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TCOE • A perspetiva inferencial da comunicação: 1. Comunicação não-literal: O processo comunicativo não termina com o processar de propriedades estruturais e o descodificar do significado. O sentido é a reelaboração do significado em que intervém sobretudo o fator ‘contextos’. O sentido é mais amplo do que o significado. Comunicamos geralmente mais do que dizemos. Como é que os falantes captam tão eficazmente o sentido não-literal? Através do Princípio de cooperação (Grice) e das Máximas conversacionais (Locutor): nem mais nem menos informação, nunca afirma aquilo que crê ser falso, participação pertinente e evita ser ambíguo, prolixo ou obscuro. O interlocutor parte sempre do princípio de que o seu parceiro respeita estas máximas e mesmo quando a elocução não é ordenada faz um esforço de atribuição de sentido. 2. Abordagem inferencial da comunicação: O papel do Alocutário. Só há comunicação bem- sucedida quando o Alocutário reconhece a intenção comunicativa do Locutor. Quando o ‘intendido’ é ‘entendido’. Sistema de estratégias partilhado. Incorpora a noção de intenção comunicativa. Não faz depender essa intenção só do significado. Dá conta do sentido literal, não-literal, direto, indireto, etc. 3. Polifonia: Um discurso entra em diálogo com outros discursos ou vozes, até de outros tempos e lugares. Há outros enunciados convocados, outras vozes. Interpretar o texto é dar conta de como outras vozes nele soam. 4. Construção do sentido: A língua é também cultura e história. É preciso considerar a língua em uso, para além do sistema abstrato de regras. O significado é dado pelo dicionário e pela gramática, mas o sentido é criado a partir do conhecimento do que já foi dito e do que se diz numa comunidade de falantes. • Aspetos da argumentação no discurso 1. O discurso argumentativo desenvolve-se geralmente segundo um esquema de apertado encadeamento de tipo causal e conclusivo. A organização discursiva das sequências justificativas agrega diversas razões que suportam o discurso e são forte argumento de legitimação. 2. O Locutor desenvolve estratégias de construção de um estatuto de autoridade visando sustentar a legitimidade do seu discurso. 3. Eixos de justificação que se desenham na argumentação: (a) a construção do Locutor como figura de autoridade e (b) a apresentação sistemática de garantias que o Locutor convoca como específico apoio ou reforço do seu discurso. 4. Estes dois eixos concorrem para o delinear de uma imagem do Locutor – do seu ethos – ajustada a, ou consistente com, a importante tarefa que lhe incumbe. Trata-se, na verdade, de constituir o Locutor numa fonte autorizada. 5. O Locutor envolve no seu discurso a voz de outros enunciadores. O seu estatuto sai reforçado e oferece mais garantias. Tendo o suporte de outras vozes, de inquestionável autoridade, o Locutor constrói a sua própria autoridade sobre o ‘já dito’ e também supostamente ‘já aceite’. 6. Institui uma co-responsabilidade discursiva. 7. A voz do Locutor incorpora outras vozes, com projeção de polifonia concordante – efetiva introdução de um discurso relatado em citação (cede a voz a outras vozes que vêm apoiar a sua convicção assertiva e funcionam como garantia da sua legitimidade) 8. Todas estas vozes e os conteúdos informativos que veiculam são integrados ou reativados no conjunto de saberes do Alocutário. 9. Com o objetivo de suportar adequadamente as suas posições, o Locutor convoca ainda a ‘voz’ de Princípios, Normas ou Verdades Gerais, previsivelmente partilhados e aceites pelo Alocutário. Estas vozes estão presentes de modo implícito no discurso (heterogeneidade enunciativa). 10. Diversos tipos de ‘verdade’ convocados como argumentos. 11. Princípios aceites, ou o suscitar de Normas genéricas supostamente partilhadas pelo Alocutário, disponíveis no conhecimento comum e, em princípio, estabilizados numa dada comunidade. 