Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
EA D Compreensão Antropológica da Sexualidade 2 1. OBJETIVOS • Analisar a complexidade e o conflito atual da moral sexu- al. • Compreender as influências das mudanças culturais vivi- das nos últimos séculos sobre o desenvolvimento do co- nhecimento da sexualidade humana. 2. CONTEÚDOS • Antropologia sexual. • Compreensão teológica da sexualidade. 3. INTRODUÇÃO À UNIDADE Nesta unidade, vamos estudar a antropologia sexual a partir de várias perspectivas, com a ajuda de diferentes ciências, con- © Ética da Família do Amor e da sexualidade32 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO tando também com a teologia. O ser humano é um ser complexo, que vai se desenvolvendo e amadurecendo sexualmente ao longo de toda sua vida. Nessa dinâmica de mudança, a sexualidade de- sempenha um papel importante e a moral sexual deverá levá-la em conta. 4. ANTROPOLOGIA SEXUAL Vimos na unidade anterior que a pessoa humana é o único ser que tem moral. O homem descobre o que é bom e ruim em sua própria pessoa, porque ele mesmo é o critério para medir a mora- lidade das intenções e ações, porque ele tem um valor absoluto, uma dignidade inviolável. A moral está em toda a pessoa, como ser racional, livre e cor- póreo. Sua moral expressa-se na sua relação com o mundo, com os outros e com Deus, tendo em conta que está sujeita a mudanças ao longo da história. Como você pode notar, se quisermos desenhar uma ética se- xual, temos que partir de uma antropologia sexual que nos mostre claramente os significados humanos da sexualidade. Foram des- cartadas as antropologias dualistas, que limitam e não expressam corretamente a realidade humana. Além disso, essas antropolo- gias não valorizam corretamente a dimensão sexual da pessoa hu- mana. A antropologia não pode esquecer o caráter positivo da se- xualidade, porque fomos criados assim por Deus e “Deus viu que era bom” (Gen. 1:31). Finalmente, é impossível pensar na pessoa sem a sua dimensão corpórea. Hoje compreendemos que somos uma unidade psicossomá- tica, que não temos corpo, mas que “somos” corpo e que a corpo- reidade participa também da dignidade do eu pessoal. 33© Compreensão Antropológica da Sexualidade O que chamamos ‘alma’ é a estrutura profunda do corpo humano vivo. Eu sou o meu corpo e consigo me expressar unicamente nele e com ele, porque corpo também é linguagem. Sem esta realida- de corpórea o ser humano não existe, não poderíamos relacionar com o mundo, nem manifestar a nossa intimidade como fazemos. Assim, a nossa realidade corporal situa-nos como finitos, no tem- po e no espaço,categorias que influenciam fortemente em nossa realidade corporal. O corpo humano expressa visivelmente diferenças e se- melhanças com os demais seres da criação, e nessas dife- renças demonstram a superioridade sobre os demais. A an- tropologia sexual do ser humano engloba muitas dimensões que expressam o mistério e a complexidade do ser humano. Vamos ver o que dizem alguns dos vários ramos do saber, biologia, psicofísica e a filosofia, sobre a sexualidade. Biológica A dimensão biológica é o apoio de todo o edifício da se- xualidade humana. A primeira distinção óbvia entre um homem e uma mulher é a sua corporeidade. Mas hoje sabemos que essa distinção biológica em parte pode ser modificada com um trata- mento hormonal, por exemplo, deixar a barba crescer em uma mulher e atrofiar suas glândulas mamárias. Portanto, a distinção biológica entre homens e mulheres é muito mais complexa do que supomos. É verdade que há uma série de caracteres morfológicos que nos faz distinguir um homem de uma mulher, mas estes caracteres não são determinantes do ponto de vista biológico para definir o sexo de uma pessoa. Hoje a descrição externa do corpo não é de- terminante para a diferença entre os sexos. © Ética da Família do Amor e da sexualidade34 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO Vejamos, então, como se define biologicamente o sexo dos indivíduos. A definição biológica do sexo envolve três níveis com- plementares: • Sexo cromossômico: a configuração cromossômica, XX ou XY, é a determinação genética do sexo. A grande maio- ria das células do corpo são sexuais e distinguem-se pelo cromossomo sexual, XX para a mulher e XY para o homem. Desde a concepção o sexo está determinado. • Sexo gonadal: aparece com a formação das gônadas, das vias genitais e dos órgãos genitais externos: ovário ou tes- tículo, aproximadamente aos 37 dias de vida embrionária e a diferenciação continua após 45 dias. Os órgãos sexuais externos diferem no terceiro ou quinto mês. • Esses caracteres sexuais (ovários e testículo), chamados primários, são as diferenças morfológicas entre o homem e a mulher. A fórmula cromossômica, assim como outros fatores, determina diretamente o tipo de glândula genital (ovário ou testículo), mas apenas indiretamente determi- na as características sexuais secundárias que se desenvol- vem na puberdade. • Sexo hormonal: surgem os caracteres secundários. Após a puberdade, os hormônios sexuais, produzidos em abun- dância, acentuam a diferenciação sexual. O ovário produz o FSH ou estrona e progesterona. O