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Autor: Profa. Lílian Pessoa Colaboradores: Profa. Silmara Maria Machado Prof. Nonato Assis de Miranda Metodologia e Prática do Ensino da Língua Portuguesa Professora conteudista: Lílian Pessoa Doutoranda em educação, com foco em psicologia da educação pela PUC-SP, onde também obteve o título de mestre na mesma e enfoque, em 2010. Cursou graduação em pedagogia pela Universidade São Judas Tadeu, a qual concluiu em 2000. Atualmente, é professora efetiva da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, atuando como professora coordenadora da oficina pedagógica – PCOP, na diretoria de ensino norte 1, e como professora universitária do curso de pedagogia na Universidade Paulista (UNIP). © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) P475 Pessoa, Lílian Metodologia e Prática do Ensino da Língua Portuguesa . / Lílian Pessoa. - São Paulo: Editora Sol, 2012 88 p., il. 1.Ensino 2.Língua Portuguesa 3. Metodologia I.Título CDU 801 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Profa. Melissa Larrabure Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dr. Cid Santos Gesteira (UFBA) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Virgínia M. Bilatto Sumário Metodologia e Prática do Ensino da Língua Portuguesa APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 ASPECTOS HISTÓRICOS EM RELAÇÃO AO ENSINO ...............................................................................9 2 O ENSINO QUE RECEBEMOS ....................................................................................................................... 12 3 O ENSINO QUE DESEJAMOS ....................................................................................................................... 14 4 O MOMENTO ATUAL: AVANÇOS E EQUÍVOCOS DO PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO ...... 15 Unidade II 5 A LEITURA NO COTIDIANO ESCOLAR DO ALUNO ............................................................................... 22 5.1 O propósito da leitura ......................................................................................................................... 29 5.2 O acesso dos alunos ao acervo literário ...................................................................................... 30 6 A ATUAÇÃO DO PROFESSOR NO DESENVOLVIMENTO DO ALUNO .............................................. 32 6.1 A mobilização dos conhecimentos prévios ................................................................................ 33 6.2 A apresentação e problematização da atividade .................................................................... 34 6.3 O acompanhamento e a intervenção .......................................................................................... 37 6.4 A discussão coletiva e legitimação das aprendizagens ........................................................ 41 Unidade III 7 UTILIZAÇÃO DE TÉCNICAS E ESTRATÉGIAS NA PRÁTICA DE LEITURA ........................................ 54 7.1 Previsão/antecipação .......................................................................................................................... 56 7.2 Inferência ................................................................................................................................................. 60 7.3 Verificação ............................................................................................................................................... 62 8 DA FALA À ESCRITA: UM CAMINHO PERCORRIDO EM PARCERIA .............................................. 64 8.1 A necessidade de refletir sobre o sistema de escrita ............................................................. 69 8.2 Produção coletiva de textos ............................................................................................................ 73 8.3 Revisão coletiva de textos ................................................................................................................ 75 7 APRESENTAÇÃO Prezado aluno, Nesta disciplina, discutiremos aspectos fundamentais do ensino da língua portuguesa nos anos iniciais do Ensino Fundamental, mais especificamente no que se refere ao ensino da leitura e da escrita para os alunos que já compreenderam o funcionamento do nosso sistema de escrita, ou seja, aqueles que, segundo os estudos realizados por Emília Ferreiro, encontram-se na hipótese alfabética. Nosso objetivo, portanto, é fornecer fundamentos e reflexões que possam contribuir para que o aluno dos anos iniciais do Ensino Fundamental desenvolva a competência leitora e escritora. Para isso, trilharemos um percurso que fará um resgate histórico de algumas marcas significativas no ensino da leitura e da escrita, discutiremos o papel do professor nesse processo e buscaremos refletir criticamente sobre o desenvolvimento do que estamos chamando de competência leitora e escritora. Os objetivos propostos por essa disciplina exercem um papel muito importante na formação do professor dos anos iniciais do Ensino Fundamental, na medida em que lhe possibilita compreender os motivos que originaram esta ou aquela prática de ensino, bem como suas contribuições para a formação do aluno. Tal conhecimento serve de suporte ao trabalho em sala de aula, pois será a partir dele que as decisões sobre práticas leitoras e escritoras serão tomadas. Não esperamos que ao final desse estudo você esteja “pronto” para ensinar a ler e a escrever (não alcançamos essa “prontidão” que buscamos, mas os estudos contínuos nos tornam mais próximos dela). Queremos, isto sim, que você tenha mobilizado seus saberes ao ponto de compreender que é preciso um esforço