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65 UNIDADE 9 Escoamento em superfície livre Nos condutos livres ou canais, a característica principal é a presença da pressão atmosférica atuando sobre a superfície do líquido, em uma seção aberta como nos canais de irrigação e drenagem, ou fechada, como nos condutos de esgotos ou galerias pluviais. Neste caso, o escoamento se processa necessariamente por gravidade. Classificação dos canais - Naturais – São os cursos de água existentes na natureza, como as pequenas correntes, córregos, rios, estuários, etc. - Artificiais – De seção aberta ou fechada, construídos pelo homem, como canais de irrigação, de navegação, aqueduto, galerias etc.. - Prismáticos – Os canais são ditos prismáticos se possuírem ao longo do comprimento seção reta e declividade de fundo constante. - Não prismáticos – Casos contrários ao prismático. (Natural) - Canais de leito fixo – Parede e fundo são fixas. - Canais de leito móvel – Variam ao longo do tempo. 66 Características do escoamento A variabilidade do escoamento ao longo do tempo e do espaço. 1 – Quanto à variabilidade no tempo - Permanente – Não existe variação no tempo. Há continuidade de vazão, os parâmetros hidráulicos da mesma seção não variam. - Não permanente – Existem variações no tempo. Passagem de uma onda de cheia pelo canal, não há continuidade da vazão. 2 – Quanto à variabilidade no espaço - Uniforme – Não existem variações no espaço. - Não uniforme ou variado – Existem variações ao longo do espaço. V(x1) V(x2) V(x3) 67 Elementos geométricos dos canais - Área molhada (A) – É a área da secção reta do escoamento, normal à direção do fluxo. - Perímetro molhado (P) – É o comprimento da parte da fronteira sólida da seção do canal (fundo e paredes) em contato com o líquido; a superfície livre não faz parte do perímetro molhado. - Raio hidráulico (Rh) – É a relação entre a área molhada e o perímetro molhado. - Altura da água ou tirante d’água (y) – É a distância vertical do ponto mais baixo da seção do canal até a superfície livre. - Altura do escoamento da seção (h) – É a altura do escoamento medida perpendicularmente ao fundo do canal. - Largura do topo (B) – É a largura da seção do canal na superfície livre, função da forma geométrica da seção e da altura d‟água. - Altura hidráulica média (Hm) – É a relação entre a área molhada e a largura da seção na superfície livre. É a altura de um retângulo de área equivalente à área molhada. - Declividade do fundo (Io) – É a declividade longitudinal do canal. Em geral as declividades dos canais são baixas, podendo ser expressas por . - Declividade piezométrica (Ia) – É a declividade da linha d‟água. - Declividade da linha de energia (IE) – É a variação de energia da corrente no sentido do escoamento. 68 Adimensionais - Reynolds – V – Velocidade média da seção; Rh – Raio hidráulico; - Viscosidade cinemática da água. O número de Reynolds permite classificar os escoamentos em três tipos, como segue: a) Escoamento Laminar Rey < 500; b) Escoamento Turbulento Rey > 2000; c) Escoamento de Transição 500 < Rey < 2000. - Número de Froude – √ , no qual Hm é a altura hidráulica. O número de Froude é utilizado para classificar os escoamentos livres que ocorrem nas aplicações práticas em três tipos, como segue: a) Escoamento Subcrítico ou Fluvial Fr < 1; b) Escoamento Supercrítico ou Torrencial Fr > 1; c) Escoamento Crítico, Fr = 1. Distribuição de velocidades A velocidade média em uma seção longitudinal é calculada, na prática, como sendo a média aritmética entre as velocidades pontuais a 0,2h e 0,8h, em que h é a profundidade da seção longitudinal, ou aproximadamente igual à velocidade pontual a 0,4h. 69 Distribuição de pressão - Escoamento paralelo h é a hipotenusa do triangulo. Na maioria dos casos a serem estudados em canais de fraca declividade (Io<0,01m/m), abertos ou fechados, existirá a distribuição hidrostática de pressão e a linha piezométrica coincidirá com a linha d‟água. Escoamento Permanente e Uniforme Este escoamento só ocorre em condições de equilíbrio dinâmico, isto é quando houver um balanceamento entre a força aceleradora e a força de resistência que tente sustentar o movimento. A força de resistência depende da velocidade média do escoamento, portanto é necessário que esta velocidade atinja um determinado valor para que haja o equilíbrio 70 entre essas forças. Também, é necessário que o canal prismático tenha um comprimento razoável, declividade e rugosidade constantes, para que haja a possibilidade do estabelecimento do escoamento permanente e uniforme fora dos trechos onde exista a influência das extremidades de montante e jusante. A equação √ é conhecida como fórmula de Chézy, em que C é o coeficiente de resistência ou coeficiente de rugosidade de Chézy. Esta equação é indicada para os escoamentos turbulentos rugosos em canais. A partir da equação de Chézy, chegaremos à fórmula de Manning, usada no dimensionamento de canais. Utilizando a equação da continuidade ( ), a equação de Chézy torna-se: √ esta é a equação fundamental do escoamento permanente uniforme em canais. Fórmula de Manning Diferentes fórmulas de origem empírica são propostas para o cálculo do coeficiente C de Chézy, ligando-o ao raio hidráulico da seção. Uma relação simples, e atualmente mais empregada, foi proposta por Manning em 1889, através da análise de resultados experimentais obtidos por ele e outros pesquisadores. A relação empírica é da forma: substituindo a equação em √ chegamos à equação de Manning: √ Esta equação será base de cálculo para os problemas sobre escoamentos livres. 