.	Gran	de	parte	dos	persegui-
dos	e	con	de	nados	era	de	judeus	(conhe	cidos	como	cristãos-no-
vos)	e	mu	çul		manos,	às	vezes	convertidos	forçadamente	ao	Cris-
tianismo.	
Todavia,	 segundo	 os	 inquisidores,	 continuavam	praticando	
suas	 antigas	 religiões.	 A	 Inquisição	 foi	 abolida	 em	 Portugal,	 em	
1821,	e,	na	Espanha,	em	1834.
Por	meio	de	Portugal,	a	Inquisição	chegou	também	ao	Brasil.	
Aqui,	"o	Santo	Ofício	nunca	instalou	um	tribunal	permanente;	mas	
sua	ação	se	exerceu	através	dos	visitadores":
•	 Hei	tor	Furta	do	de	Men		don	ça,	entre	1591	e	1595.
•	 Mar	cos	Tei	xeira,	en	tre	1618	e	1619.	
Entretanto,	 eram	 dele	gados	 po	deres	 aos	 bis		pos	 para	 efe-
tuarem	pri	sões,	con	fiscar	bens	e	en	viar	pa	ra	Lis	boa	os	pri	sio	nei	ros	
a	se	rem	jul	gados.
253© O Auge e a Crise da Cristandade A Inquisição A Transição Entre a Idade Média e a Idade Moderna
A	Ba	hia	foi	o	palco	das	inquisi	ções	mais	inten	sas.	De	1591	a	
1624,	foram	pro	ces	sa	dos	ali	245	cris	tãos-no	vos	acu	sa	dos	de	judai-
zantes.	Em	1646,	mais	de	cem	conde	nações	foram	feitas;	no	auto-
de-fé	[cerimônia	na	qual	se	anunciavam	as	sentenças	da	Inquisição	
às	vítimas]	de	1711,	52	brasi	lei	ros	foram	justiçados.	O	último	bra-
si		leiro	condenado	à	morte	pela	Inquisição	mor	reu	em	Lis	boa,	no	
au	to-de-fé	de	1748	(SCHLENSIGER,	1995).
A	Inquisição	foi	extinta	pela	Igreja	em	1908,	quando	passou	
a	 se	 chamar	 Con	gre	gação	 do	 San	to	Ofício.	 Ho	je,	 é	 denominada	
Con	gre	gação	para	a	Doutrina	da	Fé,	cujo	obje	tivo	é	zelar	pela	in-
tegridade	da	doutrina	cristã,	sem	os	apelativos	intolerantes	da	In-
quisição.
Entre	as	con		de	nações	da	Inquisição	mais	co	nhe	cidas,	pode-
mos	men		cio	nar:	
1)	 Joana	D’Arc	(1412-1431).
2)	 Nicolau	Co	pér		nico	(1473-1543).	
3)	 Giordano	Bru	no	(1548-1600).	
4)	 Ga	lileu	Galilei	(1564-1642).
Fruto	da	es	tru		tu			ra	inquisi	torial	também	foi	o	Ín	dice	dos	Li-
vros	Proi		bi	dos,	arti	fício	uti			liza	do	pela	Igre			ja,	a	partir	do	século	16,	
para	con		de	nar	todas	as	o	bras	que	não	es	ta	vam	de	a	cor	do	com	a	
dou	trina	e	práti	ca	eclesiais.	A	primeira	edição	ocorreu	no	ano	de	
1559,	após	o	Concílio	de	Trento.	A	Congre	gação	do	Índice	foi	criada	
por	Pio	V,	em	1571.	O	último	Índice	foi	editado	em	1948	e	o	Con-
cílio	Va	ti		cano	II	não	o	editou	mais.	Entre	os	autores	conde	nados	
pelo	Índice,	ci	ta		mos:	
1)	 Francis	Ba	con.
2)	 Victor	Hu	go.	
3)	 Emmanuel	Kant.
4)	 Jo	hn	Locke.
5)	 Pas		cal.
6)	 Jean	Jacques	Rous	seau.
7)	 Vol	taire.
© História da Igreja Antiga e Medieval254
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
8)	 Be	ne	dito	Spino	za.
9)	 René	Des	car		tes.
10)	Ernest	Re	nan	etc.
A	Inquisição	precisa	ser	entendida	a	partir	do	contexto	em	
que	ela	surgiu	e	se	expandiu.	A	Igreja	reconheceu	os	erros	e	exces-
sos	da	Inquisição	e	deseja	que	não	haja	mais	atentados	contra	a	
vida	humana	por	causa	de	assuntos	religiosos.
O	aspecto	mais	nefasto	da	prática	inquisitorial,	justificada	no	início	
pela	periculosidade	não	só	religiosa,	mas	também	social	de	certos	
hereges	–	como	os	cátaros	ou	albigenses-,	foi	o	de	ter	implantado	
de	maneira	cada	vez	mais	decidida	e	indiscriminada	a	luta	contra	a	
dissidência,	que	se	tornou	perseguição	contra	qualquer	ideologia	
diferente	e	intolerância	em	relação	ao	legítimo	pluralismo	ideológi-
co	(PIERINI,	1998,	p.	117).
Não	po	demos	concor	dar	com	os	atos	da	Inquisição,	pois	foram	um	
contra-teste	munho	dian	te	das	verda	des	evangélicas.	To	da	via,	precisa-
mos	com	preen	dê-la	dentro	do	seu	con	texto.	A	Igre	ja	aprendeu	muito,	
pois	das	atitu	des	ambíguas	e	erradas,	podemos	tirar	lições	para	a	vida.	