testículo, no entanto, produz testosterona. A partir desta idade aparece forma- do e diferenciado o sexo com todas as características se- cundárias. Há muitas características próprias do homem e da mulher durante este período do sexo hormonal, anatômico e funcional. Uma das características próprias da mulher, ao contrário do ho- mem, é que nela seus orgasmos não estão relacionados à procria- ção, como especifica Marañon (MIFSUD, 1994, p. 17), “o orgasmo sexual da mulher é lento e não necessário para a fecundação”; no 35© Compreensão Antropológica da Sexualidade entanto, no caso do homem: “seu orgasmo sexual é rápido e ligado à fecundação”. A análise biológica demonstra que a sexualidade humana não se limita aos órgãos genitais. Como diz Vidal (1991, p. 452-453): “O comportamento sexual humano é gerado a partir das forças vitais de impulsos biológicos e em sua aplicação torna-se extremamente importante a base biológica.” Esta instância biológica introduz dois elementos para a com- preensão plena da sexualidade humana: 1) A função de procriação: a reprodução é um fenômeno necessário no ciclo vital, permitindo à espécie sobrevi- ver. Esta função implica um aspecto de “luxo” e “desper- dício” biológico já que existe uma superabundância de elementos fecundantes sobre os elementos fecundados: dos milhões de espermatozoides presentes em uma re- lação, apenas um (ou alguns) fertiliza o óvulo. 2) A dimensão prazerosa: que acompanha a sexualidade. Não devemos reduzir a sexualidade a um instrumento do prazer, mas também é perigoso não reconhecer esta dimensão da sexualidade: à sexualidade acompanha o prazer. O significado prazeroso da sexualidade é vivido em todos os níveis pela pessoa: o prazer do amor, da comunhão interpessoal etc. Na pessoa humana, a dimensão procriativa não se limita a ser um instinto autorregulado, como no caso dos animais, que depende exclusivamente da ação dos hormônios sobre os centros nervosos. A atividade sexual humana é relativamente independen- te dos hormônios, que podem se autodirigir. Mais do que um ins- tinto imposto organicamente, é um comportamento aprendido. Não estamos querendo dizer que os hormônios não funcio- nam, mas que, em certo ponto, podemos os controlar, porque so- mos livres e conscientes da nossa realidade. Para o cérebro que temos, podemos definir os limites e as condições de nossa sexua- lidade. © Ética da Família do Amor e da sexualidade36 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO Psicológica A sexualidade no ser humano não se limita a uma necessida- de, como pode aparecer na dimensão biológica, mas se expande no caminho o “desejo”, que pertence à dimensão psicológica. Esta dimensão insere o sentido na sexualidade humana: a partir deste momento a pulsãosexual se converte em conduta, é uma lingua- gem e se encarna em símbolos. O discurso psicológico da sexualidade humana é complexo. Vejamos algumas ideias que podem nos ajudar a ter uma síntese da instância psicológica. Os estudos modernos apresentam quatro dimensões na pes- soa humana que formam a identidade sexual: 1) Sexo biológico: é a fisiologia e a estrutura anatômica do homem e da mulher. Isto é bem compreendido na ins- tância biológica. 2) Identidade do gênero: é a internalização dos modelos culturais e psicossociais da masculinidade e feminilida- de. 3) Orientação sexual: são os catálogos sexuais, como a ex- pressão externa da identidade do gênero, as finalidades sexuais e a escolha dos objetos sexuais. Refere-se à atra- ção, ao objeto dos desejos eróticos e / ou amorosos de uma pessoa, como mais uma manifestação no conjunto de sua sexualidade. A orientação sexual é atribuída às sensações e aos conceitos pessoais, tanto vividos como imaginados. 4) Valores sexuais: são as atitudes fundamentais que temos em relação ao sexo em geral. Há uma relação entre o crescimento físico do indivíduo e seu desenvolvimento psicológico. Ambos também influenciam na sexu- alidade humana. A sexualidade não é um comportamento que se inicia na adolescência e termina na idade adulta. É um processo que começa a partir do ventre da mãe e se desenvolve durante todo o ciclo de vida dos seres humanos. Vejamos quais são as diferentes etapas do desenvolvimento psico-físico-sexual das pessoas: 37© Compreensão Antropológica da Sexualidade a) Sexualidade uterina: hoje nós temos uma melhor com- preensão da importância da vida uterina sobre o desen- volvimento posterior do indivíduo. Sendo uma criança desejada ou não, o contexto em que a mãe vive (tranqui- lidade, violência), as expectativas e ansiedades, o estado anímico etc., todas estas realidades afetam no desenvol- vimento do feto. b) Sexualidade infantil: quando se fala de sexualidade infan- til, não se deve tomar como ponto de referência ou de comparação o que acontece com os adultos. O menino e a menina têm um desenvolvimento psicossexual próprio da idade, cujo desenvolvimento correto é essencial para sua evolução posterior. Neles, o prazer aparece quase de forma imediata ao seu nascimento e se faz evidente em sua relação com o seio materno e seu próprio corpo. A sexualidade infantil culmina no conflito de Édipo, cuja superação se dá