71 O “n” é chamando de coeficiente de rugosidade de Manning e encontra-se na tabela abaixo. Fonte: Rodrigo Melo Porto 72 Calculo de canais em regime uniforme Seja uma seção transversal de forma definida e uma dimensão característica da seção, em função da qual são dadas outras dimensões para que se possa desenhar a seção. Onde e são chamados parâmetros de forma da seção. Substituindo os parâmetros na equação de Manning temos: √ √ √ é chamado coeficiente dinâmico. é chamado coeficiente de forma. Usado para canal trapezoidal, triangular e retangular. 73 A forma trapezoidal pode variar em função de dois adimensionais , chamado razão de aspecto e a inclinação do talude Z ou Z . Escolhendo para dimensão característica “A” é a área do trapézio: relacionando temos: ( ) ( ) Fazendo as devidas simplificações obtemos: onde então “Rh” é o raio hidráulico: relacionando temos: ( ) √ ( ) √ Desenvolvendo a expressão obtemos: √√ onde então √ Portanto: [ √ ] ( √ ) 74 Como [ ( √ ) ] Desta forma, a fórmula de Manning pode ser escrita de modo compacto como: , onde onde ( √ ) O coeficiente “K” foi tabelado para vários valores de “m” e “Z” e apresentado na tabela do anexo (8.2). Nesta tabela, para Z=0 e m=0 têm-se, respectivamente, os valores do coeficiente de forma para a seção retangular e triangular. Exemplo: Canal retangular (Z=0) Canal triangular (m=0) 75 Determinação da altura de d’água Na equação de Manning, substituímos a área e o raio hidráulico. √ , onde “” e “” são: √ Então temos: √ * √ + A equação a cima, desenvolvida e adimensionalizada fica: √ ( ) ( ( ) ) ( ( )√ ) Fazendo √ , com o valor “Z” e “K2” podemos tirar na tabela do anexo (8.3) a relação yo/b. Dimensionamento de canais com o critério de máxima eficiência A máxima eficiência esta associada ao mínimo perímetro molhado. Condição de mínimo perímetro molhado. Trapezoidal: 76 √ Área do trapézio (*) Perímetro molhado Substituindo “a” por √ temos: ( √ ) (**) Observação a Área (A) e a inclinação do talude (Z) são constantes. Da expressão (*) isola-se o “yo” √ √ Substitui “yo” na expressão (**) √ √ ( √ ) Derivando a expressão do “P” em relação à “m” e igualando a zero, ( ) temos a condição de mínimo perímetro molhado para seção trapezoidal. (√ ) A condição de mínimo perímetro molhado para a seção retangular é obtida substituindo na expressão a cima o valor de Z=0, obtemos assim o valor de m=2, ou seja, o dimensionamento de um canal retangular na condição de mínimo perímetro molhado se faz com a largura da base igual ao dobro da altura. Para o canal triangular simétrico, um desenvolvimento algébrico semelhante fornecerá a condição de mínimo perímetro molhado. 77 Seção Circular Utilizada em projetos de sistemas de esgotos sanitários e galerias pluviais, um desenvolvimento adimensional análogo pode ser realizado. De acordo com a notação da figura podemos expressar as seguintes relações geométricas: Escolhendo como dimensão característica da seção circular =D, diâmetro da seção. √ Portanto: * + Finalmente, o coeficiente de forma da seção circular é dado por: { * + } 78 Desta forma, a fórmula de Manning para a seção circular, de modo condensado, torna-se: ( ) ( √ ) como então Dando-se valores à relação , lâmina relativa, pode-se calcular os correspondentes valores de e daí os valores de K1, pela equação a cima descrita, com os quais se montou a tabela do anexo (8.1) Elementos hidráulicos da seção circular É interessante conhecer os elementos hidráulicos e geométricos para várias alturas d‟água. Também é necessário saber, para uma determinada lâmina d‟água, qual é a relação entre a vazão que está escoando e aquela que escoaria se a seção fosse plena. √ √ Pela fórmula de Manning, as relações entre as velocidades e entre as vazões, em que Vp e Qp são, respectivamente, a velocidade e a vazão na seção plena, são dadas por: ( ) ( ) Como para a seção plena de um conduto circular tem-se e as equações a cima ficam: 79 Estas relações foram postas em forma gráfica, como na figura a seguir: Elementos hidráulicos da seção circular. 80 As relações também foram colocadas na tabela como segue: Elementos hidráulicos da seção circular. À medida que a lamina de água aumenta, há um aumento gradual da área molhada e do perímetro molhado. Entretanto, a partir de uma certa altura, devido à conformação geométrica da cobertura, um pequeno acréscimo na altura d‟água provoca aumento proporcionalmente maior no perímetro molhado do que na área molhada. 81 Portanto o raio hidráulico aumenta até uma altura d‟água em que o perímetro molhado cresce mais lentamente que a área molhada, e decresce daí em diante. Pode-se observar que a curva de velocidade acusa uma diminuição no crescimento no mesmo ponto em que ocorreu a diminuição do raio hidráulico. Isto é evidente uma vez que, pela fórmula de Manning, para “n” e “Io” fixados, a velocidade é diretamente proporcional ao raio hidráulico. V =Vmáx, quando = 257 o , que corresponde a yo = 0,81D. Q = Qmáx, quando = 302,5 o , que corresponde a yo = 0,94D. Isto mostra que os máximos ocorrem em alturas diferentes e que a vazão máxima no conduto livre circular não ocorre quando a seção é plena. Para propósitos práticos, esta particularidade não é explorada porque a altura da lâmina na seção de máxima vazão é tão próxima do diâmetro que, se houver qualquer instabilidade o escoamento, o conduto passa a funcionar à seção plena como conduto forçado. Nos projetos usuais, o limite da lâmina é fixado em yo = 0,75D. 82 UNIDADE 10 Energia ou carga específica Muitos fenômenos que ocorrem em canais podem ser analisados utilizando-se o princípio da energia. Conceito: Em 1912, Bakneteff, engenheiro russo introduziu o Conceito de Energia ou carga específica, com sendo a energia (carga) disponível em uma seção, tomando como plano de referência um plano horizontal passando pelo fundo do canal, naquela seção. Em outras palavras, a energia é a distância vertical entre o fundo do canal e a linha de energia, o que corresponde a fazer Z=0 na equação abaixo. Equação da Energia Total por Unidade de Peso. O conceito de energia é simples e de extrema importância para estudar os problemas de escoamentos através de singularidade em canais, como alteração da cota de fundo, alargamentos e estreitamentos. Fazendo Z = 0, na equação da energia total por unidade de peso, temos: Portanto, a energia específica em uma seção do canal é a soma da altura d‟água com a carga cinética. Podemos expressar a equação da energia específica da seguinte forma: 83 Sendo Logo para uma dada seção do canal e para uma dada vazão, a energia específica é função só da geometria e em particular da altura d‟água. Para uma melhor compreensãodo conceito de energia específica, é conveniente iniciar o estudo pelo escoamento em um canal retangular e supondo que o coeficiente de Coriolis seja igual à unidade. Supondo um canal retangular e = 1 Assim: Como o canal é de seção retangular podemos utilizar o conceito de vazão específica ou vazão unitária. q é Vazão por unidade de largura Temos então: Considerando que E varia com y, para um dado valor constante de q, pode-se construir um gráfico da equação anterior no plano e E-y. A equação acima pode ser imaginada como sendo a somo de duas funções: E = A + B 84 Sendo: A = y, que é uma reta de 45 o . , que é uma curva do tipo hiperbólico. Como condições de contorno, tem-se: Se y 0, A 0, B E = B Se y , B 0, A E = A = y Isto indica que a curva y x E tem duas assíntotas, uma ao eixo das abscissas E=B e outra à bissetriz dos eixos coordenados, E=y. Assim, somando graficamente a reta a 45 o e a hipérbole, chega-se ao gráfico a seguir. Relação altura d’água-energia específica (vazão constante) Fonte: Hidráulica Básica- Rodrigo de Melo Porto É também de interesse prático o estudo de como a vazão unitária q varia com a altura d‟água y para uma dada energia específica constante, E = Eo . A equação pode ser escrita como: 85 Aqui, também pode-se traçar um gráfico y x q, observando-se que as condições de contorno são: Se y 0, q 0 (não há água) Se y Eo, q 0 (há água em condição estática) Isto mostra claramente que deve haver um valor máximo de q para algum valor de y entre 0 e Eo. A curva tem o aspecto apresentado na figura a seguir. Relação altura d’água-vazão (energia específica constante) Fonte: Hidráulica Básica- Rodrigo de Melo Porto Com referência ao gráfico, Relação altura d’água-energia específica, pode-se observar que, para cada nível de energia prefixado, existem duas possibilidades de veicular uma vazão q no canal retangular. O escoamento pode se dar com uma altura d‟água y1, que corresponde à raiz da equação que se encontra no ramo inferior da curva, ou pode se dar com uma altura d‟água y2, que corresponde à raiz da mesma equação que se encontra no ramo superior da curva. Estes dois escoamentos têm características bem diferentes, o de altura y1 é chamado de escoamento rápido, torrencial ou supercrítico e o de altura d‟água y2 é chamado de escoamento lento, fluvial ou subcrítico e as profundidades y1 e y2 são chamadas de profundidades alternadas ou correspondentes. 86 Os dois gráficos tem um ponto em comum, que é o de Energia Mínima ou Vazão Máxima. Evidentemente, estes pontos são correspondentes, já que ambos os gráficos são a representação da mesma equação. A profundidade associada a estes pontos é denominada de Profundidade Crítica yc. Sintetizando podemos concluir que: 1) Se y > yc V < Vc , escoamento subcrítico; 2) Se y < yc V > Vc , escoamento supercrítico; 3) Se y = yc V = Vc , escoamento crítico; 4) Uma diminuição no nível de energia específica disponível provoca um abaixamento na linha d‟água, no escoamento fluvial e uma elevação no escoamento torrencial. Escoamento Crítico O escoamento crítico é definido como o estágio em que a energia específica é mínima para uma dada vazão ou o estágio em que a vazão é máxima para uma dada energia específica. Diferenciando a equação tem-se: como e Número de Froude É um adimensional muito utilizado em estudos de canais, definido como a raiz quadrada da relação entre a força de inércia e a força da gravidade, e expresso por: 87 Lc é uma dimensão característica do escoamento. Nos canais é comum definir como dimensão característica a altura hidráulica da seção. Assim Para seção retangular Substituindo na equação temos: Estudando o sinal da derivada da equação anterior, pode-se escrever: Se Fr < 1 (Regime Fluvial) Se Fr > 1 (Regime Torrencial) Se Fr = 1 (Regime Crítico) Gráfico do sinal da derivada 88 Para o regime crítico temos as expressões abaixo relacionadas: Fr 2 = 1 então yc é chamado altura crítica. Em continuação, a energia específica mínima ou energia específica crítica pode ser desenvolvida da seguinte forma: Energia Energia mínima esta relacionada com a altura crítica. Substituindo q 2 em Emín ou Assim podemos expressar a altura crítica como sendo A velocidade crítica Vc pode ser calculada a partir da expressão da vazão unitária. 