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Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 3 – O Professor e as Diretrizes Curriculares 1 Na unidade anterior, estudamos as interfaces do currículo e as suas interrelações com a vivência pedagógica. Quando nos referimos ao currículo, é preciso ficar bem claro que o currículo é composto não só pelas necessidades educativas da comunidade escolar, mas também por diretrizes traçadas pelo sistema de ensino para toda a educação nacional. Nesta unidade, conheceremos as diretrizes curriculares nacionais para a educação básica com ênfase no segundo segmento do ensino fundamental e no ensino médio. Objetivos da unidade: • Conhecer as diretrizes curriculares nacionais; • Refletir sobre as exigências legais para a educação básica; • Reconhecer na prática educativa as bases curriculares; • Compreender a organização curricular dos ensinos fundamental e médio. Plano da unidade: • Diretrizes para o ensino fundamental. • Diretrizes para o Ensino Médio. Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 3 – O Professor e as Diretrizes Curriculares 2 Na unidade anterior, ao estudarmos o currículo enquanto processo, observamos que existe um currículo prescrito, ou seja, em sua formação, o currículo tem componentes que são comuns a todas as escolas brasileiras. Na educação brasileira, podemos citar as Diretrizes Curriculares Nacionais como um exemplo de currículo prescrito. As Diretrizes Curriculares Nacionais estão voltadas para cada nível de ensino. Existem Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil, para o Ensino Fundamental, para o Ensino Médio e para a Educação Superior, no caso da Educação Superior as diretrizes são específicas por curso. Estudaremos apenas as Diretrizes Curriculares para o Ensino Fundamental, que foram instituídas na Resolução CEB nº 02/98 em 07/04/98 e para o Ensino Médio, instituídas pela Resolução CEB nº 3 em 26/06/98. 1. DIRETRIZES PARA O ENSINO FUNDAMENTAL A educação permite inúmeras interfaces e cada realidade educativa tem seu arcabouço curricular; entretanto, alguns aspectos da estrutura educacional devem ser comuns a todo o território nacional, buscando garantir a unidade. No ensino fundamental, foram estabelecidos três princípios básicos que deverão nortear a ação pedagógica e que serão adicionados a outros princípios já estabelecidos pela unidade escolar. Segundo a Resolução CEB nº 02/98 em 07/04/98, Art. 3º, inciso I, os seguintes princípios deverão ser trabalhados no cotidiano da escola: • Princípios éticos da autonomia, da responsabilidade, da solidariedade e do respeito ao bem comum. • Princípios políticos dos direitos e deveres de cidadania, do exercício da criticidade e do respeito à ordem democrática. • Princípios estéticos da sensibilidade, da criatividade e da diversidade de manifestações artísticas e culturais. Vejamos, então, cada um desses princípios: Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 3 – O Professor e as Diretrizes Curriculares 3 ➢ Princípios éticos da autonomia, da responsabilidade, da solidariedade e do respeito ao bem comum. Vivemos em um mundo de constante transformação. O ser humano precisa educar-se para viver em uma comunidade planetária; essa vivência pressupõe o desenvolvimento de autonomias individuais, da responsabilidade pessoal e social e consequentemente do respeito ao bem comum, diminuindo o nível de competição e aumentando o espírito de solidariedade e de participação comunitária. A educação para a convivência democrática não pode abrir mão desses princípios éticos que farão parte de uma vida cidadã. ➢ Princípios políticos dos direitos e deveres de cidadania, do exercício, da criticidade e do respeito à ordem democrática. A convivência democrática, parte integrante de uma vida cidadã, pressupõe o entendimento de que cada cidadão possui direitos e deveres que devem ser respeitados na vida em sociedade e que a construção da cidadania perpassa pela busca da justiça social, pela igualdade de direitos, pela equidade e pela autonomia política. A prática pedagógica não pode deixar de trabalhar de forma crítica esses princípios. ➢ Princípios estéticos da sensibilidade, da criatividade e da diversidade de manifestações artísticas e culturais. O homem é um ser plural e o homem brasileiro, em especial, apresenta uma grande criatividade em sua forma de agir, pensar e expressar-se. E, para a vida em uma sociedade plural, é preciso que se desenvolva no sujeito o respeito à diversidade, o gosto pelo belo, a sensibilidade para percepção das diversas manifestações artísticas e culturais aprendendo assim a valorizar a riqueza da cultura brasileira. Além dos princípios que devem reger o ensino fundamental, a Resolução CEB nº 02/98, em 07/04/98, apresenta a necessidade das escolas construírem sua identidade. Os seguintes princípios deverão ser trabalhados no cotidiano da escola: Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 3 – O Professor e as Diretrizes Curriculares 4 Reconhecimento da identidade da comunidade escolar Ao definir suas propostas pedagógicas, as escolas deverão explicitar o reconhecimento da identidade pessoal de alunos, professores e outros profissionais e a identidade de cada unidade escolar e de seus respectivos sistemas de ensino. (Resolução CEB nº 02/98, Art. 3º, inciso II). A escola é formada por pessoas e para pessoas; portanto, é necessário que se reconheçam as diversidades e peculiaridades das mesmas. As questões étnicas, de gênero, etárias, socioeconômicas e culturais devem ser reconhecidas, respeitadas e valorizadas em prol da construção da identidade da comunidade escolar. Os princípios constitucionais de igualdade e da dignidade da pessoa humana devem ser praticados e vivenciados no interior da escola. Qualquer forma de discriminação e exclusão deve ser banida de seu interior; isso requer uma prática dialógica que permita a resolução de conflitos