Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
INTRODUÇÃO À ESCOLA AUSTRÍACA Prof.: Christian Vonbun Prof.: Ubiratan J. Iorio 1 Bibliografia • Holcombe, Randall G. An Advanced Introduction to The Austrian School of Economics. Elgar, 126p. • Iorio, Ubiratan J. Ação, Tempo e Conhecimento: A Escola Austríaca de Economia. Instituto Mises Brasil, 2011. 2 O CONHECIMENTO DESCENTRALIZADO 3 O Conhecimento descentralizado • Quando descrevemos a atividade de uma empresa, usando a teoria neoclássica, sua função é combinar insumos: terra, máquinas, equipamentos, trabalho e matérias primas, convertendo-os em um produto. • Assim, uma confeitaria combina batedeiras, fornos, farinha, maçãs, açúcar, trabalho do confeiteiro e mais outros insumos em uma torta de maçã. • Segundo a teoria neoclássica, há uma função, a função de produção, que sumaria a tecnologia de produção da firma. Essa tecnologia pode ser um pouco flexível: é possível trocar um pouco de açúcar branco por cristal, farinha por fruta (e a massa ficar mais fina), etc. 4 O Conhecimento descentralizado • Mas a hipótese é que não é necessariamente a firma que determina essa função de produção, que é a mesma com a qual as demais firmas se deparam. Além disso, o produto é homogêneo: todas as tortas são idênticas, aos olhos do consumidor, ainda que tenham ingredientes potencialmente diferentes. • Assim, teremos: � = �(�, �) • Onde o produto é Y, K é o capital e L o trabalho empregado na produção. • Cabe, portanto, à firma, empregar os insumos e matérias primas e combiná-los nas proporções adequadas. 5 O Conhecimento descentralizado • Agora, considere o confeiteiro que tem sua receita de torta, mas que decide alterá-la, em função das ações da concorrência: mudar o tipo de açúcar, por mais frutas, incluir passas, creme etc. Ao mesmo tempo, compra uma geladeira e uma batedeira mais eficientes em termos de uso de energia, para reduzir custos. • O produtor foi capaz de alterar muitos dos parâmetros da função de produção! • No mundo real, as firmas que competem nos mercados têm que continuamente modificar seus métodos para se adaptar à concorrência. • Têm que mudar seu mix de produtos, reduzir custos e eliminar desperdícios... 6 O Conhecimento descentralizado • O progresso econômico em algumas áreas é auto evidente, como a de eletrônicos (veja como os preços relativos dos mesmos têm caído ao longo dos anos), ao mesmo tempo em que sua tecnologia e seus recursos crescem de forma acelerada. • O mesmo, em maior ou menor grau, serve para as máquinas agrícolas, robôs de soldagem de veículos, para o computador pessoal, etc. • Os produtos e métodos produtivos aperfeiçoados reduzem custos e elevam o bem estar das pessoas. Manter a inovação para concorrer no mercado é um desafio constantemente posto às firmas. 7 O Conhecimento descentralizado •Uma firma tem que melhorar seus produtos e seus processos porque os concorrentes também o fazem e ela pode desejar liderar o processo para ganhar mais que os demais no período em que eles precisam para se adaptar. 8 A Natureza Empreendedora das Firmas • Na visão Austríaca, a tarefa das pessoas que dirigem firmas devem ser quebrada em dois componentes: • Administração, e • Empreendedorismo. • A primeira tarefa consiste em operar os processos da firma da forma mais eficiente possível: selecionar a combinação certa de insumos para produzir o produto ao menor custo. • Já o empreendedorismo é enxergar oportunidades de lucros e agir para aproveitá-las. • Isso significa usar uma receita nova na produção ou no produto, ou vender para um mercado diferente, inovar. 9 A Natureza Empreendedora das Firmas • De acordo com Kirzner, não são necessários recursos para empreender, mas sim um estado de atenção. • A atenção ajuda a perceber novas oportunidades de negócios, que são requeridas para as empresas se manterem competitivas e para aumentar seus lucros. • Uma vez reconhecida a oportunidade, uma ação, que pode ser custosa e arriscada, é requerida para que se possa aproveitá-la. • Cada oportunidade depende do tempo e do espaço, mas também do contexto em que se insere. Uma oportunidade agora pode não ser mais uma oportunidade amanhã. 10 A Natureza Empreendedora das Firmas • A natureza mutável do capitalismo decorre de que algumas empresas são empreendedoras, logo, realizam mudanças em seus negócios. • Com isso, as demais também têm que ser empreendedoras, de modo a não ficar para trás. • Com isso, a natureza do capitalismo é de constante evolução, em direção a novos e melhores métodos de satisfazer os consumidores, por meio de reduções de custos e melhorias nos produtos que elevem a diferença entre o custo de produção e o benefício social da atividade empresarial. • Essa diferença é o valor agregado pela firma à sociedade. 11 A Natureza Empreendedora das Firmas • Assim, a administração de uma empresa é importante, mas o empreendedorismo é vital. • Uma firma empreendedora pode ter algumas ineficiências administrativas, e mesmo assim florescer. • Todavia, uma firma que tenha seus processos muito bem administrados, mas que não seja empreendedora, pode cair no ostracismo e desaparecer. • Firmas, portanto, não podem ser estáticas e replicar uma certa função de produção indefinidamente, visto que a mudança é a constante e a busca por novos produtos e novas funções de produção é o que mantem as firmas competitivas – e vivas – no mercado. 12 O Papel dos Lucros • Da mesma maneira que o lucro das firmas representa seu valor adicionado à sociedade, o prejuízo representa a destruição de valor. • Uma empresa tem prejuízo na medida em que o consumo de insumos valiosos produz um produto menos valioso que esses insumos, portanto, levando a uma perda para a sociedade. • Firmas que destroem valor tendem a encolher até desaparecer (falir/fechar). • Os lucros têm um papel de incentivar que as empresas adicionem valor à economia, logo, que empreendam. 