89 Outro parâmetro importante a ser analisado é a declividade crítica Ic, declividade de um longo canal em que ocorre o escoamento uniforme crítico. Para um canal retangular de grande largura, pode-se aproximar o raio hidráulico pela altura d‟água. Exemplo: A partir da equação de Manning podemos chegar à equação da declividade crítica. como 90 Se: Io < Ic Escoamento uniforme subcrítico “fraca declividade” Io > Ic Escoamento uniforme supercrítico “forte declividade” Seções de controle É importante em hidráulica dos canais o conhecimento de seções nas quais alguma característica determina uma relação entre altura d‟água e vazão. Tais seções são chamadas de seção de controle, porque controlam as profundidades do escoamento em trechos do canal a sua montante ou a sua jusante, dependendo do tipo de escoamento que está ocorrendo. Para o regime crítico, pode ser estabelecida uma relação entre altura d‟água e vazão, portanto uma seção crítica é uma seção de controle. As maneiras como estas seções influenciam no escoamento são as mais variadas possíveis. O conceito pode ser exemplificado através de uma estrutura de transbordamento de um reservatório mantido em nível constante, constituído por um vertedor de crista espessa como mostra a figura a seguir. Esquema – Conceito de seção de controle Considerando, para simplificar, que a estrutura seja retangular de largura b e relativamente curta para que a perda de carga entre a seção de entrada e a queda livre a jusante seja desprezível, duas situações são analisadas. a) Quando a comporta de controle a jusante estiver totalmente fechada, não haverá escoamento e a água estará parada, com altura y = Eo (energia específica disponível), situação correspondente ao ponto A da curva de vazão. Abrindo-se parcialmente a comporta até a posição B, ocorrerá uma 91 pequena vazão e a altura d‟água no vertedor cairá, pois haverá transformação de energia potencial em cinética. Continuando a abrira comporta de jusante, a vazão vai crescendo e a altura d‟água y, diminuindo, até que se atinja o valor da vazão máxima dada pela equação √ √ , e compatível com a energia disponível Eo, cuja profundidade correspondente é a crítica, ponto C curva de vazão. A partir desta situação, a comporta não mais influirá no escoamento e a vazão e a altura d‟água não mais se alterarão. b) Deixando a comporta de jusante totalmente aberta e operando outra a montante, como indicado pontilhado na figura, quando esta estiver totalmente fechada, a vazão será nula (não há água na estrutura), portanto y=0 (ponto D na curva de vazão). Abrindo-se esta comporta crescerão continuamente a vazão e a altura d‟água até que se atinja, como no caso anterior, a vazão máxima compatível com a energia específica Eo, cuja profundidade é a crítica, ponto C da curva de vazão. No primeiro caso, que corresponde ao trecho AC da curva de vazão, o elemento controlador do escoamento está à jusante da seção correspondente, e o escoamento é fluvial. No trecho DC da curva de vazão, o elemento controlador do escoamento está à montante da seção correspondente e o escoamento é torrencial. Este fato tem uma importância significativa. O regime subcrítico é controlado por alguma característica, colocada a sua jusante e as perturbações originadas em determinada posição propagar-se-ão para montante. No caso do escoamento supercrítico, este é controlado por uma característica, colocada a sua montante. Como exemplo das duas situações, tem-se a construção de uma barragem em um rio (regime fluvial), condicionando a linha d‟água a sua montante pelo aparecimento de um remanso de elevação que se faz sentir à grande distância da barragem, seção de controle, ver figura a seguir. Ainda na figura, a seção de controle, barragem, condiciona o escoamento torrencial, a sua jusante, pelo vertedor. No jargão técnico, costuma-se dizer que o escoamento torrencial “ignora” o que está ocorrendo águas abaixo; por exemplo, a descarga do vertedor da figura a seguir não é afetada pela existência de um ressalto hidráulico localizado ao pé do mesmo. 92 Tipos de escoamentos Aplicações da energia específica em transições 1 – Contração ou alargamento sem alterar o fundo Considere como na figura que segue um canal retangular com largura b1 na seção 1 e largura b2 < b1 na seção 2, sem variação na cota do fundo entre as seções. A vazão unitária q2 na seção 2 é maior que a vazão unitária q1 na seção 1. Como b2 < b1 q2 > q1 e como yc2 > yc1 Considerando o escoamento na seção 1fluvial, podemos observar na figura que segue, a altura d‟água compatível com a energia disponível E1 = cte, vale y1 (ponto A). A altura d‟água na seção 2 é menor que y1 e maior que yc e corresponde ao ponto B, pois E1 = cte. Considerando o escoamento na seção 1 torrencial, a altura d‟água compatível com a energia disponível E1 = cte vale y1 * (ponto A * ). A altura d‟água na seção 2 é maior que y1 * e menor que yc e corresponde ao ponto B * . 