que possam surgir dessa diversidade e não apenas o “mascaramento” dessas situações. As propostas pedagógicas devem levar em consideração a identidade pessoal e coletiva da comunidade escolar para que possa desenvolver a consciência democrática em todos os seus membros. Reconhecimento dos diversos tipos de aprendizagens As escolas deverão reconhecer que as aprendizagens são constituídas pela interação dos processos de conhecimento com os de linguagem e os afetivos, em consequência das relações entre as distintas identidades dos vários participantes do contexto escolarizado; as diversas experiências de vida de alunos, professores e demais participantes do ambiente escolar, expressas através de múltiplas formas de diálogo, devem contribuir para a constituição de identidade afirmativas, persistentes e capazes de protagonizar ações autônomas e solidárias em relação a conhecimentos e valores indispensáveis à vida cidadã. (Resolução CEB nº 02/98. Art. 3º, inciso III). Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 3 – O Professor e as Diretrizes Curriculares 5 O ato de ensinar e aprender pressupõe muito mais que simples transmissão de conteúdos. Estão interligadas nesse processo as linguagens verbal, corporal, gestual, a afetividade e as inter-relações entre os sujeitos envolvidos nesse processo. As múltiplas formas de diálogo são o caminho para uma relação pedagógica de qualidade em que a construção do conhecimento acontece a partir do confronto de saberes de professores, de alunos, de livros, de materiais didáticos, da mídia, etc. O aluno incorpora criticamente os diversos tipos de saberes ao próprio processo de aprendizagem, quando aceita e realiza múltiplas interações, quando é capaz de aceitar a existência e compreender a diversidade de saberes, quando(re)constrói e constrói novos saberes. Dessa forma, a intervenção na realidade acaba acontecendo de forma natural, facilitando, assim, a assunção da cidadania. Paradigma curricular Em todas as escolas deverá ser garantida a igualdade de acesso para alunos a uma base nacional comum, de maneira a legitimar a unidade e a qualidade da ação pedagógica na diversidade nacional. A base comum nacional e sua parte diversificada deverão integrar-se em torno do paradigma curricular, que vise a estabelecer a relação entre a educação fundamental e a vida cidadã (...) e as áreas de conhecimento (...) (Resolução CEB nº 02/98. Art. 3º, inciso IV). Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 3 – O Professor e as Diretrizes Curriculares 6 Em relação à vida cidadã, a Resolução CEB nº 02/98 destaca a necessidade de articulação entre os saberes constituídos das áreas de conhecimento e aspectos da vida humana, tais como: saúde, sexualidade, vida familiar, meio ambiente, trabalho, ciência e tecnologia, cultura e múltiplas linguagens. Destaca ainda as áreas de conhecimento: Língua Portuguesa, Língua Materna para populações indígenas e migrantes, Matemática, Ciências, Geografia, História, Língua Estrangeira, Educação Artística, Educação Física e Educação Religiosa, na forma do art. 33, da Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. As áreas de conhecimento formam a base nacional comum, essa base, tem o objetivo de permitir que todo aluno possa ter acesso a conteúdos mínimos, além de ser o ponto de partida para a avaliação nacional do rendimento escolar. A base nacional comum deve preponderar sobre a parte diversificada. Paradigma curricular: estamos nos referindo a uma forma de organizar princípios éticos, políticos e estéticos que fundamentam a articulação entre áreas de conhecimentos e aspectos da vida cidadã. Vida cidadã: exercício de direitos e deveres de pessoas, grupos e instituições na sociedade, que, em sinergia, em movimento cheio de energias que se trocam e se articulam, influem sobre múltiplos aspectos, podendo viver bem e transformar a convivência para melhor. Educação Artística: passou a se denominar Artes, com a resolução CNE/CEB nº 2, de 07/04/ 98. Educação Religiosa: O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo. (Redação dada pela Lei nº 9.475, de 22.7.1997) Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 3 – O Professor e as Diretrizes Curriculares 7 A construção da Base Nacional Comum passa pela constituição dos saberes integrados à ciência e à tecnologia, criados pela inteligência humana. Por mais instituinte e ousado, o saber terminará por fundar uma tradição, por criar uma referência. A nossa relação com o instituído não deve ser, portanto, de querer destruí-lo ou cristalizá-lo. Sem um olhar sobre o instituído, criamos lacunas, desfiguramos memórias e identidades, perdemos vínculo com a nossa história, quebramos os espelhos que desenham nossas formas. A modernidade, por mais crítica que tenha sido da tradição, arquitetou-se a partir de referências e paradigmas seculares. A relação com o passado deve ser cultivada, desde que se exerça uma compreensão do tempo como algo dinâmico, mas não simplesmente linear e sequencial. A articulação do instituído com o instituinte possibilita a ampliação dos saberes, sem retirá-los da sua historicidade e, no caso do Brasil, de interação entre nossas diversas etnias, com as raízes africanas, indígenas, europeias e orientais. (Parecer Nº: CEB 04/98, de 29/01/98). Integração com a comunidade As escolas deverão explicitar em suas propostas curriculares processos de ensino voltados para as relações com sua comunidade local, regional e planetária, visando à interação entre a educação fundamental e a vida cidadã; os alunos, ao aprenderem os conhecimentos e valores da base nacional comum e da parte diversificada, estarão também constituindo sua identidade como cidadãos, capazes de serem protagonistas de ações responsáveis, solidárias e autônomas em relação a si próprios, às suas famílias e às comunidades. (Resolução CEB nº 02/98. Art. 3º, inciso V). O processo educativo não pode distanciar-se