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CENTRO UNIVERSITÁRIO DO PLANALTO DO DISTRITO FEDERAL FENILCETONÚRIA Barreiras – BA Outubro de 2020 ICARO JHONATHAN DOS PASSOS OLIVEIRA FENILCETONÚRIA Trabalho apresentado como requisito parcial para obtenção da nota da disciplina Bioquímica orientada por Camila Lopes no curso de Enfermagem do Centro Universitário do Planalto do Distrito Federal. Barreiras – BA Outubro de 2020 A fenilalanina (PHE) está contida em quase todos os alimentos e é um aminoácido com importância significativa na composição das proteínas e como antecessor de outras moléculas. É incorporada pelo corpo na síntese de proteínas uma pequena quantidade da fenilalanina, mas o excesso é naturalmente transformado em outro aminoácido, chamado tirosina, pela fenilalanina hidroxilase , que é uma enzima produzida no fígado, tal como consta na Figura 1. A tirosina é usada na síntese protéica e serve como precursor para diversas substâncias como pigmentos (melanina), neurotransmissores e hormônios (adrenalina e tiroxina) (ADKISON E BROWN, 2008). Figura 1. Conversão do aminoácido fenilalanina no aminoácido tirosina pela enzima fenilalanina hidroxilase. Fonte: VALADARES E GONÇALVES, 2010. A falta de produção da enzima fenilalanina hidroxilase impossibilita a conversão da fenilalanina em tirosina, e a interrupção dessa via metabólica causa um acúmulo de fenilalanina consumida, fenômeno denominado de hiperfenilalaninemia que, nessa situação, é convertida em ácido fenilpirúvico (encontrado na urina e no suor). O fenilpirúvico é um inibidor de vias metabólicas que são responsáveis por produzir certos lipídeos importantes na composição da membrana de mielina, que é essencial para o funcionamento dos tecidos neurais, o que causa comprometimento grave no desenvolvimento neurológico do indivíduo (ADKISON E BROWN, 2008). Os indivíduos que não conseguem converter a fenilalanina em tirosina são chamados de fenilcetonúricos. A fenilcetonúria (PKU, sigla em inglês) é uma doença genética, de herança autossômica e caráter recessivo em que o indivíduo adquire os alelos “defeituosos” (ff) de ambos os pais, que podem ser heterozigotos (Ff) e fenotipicamente normais. Também pode ocorrer casos menos frequentes de hiperfenilalaninemia decorridos pela má formação de um cofator enzimático importante para a hidroxilação da fenilalanina, chamado de tetraidrobiopterina (BH4), o que resulta em uma fenilcetonúria maligna ou atípica com quadro neurológico mais grave (VILARINHO et al., 2006). A criança que possui fenilcetonúria, quando nasce, tem fenótipo e nível de fenilalanina normais, mas no decorrer dos primeiros dias de vida, ao ingerir o leite materno, passa a ter problemas de saúde (AMORIM, et al, 2005). Essa patologia tem sintomas que variam de leves a severos e que se apresentam logo nos primeiros meses após o nascimento. A sintomatologia é de retardo mental grave, peso cerebral abaixo do normal, defeito na mielinização dos nervos, reflexos hiperativos, baixa expectativa de vida, sendo que metade pode morrer por volta de 20 anos e três quartos em torno de trinta anos (BERG, TYMOCZKO E STRYER, 2004). Tem-se vários tratamentos alternativos para a fenilcetonúria, tais como terapia gênica ou reposição enzimática, no entanto, os níveis normais de fenilalanina no sangue são restaurados através da restrição dietética a alimentos ricos em fenilalanina, que é o tratamento mais comum (VILARINHO et al., 2006). A dieta para os portadores dessa doença é complicada, pois a lista de alimentos proibidos é ampla e engloba alimentos comuns aos brasileiros (carnes, arroz, feijão, ovos, diversas frutas, vegetais e derivados de leite e soja), e é necessária a suplementação artificial para amenizar as carências nutricionais decorrentes pela restrição alimentar. Por ser uma enfermidade que se manifesta nos meses iniciais de vida, o leite materno deve ser substituído por formulações de baixo teor de fenilalanina (MONTEIRO E CÂNDIDO, 2006). Importante ressaltar que a ausência completa de fenilalanina pode ser fatal, uma vez que causa a síndrome de abstinência e deficiência de desenvolvimento. É um trabalho minucioso e detalhado ajustar a quantidade exata de fenilalanina e demais nutrientes à dieta, pois a alimentação restritiva deve ser mantida por toda a vida e deve atender às necessidades de cada fase da vida do paciente (JORDE et al., 2004). Em 2001, foi instituído o Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN) através da portaria 822/01 do Ministério da Saúde (MS), que tem como objetivo abarcar todos os neonatais do país. Essa portaria estabelece que, em todos os estabelecimentos públicos e particulares que cuidam da saúde de gestantes, é obrigatória a realização do exame do “teste do pezinho” a fim de diagnosticar patologias genéticas que podem ter seu agravamento impedido, desde que, ao ser detectada a anomalia, o tratamento deve ser iniciado posteriormente ao nascimento. Além da fenilcetonúria, também são identificados o hipotiroidismo congênito, doenças falciformes e outras hemoglobinopatias e fibrose cística. O PNTN institui o acompanhamento e tratamento dos pacientes com essas enfermidades (BRASIL, 2001). REFERÊNCIAS ADKINSON, L.R., BROWN, M.D. GENÉTICA - SÉRIE ELSEVIER DE FORMAÇÃO BÁSICA INTEGRADA. Rio de Janeiro: Elsevier, 281 p., 2008. AMORIM, T., et al. Aspectos clínicos da fenilcetonúria em serviço de referência em triagem neonatal na Bahia. Revista Brasileira de Saúde Materna e Infantil, v. 5, n. 4, p. 457-462, 2005. BERG, J.M., TYMOCZKO J.L., STRYER L. Bioquímica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A., 5ª ed., 2004. BRASIL. Ministério da Saúde, Portaria GM/MS n. 822 de 6 de junho de 2001. Institui, no âmbito do Sistema Único de Saúde, o Programa Nacional de Triagem Neonatal/PNTN. Disponível em: http://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/Port2004/Gm/GM-2695.htm. Acesso 25 out. 2020. JORDE, L.B., et al., Genética Médica. Rio de Janeiro: Elsevier, 415 p., 2004. MONTEIRO, L.T. B., CÂNDIDO, L.M.B., Fenilcetonúria no Brasil: evolução e casos. Revista de Nutrição, v. 19, n. 3, p. 381-387, 2006. VALADARES, B.L.B., GONÇALVES, V.S.V. “CONTÉM FENILALANINA, POSSO COMER?”. Revista Genética na Escola, v. 5, n. 2, p. 01-06, 2010. VILARINHO, L. et al. Fenilcetonúria Revisitada. Arquivos de Medicina, v. 20, n. 5-6, p. 161-172, 2006.
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