9. TRANSIÇÃO ENTRE IDADE MÉDIA E IDADE MODERNA
Mundo moderno e o Humanismo
Esta	fase	foi	uma	das	mais	difíceis	para	a	Igreja,	pois	o	mundo	
medieval,	marcado	por	uma	fé	teocêntrica,	que	criou	o	chamado	
"Sistema	de	Cristandade", entrou	em	crise.	Foi	o	início	da	chamada	
Idade	Mo	derna	ou	Nova.
Cronologi	camen	te,	esta	fase	se	situa	no	século	14	(crise	da	
Igreja	e	declínio	do	poder	temporal	do	Papado)	e	se	estende	até	o	
século	18	(Revo	lução	Francesa	e	a	crise	das	monarquias).	
O Mundo da Baixa Idade Média (1250-1500 apr.)
O	período	que	vai	do	fim	do	século	13	até	inícios	do	século	
16	se	apresenta	com	muitas	novidades	no	contexto	da	sociedade	
europeia	medieval:			
255© O Auge e a Crise da Cristandade A Inquisição A Transição Entre a Idade Média e a Idade Moderna
É	um	mundo	em	crescimento	e	expansão	o	que	se	apresenta	na	
metade	do	século	XIII,	em	quase	todos	os	continentes	da	terra,	mas	
de	modo	especial	na	Europa:	crescimento	econômico	e	demográ-
fico;	 expansão	geográfica.	A	população	mundial	 –	que	dos	 cerca	
de	190	milhões	por	volta	do	ano	500	d.C.,	havia	crescido	para	265	
milhões	no	ano	1000,	para	320	milhões	no	ano	1100	e	360	milhões	
no	ano	1200-	consegue	manter-se	estável	por	mais	de	um	século,	
descendo	um	pouco	(para	350	milhões)	em	1400,	para	voltar	a	su-
bir	em	seguida	e	chegar	a	545	milhões	em	1500	e	a	610	milhões	
em	1700.	A	queda	demográfica	verificada	na	metade	do	século	XIV	
é	particularmente	evidente	na	Europa,	após	a	epidemia	da	"peste	
negra"	de	1247-1250:	a	população	européia,	que	passara	dos	36	
milhões	no	ano	1000	para	45	milhões	em	1100,	para	60	milhões	
em	1200,	chegando	aos	80	milhões	em	1300,	cai	de	novo	para	60	
milhões,	para	depois	voltar	aos	80	milhões	em	1500,	a	100	milhões	
em	1600	e	a	120	milhões	em	1700.	Até	a	duração	média	da	vida	
cresceu,	na	Europa:	dos	25	anos,	do	século	IV	d.C.,	passou	para	os	
35	anos	entre	1200	e	1300.	Embora	a	"baixa	Idade	Média"	possa	
ser	considerada	uma	época	de	crise,	em	relação	aos	dois	séculos	
anteriores,	e,	as	conjunturas	desfavoráveis	se	renovem	com	freqü-
ência,	por	causa	das	guerras	quase	contínuas,	das	epidemias	recor-
rentes,	da	ameaça	das	carestias,	no	quadro	global	da	evolução	his-
tórica	trata-se	mais	de	uma	crise	de	crescimento	e	de	adaptação:	
de	fato,	é	nesses	séculos	que	se	delineia	cada	vez	mais	claramente	
a	fisionomia	do	mundo	moderno,	em	razão,	sobretudo,	do	segundo	
elemento	decisivo,	a	expansão	geográfica.
As	grandes	descobertas,	nesse	campo,	estimuladas	por	fatores	eco-
nômicos	 e	 demográficos,	 acham-se	 condicionadas	 pelas	 últimas	
grandes	movimentações	de	povos	da	idade	medieval:	o	islamismo,	
em	 retirada	da	península	 ibérica,	 vai,	 porém,	avançando	na	Ásia	
Menor	e	nos	Balcãs,	pelo	interior	da	África	e	da	Sibéria	e	na	direção	
da	Índia	e	da	Indonésia,	fechando	assim	a	passagem	dos	europeus	
para	o	Sul;	os	mongóis,	por	outro	lado,	islamizados	ou	em	via	de	is-
lamização,	fecham	a	passagem	para	o	Leste.	Aos	europeus	só	resta	
o	caminho	a	Oeste,	chegando	aos	mercados	da	Ásia	circunavegan-
do	a	África	ou	 inclusive	atravessando	 todo	o	Oceano,	para	 lá	do	
estreito	de	Gibraltar,	a	fim	de	chegar	ao	Japão	e	à	China.	
No	que	se	refere	à	África,	já	em	1269	começam	as	infiltraçõespor-
tuguesas	no	Marrocos,	que	levarão	muito	mais	tarde,	em	1415,	à	
conquista	 de	Ceuta,	 primeira	 possessão	 européia	 do	 continente.	
Mas	em	1291	 são	dois	 irmãos	genoveses,	Hugolino	e	Vadino	Vi-
valdi,	 que	 ultrapassam	por	 primeiro	 o	 estreito	 de	Gibraltar	 para	
chegar	 às	 Índias	 circunavegando	 a	 África;	 não	 retornam,	 porém	
[...]	em	1497	Bartolomeu	Dias	alcança	a	ponta	extrema	da	África,	
ou	seja,	o	atual	Cabo	da	Boa	Esperança.	Vasco	da	Gama,	por	sua	
vez,	supera-o,	adentrando-se	pelo	oceano	Índico	e,	a	18	de	maio	de	
© História da Igreja Antiga e Medieval256
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
1498,	aporta	em	Calicut,	na	Índia.	Enquanto	isso,	entram	na	disputa	
também	os	espanhóis,	promotores	da	viagem	do	genovês	Cristó-
vão	Colombo:	tendo	partido	de	Palos	no	dia	3	de	agosto	de	1492,	
ele	chega	a	o	novo	mundo,	do	outro	lado	do	Atlântico,	no	dia	12	de	
outubro.	O	bloqueio	fora	rompido,	o	mundo	está	aberto	(PIERINI,	
1998,	p.	146-148).