da vida e dos processos sociais. O aluno deve ser educado na vida e para a vida, desenvolvendo a capacidade de pensar com autonomia e criticidade. As peculiaridades locais e regionais não podem ser esquecidas e nem tornarem-se agentes limitadores do conhecimento, ao contrário, devem ser o Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 3 – O Professor e as Diretrizes Curriculares 8 ponto de partida para um projeto pedagógico contextualizado que permita a ampliação e a construção de uma rede de saberes. Parte diversificada As escolas utilizarão a parte diversificada de suas propostas curriculares para enriquecer e complementar a base nacional comum, propiciando, de maneira específica, a introdução de projetos e atividades do interesse de suas comunidades. (Resolução CEB nº 02/98. Art. 3º, inciso VI). O currículo prescrito não é engessado, inflexível. Ele é vivo, ou seja, permite que a escola atenda às expectativas educativas da comunidade escolar através de sua parte diversificada. Na parte diversificada do currículo, a escola poderá desenvolver projetos e atividades que atendam aos interesses específicos da comunidade escolar. Podemos citar, como exemplos de enriquecimento curricular, projetos de pesquisa sobre: as construções locais, a colonização da região, ecossistemas regionais, informática, televisão e/ou vídeo, xadrez, etc. A parte diversificada do currículo poderá oferecer ricas oportunidades de ampliar, contextualizar e aprofundar conhecimentos e valores presentes na base nacional comum, além de desenvolver atitudes necessárias à vida cidadã. Planejamento participativo As escolas devem trabalhar em clima de cooperação entre a direção e as equipes docentes, para que haja condições favoráveis à adoção, execução, avaliação e aperfeiçoamento das estratégias educacionais, em consequência do uso adequado do espaço físico, do horário e calendário escolares, na forma dos art. 12 a 14 da Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. (Resolução CEB nº 02/98. Art. 3º, inciso VII). Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 3 – O Professor e as Diretrizes Curriculares 9 A escola é uma complexa estrutura que deve ter uma ação integrada para funcionar bem. Todos os componentes da comunidade escolar devem cultivar o espírito de equipe e realizarem um planejamento comum que permita a participação de todos além de primar pela utilização de forma racional e consciente do espaço e do tempo escolar. Comunidade escolar: Todas as pessoas envolvidas com as atividades da escola: diretores, professores, funcionários, alunos, pais e comunidade no entorno da escola. O Projeto Político Pedagógico deve ser discutido pelo grupo de forma que as ações implementadas sejam de responsabilidade comum, que todos se tornem corresponsáveis pelo processo educativo e pela tomada de decisões sobre a implantação diretrizes curriculares no ensino fundamental. Podemos perceber que as diretrizes curriculares para o ensino fundamental, além de respeitar as características regionais e locais da sociedade e a cultura do grupo, instigam a escola e os professores a fazerem o mesmo, valorizando os saberes do grupo educativo. Com isso, o currículo prescrito buscagarantir a todos, dentro de contextos educacionais diversos e específicos, o direito de acesso a conteúdos nacionalmente aceitos. O Parecer Nº: CEB 04/98 de 29/01/98, página 10, ainda apresenta três importantes observações quanto ao paradigma curricular. Vejamos cada uma delas: Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 3 – O Professor e as Diretrizes Curriculares 10 1ª – A busca de definição, nas propostas pedagógicas das escolas, dos conceitos específicos para cada área de conhecimento, sem desprezar a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade entre as várias áreas. Neste sentido, as propostas curriculares dos sistemas e das escolas devem articular fundamentos teóricos que embasem a relação entre conhecimentos e valores voltados para uma vida cidadã, em que, como prescrito pela LDB, o ensino fundamental esteja voltado para o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo; compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade, desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância. 2ª – A compreensão de que propostas curriculares das escolas e dos sistemas, e das propostas pedagógicas das escolas, devem integrar bases teóricas que favoreçam a organização dos conteúdos do paradigma curricular da Base Nacional Comum e sua Parte Diversificada: Tudo, visando ser consequente no planejamento, desenvolvimento e avaliação das práticas pedagógicas. 3ª – A cautela em não adotar apenas uma visão teórico- metodológica como a única resposta para todas as questões pedagógicas. Os professores precisam de um aprofundamento continuado e de uma atualização constante em relação às diferentes orientações originárias da Psicologia, Antropologia, Sociologia, Psíquico e sociolinguística e outras Ciências Humanas, Sociais e Exatas para evitar os modismos educacionais, suas frustrações e resultados falaciosos. 