contínuo para reelaborar a prática pedagógica. Bons estudos! INTRODUÇÃO Costumamos olhar com admiração para aqueles que, durante uma conversa, discussão, ou palestra, comentam, com pertinência, sobre os livros que leu. Muitas vezes, tais comentários despertam o interesse pela leitura das obras citadas. Entretanto, quem de nós já não se dispôs a ler um livro indicado por alguém que conhece e não passou da leitura das primeiras páginas? Obras consideradas clássicas pela crítica literária, best-sellers, campeões em vendas, nenhuma dessas condições é suficiente para garantir que possamos prosseguir nossa leitura até o final. Se o livro tratar de um assunto teórico, o problema se torna ainda maior, pois, diante de tal leitura encontramos: [...] dificuldades logo julgadas insuperáveis e que reforçam uma atitude de desânimo e de desencanto, geralmente acompanhada de um juízo de valor depreciativo em relação ao pensamento teórico. (SEVERINO, 2002, p.47). Esse possível desinteresse pela leitura, que nutre, em nós, uma sensação de incompetência, nos afasta cada vez mais das boas práticas de leitura. Mas por que isso ocorre? 8 Não podemos negar as nossas preferênciasem relação à leitura. Há quem goste de poesia, quem prefira as crônicas, quem aprecie de uma boa obra de ficção científica, entre tantas outras possibilidades. Sendo assim, é natural que não nos envolvamos com todos os tipos de leitura. Contudo, de um modo geral, a dificuldade que temos para ler determinados textos centra-se num aspecto fundamental: aprendemos um padrão de leitura e queremos que os textos escritos em diferentes gêneros possam ser compreendidos da mesma forma, o que não acontece. Não lemos um texto instrucional sobre como explorar as ferramentas de um aparelho celular da mesma forma que lemos um livro de contos; nossa postura não é a mesma diante de um romance ou de um texto teórico. Portanto, há que se considerar as especificidades do texto, para que esse possa ser desvendado. E isso precisa ser ensinado, sobretudo na escola. Decorre dessa dificuldade de leitura a pouca habilidade na produção de textos. Preferimos, por exemplo, as avaliações cujas questões são formuladas objetivamente, sob a alegação de que “sabemos explicar oralmente, mas nem sempre conseguimos ‘passar’ as nossas ideias para o papel”. Ler e escrever são processos que apresentam aspectos diferentes entre si, mas que estão de tal forma imbricados que não podem ser dissociados. Por esse motivo, quando nos propomos a falar sobre a leitura, não podemos nos eximir da escrita. Muitos são os obstáculos enfrentados pelo leitor que galga seus primeiros passos nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Sabe-se, também, das limitações impostas pela falta de domínio da leitura no seu cotidiano quando adulto. Além disso, pesquisas e estudos realizados por órgãos públicos e instituições privadas revelam lacunas e deficiências na formação oferecida nos anos escolares iniciais, tornando clara a necessidade de um debate sobre as práticas de ensino, as metodologias, o papel do professor e os processos de ensino e aprendizagem. No que se refere ao ensino da leitura e da escrita, muito do que até aqui foi feito pode ser mantido. Há práticas, porém, que precisam ser revistas com demasiada urgência. Contudo, não há um “novo manual” a ser seguido, um “passo a passo” para nortear a prática educativa do professor; toda a mudança necessária só se faz a partir de discussão e reflexão, propósito desta disciplina. 9 Re vi sã o: V irg ín ia – D ia gr am aç ão : M ár ci o – 05 /0 7/ 11 METODOLOGIA E PRÁTICA DO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA Unidade I Nesta unidade, faremos uma breve reflexão sobre alguns fatores que tiveram impacto na educação. Conhecê-los e discuti-los amplia a visão que temos sobre as práticas pedagógicas (atuais e remotas), além de contribuir para que possamos buscar a formulação de uma atuação docente que potencialize a aprendizagem dos alunos. 1 ASPECTOS HISTÓRICOS EM RELAÇÃO AO ENSINO Há, nos dias atuais, muita gente afirmando que é necessário adotar novas formas para se ensinar na escola e, como o efeito de uma grande onda, esse discurso vai tomando força e arrastando todos por onde passa. Os defensores dessa ideia são contra o ensino mecanizado, a repetição de modelos, a cópia, a memorização etc. E é um discurso atual, sedutor, “moderno”. Para fazer parte dessa equipe de visão mais “avançada”, algumas palavras são proibidas, são quase ofensivas. Entre elas, podemos citar: cópia, treino e modelo. Entretanto, a maioria daqueles que são adeptos desse modo pensar não sobrevive ao primeiro questionamento ou argumentação contrária. Por que isso acontece? A resposta é simples: porque repetem um discurso que, por qualquer razão, acharam conveniente, mas não conhecem, de fato, a extensão das suas palavras. Sequer conseguem perceber que o ato de repetir o que falam os outros sobre o ensino, sem conhecer o assunto com um pouco mais de profundidade (ou seja, realizar uma repetição ao estilo “papagaio”, que não sabe o que diz), é justamente aquilo que criticam: a reprodução sem reflexão. Neste momento, não queremos concordar ou discordar do que está sendo dito, mas entender o que está acontecendo na sociedade em geral e, de modo mais específico, na educação, para que essa bandeira da necessidade de modificar o modo de ensinar seja levantada. As perguntas que nos movem são: por que motivo é preciso modificar o modo de ensinar? Por que a educação, que a tantos formou no passado, não mais é adequada para os dias atuais? É, de fato, necessário modificar todo o ensino? O que buscamos e o que queremos, especialmente em relação