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29/09/2014 1161 Palavras 5 Páginas Percepção Percepção: Resumo do capítulo 6 do livro “Psicologia” de David Myers(1) para o seminário da disciplina “Processos Psicológicos Básicos”. A sensação e a percepção, embora consideradas como processos que interagem continuamente, apresentam características diferentes. Enquanto a sensação é o processo em que o corpo capta os sinais eletromagnéticos e os enviam para o sistema nervoso central, a percepção é responsável por interpretar, organizar e codificar esses estímulos em sinais neurais. Para que isso aconteça é necessário que se faça uma seleção, organização e interpretação dessas sensações. Para exemplificar basta pensarmos que um ruído do ambiente que é transmitido através do sentido da audição, precisa ser processado em nosso cérebro para que consigamos interpretá-lo como o choro de um bebê, e diferenciá-lo de outros sons que são captados simultaneamente, como o barulho da chuva ou mesmo de um gato miando no telhado do vizinho. Nós não ouvimos somente uma mistura de notas e ritmos, mas sim o ruído do trânsito, ou a melodia de uma sinfonia. Nós transformamos as sensações em percepções e assim criamos o significado. Uma questão importante a ser considerada é que a percepção não é a mera projeção do mundo em nosso cérebro, mas a conversão das diversas partes das sensações em informações que ele reagrupa usando o seu modelo próprio de funcionamento do mundo exterior. Nosso cérebro “constrói a percepção” através de uma reconstrução dos estímulos. A percepção depende das características dos estímulos, de habilidades inatas e da experiência de cada organismo. Para que esse processo de percepção aconteça, o cérebro se utiliza de diversos padrões de funcionamento que iremos relatar a seguir: 1- Atenção Seletiva: Nossa atenção consciente é seletiva, só é possível fixa-la em um estímulo por vez. Diante da enorme quantidade de estímulos, nós selecionamos apenas alguns para focalizar. 2- Ilusões perceptivas: Uma vez atentos, nós organizamos e interpretamos nossas sensações (input) em percepções significativas (output) através de um processo denominado top-down. Neste processo, à partir de uma perspectiva superior, utilizamos conhecimentos prévios e expectativas que nos auxiliam a transformar informações sensoriais em percepções. Diante do estudo das ilusões perceptivas conseguimos compreender melhor o modo como nós normalmente organizamos e interpretamos nossas sensações. A captura visual mostra a predominância da visão diante das outras sensações. Mesmo sabendo que não é possível, vemos a voz saindo da boca de um boneco de um ventríloquo. 3- Organização Perceptiva: Nosso cérebro segue regras para a construção de percepções. Ao transformar informações sensoriais (input) em percepções significativas (output) é preciso organizá-las e perceber os objetos como algo diferente das outras coisas de seu meio, vê-los como possuindo uma forma que se mantém constante e percebendo seu movimento, sua profundidade e suas distâncias. O sistema nervoso central organiza simultaneamente as diversas características de um mesmo estímulo formando uma percepção. A percepção de figura-fundo é capacidade de distinguir adequadamente objeto e fundo em uma apresentação do campo visual. Um enfraquecimento nessa capacidade pode prejudicar seriamente a capacidade de aprender de uma criança 4- Interpretação Perceptiva: Todo esse processo de organização perceptiva se completa com a interpretação, que é a capacidade de discernirmos significado naquilo que percebemos. Essa habilidade é tanto inata quanto aprendida. Sabe-se que já nascemos com boa parte da capacidade perceptiva, mas, ao longo da vida existem períodos críticos para o desenvolvimento perceptivo. Quando ocorrem períodos de privação sensorial, o dano pode ser permanente se ocorrer no início da vida, o que não causaria tanto dano em períodos posteriores. A experiência decorrente da aprendizagem orienta e sustenta a organização cerebral. Os esquemas que nós já aprendemos nos ajudam a interpretar estímulos através de crenças e suposições. Isso pode nos levar facilmente a fazermos interpretações errôneas dos estímulos, simplesmente por generalizarmos e concluirmos baseados, por exemplo no conjunto perceptivo. Além disso os seres humanos possuem uma grande capacidade de adaptação perceptiva. Na psicologia, o estudo da percepção é de extrema importância, porque o comportamento das pessoas é baseado na interpretação que fazem da realidade e não da realidade em si. Por esse motivo, a percepção do mundo é diferente para cada um de nós, cada pessoa percebe um objeto ou uma situação de acordo com os aspectos que tem especial importância para si próprio. A medida que adquirimos novas informações, nossa percepção altera. Diversos experimentos com a percepção visual demonstram que é possível notar a mudança na percepção ao adquirir novas informações, algumas imagens ambíguas são exemplares ao permitir ver objetos diferentes de acordo com a interpretação que se faz em uma "imagem mutável", não é o estímulo visual que muda, mas apenas a interpretação que se faz desse sentido. Para ilustrar os conceitos trabalhados faremos uma análise do conto: A Mulher Desencarnada(2) Christina era uma mulher normal que, passou a apresentar uma alteração nas fibras nervosas que levam as sensações externas. Esta doença tem o nome de polineurite, que é uma afecção degenerativa simultânea de nervos periféricos. Essa doença pode atingir os nervos motores, sensoriais e autônomos, mas, no caso de Cristina afetou basicamente os nervos sensoriais. Em decorrência desse problema que prejudicou sua capacidade de propriocepção, ela passou a apresentar grande dificuldade em reconhecer a localização espacial de seu corpo, manter sua posição ereta e em controlar a força exercida pelos seus músculos. Ela perdeu as sensações nos músculos, tendões e articulações. A sensação do toque, temperatura e dor também foram afetadas, embora de maneira mais leve. O senso de posição foi o mais afetado levando à perda da capacidade de manter o equilíbrio e o tônus, o que tornou a realização de diversas atividades cotidianas inviável. Como o senso de corpo é regulado pela visão, pelos órgãos de equilíbrio e pela propriocepção, se um deles falhar, os outros poderão compensar ou substituir para amenizar a perda. Para poder voltar a obter o controle de seus movimentos Cristina fez uso da sua capacidade perceptual, principalmente pelo uso da visão. Seus limiares absoluto e relativo foram prejudicados, então as habilidades perceptivas se tornaram fundamentais para compensar suas perdas. Capacidades como a atenção seletiva, a percepção da forma (figura e fundo), a noção de tridimensionalidade a percepção da distância entre os objetos e a percepção de movimento se tornaram algo primordial em sua vida. Essas habilidades que nos passam despercebidas no dia a dia, se tornaram fundamentais para que Cristina conseguisse voltar a andar, segurar objetos e situar seu corpo no espaço. Como a visão era o sentido que a ajudava a se movimentar e a se localizar, a transdução e tradução sensorial é que a ajudava interpretar e a atribuir significados em seu redor. Como a sensação e a percepção se complementam, a paciente Christina teve como descobrir uma nova maneira para voltar a se movimentar, mesmo que de uma maneira mais lenta. Bibliografia: (1) MYERS, D. Psicologia. Rio de Janeiro: LTC, 2006. cap. 6. (2) SACKS, O. O homem que confundiu sua mulher com um chapéu. 1ª ed. São Paulo: Companhia da Letras, 1997, p. 22-37. ! • • 22/09/2020 01:38 Página 1 de 1