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1 CAP IX – VELOCIDADES EM TUBULAÇÕES DE CONCRETO • Velocidades Máximas As velocidades máximas permitidas nos coletores de águas pluviais, tem sido de 5,0 m/s, com algumas exceções, que admitem em casos especiais velocidades de 5,5 m/s, sem proteção especial das paredes do condutos. O fator limitante da velocidade máxima, é a prevenção da erosão por abrasão das paredes internas do tubo. Este limite de 5,0 m/s é um valor estabelecido pela prática, não tendo sido verificado experimentalmente ( LYSNE ). Existem duas razões, uma hidráulica e outra econômica, que incentivam a investigação da erosão nos coletores de concreto. Do ponto de vista hidráulico deve ser questionado o fato de que o aumento da turbulência com aumento da velocidade, tende a reduzir o contato entre a superfície do tubo e o material erosível Do ponto de vista econômico, o aumento do limite da velocidade máxima conduz à redução do investimento, com redução do diâmetro das coletores e, conseqüentemente redução das dimensões dos órgãos acessórios : poços de visita, caixas de ligação, poços de queda. Conduz também à redução das dimensões das estruturas das obras de extremidades, como: emissários, dissipadores de energia, com possibilidades de reduzir o número de poços de visita e/ou de queda. Ao serem reduzidos os diâmetros dos coletores e as dimensões das estruturas, serão reduzidos os volumes de escavação e de reposição do material, e os custos de mão de obra da instalação do sistema de drenagem . As obras de extremidade em particular, serão as mais beneficiadas com o aumento do limite da velocidade máxima, visto que estas obras são assentadas, na maioria dos casos, em terrenos com grande declividades. Nestes locais o assentamento dos emissários, com declividade que conduza a velocidade limite de 5,0 m/s, traz como conseqüência a instalação de poços de queda para evitar o afloramento do conduto . Ao se aumentar a velocidade limite de 5 m/s para 7 m/s, em um mesmo conduto , a declividade de assentamento do coletor, para o mesmo diâmetro, será aumentada 1,96 vezes. A TABELA 27, apresenta para coletores com 0,60, 0,80, 1,00 e 1,20, de diâmetro e para velocidades compreendas entre 5,0 e 7,0 m/s, as respectivas vazões e declividades . • Velocidades mínimas A velocidade mínima nos coletores, é estabelecida devido o fenômeno da sedimentação que produz o assoreamento. Segundo STEEL, as velocidades em galerias de águas pluviais são maiores que as dos esgotos sanitários, pela existência de areia grossa e cascalho que serão transportados pela água em seu interior . As velocidade mínima admissível é de 0,75 m/s , sendo desejável 0,90 m/s 2 Diâmetro do coletor (m) velocidade (m/s) 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 DECLIVIDADE E VAZÕES 0,6 7,06 8,54 10,16 11,93 13,84 DECLIVIDADE (%) 1,41 1,55 1,63 1,84 1,98 VAZÃO (m3/s) 0,8 4,80 5,81 6,92 8,12 9,41 DECLIVIDADE (%) 2,51 2,76 3,01 3,27 3,52 VAZÃO (m3/s) 1,00 3,57 4,32 5,14 6,08 7,00 DECLIVIDADE (%) 3,93 4,32 4,71 5,10 5,50 VAZÃO (m3/s) TABELA 27- Declividade e vazão nas galerias a plena seção em função da variação do limite máximo de velocidade Para se evitar o assoreamento do material transportado pelas águas , o coletor é assentado com declividade compatível com o diâmetro que conduz, com escoamento a seção plena, à velocidade mínima . Porém, para os períodos de pequena intensidade de precipitação, portanto com pequena contribuição aos coletores, o escoamento não atingirá seção plena, não atingindo assim velocidade mínima fixada para o coletor. Ao estabelecer a declividade mínima para um coletor em função da velocidade mínima, é inserido no contexto o fator econômico. O custo do sistema de coletores será afetado pelo maior afastamento da superfície (profundidade), função da declividade e extensão do coletor. É importante