2. DIRETRIZES PARA O ENSINO MÉDIO A prática pedagógica no ensino médio, além dos preceitos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que prevê a vinculação da educação ao mundo do trabalho e a prática social, a consolidação e a preparação para o exercício da cidadania e a preparação básica para o trabalho deve pautar sua ação em três princípios básicos definidos pela Resolução CEB nº 3, de 26/06/98, Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 3 – O Professor e as Diretrizes Curriculares 11 art. 3º. A organização curricular e as situações de aprendizagens devem ser coerentes com esses princípios: • Estética da sensibilidade; • Política da igualdade; • Ética da identidade. Vejamos cada um desses princípios: A Estética da sensibilidade Deverá substituir a da repetição e padronização, estimulando a criatividade, o espírito inventivo, a curiosidade pelo inusitado, e a afetividade, bem como facilitar a constituição de identidades capazes de suportar a inquietação, conviver com o incerto e o imprevisível, acolher e conviver com a diversidade, valorizar a qualidade, a delicadeza, a sutileza, as formas lúdicas e alegóricas de conhecer o mundo e fazer do lazer, da sexualidade e da imaginação um exercício de liberdade responsável. (Resolução CEB nº 3. Art. 3º, de 26/06/98). O homem do século XXI necessita desenvolver a sua criatividade, sua afetividade, seu espírito inventivo e consequentemente a habilidade de criar novas estratégias que permitam lidar com novas situações de vida, com o inesperado. É preciso que se eduque para a incerteza do amanhã, mas sem que se perca a sensibilidade. Na contemporaneidade, a educação precisa desenvolver a compreensão de que a estética da sensibilidade deve estar presente nas diversas instâncias da vida e que o homem tem uma natureza criadora que não pode ser “endurecida”: a leveza, a delicadeza, a sutileza e a beleza não podem ser descartadas do cotidiano. A estética da sensibilidade valoriza a diversidade cultural brasileira em todas as suas formas de expressão. Isso minimiza as discriminações étnicas, sociais, econômicas e culturais e fortalece a construção da identidade e da cidadania do grupo, extrapolando assim sua condição de princípio inspirador Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 3 – O Professor e as Diretrizes Curriculares 12 para o ensino médio e transformando-se em atitude ética e política diante da intolerância, da exclusão e da intransigência. A política da igualdade Tendo como ponto de partida o reconhecimento dos direitos humanos e dos deveres e direitos da cidadania, visando à constituição de identidades que busquem e pratiquem a igualdade no acesso aos bens sociais e culturais, o respeito ao bem comum, o protagonismo e a responsabilidade no âmbito público e privado, o combate a todas as formas discriminatórias e o respeito aos princípios do Estado de Direito na forma do sistema federativo e do regime democrático e republicano. (Resolução CEB nº 3. Art. 3º, de 26/06/98). A educação deve fortalecer o sentimento de igualdade, de respeito ao outro e ao bem comum, banindo o egocentrismo e o etnocentrismo. É preciso educar para uma convivência democrática, de respeito às diferenças, em uma cultura da paz em que o diálogo possa ser a chave para a resolução de conflitos. O ponto de partida para um processo educativo é o reconhecimento dos direitos humanos e a prática desses direitos e dos deveres inerentes à cidadania; entretanto, esse reconhecimento não pode estar restrito ao discurso formal, aos projetos, à legislação... É necessário o seu exercício diário. A política da igualdade deve caminhar de forma concomitante com a busca da equidade. Quando isso não acontece, a igualdade tão proclamada acaba ficando no plano da utopia. Portanto, a vivência e a prática pedagógica se desenvolve a partir das inter-relações entre desiguais em busca de uma superação e de uma transformação a partir do diálogo, da contextualização, da (re)significação dos conteúdos curriculares, na convivência escolar, na troca entre professores, alunos, comunidade escolar e meio social. A igualdade de oportunidades, o entendimento da diversidade, o reconhecimento da capacidade que todos têm de ensinar e aprender e da existência de diversos tipos de saberes são o alicerce para a política da igualdade. Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 3 – O Professor e as Diretrizes Curriculares 13 A ética da identidade Buscando superar dicotomias entre o mundo da moral e o mundo da matéria, o público e o privado, para constituir identidades sensíveis e igualitárias no testemunho de valores de seu tempo, praticando um humanismo contemporâneo, pelo reconhecimento, respeito e acolhimento da identidade do outro e pela incorporação da solidariedade, da responsabilidade e da reciprocidade como orientadoras de seus atos na vida profissional, social, civil e pessoal. (Resolução CEB nº 3. Art. 3º, de 26/06/98). A ética da identidade não é um tema a ser trabalhado. Ela é desenvolvida na ação cotidiana a partir de um conjunto de autonomias que o aluno vai construindo em sua vivência grupal, na cooperação, na participação comunitária, no diálogo, no seu fazer, no desenvolvimento de uma consciência social. O desenvolvimento da ética da identidade nada tem haver com o moralismo e a moralidade tão apregoada quando nos deparamos com padrões sociais diferentes dos nossos; diz respeito à construção diária de identidades, à vivência da estética da sensibilidade, ao respeito e reconhecimento do direito à igualdade. Aprender a conviver, compartilhar, comungarideias e valores fortalece o aprender a ser. A ética da identidade viabiliza o pensar autônomo e consequentemente o juízo de valor, fortalecendo as escolhas de um projeto pessoal de vida. Competências Básicas As propostas pedagógicas das escolas e os currículos constantes dessas propostas incluirão competências básicas, conteúdos e formas de tratamento dos conteúdos (...). (Resolução CEB nº 3. Art. 4º, de 26/06/98). Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 3 – O Professor e as Diretrizes Curriculares 14 Vejamos as competências básicas esperadas que, ao término do Ensino Médio, o aluno tenha desenvolvido: Competências: constituem-se em um conjunto de conhecimentos, atitudes, capacidades e aptidões que habilitam alguém para vários desempenhos da vida. (...) desenvolvimento da capacidade de aprender e continuar aprendendo, da autonomia intelectual e do pensamento crítico, de modo a ser capaz de prosseguir os estudos e de adaptar-se com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento. (Resolução CEB nº 3 de 26/06/98, art. 4º, Inciso I). (...) constituição de significados socialmente construídos e reconhecidos como verdadeiros sobre o mundo físico e natural, sobre a realidade social e política (...) (Resolução CEB nº 3 de 26/06/98, art. 4º, Inciso II). (...) compreensão do significado das ciências, das letras e das artes e do processo de transformação da sociedade e da cultura, em especial as do Brasil, de modo a possuir ascompetências e habilidades necessárias ao exercício da cidadania e do trabalho (...) (Resolução CEB nº 3 de 26/06/98, art. 4º Inciso III) (...) domínio dos princípios e fundamentos científicotecnológicos que presidem a produção moderna de bens, serviços e conhecimentos, tanto em seus produtos como em seus processos, de modo a ser capaz de relacionar a teoria com a prática e o desenvolvimento da flexibilidade para novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores (...) (Resolução CEB nº 3 de 26/06/98, art. 4º, Inciso IV). (...) competência no uso da língua portuguesa, das línguas estrangeiras e outras linguagens contemporâneas como instrumentos de comunicação e como processos de constituição de conhecimento e de exercício de cidadania. (Resolução CEB nº 3 de 26/06/98, art. 4º, Inciso V). Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 3 – O Professor e as Diretrizes Curriculares 15 Competências e habilidades caminham juntas, são inseparáveis da ação pedagógica; entretanto, para que aconteça o desenvolvimento das habilidades faz-se necessário o domínio de conhecimentos, pois será a partir disso que o aluno desenvolverá atitudes, capacidades e aptidões que o habilitarão para os vários desempenhos da vida. O desenvolvimento de habilidades está ligado às dimensões do saber-conhecer, do saber-fazer, do saber-conviver e do saber- ser e o conjunto de habilidades harmonicamente desenvolvido acaba por gerar competências para a vida pessoal, social e profissional. Saber-conhecer, saber-fazer, saberconviver e saber-ser: estes são os quatro pilares para a educação do século XXI, estabelecidos pela UNESCO. Ao final do ensino médio, o aluno deverá ter desenvolvido diversas habilidades básicas e essenciais. As habilidades são desenvolvidas a partir do conjunto das disciplinas estudadas. São exemplos de habilidades: compreender fenômenos, analisar situações-problema, relacionar informações, correlacionar, sintetizar e julgar. A partir desses exemplos, você pode perceber que as habilidades básicas não pertencem exclusivamente a uma única disciplina, ao contrário, muitas habilidades são e devem ser desenvolvidas por todas as disciplinas curriculares. O professor do século XXI deverá ser capaz de mobilizar as diversas habilidades necessárias ao aluno para que este possa desenvolver as competências necessárias para o enfrentamento de uma vida cidadã. Para conseguir isso, o professor precisa modificar o foco tradicional do ensino - transmissão de informações - e redirecioná-lo para uma educação contextualizada e interdisciplinar, educando para a formação de competências. Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 3 – O Professor e as Diretrizes Curriculares 16 Organização curricular As diretrizes curriculares para o ensino médio apontam alguns pontos que deverão ser observados pelas escolas na hora de organizar seu currículo, a fim de cumprir as finalidades do ensino médio. Leia com atenção cada item e observe na escola ações que contribuam para que realmente essas finalidades sejam cumpridas. Para cumprir as finalidades do ensino médio previstas pela lei, as escolas organizarão seus currículos de modo a: - ter presente que os conteúdos curriculares não são fins em si mesmos, mas meios básicos para constituir competências cognitivas ou sociais, priorizando-as sobre as informações; - ter presente que as linguagens são indispensáveis para a constituição de conhecimentos e competências; - adotar metodologias de ensino diversificadas, que estimulem a reconstrução do conhecimento e mobilizem o raciocínio, a experimentação, a solução de problemas e outras competências cognitivas superiores; - reconhecer que as situações de aprendizagem provocam também sentimentos e requerem trabalhar a afetividade do aluno. (Resolução CEB nº 3. Art. 5º, de 26/06/98). Princípios pedagógicos As diretrizes curriculares para o ensino médio, no seu art. 6º, apontam como base para o currículo, ou seja, a estrutura sobre a qual o currículo se apoiará os seguintes princípios pedagógicos: da identidade, diversidade e autonomia, da interdisciplinaridade e da contextualização. Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 3 – O Professor e as Diretrizes Curriculares 17 Identidade, diversidade e autonomia. Na observância da identidade, diversidade e autonomia, os sistemas de ensino e as escolas, na busca da melhor adequação possível às necessidades dos alunos e do meio social, desenvolverão, mediante a institucionalização de mecanismos de participação da comunidade, alternativas de organização institucional que possibilitem: a) identidade própria enquanto instituições de ensino de adolescentes, jovens e adultos, respeitadas as suas condições e necessidades de espaço e tempo de aprendizagem; b) uso das várias possibilidades pedagógicas de organização, inclusive espaciais e temporais; c) articulações e parcerias entre instituições públicas e privadas, contemplando a preparação geral para o trabalho, admitida a organização integrada dos anos finais do ensino fundamental com o ensino médio. (Resolução CEB nº 3 de 26/06/98, art. 7º, Inciso I). (...) fomentarão a diversificação de programas ou tipos de estudo disponíveis, estimulando alternativas, a partir de uma base comum, de acordo com as características do alunado e as demandas do meio social, admitidas as opções feitas pelos próprios alunos, sempre que viáveis técnica e financeiramente; (Resolução CEB nº 3 de 26/06/98, art. 7º, Inciso II). (...) instituirão sistemas de avaliação e/ou utilizarão os sistemas de avaliação operados pelo Ministério da Educação e do Desporto, a fim de acompanhar