12. A argumentação parte de um discurso do Outro numa marcada polifonia, mesmo quando discordante, como é o caso dos enunciados com contrastivos. O uso das causais e comparativas convoca ou induz raciocínios facilitados pela disponibilidade de certas normas constantes da enciclopédia comum ao Locutor e ao Alocutário. 13. O recurso a um conjunto de tópicos ou imagens prefigurados no público e que estão à partida consolidados garante a adesão do Alocutário e o seu posterior empenhamento na ação – o êxito do argumento assim construído é muito provável. Completa-se, portanto, o processo de persuasão. 14. Este convocar de “outras vozes” reveste-se de diversos aspetos, mas tem sempre como objetivo seduzir o interlocutor, assegurar a sua adesão, evitar o contradiscurso. E o processo de sedução consiste sempre em fazer depender as Verdades Novas agora apresentadas de Verdades já conhecidas, aceites, estabelecidas. 15. A demonstração pode por exemplo estar assente numa construção, feita a partir do que o Locutor sabe que os destinatários do seu discurso avaliam positivamente – o Locutor ‘promete’ A. Por outro lado, o Locutor sabe igualmente que os destinatários avaliam negativamente B, presume que não desejam B – o Locutor condena B. 16. Em qualquer discurso, este tópico visa induzir movimentos emocionais a despertar no Alocutário, trazendo ao discurso um pathos estrategicamente activado. Por um princípio de bom senso e razoabilidade, o Alocutário prefere o Bem ao Mal, sendo este negativamente avaliado. Há certas normas sociais e representações ideológicas que o Locutor envolve nos seus enunciados, fazendo passar uma dada visão do mundo; e admite que o Alocutário é sensível a essas normas, porque partilha a estruturação cognitiva proposta. 17. Os discursos têm momentos argumentativos em que prepondera a manifestação de um pathos de amplos efeitos mobilizadores, convocado ao serviço da emoção e, também por esse meio, ao serviço da persuasão e do acolhimento favorável dos discursos. 18. Finalmente é também caraterística a utilização pelo Locutor, na ordem argumentativa, de elementos de caráter racional, objetivados na convocação e ativação de dimensões da ordenação cognitiva do mundo – o logos –, que suportam uma argumentação-justificação fundada na razão, na consideração de raciocínios apoiados predominantemente em nexos de causalidade, mas também de proximidade e analogia. 19. Uma argumentação eficaz tem que prever mais do que uma receção. Tem que ter em conta a diversidade dos destinatários e ponderar os argumentos utilizados. Os argumentos disponíveis não são necessariamente universais e podem ter um rendimento variável conforme o público a que são dirigidos. Assim, para uns será mais sugestivo e sobretudo mais eficaz o argumento do Bem, para outros o do interesse pessoal, para outros ainda o do rendimento coletivo, etc… E os argumentos serão provavelmente avaliados de variadas formas. • Aspetos linguísticos da estruturação textual – Textualidade e Coesão, conexão, coerência: O que é o discurso /texto? 1. É uma sequência mais ou menos linear de elementos linguísticos – linear no tempo e no espaço gráfico. O Texto/discurso é uma combinação ajustada e sequencial de elementos linguísticos, produzida por um locutor e pressupondo um alocutário. 2. Textualidade – Para que uma manifestação da linguagem seja um texto /discurso tem que apresentar um determinado número de propriedades - a esse conjunto de propriedades dá-se o nome de textualidade. 3. Elementos da textualidade: Situacionalidade, Informatividade, Intertextualidade, Intencionalidade, Aceitabilidade, Conetividade, Sequencial (coesão) e Concetual (coerência). 4. Conetividade: Ligação sequencial e concetual entre os diversos constituintes do discurso/texto de forma a assegurar a interdependência semântica entre os seus diversos constituintes - Há ainda uma tipologia das relações entre os atos em sequência. 5. Consideração de movimentos organizativos