quando os conflitos de índole sexual são relegados para segundo plano pelo esforço de adapta- ção escolar e social. c) Sexualidade adolescente: é um período de mudanças rápidas e de desafios difíceis. O desenvolvimento físico é apenas uma parte do processo, porque as demandas desse período envolvem mudanças psicossociais. O des- pertar da sexualidade genital ocorre dentro de um esta- do psicológico de insegurança e incerteza. d) Sexualidade juvenil: esta fase caracteriza-se aqui pelo estabelecimento das relações intersubjetivas, especial- mente as do sexo oposto. Nesta relação, a pessoa adqui- rirá, ao mesmo tempo, sua própria segurança. e) Sexualidade adulta: a maturidade sexual traz consigo muitos elementos e se manifesta de muitas maneiras, baseia-se no equilíbrio conjunto da pessoa. A maturida- de requer uma integração da força sexual dentro do di- namismo próprio e do dinamismo geral da pessoa, exige também uma vivência consciente e tranquila do impulso sexual e do comportamento sexual. O relacionamento interpessoal é construído sobre a consistência do eu que se abre ao outro em um horizonte do diálogo. O equilí- brio sexual é o resultado do equilíbrio da personalida- de. © Ética da Família do Amor e da sexualidade38 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO f) Sexualidade da terceira idade: é necessário, mais do que nunca, superar a ideia de que as pessoas mais velhas são assexuadas. A genital continua a desempenhar um pa- pel importante neste período da vida, mesmo quando a menopausa apareceu e os impulsos sejam menos vio- lentos, apesar de não ser uma etapa para a fecundação, lembre-se de que existe outra dimensão da sexualidade que é a prazerosa. É uma nova etapa que deve ser vivida em plenitude. Devido às limitações de tempo, não podemos aprofundar o tema da psicologia sexual, mas tenhamos em conta que, para fazer uma reflexão ética sobre a sexualidade humana, não podemos ignorar o processo evolutivo físico e psicológico que o indivíduo vive. Cultural Ao contrário dos animais, o ser humano realiza-se à medida que constrói um mundo de significado compartilhado. A constru- ção biológica da pessoa o define como um mamífero, mas não o suficiente para considerar essa dimensão como ser humano. Ao longo dos séculos, o ser humano foi construindo com os demais um mundo de relações que vão além das adaptações e co- municações básicas que possuem os animais. Eles foram capazes de dar sentido às suas vidas, a criar e buscar sonhos que foram iniciados e lhes dava a vida, descobrindo o seu mundo espiritual. Apesar do condicionamento por vários fatores, sua liberda- de, consciência e vontade os ajudam a superar essas limitações e superar a si mesmo. Em suma, não podemos falar da pessoa sem a sua dimensão cultural. É aí que reside a diferença com os outros seres vivos. A dimensão cultural expressa-se na sexualidade, porque não existe manifestação cultural sem o corpo. Além disso, a sexualida- de humana precisa da cultura, porque nela expressa a sua dimen- são sexual humanamente. A cultura canaliza o impulso sexual. 39© Compreensão Antropológica da Sexualidade Isso não significa que nós, muitas vezes, não vivamos a nos- sa sexualidade como animais, podemos ver em certos comporta- mentos nas nossas sociedades, onde se estupra, se destrói ou se menospreza a sexualidade própria ou do outro. Nem tudo o que construímos culturalmente nos humaniza. Assim, por meio da cultura fomos criando características próprias de comportamentos e atitudes, tanto do homem quanto da mulher. É o que chamamos de “mundo feminino” e “mundo masculino.” Esses mundos vão mudando com a cultura e podem se expressar de diferentes modos. Vimos como influenciaram no mundo ocidental as mudanças culturais que fomos vivendo ao lon- go dos últimos séculos. O que nossos avós apoiavam como parte do mundo da feminilidade hoje muitas vezes entra em desconfian- ça ou não se apoia mais. A cultura ajuda-nos a canalizar os nossos instintos biológicos sexuais. Os estudos da antropologia cultural revelaram uma gran- de diversidade de costumes e regras sociais sobre a sexualidade humana. Mas todas elas, todas as culturas, viveram a sexualidade em uma atmosfera de mistério e enigma, como uma realidade assom- brosa e fascinante que provocou muitas vezes uma atitude para- doxal dupla: produz uma dose instintiva de medo e desconfiança, mas, ao mesmo tempo, uma grande curiosidade e desejo. Essa du- pla atitude, de medo e atração, encontrou sua expressão cultural em dois fenômenos que coexistiram ao longo da história: o tabu e o mito. Lembre-se de que as culturas viveram a sexualidade em um clima de enigma e de mistério. O tabu produziu uma mentalidade de desconfiança e medo contra tudo o que é relacionado com o corpo, o prazer e a sexu- alidade em geral. “Disso” não se podia falar, muito menos dire- © Ética da Família do Amor e da sexualidade40 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO tamente. Lembro-me de uma amiga de 97 anos, quando ela me disse que não tinha ideia nem de como “se faziam” os bebês, nem de como agir na hora de se casar. A mãe nunca lhe falou sobre sexo, de sua sexualidade, da vida