observar que o tipo de sedimentação a ser estudado é o relativo a suspensões diluídas de partículas discretas e o efeito a ser observado será o assoreamento, que em função da granulometria e da coesão do material poderá formar uma crosta no fundo do coletor, que dificilmente será carreada, mesmo em épocas de grandes contribuições, com o conseqüente aumento da velocidade de escoamento no coletor . Dados práticos das condições de coletores existentes no estado do Paraná Diversos coletores implantados na Região Noroeste do Estado do Paraná, funcionam sob condições fora dos limites estabelecidos pelas normas e critérios anteriormente expostos . Em pesquisa, desenvolvida pelo Instituto de Saneamento Ambiental - ISAM da Universidade Católica do Paraná, realizada em Convênio com a Superintendência do Controle da Erosão o Paraná - SUCEPAR, foram localizados diversos coletores, sob está condições, pertencente ao sistema de drenagem pluvial urbana, das cidades de Cianorte, Umuarama, São Tomé, Santo Antônio do Caiuá, Terra Boa, Paranavaí e Nova Esperança . 3 Foram observados alguns coletores, com diversas condições de funcionamento, conforme resumido na TABELA 28 . As medidas dos desgastes das paredes internas destes condutores foram lidas nas extremidades e centro dos trechos de galeria localizados entre dois poços de visitas, denominados montante, intermediário e jusante. A tabela 29 apresenta o resumo das medidas de erosão nos coletores . O resultado destas medições e das observações de campo, confirmaram a ocorrência da erosão por abrasão nos tubos de concreto, que conduzem água saturadas cm material sólido . Observou-se ainda, que além da erosão por abrasão, ocorre a erosão por ataque químico, função da qualidade das águas residuárias lançadas indevidamente nas galerias de águas pluviais . Observando-se os resultados da pesquisa em campo, destaca-se as condições sob as quais funcionam os coletores da cidade de Cianorte, onde os coletores com diâmetro de 1,00 m, assentados com declividade que variam entre 7,0 e 9,0% com velocidades de escoamento entre 7,0 e 8,0 m/s, estão funcionando a mais de 4 anos, apresentando resultado de erosão média de aproximadamente 1,0 cm, demostrando ser praticamente insignificante . Conclui a pesquisa, que mesmo sendo constatada a erosão nos condutores, o limite de velocidade máxima poderia se de aproximadamente 7,0 m/s. • Velocidades mínimas Foi constatado, que além, da declividade mínima (velocidade mínima ) nos coletores, outros fatores importantes contribuem para a ocorrência do assoreamento, tais como : • Condições de pavimentação da ruas . As ruas não pavimentadas sofrem a 1a fase de erosão - desagregação - e todo o material erodido é, em segunda fase, transportado para os coletores . • Grade das bocas de lobo . Mesmo em ruas pavimentadas, as bocas de lobo captam grande quantidade de areia, que se acumula nas sarjetas, e em virtude de não haver um serviço adequado de limpeza de ruas e logradouros públicos, sendo conduzidas para a rede coletora. A grade evita também que as bocas de lobo sirvam de local de despejo, fato este que ocorre principalmente na periferia das cidades. • .Situação de início de funcionamento dos coletores . Após o término das obras de construção dos coletores, quando não é feita simultaneamente a pavimentação das ruas, o solo está solto na superfície da rua, principalmente no trecho escavado e compactado, onde foi assentado o coletor. Na primeira chuva, o solo é carregado pelas águas e conduzido para dentro dos coletores. Em alguns casos, logo após a implantação, com primeira chuva, grandes extensões de coletores tem que ser refeitas devido ao assoreamento. 