13 A Mão Invisível • Firmas que adicionam valor à economia podem crescer e elevar sua atividade econômica, mas as firmas que destroem valor encolhem até desaparecer. • Os empreendedores, portanto buscam descobrir e aproveitar as oportunidades de agregar valor, em busca do lucro. • Na verdade, suas motivações são irrelevantes para suas ações que adicionam valor à economia: se eles buscam o bem geral ou apenas são movidos pelos desejos egoístas de obter mais lucros para seu benefício, não importa. Suas ações empresariais beneficiam o todo da mesma forma. 14 Lucros são Incertos • Os lucros, portanto, são indicadores de se os empresários foram bem sucedidos em criar valor. • Naturalmente, os lucros são incertos, de dependem dos esforços e da percepção dos empresários, mas também do contexto econômico, das demais empresas e das preferências mutáveis dos consumidores. • Os empresários a priori nunca poderão saber se sua inovação será lucrativa, pois é algo novo, nunca foi tentado. • Os empreendedores usam seu julgamento, ganham quando estão corretos e perdem quando erram. 15 Lucros Induzem Firmas a Criar Valor • Os lucros, que permitem a sobrevivência das firmas, atuam como catalizador de um processo de seleção natural das firmas que criam e destroem valor. • Como o lucro é incerto, os agentes apenas vão buscar inovar se enxergarem perspectivas de retorno. • Nesse sentido, os lucros são essenciais ao progresso da economia. • A ligação entre os lucros e o progresso econômico apenas se aplicam quando houver relações voluntárias de trocas. • Contudo, em contextos em que o governo dá subsídios, interfere nos mercados etc, a ligação entre o lucro e a criação de valor é desfeita. 16 Governo e Lucros • Quando recursos são retirados à força dos pagadores de impostos e redirecionados, por exemplo, via subsídios a um setor de atividade ou via compras do governo, nunca se pode garantir que esses usos geram mais valor à sociedade do que a livre alocação que as pessoas iriamoptar por fazer, caso tivessem a chance. • Se o investimento público tiver uma taxa de retorno menor que o privado ou se o gasto e/ou subsídio público geram uma menor utilidade aos cidadãos, os fornecedores dos bens subsidiados/adquiridos pelo governo terão a oportunidade de obter lucro, mas esse lucro não terá sido remuneração ao progresso econômico. 17 Custos de Oportunidade e Lucros • Os modelos neoclássicos de equilíbrio apresentam as firmas como maximizadoras de lucros. • Entretanto, mesmo que as firmas tentem maximizar os lucros, não há como se estar certo de que realmente se esteja maximizando os lucros, pois cada vez que uma firma escolhe um curso de ação, ela o faz em detrimento dos demais, e não há como saber o que teria ocorrido se ela seguisse um dos caminhos alternativos. • As firmas sabem dizer se sua estratégia atual é lucrativa, mas não pode afirmar ao certo se as estratégias que deixou de seguir seriam mesmo mais ou menos lucrativas. O custo de oportunidade não é óbvio. 18 Custos de Oportunidade e Lucros • Naturalmente as firmas podem obter informações fazendo pesquisas, ou dando alternativas e opções aos consumidores, mas nunca é possível testar todas as opções possíveis. • As firmas, portanto têm que ajustar continuamente suas atividades na busca por melhores oportunidades de lucros, ao acompanhar as inovações dos concorrentes no mercado. 19 Custos e Preços • Os economistas clássicos, desde Adam Smith, concluíram que no mercado, os preços de um bem tendem a ser suficientes para cobrir seus custos de produção e que esse seria seu preço de longo prazo, determinado pelos motivos técnicos (custos) exógenos. • Já Carl Menger (1871) se refere aos bens finais (de consumo) como bens de primeira ordem, enquanto que os insumos usados em sua produção são bens de ordens maiores. • Menger enfatizou a natureza subjetiva do valor, de modo que o preço que os bens de primeira ordem serão vendidos dependem da utilidade do consumidor. 20 Custos e Preços 21 Carl Menger Custos e Preços • A utilidade, logo o preço que as pessoas estão dispostas a pagar por um bem, são subjetivos. • Assim, o preço de um bem de primeira ordem não decorre diretamente das características objetivas do bem, mas depende das avaliações dos consumidores em um dado período no tempo. • Com isso, a demanda (e o preço) dos bens intermediários e os bens de capital (ou bens de ordens superiores) necessários à produção de um bem têm seus preços determinados pela demanda pelo bem final (de primeira ordem). • Nesse sentido os custos de produção são determinados pelo valor daquilo que é produzido. 22 Informação, Conhecimento e Sabedoria • Por conta de as firmas não terem suas funções de produção dadas a elas, mas devem descobrir sozinhas métodos lucrativos de produção, características lucrativas dos produtos e mercados lucrativos onde eles podem ser vendidos, os empresários estão sempre em busca de informações acerca de oportunidades de lucros não descobertas. • Uma quantidade substancial de informações está contida nos preços de mercado. • Preços mais altos indicam escassez relativa, passando a informação ao consumidor e ao produtor, levando a uma economia no seu uso (redução da demanda) de um bem com preço alto, e atraindo investidores para esse setor. O inverso ocorre com produtos baratos. 