E	 foi	neste	contexto	de	tantas	mudanças	em	todos	os	seg-
mentos	da	sociedade	ocidental,	principalmente,	que	o	Cristianis-
mo	viveu	um	grande	processo	de	mudanças,	pois	a	passagem	de	
uma	sociedade	medieval	agrária	e	feudal	para	uma	sociedade	mo-
derna	urbana	não	foi	tão	simples	e	afetou	toda	a	sociedade.	Como	
o	Cristianismo	se	solidificou	e	construiu	sua	identidade	a	partir	da	
Cristandade	medieval,	é	claro	que	teria	muitas	dificuldades	para	
aceitar	e	assumir	o	novo	modelo	de	sociedade.	As	tentativas	de	
diálogo	com	este	novo	modelo	foram	difíceis	e	podemos	dizer	que	
continuam	ainda	hoje,	com	grande	destaque	para	o	processo	ini-
ciado	com	o	Concílio	Vaticano	II,	a	partir	de	1962.
A Igreja no fim da Idade Média
Para	enten			der	o	que	acon	teceu	com	a	Igreja,	na	Idade	Mo-
derna,	é	bom	recordar	al	guns	aspectos	da	vida	eclesial,	na	transi-
ção	en	tre	o	fim	da	Idade	Média	e	o	início	da	Mo		derna.	
O	período	do	"apogeu	do	papado"	(sécu	los	12-13),	marcado	
pela	hierocracia	e	pelo	teocen trismo,	tão	evidentes	nas	Cruzadas	
e	na	Inquisição,	foi	de	clinando	no	fim	do	século	13.	
 Hierocracia: o poder eclesial se so bre punha ao civil.
 Teocen trismo: Deus era o centro de toda a vida social.
Bonifácio	VIII	ainda	tentou,	sem	sucesso,	reconquistar	poder	
e	influência,	cada	vez	mais	amea	çados.	Nesse	período,	destacaram-
se	dois	as	pec	tos	da	vida	eclesial	que	me	recem	ser	considerados,	
embora	sintetica	mente:	a	espi	ritualidade	e	a	Ciên	cia	Escolás	tica.
257© O Auge e a Crise da Cristandade A Inquisição A Transição Entre a Idade Média e a Idade Moderna
Espiritualidade 
As	heresias	medievais	 (cata	rismo,	 valdenses,	 fraticelli	 etc.)	
questionaram	 as	 estruturas	 eclesiais	 e	 sociais	 e	 os	 sacra	mentos	
cristãos.	Isso	fez	com	que	a	Igreja	refletisse	sobre	esse	assunto	e,	
aos	poucos,	sistematizasse	a	"teolo	gia	dos	sacramentos",	até	defi-
ni-los	em	sete,	no	Concílio	de	Trento,	no	século	16.	
As	de	voções	for		tale	ceram-se	e	se	ex		pan		diram	em	tor	no	do	
"Cristo	ho	mem,	crucifi	cado	e	misericor	dioso"	e	também	nas	de	vo	-
ções	à	Virgem	Maria	e	no	culto	aos	san	tos	(apesar	do	comércio	de	
relíquias	e	do	cres		ci	men	to	das	supers	tições).	Surgiram	iniciativas	
de	be	neficência	e	caridade.	
Ao	mesmo	 tempo	 em	 que	 se	 desenvolvia	 a	Ciência Esco-
lástica,	foi-se	fortalecendo	a	Mística,	a	qual tinha	por	objetivo	le-
var	o	cristão	a	se	aprofundar	nas	verdades	revela	das	por	meio	da	
"contem	plação	interior".	Assim,	se	a	Escolástica	estudava	a	fé	por	
meio	da	dialética,	a	Mística	estudava	a	fé	por	meio	da	contempla-
ção.	Nos	séculos	12-14	surgiram	grandes	místicos,	como:
1)	 Bernardo	de	Claraval.	
2)	 Hugo	de	São	Vítor.	
3)	 Mestre	Eckart.
4)	 João	Tauler.
5)	 Henrique	Suso.
6)	 João	Ruisbroeck.
7)	 Santa	Hildegarda	de	Bingen.
8)	 Santa	Catarina	de	Sena.
9)	 Santa	Gertrudes	a	Grande.
10)	Santa	Ângela	de	Foligno	etc.
Ciência Escolástica (séculos 11-14) 
Com	o	surgimento	da	cultura	burguesa,	aos	poucos	foram	funda-
das	as	universi	dades	em	várias	cidades	do	Ocidente	cristão,	quase	sem-
pre,	nas	mãos	do	clero	e	das	ordens	religiosas.	Nelas,	havia	um	grande	
espaço	para	os	estudos	teológicos	e	filosóficos,	o	que	não	tinha	ocorri-
© História da Igreja Antiga e Medieval258
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
do	durante	a	Idade	Média.	Assim,	a	partir	do	século	11,	surgiu	a	"Ciência	
Escolástica",	grande	tendência	do	pensamento	desse	período,	conside-
rada	pelos	huma	nistas	como	ciência	das	vacuida	des,	sofisterias	e	ques-
tões	abstra	tas,	mas	que	permanece	viva	até	hoje,	pois	criou	um	sistema	
de	pensamento	não	superado.	As	ca	rac	terísticas	principais	são:	
•	 relação	especial	entre	a	Filosofia	e	a	Teolo	gia;	
•	 dependência	 da	 filosofia	 aris	to	télica	 e	 métodos	 lógico-
dedutivo	e	dialético.	