os resultados da diversificação, tendo como referência as competências básicas a serem alcançadas, a legislação do ensino, estas diretrizes e as propostas pedagógicas das escolas; (Resolução CEB nº 3 de 26/06/98, art. 7º, Inciso III). (...) criarão os mecanismos necessários ao fomento e fortalecimento da capacidade de formular e executar propostas pedagógicas escolares características do exercício da autonomia; (Resolução CEB nº 3 de 26/06/98, art. 7º, Inciso IV). Vivênciae Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 3 – O Professor e as Diretrizes Curriculares 18 (...) criarão mecanismos que garantam liberdade e responsabilidade das instituições escolares na formulação de sua proposta pedagógica, e evitem que as instâncias centrais dos sistemas de ensino burocratizem e ritualizem o que, no espírito da lei, deve ser expressão de iniciativa das escolas, com protagonismo de todos os elementos diretamente interessados, em especial dos professores; (Resolução CEB nº 3 de 26/06/98, art. 7º, Inciso V). (...) instituirão mecanismos e procedimentos de avaliação de processos e produtos, de divulgação dos resultados e de prestação de contas, visando desenvolver a cultura da responsabilidade pelos resultados e utilizando os resultados para orientar ações de compensação de desigualdades que possam resultar do exercício da autonomia. (Resolução CEB nº 3 de 26/06/98, art. 7º, Inciso VI). Segundo H. Arendt (1972, p. 246), “não se pode educar sem ao mesmo tempo ensinar; uma educação sem aprendizagem é vazia e, portanto degenera, com muita facilidade, em retórica moral e emocional”. Cada realidade é única e o Ensino Médio ainda está muito longe da realidade de muitos brasileiros e, muitos dos que têm acesso ao ensino médio, ainda recebem uma educação insatisfatória. Para mudar esse quadro, é preciso que a escola perceba a diversidade como elemento alavancador para a superação desse quadro. A partir do reconhecimento da diversidade, a escola poderá construir sua identidade de forma autônoma. A organização escolar, através do seu projeto político pedagógico, deve fundamentar-se em uma missão educacional, em que a própria comunidade escolar possa buscar alternativas institucionais que possam atender a essa missão. O PPP deve atender às demandas do meio social, buscando um processo de aprendizagem com ampla diversificação de estudos, de modo a oferecer ao alunado igualdade de acesso e de condições. Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 3 – O Professor e as Diretrizes Curriculares 19 Projeto político pedagógico ou PPP - é o planejamento global da escola; todas as ações desenvolvidas na escola têm por objetivo atender às necessidades educativas do grupo. O Projeto Político Pedagógico deve traduzir a autonomia cognitiva de professores, alunos e comunidade escolar, a responsabilidade coletiva pelo aperfeiçoamento constante e o comprometimento com o aprender a conhecer, o aprender a fazer, o aprender a conviver e o aprender a ser. Importante Aprender a conhecer ou aprender a aprender - pressupõe um conhecimento de forma autônoma, independente em que a busca pelo conhecimento, pelo aperfeiçoamento, por novos saberes, faz parte do cotidiano. Aprender a fazer - pressupõe o desenvolvimento das competências pessoais, que levam o homem a não temer o inesperado e que permitam não só aplicar os saberes já adquiridos, mas também adaptá-los a situações novas. Aprender a conviver - pressupõe a cooperação, a participação em projetos comuns, compartilhar informações e saberes. Aprender a ser - pressupõe o desenvolvimento integral do homem, sua humanização. Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 3 – O Professor e as Diretrizes Curriculares 20 A interdisciplinaridade Na observância da Interdisciplinaridade as escolas terão presente que: - a Interdisciplinaridade, nas suas mais variadas formas, partirá do princípio de que todo conhecimento mantém um diálogo permanente com outros conhecimentos, que pode ser de questionamento, de negação, de complementação, de ampliação, de iluminação de aspectos não distinguidos; (Resolução CEB nº 3 de 26/06/98, art. 8º, Inciso I). - o ensino deve ir além da descrição e procurar constituir nos alunos a capacidade de analisar, explicar, prever e intervir, objetivos que são mais facilmente alcançáveis se as disciplinas, integradas em áreas de conhecimento, puderem contribuir, cada uma com sua especificidade, para o estudo comum de problemas concretos, ou para o desenvolvimento de projetos de investigação e/ou de ação; (Resolução CEB nº 3 de 26/06/98, art. 8º, Inciso II). - as disciplinas escolares são recortes das áreas de conhecimentos que representam, carregam sempre um grau de arbitrariedade e não esgotam isoladamente a realidade dos fatos físicos e sociais, devendo buscar entre si interações que permitam aos alunos a compreensão mais ampla da realidade; (Resolução CEB nº 3 de 26/06/98, art. 8º, Inciso III). - a aprendizagem é decisiva para o desenvolvimento dos alunos, e por esta razão as disciplinas devem ser didaticamente solidárias para atingir esse objetivo, de modo que disciplinas diferentes estimulem competências comuns, e cada disciplina contribua para a constituição de diferentes capacidades, sendo indispensável buscar a complementaridade entre as disciplinas a fim de facilitar aos alunos um desenvolvimento intelectual, social e afetivo mais completo e integrado; (Resolução CEB nº 3 de 26/06/98, art. 8º, Inciso IV). Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 3 – O Professor e as Diretrizes Curriculares 21 - a característica do ensino escolar, tal como indicada no inciso anterior, amplia significativamente a responsabilidade da escola para a constituição de identidades que integram conhecimentos, competências e valores que permitam o exercício pleno da cidadania e a inserção flexível no mundo do trabalho. (Resolução CEB nº 3 de 26/06/98, art. 8º, Inciso V). A organização curricular por área de conhecimento facilita a ação didática interdisciplinar, em que os saberes se entrelaçam, formando uma única tessitura. O tratamento dado às diversas disciplinas que compõem o currículo escolar deixa de ser estanque e passam a dialogar entre si, o que facilita a descompartimentização do conhecimento. Deixam de existir disciplinas mais ou menos nobres, todas são importantes; por isso, fazem parte do currículo escolar. Todas têm seus saberes, seus múltiplos conhecimentos, sua importância e sua contribuição para a formação global do aluno do ensino médio. Um conhecimento que permita a compreensão concreta de um problema, o entendimento de um determinado fenômeno sob diferentes pontos de vista, uma leitura crítica da realidade, a utilização dos saberes construídos ao longo do período de escolaridade são o que se espera desenvolver com uma visão multifocal a partir da interdisciplinaridade. Uma prática pedagógica interdisciplinar possibilita a interrelação das disciplinas de forma que projetos de trabalho possam dar conta de temas complexos, mobilizando habilidades e competências exigidas nas mais diversas áreas. Toda prática interdisciplinar pressupõe um eixo integrador que deve surgir a partir da necessidade da comunidade escolar. Normalmente, uma única disciplina não consegue dar conta de atender à necessidade sentida de explicar, compreender e intervir na realidade. Somente a partir do diálogo entre as disciplinas é que se torna possível identificar os conceitos de cada uma e sua contribuição para o enriquecimento do conhecimento global de aluno e professores. Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 3 – O Professor e as Diretrizes Curriculares 22 Interdisciplinaridade: trabalho cooperativo, aberto ao diálogo e ao planejamento integrado das diferentes áreas do conhecimento. As diferentes disciplinas não aparecem de forma fragmentada e compartimentada, interagem e dialogam entre si. Projeto de trabalho - é o planejamento da ação educativa baseado no trabalho por projetos: são projetos de aprendizagem desenvolvidos na escola por um determinado período. (ApudVasconcellos, 1999, p. 96). A contextualização Na observância da Contextualização as escolas terão presente que: - na situação de ensino e aprendizagem, o conhecimento é transposto da situação em que foi criado, inventado ou produzido, e por causa desta transposição didática deve ser relacionado com a prática ou a experiência do aluno a fim de adquirir significado; (Resolução CEB nº 3 de 26/06/98, art. 9º, Inciso I). - a relação entre teoria e prática requer a concretização dos conteúdos curriculares em situações mais próximas e familiares do aluno, nas quais se incluem as do trabalho e do exercício da cidadania; (Resolução CEB nº 3 de 26/06/98, art. 9º, Inciso II). - a aplicação de conhecimentos constituídos na escola às situações da vida cotidiana e da experiência espontânea permite seu entendimento, crítica e revisão. (Resolução CEB nº 3 de 26/06/98, art. 9º, Inciso III). Todo conhecimento pressupõe a existência de uma relação entre sujeito e objeto; quando não existe essa relação, há apenas o repasse de informações em que o foco acaba sendo a memorização de fatos narrados pelo professor. É preciso que o sujeito interaja com o objeto através da transposição didática. Dessa forma, o conteúdo provoca aprendizagens significativas. Quando o aluno Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 3 – O Professor e as Diretrizes Curriculares 23 se percebe nos conteúdos, ocorre uma relação de reciprocidade e a aprendizagem torna-se mais prazerosa. Perceber-se nos conteúdos é abandonar a condição de espectador passivo e tornar-se construtor do próprio conhecimento. Nesse processo, cabe à escola o tratamento contextualizado do conhecimento. A contextualização permite a aproximação dos conteúdos escolares com a vida, favorecendo a ponte entre teoria e prática, ou seja, a experiência escolar pode facilitar a compreensão da experiência pessoal e vice-versa. A contextualização torna-se assim um recurso pedagógico capaz de favorecer a formação de capacidades intelectuais superiores, segundo o Parecer CEB nº 15/98: Capacidades que permitam transitar inteligentemente do mundo da experiência imediata e espontânea para o plano das abstrações e, deste, para a reorganização da experiência imediata, de forma a aprender que situações particulares e concretas podem ter uma estrutura geral. Contextualização: os conteúdos impregnados da(s) realidade(s) do aluno demarcam o significado pedagógico da contextualização. A Base nacional comum A base nacional comum dos currículos do ensino médio será organizada em áreas de conhecimento, a saber: - Linguagens, Códigos e suas Tecnologias; - Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias; - Ciências Humanas e suas Tecnologias. (Resolução CEB nº 3 de 26/06/98, art. 10º, Incisos I, II e III). Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 3 – O Professor e as Diretrizes Curriculares 24 A base nacional comum dos currículos do ensino médio deverá contemplar as três áreas do conhecimento, com tratamento metodológico que evidencie a interdisciplinaridade e a contextualização. (Resolução CEB nº 3 de 26/06/98, art. 10, § 1º). As propostas pedagógicas de escolas que adotarem organização curricular flexível, não estruturada por disciplinas, deverão assegurar tratamento interdisciplinar e contextualizado, visando ao domínio de conhecimentos de Filosofia e Sociologia necessários ao exercício da cidadania. (Resolução CEB nº 4 de 16/08/06, art. 10 § 2º). No caso de escolas que adotarem, no todo ou em parte, organização curricular estruturada por disciplinas, deverão ser incluídas as de Filosofia e Sociologia. (Resolução CEB nº 4 de 16/08/06, art. 10 § 3º). Os componentes História e Cultura Afro-Brasileira e Educação Ambiental serão, em todos os casos, tratados de forma