aos anos iniciais do Ensino Fundamental? Para discutir sobre novas metodologias, adequações da didática, concepções de ensino etc., é preciso conhecer um pouco mais sobre alguns acontecimentos históricos que contribuíram para que, num determinado período, os fatos fossem como foram. Se não nos dedicarmos a essa compreensão, mais uma vez ficamos à mercê da opinião de outras pessoas e não nos resta nada além de “papagaiar”, de repetir o que não é compreendido. Sendo assim, agora faço um convite a você, caro(a) aluno(a), para juntos realizarmos um resgate de fatos e 10 Unidade I Re vi sã o: V irg ín ia – D ia gr am aç ão : M ár ci o – 05 /0 7/ 11 acontecimentos que possam nos ajudar a entender o momento histórico atual e a sua exigência de mudanças no modo de ensinar. Não pense que faremos uma reconstituição de toda a história da educação. Esse não é o nosso propósito aqui. O que queremos, isto sim, é realizar um recorte cuidadoso de alguns fatos que impactaram a sociedade, de tal modo que é possível perceber os seus efeitos na educação (o que é uma tarefa delicada por causa do risco de haver distorções no momento em que um aspecto é retirado do sistema de relações de sua época). Vamos a eles! Durante muito tempo, a escola nos inseriu numa prática de leitura e escrita mecanizada. Isto quer dizer que as primeiras leituras que fazíamos, com a orientação dos professores, não exigiam uma reflexão sobre o que estava escrito (tanto do ponto de vista dos aspectos ortográficos e gramaticais, como no que se refere ao conteúdo do texto lido) e, quando isso ocorria, geralmente era sob a forma de um questionário que precisávamos responder a partir da localização das informações no texto. Nessa perspectiva, nos era apresentada apenas uma possibilidade de resposta correta e, de um modo geral, esta não era questionada ou discutida. Nas provas que realizávamos, era preciso reproduzir as respostas tal como as tínhamos estudado nas aulas, motivo pelo qual a memorização era tão valorizada. Com a escrita nada era diferente. A associação de palavras simples, a utilização de poucos recursos (como os pequenos textos que produzíamos usando basicamente o parágrafo), a letra maiúscula (para os nomes próprios e início das frases) e o ponto final (sem os pontos de interrogação, exclamação, nem mesmo as vírgulas ou outros recursos linguísticos), em muitos casos, limitavam a nossa criatividade e não ofereciam oportunidade para que pudéssemos expressar o que conhecíamos acerca do assunto em questão. Apesar disso, se não houvesse erros ortográficos e gramaticais nas nossas produções textuais, conseguíamos a nota máxima. Por outro lado, quem decidisse se aventurar na escrita de algo que não havia sido ensinado em sala de aula e cometesse erros de qualquer natureza tinha seu comportamento autônomo desencorajado e recebia modelos aos quais precisava se adaptar. Qual era a concepção de ensino vigente na época? Qual era o panorama social que tornava válidos procedimentos de ensino como esses? Antes de tudo, é preciso destacar que o ensino mecanizado da leitura e da escrita (realizado com ênfase na memorização e na repetição de modelos) não ocorria dessa forma por falta de competência do professor. As práticas que atualmente são chamadas de tradicionais eram, em sua época, compreendidas como a melhor forma de ensinar a ler e a escrever. Na verdade, dois aspectos precisam ser compreendidos. O primeiro refere-se aos interesses válidosnaquele momento histórico, ou seja: para um regime de governo autoritário, como foi o caso da ditadura militar no Brasil, no período de 1964 a 1985, bastava que as pessoas compreendessem o que era esperado delas e soubessem cumprir ordens. Questionamentos e reflexões eram, na maioria das vezes, entendidos como expressões de rebeldia. Cada um deveria conhecer e acatar passivamente o seu papel e o seu lugar na sociedade, conforme nos conta a autora Maria Lúcia 11 Re vi sã o: V irg ín ia – D ia gr am aç ão : M ár ci o – 05 /0 7/ 11 METODOLOGIA E PRÁTICA DO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA A. Aranha (2006, p.314), quando afirma: “Foi proibida qualquer tentativa de ação política: ‘estudante é para estudar; trabalhador para trabalhar.’” Assim, para conter aqueles que pensavam de modo diferente daquele ditado pelo governo, foram instituídos diversos mecanismos de controle e repressão, como fiscalização, censura, prisão, tortura, exílio etc. O segundo aspecto revela que muitas pesquisas sobre “como o aluno aprende” e, consequentemente, “o que favorece essa aprendizagem” não haviam sido difundidas no meio docente; inclusive, boa parte delas ainda estava acontecendo. Mesmo aquelas que já tiveram obtido resultados que poderiam contribuir para uma prática pedagógica mais eficiente ainda não haviam sido amplamente divulgadas e discutidas, por motivos diversos. Assim, o tipo de ensino que recebíamos era, em sua época, o que acreditávamos ser a melhor forma de ensinar. Lembrete Lembre-se de que a velocidade de circulação das informações, atualmente, é muito diferente de outras épocas, pois temos eficientes veículos de comunicação a nosso favor, como é o caso da internet. Porém, mesmo com todas essas inadequações do ensino da leitura e da escrita, muitos de nós aprendemos desse modo, o que justifica o discurso daqueles que são contra mudanças na forma de ensinar. Há também outro fator que precisa ser considerado: se o ensino tradicional foi eficiente numa determinada época, será preciso uma modificação radical? Por outro lado, há que se considerar o fato de que a sociedade não se mantém estática, parada no tempo, mas tem um caráter dinâmico e está sempre em transformação. No que