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SEÇÃO 1 ASPECTOS GERAIS 8 Morfologia, Reprodução e Taxonomia dos Fungos Walderez Gambale Por muito tempo, os fungos foram classifi- cados como pertencentes ao Reino Vegetalia, apesar de apresentarem características con- flitantes com as típicas desse Reino. Diferentemente dos vegetais, eles não pos- suem clorofila nem pigmentos fotossintéticos, obtendo sua energia por absorção de nutrien- tes; não armazenam o amido e não apresen- tam celulose na parede celular, com exceção de alguns fungos aquáticos inferiores. Por ou- tro lado, os fungos têm algumas semelhanças comoReinoAnimalia, ou seja, armazenam gli- cogênioe possuem quitina na parede celular. Alguns fungos apresentam, no processo de reprodução sexuado, a dicariofase, que é um fenômeno encontrado apenas entre esses organismos. Logo após a plasmogamia, não ocorre imediatamente a cariogamia, mas, sim, uma fase dicariótica prolongada na qual a frutificação é composta de células binucleadas com presença simultânea de dois núcleos ha- ploides sexualmente opostos. Eventualmente, a cariogamia pode não ocorrer e o dicário se perpetuar na espécie. Os fungos são heterotróficos e eucarióticos. Essas características resumidas justificaram a criação de um Reino separado, o Reino Fun- gi ou Mycetalia. CÉLULA FÚNGICA Os fungos podem ser uni ou pluricelulares. A célula fúngica é constituída pelos principais componentes encontrados nos organismos eu- carióticos. Parede celular A parede celular é responsável pela rigidez da célula fúngica. É composta basicamente por glucanas, mananas, quitina, proteínas e lipídios. As glucanas e mananas estão combi- nadas comproteínas, formando as glicoproteí- nas, manoproteínas e glicomanoproteínas. A parede celular pode apresentar variações em sua composição, dependendo da espécie e da idade do fungo, da composição do substrato de crescimento, do pH e da temperatura. Nos 90 fungos termodimórficos a fase M (de mold = bolor), obtida em cultivo a 25°C, apresenta na parede celular uma quantidade maior de alfaglucana, enquanto a fase Y (de yeast = le- vedura), obtida a 37°C, apresenta uma quan- tidade maior de betaglucana, diferenças que parecem estar relacionadas com a patogeni- cidade desses fungos. A quitina é o principal componente estrutural da parede celular dos fungos. Membrana plasmática A membrana plasmática dos fungos tem as mesmas funções da membrana encontrada em outras células. Está ligada ao citoplasma e é composta de duas camadas de fosfolipídios revestidas por proteínas. Apresenta uma série de invaginações que dão origem a um sistema de vacúolos ou vesículas, responsáveis pelo contato entre o meio externo e o íntimo da célula. A membrana citoplasmática dos fun- gos contém esteróis na forma de ergosterol, diferentemente da membrana citoplasmática da célula animal, que contém colesterol. Essa diferença se constitui em importante sítio de ação de antifúngicos que atuam na síntese do ergosterol e que têm, portanto, toxicidade se- letiva para o fungo. Citoplasma o citoplasma é onde ocorrem as sínteses e o metabolismo energético e plástico. No cito- plasma são encontrados: inclusões de glicogê- nio, que é a principal substância de reserva de energia dos fungos; vacúolos de alimentos e gorduras; mitocôndrios responsáveis pelos mecanismos energéticos; condrioma, ribosso- mos e retículo endoplasmático, responsáveis pela síntese de proteínas. Os vacúolos são de vários tamanhos e po- dem ter a função de reserva, armazenando glicogênio, ou digestiva. Os mitocôndrios con- têm DNA e, dependendo do grupo de fungos, podem ter várias formas, tamanho e relação com outras organelas celulares. O retículo endoplasmático é um sistema comunicante Morfologia, Reprodução e Taxonomia dos Fungos que se espalha pela célula e que pode ou não ser revestido externamente por ribossomos. O aparelho ~deGolgi é um sistema de vesículas, canalículos e estruturas tubulares, envolvido em processos de síntese e secreção, e ligado à química