A	Escolástica	divide-se	em	três	períodos:
1)	 Escolástica primitiva: 
•	 Santo	Anselmo	(creio	para	entender);	
•	 Pedro	Abelardo	etc.
2)	 Apogeu (época das "sumas" ou grandes sínteses):	
•	 	Alexandre	Hales;	
•	 	Alberto	Mag	no;	
•	 	Boaventura;	
•	 	Tomás	de	Aquino	(o	príncipe	dos	escolásticos,	com	as	
Summa	Theologica,	Summa	contra	gentiles	etc.).
3)	 Escolástica tardia (declínio):	
•	 	Duns	Escoto	(opôs-se	ao	tomis	mo	e	acentuou	a	ativi-
dade	humana	ante	a	graça	divina).	
•	 	Guilherme	de	Ockam	(separou	a	fé	da	razão:	pro	vo-
cou	a	queda	da	influência	da	Teologia,	foi	um	dos	pre-
cursores	da	reforma	protestante).
Além	disso,	é	preciso	consi	derar	as	mudanças	econômicas,	po-
líticas,	sociais	e	religiosas	que	aconteciam	diante	da	crise	e	de	clínio	
do	sistema	feudal	medieval,	marcado	pelo	fechamento	e	restri	ção	
da	vida	social	em	torno	das	es	truturas	agrária	e	rural;	o	surgi	men	to	
da	cultura	burguesa,	centra	da	nas	cidades	que	cresciam	em	torno	
de	um	incipiente	pro	ces	so	de	desenvolvimento	das	manufaturas	e	
indústria;	e	a	ascen	são	de	uma	nova	classe,	a	burgue	sia,	que	já	não	
aceitava	o	poder	centralizador	dos	reis	e	nobres.
259© O Auge e a Crise da Cristandade A Inquisição A Transição Entre a Idade Média e a Idade Moderna
Nesse	con	texto	de	supera	ção	das	estrutu	ras	me	dievais,	de	
crise	do	feu	da		lis	mo	e	surgi	mento	da	cultu	ra	bur	gue	sa	e	urbana,	é	
que	se	iniciou	uma	no	va	fase	da	his	tória	chama	da	de	Ida	de	Moder-
na	ou	Nova.	Nesse	pe	ríodo,	a	vida	da	Igreja	foi	marcada	por	duas	
situações	distintas	e	bem	definidas:
1)	 Por	um	 lado,	a	 Igreja	hierár	quica	 (papas,	bispos	e	alto	
clero)	viveu	uma	crise	sem	precedentes,	marcada	pela	
ten	tativa	de	manu	tenção	das	estru	turas	do	poder,	con-
seguido	na	Idade	Média,	e	pela	corrupção	e	imoralida-
des	de	muitos	de	seus	membros.
2)	 Por	 outro,	 houve	 vários	 se	tores	 da	 base	 eclesial	 que,	
diante	da	decadência	e	da	corrupção,	propuseram	uma	
reno	vação	e	promoveram	várias	ten	tativas	de	reformas	
na	estrutura	da	Igreja.
A	partir	do	 século	14,	 com	o	desenvolvimento	do	método	
em	pírico	 e	 racionalista,	 protagoni	zado	 pelo	 Humanismo	 e	 pelas	
novas	 tendências	 modernas,	 a	 Ciência	 Es	colástica	 não	 morreu,	
mas	perma	neceu	relegada	e	circunscrita	ao	espaço	eclesiástico.	
Nesse	 novo	 "mundo	moderno"	 que	 se	 estruturava,	 as	mu-
danças	ocor	reram	com	base	no	Humanismo,	provocando	gran	des	
transfor	mações	sociais,	cultu	rais,	políticas,	econômicas	e	religiosas.	
Movimento humanista 
A	situação	da	Igreja	na	Idade	Moderna	foi	muito	difícil,	pois	
o	mundo	medieval,	marcado	por	uma	fé	teocêntrica	(Deus	e	Igreja	
no	centro	de	tudo),	e	que	originou	o	Sistema	de	Cristandade, en-
trou	em	crise.	A	Idade	Mo	derna	ou	Nova,	cronologi	camen	te,	situa-
se	do	começo	do	século	14,	e	estendeu-se	até	o	fim	do	século	18	
(Revo	lução	Francesa	e	a	crise	das	monarquias).