se refere à forma pela qual aprendemos, sabemos que esta não forneceu, à maioria de nós, as condições necessárias para atuar criticamente, o que resulta numa necessidade de esforço contínuo individual para alcançar tal intento. O ensino que recebemos servia a quais interesses? O que pretendemos, quando propomos o ensino da leitura e da escrita de modo reflexivo? A que interesses servimos? O processo educativo não está isolado de outras instâncias sociais. Ele apresenta estreita relação com as e perspectivas da sociedade em qualquer parte do mundo. Tais perspectivas podem estar essencialmente a favor daqueles que estão no poder ou podem refletir, fundamentalmente, as transformações sociais necessárias; normalmente, esses dois aspectos estão em jogo, visto que têm, entre si, implicações mútuas. Mas, o que tudo isso tem a ver com o ensino da leitura e da escrita nos anos iniciais do Ensino Fundamental? Num país de regime ditatorial (autoritário), por exemplo, pode interessar àqueles que detêm o poder que o ensino da leitura e da escrita permaneça na esfera do “decifrar as palavras”. Não haverá investimento para que se compreenda esse processo como uma prática que permite pensar sobre a mensagem que está sendo comunicada para, posteriormente, emitir posicionamentos pessoais, como concordar, discordar, admirar, criticar, estabelecer comparações, reelaborar conclusões, indicar a leitura 12 Unidade I Re vi sã o: V irg ín ia – D ia gr am aç ão : M ár ci o – 05 /0 7/ 11 etc. Quanto menos acesso à informação e menor poder de argumentação tiver a população, melhor será para que tudo permaneça como está. Refletir sobre esses aspectos de caráter histórico-político é essencial para que saibamos a importância de romper com modelos que já não contribuem para a formação de uma sociedade melhor. É preciso, também, conhecer o papel que a leitura e a escrita desempenham nesse processo, pois, constituem-se vias de acesso à informação, a partir das quais podemos interpretar o que ocorre na sociedade, tomar decisões, fazer exigências, enfim, sair da passividade para a atividade. Sabemos que aqueles que não têm acesso à informação por meio da leitura e da escrita terão diminuídas as suas possibilidades de aproximação com a realidade dos fatos, pois dependerão do relato da opinião e da interpretação de outros, para que possam posicionar-se diante de algo. Entretanto, o depoimento desses outros revela suas “impressões pessoais” a respeito do que está sendo tratado (não há como ser diferente) e será muito mais difícil, para aqueles que não dominam o sistema de escrita, argumentar a respeito do que diz aquele que buscou a informação na fonte escrita (jornal, revista, livro, placa, folheto, internet etc.). Isso não significa dizer que nós, leitores e escritores, sempre acessamos informações que nos revelam a “verdade” dos fatos; até que chegue a nós, a informação já passou por uma série de filtros e interpretações pessoais e, na maioria das vezes, sofreu distorções. Porém, para nós que lemos e escrevemos, há a possibilidade da investigação na fonte, da consulta de documentos diversos, o que diminui a distância entre o que acreditamos ser real e o que querem que acreditemos que seja real. Desse modo, a leitura e a escrita precisam ser compreendidas também na perspectiva de instrumentos que viabilizam uma participação social mais eficiente, contibuindo com transformações necessárias para a construção da sociedade, com condições favoráveis de desenvolvimento para todos. 2 O ENSINO QUE RECEBEMOS É possível que, ao resgatar as lembranças do seu processo de aprendizagem da leitura e da escrita na escola, você tenha se deparado com situações parecidas com estas: • Momentos de leitura silenciosa. • Solicitação para fazer um desenho, a partir da história que foi lida (ou para colorir o desenho que já estava pronto). • Atividades de interpretação em que tínhamos que, como tarefa, identificar e copiar as respostas, tal como eram apresentadas no texto. • Identificação das palavras desconhecidas e a busca do significado correspondente no dicionário, para formar o glossário do texto. • Reescrita de frases (que faziam parte de um texto ou eram criadas para ensinar um conteúdo), para que a fizéssemos conforme o modelo que nos era dado (passá-las para o plural, para o masculino, mudar os verbos para o passado etc.). 13 Re vi sã o: V irg ín ia – D ia gr am aç ão : M ár ci o – 05 /0 7/ 11 METODOLOGIA E PRÁTICA DO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA É preciso compreender que todas essas atividades podem contribuir para a aprendizagem da leitura e da escrita. Contudo, é necessario saber que, para o desenvolvimento da competência leitora e escritora (entendida como a mobilização dos saberes construídos ao longo do desenvolvimento, para a solução de um problema numa situação prática), será preciso ir além de atividades que não oferecem a reflexão sobre o nosso sistema de escrita, nem sobre a mensagem que está sendo lida. Atividades que solicitam do aluno uma resposta com base na memorização ou na simples identificação de um trecho do texto não favorecem a utilização desse conhecimento quando o aluno está frente a uma situação em que precisa agir de forma autônoma e criativa. Esse é também um dos motivos pelos quais muitos alunos que possuem um histórico escolar admirável não conseguem obter aprovação em concursos públicos, por exemplo. E aqui é necessário desfazer um equívoco: quando afirmamos que há atividades que se pautam essencialmente na memorização, no ato de decorar um conceito e na simples identificação de uma informação no texto, não estamos, com isso, querendo dizer que tais procedimentos não são