de carboidratos. Núcleo Os fungos podem ter um, dois ou mais núcleos envoltos por uma carioteca de natureza Iipídi- ca. No interior do núcleo encontra-se o nucléo- 10, que contém DNA, RNA e proteínas, e que é o local de produção do RNA ribossomal. Cápsula Alguns fungos, como Cryptococcus neofor- mans, apresentam uma cápsula mucopolis- sacarídica com estrutura fibrilar composta de amilose e de um poliosídeo semelhante à goma arábica. A cápsula é importante na patogêne- se desse fungo por dificultar a fagocitose. MORFOLOGIA DOS FUNGOS A identificação da maioria das espécies fún- gicas é realizada considerando-se suas varia- das características morfológicas. Os fungos incluem, basicamente, as leveduras, os bolo- res ou mofos, que são fungos microscópicos, e os cogumelos, que são considerados fungos superiores, macroscópicos. As particularidades morfológicas dos mi- crofungos podem ser observadas tanto no seu aspecto macroscópico - quando uma célula fúngica se reproduz em um substrato adequa- do, multiplica-se, cresce e forma uma colônia, tornando-se visível a olho nu - quanto nos aspectos microscópicos, quando se coleta um fragmento da colônia e observa-se ao micros- cópio. LEVEDURAS As leveduras, de maneira geral, são unicelu- lares, esferoidais ou ovais, e podem se repro- duzir assexuada ou sexuadamente. Morfologia, Reprodução e Taxonomia dos Fungos A reprodução assexuada nas leveduras pode ocorrer por: Cissiparidade ou divisão direta: quan- do o núcleo das células em desenvolvimento se divide em dois, por amitose, e um septo di- vide a célula original em duas células filhas exatamente iguais à célula de origem. Brotamento ou gemulação: quando ocor- re a formação de um broto ou gêmula num de- terminado ponto da célula. O núcleo se divide em dois, por amitose, e um deles migra para o broto, que cresce e se separa da célula mãe. Algumas espécies de leveduras reprodu- zem-se também por processo sexuado, dando- se a fusão celular de duas células compatíveis (plasmogamia) e posterior fusão nuclear (ca- riogamia) seguida de meios e, como ocorre em Saccharomyces cerevisiae. Espécies do gênero Candida, em determi- nadas condições de cultivo, reproduzem-se por sucessivos brotamentos em cadeia, formando um filamento semelhante ao dos bolores, de- nominado pseudo-hifa ou pseudomicélio fila- mentoso (Fig. 8.1). Em meios de cultivo, as leveduras apre- sentam colônias pastosas ou cremosas, de cor o A B Clamidoconidio c D Fig. 8.1 Leveduras: reprodução por brotamento (A), cissipa- ridade (B), pseudomicélio (C) e levedura ascosporada (D). 91 Fig. 8.2 Colônia de levedura e de bolor. branca, creme, rosa, laranja ou preta, depen- dendo da espécie (Fig. 8.2). Os diferentes tipos de reprodução, assexua- da ou sexuada, e as características de gemu- lação, tipo de colônia, pigmentação e outras traduzem-se em diferentes aspectos morfo- lógicos que, em última análise, podem ser importantes na identificação presuntiva das leveduras. Entretanto, a identificação final é feita, principalmente, através de provas bioquími- cas ou, mais recentemente, com o auxílio das técnicas de biologia molecular. BOLORES Os bolores são filamentosos, multicelulares, com células tubulares denominadas hifas, cujo conjunto é denominado micélio. Em cultivo, esses fungos apresentam colô- nias filamentosas, que podem ser algodonosas, aveludadas, pulverulentas ou com outras ca- racterísticas e com os mais variados tipos de pigmentação, aspectos esses que são importan- tes na identificação presuntiva dos bolores. O micélio dos bolores pode ser dividido em duas partes morfologicamente distintas: o micélio vegetativo, que cumpre as fun- 92 ções de crescimento da espécie, e o micélio reprodutivo, estrutura morfológica diferen- ciada produzida em muitos setores do micélio vegetativo e que tem funções de reprodução e disseminação da espécie, através da formação de esporos (propágulos). Embora seja feita essa divisão entre micélio vegetativo e reprodutivo, qualquer fragmento do micélio