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SEÇÃO 2 FUNGOS FILAMENTOSOS SEPTADOS HIALlNOS 15 Oermatofitoses CONCEITO Dermatofitoses são micoses superficiais cutâ- neas determinadas pela infecção superficial por dermatófitos. Podem acometer pele, pelos e unhas. INTRODUÇÃO Dermatófitos constituem grupos de fungos ceratinofílicos que possuem semelhanças ta- xonômicas, morfológicas, fisiológicas e imuno- lógicas. São capazes de invadir os tecidos ce- ratinizados do homem e de animais, causando as dermatofitoses. Baseados no crescimento centrífugo da lesão de dermatofitose em pele glabra, que assume aspecto circular, os gregos denomi- navam-na herpes. Os romanos chamavam a infecção de tinea, que significa larva de pe- quenos insetos, pois relacionavam a doença a picadas de insetos. No Brasil, usamos o termo tinha ou dermatofitose (micose causada por dermatófitos).! Clarisse Zaitz Dermatófitos pertencem a um dos três gê- neros dos fungos anamorfos ou imperfeitos, isto é, que não apresentam reprodução sexua- da: Microsporum, descrito por David Gruby em 1843; Trichophyton, descrito por Malms- ten em 1845; e Epidermophyton, descrito por Sabouraud em 1907. Quando são descobertos estados sexuados ou perfeitos desses fungos, eles são reclassificados no gênero Arthroder- ma da divisão Ascomycota (Weitzman e cols., em 1986, descrito por Currey, em 1854).2,3,4 ECOLOGIA Algumas espécies de dermatófitos vivem no solo e ocasionalmente infectam o homem; são denominadas espécies geofílicas. As espécies zoofílicas parasitam animais e raramente o homem, enquanto as espécies antropofílicas parasitam preferencialmente o homem. A distribuição da biota dermatofitica é va- riável, tanto de região para região como no decorrer do tempo. É influenciada por fatores como variações climáticas, aspectos socioeco- 158 nômicos, modo de vida, presença de animais domésticos e idade. O conhecimento da eco- logia dos dermatófitos permite melhor enten- dimento da história natural das dermatofi- toses.' EPIDEMIOLOGIA A distribuição das dermatofitoses varia por influência de fatores populacionais, como: sexo (mais comum no sexo masculino); idade (a tinha de couro cabeludo é mais comum em crianças, e a tinha do pé e a inguinocrural são mais comuns em adultos); imunidade (maior incidência no imunocomprometido); hábitos (sociais, culturais, religiosos e econômicos); populações fechadas (tripulações de navios e creches têm maior incidência de dermatofito- ses); migrações (Trichophyton violaceum teve alta incidência no Brasil, na década de 1930, devido à imigração da orla do Mediterrâneo e Portugal). Fatores temporais, como sazonalidade (as dermatofitoses são mais comuns no verão e no outono), e a distribuição dos dermatófitos no ecossistema (tinhas por T violaceum eram frequentes na década de 1930 e são raras atu- almente) têm influência na distribuição das dermatofitoses. ETIOLOGIA Dermatofitoses são causadas por dermatófitos anamorfos. Dermatófitos são fungos ceratino- fílicos capazes de parasitar tecidos ceratiniza- dos do homem e de animais e restos de cerati- na (pelo, unhas, plumas) encontrados no solo, e são divididos em antropofílicos, zoofílicos e geofílicos,segundo Georg (1964).1,2,3 Os dermatófitos geofílicostêm distribuição irregular nos diferentes solos, relacionada às suas características físico-químicas (umida- de, pH, composiçãoquímica e grau de aeração do solo, entre outras). Os dermatófitos zoofíli- cos podem ter hospedeiros específicos ou ser infectantes universais, tanto de homens como de animais, como o Trichophyton mentagro- Dermatofitoses phytes e oMicrosporum canis. Os animais in- fectados por dermatófitos servem como fonte para a dermatofitose humana. Os dermatófi- tos antropofílicos sofrem influência de fatores étnicos, sociológicos,ambientais, antropogêni- cos (higiene e modo de vestir) e afinidade por diferentes tipos de ceratina. Estão em equilí- brio com o hospedeiro (homeml.! PATOGÊNESE Avanços recentes, principalmente no campo da imunologia, têm permitido o melhor co- nhecimento da relação dermatófito-hospedei- ro na infecção cutânea. O contágio pode ser feito por contato direto com seres humanos, animais ou solo contaminado, ou indireta- mente, por exposição a fomites contaminados. A colonização começa na camada córnea da pele, pelo ou unha, e sua progressão depende de vários fatores. 