importantes para a formação leitora eescritora do aluno. Essa é uma interpretação distorcida que não traz contribuições para a prática educativa. O que queremos enfatizar aqui é que não se deve permanecer apenas nessa esfera. E mais: que tais atividades não devem ser desvinculadas dos demais aspectos que envolvem a leitura e a escrita competente. Acreditamos que boa parte do insucesso no ensino da leitura e da escrita, nos dias atuais, deve-se a compreensões equivocadas ou distorcidas sobre a concepção de ensino. Outro fator que revela a importância de desenvolver uma postura crítica e reflexiva no aluno é o perfil exigido, atualmente, no mercado de trabalho. Basta abrir qualquer jornal no caderno de empregos e verificar as características profissionais que as empresas têm exigido para os cargos que estão sendo oferecidos. Tais exigências incluem: dinamismo, capacidade de trabalhar em grupo, liderança, criatividade, autonomia, boa comunicação, entre outros quesitos. Entretanto, há que se considerar que não é de um dia para o outro que desenvolvemos esta ou aquela característica, postura, capacidade. Tudo isso precisa fazer parte do cotidiano do indivíduo, o que inclui a rotina escolar. Assim, reconhecemos a importância de oferecer, ao aluno, possibilidades de agir sobre a escrita, de modo que, a partir de uma aprendizagem específica, ele possa extrair elementos para resolver problemas na sua vida prática. Saiba mais Agora é com você: Tente rememorar suas primeiras experiências com a leitura e a escrita no âmbito escolar. Lembra-se do seu primeiro livro? O que gostava de ler? Como eram as leituras realizadas na escola? E as produções escritas? Você gostava de realizá-las? Quais eram as regras para essas produções? Como fonte de inspiração, vale a pena ler “Foram muitos, os professores” (QUEIRÓS, B. C. de. In: ABRAMOVICH, F. Meu professor inesquecível. São Paulo: Gente, 1997). 14 Unidade I Re vi sã o: V irg ín ia – D ia gr am aç ão : M ár ci o – 05 /0 7/ 11 Nesse texto, o autor resgata suas memórias sobre os conhecimentos adquiridos antes do ingresso na escola: as aprendizagens com a mãe, com o pai e com a empregada da casa. Também trata das memórias sobre sua primeira professora e da sua relação com o saber nesse período escolar inicial. 3 O ENSINO QUE DESEJAMOS Como já assinalado anteriormente, o que se pretende obter com o ensino escolar, desde os anos iniciais do Ensino Fundamental (e também na Educação Infantil, ainda que o enfoque seja diferente), é o desenvolvimento de competências, ou seja, queremos que o nosso aluno possa utilizar os seus conhecimentos (pessoais e escolares, pois acreditamos na impossibilidade de separá-los) na resolução de situações de ordem prática. No caso desta disciplina, queremos que o aluno utilize o sistema de escrita de modo reflexivo, a tal ponto que, frente a um desafio que lhe é proposto, ou diante de um texto de conteúdo polêmico ou duvidoso, ele saiba argumentar, emitir sua opinião, contestar, concordar com justificativa adequada, propor modificações, enfim, que tenha conhecimentos suficientes para adotar um posicionamento, o mais adequado possível, frente a uma situação que exija decisões. Caso contrário, sua participação ficará limitada a “assinar embaixo” do que dizem as outras pessoas; e sabemos que esse tipo de comportamento é perigoso para o desenvolvimento da sociedade. Tomemos como exemplo o caso das eleições no Brasil. Nosso país é referência em termos de democracia e tecnologia no processo eleitoral. Durante o período das eleições, recebemos visitas de representantes de outras nações para observarem e aprenderem sobre o equipamento tecnológico, as estratégias e procedimentos utilizados, a apuração dos votos, a organização, enfim, sobre a totalidade prática do processo. Entretanto, mesmo com todas essas medidas eficientes, o país ainda amarga as escolhas feitas por uma população de eleitores que, alegando não entender e, portanto, não gostar de política, muitas vezes seleciona seus representantes a partir de critérios arbitrários como, por exemplo, a aparência pessoal, a distribuição de brindes, o discurso cativante e o favorecimento pessoal. Quando olhamos para o panorama social da atualidade e nos deparamos com a urgência de investimentos na saúde, na educação, no transporte e na segurança (pra citar apenas as áreas básicas), fica clara a necessidade de uma atuação política e social ativa e, por esse motivo, o perfil de cidadão, citado anteriormente, não contribui para que possamos construir uma sociedade melhor. Contudo, esse cidadão, de quem nos queixamos, foi educado para agir assim: a família o ensinou tão somente a obedecer e a escola ofereceu-lhe modelos para repetir; foi considerado um bom menino/boa menina quando não respondeu, não criticou e, apesar de indignado em diferentes situações, não contestou. Quanto às competências e habilidades exigidas, não somente para atuação no mercado de trabalho, mas para a vida de um modo geral, precisamos saber que elas são desenvolvidas ao longo do processo educativo e precisam ter espaço garantido na escola, pois, caso não tenham tido início no seio familiar, é papel da escola criar espaços em que sejam exigidas dos alunos – de acordo com a sua faixa etária – atitudes que envolvam autonomia, comunicação, criatividade etc. 15 Re vi sã o: V irg ín ia – D ia gr am aç ão : M ár ci o – 05 /0 7/ 11 METODOLOGIA E PRÁTICA DO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA Para muitas crianças, a escola será a única possibilidade de ampliar os seus saberes para além daqueles oriundos da sua comunidade; não por condições cognitivas, mas sociais e financeiras. Ninguém se torna criativo de um dia para o outro. Essa formação é processual, ou seja, acontece de modo gradativo, ao longo de um tempo que varia de indivíduo para indivíduo. Isso é o que a sociedade atual espera que a escola ofereça aos seus alunos: a apropriação dos conhecimentos culturalmente valorizados e o desenvolvimento de competências para utilizá-los em situações práticas. 