sexual. Esta mentalidade de tabu da sexualidade, mesmo que seja imposta, mostra-nos como está profundamente enraizada na vivência sexual. O mito, porém, fez da sexualidade uma realidade sagrada, in- troduzida no mundo dos deuses. Os fenômenos sexuais são vistos como ritos, que vinculam a sexualidade com a mesma divindade.No mundo judeu se combateu fortemente a sacralização da sexualidade, ao contrário das outras religiões do seu tempo. A se- xualidade era valorizada como uma realidade criada por Deus, mas não uma realidade de Deus, onde ele devia vivê-la plenamente. No mundo de hoje, onde o objetivo supremo da vida é a bus- ca do prazer, podemos dizer que vivemos em uma mitificação da sexualidade. Em suma, qualquer discernimento ético sobre a sexualidade humana deve ter em conta esta análise cultural como um dado im- portante. Acima de tudo, para nós cristãos, o estudo da Bíblia por meio da ética precisa de uma cuidadosa hermenêutica para uma interpretação correta das normas sexuais, já que contém uma “lin- guagem” com mediação cultural de seu tempo. Devemos apren- der a distinguir entre uma norma cultural e uma opção cristã, para evitar por na “boca de Deus” os nossos medos e desejos. Reflexão filosófica A reflexão filosófica da sexualidade recentemente começou a fazer o seu caminho. Não há muito material a respeito, mas os fi- lósofos começaram a incorporar em seus pensamentos o discurso sobre a sexualidade humana. Além disso, podemos realizar, com o teólogo Mifsud, algu- mas reflexões filosóficas sobre o tema, tais como as que veremos a seguir. 41© Compreensão Antropológica da Sexualidade Sexualidade como vitalidade A sexualidade não é algo que nos acrescenta à nossa identi- dade: somos seres sexuados e essa realidade é parte de nosso ser, configura a nossa existência. Ela é um processo evolutivo de apro- priação que assumimos com o nosso crescimento pessoal. Nós não temos sexo, mas somos sexuados. Nela nos torna- mos pessoa, homens e mulheres que reconhecem a sua identida- de na sexualidade. O processo de humanização da sexualidade é necessário para conseguir vivê-la como parte vital do nosso ser. A humanização da sexualidade significa assumir o instinto sexual, processá-la e integrá-la. A sexualidade é experiência de vida, porque é experiência de prolongação ao outro e de criar vida com o outro. Mas é tam- bém experiência de morte, porque dá lugar a outro. Crescemos e envelhecemos, a morte é parte da nossa vida. A experiência da mortalidade e imortalidade acompanha sempre com a sexualida- de humana e suas diversas expressões. “A vida se origina no indivíduo, mas essa fonte de perenidade não verte suas águas sobre o mesmo indivíduo. Eis aqui o paradoxo aterrador” (MARCIANO, 1991, p. 486). Sexualidade como linguagem Por meio do nosso corpo nos comunicamos e compreen- demos os outros. Nós comunicamos por meio da nossa realidade sexual. A sexualidade é também uma linguagem em que nos en- contramos com o outro (nas relações íntimas de casal), ou com os outros (com os nossos amigos e colegas). O ser humano é relacio- nal e se expressa em sua sexualidade. Como você pode notar, por meio do nosso corpo também refle- timos os nossos estados anímicos. O corpo não é uma prisão nem um túmulo, nem o receptáculo do espírito. O corpo pertence ao centro de nossa personalidade, por isso nele nos expressamos e falamos. É pre- © Ética da Família do Amor e da sexualidade42 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO ciso dar muita atenção a nossa realidade física, para conseguir uma saúde não somente corporal, mas também espiritual. 5. COMPREENSÃO TEOLÓGICA DA SEXUALIDADE Para muitos, a religião cristã tem um discurso negativo e condenatório da sexualidade. É verdade que, em diferentes perío- dos históricos, houve pensamentos que não se adequavam com a mensagem do Evangelho, concepções antropológicas que estavam mais relacionadas com o contexto em que surgiram do que com a mensagem da salvação. Para esclarecer determinadas dúvidas, vamos discutir algu- mas ideias importantes sobre a sexualidade que a visão cristã não pode deixar passar. A sexualidade é também o lugar de encontro com o transcendente As concepções antropológicas cristãs reconhecem que a pes- soa é um sujeito de relações, um ser aberto aos demais e sua di- mensão sexual é precisamente uma força que o empurra para fora de si, para se comunicar. A sexualidade não tem um caráter individualista, mas inter- pessoal: é comunicação, entrega e abertura. É também um cami- nho para a expressão profunda do afeto e da espiritualidade entre as pessoas. Embora exista um tipo de comunicação especial que se vive entre os casais, a sexualidade não se limita a uma relação entre dois. Nós nos comunicamos por meio da nossa sexualidade, assim vamos construindo laços e edificando a comunidade. Mas, essa dimensão de abertura da sexualidade é vivida também em relação ao transcendental. Para entender essa ideia, partimos da realidade, da sexualidade como um mistério que des- perta no ser humano fascinação e terror. 