93 Portanto, a altura d‟água decresce se o escoamento a montante for fluvial e cresce se for torrencial, sem haver, em cada caso, mudança de regime. Se a largura da seção 2 for reduzida ainda mais, aumentando a vazão unitária, até que a reta E1 = cte tangencie a curva da energia específica desenhada para a vazão qc2, a altura d‟água nesta seção será a altura crítica, independente do tipo de escoamento na seção 1 ser fluvial (AC) ou torrencial (A * C). Trata-se portanto, de uma situação limite na qual a energia disponível em 1 ainda é suficiente para veicular a vazão. Reduzindo-se ainda mais a largura em 2, conforme a figura que segue, a reta E1 = cte não cortará a curva da energia desenhada para q2 > qc2, portanto não há solução matemática para o problema físico, nas condições de montante. Supondo que o escoamento em 1 seja fluvial, as perturbações originadas pela transição propagar-se-ão para montante e a altura d‟água deverá ajustar-se por si mesma, até que condições críticas sejam produzidas na seção 2, seção de controle. Em outras palavras, haverá alterações nas condições de montante pelo aparecimento de uma curva de remanso com a altura d‟água na seção 1 aumentando para o valor y1 + , ponto A + , até atingir uma energia, necessária para veicular a vazão unitária q2 > qc2 condizente com a largura da seção 2, b + < bc. Nesta situação, o escoamento passará de fluvial a montante da transição para crítico na transição e, na sequência, para torrencial, retornando ao escoamento fluvial através de um ressalto hidráulico se, a jusante, o canal for de fraca declividade. Desta forma, a condição limite de largura na seção 2, para que o escoamento se processe sem que sejam alteradas as condições de montante, é que o escoamento na seção 2 seja crítico e não haja elevação da linha de energia a montante. Se o escoamento na seção 1 for torrencial e a largura em 2 for menor que a largura limite, haverá a formação de ressalto hidráulico a montante da transição e a perda de energia que ocorre no ressalto torna impossível analisar o problema usando somente o diagrama de energia específica y x E. 94 Gráfico y x E Observação: No subcrítico abaixamento da linha d‟água No supercrítico elevação da linha d‟água 2 – Elevação ou abaixamento do fundo do canal (degrau) Considere como na figura abaixo, um canal retangular de largura constante, portanto com vazão unitária q constante, no qual, em uma determinada seção, há uma elevação no fundo de altura ∆Z. Desprezando as perdas de carga, a equação da conservação da energia entre as seções 1 e 2 é escrita como: 95 Deve ser observado que a energia específica E é sempre medida na seção em relação ao fundo do canal. Como no caso da transição devida a uma redução na largura, serão analisadas duas condições iniciais na seção a montante, seção 1. Considerando o escoamento na seção 1 fluvial, na figura a seguir, a altura d‟água compatível com a energia disponível E1 vale y1 (ponto A). A altura d‟água y2 na seção 2 é menor que y1 e maior que yc e corresponde ao ponto B, pois E2 = E1 - ∆Z. Considerando o escoamento na seção 1 torrencial, na mesma figura, a altura d‟água compatível com a energia disponível E1 vale y1 * (ponto A). A altura d‟água na seção 2 é maior que y1 * e menor que yc e corresponde ao ponto B * . Portanto, a altura d‟água decresce se o escoamento for fluvial e cresce se for torrencial, sem haver, em cada caso, mudança de regime. Se a altura ∆Z na seção 2 for aumentada ainda mais, até que a reta E2 tangencie a curva da energia específica desenhada para a vazão q = cte. (∆Z = ∆Zc e E2 = Ec), a altura d‟água nesta seção será a altura crítica, independente do tipo de escoamento na seção 1 ser fluvial (AC) ou torrencial (A * C). Trata-se, portanto, de uma situação limite na qual a energia disponível em 2 ainda é suficiente para veicular a vazão. Aumentando-se ainda mais o nível do fundo em 2, conforme a figura, a reta E2 estará à esquerda da reta Ec e não cortará a curva da energia desenhada para q = cte., portanto não há solução matemática para o problema físico nas condições iniciais de montante. Supondo que o escoamento em 1 seja fluvial, as perturbações originadas pela transição propagar-se-ão para montante e a altura d‟água deverá ajustar-se por si mesma, até que condições críticas sejam produzidas na seção 2, seção de controle. Em outras palavras, haverá alterações nas condições de montante pelo aparecimento de uma curva de remanso com a altura d‟água na seção 1 aumentada para o valor y1 + , ponto A + , até atingiruma energia E1 + = Ec + ∆Z + , necessária para veicular a vazão unitária q condizente com a altura de fundo da seção 2, ∆Z + > ∆Zc. Nesta situação, o escoamento passará de fluvial a montante da transição para crítico na transição e, na sequência, para torrencial, retornando ao escoamento fluvial através de um ressalto hidráulico se, a jusante, o canal for de fraca declividade. Desta forma, a condição limite de elevação de fundo na seção 2, para que o escoamento se processe em que sejam alteradas as condições de montante, é que o escoamento na seção 2 seja crítico e não haja elevação da linha de energia. 96 Se o escoamento na seção 1 for torrencial e ∆Z > ∆Zc, haverá a formação de uma ressalto hidráulico a montante da transição e a perda de energia que ocorre no ressalto torna impossível analisar o problema usando somente o diagrama de energia específica y x E. Gráfico y x E Observação: No subcrítico redução da profundidade No supercrítico elevação da profundidade Z > Zmáx E2 = Emín Seção 1 será alterada 97 3 – Contração da seção e elevação do fundo É a soma dos dois efeitos. Canais de forma qualquer As propriedades e características desenvolvidas na análise dos escoamentos na seção retangular podem ser generalizadas para canais de forma qualquer (trapezoidal, circular, triangular, parabólica etc.), e observando que para seções irregulares, seguindo a definição de energia específica, o referencial deve passar no ponto mais baixo da seção e a distribuição hidrostática de pressão deve ser preservada. Pela equação , para =1, a equação da energia específica em uma determinada seção é dada por: Para Q = cte., a condição de escoamento crítico é obtida como antes, diferenciando a equação anterior em relação à altura d‟água y. A variação da área molhada A com a altura y pode ser obtida utilizando-se a notação da figura a seguir. 