Prévia do material em texto
BIOTECNOLOGIA NA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA Prof. Msc. Lorena Oliveira O que é Biotecnologia? ■ É o estudo e desenvolvimento de organismos geneticamente modificados e sua utilização para fins produtivos. ■ Tecnologia desenvolvida a partir de conhecimentos de uma ou de várias áreas da biologia, com finalidade produtiva. ■ Uma área multidisciplinar que envolve conhecimentos de Biologia Molecular, Fermentação, Microbiologia, Purificação de Proteínas, Métodos Analíticos e Engenharia Genética. – Desenvolve organismos geneticamente modificados - bactérias, especificamente - que recebem genes humanos e se transformam no princípio ativo de novos medicamentos. ■ Segundo a Convenção sobre Diversidade Biológica da ONU (1992) – É entendida como qualquer aplicação tecnológica que use sistemas biológicos, organismos vivos ou derivados destes. ■ Novos medicamentos têm sido criados, em especial para doenças raras ou não tratadas previamente. – Os métodos de produção biotecnológica fornecem versões mais seguras de tratamentos existentes em quantidades ilimitadas. ■ Os medicamentos biotecnológicos já representam cerca de 10 a 15% do mercado farmacêutico. ■ Segundo a Fundação Biominas – São Paulo, Minas Gerais e o Sul do país concentram a maior número de empresas no setor, com patentes depositadas para produtos inovadores. ■ Os ativos intangíveis – Exercem um papel cada vez mais importante na criação de valor das empresas. ■ Instituto de Ciência e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, – Relata que a biotecnologia tem um importante papel na transformação da indústria farmacêutica, por meio de técnicas inovadoras que contribuem para o tratamento de diversas doenças. Vantagens ■ A utilização da Biotecnologia no desenvolvimento de novos medicamentos tem diversas vantagens específicas: ■ 1. A Biotecnologia permite o desenvolvimento e a produção de novas substâncias que foram anteriormente além das capacidades das tecnologias tradicionais. ■ 2. As preocupações com a segurança dos produtos nos países desenvolvidos têm desaparecido graças ao desenvolvimento de medicamentos biotecnológicos. ■ 3. A Biotecnologia oferece produtos mais direcionados para doenças específicas e grupos de doentes, através da utilização de tecnologias inovadoras, em particular, a genética. ■ Tratamentos para doenças raras e alguns tipos de cancro. ■ 4. Alguns produtos não são naturalmente criados em quantidade suficiente para fins terapêuticos. O farmacêutico no mercado da biotecnologia ■ O farmacêutico vive o melhor momento de consolidação profissional das últimas décadas. – Assim, se ele souber observar as oportunidades existentes e se capacitar com o objetivo de se diferenciar, será, com toda certeza, mais valorizado e disputado nesse mercado em franca expansão. ■ O profissional especializado em Biotecnologia terá um grande espaço de atuação na indústria farmacêutica dedicada a inovação. ■ Os setores de atuação para o farmacêutico especializado em biotecnologia são variados, como: ■ a produção de biofármacos, vacinas e anticorpos úteis em tratamentos complexos; ■ produção de reagentes para laboratórios; ■ controle de qualidade de biofármacos; ■ controle de qualidade de alimentos transgênicos; tratamento biológico de resíduos; ■ projetos para qualidade do meio ambiente. Futuro ■ A Biotecnologia continuará a proporcionar novos avanços na investigação clínica nos próximos anos, conduzindo a tratamentos em áreas que já nos eludiram anteriormente – cancro, – asma, – doença de Parkinson, – doença de Alzheimer), ■ E continuará igualmente a oferecer alternativas aos atuais tratamentos convencionais disponíveis. Biotecnologia é desafio para farmacêuticos ■ A falta de investimentos em novas fórmulas pela indústria farmacêutica brasileira coloca em risco o futuro sustentável do próprio setor. ■ Nos últimos 15 anos os laboratórios nacionais cresceram por meio da cópia de produtos sintéticos que perderam a patente. ■ Embora esse modelo seja bem-sucedido, já se vislumbra um esgotamento. ■ Dados da Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (Pró Genérico) apontam crescimento de 11,78% no volume de unidades vendidas em 2017, resultado superior ao desempenho do mercado farmacêutico total, que fechou o ano com crescimento de 5,73%. ■ A ICTQ afirma que para os farmacêuticos se diferenciarem no mercado, a indústria farmacêutica nacional deveria ser mais ousada em inovação. ■ “Os laboratórios produtores de medicamentos genéricos atuam em um mercado já estabelecido, não desenvolvendo produtos singulares e inovadores. O investimento de recursos em biotecnologia na indústria farmacêutica pode contribuir significativamente para a diferenciação no mercado”. ■ A Sanfarma, também concorda que as empresas brasileiras deveriam ser mais ousadas em inovações. 7 inovações que a biotecnologia trouxe para a indústria farmacêutica ■ Por ser uma ciência multidisciplinar, a biotecnologia pode trazer benefícios e inovações para as mais diversas áreas, desde a agricultura à robótica. ■ 1 – Biossensores ■ Os biossensores baseados em biotecnologia combinam diferentes componentes biológicos com componentes eletroquímicos com estruturas de sensores comuns. – Com o objetivo de sinalizar ou quantificar a presença de uma determinada substância. ■ No Brasil, por exemplo, existem pesquisas para o desenvolvimento de biossensores para a detecção de doenças infecciosas (como dengue e zika vírus) e também de tumores. ■ Estes dispositivos podem se tornar aparelhos portáteis e baratos. ■ Estima-se que o mercado de biossensores foi avaliado em cerca de US$ 16 bilhões em 2016, de acordo com a Markets and Markets, empresa de pesquisa e consultoria norte-americana na área de tecnologia da informação. – A previsão é que alcance US$ 27 bilhões até 2022. – Capazes de identificar substâncias em tempo real, são altamente sensíveis, seletivos e simples (dispensando o uso de tecnologias mais complexas e custosas) – Análises e diagnósticos clínicos são o maior alvo de investigação e produção de biossensores e, no que se diz respeito à saúde, as possibilidades para a sua aplicação são inúmeras: ■ monitoramento de condições crônicas, ■ rastreamento de fármacos e suas ações, ■ dosagem de níveis de oxigênio ou álcool no sangue, ■ análises genéticas ■ Aparelho medidor de glicemia, que é um dos maiores exemplos de aplicação de um biossensor na saúde ■ 2 – Biofármacos ■ São medicamentos obtidos por meio de técnicas biotecnológicas que utilizam células geneticamente modificadas para a produção de proteínas terapêuticas. ■ O exemplo mais clássico é a produção de insulina recombinante para pacientes diabéticos. ■ Mas há outros exemplos bem famosos de biofármacos, como os anticorpos monoclonais para o tratamento de câncer: – Trastuzumabe (comercialmente Herceptin, utilizado no tratamento de câncer de mama) – Rituximab (comercialmente Rituxan ou Mabthera, utilizado no tratamento de linfomas e leucemias). ■ O mercado global de biofármacos é estimado em US$ 160 bilhões ao ano. ■ No Brasil, existem algumas farmacêuticas nacionais com projetos de desenvolvimento de biofármacos, como a Libbs, a Cristália. ■ 3 – Antibióticos ■ Você sabia que os antibióticos também são produzidos por intermédio da biotecnologia? ■ Eles são compostos do metabolismo secundário de micro-organismos, geralmente produzidos durante a fase tardia de crescimento de bactérias e fungos. ■ Na Medicina, os antibióticos são utilizados para controlar doenças infecciosas ■ A produção biotecnológica de antibióticos é focada em processos fermentativos de alguns micro-organismos, como Penicillium spp e Streptomyces spp. ■ Antibióticos semissintéticos, por sua vez, são primeiramente produzidos por fermentação, purificados e depois sofrem alterações graças a reações de química orgânica. ■ O surgimento de superbactérias resistentes aos antibióticos disponíveis é um tópico muito importantedentro da Medicina e da indústria farmacêutica. ■ Pesquisadores do Brasil e do mundo estão trabalhando para o desenvolvimento de novos tipos de antibióticos para o tratamento de infecções por bactérias