43© Compreensão Antropológica da Sexualidade Nos povos antigos, criaram-se práticas religiosas em que a sexualidade estava envolvida em um manto de divindade: a pros- tituição sagrada, as virgens consagradas aos deuses, as orgias re- ligiosas etc. A sexualidade indicava um caminho de comunicação com o mundo dos deuses. Havia também sociedades marcadas pelo medo da própria sexualidade, povos que reprimiam ou des- prezavam o próprio prazer sexual. Por isso criavam regras rígidas, rejeição ou tabus sobre a sexualidade. Em suma, os povos experi- mentavam a grandeza e a limitação da própria sexualidade. Os povos modernos ou pós-modernos não escapam deste mistério que esconde a sexualidade, mas têm buscado novos ca- minhos com novas características. Hoje falamos da “neosacralização da sexualidade.” Ela já não é tanto uma forma de comunicação e de entrega, mas um fim em si mesmo que se oferece como possibilidade de vivê-lo plenamen- te. É uma realidade primeira e final em si mesma. Há um culto ao sexo e uma religião que gira em torno de uma falsa concepção de liberdade. O prazer e a própria satisfação é tudo o que importa. Não estamos criticando o prazer que pode dar a sexualidade, mas o querer convertê-lo em um fim, como se ele pudesse nos dar as chaves da felicidade eterna. O prazer é bom, mas não satisfaz mais do que um tempo preciso. O prazer não é capaz de preencher todas as lacunas e as nossas angústias. Hoje é um desafio querer viver corretamente a sexualidade e compreender o verdadeiro sentido da abertura ao absoluto, a Deus. A sexualidade é sempre um lugar privilegiado para experi- mentar a nossa grandeza e a nossa limitação. A insatisfação é um indicador de transcendência. O mistério próprio da sexualidade revela a necessidade que temos de transcendência. “O sexo promete o que não pode dar, mas abre a porta para uma rea- lidade misteriosa, mais além dele mesmo, que pode oferecer o pleno e total gozo ao coração faminto” (Gastaldi y Perelló, 1991, p.60). © Ética da Família do Amor e da sexualidade44 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO Deus é o “Tu” do ser humano que desde o profundo do seu coração sente a necessidade de comunicar-se e entregar-se como é, em pessoa. Às vezes erramos e desconhecemos essa necessida- de, endeusando a nós mesmos. Mas continuará em nós essa an- gústia por buscar a verdade. Assim, sabemos que o “Tu” de Deus em comunidade, é como uma realidade não individual e solitária, mas também de Comunidade de amor. Também assim somos nós. Mais uma vez, recomendamos que você se lembre do que viu em Antropologia teológica. Deus cria a pessoa sexuada Outras religiões divinizaram a sexualidade, mas o povo de Israel não o fez assim. Em toda a Bíblia, notamos um processo de dessacralização da sexualidade. Para o povo de Deus, a sexualidade assume uma configura- ção humana: o sexo é humano e não divino. Jeová não é um deus sexuado, não cria as coisas unindo-se com outra deusa, como acre- ditavam as religiões cananeias. A imagem de Deus como Pai, que está no Velho Testamento, é apenas isso, uma imagem que lembra as ações de Deus: um Deus Pai, que ama a seu filho, seu povo, o liberta e anda junto com ele. Em suma, com essaimagem querem referir ao modo pelo qual Deus se relaciona com o seu povo. A sexualidade é criação de Deus e por isso é boa, por vir do Deus Criador. Deus criou o ser humano homem e mulher, sem nenhuma ideia de subordinação um do outro. É verdade que en- contramos na Bíblia costumes de ideias patriarcais ou machistas, em que a mulher é valorizada apenas por seu ventre fértil, como propriedade dos homens, como uma sedutora que os tenta para o pecado, como um perigo a que se deve tomar cuidado. Assim, isso não tem nada a ver com o plano de Deus: Deus a criou da mesma natureza que a do homem, dá-lhes a terra e o mandato de cuidá- la. (Gen. 1, 26-31). 45© Compreensão Antropológica da Sexualidade Dessa maneira, os comportamentos patriarcais e machistas que aparecem na Bíblia têm a ver com o pecado que danificou a relação entre as pessoas. A Bíblia afirma a igualdade de sexo. A sexualidade está intimamente ligada ao amor O amor é parte da humanização do ser humano. Sem os cui- dados básicos de carinho, uma pessoa não poderia sobreviver e morreria. Mas, o que é o amor e que relação existe com a sexua- lidade? O amor é o que leva a pessoa a se entregar, a confiar, a se abrir e dialogar com o outro. Podemos dizer que existem três ní- veis de diálogo de amor: • genital-afetivo; • amor entre amigos; • amor do Amor (ágape). Vejamos brevemente do que se trata cada um. A nível genital-afetivo, o amor manifesta-se entre o casal de um modo único e íntimo. Este nível de atração física é mais for- te que nos demais. É um amor erótico (eros), interpessoal, que busca a união e a entrega mútua. O prazer genital, associado ao amor, aparece aqui como consequência da entrega amorosa. Há uma atração psicológica sobre o outro, que se busca “estar” com o outro. O amor entre amigos é um amor que não se exprime na re- lação íntima sexual. Busca o diálogo e o encontro além do genital. “O amigo é a única pessoa que se fala abertamente e se pensa em alto” (PIEPER, 1980, p. 543). Embora não haja aqui uma intimidade como na anterior, nem por isso a sexualidade deixa de estar