98 Sendo B a largura da seção na superfície livre, tem-se dA = Bdy e assim: Observe que a equação a cima é a correspondente da equação , para seção retangular, e que essa a ser um caso particular da equação a cima desenvolvida. Nas condições de regime crítico, dE/dy = 0, portanto: Equação importante cuja raiz é a profundidade crítica para a seção em questão. A relação A/B foi definida como a altura hidráulica ou média da seção e, desta forma a expressão do número de Froude pode ser generalizada, em termos da vazão, na forma: Combinando as equações, pode-se estabelecer a relação entre a energia mínima Ec, em um canal de forma qualquer, e a geometria do escoamento. Na condição de regime crítico. Substituindo: em temos: 99 Que substituída em fica: Equação geral que torna a equação , um caso particular e mostra que a carga cinética no regime crítico é metade da altura hidráulica da seção. Problemas típicos A determinação dos parâmetros do escoamento crítico, vazão, altura d‟água, energia mínima, largura do fundo etc. é facilmente alcançada quando a seção é retangular. Para a seção trapezoidal e circular, a complexidade geométrica torna mais difícil tal determinação e, desta forma, é necessário desenvolver gráficos para facilitar o cálculo, em vários tipos de problemas. A determinação das condições críticas em um canal trapezoidal será feita com auxílio de um ábaco mostrado a seguir. 100 Primeiro Caso: Determinação da altura crítica em um canal trapezoidal, conhecendo-se a vazão (Q), a largura de fundo (b) e a inclinação do talude (Z). √ Exemplo numérico: yc = ? Q = 90 m 3 /s b = 10 m Z = 2 √ √ = 0,257 Entramos no ábaco acima, vamos até a curva e tiramos no lado direito o valor de . = 2,81 yc = 1,789 101 Segundo Caso: Determinação da altura crítica em um canal trapezoidal, conhecendo-se a vazão (Q), a energia mínima (Ec), e a inclinação do Talude (Z). √ Exemplo numérico: yc = ? Q = 40 m 3 /s Ec = Emín= 2,50 m Z = 2 √ √ = 0,228 Entramos no ábaco acima, vamos até a curva e tiramos no lado esquerdo o valor de . = 0,755 102 Terceiro Caso: Determinação da altura crítica em um canal trapezoidal, conhecendo-se, a energia mínima (Ec), e a inclinação do Talude (Z), a base do canal (b). √ Exemplo numérico: yc = ? Ec = Emín = 2,40 m Z = 2 b = 5,6 m = -0,635 (não serve) e = 0,735 Com o valor de no ábaco, vai até a curva e tira o valor de . = 0,37 √ √ 103 A determinação das condições críticas em um canal circular será feita com auxílio dos ábacos apresentados a seguir. 104 105 106 Quarto Caso: Dimensionar uma galeria de águas pluviais de 1,0 m de diâmetro que escoa uma determinada vazão, em regime uniforme, funcionando na seção de máxima velocidade. Qual deve ser a declividade de fundo para que este escoamento seja crítico? Determine a capacidade de vazão da galeria nestas condições. Adote n = 0,014. Velocidade Máxima yo/D = 0,81 yo = yc (pág. 50) Com a relação yc/D = 0,81 entramos no ábaco “altura crítica em canais circulares” (pág. 73) Novamente com a relação yc/D entramos na tabela da página 74 e retiramos as relações: Se de D = 1m, então A = 0,6815 e Rh = 0,3043. Aplicando a equação de Manning: √ √ 107 UNIDADE 11 Ressalto hidráulico O ressalto hidráulico ou salto hidráulico é o fenômeno que ocorre na transição de um escoamento torrencial ou supercrítico para um escoamento fluvial ou subcrítico. O escoamento é caracterizado por uma elevação brusca no nível d‟ água, sobre uma distância curta, acompanhada de uma instabilidade na superfície com ondulações e entrada de ar do ambiente e por uma consequente perda de energia em forma de grande turbulência. Ocorrência: a) Saída de comporta plana vertical. b) Mudança de declividade de canal. 108 c) Pé de vertedor de barragem. O ressalto estacionário fica confinado entre duas seções, uma a montante, onde o escoamento é torrencial, e outra a jusante, onde o escoamento é fluvial, nas quais a distribuição de pressão é hidrostática. As alturasd‟água destas seções, y1 e y2, são as alturas ou profundidades conjugadas do ressalto. A diferença, y2 - y1, chama-se altura do ressalto e é um parâmetro importante na caracterização do ressalto como dissipador de energia. A diferença de cotas na linha de energia E chama-se perda de carga no ressalto. Representação do Ressalto Hidráulico 109 Classificação do tipo de ressalto A figura a seguir estabelece uma classificação do tipo de ressalto em função do número de Froude na seção a montante. Tipos de ressaltos hidráulicos em função do número de Froude a montante No ressalto ondulado, a transição entre o escoamento torrencial e o fluvial ocorre de modo gradual e as perdas de carga são essencialmente devidas ao atrito nas paredes e fundo. O ressalto fraco ainda tem aspecto ondular, mas com zonas de separação na superfície líquida, e as perdas da carga são baixas. Em geral, para Fr1 < 2,5, não se considera o fenômeno como ressalto propriamente dito. Para 2,5 < Fr1 < 4,5 , o ressalto já se apresenta sob seu aspecto típico. Nesta faixa o ressalto tem a tendência de se deslocar para jusante, não guardando posição junto à fonte geradora. O ressalto ordinário ou ressalto estacionário, é aplicado como dissipador de energia em obras hidráulicas. Para números de Froude na faixa entre 4,5 e 9,0, a energia varia entre 45 % e 70 % de energia disponível a montante. Para Fr1 > 9, que caracteriza o ressalto forte, em geral não é utilizado nas construções hidráulicas devido a efeitos colaterais sobre as estruturas de dissipação, como processos abrasivos ou mesmo cavitação. 