4 • Materiais grosseiros lançados nos coletores . Os materiais grosseiros, tais como o lixo, quando lançados na rede coletora podem ficar retidos devido ao diâmetro do coletor. Qualquer material que seja retidodentro do tubo, forma um represamento, que nos finais de chuvas, quando a lâmina de água é pequena nos tubos, favorece a sedimentação e consequentemente assoreamento dos mesmos. • Condições hidráulicas dos poços de visita Os Poços de visita tem a função primordial de permitir o acesso as canalizações para efeito de limpeza e inspeção, de modo que se possam mantê-las em bom estado de funcionamento. Sua localização é sugerida nos pontos de mudanças de direção, cruzamento de ruas (reunião de vários coletores), mudança de declividade e mudança de diâmetro. O espaçamento máximo recomendado é de 120 m . Quando, a diferença de nível entre o tubo afluente e o efluente for superior a 0,70 m, o poço de visita é denominado poço de queda . • A carga hidráulica é necessária para que se estabeleça a velocidade nos coletores, devido à perda de carga nos poços de visita. A elevação do nível de água nos poços de visita altera as condições de escoamento nos coletores que chegam a esses poços em cota inferior ao nível de água, funcionando afogados. Por este fato, procurando evitar ao máximo o problema do assoreamento nos coletores de pequeno diâmetro : 0,40 m e 0,60 m, principalmente nos trechos iniciais das redes coletoras, tem sido adotado sempre que possível, assentar o coletor com declividade mínima de 2,00 m / 100m. As informações obtidas em campo variam de técnico para técnico, porém, todos são unanimes em sugerir que a declividade mínimas dos coletores de 0,40m de diâmetro seja de 1,00 m / 100 m, de preferência de 1,50 m / 100 m. A recuperação dos coletores assoreados, fica prejudicada devido à extensão do trecho. Em redes longas, devido ao pequeno diâmetro, que impede o acesso, não se pode limpar os tubos. Como sugestão, o técnicos indicam uma extensão máxima de 50,00 m para trechos de rede coletora com diâmetros de 0,40 m e 0,60 m . • Condições de carga nos coletores A velocidade de escoamento cresce com a altura da lâmina de água. Para um mesmo conduto, mantida a declividade constante, a altura da lâmina de água cresce com o aumento da vazão . Assim, se admitirmos que os condutos da rede coletora sejam submetidos ao escoamento a seção plena, estamos admitindo que a velocidade do escoamento também seja máxima . As observações das condições dos coletores assoreados, diâmetro das partículas do solo encontrado nos coletores, diâmetro e declividade dos coletores permitiu concluir que a velocidade e a declividade mínimas devem ser adotadas em função do tipo de solo da região, sendo sugerido os valores indicados na tabela 30. 5 TABELA 30 - Velocidades e declividades mínimas recomendadas para tubos de concreto em função do diâmetro do tubo e tipo de solo da região (Fonte: LHISAMA) SOLO DA REGIÃO DIÂMETRO DO TUBO (m) VELOCIDADE MÍNIMA AUTO-LIMPEZA (m/s) DECLIVIDADE MÍNIMA (m/100m) Solo arenoso com 0,40 2,03 1,99 granulometria de até 1,00 mm 0,60 2,03 1,16 solo argiloso com pequena 0,40 0,75 0,28 % de areia 0,60 0,75 0,16 O projeto do emissário apresentado a seguir foi extraído do Projeto de Obras de Extremidade, da cidade de Astorga - PR , cedido pela Superintendência do Controle da Erosão no Paraná - SUCEPAR . Dados Gerais • Bacia III - Sub-bacia C • ΣCA (Coeficiente de impermeabilização * área contribuinte) = 7,05 ha • Tempo de concentração = 11,95 minutos • Tempo de recorrência = 10 anos • Intensidade de precipitação = 346,01 l/s.ha • Vazão = 2,441 m3 /s • Córrego receptor = Taquari (Talvegue número 3) Característica do emissário Tubulação de concreto armado, diâmetro de 0,80 m , extensão de 154 m . Dimensionamento. Ver planilia de cálculo (anexa). Projeto . Na época da elaboração deste projeto, a velocidade máxima admitida foi 5 m/s. Este fato levou a concepção do projeto, utilizando 4 poços de queda, conforme figura 72 . Nova concepção . Utilizando o novo limite de velocidade máxima de 7,0 m/s, consegue-se reduzir para apenas 2 poços de queda, com dimensionamento conforme segue : .Diâmetro do tubo = 0,80 m .Declividade = 9,41% (ver tabela 27) .Capacidade máxima = 3,52 m3/s > 2,441 m3/s Deve-se ressaltado ainda , que a profundidade dos poços também diminui , de 5,0 m para 3,10 e 4,84 m, conforme Figura 73. 