A	Europa	está	passando	por	grandes	mudanças.	Um	aspecto	
importante	a	se	ressaltar	foi	a	expansão	das	universidades:	
As	 crises	 de	 crescimento	 típicas	 do	 período	 1250-1500,	 embora	
agravadas	pelos	mais	diversos	 	 fatores	 (climáticos,	 higiênicos,	 re-
ligiosos,	ambientais,	econômicos,	demográficos,	sociais,	políticos),	
© História da Igreja Antiga e Medieval260
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃOchegam	em	muitos	casos	a	resultados	concretos	de	grande	impor-
tância,	com	a	constituição	de	organizações	nacionais,	estatais,	que	
mais	 ou	menos	 respondem	 às	 exigências	 regionais.	 E	 todo	 esse	
conjunto	de	fenômenos	vai	se	desenvolvendo	às	vésperas	das	gran-
des	descobertas	geográficas,	dos	grandes	encontros	e	desencon-
tros	intercontinentais,	que	levarão	ao	mundo	"aldeia	global"		e	aos	
seus	respectivos	problemas.	Mas	o	período	histórico	de	1250-1500	
traz	consigo,	no	campo	especificamente	cultural,	algumas	conquis-
tas	igualmente	decisivas,	importantes	e	significativas:	difunde-se	a	
alfabetização	nos	continentes	que	estão	na	vanguarda,	ou	seja,	na	
Europa	e	na	Ásia;	o	crescimento	quantitativo,	embora	nem	sempre	
qualitativo,	 das	 instituições	 educacionais	 superiores	 (universitá-
rias);	o	 impulso	a	uma	consciência	histórica	e	 filosófica,	median-
te	os	movimentos	humanista	e	renascentista,	partindo	da	Itália	e	
alcançando	a	Europa	e	o	mundo	inteiro;	a	descoberta	e	utilização	
cada	vez	mais	ampla,	a	partir	da	metade	do	século	XV,	de	um	novo	
instrumento	de	comunicação	social:	a	imprensa.	São	aquisições	de	
alcance	potencialmente	universal,	às	quais	seria	preciso	acrescen-
tar	as	novas	técnicas	de	navegação	e,	infelizmente,	também	as	no-
vas	técnicas	bélicas,	como	a	artilharia	e	a	pólvora	de	disparo	[...].	
Enquanto	o	resto	do	mundo	aponta	responde	às	crises	apontando	
para	a	herança	antiga	"conservada",	o	mundo	europeu	reage	ape-
lando	também	para	o	antigo,	mas	"revivido",	"renovado",	com	sen-
tido	cada	vez	mais	histórico-crítico:	um	historicismo	aplicado	aos	
textos	que	se	desenvolverá	gradualmente	junto	com	o	empirismo	
aplicado	aos	fenômenos	naturais.	Humanismo,	naturalismo:	são	as	
duas	idéias-guia	que	mil	anos	de	Idade	Média	transmitirão	às	ida-
des	moderna	e	contemporânea	(PIERINI,	1998,	p.	153-154).
E	foi	neste	contexto	que	o	Humanismo	surgiu,	questionando	
as	bases	da	Idade	Média,	tentando	recuperar	as	forças	dos	clássi-
cos	anteriores	a	ela	e	lançando	as	bases	para	o	pensamento	racio-
nalista	moderno,	com	grandes	conflitos	com	as	estruturas	eclesi-
ásticas,	que	não	estavam	preparadas	para	as	novas	propostas	que	
emergem	nesta	época.	
Informação ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O começo do século 14 é marcado pela crise da Igreja e o declínio do poder 
temporal do Papado, com o Exílio de Avinhão.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Desse	modo,	o	Humanismo	é	definido	co	mo:
[...]	 doutrina	 ou	 ati	tu	de	 que	 se	 ori	en	ta	 expressa	mente	 por	 uma	
perspectiva	antropocêntrica.	Afirma	ser	o	homem	o	criador	dos	va-
261© O Auge e a Crise da Cristandade A Inquisição A Transição Entre a Idade Média e a Idade Moderna
lores	morais,	que	se	definem	a	partir	das	exigências	concretas	da	
vida.	Designa	também	o	mo		vi	mento	filosófico	e	artístico	originado	
na	Itália,	no	século	XIV,	que	constitui	o	ponto	de	partida	da	cultura	
moderna.	Em	ambas	as	vertentes,	reconhece-se	o	seguinte:	a	to	ta-
lidade	do	homem,	a	sua	historicidade,	a	sua	naturalidade	e	o	valor	
humano	das	artes	clássicas	(SCHLESINGER,	H.;	PORTO	H.	Dicionário 
enciclopédico das religiões.	1995.	v.	1,	verbete	Humanismo).	
O	movimento	huma	nista	provocou	a	superação	da	concep-
ção	teocên	trica	medieval,	a	qual	tem	Deus	como	o	centro	do	uni-
verso	pela	concepção	an	tropocên	trica	que	faz	do	homem	o	ponto	
de	convergência.	
No	entanto,	o	humanista	não	é	um	ateu	ou	indiferente	em	
matéria	religiosa:	"acredita	no	homem,	sem,	entretanto,	endossar	
espiritualmente	o	paganismo,	sem	deixar	de	amar	a	Deus;	procura	
tam		bém	amar	a	vida	e	a	beleza,	 traços	 típicos	da	cultura	greco-
latina."	(AMARAL,	1990).	
O	Humanismo	nasceu	na	Itália,	com	base	na	obra	de	Petrar-
ca	(1304-1374),	e	teve	grandes	representantes	em	vários	países,	
além	da	Itália:	
1)	 Lourenço,	o	Magnífico,	de	Florença.	
2)	 Eras	mo	de	Roterdã,	na	Holanda.	
3)	 Lefèvre	 d'Éta	ples,	 Guil	laume	 Budé,	 Ra	bellais	 e	 Mon-
taigne,	na	França.	
4)	 Thomas	Morus,	na	Inglaterra.	
5)	 Luís	de	Camões,	em	Portugal.	
6)	 Miguel	de	Cervantes,	na	Espanha	e	muitos	outros.	
No	fim	do	século	16,	o	mo	vimento	humanista	entrou	nu	ma	
fase	de	declínio.	