resistentes aos medicamentos tradicionais. ■ Por exemplo, pesquisadores do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) em Campinas-SP estão desenvolvendo um antibiótico para bloquear a formação da parede celular de bactérias do tipo bacilo. ■ 4 – Humano-no-chip ■ Ao ler o título deste tópico você logo pensou em chips implantados no corpo? – Calma! ■ A tecnologia de humano-no-chip (ou human-on-a-chip em inglês) na verdade é uma plataforma que pode ser utilizada para o teste de novos medicamentos, substituindo o uso de animais e buscando reproduzir a complexidade de interações que existem entre os órgãos do corpo humano. ■ A biotecnologia permite o cultivo de tecidos humanos em três dimensões, criando arranjos que simulam a morfologia e a funcionalidade dos órgãos. Diferentes tecidos podem ser cultivados num mesmo chip, que tem um tamanho de um smartphone, e computadores controlam a circulação de um fluido que cumpre parcialmente as funções do sangue. ■ Essa tecnologia permitirá que a indústria farmacêutica crie remédios e tratamentos mais seguros, sem precisar recorrer a testes em animais. No Brasil, a tecnologia Human-on-a-chip já está presente no LNBio em Campinas e integra o portfólio de projetos da Rede Nacional de Métodos Alternativo ao Uso de Animais (RENAMA). ■ 5 – Impressão de órgãos ■ Atualmente, a lista de espera para o transplante de órgãos é muito longa, e existem problemas relacionados à imunossupressão. ■ Pensando nisso, pesquisadores uniram a medicina, a biotecnologia e a engenharia e estão desenvolvendo órgãos humanos com o uso de impressoras 3D. ■ Nas próximas décadas, com a bioimpressão, órgãos poderão ser desenvolvidos a partir de células do próprio paciente, evitando o problema de rejeição e encurtando o tempo de espera para um transplante. ■ No Brasil, a pesquisa em bioimpressão 3D de órgãos vem sendo desenvolvida por pesquisadores da Divisão de Tecnologias Tridimensionais (DT3D), – Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI), ■ uma das unidades de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, localizada em Campinas (SP). ■ 6 – Medicina personalizada ■ Com o avanço das técnicas de sequenciamento de DNA, as informações genéticas estão facilmente disponíveis para os médicos, que vão poder escolher o tratamento/remédio adequado para cada doença de acordo com as particularidades do genoma do paciente. ■ Iniciativas de Medicina de Precisão e de criação de banco de dados (biobancos) se espalharam pelo mundo. – No Brasil, por exemplo, surgiu a iniciativa do BIPmed, o primeiro banco de dados genômicos com dados da América Latina. ■ A medicina de precisão (ou medicina personalizada) já é uma realidade para a escolha do tratamento de alguns tipos específicos de câncer. – Por exemplo, o tratamento com o biofármaco Trastuzumabe (comercialmente Herceptin) só é indicado para pacientes com câncer de mama cujos tumores expressam um oncogene específico, o HER2. ■ 7 – Terapia gênica ■ Utilizando técnicas de biotecnologia, pesquisadores buscam “consertar” genes que possuam defeitos e provoquem doenças, na chamada terapia gênica. ■ Em 2017 foram aprovadas duas terapias utilizando células imunes geneticamente modificadas coletadas do próprio paciente (terapia CAR T-cell): – tisagenlecleucel (Kymriah) — para crianças e adultos com leucemia avançada, da Novartis; – axicabtagene ciloleucel (Yescarta) — para pacientes com linfoma difuso de grandes células B, da Kite pharma. – vacina contra câncer, chamada mRNA-4157 entrou na fase I de testes clínicos. ■ Em relação à técnica de edição gênica CRISPR, que trouxe avanços em diversas áreas de pesquisas biológicas, dois testes clínicos foram anunciados para avaliar a tecnologia para o tratamento de câncer. ■ No Brasil, diversos centros já realizam pesquisa com CRISPR ■ LNBio em Campinas. ■ Como vimos, a biotecnologia também está presente no setor farmacêutico, trazendo inovação em diversos produtos e serviços. ■ Alguns deles, como os biofármacos, antibióticos, biocenoses e algumas das terapias gênicas, já estão disponíveis para auxiliar no