7 TABELA 28 - Condições de Carga nos coletores: Número de horas de carga admitindo funcionamento a ½ seção para chuvas com altura de precipitação acima de 50 mm/dia , desde o início de operação LOCAL COLETOR Nº TRECHO DIÂMETRO IDADE CONDIÇÕES DE CARGA NO COLETOR ( nº) DO Área da ocupação R.Pavimentadas Red. coletora Período em Carga COLETOR (ANOS) Bacia (há) (%) (%) Existentes (%) Horas Equiv. dias 1 1,00 14 100 30 50 2 1,00 14 100 30 50 1 3 1,00 14 21,11 100 30 50 78,4 3 4 1,00 14 100 30 50 5 1,00 7 100 30 50 39,2 2 CIANORTE 1 1,00 3 100 70 80 2 2 1,00 3 100 70 80 3 1,00 3 100 70 80 16,8 1 4 1,00 3 41,70 100 70 80 1 0,80 14 100 70 80 3 2 0,80 14 100 70 80 3 0,80 14 100 70 80 78,4 3 4 0,80 14 100 70 80 3 1 1,00 5 31,74 60 _ 100 2 1,00 5 60 _ 100 UMUARAMA 7 1 1,00 5 26,88 100 90 100 28 1 2 1,00 5 100 90 100 10 1 1,00 5 51,05 50 10 80 2 1,00 5 50 10 80 TERRA 1 0,60 6 40 _ _ BOA ÚNICO 2 0,60 6 28,26 40 _ _ 36 2 3 0,60 6 40 _ _ 1 1,00 1 71,12 60 100 100 PARANAVAÍ ÚNICO 2 1,00 1 60 100 100 4 1 ÚNICO 1,00 16 37,81 100 100 100 80 3 NOVA 2 ÚNICO 0,80 14 18,17 60 10 60 70 3 ESPERANÇA 3 ÚNICO 1,00 20 45,04 100 100 100 100 4 4 ÚNICO 1,00 15 44,50 50 10 30 75 3 OBS : Para os coletores de Cianorte , Paranavaí e Nova Esperança , foi admitida a precipitação média dos períodos conhecidos , para os anos sem dados pluviométricos. Fonte: ISAM 8 TABELA 29 - Resumo e Média das Diferenças (erosão) das medidas dos diâmetros dos coletores pesquisados . CIDADE COLETOR Nº TRECHO DECLIVI- VELOCIDADE MÉDIA DAS DIFERENÇAS (EROSÃO) MEDIDAS (cm) ( nº) DADE ESC. A 1/2 IDADE Montante jusante média (m/100m) SEÇÃO (m/s) (ANOS) (erosão) 1 2,97 4,56 14 NÃO FOI MEDIDO 2 6,47 6,78 14 0,92 0,66 0,07 0,55 1 3 7,03 7,01 14 1 1 4 7,45 7,22 14 0,54 0,04 0,29 5 9,29 8,06 7 0,42 0,62 1,16 0,73 CIANORTE 1 4,67 5,72 3 Sem erosão 2 2 7,02 7,01 3 Sem erosão 3 6,35 6,67 3 Sem erosão 4 7,01 7 3 Sem erosão 1 5,01 5,1 14 0,40 0,69 0,54 3 2 5,87 5,52 14 0,26 1,15 0,7 3 5,33 5,26 14 0,33 0,33 0,33 4 7,33 6,17 14 0,15 0,88 0,51 3 1 6,80 6,9 5 0,41 0,56 0,78 0,58 2 7,55 7,27 5 0,56 0,52 1,85 0,97 UMUARAMA 7 1 14,92 10,22 5 2 9,35 8,09 5 1,44 1,44 10 1 4,58 5,66 5 2 10,60 8,61 5 2,52 1,39 0,32 1,41 TERRA 1 13,63 6,94 6 Sem erosão BOA ÚNICO 2 12,30 6,6 6 Sem erosão 3 20,65 8,55 6 Sem erosão 1 10,45 8,55 1 Sem erosão PARANAVÍ ÚNICO 2 23,44 12,81 1 Sem erosão 1 ÚNICO 10,51 8,58 16 2,28 1,96 1,15 1,79 NOVA 2 ÚNICO 9,62 7,07 14 ESPERANÇA 3 ÚNICO 4,98 8 20 0,64 0,56 0,48 0,56 4 ÚNICO 6,29 6,63 15 0,59 0,5 0,57 0,55 OBS:seção plena - orifício Fonte : ISAM 9 PLANÍLHA DE CÁLCULO EMISSÁRIO 8 CÁLCULO DO DEFLÚVIO TRECHO COTAS TOPOGRÁFICAS EXTENSÃO DECLIVIDADE do ∑ C*A TEMPO DE ESCOAMENTO INTENSIDADE DEFLÚVIO MONTANTE JUSANTE (m) TERRENO (m/m) ha MONTANTE NO TRECHO l/s. ha m3/s 8/29 8/30 645,305 639,450 54,00 0,1084 7,0554 11,95 0,18 346,010 2,441 8/30 8/31 639,450 635,200 27,50 0,1545 7,0554 12,13 0,09 343,950 2,427 8/31 8/32 635,200 630,630 30,50 0,1492 7,0554 12,22 0,10 342,920 2,419 8/32 Diss. 630,650 625,700 42,00 0,1179 7,0554 12,32 0,14 341,780 2,411 DIMENSIONAMENTO DA TUBULAÇÃO TRECHO DIÂMETRO DECLIVIDADE VELOCIDADE VAZÃO DESNÍVEL COTA SOLEIRA (m) PROFUNDIDADE SOLEIRA cm (m/m) m/s (seção plena) (m3/s) ∆ h (m) MONT. JUSANTE MONT. JUSANTE 8/29 8/30 80 0,0480 4,995 2,51 2,59 640,142 637,550 5,163 1,900 8/30 8/31 80 0,0481 4,995 2,51 1,32 634,450633,130 5,000 2,070 8/31 8/32 80 0,0480 4,995 2,51 1,45 630,200 628,750 5,000 1,900 8/32 Diss. 80 0,0480 4,995 2,51 2,01 625,716 623,700 4,934 2,000 11 12 13 14 Poço de visita com dois degraus