A	partir	do	século	18,	assumiu	uma	postura	mais	científica	e	
humani	tarista	influenciada	pelas	tendências	iluministas,	baseadas	
no	em	pirismo	inglês	e	no	racio	nalismo.	Posteriormente,	provocou	
o	surgi	men	to	da	Re	volução	Fran	cesa	e	a	consequente	separação	
entre	a	Igreja	e	o	Estado.	Co	mo	resultados	do	racionalismo	empí-
rico,	surgiram	as	tendências	filosóficas	que,	mediante	críticas	ao	
© História da Igreja Antiga e Medieval262
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clero	e	à	Igreja,	chegaram	a	afirmar	que	Deus	não	existe,	ou	seja,	
preconizaram	a	chamada	teologia	da	"morte	de	Deus".		
O	movimento	huma	nista	aos	poucos	provocou	grandes	mudan-
ças.	Antes	de	tudo,	temos	de	afirmar	que	foi	fortalecendo	a	cultura	bur-
gue	sa	 e	 urbana.	 Suas	 tendências	 democráticas	 fortaleceram-se	 com	
base	no	ques	tio	na	men	to	das	estruturas	eclesiais	do	"Sistema	de	Cris-
tandade",	que	foi	se	declinando.	
Esta	mudança	fez	com	que	as	cidades	cres	cessem	e	que	seus	
habitantes	fossem	mais	politi	zados	e	passassem	a	ques	tionar	as	es-
truturas	de	poder.	Assim,	surgiram	os	primeiros	ques	tionamentos	
aos	imperadores,	pois	os	grandes	impérios	deviam	ceder	espaço	
aos	interesses	nacionais	e	regionais.	
O	desenvolvimento	de	novas	técnicas	abriu	espaço	para	as	
navegações.	De	modo	especial,	Portugal	e	Espanha	 fizeram	com	
que	o	orbe	terrestre	fosse	compreendido	mediante	uma	nova	vi-
são	geográfica.	
A	"cultura	burguesa"	foi,	paula	tinamente,	disso	ciando-se	da	
Igreja	e	com	isto	teve-se	o	surgimento	da	"cul	tura	laicista",	ou	seja,	
a	formação	de	um	novo	modo	de	organizar	a	vida	social	que	teria	
como	critério,	primeiramente,	não	mais	a	religião	e	a	Igreja,	mas	
sim	os	interesses	do	homem,	temporais	e	seculares.	
No	campo	econômico,	 com	as	novas	 técnicas	e,	posterior-
mente,	 novas	 descobertas,	 houve	 um	 grande	 desenvolvimento	
das	estruturas	comerciais	e,	aos	poucos,	uma	 incipiente	descen-
tralização	de	seu	poder.	
Podemos	afirmar,	portanto,	que	o	Humanismo	foi	um	movi-
mento	importante	para	a	história	da	humanidade,	pois	recuperou	
e	reforçou	o	espaço	e	a	importância	do	"homem"	na	vida	do	mun-
do	 e,	 ao	mesmo	 tempo,	 provocou	mudanças	 que	 influenciaram	
muito	a	vida	da	Igreja.	
Em	 termos	 religiosos,	 inicialmente,	 este	 movimento	 teve	
uma	visão	antieclesial	e	anticlerical;	e	posteriormente,	no	século	
263© O Auge e a Crise da Cristandade A Inquisição A Transição Entre a Idade Média e a Idade Moderna
18,	assumiu	uma	postura	antirreligiosa,	influenciada	pelas	tendên-
cias	racio	nalistas	e	iluministas.
10. CRISE DA CRISTANDADE E MOVIMENTOS 
PRÉ-LUTERANOS 
Crises da Igreja e da hierarquia na Idade Moderna
O	mundo	medieval,	marcado	pelo	teocentrismo	e	pelo	Sis-
tema	de	Cristandade, entrara	em	crise,	advindo	a	Idade	Moderna	
como	um	dos	períodos	mais	difíceis	para	a	história	da	Igreja.	
Essa	época	iniciou-se	no	século	14,	com	a	crise	da	Igreja	e	a	
diminuição	do	poder	temporal	do	Papa	do	(Exílio	de	Avi	nhão,	Cis-
ma	do	Ocidente	e	Papado	do	Renas	cimento)	e	estendeu-se	até	o	
término	do	século	18	com	a	Revolução	Francesa	e	a	crise	das	mo-
narquias.	
O	movimento	humanista	provocou	grandes	mudanças	na	so-
ciedade	e	na	Igreja.	As	culturas	burguesa	e	urbana	fortaleceram-se,	
com	tendências	democráticas,	mediante	grande	questionamento	
das	estruturas	eclesiais.	O	sistema	de	Cristandade	declinou	com	a	
queda	das	autoridades	eclesial	e	papal.
A	crise	teve	raízes	também	nas	mudanças	econômicas,	po-
líticas	e	sociais.	O	sistema	feudal,	que	mantivera	a	vida	social	fe-
chada	e	restrita	à	estrutura	agrária,	esvaziou-se	diante	da	cultura	
burguesa,	centrada	nas	cidades.	Nestas,	a	manufatura	e	a	indústria	
cresceram,	provocando	na	nova	classe	um	surto	de	independência	
em	relação	ao	poder	centralizador	dos	reis,	nobres	e	papas.
Exílio de Avinhão (1308-1378)
O	Papa	Bonifácio	VIII	(1294-1303),	numatentativa	de	forta-
lecer	o	poder	eclesial,	entrou	em	atrito	com	o	rei	francês,	Filipe,	o	
Belo.	Na	época,	a	França	superara	a	Alemanha,	tornando-se	a	de-
tentora	do	poder	político	europeu.	Com	a	morte	de	Bonifácio,	no	
© História da Igreja Antiga e Medieval264
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exílio,	seguiu-se	uma	grande	crise	eclesial,	pois	a	nobreza	romana	
queria	se	ver	livre	da	interferência	papal	na	Itália.	