23 Preços trazem Informações • Os preços, portanto trazem informação sobre as oportunidades de lucro associadas a um determinado bem, mas essa informação não é suficiente. Deve ser combinada com mais informação para prover conhecimento sobre que decisões podem ser tomadas. • Essas informações são as necessárias para conhecer o mercado – conhecer os produtores, consumidores, suas motivações, estruturas de produção, etc. • Os empresários ativamente ou por intermédio da sua experiência, coletam informações acerca do mercado em que trabalham, e as concatenam de modo a obter um entendimento maior do ambiente para tomar decisões. 24 Informação, Conhecimento e Sabedoria • Langlois (2007, 2013) conclui que em função de a economia estar sempre mudando, as firmas promovem uma estrutura institucional que cria uma base de conhecimento para que as firmas possam reagir a essas mudanças e incertezas, ajustando seus planos econômicos. • Esse conhecimento per se não é capaz de levar o empresário a tomar a melhor decisão. • É preciso que haja sabedoria para se tomar decisões bem sucedidas. • Todavia, ninguém sabe e ninguém tem como saber o que o futuro trará, mas ele tem que agir de acordo as decisões dos demais empresários no presente. 25 Informação, Conhecimento e Sabedoria • Uma decisão de produção pode ocorrer anos antes da efetiva estreia do produto no mercado, e a competitividade do produto depende do que fazem os demais empresários neste momento, informação nem sempre disponível no momento presente. • O conhecimento do empreendedor pode fazer com que sua decisão seja melhor que uma escolha aleatória, mas é incapaz de eliminar toda incerteza. • Nem todos, portanto, têm o mesmo conhecimento, pois sua sabedoria e seu conhecimento são diferentes. • Portanto, não há a informação perfeita suposta nos modelos clássicos e neoclássicos. 26 Informação, Conhecimento e Sabedoria • De fato, uma oportunidade de lucro surge exatamente porque a economia não inclui a perfeita informação, de modo que um dado empreendedor possa tomar vantagem disso, obtendo lucro ao mesmo tempo em que agrega valor à economia. • De acordo com Witt (1999), não apenas as pessoas possuem informação, conhecimento e sabedoria diferentes, como também têm disposições diferentes de agir em função de seus insights empreendedores. • E a velocidade com que são introduzidas as inovações tende a ser determinante para a obtenção de lucros, visto que os primeiros a inovar tendem a obter lucros maiores. 27 Informação, Conhecimento e Sabedoria • A ciência econômica tem focado na importância da informação desde a segunda metade do século passado. • Todavia, a informação per se pode enganar: a informação deve ser incorporada a uma base de conhecimento para que essa nova informação realmente tenha valor. • A decisão do empreendedor sob incerteza é um determinante importante da lucratividade. • O mercado, ao trazer informação por intermédio dos preços, gera um mecanismo de aprendizado para os empresários e consumidores. 28 Pesquisa e Desenvolvimento • Schumpeter (1934) faz a distinção entre invenção e inovação. • Invenção é o avanço técnico, relacionado à engenharia, à química, física, etc. • A inovação é o emprego dessa invenção sobre um produto no mercado, de forma que ele esteja pronto para ser comercializado. • Ainda que seja verdade que a inovação seja impossível antes da invenção, a invenção frequentemente é resultado de um sistema econômico no qual as invenções podem ser usados como inovações. 29 Pesquisa e Desenvolvimento • Não se gastaria dinheiro em pesquisa e desenvolvimento (P&D) se não houvesse a oportunidade de se obter retorno com esses gastos. • Kirzner (1973) define o empreendedorismo como a observação de uma oportunidade de lucros, mas em quase todos os casos essas oportunidades não foram percebidas a esmo, mas sim porque alguém estava procurando por elas. • A P&D produz invenções, e o papel do empreendedor é converter as invenções em inovações, que é o que gera o progresso econômico. 30 A Divisão do Conhecimento e a Cadeia Produtiva • Uma maneira (neoclássica) de pensar o papel das firmas na cadeia produtiva é que elas são organizações que combinam insumos para gerar produto. Nesse caso, as atividades da firma são descritas por sua função de produção. • Isso mostra (de acordo com a visão austríaca) uma figura bastante incompleta da firma: foca na gerência da firma, ignorando sua tarefa empreendedora. • A sobrevivência da firma depende de sua capacidade de inovar e de reagir a inovaçõese mudanças geradas no mercado. • Assim, o empresário tem que estar sempre promovendo melhorias e para tal tendo que aumentar sua base de conhecimento. 31 A Divisão do Conhecimento e a Cadeia Produtiva • Mas o processo produtivo integrado entre diferentes firmas é um processo de divisão do conhecimento, cada uma tendo conhecimento do papel que lhe cabe. • Cada firma se especializa em uma parte do conhecimento (que as demais não dominam e nem precisam), o que as torna mais produtivas, pois podem focar sua atenção em um segmento do mercado. • Portanto, as firmas confiam em seus fornecedores para produzir melhores insumos em preços menores, pare fornecerem melhores produtos (que podem ser insumos) a preços menores do que fariam se fizessem tudo sozinhas. 32 A Divisão do Conhecimento e a Cadeia Produtiva • Mesmo que uma firma seja tão produtiva quanto as demais na produção de seus insumos, ainda assim vale a pena que ela tenha fornecedores, pois isso amplia a possibilidade de ela se aproveitar de inovações de outras firmas, por vezes simplesmente trocando de fornecedores. • As firmas se beneficiam da divisão do conhecimento ao se especializar e compram insumos de firmas com diferentes concentrações de conhecimento. • Isso as torna mais produtivas. 