4 O MOMENTO ATUAL: AVANÇOS E EQUÍVOCOS DO PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO Todas essas discussões acerca da necessidade de se adotar uma concepção de ensino-aprendizagem diferente daquela até então praticada nas escolas trouxe uma série de dúvidas e incertezas à educação, o que é muito interessante, pois nos move na direção de soluções para os problemas em questão. As pesquisas realizadas por Emília Ferreiro, sob a orientação de Jean Piaget, sobre o que pensam as crianças quando estão aprendendo a ler e a escrever, revelaram que elas levantam hipóteses sobre o sistema de escrita, de forma a aproximarem-se da compreensão sobre o seu funcionamento, que é alfabético. Saiba mais Você pode conhecer mais sobre as hipóteses de escrita de crianças e adultos em processo de alfabetização, lendo o livro Psicogênese da Língua Escrita, de autoria de Emília Ferreiro e Ana Teberosky, publicado pela Editora Artmed. Esse livro é fruto da tese de doutorado da primeira autora, quando esteve sob a orientação do próprio Piaget. Fundamenta-se, também, nas considerações que foram elaboradas partindo das observações realizadas no período em que as autoras eram docentes da Universidade de Buenos Aires, na década de 70. Revelam as autoras, nessa obra, que “além dos métodos, dos manuais, dos recursos didáticos, existe um sujeito buscando a aquisição de conhecimento; sujeito esse, que se propõe problemas e trata de solucioná-los, seguindo sua própria metodologia” (FERREIRO e TEBEROSKY, 1999, p.V). No afã de colocar em prática, o mais rápido possível, uma nova proposta de ensino, as escolas se apropriaram de conceitos, orientações e encaminhamentos dessa “nova” concepção, de forma 16 Unidade I Re vi sã o: V irg ín ia – D ia gr am aç ão : M ár ci o – 05 /0 7/ 11 muito precipitada. Essa nova concepção seria pautada na teoria de Jean Piaget, que postula que o homem constrói o conhecimento na interação com o objetoe, por esse motivo, a concepção de ensino denominada construtivista é fundamentada em suas teses. Contudo, nesse período de transição, a formação de professores seria extremamente importante, uma vez que possibilitaria a passagem gradual e consistente de uma percepção tradicional de ensino (sem desprezar as contribuições por ela deixadas) a uma concepção construtivista. Mas o processo de formação dos professores foi deixado para o segundo plano e foram adotados alguns procedimentos que, além de muito diferentes daqueles até então praticados, não faziam muito sentido para os professores, a quem pouco foi explicado sobre os motivos que geraram as mudanças que estavam ocorrendo naquele momento e que agora se viam na obrigação de cumpri-los. É desse modo que foram difundidas, nas escolas, ideias como: o professor não pode mais corrigir o aluno; não se deve mais utilizar a caneta vermelha quando for necessário escrever para o aluno; os assuntos tratados devem partir do interesse da classe; é preciso deixar o aluno construir o seu conhecimento, entre outras. Ora, se o professor não pode mais corrigir e ensinar, pois o aluno constrói o seu conhecimento sozinho (a proposta foi assim entendida por muitos educadores), qual será então o papel a ser desempenhado pelo professor junto ao aluno? Muitos compreenderam que seria necessário aguardar passivamente que o aluno tivesse um click e construísse o seu conhecimento acerca da leitura e da escrita. Esse entendimento equivocado é compreendido quando pensamos que a aprendizagem é processual. Isso também é válido para os professores e, portanto, as mudanças propostas deveriam, necessariamente, acompanhar a formação continuada deles, oportunidade em que suas justificativas poderiam ser apresentadas de modo consistente e as dúvidas poderiam ser tratadas adequadamente. Mas, a contradição desse período de transição reside justamente no fato de que, aos professores, foi dito que a aprendizagem dos alunos não pode ser compreendida na perspectiva da homogeneidade, isto é, os alunos têm conhecimentos diversificados e ritmos próprios. Entretanto, o caráter processual da aprendizagem dos professores não foi considerado; a eles restava a tarefa de modificar a sua prática pedagógica, adotando uma perspectiva construtivista, ainda que não tivessem compreendido seus fundamentos. Observação É preciso considerar que, apesar de existirem diferentes modos de ensinar e de aprender, a concepção de aprendizagem processual é válida para todas as idades, o que inclui o professor. Como a formação continuada não foi uma realidade na maioria das escolas, cada professor entendeu como foi possível, naquele determinado momento histórico. Como resultado, tivemos uma série de alunos que concluíram o Ensino Fundamental sem saber ler e escrever, o que é pior, pois nem a forma mecanizada de leitura e escrita esses alunos dominavam. Com resultados tão desastrosos, a sociedade começou a cobrar da escola providências quanto ao fracasso escolar dos alunos, no que se refere à leitura e à escrita. Os professores passaram a ser 17 Re vi sã o: V irg ín ia – D ia gr am aç ão : M ár ci o – 05 /0 7/ 11 METODOLOGIA E PRÁTICA DO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA questionados pelas famílias e, na falta de uma boa justificativa para os novos procedimentos adotados (até para se convencerem), elaboravam respostas