1 Fatores inerentes ao dermatófito Os vários gêneros e espécies de dermatófi- tos têm afinidade seletiva com as diferentes classes de ceratina. Sabe-se que o gênero Microsporum tem predileção por pele e pelo, o Epidermophyton, por pele e unha, e O Tri- chophyton, tanto por pele como por pelo e unha. No entanto, foram descritas espécies de Microsporum afetando a unha. Outros fa- tores inerentes ao fungo são a sua virulência e adaptação (dermatófitos geofílicos são me- nos adaptados do que os antropofílicos). A presença de dermatófitos fazendo parte da microbiota normal da pele também influencia a relação parasita-hospedeiro.1,2,5 Fatores inerentes ao hospedeiro A integridade da epiderme comporta-se como barreira natural. A umidade local é pré-re- quisito para a inoculação e a sobrevivência Jdo dermatófito na pele. A presença de fato- res séricos com ação antifúngica impede a Dermatofitoses invasão das camadas mais profundas da epiderme pelos dermatófitos. A transferrina insaturada ligada ao ferro inibe o crescimen- to do dermatófito.f e a alfa-2-macroglobulina inibe a queratinase.f Fatores genéticos tam- bém podem influenciar a suscetibilidade do indivíduo a contrair uma infecção derma- tofítica." Hábitos como higiene, tipo de cal- çado, populações fechadas e fatores imuno- lógicos também influenciam na instalação, perpetuação e disseminação de uma infecção dermatofítica.l-" IMUNOLOGIA A resposta imunológica inespecífica, a imu- nidade mediada por células e a imunidade humor al tentam bloquear a infecção derma- tofítica. A resposta imunológica inespecífica é cons- tituída pela descamação epidérmica e pelos fatores séricos inibitórios (transferrina insa- turada e alfa-2-macroglobulina inibidora de queratinase).5,6,7 A imunidade mediada por células, expressa por reação tardia aos antí- genos de dermatófitos (tricofitina), é indicati- va de dermatofitose prévia ou atual. A reação tardia positiva indica atividade do sistema imune e capacidade de erradicar a infecção. É encontrada em pacientes infectados por diferentes dermatófitos e em pacientes com dermatofitides (mícides). A reação tardia ne- gativa é associada a infecções crônicas, princi- palmente por Trichophyton rubrum. 7,8A imu- nidade humoral é pouco expressiva. MANIFESTAÇÕES CLíNICAS As dermatofitoses apresentam variantes clí- nicas denominadas conforme a topografia do acometimento: tinha do couro cabeludo, tinha da barba, tinha do corpo, tinha inguinocrural, tinha da unha, tinha do pé, tinha da mão e tinha imbricada. Existe ainda a doença alér- gica: dermatofítide.l-ê 159 Tinha do couro cabeludo A alta incidência das tinhas do couro cabelu- do geralmente está ligada a pobreza e a hábi- tos precários de higiene.f A tinha do couro ca- beludo afeta principalmente crianças e pode ser: microspórica -lesão única, causada por dermatófito zoofílico ou geofílico, e tricofíti- ca - múltiplas lesões, causada por dermatófi- tos antropofílicos. As duas formas são tonsu- rantes. A etiologia da tinha do couro cabeludo muda periodicamente e varia conforme a re- gião estudada. Nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, o agente mais frequente em tinhas do couro cabeludo é o M. canis.9 A contamina- ção ocorre no ambiente doméstico, a partir do contato com animais infectados. Nas regiões Nordeste e Norte, o agente mais isolado é o Trichophyton tonsurans. Outros dermatófitos acometem menos frequentemente o couro ca- beludo. São descritos casos em pós-púberes, principalmente imunocomprometidos. Adul- tos (pais, avós, empregados, etc.) podem ser portadores subclínicos e as sintomáticos para a tinha do couro cabeludo da criança, princi- palmente por dermatófitos adaptados (antro- pofílicos). Fomites comoescovas, travesseiros, brinquedos e telefones podem ser reservató- rios do fungo. As tinhas tonsurantes (micros- pórica e tricofítica) são crônicas e caracteri- zam-se pela descamação de cotos pilosos (Figs. 15.1 e 15.2). Quando o fungo determinante é não adaptado (zoofílico ou geofílico), pode ha- ver um processo inflamatório agudo que deixa Fig. 15.1 Dermatofitose. Tinha microspórica tonsurante do couro cabeludo em criança. 