33 Conhecimento Tácito • O conhecimento científico é aquele que pode ser comunicado via aulas, artigos e apresentações. • Adicionalmente, Hayek define o conhecimento tácito como aquele conhecimento prático que é difícil de frasear e é passado por tentativa e erro, pelo exemplo e pelo contato pessoal. • As firmas formam um repositório de conhecimentos técnico-científicos, mas também de conhecimentos tácitos, que ajudam a justificar o porquê de as empresas não gostarem de ter muita rotatividade no seu quadro de funcionários. 34 Conhecimento Tácito 35 F.A. Hayek Conhecimento Tácito • Pelo fato de o conhecimento tácito não ser facilmente comunicável entre as pessoas, as pessoas têm interesse em compartilhá-lo em especial quando a empresa é pequena e tem grande potencial de crescimento. • O crescimento da empresa tende a elevar os salários de todos os funcionários e gera ganhos para todos. • Todavia, quando as empresas são grandes, não há tanta perspectiva de crescimento e as pessoas tendem a proteger seu conhecimento tácito como forma de proteger suas funções. Isso leva empresas maiores a terem menor compartilhamento desse tipo de conhecimento, o que as torna menos eficientes e inovadoras que empresas menores. • A especialização das empresas seria uma consequência desse fenômeno e daí que surgiria a terceirização supracitada. 36 Conhecimento Tácito https://www.youtube.com/watch?v=SGPjFFMD3c0 37 A Busca Pelos Preços: Trocas em Desequilíbrio • O arcabouço neoclássico de equilíbrio competitivo envolve firmas tomadoras de preços, que são pequenas frente o tamanho do mercado e informação completa sobre preços cobrados em todas as transações. • Mas há uma erro lógico nessa afirmativa: se os preços são dados, não sobra ninguém para promover qualquer mudança de preços, logo, eles nunca iriam mudar. • Se os preços mudam, alguém deve modificá-los! • Não é difícil de entender que se as empresas estão com dificuldades de vender seus estoques, devem ter um incentivo para reduzir seus preços e, se elas estão com dificuldades em cobrir seus custos das vendas, devem ter incentivo de aumentá-los. 38 A Busca Pelos Preços: Trocas em Desequilíbrio • Todavia, não é qualquer oscilação na demanda que vai levar a uma alteração dos preços. • Nesse momento, o conhecimento entra em ação. As empresas não mudam os preços porque HOJE a demanda foi pior que ontem. • Um restaurante não muda os preços porque na terça-feira formou-se uma fila do lado de fora. • O conhecimento dos administradores/empreendedores envolve a sensibilidade correta a mudanças estruturais na demanda ou em outras condições de mercado, que requeiram mudanças nos preços. Isso faz parte do estoque de conhecimento que as empresa detém: o momento “certo” de alterar seus preços. 39 A Busca Pelos Preços: Trocas em Desequilíbrio • Isso entra em conflito com a ideia de que as firmas são tomadoras de preços e, com isso, de um preço único de mercado. • De fato, os preços variam de vendedor para vendedor, inclusive porque as forças de mercado da economia estão empurrando diferentes vendedores para preços diferentes, em função de diversas heterogeneidades, bem como porque algumas transações se darão a preços de não- equilíbrio, na medida em que compradores e vendedores buscam os melhores negócios. • Vendedores e compradores não conseguem observar a totalidade das configurações de preços, além de outras vantagens ofertadas por diferentes vendedores. 40 A Busca Pelos Preços: Trocas em Desequilíbrio • Assim, compradores e vendedores nunca têm a certeza de estarem negociando ao “preço de equilíbrio”. • Antes de os preços poderem se modificar, os agentes devem observar que os atuais preços não podem continuar a equilibrar o mercado, então, algumas transações devem ocorrer a preços fora do equilíbrio. • Não há um preço único no mercado nem um equilíbrio único. • Assim, os preços estão em uma trajetória que tende a equilibrar os mercados, mas em função das constantes mudanças, mas isso não ocorre todo o tempo, como supõem os neoclássicos. 41 A Busca Pelos Preços: Trocas em Desequilíbrio • O que importa é que, em transações voluntárias, ambas as partes enxergam a transação como vantajosa. 42 O CÁLCULO ECONÔMICO 43 O Cálculo Econômico • Talvez a ideia mais significativa que defina a Escola Austríaca é a de que os preços de mercado são essenciais para que se faça o cálculo econômico racional. • A relação entre preços de mercado e o cálculo econômico é essencial para a estrutura da teoria austríaca e para seu veredicto a respeito da inviabilidade do socialismo. • A Escola Austríaca é a mais identificada com a ideia de que o planejamento central não pode funcionar, o que decorre da necessidade dos preços de mercado para que se faça o cálculo econômico. 44 O Cálculo Econômico 45 Ludwig Von Mises O Cálculo Econômico • Como vimos, as decisões dos agentes econômicos envolvem valorações subjetivas e incerteza. • O valor não se dá por características intrínsecas aos bens, mas por meio das valorações subjetivas que as pessoas fazem sobre os mesmos. • Além disso, essas avaliações podem mudar ao longo do tempo, dependendo das preferências dos agentes, bem como do contexto, dos bens concorrentes, etc. • Do ponto de vista do empresário, há a necessidade do conhecimento de preços que indiquem a escassez relativa dos bens por diversos motivos. 46 O Cálculo Econômico • O preço indica a escassez relativa dos insumos, portanto, aponta caminhos para redução de custos de produção, sendo uma ferramenta gerencial importante; • Explicita o grau de aceitação de seu produto no mercado, sancionando ou não as inovações incorporadas aos produtos; • Informa à empresa se suas atividades são sustentáveis no horizonte previsível ou se ela necessita uma mudança de rumo para sobreviver – por meio dos lucros. • Sob incerteza, os preços permitem a comparação de projetos alternativos, por meio do cálculo do valor esperado de retorno dos projetos de investimento e de inovação, sendo vitais para que haja o empreendedorismo. 