comprometida. Uma pessoa é amigo ou amiga sexuadamente sempre. Queremos com e através do corpo. © Ética da Família do Amor e da sexualidade46 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO No processo de desenvolvimento humano, o conceito de amizade vai mudando e amadurecendo. Aqui nos referimos à ins- tância da vida adulta, em que a pessoa procura a companhia de outros e outras. Portanto, não é a mesma coisa a amizade entre os adolescentes e entre os adultos. Muitas pessoas ao invés de falar de amor entre amigos pre- ferem falar de amizade. Mas a amizade não é uma forma de amor? Nós amamos aos amigos. Lembre-se de que o amor entre amigos também busca o bem-es- tar do amigo, se preocupa com ele, se alegra com sua felicidade. Há também outro amor que busca o “Primeiro Amante”. É um amor que transforma o nosso próprio amor para com as pes- soas, é o que dá uma confirmação totalmente nova e realmente absoluta. Estamos falando do amor Ágape, que, como lembra Bento XVI, aparece muitas vezes no Novo Testamento, indicando o amor voluntário de quem procura exclusivamente o bem do outro. Na encíclica, Deus Caritas est, Bento XVI nos lembra que o amor ágape pode purificar o amor eros, sem extingui-lo e que o eros de Deus para com o homem é, por sua vez, ágape. Com o amor ágape se chega a uma profunda comunhão, que inclui o respeito absoluto pela pessoa do outro, de sua liberdade, de sua própria vida, há um amor plenamente desinteressado que visa à realização do ser amado, incluindo a autêntica ternura, o desejo de que o outro seja ele mesmo. Como vimos, podemos falar de diferentes níveis de amor e todos se expressam através do corpo, porque são amores huma- nos. Em suma, como diz Erich Fromm, o amor é uma arte e, como tal, uma ação voluntária que se empreende e se aprende, não uma 47© Compreensão Antropológica da Sexualidade paixão que é imposta contra a vontade de quem a vive. O amor é, assim, decisão, escolha e atitude. Erich Fromm –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Erich Fromm (1921-1989) A prática e o ensino da Psicanálise no México foram inauguradas pelo Dr. Fromm, em 1950, problemas de saúde de sua esposa o obrigaram passar a sua residência de Nova York para o México em busca de um clima mais propício para sua recuperação. Sua presença no meio leva a um grupo de médicos a procurar-lhe para solicitá-lo análise e formação psicanalítica. Desse grupo surgiria a Sociedade Mexicana de Psicanálise em 1956. Nasceu em Frankfurt, estudou filosofia na Universidade de Heidelberg, e realizou seus estu- dos e treinamento psicanalítico no Instituto Psicanalítico de Berlim. Inicia contato com a Escola de Frankfurt, onde trabalhou em estreito contato com Herbert Mar- cuse, Walter Benjamin e Theodor Adorno. Sua orientação teórica levará a marca importante da Teoria Crítica, que irá resultar em um sistema teórico psicanalítico com forte interpretação sociológica. A ascensão do nazismo na Alemanha levou-o a emigrar para os Estados Unidos até que ele se mudou para o México, onde fez um trabalho importante de ensino e difusão da psicanálise. Leciona na Universidad Nacional Autónoma de México, gerencia a coleção de Psicologia e Psicanálise da prestigiada editora Fondo de Cultura Económica, pratica a psicanálise e monitora a prática dos seus discípu- los. Pensador inquieto publica um grande número de livros entre os quais desta- camos O medo da liberdade, psicanálise da sociedade contemporânea, A Arte de Amar, O dogma de Cristo, Ter ou ser?, A missão de Sigmund Freud, etc. Funda a Sociedade Psicanalítica Mexicana em 1956. O Instituto Mexicano de Psicanálise em 1963. A Revista de Psicanálise, Psiquiatria e Psicologia em 1965. Faleceu na Suíça, na cidade de Muro. (Disponível em: <http://www.psicomundo. org/fromm/frommbio.htm>. Acesso em: 10 ago. 2010). –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Cristianismo histórico e sexualidade Para entender corretamente a visão cristã da sexualidade, não basta fazer um estudo da Bíblia, é necessário percorrer o cami- nho histórico das tradições da Igreja sobre o tema da sexualidade. Essas tradições também marcaram o nosso pensamento e com- portamento sexual. Muitos fatores moldaram o pensamento cristão sobre a sexualidade ao longo da história. Não só as próprias fontes, isto é, claramente religiosas, mas também pensamentos pré ou extra- cristão, que influenciaram na visão da pessoa e sua sexualidade. © Ética da Família do Amor e da sexualidade48 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO Várias dessas tendências tinham uma visão negativa da an- tropologia sexual do ser humano, uma visão errada que marcou a teologia cristã e, em especial, a teologia moral sexual cristã. Uma dessas correntes filosófica pré-cristã foi o estoicismo, com uma forte visão negativa do corpo e da sexualidade em ge- ral. Nela se defendia a postura do domínio da vontade sobre as emoções. A paixão era vista como irracional, enfraquecia o ho- mem e, por isso, era desprezada. O homem feliz e virtuoso tinha de ser guiado unicamente pela razão. Qualquer paixão tinha de ser guiada e controlada por ela. A relação sexual era permitida ape- nas para a