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Trabalho macro de keynes

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
Disciplina: Macroeconomia de Keynes
Professor: Lucilene Morandi
Aluno: Bruno Seade Bastos
O papel da política fiscal: uma comparação teórica de visões antagônicas
A obra de Keynes e o uso de políticas econômicas contra-cíclicas no pós guerra suscitou uma polarização teórica sobre o papel da política fiscal. Por um lado, o enfoque Keynesiano aponta o déficit fiscal planejado como um poderoso instrumento de alavancagem do crescimento. Em contra partida, a chamada corrente novo clássica, que surge a partir dos anos 1970, aponta o déficit fiscal como uma medida ineficiente em comparação com as escolhas ótimas dos agentes privados. Segundo esse princípio a política fiscal tem a capacidade de suprimir a demanda privada.
Enquanto o pensamento keynesiano era a corrente principal do pós guerra até a década de 70, a década de 80 foi marcada por ajustes fiscais em diversos países com o objetivo de reduzir o déficit do governo no curto prazo. Da década de 90 em diante, os esforços são direcionados à estabilização da relação dívida/PIB e, posteriormente, sua redução. (HERMANN, 2002)
 O economista Francisco Luiz C. Lopreato aponta, diante de um contexto de instabilidade internacional, para esta importante mudança no debate macroeconômico nos anos de 1970. Segundo ele “no plano teórico, a aceleração inflacionária e a expansão dos déficits públicos impulsionaram a crítica aos modelos de inspiração keynesiana e abriram campo ao domínio das expectativas racionais e, em particular da escola novo clássica”. Lopreato coloca a mudança de paradigma para o indivíduo movido por expectativas racionais, que faz escolhas usando todas as informações disponíveis como um importante fator de influência na visão convencional atual. Desse ponto se desdobra a ideia de que os agentes então constantemente reavaliando seus portifólios e são capazes de realizarem em conjunto bruscos movimentos de capitais. 
Diante da hipótese das expectativas racionais, a credibilidade e a estabilidade emergem com princípios centrais para o exercício das políticas econômicas. Cria-se a necessidade do estabelecimento de um regime macroeconômico no qual as autoridades definem de forma clara as “regras do jogo” e se comprometem a segui-las.
A política econômica deve ser vista como um processo contínuo, de modo a criar um ambiente em que os agentes privados creem na manutenção futura das políticas correntes. A presença de descontinuidades pode afetar o ambiente esperado, ampliar o risco de turbulências e prejudicar os resultados desejados. (LOPREATO, 2006)
Nessa perspectiva, a política fiscal passa a ter um papel mais pragmático em relação ao que já foi visto como uma forma de amenizar os ciclos recessivos e estimular a demanda interna. Agora o esforço fiscal deve ser em prol do ajustamento das contas públicas a fim de criar uma trajetória de solvência da situação fiscal (LOPREATO, 2006).
Em suma, uma política fiscal expansionista que traria como consequência o déficit público primário, não levaria, nessa ótica, qualquer benefício em termos de crescimento econômico e, muito menos, serviria como geradora de demanda em períodos recessivos. Pelo contrário, uma política fiscal proativa tem um impacto negativo sobre o bem estar da sociedade, uma vez que acarreta complicações sobre a dívida pública. Esta que, em algum momento, teria que ser arcadas pelas futuras gerações. Daí a recomendação de uma política fiscal de permanente equilíbrio orçamentário. (HERMANN,2002)
A política fiscal como um estímulo a demanda
O pensamento keynesiano, (advindo de uma ótica que prioriza o papel da demanda efetiva, diferentemente da tradição clássica) admite uma política fiscal de cunho expansionista, e consequentemente anticíclico. O intuito de tal mentalidade tem como fim, além do evidente papel de distribuição de renda estimulando a economia pelo efeito multiplicador, a manutenção do nível da demanda em meio a um cenário de incerteza e preferência pela liquidez por parte dos agentes privados.
A intervenção estatal para Keynes deve ter a finalidade de sustentar o pleno emprego dos fatores de produção e diminuir a concentração excessiva de renda, como existem diversas medidas de solucionar este último, o primeiro exigirá maior grau de nossa atenção. A sustentação do pleno emprego depende da demanda efetiva ser igual ao produto potencial, no entanto em economias monetárias a incorporação da incerteza gera a diferença entre essas duas variáveis, uma vez que os indivíduos podem reter moeda que se torna um ativo em momentos de instabilidade.
A política fiscal assume, desse modo, um papel primordial em períodos recessivos. No enfoque keynesiano, em tempos de crise, a incerteza econômica atinge altos patamares. Trata-se, nesse caso, de uma situação limite, em que os agentes privados mesmo após uma política monetária expansionista, não geram demanda suficiente na economia. Portanto é necessário um agente externo, o Estado, para alavancar a economia.
Num contexto de desaceleração cíclica do nível de atividade econômica é papel da autoridade monetária garantir a menor queda possível do nível de produção e de emprego. Quando a crise de confiança ameaça contaminar os planos de investimentos das firmas, a política fiscal deve auxiliar a política monetária por intermédio do aumento dos gastos públicos, principalmente com investimentos em infra-estrutura [...] Eventualmente poderá haver algum aumento da dívida líquida do setor público. Se ocorrer, paciência, é o preço a ser pago pelo uso da política anti-cíclica. (DOSSIE I, p.63)
Conclusão
A política fiscal é um elemento chave do debate macroeconômico entre ortodoxos e heterodoxos. A análise dos pressupostos de cada corrente de pensamento nos ajuda a compreender as justificativas por trás das ações das autoridades econômicas. A compreensão do papel da política fiscal (e seus resultados) em momentos de crise se torna um elemento importante nessa análise. São nos momentos extremos que fica mais clara a percepção do alcance da intervenção do Estado e do comportamento dos agentes privados. 
Bibliografia
CARVALHO, L.F.C. (1999) Políticas econômicas para economias monetárias. Ln: LIMA, G. T.; SICSÚ, J.; PAULA, L. F. Macroeconomia moderna: Keynes e a economia contemporânea. Rio de Janeiro: Campus.
LOPREATO, F. L. C. (2006) O papel da política fiscal: um exame de visão convencional. Instituto de Economia, Unicamp, Texto para Discussão nº 119, fev/2006.
LOPES, L. M.; VASCONCELLOS, M. A. S. (2000) Manual de Macroeconomia: nível básico e intermediário. São Paulo: Atlas. 
HERMANN, J. (2002) A macroeconomia da dívida pública: notas sobre o debate teórico e a experiência brasileira recente (1999-2002).
Dossiê da Crise (In: www. ppge.ufrgs.br/akb)

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