vegetativo, desde que contenha um núcleo,pode se reproduzir e perpetuar a es- pécie. Micélio vegetativo o micélio vegetativo pode apresentar septos ou não, e nesse caso é denominado cenocítico; dependendo da espécie fúngica, pode apresen- tar outras estruturas de propagação ou resis- tência com morfologias específicas: Artrósporo ou artroconídio: fragmen- tação do micélio em elementos retangulares com formação de parede espessa ao redor. Es- sas células são encontradas nos gêneros Tri- chosporon e Geotrichum e em algumas espé- cies de dermatófitos quando em parasitismo. Clamidósporo ou clamidoconídio: cé- lula geralmente arredondada, de volume au- mentado, com parede dupla e espessa, podendo ter localização apical ou intercalar ao micélio. Os clamidoconídios são observados em várias espécies de bolores como, por exemplo, em Fu- sarium spp. e, dentre as leveduras, em Candi- da albicans, constituindo-se nesse caso impor- tante estrutura morfológica de identificação dessa espécie. Morfologia, Reprodução e Taxonomia dos Fungos Esclerócio: corpúsculo duro e parenqui- matoso de coloração escura, formado pelo en- trelaçamento de hifas, encontrado em várias espécies de fungos. Rizoides: prolongamentos semelhantes a uma raiz vegetal, com a função de absorver alimentos, e encontrados em espécies de Rhi- zopus e Absidia. Além dessas, muitas outras estruturas morfológicas podem ser observadas no micé- lio vegetativo, algumas vezes caracterizando uma determinada espécie fúngica (Fig. 8.3). Micélio reprodutivo O micélio reprodutivo, importante na iden- tificação morfológica de muitas espécies de fungos, cumpre as funções de preservação e disseminação da espécie. É caracterizado por estrutura morfológica diferenciada, responsá- vel pela formação de células especiais, deno- minadas esporos (propágulos). Em algumas espécies, os esporos são produzidos também ao longo do micélio vegetativo e são denomi- nados esporos sésseis. Os esporos podem ser cilíndricos, elípticos, fusiformes, ovoides, baciliformes, piriformes e de outras formas; hialinos ou pigmentados; simples ou septados, com septos transversais, longitudinais; lisos, verrucosos ou ciliados; grandes, pequenos, apresentando várias for- mas, que muitas vezes definem morfologica- mente um gênero ou espécie. Os esporos, de acordo com sua origem, po- dem ser assexuados ou sexuados. B c Fig. 8.3 Micélio vegetativo dos bolores. Morfologia, Reprodução e Taxonomia dos Fungos Esporos de origem assexuada A reprodução assexuada dos bolores ocorre coma formação de esporos endógenos ou exó- genos e tem grande importância na dispersão dos fungos, pois origina grande número de propágulos. Endósporos: os esporos endógenos são formados em hifas especiais denominadas es- porangióforos, que aumentam de volume na extremidade, originando o esporângio. Den- tro do esporângio, os núcleos que migraram a partir das hifas se dividem por clivagens su- cessivas, com a formação de uma membrana em volta, constituindo o esporangiósporo. Essas estruturas são encontradas em re- presentantes da divisão Zygomycota (Rhizo- pus, Absidia e Mucor). Ectosporos: são esporos que se formam na extremidade de hifas especiais denomi- A 93 nadas conidióforos e que recebem o nome de conídios. Os conídios podem ser agrupados, simples ou catenulados, hialinos ou pigmen- tados, com parede lisa ou rugosa, com várias formas: esféricos, elípticos, fusiformes, cilín- dricos, piriformes. As células que dão origem ao conídio, denominadas células conidiogêni- cas, são formadas em hifa especial denomina- da conidióforo. Algumas vezes, os conídios são formados em qualquer parte do micélio vegetativo, sen- do denominados sésseis. Em alguns fungos, o conjunto conidióforo-conídioé formado dentro de estruturas denominadas picnídios. O conídio caracteriza o grupo dos fungos da antiga divisão Deuteromycota, atualmen- te agrupados sob a denominação fungos ana- morfos (fungos que não têm a fase sexuada conhecida). É encontrado também na fase assexuada de representantes da divisão As- comycota (Fig. 8.4). Esporangiósporos B c D Fig. 8.4 Esporas de origem assexuada. 