O	 papa	 Bento	 XI	 (1303-1304)	 não	 conseguiu	 superar	 essa	
crise.	Seu	sucessor,	Clemente	V	(1305-1314),	tinha	sido	arcebispo	
de	Bordeaux	e	estivera	ausente	do	conclave	que	o	elegera,	com	
medo	dos	romanos.	Por	causa	disso,	fixou	residência	em Avinhão, 
em	1309,	onde	os	papas	permaneceram	até	1377.	Seu	pontificado	
foi	muito	submisso	ao	rei	francês	Filipe,	o	Belo,	que	usou	a	Igreja	
para	combater	seus	inimigos.	Assim,	difamou	a	memória	do	Papa	
Bonifácio	VIII	e,	num	processo	vergonhoso,	obrigou-o	a	suprimir	a	
Ordem	dos	Cavaleiros	Templários.
Desse	modo,	as	consequências	do	exílio	de	Avinhão	foram	
muito	negativas:
1)	 decadência	dentro	da	Igreja	e	o	afrancesamento	da	Santa	
Sé;	
2)	 enfraquecimento	 externo	 dos	 papas,	 pois	 passaram	 a	
ser	considerados	como	chefes	políticos	da	França	e	não	
como	pastores	da	Cristandade;	
3)	 abuso	das	sanções	eclesiásticas	que	geraram	aversão	e	
medo	da	Igreja	diante	dos	sistemas	de	fiscalização	da	cú-
ria	de	Avinhão;	
4)	 aumento	do	nepotismo,	ou	seja,	crescimento	da	autori-
dade	que	os	parentes	do	papa	exerciam	na	administra-
ção	eclesiástica.	
Sobre este tempo do exílio, que ficou também conhecido como o 
"cativeiro da Babilônia", Del Roio diz:
Seria	injusto	concluir	que,	durante	esses	anos,	os	papas	se	constitu-
íram	em	simples	peças	da	política	francesa,	mas	é	indubitável	que	
o	papado	perdeu	em	prestígio	e	peso	político.	Seus	anátemas	e	ex-
comunhões	podiam	ser	fatais	para	um	estudioso	ou	para	um	frade	
que	se	entregasse	a	alguma	heresia,	mas	certamente	seriam	rece-
bidos	com	desprezo	pelos	poderosos.	Os	alicerces	de	seu	poder,	os	
senhores	feudais	e	as	ordens	militares	e	monásticas	debilitavam-se,	
ao	passo	que,	por	outro	 lado,	eles	se	recusavam	a	aceitar	os	no-
vos	movimentos,	dos	quais	poderiam	retirar	novas	energias.	Não	
se	dispunham	a	transformações	tão	profundas.	E	tais	movimentos	
existiam,	concentrados	no	impulso	de	esperança	despertado	entre	
o	povo	pelo	joaquimismo,	nas	novas	ordens	dedicadas	à	pobreza,	
265© O Auge e a Crise da Cristandade A Inquisição A Transição Entre a Idade Média e a Idade Moderna
nos	intelectuais	saídos	das	universidades	e	empenhados	na	cons-
trução	de	uma	Igreja	democratizada	e	apta	para	enfrentar	os	tem-
pos	modernos	que	se	anunciavam.	A	tudo	isso	os	papas	fechavam	
ouvidos	e	olhos	(1997,	p.	103-104).
É	 importante	 recordar	que	neste	período	do	Exílio	de	Avi-
nhão	ocorreu	a	grande	 ´peste	bubônica´,	a	qual	 ficou	conhecida	
também	como	a	peste	negra,	que	matou	milhões	de	pessoas	na	
Europa,	um	terço	da	população,	segundo	alguns.	Isso	levou	muitas	
pessoas	a	se	penitenciarem	e	a	buscar	a	reconciliação	com	Deus	
e	ocorreu	inclusive,	um	ano	jubilar	cristão	em	1350.	Mas	os	pro-
blemas	 eclesiais	 não	 foram	 solucionadas;	 pior	 ainda,	 cresceram	
muito.
Cisma do Ocidente (1378-1417)
O	Cisma	do	Ocidente	 foi	o	período	em	que,	por	 inúmeros	
problemas,	 a	 Igreja	 teve,	 simultaneamente,	 dois	 ou	 três	 papas.	
Diante	dos	des	mandos	e	da	indignidade	de	muitos	papas,	foi	cres-
cendo	nos	meios	eclesiásticos	a	teoria	con	ciliarista.	Vale	ressaltar	
que	este	Cisma	não	nasceu	de	uma	heresia	ou	de	algum	erro	teo-
lógico,	mas	sim	da	dúvida	que	existiu	a	respeito	de	quem	seria	o	
verdadeiro	papa.
Conciliarismo: doutrina moderna surgida no século 14 que afirma-
va ser o concílio ecumênico superior ao papa, inclusive, com poder 
para depor este.