superficiais e pouco consistentes, o que colocou em xeque a credibilidade do trabalho docente. A mídia, por sua vez, denunciou de maneira implacável os índices de crianças que, após frequentarem vários anos de escola, não sabiam ler e escrever. A profissão docente foi desvalorizada. Iniciou-se, assim, um movimento para que as práticas pedagógicas tradicionais retornassem à escola, ao mesmo tempo em que a palavra construtivismo (associada aos estudos de Emília Ferreiro e à teoria piagetiana) era revestida de preconceito e insegurança. O que deu errado nesse processo? Entendemos que saímos de um extremo em direção ao outro extremo. Saímos de uma prática pedagógica pautada unicamente no modelo, na memorização, na cópia, para uma prática em que tudo isso foi rejeitado e nada foi oferecido para ocupar o seu lugar. É preciso que, hoje, procuremos analisar a situação, livrando-nos do preconceito existente (tanto no que se refere ao ensino tradicional, quanto ao construtivista), para analisar criticamente aquilo que realmente pode contribuir para a aprendizagem dos alunos. Há um ditado popular que ilustra bem o que estamos dizendo: é preciso cuidado para não jogar fora a água do banho com o bebê dentro. Mas o que isso quer dizer? Nem tudo que pertence ao sistema de ensino tradicional, que tanto criticamos, é ruim. Assim como nem tudo o que está relacionado com uma nova concepção de ensino (a que propomos) é realmente bom para aprendizagem. É preciso uma análise cautelosa de vários fatores para que possamos, realmente, contribuir para a construção de uma educação de qualidade. Sem essa análise e reflexão, torna-se inviável qualquer mudança na prática educativa. E isso é o que estamos propondo ao longo desta disciplina! Resumo O processo educativo é marcado por interesses e expectativas sociais e, por esse motivo, sofre modificações ao longo da história. O ensino que recebemos na escola, quando aprendemos a ler e a escrever, não mais atende, na sua íntegra, às expectativas da formação do cidadão que queremos hoje em nossa sociedade. O que pretendemos com o ensino da leitura e da escrita, hoje, na escola, é contribuir para o desenvolvimento de competências que possibilitem ao aluno a sua utilização na resolução de problemas na vida prática. A apropriação equivocada de preceitos (normas, regras) da concepção construtivista desestabilizou o sistema de ensino e 18 Unidade I Re vi sã o: V irg ín ia – D ia gr am aç ão : M ár ci o – 05 /0 7/ 11 trouxe, como consequência, os altos índices de alunos que cursaram os anos iniciais do Ensino Fundamental e não aprenderam a ler e a escrever. É preciso lançar um olhar reflexivo sobre as práticas pedagógicas existentes, para que seja possível compreendê-las e avaliar de que forma elas podem ser úteis na formação dos alunos. Exercícios Chegou a sua vez! Vamos refletir sobre o que acabamos de discutir. Faça os exercícios a seguir apresentados, os quais serão discutidos na sequência. Questão 1: Ao discutir acontecimentos do período em que o Brasil vivenciou a ditadura militar, Aranha (2006, p.316) nos conta que “os militares atuaram no interior das universidades, silenciando o debate e intervindo de forma violenta nos campi, cassando professores e desarticulando movimentos estudantis.” Com a repressão dos debates que ocorriam nas universidades entre professores e alunos, o governo militar tinha como propósito: a) Chamar a atenção para o fato de que a universidade é um lugar que deve formar pessoas para atuar no mercado de trabalho e não para discussões que não contribuem para a formação profissional do estudante universitário e, portanto, não são condizentes com os ideais de uma educação de qualidade. b) Alertar para o fato de que a universidade não é o local mais apropriado para debates de caráter político e, por esse motivo, professores e alunos deveriam procurar um lugar mais adequado para essa prática, pois o ensino universitário precisa garantir seu caráter acadêmico. c) Punir os professores que, longe de contribuem com os propósitos acadêmicos, tomavam qualquer decisão advinda do governo como motivo para contestações e protestos, mobilizando os alunos para participarem de passeatas e protestos infundados; admite-se, porém, que essa repressão era mais violenta do que seria necessário. d) Reprimir toda forma de manifestação crítica e de protesto contra o governo, enfraquecendo os movimentos que tentavam difundir suas ideias de oposição ao regime vigente, desviando o ensino dos interesses da sociedade para os governamentais. e) Fiscalizare controlar o trabalho de alguns professores que se envolviam com os movimentos estudantis, ao ponto de trazer, para a sala de aula, os debates que tinham origem no próprio grupo, o que deixava uma lacuna no ensino, além de ser considerado um comportamento antiético. 19 Re vi sã o: V irg ín ia – D ia gr am aç ão : M ár ci o – 05 /0 7/ 11 METODOLOGIA E PRÁTICA DO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA Análise das alternativas Resposta correta: alternativa D. Comentários: Alternativa A Essa alternativa limita, e muito, o papel da universidade, reduzindo-o à formação técnica e profissional. Além disso, as discussões que se travam entre alunos e professores não são infrutíferas, como sugere essa alternativa. Elas são fundamentais para o desenvolvimento de uma participação social crítica, o que justamente o governo militar queria evitar. Alternativa B Ao contrário do que afirma essa alternativa, a universidade é, sim, um lugar propício para debates das mais variadas naturezas (político, econômico, filosófico etc.) e é só por meio deles que podemos nos organizar para propor melhorias e mudanças na sociedade, o