transversal, permeando, pertinentemente, os demais componentes do currículo.” (Resolução CEB nº 4 de 16/08/06, art. 10, § 4º). A Base Nacional Comum do Ensino Médio engloba três grandes áreas de conhecimento. Essas áreas deverão dialogar entre si, buscando pontos comuns e pontos que possam enriquecer as disciplinas que formam as áreas. A LDB deixa claro que a interdisciplinaridade e a contextualização constituem o eixo doutrinário organizador do currículo escolar e que todo o conhecimento deve estar voltado para o ensinar e o aprender de forma significativa e integradora. No ensino médio, os saberes da sociologia e da filosofia fazem parte da base nacional comum em forma disciplinar ou através da transversalidade. Dessa forma, o conhecimento de ambas estará presente na formação cidadã do alunado. Fazem parte também a História e a Cultura Afro-brasileira, tendo em vista a construção de nossa identidade e o reconhecimento da contribuição de diferentes etnias em nossa formação cultural. E a Educação Ambiental, tendo Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 3 – O Professor e as Diretrizes Curriculares 25 em vista a necessidade de reconhecimento da identidade planetária e da preservação da vida do planeta e consequentemente da utilização racional dos recursos naturais renováveis ou não que ele nos oferece. Esses são os principais componentes da base nacional comum para o Ensino Médio. É importante lembrar que a base comum é o mínimo que todas as escolas brasileiras devem oferecer. A parte diversificada Na base nacional comum e na parte diversificada será observado que: - as definições doutrinárias sobre os fundamentos axiológicos e os princípios pedagógicos que integram as DCNEM aplicar-se-ão a ambas; (Resolução CEB nº 3 de 26/06/98, art. 11, Inciso I). - a parte diversificada deverá ser organicamente integrada com a base nacional comum, por contextualização e por complementação, diversificação, enriquecimento, desdobramento, entre outras formas de integração; (Resolução CEB nº 3 de 26/06/98, art. 11, Inciso II). - além da carga mínima de 2.400 horas, as escolas terão, em suas propostas pedagógicas, liberdade de organização curricular, independentemente de distinção entre base nacional comum e parte diversificada; (Resolução CEB nº 3 de 26/06/98, art. 11, Inciso IV). - a língua estrangeira moderna, tanto a obrigatória quanto às optativas, serão incluídas no cômputo da carga horária da parte diversificada. (Resolução CEB nº 3 de 26/06/98, art. 11, Inciso V). A escola tem autonomia para elaborar sua proposta pedagógica e para a contextualização de conteúdos curriculares de acordo com suas peculiaridades. A parte diversificada permite atender às necessidades educativas da comunidade escolar de acordo com a realidade que está inserida através de projetos, estudos focalizados, pesquisas, etc. Ao se pensar em currículo interdisciplinar e contextualizado, de imediato pensa-se na participação da comunidade escolar na construção desse currículo. Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 3 – O Professor e as Diretrizes Curriculares 26 Quando aluno e professores têm a oportunidade de escolher os componentes da parte diversificada, tornam-se corresponsáveis pela construção curricular e acabam por reforçar a construção da identidade da escola e deixam clara qual a sua vocação. A organização da parte diversificada deve ser definida pela proposta pedagógica da escola respeitando sempre as orientações do sistema de ensino. A preparação para o trabalho Não haverá dissociação entre a formação geral e a preparação básica para o trabalho, nem esta última se confundirá com a formação profissional. A preparação básica para o trabalho deverá estar presente tanto na base nacional comum como na parte diversificada. (Resolução CEB nº 3 de 26/06/98, art. 12, § 1º). O ensinomédio, atendida a formação geral, incluindo a preparação básica para o trabalho, poderá preparar para o exercício de profissões técnicas, por articulação com a educação profissional, mantida a independência entre os cursos. (Resolução CEB nº 3 de 26/06/98, art. 12, § 2º). Ao terminar o ensino médio, o aluno deverá estar preparado para o trabalho com uma formação geral consistente e consciente da importância de uma formação profissional, para que ingresse no mercado apto a exercer uma profissão. O ensino médio não tem por objetivo formar profissionais e sim desenvolver no aluno habilidades básicas essenciais ao exercício de qualquer atividade laboral. O aluno que desejar profissionalizar-se deverá buscar a educação profissional. A preparação para o trabalho está embutida na formação geral do educando, incluindo-se aí tanto a base nacional comum quanto à parte Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 3 – O Professor e as Diretrizes Curriculares 27 diversificada do currículo, logo todas as disciplinas curriculares devem ser planejadas e pensadas, levando-se em consideração o contexto do trabalho. É preciso que as atividades docentes levem em consideração o papel e o valor do trabalho, os produtos do trabalho, as condições de produção, os meios de produção de bens, serviços e de conhecimento, dentre outros aspectos. O conhecimento das Diretrizes Curriculares permite ao professor entender a organização das atividades escolares, além de direcionar sua ação pedagógica para as necessidades educativas da sociedade contemporânea. A leitura obrigatória, além de aprofundar seus conhecimentos, será muito útil não só na formação de sua competência técnica, mas também no ingresso ao magistério. Não deixe acumular a leitura complementar, anote sempre os pontos relevantes a sua área de atuação e desenvolva sua vivência prática de forma consciente. Leitura Complementar Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Na próxima unidade vamos estudar os Parâmetros Curriculares Nacionais.
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