110 Força específica Como problema importante no estudo do ressalto, apresenta-se aquele relativo ao relacionamento das alturas conjugadas, para uma dada geometria do canal e uma dada vazão. Por ser o escoamento bruscamente variado, acompanhado de uma brusca mudança na força hidrostática, seu estudo deverá ser feito a partir do teorema da quantidade de movimento, aplicado ao líquido confinado ao volume de controle limitado pelas seções nas quais ocorrem as alturas conjugadas. Supondo um canal de fraca declividade e observando que a componente do peso e a força tangencial nas paredes e fundo são opostas e de pequenas magnitudes, pode-se desprezá-las com o intuito de obter uma expressão simples. Assim, sobre o volume de controle atuarão as forças de distribuição de pressão nas seções 1 e 2 da figura anteriormente apresentada. Desta forma, tem-se, para escoamento unidimensional: ou Da Estática dos Fluídos, a força de pressão sobre uma área plana é dada por: ̅̅̅̅ , em que, ̅ é a distância vertical desde a superfície livre até o centro de gravidade da seção molhada. Portanto: 111 Na equação anterior, para um dado valor de Q, os demais termos são funções da altura d‟água y. Definindo como força específica ou, como impulsão total a função: verifica-se que, no ressalto hidráulico estacionário, esta função assume o mesmo valor a montante e a jusante, isto é: Colocando-se em gráfico a altura d‟água y contra a força específica F, para uma dada geometria do canal e vazão, obtém-se a curva de força específica que possui as seguintes propriedades: a) se y 0 F e a curva assintótica ao eixo das abscissas; b) se y F e a curva estende-se indefinidamente para a direita; c) se y = yc , F passa por um mínimo, qualquer que seja a forma do canal; d) para um dado valor da força específica F, a curva apresenta duas alturas y1 e y2 , que são as alturas conjugadas do ressalto. A terceira propriedade da curva da força específica pode ser facilmente deduzida observando a figura a seguir, diferenciando a equação abaixo e igualando a zero. 112 Curva da força específica Assim: ̅ é a própria área. A raiz da equação é y=yc, portanto no regime crítico de escoamento a força específica é mínima, para uma dada vazão, qualquer que seja a forma do canal. Canais Retangulares: Para uma seção retangular, a equação que segue, Pode ser escrita como: Como y1 y2 , tem-se: Dividindo por y1 3 , fica: 113 Como para haver ressalto y2 / y1 > 1 tem-se: Equação essa que fornece a relação entre as alturas conjugadas em função do número de Froude na seção de montante, em canais retangulares. Se somente as condições de jusante, seção 2, forem conhecidas, um desenvolvimento análogo leva a: Então, se a altura e a velocidade média do escoamento forem conhecidas em um dos lados do ressalto, os correspondentes valores do outro lado podem ser determinados usando-se as equações anteriores. Para que o ressalto ocorra é necessário que y2 > y1 , portanto: Logo: 1 + 8Fr1 2 > 9 Fr1 2 > 1 Fr1 > 1 Da onde se conclui que só haverá ressalto se o escoamento a montante da singularidade for torrencial. É importante observar que esta condição não é necessária, isto é, se o escoamento for torrencial e a singularidade produzir a altura requerida y2 no regime fluvial, o ressalto se forma; se não, o escoamento continua torrencial, sem a formação do ressalto. Isto é válido qualquer que seja a forma da seção. 114 Canais não retangulares: Para canais trapezoidais, circulares, triangulares ou parabólicos, podem ser desenvolvidas, a partir da equação abaixo, expressões adimensionais que relacionam as alturas conjugadas com o número de Froude na seção em que o escoamento é torrencial. Profundidades conjugadas para canais retangulares, trapezoidais, triangulares, observar figura a seguir. O gráfico da figura a seguir, apresenta curvas para a determinação da relação das alturas conjugadas para canais trapezoidais e triangulares. Para os canais trapezoidais as curvas são apresentadas em função do adimensional k, razão de aspecto da seção: Cálculo das Alturas Conjugadas Onde Z é a inclinação dos taludes e b é a largura de fundo. 115 Perda de carga no ressalto A perda de carga no ressalto é igual à diferença de energia antes e depois do salto. Desta forma: No caso particular do canal retangular, a equação anterior pode ser desenvolvida, chegando-se a: O que mostra que a perda de carga aumenta consideravelmente com a altura do ressalto ( y2 - y1 ). Se a perda de carga no ressalto pode ser calculada a partir de uma expressão deduzida analiticamente, o mesmo não se dá com o comprimento do ressalto, distância entre a seções em que, para canais retangulares, o comprimento Lj de um ressalto estacionário é bem definido e se situa normalmente entre 5 e 7 vezes o valor de sua altura ( y2 - y1 ) , ou, o comprimento é da ordem de 6y2. A figura abaixo apresentada, mostra o gráfico adimensional do comprimento do ressalto, em canais retangulares, em função do número de Froude na entrada do ressalto. Características do ressalto. Canais retangulares 116 UNIDADE 12 Escoamento permanente gradualmente variado O escoamento permanente é gradualmente variado quando os parâmetros hidráulicos variam de uma maneira progressiva ao longo da corrente. Assim, a construção de uma barragem em um canal de fraca declividade, por