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Cantigas Trovadorescas Cantiga de amor - Fernando Figueira de Lemos Ai mia senhor! Sempre’eu esto temi Ca vos vi eu por meu mal, mia senhor, por vos haver já sempr'a desejar; e perdud'hei gasalhad'e sabor de quanto al no mundo soía amar! Tod'esto mi vós fezestes perder; fez-me-vos Deus, por meu mal, bem querer. Por meu mal foi, pois que vos já sempr'eu haverei ora no meu coraçom a desejar; e nunca mais do meu cor perderei mui gram coita, que nom veerei rem que mi possa plazer, ergo se vir a mim por vós morrer. Ai mia senhor! sempr'eu esto temi, des que vos vi, que m'oi de vós avém: irdes-vos vós e ficar eu aqui, u nunca mais acharei outra rem de que eu possa gasalhad'haver, nem me de vós faça coita perder. Coita, de pram, já eu nom perderei, e nom m'atrevo sem vós a guarir! E seede fix que 'nsandecerei pois eu de vós os meus olhos partir, e vos nom vir u vos soi'a veer; nunca me Deus leixei mais viver! A canção fala do sofrimento do trovador pela partida da sua amada. Ele deixa de vê-la no mesmo lugar de sempre, sofrerá muito e, logo, enlouquecerá. Pois, desde que a conheceu, nada mais deseja, e sem ela, lhe restará apenas a morte. Glossário De pram- certamente Coita- sofrimento Ca- pois Des- desde Senhor- senhora Outra rem- mais nada Guarir- salvar-se/ viver Perdudo- perdido Aspectos linguísticos Mia – Adjetivo possessivo, feminino, ditongo tônico. Senhor – Pronome de tratamento, consoante nasal-palatal (nh). Coita – Substantivo usado para referir -se ao sofrimento, ditongo timbre finalizado em I, [o fechado]. Nunca – Advérbio de tempo, vogal nasal U acompanhado de uma consoante nasal implosiva (seguida de outra consoante). Vos – Pronome de tratamento na segunda pessoa. Veer/ Veerei – Encontro vocálico de vogais idênticas. Ergo – Substantivo masculino usado para referir -se a palavra “exceto" utilizada atualmente. Palavra erudita, ou seja, empréstimo feito diretamente do latim. Leixei – consoante construtiva surda e palatal simples (x). Avém – Verbo que refere-se a algo que está a acontecer, na segunda pessoa, representa uma mudança que ocorreu no galego-português, onde a consoante nasal, no final das palavras, deixou de ser n para ser m. Palavras com apóstrofo – empréstimo do francês e do provençal Referências Cantigas medievais galego-português | FCSH https://cantigas.fcsh.unl.pt/listacantigas.asp TEYSSIER, Paul. História da língua portuguesa. In: o galego-português (de 1200 a aproximadamente 1350). Editora Martins fontes, 1997.
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