160 Fig. 15.2 Dermatofitose. Tinha tricofítica tonsurante do couro cabeludo em criança. Fig. 15.3 Dermatofitose. Quérion ce/si em criança. cicatriz: Quérion celsi (Fig. 15.3).A tinha favo- sa, causada por Trichophyton schoenleinii, é hoje muito rara, tendo ocorrido como micro- endemias em pequenas comunidades de baixo nível socioeconômico. Não cura na puberdade e é cicatricial.v' Tinha da barba Pode apresentar-se como tinha clássica na re- gião da barba, forma sicosiforme semelhante à foliculite bacteriana, ou forma inflamatória, lembrando um quérion (Fig. 15.4). Derrnatofitoses Fig. 15.4 Dermatofitose. Tinha clássica da barba. Tinha do corpo Pode acometer qualquer região de pele gla- bra do corpo. A forma mais comum é a anu- lar, de crescimento centrífugo e cura central. A confluência das lesões anulares leva à for- mação de placas sem tendência à cura cen- tral. Pode também se manifestar como vesí- culas inflamatórias, semelhantes ao quérion (Fig. 15.5). Fig. 15.5 Dermatofitose. Tinha do corpo. Forma anular, lesões circinadas múltiplas em criança. Dermatofitoses Tinha inguinocrural Mais comum em homens adultos, tem as mes- mas características da tinha do corpo anular. Existem as formas endêmica, crônica, causa- da por T rubrum, e epidêmica, determinada pelo Epidermophyton floccosum (Fig. 15.6). Tinha da unha o termo onicomicoses engloba outros agentes além dos dermatófitos, como as leveduras do gênero Candida e os fungos filamentosos não dermatófitos hialinos ou demácios, além de leveduras exógenas. Quando o agente é um dermatófito, estamos diante de uma tinha da unha. O acometimento da unha tanto por dermatófitos como por fungos não dermatófi- tos pode ser: subungueal distal e/ou lateral (Fig. 15.7), subungueal proximal e superficial branca. Todas as três formas podem evoluir para distrofia parcial ou total da unha (Fig. 15.8). Em imunodeprimidos, as unhas podem sofrer acometimento múltiplo, agudo, subun- gueal proximal e branco (Fig. 15.9). O diagnóstico diferencial da tinha da unha deve ser feito com outras onicopatias (psoría- se, líquen plano, etc.), A contaminação secun- dária por dermatófitos de lesão preexistente, Fig. 15.6 Dermatofitose. Tinha inguinocrural. Lesões anu- lares circinadas. 161 Fig. 15.7 Dermatofitose. Tinha da unha subungueal distal e lateral. Fig. 15.8 Representação esquemática das variantes clíni- cas de onicomicose/tinha da unha. Fig. 15.9 Dermatofitose. Tinha da unha subungueal pro- ximal branca. Acometimento de várias unhas em imuno- deprimido. 162 principalmente onicólises de várias etiologias, é comum, e é chamada de onicomicotização. Tinha do pé o acometimento do pé por dermatófitos é muito frequente. Quatro tipos de lesões po- dem ser encontradas: vesiculosas - agudas, geralmente por fungos não adaptados (Fig, 15.10); interdigitais - muitas vezes associa- das a leveduras e bactérias; escamosas - crô- nicas, por T rubrum; e em placas - anulares, com crescimento centrífugo e cura central. Tinha da mão A tinha da mão é rara. Pode aparecer ao mes- mo tempo nos pés e nas mãos, ou acometer so- mente as mãos, em pacientes que trabalham com terra e flores. Assume aspecto anular, com crescimento centrífugo, e muitas vezes é necessário o diagnóstico diferencial com der- matite de contato. Tinha do ouvido Não é rara. Acomete o pavilhão auricular e, às vezes, o conduto auditivo. As lesões são des- camativas e muitas vezes sem bordas ativas. Pode ser confundida com dermatite seborreica do ouvido. O principal agente em crianças é Fig. 15.10 Dermatofitose. Tinha do pé vesiculosa por T.mentagrophytes. Dermatofitoses Fig. 15.11 Dermatofitose. Tinha do ouvido. o M. canis, mas outros fungos já