exemplo, interfere no tirante d‟água criando uma sobrelevação do nível da água que pode ser sentida a quilômetros da barragem, a montante da corrente. A nova linha d‟água originada a montante da barragem é chamada de Curva de Remanso. Sendo y a altura d‟água em uma determinadaseção no escoamento variado e yo a altura d‟água no escoamento uniforme, a diferença y - yo é chamada de remanso. y = altura d‟água no escoamento variado yo = altura d‟água no escoamento uniforme y - yo = remanso, (y - yo) pode ser positivo ou negativo Objetivo do estudo das curvas de remanso a) Formato das curvas de remanso b) Conhecer o perfil d‟água y = y(x) Equação diferencial do escoamento gradualmente variado A equação diferencial de tal movimento pode ser deduzida utilizando-se algumas hipóteses simplificadoras: a) a declividade pequena, tal que: y = d cos y = d 117 b) canal é prismático, isto é, qualquer seção é constante em forma e dimensão; c) a distribuição de velocidades em uma seção é fixa; = 1(1,01 - 1,12) d) a distribuição de pressão é hidrostática numa seção, isto é, linhas de corrente são paralelas À luz destas hipóteses e utilizando-se da figura abaixo, determina-se a equação, para uma seção qualquer, como se segue: Elementos do escoamento variado A energia disponível por unidade de peso do líquido, em uma seção S, em relação a um referencial arbitrário, vale: 118 Diferenciando a equação anterior com respeito a x, abscissa medida ao longo do canal e orientada no sentido do escoamento, tem-se: Observando que a derivada dH/dx é sempre negativa, devido à orientação de x, e que vale dH/dx=-If, em que If é a declividade da linha de energia, e que dz/dx, definida como o seno do ângulo que o fundo do canal faz com a horizontal, também é negativa e igual a dz/dx=-Io, em que Io é a declividade de fundo, a cima descrita torna-se: 119 Equação Diferencial do Movimento Permanente Gradualmente Variado Classificação dos Perfis If = J = Perda de carga = inclinação da linha piezométrica Utilizando uma das equações de resistência do escoamento permanente e uniforme: Por exemplo: Manning: 120 Para a discussão das propriedades e características das curvas de remanso é necessário analisar os sinais do numerador e denominador da equação abaixo e como estes sinais são afetados pela magnitude de y. Inicialmente, deve ser observado que o numerador da equação, Io - If, depende somente das grandezas relativas da altura d‟água y e da altura normal yo, e que o denominador 1-Fr 2 depende somente dos valores relativos da altura d‟água y e da altura crítica yc. A partir da equação de Chézy é fácil ver que If decresce à medida que o produto A 2 x Rh cresce e, como este produto aumenta com o aumento da altura d‟água, conclui-se que If deve decrescer com o aumento da profundidade. Desta forma, pode-se chegar facilmente às seguintes conclusões: Se y = yo Io = If (escoamento uniforme) Se y > yo Io > If Se y < yo Io < If Se y > yc Fr 2 < 1 Se y < yc Fr 2 > 1 Se y = yc Fr 2 = 1 (condição critica) Estas relações são fundamentais para estudar o sinal da derivada dy/dx e as propriedades das curvas de remanso. Formas de Curvas de Remanso a) Tendências assimptóticas a.1) y = yc Fr = 1 (1-Fr 2 ) = 0 dy/dx 121 a.2) y = yo If = Io dy/dx = 0 Cálculo de If : manning Dado y (da curva de remanso) „ Rh Tipos de curvas de remanso Curvas de Remanso são classificadas em função da declividade dos canais. Canais de declividade fraca Io < Ic , classe M Canais de declividade forte Io > Ic , classe S Canais de declividade crítica Io = Ic , classe C M “Milde slope” S “Steep slope” C “Critical slope” Io = 0 , canais horizontais, classe H “Horizontal slope” Io < 0 , canais em aclive, classe A “Adverse slope” Io > 0 122 Canais de fraca declividade Io < Ic , classe M yo > yc Exemplo: zona 1 y > yo > yc Io > If Fr 2 < 1 (subcrítico) dy/dx = (+)/(+) = + y cresce com x, M1 (montante da barragem) Exemplo : zona 2 y > yc Fr < 1 (1 - Fr 2 ) > 0 y < yo If > Io (Io - If) < 0 dy/dx = (-)/(+) = - y decresce com x M2 (montante queda brusca) Exemplo: zona 3 yo > yc > y Io < If Fr 2 > 1 (supercrítico) dy/dx = (-)/(-) = + y decresce com x M3 (jato sob uma adufa formação de ressalto) 123 Canais de forte declividade Exemplo: zona 1 y > yc > yo Io > If Fr 2 < 1 (subcrítico) dy/dx = (+)/(+) = + y cresce com x Curva S1 Exemplo: zona 2 yc > y > yo Io > If Fr 2 > 1 (supercrítico) dy/dx = (-)/(+) = - y decresce com x Curva S2 Exemplo: zona 3 yc > yo > y Io > If Fr 2 > 1 (supercrítico) dy/dx = (-)/(-) = + y cresce com x Curva S3 124 Canais com declividade crítica Exemplo: zona 1 y > yo = yc Io > If Fr 2 < 1 (subcrítico) dy/dx = (+)/(+) = + y cresce com x Curva C1 Exemplo: zona 3 yo = yc > y Io < If Fr 2 > 1 (subcrítico) dy/dx = (-)/(-) = + y cresce com x Curva C3 125 Canais horizontais Exemplo: zona 2 yo = y > yc e Fr 2 < 1 (subcrítico) dy/dx = (+)/(-) = - y decresce com x Curva H2 Exemplo: zona 3 yo = y > yc e Fr 2 > 1 (subcrítico) dy/dx = (-)/(-) = + y decresce com x Curva H3 126 Canais em aclive Exemplo: zona 2 yo = y > yc e Fr 2 < 1 (subcrítico) dy/dx = (-)/(+) = - y decresce com x Curva A2 Exemplo: zona 3 yo = y < yc e Fr 2 > 1 (subcrítico) dy/dx = (-)/(-) = + y cresce com x Curva A3 127 128 BIBLIOGRAFIA PORTO, R. M. – Hidráulica Básica. EESC. Projeto Reenge. 2 o Edição. 2001. HWANG, N. H. C. – Sistemas de Engenharia Hidráulica. Editora Prentice Hall do Brasil. 1984. ARCHIBALDO MACINTYRE – Instalações Hidráulicas AZEVEDO NETO – Manual de Hidráulica
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