47 O Cálculo Econômico • Indica às empresas a necessidade de diferenciar (positivamente) seus produtos, pois torná-los melhores eleva seu valor percebido, logo seus lucros, perfazendo um mecanismo de incentivo correto. • Visto isso, agora cabe exemplificar o debate acerca do Cálculo Econômico no Socialismo, realizado por Mises e Hayek, do lado “Austríaco” e Lange e Taylor (e outros) do lado socialista, com uma certa contribuição (talvez involuntária) dos economistas clássicos que abordavam teorias estáticas de equilíbrio geral. • No Séc. XX a EscolaAustríaca foi a mais identificada com a ideia de que o socialismo não tem como funcionar. 48 Motivos para o Fracasso do Socialismo • Alguns dos principais argumentos contra o socialismo são comuns às diversas escolas, notadamente os neoclássicos e a escola de “Public Choice”. • Os clássicos salientam que não há um mecanismo de incentivos para a produção quando não há recompensas aos agentes para que se esforcem, na ausência de lucros e meritocracia. • A escola de Escolha Pública (Public Choice) usa métodos econômicos para avaliar as decisões políticas. • A referida escola identificou que o voto democrático nem sempre agrega as preferências individuais para identificar o interesse público e os incentivos que os burocratas e os servidores públicos têm para defender os interesses públicos. 49 Motivos para o Fracasso do Socialismo • Há, portanto MUITAS razões para que a alocação de recursos pelo governo seja ineficiente. • A Escola Austríaca concorda, mas tende a dar pouquíssima importância a esses argumentos. • O principal argumento austríaco, elaborado por Mises é que no socialismo não é possível o cálculo econômico. Com isso, o socialismo está fadado ao fracasso. • O argumento dispensa os demais pois vale mesmo caso os demais argumentos se provem falsos. Mesmo que o estado seja genuinamente interessado em atender os interesses públicos e consiga atingir a eficiência gerencial, ele não será capaz de fazê-lo. 50 O Cálculo Econômico • Assim, mesmo que o estado atinja a eficiência gerencial, sem os preços de mercado ele será incapaz de alocar eficientemente os recursos, pois não é possível o planejamento central racional. • Preços criados pelo governo não refletem a escassez de recursos e não geram, na verdade mascaram, as informações transmitidas pelos preços de mercado. • Logo, faltam as informações vitais providas pelos preços de mercado, que viabilizam o cálculo econômico. • O sistema de preços sintetiza uma quantidade enorme de informações, que não podem ser recriadas por outro meio, uma vez que a economia é demasiadamente complexa para ser perfeitamente compreendida e, portanto, mimetizada por burocratas, por isso o planejamento central não funciona. 51 Preços e a Resposta Socialista • A resposta socialista, por Lange e Taylor (1938), rica em sarcasmo ao reconhecer a contribuição do Prof. Mises ao socialismo, foi que o governo faria um sistema de preços de equilíbrio geral da mesma forma que o sistema capitalista, mas administrado pelo governo, com as “correções necessárias” sendo empregadas. • Em uma economia socialista, o dinheiro não precisa mudar de mãos, sendo usado apenas para fins contábeis. • Nesse sentido, os planejadores centrais poderiam anunciar um conjunto de preços e perguntar as ofertantes e demandantes quais as quantidades ofertada e demandada que prevaleceriam àqueles preços. 52 Preços e a Resposta Socialista • Esse processo de tentativa e erro se aplicaria ao processo produtivo e raramente ou nunca ao consumidor final (lógico que não ia dar certo). • Esses administradores escolheriam a quantidade que maximizaria o lucro hipotético (contábil). • Se a demanda (efetiva) fosse maior que a quantidade ofertada, o preço administrado aumentaria, se fosse menor, o preço hipotético cairia. • Os preços seriam continuamente administrados dessa forma em todos os mercados até que as quantidades se equilibrassem. • Dessa forma, os planejadores centrais engendrariam um equilíbrio geral econômico. 53 A Tréplica Austríaca • A academia (em geral) concordou, teoricamente, com a resposta socialista, e as altas taxas de crescimento que o bloco socialista – mas a renda per capita ainda era muito abaixo da dos países capitalistas centrais - apresentava à época contribuíram para dar uma aparente (e falsa) vitória aos socialistas nesse debate. • Apesar do reconhecimento pela academia que o mecanismo proposto pelos planejadores socialistas para mimetizar o mercado poderia eventualmente ser capaz de encontrar um conjunto de preços de equilíbrio. • O erro socialista é que a economia descrita não apresenta um mecanismo de incentivos que resulte em progresso econômico. 54 A Tréplica Austríaca • A economia não utilizaria a informação econômica de forma proveitosa, portanto, não haveria inovações, nem novas formas de produzir ou atender às necessidades dos consumidores. • Dois principais fatores explicam esse fato. • Primeiro, a informação não advém dos consumidores, logo, não se tem como testar o sucesso ou não das inovações. • Segundo e mais importante, na ausência de lucros reais, benefícios reais à melhoria da atividade econômica, não há sistema posto que estimule os produtores a reduzir custos e melhorar a qualidade dos produtos. • Segundo Mises, isso leva à estagnação econômica. 55 A Tréplica Austríaca • O sistema estático proposto pelos socialistas (assim como o proposto pelos neoclássicos) pode até encontrar um conjunto de preços quando a oferta e a demanda de bens ficam imóveis. • Hayek admite que os burocratas possam resolver o sistema estático, mas esse subconjunto dos preços de mercado não deve refletir as genuínas aspirações das pessoas. • Encontrar os preços que geram o equilíbrio estático é apenas parte do problema. • Além disso, o conhecimento descentralizado na sociedade não será coordenado pelo sistema estático. 