foram isola- dos tanto em adultos como em crianças (Fig. 15.11). Tinha imbricada Dermatofitose causada por Trichophyton con- centricum, também chamada de tokelau ou chimberê, acomete principalmente populações indígenas da América Central, Pacífico e nor- te do Brasil. É doença crônica e parece sofrer influência de fatores genéticos. As lesões são escamosas e imbricam-se, formando desenhos bizarros, que servem como adorno aos aborí- gines. Dermatofítide Também chamada de mícide, é forma de doen- ça alérgica. Constitui reação de hipersensibi- lidade a distância, de um foco principalmente de dermatofitose causada por fungo não adap- tado. Ocorre como lesões vesiculosas na late- ral dos dedos da mão consequentes a tinha do pé vesiculosa, ou como pápulas foliculares no dorso, consequentes a tinha do couro cabeludo (Fig. 15.12). Dermatofitoses Fig. 15.12 Dermatofitose. Dermatofítide ou mícide. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Exame micológico o exame direto pode ser realizado a partir de pelos na tinha do couro cabeludo ou escamas nas outras variantes de tinha. O material é clarificado pelo KOH. O comprometimento do pelo pode ser: en- dotrix (esporos e/ou hifas dentro do pelo) e ectotrix (esporos fora do pelo + hifas ou es- poras dentro do pelo). Os pelos tonsurados devem ser colhidos com pinça (Figs. 15.13 e 15.14). Escamas devem ser colhidas da borda ativa das lesões. Se a lesão é vesiculosa, examina-se o teto da vesícula. 163 Fig. 15.13 Dermatofitose. Exame direto de pelo. Conta- minação endotrix (hifas artrosporadas e esporos dentro do pelo). Fig. 15.14 Dermatofitose. Exame direto de pelo. Contami- nação ectotrix (esporos e hifas dentro do pelo e esporos fora do pelo). Em tinhas da unha, o material é colhido do limite entre a unha lesada e a sadia, entre a lâmina e o leito ungueal. Apenas na onico- micose superficial branca as escamas devem ser obtidas por raspagem da lâmina ungueal sobre a lesão branca. Em todos os casos po- sitivos, encontram-se hifas hialinas septadas (Fig.15.15).1,2 Fig. 15.15 Dermatofitose. Exames diretos, escamas clarificadas com KOH. Hifas hialinas septadas. 164 Dermatofitoses o crescimento do fungo em cultura ocorre em aproximadamente 2 semanas. Utiliza-se o meio de Sabouraud acrescido de ciclo-heximida e elo: ranfenicol. Os dermatófitos mais comuns podem ser identificados pela macromorfologia associa- da à micromorfologia (Figs. 15.16 a 15.22).1,2 Fig. 15.16 Microsporum conis. Cultura - filamentosa branca com reverso amarelo gema de ovo. Microcultivo - macroconídio fusiforme, afilado nas pontas, com mais de seis divisões celulares. Fig. 15.17 Microsporum gypseum. Cultura - pulverulenta cor de canela. Microculti- vo - macroconídeos elipsoides com quatro a seis divisões celulares. Fig. 15.18 Epidermophyton floccosum. Cultura - filamentosa branca com reverso claro. Microcultivo - conidióforo que carrega pelo menos dois conídios com duas a três células. Dermatofitoses 165 Fig. 15.19 Trichophyton rubrum. Cultura - filamentosa branca com reverso verme- lho sangue venoso. Microcultivo - grande quantidade de microconídios e macroco- nídios em forma de "lápis". Fig. 15.20 Trichophyton tonsurans. Cultura - cerebriforme bege. Microcultivo - mi- croconídios abundantes dispostos lateralmente, lembrando "centopeia", e clamido- conídios intercalares. Fig. 15.21 Trichophyton mentagrophytes. Cultura - pulverulenta branca. Microcultivo - microconídios abundantes e hifas em espiral. 