94 Esporos de origem sexuada A reprodução sexual entre os fungos é extre- mamente variada em detalhes e assegura a flexibilidade que permite a adaptação a condi- ções adversas, ou seja, a variabilidade genéti- ca necessária à manutenção das espécies. De forma geral, a reprodução sexual dos bolores ocorre em estruturas morfológicas di- ferenciadas (micélio de reprodução) e inicia- se com a plasmogamia ou fusão de duas cé- lulas compatíveis haploides (n cromossomas). Após a plasmogamia, ocorre a cariogamia ou fusão dos núcleos, mas os cromossomos não se fundem, permanecendo separados. A célula resultante fica assim com o dobro de cromos- somos (2n) e inicia um processo de divisão por mitose. O bolor cresce, formando o micélio ve- getativo e de reprodução. Nos órgãos de repro- dução, ocorre um processo meiótico que reduz o número de cromossomos ao haploide (n). A reprodução sexuada ocorre entre fungos filamentosos, cogumelos e também entre al- gumas espécies de leveduras. Os esporos de origem sexuada também podem ser, morfologicamente, endósporos, quando estão no interior de alguma estrutu- ra, ou ectósporos, quando estão livres. Endósporos de origem sexuada: são de- nominados ascósporos e formados no inte- rior de células especiais denominadas ascos. Os ascos com os ascósporos são encontrados no interior de receptáculos, os ascocarpos, que recebem, de acordo com sua morfologia, as se- guintes denominações: • peritécio: ascocarpo esférico com uma abertura, o ostíolo; • cleistotécio: ascocarpo fechado sem os- tíolo; • apotécio: ascocarpo totalmente aberto, em forma de taça. A maior parte dos fungos de interesse mé- dico, inclusive as leveduras, reproduz-se na fase sexuada pela formação de ascos com as- cósporos, estruturas características da divi- sãoAscomycota. Morfologia, Reprodução e Taxonomia dos Fungos Ectosporos de origem sexuada Esporos formados na extremidade de uma hifa fértil chamada basídio, denominam-se basidiósporos e caracterizam representantes da divisão Basidiomycota, que engloba os co- gumelos. VARIAÇÕES MORFOLÓGICAS Os fungos apresentam muitas variações mor- fológicas que dificultam a sua identificação. Alguns grupos, comoos dermatófitos, quan- do mantidos em cultivo durante muito tempo, pleomorfizam-se, perdendo as características que permitem a sua identificação morfológi- ca. Outros, por uma série de fatores, perdem a capacidade de esporular, tornando difícil ou quase impossível a sua identificação por meio de características morfológicas. Alguns fungos mudam da forma filamentosa para a leveduriforme ou vice-versa, na dependência da temperatura e de outros fatores. A 25°C, apresentam-se na forma de bolores, e a 37°C, na forma de levedura. Esses fungos são deno- minados termodimórficos e incluem os patogê- nicos comoParacoccidioides brasiliensis, His- toplasma capsulatum e Sporothrix schenckii. Ainda na dependência de condições am- bientais, os fungos reproduzem-se de maneira diversa durante o seu ciclode vida. Grande parte das espécies fúngicas utili- za, para sua manutenção e disseminação, a reprodução assexuada, que possibilita a for- mação de grande quantidade de esporos, faci- litando a dispersão e a reprodução sexual, que possibilita a variabilidade genética necessá- ria para enfrentar as adversidades ambien- tais, em constantes modificações. Essa dua- lidade de reprodução altera totalmente suas características morfológicas. Como exemplo, temos espécies de dermatófitos, identifica- dos praticamente pelo aspecto morfológicoda fase assexuada, recebendo as denominações genéricas de Trichophyton e Microsporum. Taxonomicamente, várias espécies desses dermatófitos são classificadas pela sua fase de reprodução sexuada, com morfologia total- Morfologia, Reprodução e Taxonomia dos Fungos mente diferente, enquadrando-se na divisão Ascomycota, gênero Arthroderma. CICLO PARASSEXUAL o processo assexual, uma vez que não ocorre