56 O Mercado no Cálculo Econômico: O Conhecimento Descentralizado • Em função de o conhecimento ser tácito, e devido ao fato de as pessoas terem conhecimentos contraditórios, não seria possível agregar o conhecimento descentralizado, logo, não seria possível sintetizar artificialmente o conhecimento de modo que o planejador central possa usá-lo com proveito. • Os indivíduos realizam o cálculo econômico baseados na melhor informação que têm acerca das atividades econômicas dos demais agentes, bem como no próprio conhecimento. • O mercado provê o feedback acerca do valor de suas atividades. 57 O Mercado no Cálculo Econômico: O Conhecimento Descentralizado • O conhecimento é tácito, subjetivo e nem sempre quantificável. • Os planejadores centrais nunca conseguirão sintetizar o conhecimento descentralizado para fazer julgamentos acerca dos participantes do “mercado”. • O conhecimento econômico não é apenas uma coleção de fatos quantificáveis, mas sempre um conhecimento incompleto, especulativo, incerto e difuso. • Empresas estatais raramente conseguem obter lucros, mesmo quando têm monopólios, que dirá na ausência de preços reais e de informações dos consumidores transmitidas via preços. 58 O Mercado como Sistema Complexo • Um sistema complexo é um em que os componentes interagem de tal forma que sua interação não pode ser prevista. • Uma economia de mercado é um sistema complexo e um sistema auto-organizado. • O mercado é capaz de coordenar toda a atividade produtiva de todos os participantes para produzir um resultado ordenado, em detalhes que não podem ser conhecidos a priori. • Todo empreendedor busca um lucro estimado e calculado, graças à existência de risco, ainda que nem todos o obtenham. 59 O Mercado como Sistema Complexo • As demandas das pessoas por bens e serviços são revelados como resultado da atividade de mercado, e são informações que não existem até que sejam reveladas pelo mercado. • Não há como o planejador econômico obter essas informações fora do mercado que as gera. • Se uma inovação adiciona ou não valor ao mercado, isso será conhecido muito após a tomada dessa decisão, ao confrontar a oferta com as demandas individuais dos consumidores e assim se determinar preços, quantidades e, portanto, lucros. • Isso não pode ser conhecido de antemão. 60 O Mercado como Sistema Complexo • Ainda que tudo isso pareça óbvio, os modelos de equilíbrio geral e de crescimento usando equilíbrio geral são, em sua maioria, determinísticos. Assim, as condições iniciais no presenteimplicam uma determinada trajetória para a economia, o que leva à crença que os economistas ou policy- makers podem afetar hoje parâmetros que determinam a trajetória da economia de forma previsível. • Se o modelo funciona de certa forma, a crença é que a economia também funcionaria assim, logo, essa é uma porta aberta para a intervenção. • O approach austríaco do processo de mercado, onde indivíduos tomam decisões sob incerteza e informação incompleta (e possivelmente contraditória) não é determinístico, pois depende de elementos subjetivos. 61 O Mercado como Sistema Complexo • Ainda que a análise econômica permita fazer previsões gerais sobre a direção futura da economia, não há como, a princípio, prever os detalhes. • A ideia de que os formuladores de política têm como alocar recursos mais eficientemente que as decisões descentralizadas do mercado é o que Hayek (1988) chama de Fatal Conceit (Vaidade Fatal). • Hayek enfatiza que o cálculo econômico racional deve ser descentralizado, elaborado por indivíduos que detenham conhecimento descentralizado. • A natureza complexa da economia oferece um argumento que embasa a tese austríaca de que a economia Socialista não tem como realizar o cálculo econômico. 62 O Mercado como Sistema Complexo 63 A Economia Mista • Naturalmente que a organização econômica nem sempre (i.e. quase nunca) pode ser classificada nos extremos (livre mercado ou economia socialista planificada). • Seria o caso de uma economia mista que em diferentes gradações pode ser conhecida ou classificada como o Socialismo Fabiano, Social Democracia, Populismo, Intervencionismo, Capitalismo de Estado, etc. • Trata-se de “uma” economia em que há uma combinação de produção via mercado para alguns bens e serviços e a produção (e/ou intervenção) do governo em outros. • Pessoas identificam problemas na alocação do mercado e clamam por uma intervenção (maior ou menor) do governo. 64 A Economia Mista • O argumento seria que o mercado é bom para produzir bens e serviços, “MAS precisa ser regulamentado e para criar resultados ‘justos’ e corrigir ‘falhas’ que os mercados por vezes exibem.” • O ponto de vista austríaco é que a economia é um sistema complexo, e a intervenção do estado pode levar a problemas adicionais não antecipados, além de, muito provavelmente, a não solução do problema inicial. • Por vezes, o problema é aparente, mas as pessoas não são capazes de identificar que ele deriva de uma intervenção do governo, ou crêem que intervenções adicionais podem levar a uma situação preferível. 65 A Economia Mista • Ikeda (1997) identifica a dinâmica (usual) da economia mista: uma intervenção leva a outra e, como resultado da escolha da sociedade por uma economia mista, vai-se distanciando gradativamente da economia de mercado, em direção ao planejamento central. • Com isso, na medida em que os preços se distanciam daqueles que seriam obtidos no processo de mercado, por intermédio das intervenções, a informação transmitida incialmente pelos preços é perdida, dificultando ou impossibilitando o cálculo econômico. • Com isso a coordenação descentralizada da economia é substituída pelo processo decisório do governo. • Isso leva a uma alocação de recursos cada vez menos racional. 