166 Dermatofitoses vários pesquisadores, porém parecem não ter expressividade. Fig. 15.22 Trichophyton schoenleinii. Cultura - aspecto de cera. Microcultivo - ausência de conídios e hifas que terminam em candelabros fávicos. Lâmpada de Wood o exame com a luz de Wood é importante na tinha do couro cabeludo. As tinhas causadas pelos gênero Microsporum apresentam fluo- rescência esverdeada. As tinhas determina- das pelogênero Trichophyton não fluorescem, com exceção da tinha favosa por T. schoenlei- nii, que hoje é rara.! Histopatologia Os cortes histológicos podem ser corados pelo PAS ou impregnados pela prata. Visualizam- se hifas septadas hialinas, principalmente na camada córnea. Provas imunológicas A imunidade mediada por células, medida pela intradermorreação à tricofitina, tem va- lor principalmente para detectar as tinhas crônicas por T. rubrum, cujo resultado é ne- gativo. Para o diagnóstico de dermatofítides, além da intradermorreação, devem ser utili- zados testes in vitro com a mesma finalida- de." Apesar de a imunidade mediada por cé- lulas ser a principal responsável pela defesa do hospedeiro contra o fungo, anticorpos cir- culantes específicos têm sido detectados por TRATAMENTO E PROGNÓSTICO Genties, em 1958, publicou pela primeira vez a cura de infecção dermatofítica em porquinho- da-índia pela griseofulvina oral. Williams, no mesmo ano, mostrou resultados semelhantes com a administração oral de griseofulvina em criança com tinha do couro cabeludo. Várias drogas de uso tópico foram introduzidas: tol- naftato, derivados imidazólicos e haloprogina. Depois, surgiram os imidazólicos orais de am- plo espectro e a ciclopirox olamina, para uso tópico. Finalmente, foram desenvolvidas ou- tras drogas, como derivados triazólicos orais e de amplo espectro, alilaminas orais e para uso tópico e, mais recentemente, os derivados morfolínicos.l-ê-? A terapêutica das dermatofitoses pode ser tópica, sistêmica ou combinada. Os antifún- gicos de uso tópico são, em geral, de amplo espectro, como os derivados imidazólicos, a amorolfina, a terbinafina e a ciclopirox ola- mina, entre outros. Os sistêmicos, como a griseofulvina, são específicos para dermató- fitos. A terbinafina age sabidamente contra dermatófitos, necessitando de doses muito al- tas para outros fungos. Cetoconazol, itracona- Dermatofitoses zol e fluconazol têm amplo espectro de ação. Lesões isoladas de dermatofitoses devem ser tratadas topicamente, Indicações absolutas de terapêutica sistêmica são: tinha do couro ca- beludo (griseofulvina: 15 a 20 mg/kg/dia; ter- binafina: 250 mg/dia, acima de 40 kg, 125 mg/ dia, entre 20 e 40 kg e 62,5 mg/dia em crianças commenos de 20 kg; derivados azólicos: 10 mgl kg/dia; derivados triazólicos: 3 a 5 mg/kg/dia) e micoses em imunodeprimidos (doses maio- res e tempo prolongado). Indicações relativas da terapêutica sistêmica são: tinha da unha de acometimento médio ou grave, dermatofito- ses extensas e refratárias a terapêutica tópica e dermatofitoses crônicas por T. rubrum (os antifúngicos e as doses para crianças são os mesmos utilizados na tinha do couro cabelu- do, e, para o adulto, a griseofulvina é utilizada, na dose de 500 mg a 1 g/dia, terbinafina: 250 mg/dia, cetoconazol: 200 mg/dia, itraconazol: 100 a 200 mg/dia; fluconazol: 150 a 300 mgl semana).1,2,lO Outra opção terapêutica bas- tante empregada na tinha da unha é a pulso- terapia com itraconazol (400 mg/dia/7 dias, 1 semana por mês) ou terbinafina (500 mg/dia/7 dias, 1semana por mês).1l,12O tempo de trata- mento é variável, conforme a forma clínica da dermatofitose. Na tinha da unha, são necessá- rios 3 a 12 meses; na tinha do couro cabeludo, 2 meses, e na tinha do corpo, 1 mês.1,2A tinha crônica por T. rubrum, seja no pé, na unha ou inguinocrural, é recidivante, e necessita de es- quema de manutenção tópico ou sistêmico.l-? Em casos de onicomicose distrófica total com hiperceratose subungueal importante, há for- mação de biofilmes, constituídos por massa densa, esbranquiçada, circunscrita (oval, li- near ou cônica) na lâmina ungueal, que não permite a penetração do antifúngico em con- centrações ideais. Nesses casos, está indicada a abrasão da lâmina, permitindo a penetração do antifúngico tópico ou oral.P REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Lacaz CS, Porto E, Martins JEC, Heins-Vac- cari EM, Melo NT. Micoses superficiais. In: 167 Lacaz CS, Porto E, Martins JEC, Heins-Vac- cari EM, MeIo NT. Tratado de Micologia Mé- dica Lacaz. 9ª ed. São Paulo: Sarvier, 2002. p. 252-352. 2. Kwon-Chung KJ, Bennett JE. Dermatophy- toses. In: Medical Mycology. pt ed. 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