Papas simultâneos 
O	papa	Gregório	XI	foi	o	último	papa	de	Avinhão	e	morreu	logo	
depois	de	chegar	a	Roma.	Mas	a	influência	dos	reis	franceses	era	mui-
to	grande	em	função	do	grande	número	de	cardeais	franceses.	Neste	
contexto,	foi	eleito	o	papa	Urbano	VI	(1378-1389).	Sua	eleição	foi	du-
vidosa,	segundo	alguns,	pois	houve	muita	pressão	no	conclave	para	
que	se	elegesse	um	papa	italiano	e	não	um	francês.	O	papa	era	um	
homem	piedoso	e	reformador,	mas	orgulhoso,	áspero	e	imprudente,	
© História da Igreja Antiga e Medieval266
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
e	ameaçou	criar	mais	cardeais	italianos	para	fazer	frente	aos	france-
ses. Isso	tudo	fez	com	que	ele	se	voltasse	contra	muitos	cardeais	que	
se	afastaram	dele	e	elegesse	outro	papa,	mais	próximo	dos	interes-
ses	franceses:	Clemente	VII	(1378-1394),	que	se	instalou	em	Avinhão.	
Cada	papa	teve	apoio	de	várias	nações.	O	Cisma	durou	37	anos.
Tentativas de solução 
Houve	 várias	 tentativas	 de	 se	 solucionar	 o	 Cisma,	 todas	
em	vão.	O	Concílio	de	Pisa,	 convocado	em	1409	para	 resolver	a	
questão,	não	conseguiu	depor	os	dois	papas	e	elegeu	um	terceiro,	
Alexandre	V	(1409-1410),	conciliador	que	poderia	ter	resolvido	a	
questão,	mas	morreu	logo	em	seguida.	Alexandre	V	foi	sucedido	
por	João	XXIII,	totalmente	indigno	e	mundano.	
Um só papa novamente 
Somente	no	ano	de	1414	foi	solucionada	a	questão,	no	Concílio	de	
Constança.	Com	o	apoio	do	rei	Sigis	mundo	da	Alemanha,	os	três	papas	
foram	depostos	e	eleito	o	papa	Martinho	V	(1417-1431),	que	reconduziu	
a	Igreja	a	tão	esperada	paz	e	tranquilidade.	O	Concílio	criou	vários	decre-
tos	de	reforma	e	condenou	as	heresias	de	João	Wiclif	e	João	Huss.
Heresias de João Wiclif e João Huss
As	heresias	de	João	Wiclif,	sacerdote	inglês,	e	João	Huss,	sa-
cerdote	tcheco,	caracterizavam-se	pelas	tendências	antieclesiais	e	
modernas	e	estavam	imbuídas	de	uma	grande	rejeição	ao	poder	
temporal	e	eclesial	dos	papas,	principalmente	por	causa	de	seus	
desmandos	e	escândalos.	Além	disso,	são	influenciados	pelas	ten-
dências	nacionalistas	que	 já	não	aceitavam	o	poder	 romano	em	
vários	países	da	Europa.	Ambos	tinham	as	seguintes	ideias:	
•	 A	Sagrada	Escritura	como	única	fonte	de	Revelação.	
•	 A	rejeição	da	Tradição	enquanto	fonte	de	Revelação.	
•	 A	não	aceitação	da	hierarquia	eclesiástica.	
•	 Oposição	manifesta	à	autoridade	papal	e	exagero	do	as-
pecto	nacionalista	da	Igreja.	
267© O Auge e a Crise da Cristandade A Inquisição A Transição Entre a Idade Média e a Idade Moderna
Essas	 ideias	 fundamentaram	as	 teses	articuladas	por	Marti-
nho	Lutero,	no	 início	do	século	16.	As	consequências	destas	duas	
heresias	foram	desastrosas,	pois	foram	as	bases	da	grande	divisão	
da	Cristandade	com	a	reforma	protestante	e,	também,	ajudaram	no	
aumento	do	desprestígio	e	declínio	da	autoridade	papal	e	eclesial.
Sintetizando	o	pensamento	de	João	Huss,	Pierini	relata:
O	pensamento	de	João	Huss	é	extremamente	significativo,	como	
reflexo	das	crises	do	seu	tempo:	da	crise	da	sua	terá,	da	sua	Igreja	
da	sua	vida	pessoal.	Nele	juntam-se,	de	maneira	emblemática	para	
a	baixa	Idade	Média,	três	contradições	fundamentais:	a	contradição	
entre	a	identidade	nacional	boêmia	e	a	alemã;	a	contradição	entre	
a	igualdade	fundamental	de	todos	os	crentes	e	todos	os	tipos	de	
desníveis,	tanto	no	campo	eclesiástico	(anti-hierarquismo)	quanto	
no	civil	e	no	político	(antifeudalismo);	mas,	sobretudo,	a	contradi-
ção	entre	a	verdade	de	Deus,	que	para	Huss	se	manifesta	através	da	
predestinação,	e	a	pseudoverdade	humana,	que,	para	ele,	se	ma-
nifesta	nas	aparências	jurídicas	e	canônicas.	A	conseqüência	dessa	
impostação	ideológica	é	que	a	autêntica	"verdade"	(palavra-chave	
de	todo	o	pensamento	de	Huss)	existe	apenas	lá	onde	a	aparência	
humana	está	de	acordo	com	a	predestinação	divina.	Sendo	assim,	
parece	difícil	harmonizar	certas	idéias	de	Huss	com	a	doutrina	ca-
tólica	tradicional,	que	já	estava	clara	em	seu	tempo,	a	respeito	das	
relações	entre	graça,	predestinação,	liberdade	humana	e	a	teologia	
sobre	a	 Igreja.	 Isso	 fica	evidente	nas	 trinta	proposições	suas	que	
mereceram	condenação	e	que	Ele	próprio	pode	rever	e	comentar	(	
1998,	p.	173-174).
Papado do Renascimento (1447-1521)
Após

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