66 A Economia Mista • Por esse motivo, os economistas austríacos clamam por uma limitação ao tamanho e ao escopo do estado. • O argumento intervencionista de “usar o mercado onde ele funciona melhor e o governo onde ele funciona melhor” ignora as complexidades do processo de mercado e da natureza da economia. • É a vaidade fatal (Fatal Conceit) a que se refere Hayek. 67 O Progresso Econômico • Como vimos, o progresso econômico não advém primordialmente de uma administração impecável dos processos e da utilização de recursos das firmas. • Não se “maximiza” os lucros, no sentido clássico. • A parte mais importante da gestão da firma é o empreendedorismo, ligado à inovação, ao avanço da produtividade (levando a menores preços), à melhoria dos produtos (elevando seu valor para o consumidor). • É isso que gera o valor que os clientes procuram e que permite que eles estejam dispostos a pagar mais pelo produto (ou que um dado produto passe a custar menos, gerando mais lucro). 68 O Progresso Econômico • O progresso econômico, portanto segue do aumento do valor adicionado pela atividade empresarial à sociedade e esse valor pode ser medido por meio dos lucros. • Uma empresa, ao ser pioneira em reduzir custos consegue auferir lucros, e ela teve de empreender, assumindo riscos, para fazê-lo. • E ao fazê-lo elevou o valor agregado da sociedade. Ela o fez para obter lucros e são eles a motivação pela qual ela empreendeu. O mesmo vale para um novo produto que valha mais para o consumidor. • A economia neoclássica vê os lucros como sintoma de ineficiência – o que faz sentido na ausência de empreendedorismo e inovação, mas não em sua presença. 69 O Progresso Econômico • A economia neoclássica enxerga duas principais possibilidades para a geração de lucros: • A existência de diferenciação de produtos, que levaria a um poder de monopólio, que teria como consequência a uma produção sub-ótima, levando a uma ineficiência. • A um monopólio ligado à propriedade de algum fator de produção que não tenha acesso livre a outras empresas – por vezes uma concessão pública de funcionamento, como as empresas de ônibus, por exemplo. • Ao não enxergar os lucros como o aproveitamento de uma oportunidade de mercado, que levou a uma melhoria do bem estar social, se ignora a dinâmica e o incentivo posto para o progresso social via mercado. 70 O Progresso Econômico • Se olharmos para a história econômica do mundo, veremos que os avanços se deram quando estavam postos os incentivos para a inovação. • Incialmente, o uso de instrumentos rudimentares para a agricultura elevou a produtividade e reduziu a necessidade de se deslocar de regiões para se manter um fluxo adequado de provisões, permitindo o aparecimento das primeiras aglomerações urbanas. • Uma vez estabelecido esse processo até um certo nível de sofisticação tecnológica que envolveu o uso do metal e do fogo a renda e expectativa de vida estagnaram. • Foi a Revolução industrial que permitiu o aparecimento de incentivos corretos ao empreendedorismo e que elevou fortemente a renda e a expectativa de vida da população. 71 O Bem Estar Econômico • As análises neoclássicas de bem estar estudam as ineficiências econômicas sob um ponto de vista estático, que, como vimos identifica que o lucro é reflexo das presença das referidas ineficiências. • Isso leva a tentativas de intervenção e limitações dos lucros de mercado. • Já o processo de mercado enxerga os lucros como uma maximização de bem estar ao longo do tempo. • A melhoria de bem estar seria um processo em curso, que decorreria das inovações decorrentes da atividade empreendedora, que adicionam valor à economia. 72 O Bem Estar Econômico • O bem estar é maximizado pela atividade empresarial continuada, que reduz custos e eleva a qualidade dos bens e serviços. • Logo, os esforços substanciais que são envidados no sentido de regulamentar a concorrência pode trazer mais mal que bem. • Devemos nos lembrar que quando transações ocorrem voluntariamente é porque ambas as partes ganham com isso, significa que os dois lados elevam seu bem estar (Herberner, 1997). Quando o governo intervém não há garantia alguma de que ele vá conseguir elevar o bem estar por meio da coerção e da taxação. 73 O Bem Estar Econômico • Os economistas da Escola Austríaca não têm um acordo uniforme do papel do estado na economia, mas concordam que por meio de modelos estáticos se ignora parte do processo. • Além disso, esses modelos estáticos tendem a justificar intervenções crescentes nos mercados, por dois motivos: 1. Os modelos estáticos identificam lucros com ineficiências econômicas, sem considerarque o progresso econômico é impulsionado por eles; 2. Os modelos estáticos são excessivamente otimistas quanto ao papel da alocação de recursos e não preveem os efeitos danosos que podem advir da intervenção. 74 O Bem Estar Econômico • Os austríacos enfatizam que o aproveitamento das oportunidades de lucro elevam o valor agregado à sociedade e que esses lucros eventualmente são corroídos pela entrada de novas firmas e o aumento da concorrência, que se dá pelo efeito da imitação. • Intervenções acabam por puxar novas intervenções, afastando a economia do livre mercado, e impedindo a ação do processo de mercado em criar valor. • Por isso a Escola Austríaca de Economia é vista como mais pró-mercado e isso é reflexo do seu entendimento do que seja o processo de mercado. 