a fusão de núcleos,não ocorre a variabilida- de genética que deve ser obtida pelo proces- so sexual ou por formas alternativas. Muitos fungos têm os dois tipos de reprodução, mas muitos deles são encontrados sempre na fase assexuada e não têm sua fase sexuada de- tectada. Na década de 50 foi descrito um ci- clo em Aspergillus nidulans, denominado paras sexual. Nesse ciclo, a plasmogamia, a cariogamia e a haploidização não ocorrem em estrutura especializada, nem em tempo de- .erminado, no ciclo biológico do fungo. O ciclo parassexuado se inicia com a heterocariose ou formação de um micélio heterocário, por anas- :omosede hifas somáticas de diferente consti- ruição genética, ou por mutação de núcleos do homocário. Os núcleos de genótipos diferentes se dividem e se distribuem por todo o micélio vegetativo, e a cariogamia ocorre de manei- ra acidental entre vários núcleos, originando diploides hetero ou homozigotos que se mul- tiplicam. Os núcleos passam para os esporos, germinam e originam micélio diploide, e al- guns núcleos sofrem haploidização, originan- do conídios haploides e, consequentemente, colônias haploides. Basicamente, após algum tempo de ciclo parassexual, o micélio contém: núcleos haploides semelhantes ao dos proge- nitores; núcleos haploides com várias recom- binações genéticas novas; núcleos diploides homozigóticos e heterozigóticos. Esse ciclo já foi verificado em outras espé- cies de fungos e, eventualmente, constitui-se numa forma possível de variabilidade genéti- ca para aqueles fungos que não têm um ciclo exuado convencional e que sempre são en- contrados em fase assexuada. TAXONOMIA A classificação taxonômica dos fungos é feita pelas características morfológicas, e eles são 95 agrupados, de acordo com as características comuns, em níveis taxonômicos que recebem sufixos especiais: divisão: sufixo mycota; clas- se: mycetes; ordem: ales; família: aceae; gêne- ro e espécie: não têm radical específico. Exemplo: Reino Divisão Classe Ordem Família Gênero Espécie Fungi Ascomycota Hymenomycetes Tremellales Filobasidiaceae Filobasidiella neoformans A taxonomia dos fungos é extremamente complexa e dinâmica, e a nomenclatura des- ses organismos, regida pelo Código Interna- cional de Nomenclatura Botânica, tem muda- do ao longo dos últimos anos, principalmente em relação aos fungos de interesse médico. A base de classificação taxonômica é o es- tágio sexual. Grande parte dos fungos de inte- resse médico não apresenta essa fase, quando em meios de cultivo utilizados rotineiramen- te no laboratório, ou simplesmente não tem esse estágio conhecido, como acontece com os fungos anamorfos, grupo colocado à parte em termos de classificação taxonômica. Outro problema taxonômico é o verificado com as leveduras, que, pelo fato de serem uni- celulares, são identificadas principalmente por características fisiológicas, dificultando o seu enquadramento taxonômico. Essa complexidade dos fungos reflete-se na taxonomia e explica as várias classificações propostas, não havendo ainda um consenso entre os vários autores especialistas. Atualmente, técnicas de biologia molecu- lar têm sido aplicadas em estudos de taxono- mia dos fungos, e novas informações têm sido acrescentadas. Eventualmente, num futuro próximo, mudanças devem ocorrer na siste- mática tradicional, baseada exclusivamente na morfologia. Várias chaves de classificação já foram pro- postas para o Reino Fungi, e o assunto é até hoje complexo e dinâmico, não havendo ainda um consenso entre os vários autores especia- listas. Uma das classificações atuais apresen- ta quatro divisões para o Reino Fungi: Chytridiomycota: Os representantes dessa divisão não têm interesse clínico. Os gametas e esporos assexuais são móveis com um único flagelo. Zygomycota: Ausência de esporos móveis. Micélio vegetativo sem septo ou com poucos septos. Reprodução sexuada com formação de zigósporos. Fase assexuada caracterizada por esporos denominados esporangiósporos, contidos no interior de estruturas chamadas