procriação, já que havia expressões não racionais, mas emocionais. Estoicismo: é uma escola filosófica na antiga Grécia. Para os es- toicos o primeiro imperativo ético era viver conforme a natureza, o qual equivale a dizer conforme a razão, pois a natureza do homem é racional. O bem e a virtude consistem, portanto, em viver de acordo com a razão, evitando as paixões. A paixão é o contrário da razão, é algo que lhe sucede e que você não pode controlar, portanto, deve evitá-la. Esta filosofia influiu muito na teologia e, em especial, na moral cristã. Outra visão filosófica-teológica pré-cristã que se combateu nos primeiros séculos foi o gnosticismo, mas na disputa se infiltroutimidamente na posição oposta. Gnosticismo: era uma corrente de ideias religiosas diversas, que mantinha a imagem do homem desterrado em um mundo imper- feito, onde devia lutar contra o domínio de seres inferiores malig- nos. Não é uma corrente filosófica, mas um conjunto de correntes distintas, filosóficas e religiosas que tomou alguns elementos do platonismo, de Filão, do judaísmo e do cristianismo. Muitos grupos gnósticos se tinham por cristãos, causando uma enorme confusão no cristianismo. Apesar de ter sido fortemente contestada nos primeiros sé- culos por alguns Padres da Igreja, muitos cristãos apoiaram de uma forma ou de outra essa visão negativa que influenciava na ideia da 49© Compreensão Antropológica da Sexualidade sexualidade humana. Aqui se entende muito bem porque a Igre- ja não aceitou o famoso evangelho apócrifo de Judas, como livro sagrado. Era impossível reconciliar uma visão negativa do corpo, que transmitia este Evangelho, com a visão de toda a Bíblia, es- pecialmente dos Evangelhos canônicos, nos quais se pode obser- var quanto Jesus valorizava a vida do homem pleno. A influência da cultura ocidental sobre o pensamento ético sexual da Igreja é inegável, assim como a influência do cristianismo sobre a cultura ocidental. Um santo que marcou a tradição cristã sobre a ética sexual foi Santo Agostinho. Ele reivindica o valor do matrimônio, reco- nhecendo-lhe um status teológico próprio. Fala do casamento em termos de sacramento. Outra característica importante de sua te- ologia, é que não confunde sexualidade com pecado como se fazia habitualmente no seu tempo. O santo mantém a bondade original da sexualidade, mas unicamente vista para a procriação, porque acredita que a paixão que “arrasta” a sexualidade, é devida ao pe- cado. Ele condenava o prazer sexual como tal, porque este escapa da razão. Outro grande santo que influenciou com sua teologia no pensamento teológico foi São Tomás de Aquino. Um fato positivo de seu olhar ético sexual é a reivindicação do prazer. Sob a influên- cia de Aristóteles, a teologia do santo deixa de condenar o prazer como um mal. O prazer não pode ser condenado a não ser acom- panhado de um ato indigno. Infelizmente, Tomás não supera ao seu mestre Aristóteles na visão antropológica da mulher, quem a considerava como um “macho defeituoso”. São Tomás assume sua linha de pensamento quando diz: Considerada em relação à natureza particular, a mulher é algo im- perfeito e casual. Porque a potência ativa que reside no sêmen do homem tende a produzir algo semelhante a si mesmo no gênero masculino. Se nascer mulher é devido à fraqueza do poder ativo, ou à má disposição da matéria, ou também a alguma alteração pro- duzida por um agente extrínseco, como os ventos do sul que são úmidos, como se diz no livro De Generat Animal. Mas se considera- © Ética da Família do Amor e da sexualidade50 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO mos à mulher em relação com toda a natureza, não é algo casual, mas algo definido pela natureza para a geração. A intenção de toda a natureza depende de Deus, Autor da mesma, que produziu não somente ao homem mas também à mulher (Summa Theologica, I, q. 92, ad 1). Os santos também não escapam dos condicionamentos que influenciam seus pensamentos e em suas vidas: suas histórias pes- soais, as ideias de seu tempo, as lutas particulares que apoiam, as crises etc. Um exemplo claro pode ser Santo Agostinho. O santo, após sua conversão, passa da defesa do prazer, ca- racterística da fase maniqueia, à rejeição total. Para Santo Agosti- nho (que começou a combater a heresia a que pertenceu há anos), agora o prazer e a paixão estão relacionados com o pecado. Se não houvesse entrado o pecado no mundo, a sexualidade teria sido capaz de ser livre do prazer. A participação dos cônjuges na geração dos filhos poderia ter sido realizada sem essa dita pai- xão. E assim, Agostinho defende, contra o maniqueísmo, a bonda- de da sexualidade procriadora, e contra o pelagianismo, mantém a força da concupiscência que vincula pecado com prazer. (Eric Fuchs, Desejo e Ternura. Fontes e história de uma ética cristã da sexualidade e do matrimônio. Bilbao, Desclée de Brouwer, 1995). Fase Maniqueia: A sexta gnóstica dos maniqueístas acreditava que o espírito do homem é de Deus, mas o corpo do homem é do demônio, como todo o mundo material. Exigia-se aos membros mais perfeitos da sexta uma vida de ascetismo total. A maior par- te dos adeptos, como Agostinho, pertencia