que não interessava àquele governo. Alternativa C A alternativa sugere que o professor fazia, como se diz popularmente, “uma tempestade num copo d’água”, o que não é verdade. As decisões políticas adotadas na época eram impositivas e arbitrárias. Por esse motivo, protestava-se e reivindicava-se mudanças urgentes. Por ter acesso a bons livros e ser um leitor competente, o professor reunia informações e as debatia. Desse modo, aos olhos dos governantes, eram perigosos. Alternativa D Alternativa correta. A repressão violenta era uma forma de erradicar os movimentos contra o governo vigente, desarticulando-os, tanto quanto possível, na sua origem, evitando que conseguissem adeptos e se fortalecessem na luta contra as arbitrariedades praticadas. Alternativa E O governo militar fiscalizava o trabalho docente. Mas o motivo pelo qual agia assim não se referia à preocupação com a qualidade de ensino oferecida, mas com o controle do trabalho docente, visto que sabia que os professores, difundindo suas críticas nas reflexões junto aos alunos, apresentavam risco ao poder dominante. Questão 2: Ferreiro e Teberosky afirmam que: Ensinar a ler e a escrever continua sendo uma das tarefas mais especificamente escolares. Um número muito significativo (demasiadamente significativo) 20 Unidade I Re vi sã o: V irg ín ia – D ia gr am aç ão : M ár ci o – 05 /0 7/ 11 de crianças fracassa já nos primeiros passos da alfabetização (FERREIRO E TEBEROSKY, 1999, p. V). Tal como é complexo o processo de alfabetização, complexa é também a compreensão dos motivos pelos quais ele não ocorre adequadamente nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Analisando-se essa afirmação e, considerando-se o que discutimos nesta unidade, é possível concluir que um dos pilares do fracasso na alfabetização é: a) A falta de participação das famílias nas atividades escolares dos filhos, tendo em vista o fato de que a maioria dos pais trabalha e não consegue dispor de tempo o suficiente para acompanhar o desenvolvimento escolar dos filhos. b) A inadequação da estrutura física apresentada pela maioria das escolas, uma vez que as salas de aula pequenas (ou lotadas), aliadas à falta de recursos materiais, dificultam o trabalho do professor e, consequentemente, têm implicações na aprendizagem dos alunos. c) A apropriação equivocada de concepções de ensino que gera, como consequência, uma prática pedagógica ineficiente e inconsistente, dificultando a aprendizagem do aluno, ao invés de favorecê-la. d) A utilização de livros didáticos que não estão de acordo com a faixa etária do aluno e que pode, por isso mesmo, confundir ainda mais a sua aprendizagem. e) A ausência de bibliotecas na maioria das escolas, o que aumenta a distância entre o aluno e um bom acervo literário, considerado indispensável para a formação de um bom leitor. Análise das alternativas Resposta correta: alternativa C. Comentários: O que se observa, nas diversas alternativas apresentadas, é que todas possuem aspectos importantes que deveriam ser discutidos para a melhoria do ensino da leitura e da escrita. Entretanto, a atividade solicita que levemos em consideração aspectos estudados nesta unidade, o que foca o nosso olhar para uma única resposta correta. Alternativa A A importância da parceria entre famílias e escola é indiscutível. Levando-se em consideração a especificidade de cada escola (região, comunidade, fatores socioeconômicos etc.), os gestores devem encontrar caminhos para que tal parceria seja estabelecida. Entretanto, a escola precisa ter clareza do seu papel e desempenhá-lo de modo competente, quer a família tenha condições de acompanhar o andamento dos estudos dos seus filhos, quer não. 21 Re vi sã o: V irg ín ia – D ia gr am aç ão : M ár ci o – 05 /0 7/ 11 METODOLOGIA E PRÁTICA DO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA Alternativa B A estrutura física das escolas é outra condição que merece atenção. Um local adequado, com recursos à disposição de alunos e professores, é também condição para a melhoria do ensino. Porém, sabe-se que há muitas escolas que possuem tanto a estrutura física adequada, como recursos materiais disponíveis, mas que não os levam em consideração na atuação pedagógica dos docentes. Há escolas com laboratórios trancados por falta de uso, livros intactos, bibliotecas que viraram depósito de materiais etc. Alternativa C Alternativa correta. De fato, a compreensão distorcida ou equivocada de uma concepção de ensino gera uma prática pedagógica ineficiente para a aprendizagem dos alunos, uma vez que o ensino, por ter sido mal compreendido, distanciou-se do aluno, como foi discutido ao longo desta disciplina. Alternativa D Livros didáticos são materiais desenvolvidos por profissionais que levam em consideração a faixa etária em que o aluno se encontra naquele ano escolar, bem como o conteúdo que se pretende ensinar. Mas, como todo material produzido, a qualidade sempre pode ser questionada. O que é necessário saber é que esse aparato não faz o ensino acontecer. Esse é o papel do professor que, ao utilizar algum material didático, fará a escolha mais adequada à sua realidade e, para cada atividade proposta, decidirá a viabilidade de sua aplicação, bem como a adaptação aos seus alunos, se necessário. Alternativa E Ainda que nas escolas não haja uma biblioteca com um bom acervo literário à disposição dos alunos, é possível fazer com que eles venham a se tornar bons leitores e escritores, propondo situações interessantes e desafiadoras em sala de aula. Também é possível explorar outros espaços para leitura na escola, como parque, pátio, quadra, bosque etc.
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