esporângios. Basidiomycota: Reprodução sexuada por basidiósporos (esporos exógenos que nascem em basídios). Reprodução assexuada por coní- dios. Incluem os conhecidos cogumelos. Ascomycota: Essa divisão engloba a maioria dos bolores e leveduras de interesse médico. Seus representantes têm reprodução sexuada por ascósporos (esporos contidos em estruturas denominadas ascos) e reprodução assexuada por conídios. A antiga divisão Deuteromycota, que agrupava fungos unicelulares ou filamento- sos, com micélio septado, reprodução assexu- ada por conídios (esporos exógenos) e que não Morfologia, Reprodução e Taxonomia dos Fungos apresentam reprodução sexuada, atualmente não é aceita pelos taxonomistas. Esses fungos são tratados como um gru- po à parte, denominado fungos mitospóricos, fungos anamorfos ou fungos imperfeitos. Muitos fungos desse grupo, à medida que sua fase sexual era descoberta, eram classi- ficados pelas características morfológicas, principalmente na divisão Ascomycota, e alguns poucos na divisão Basidiomycota, permanecendo com denominação dupla, uma para a fase assexuada e outra para a fase se- xuada. Atualmente, com o auxílio de técnicas de biologia molecular, muitos desses fungos, mesmo não tendo sua fase sexuada detectada morfologicamente, estão sendo enquadrados, por similaridades, principalmente na divisão Ascomycota. Para os fungos anamorfos, não se utilizam atualmente níveis taxonômicos como divi- sões, subdivisões, classe, ordem e família. Al- guns autores utilizam ainda a denominação agrupando-os apenas nas antigas classes, Hyphomycetes e Coelomycetes. Os Quadros 8.1 a 8.4 apresentam o enqua- dramento taxonômico de alguns dos princi- pais fungos citados neste livro. Quadro 8.1 Classificação taxonômica dos principais gêneros de fungos de interesse médico - Divisão Zygomycota Zygomycetes Mucorales CLASSE ORDEM FAMíLIA GÊNERO Mucoraceae Absidia Mucor Rhizopus Entomophthorales Anylistaceae Conidiobolus BasidiobolusBasidiobolaceae Quadro 8.2 Classificação taxonômica dos principais gêneros de fungos de interesse médico - Divisão Basidiomycota Urediniomycetes Sporidiobolaceae Rhodosporidium orfologia, Reprodução e Taxonomia dos Fungos Quadro 8.3 Classificação taxonômica d}s principais espécies de fungos de interesse médico - Divisão Ascomvoota FASE SEXUADA FASE ASSEXUADA CLASSE ORDEM FAMíLIA GÊNERO GÊNERO Archiascomycetes Pneumocystidales Pneumocystis carinii Hemiascomycetes Saccharomycetales Saccharomycetaceae Pichia guilliermondii Candida guilliermondii p. norvegensis C. norvegensis Issatchenkia C. krusei orientalis Saccharomyces cerevisiae Metschnikowiaceae Clavispora C. lusitaneae lusitaneae Dipodascaceae Galactomyces Geotrichum candidum geotrichum Euascomycetes Onygenales Onygenaceae Ajel/omyces Histop/asma capsulatus capsu/atum A. dermatitidis Blastomyces dermatitidis Arthrodermataceae Arthroderma spp. Microsporum spp. Trichophyton spp. Dothideales Didymosphaeriaceae Neotestudina rosatii Piedraiaceae Piedraia Microascales Microascaceae Pseudoallescheria Scedosporium boydii apiospermum Hypocreales Hypocreacea Nectria Fusarium solani haematococca Quadro 8.4 Principais fungos anamorfos de interesse médico CLASSE GÊNERO Hyphomycetes Nattrassia mangiferae Phomaspp. Pyrenochaeta romeroi Coelomycetes Acremonium spp. Alternaria alternata Aspergillus flovus Aspergillus fumigatus Coccidioides immitis (continua) 98 Morfologia,ReproduçãoeTaxonomiadosFungos Quadro 8.4 Principais fungos anamorfos de interesse médico (continuação) CLASSE GÊNERO Epidermophyton f1occosum Exophiala spp. Fonsecaea spp. Fusarium spp. Madurella spp. Microsporum audouinii Paracoccidioides brasiliensis Penicillium spp. Phialophora verrucosa Pyrenochaeta romeroi Rhinocladiella aquaspersa Sporothrix schenckii Trichophyton concentricum T.mentagrophytes T. rubrum T.schoenleinii T. tonsurans Blastomycetes Candida albicans Malassezia spp. Trichosporon spp. BIBLIOGRAFIA Ainsworth GC, Sparrow FK, Sussman AS. 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