a uma classe inferior, na qual havia casados ou concubinos, como Agostinho. Apesar de desprezar o corpo, eram permitidas as relações sexuais, mas com a condição de não procriar. O importante nisso tudo é que devemos saber ler seus escri- tos, deixando de lado o que corresponde a seu tempo e trazendo- nos a força de seu espírito que nos ajuda a crescer em entendi- mento e sabedoria da mão de Deus. 51© Compreensão Antropológica da Sexualidade A influência da cultura ocidental sobre o pensamento ético sexual da Igreja é inegável, assim como a influência do cristianismo sobre a cultura ocidental. Em contrapartida, podemos dizer que houve ao longo da história teológica uma evolução do pensamen- to sobre a realidade sexual do ser humano. Em geral, como diz Mifsud, a igreja preocupou-se com a questão da sexualidade humana no contexto do amor conjugal ou de consagração virginal e conseguiu afirmar a dignidade do matri- mônio e de proclamá-lo como um lugar privilegiado da sexualida- de humana. O padre jesuíta Mifsud é um teólogo moralista nascido em Malta, mas que há muito tempo optou pela América latina. Atualmente vive no Chile. Pode-se observar em geral uma evolução que vai desde uma concepção restrita a uma compreensão mais abrangente da sexu- alidade. Em geral, podemos dizer que, desde o Concílio Vaticano II, há uma visão mais pessoal, onde os valores pessoais e comunitá- rios em torno do eixo do amor humano são imprescindíveis. Algumas ideias de ensino sobre a sexualidade Normalmente, o magistério trata o tema da sexualidade no contexto do casamento, mas em geral podemos afirmar que: • O Concílio Vaticano II resguardou da tradição a visão po- sitiva da pessoa humana, aprofundou-se suas ideias e as incorporou no documento Gaudium et Spes, especial- mente no nº. 12. Em suma, podemos dizer que nele há uma visão dinâmica do amor humano e da sexualidade, se insiste na igualdade entre homens e mulheres, salien- tando a importância de uma educação sexual saudável, especialmente no seio da família; distingue entre a ativi- dade sexual dos animais e a sexualidade especificamente humana e é transmitida por meio de uma concepção pu- © Ética da Família do Amor e da sexualidade52 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO ramente biológica para uma abordagem mais pessoal da sexualidade humana, isto é, que está em sintonia com a moral renovada. • João Paulo II, em suas catequeses às quartas-feiras, dedi- cou muita atenção na questão da sexualidade e da corpo- reidade, afirmando de forma positiva a natureza da entre- ga do corpo e a natureza dialógica da sexualidade. • O Catecismo da Igreja Católica no n º 2332 estabelece que: A sexualidade abrange todos os aspectos da pessoa humana, na unidade de seu corpo e de sua alma. Particularmente se refere à afetividade, à capacidade de amar e de procriar e, mais geralmente, à capacidade de estabelecer vínculos de comunhão com o outro. No nº. 2335 também assinala que: cada um dos dois se- xos é, com igual dignidade, embora de uma maneira dife- rente, imagem do poder e da ternura de Deus. 6. CONSIDERAÇÕES Como você pôde acompanhar no estudo desta unidade, po- demos dizer que a compreensão cristã da sexualidade é claramen- te positiva: Deus criou o homem sexuado, homem e mulher, e eles se complementam e precisam um do outro. Eles são a imagem de Deus, e ambos devem ser respeitados por sua condição humana. A Bíblia foi escrita porhomens influenciados por seus res- pectivos contextos. Nela podemos facilmente encontrar situações em que a mulher é valorizada apenas por sua capacidade de gerar filhos. É necessário um estudo sério dos relatos bíblicos para não confundir a mensagem de Deus com as tradições patriarcais da- queles tempos. Dessa forma, o ser humano como um todo e sua relação homem e mulher está perturbado pelo pecado. Seria contrário à revelação considerar a sexualidade como lugar de pecado. A se- xualidade, como toda a pessoa, continua a ser boa em si, mesmo após a queda. 53© Compreensão Antropológica da Sexualidade Afirmamos que Jesus volta ao relato original: a mulher volta a ser valorizada como tal, além de sua capacidade para ser mãe. Ela pode ser discípula, amiga, companheira na aventura de propa- gar a mensagem de Jesus. Em Jesus o ser humano está redimido e sua sexualidade está envolvida na redenção quando recebe a fé e a graça. Somente quando as pessoas superam o orgulho, desejo de dominar e de explorar os outros, a sexualidade pode colaborar com seu status de redimida. A revelação e toda a tradição lembram a necessidade de uma luta constante contra o egoísmo encarnado. A Igreja, por sua vez, esforça-se para uma compreensão mais pessoal da sexualidade, deixando para trás a visão negativa e de rigor, que durante muito tempo marcou a teologia moral sexual. Não se esqueça de que o amor e a sexualidade andam jun- tos, porque o amor é expresso por meio de nós homens e nós mu- lheres. Na unidade seguinte, você será convidado a conhecer a vi- são sexual da Bíblia, bem como a interpretar os relatos bíblicos referentes à moral sexual. Esperamos por você! Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
Compartilhar