tratamento e diagnóstico de pacientes. ■ Legislação que regulamenta o setor de Biotecnologia ■ O mercado farmacêutico bem como o da biotecnologia é altamente regulado por medidas provisórias, decretos, resoluções, tratados e convenções internacionais. A seguir seguem alguns exemplos que regulamentam o setor: ■ Medida provisória ■ Medida Provisória nº 2.186-16 (23/8/2001) ■ Regulamenta o inciso II do § 1o e o § 4o do art. 225 da Constituição, os Arts. 1o, 8o, alínea “j”, 10, alínea “c”, 15 e 16, alíneas 3 e 4 da Convenção sobre Diversidade Biológica, dispõe sobre o acesso ao patrimônio genético, a proteção e o acesso ao conhecimento tradicional associado, a repartição de benefícios e o acesso à tecnologia e a transferência de tecnologia para sua conservação e utilização, e dá outras providências. ■ Leis ■ – Lei nº 11.105 (24/3/2005) – Lei de Biossegurança ■ – Lei nº 6.938 (31/8/1981) – Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. ■ – Lei nº 9.279 (14/5/1996) – Regula direitos e obrigações relativos à propriedade industrial. ■ Decretos ■ – Decreto nº 6.041 (8/2/2007) ■ Institui a Política de Desenvolvimento da Biotecnologia, cria o Comitê Nacional de Biotecnologia e dá outras providências. ■ – Decreto nº 2.519 (16/3/98) ■ Promulga a Convenção sobre Diversidade Biológica, assinada no Rio de Janeiro, em 05 de junho de 1992. ■ – Decreto nº 4.339 (22/8/2002) ■ Institui princípios e diretrizes para a implementação da Política Nacional da Biodiversidade. ■ – Decreto nº 4.680 (24/4/2003) ■ Regulamenta o direito à informação, assegurado pela Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, quanto aos alimentos e ingredientes alimentares destinados ao consumo humano ou animal que contenham ou sejam produzidos a partir de organismos geneticamente modificados, sem prejuízo do cumprimento das demais normas aplicáveis. ■ – Decreto nº 5.950 (31/10/2006) ■ Regulamenta o art. 57-A da Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000, para estabelecer os limites para o plantio de organismos geneticamente modificados nas áreas que circundam as unidades de conservação. ■ Resoluções ■ – Resolução CNS nº 196 (10/10/1996) ■ Aprova as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos ■ – Resolução CTNBio nº 1 (30/10/1996) ■ Aprova o Regimento Interno da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança ■ – Resolução CNS nº 251 (7/8/1997) ■ Aprova normas de pesquisa envolvendo seres humanos para a área temática de pesquisa com novos fármacos, medicamentos, vacinas e testes diagnósticos ■ – Resolução CNS nº 292 (8/7/1999) ■ Norma complementar à Resolução CNS nº 196/96, referente à área específica sobre pesquisas em seres humanos, coordenadas do exterior ou com participação estrangeira e pesquisas que envolvam remessa de material biológico para o exterior. ■ Especialização ■ O ICTQ é pioneiro na oferta ao farmacêutico com o curso de Biotecnologia na Indústria Farmacêutica, – É um programa lato sensu de formação de recursos humanos em nível de pós- graduação para a atuação exclusiva no setor. ■ “O curso propõe a explanação das principais técnicas (biologia molecular, microbiologia industrial e engenharia bioquímica) envolvidas na manufatura de produtos biológicos aplicados à saúde, como biofármos, vacinas e anticorpos monoclonais para o tratamento de câncer e doenças complexas, bem como o entendimento do mercado da biotecnologia nacional e internacional”. ■ Durante o ano de 2007, A Eurofarma produziu quatro lotes piloto do primeiro remédio biotecnológico, a Filgrastima, para tratamento de pacientes com câncer.■ O Fiprima® (filgrastima) chegou ao mercado em 2018, indicado para induzir o aumento de células de defesa do organismo em portadores de alguns tipos de câncer, como mama e leucemia, ajudando a evitar o surgimento de doenças infecciosas oportunistas. ■ Além de atender o mercado privado, a Eurofarma tem em andamento um acordo com o Instituto Bio-Manguinhos/Fiocruz, via Parceria para o Desenvolvimento Produtivo, para fornecer o medicamento ao mercado público, mediante transferência de tecnologia.