75 MOEDA, BANCOS E O CICLO DE NEGÓCIOS 76 A Teoria Austríaca dos Ciclos • A Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos – TACE - (Austrian Business Cycle Theory – ABCT) nasceu dos trabalhos de Ludwig Von Mises, e é essencialmente, uma teoria monetária. • Em Theorie des Geldes und der Unlaufsmittel, em 1912, Mises começou a escrever a Teoria enquanto ainda vigorava o Padrão Ouro, e atribuiu ao sistema de reservas fracionárias a principal causa dos ciclos. • Hayek desenvolveu sua teoria, ao aplicá-la ao sistema de Moeda Fiduciária que seguiu o Padrão Ouro. • Antes de entendermos suas consequencias, é necessário entender alguns conceitos que a fundamentam. 77 O Padrão-Ouro • Padrão que regia o sistema monetário dos países, sendo a unidade de conta e o lastro da moeda definido em termos de ouro. Foi formalmente estabelecido pela primeira vez em 1821 na Inglaterra e nos EUA em 1873. • Pode ser dividido em três tipos: • Gold Specie Standard: a unidade monetária é associada à circulação de moedas de ouro, mas outras moedas poderiam ser feitas de outros metais menos valiosos; • Gold Bullion Standard: Um sistema em que as moedas de ouro não circulavam, mas em que as autoridades concordavam em converter moeda em barras de ouro a uma taxa conversão específica; • Gold Exchange Standard: O governo mantém uma taxa de câmbio fixa em relação às outras moedas que usam um dos tipos anteriores de padrão ouro, criando um “Padrão ouro de facto”. 78 O Padrão-Ouro • De acordo com esse sistema, a oferta de moeda estaria sempre associada à quantidade de ouro disponível aos cofres públicos (mais tarde, aos Bancos Centrais). • O aumento da quantidade de ouro permite o aumento direto da quantidade de moeda em circulação no Gold Specie Standard, também era requerido para que se pudesse emitir moeda sob o Gold Bullion Standard. • O Gold Exchange Standard requer que se tenha relações comerciais superavitárias com países que adotam o padrão ouro para se elevar a oferta de moeda, e se requer uma contração na oferta de moeda em caso de déficit. 79 O Padrão-Ouro • O Gold Exchange Standard requer uma explicação adicional. • Considere um país com o Gold Exchange Standard e que apresente superávits comerciais. • Seus superávits provavelmente decorrem de seus produtos serem mais baratos que os dos concorrentes no mercado internacional, motivo pelo qual exporta mais bens que importa. • Como o câmbio é fixo, ao receberem ouro (ou a moeda lastreada em ouro) excedentes provenientes das transações externas, esse será entregue à autoridade monetária, para que essa seja convertida em moeda doméstica, para remunerar os exportadores. 80 O Padrão-Ouro • Isso implica um aumento da quantidade de moeda no país exportador, que derivou do superávit. • Essa moeda adicional vai gerar inflação no país doméstico, logo, vai elevar os custos dos bens exportados e, como o câmbio é fixo, vai reequilibrar os preços dos bens importados em relação aos nacionais. • Com isso, o sistema tende a eliminar superávits. • Se o país tem um déficit, ocorre o movimento oposto: a demanda por ouro que excede a oferta vai implicar uma contração da oferta de moeda e deflação, levando a uma redução dos custos e consequente aumento das exportações e redução das importações, reduzindo o déficit. • O sistema, portanto, tende ao equilíbrio. 81 O Padrão-Ouro 82 Mercado de Câmbio (setor externo) Equilíbrio Macroeconômico (interno) e q Y P OA DA eGOV OUS$ DUS$ eGOV eM Suponha um país com superávit comercial, logo, a oferta de dólares é maior que a necessária para se atingir a taxa de câmbio determinada pelo padrão-ouro. P0 Y0 O Padrão-Ouro 83 Mercado de Câmbio (setor externo) Equilíbrio Macroeconômico (interno) e q Y P OA DA’ eGOV OUS$ DUS$ eGOV eM D’US$ M ↑ DA Y1Y0 P0 P1 q0 q1 Dólar Fiduciário x Dólar Conversível 84 O Sistema de Reservas Fracionárias • Sistema no qual os bancos comerciais não são obrigados a manter uma relação de 1 para 1 entre o valor dos depósitos à vista e o valor das reservas bancárias que os mesmos detém, a todo tempo. • Isto significa que os bancos podem emprestar valores que, na verdade, podem ser instantaneamente sacados por terceiros (ver Rothbard, 2010). • O sistema funciona da seguinte forma: os correntistas depositam X em suas contas correntes e, portanto, têm o direito de sacar e usar esse valor X prontamente, assim que desejarem. • Mas os bancos percebem que os clientes não sacam, em média, mais que uma proporção Y% de X. 85 O Sistema de Reservas Fracionárias 86 Murray N. Rothbard O Sistema de Reservas Fracionárias • Portanto, os bancos entendem que podem emprestar (pelo menos uma parte) da proporção (1- Y%) do valor X. • Os bancos podem, por prudência, emprestar menos que (1 – Y%), guardando uma proporção Z% para acomodar flutuações nos saques. • Então, os bancos podem emprestar (1 – Y% – Z%) de X. • Esses empréstimos retornam à economia sob a forma de moeda nova, de modo que se todos os clientes dos bancos procurarem sacar seus depósitos ao mesmo tempo, os bancos não terão dinheiro para saldá-los. • Note também que o tomador de empréstimos pode mantê-los sob a forma de depósitos, aumentando ainda mais o efeito. 87 O Sistema de Reservas Fracionárias 88 O Sistema de Reservas Fracionárias 89 Provisão para saques Reservas Empréstimos Moeda nova A Estrutura de Capital • A Teoria do Capital Austríaca foi formulada principalmente por Böhm-Bawek, discípulo de Menger. • Classificava a estrutura de capital em função do grau de elaboração da mesma em termos do tempo necessário para a produção do bem final. • Quanto mais elaborado o bem final, maior o tempo necessário para a produção de um bem, logo, mais complexo o processo produtivo e, portanto, a estrutura de capital da economia. • Uma maçã requer terra e uma macieira. Um avião requer todo um aparato para extrair minerais, beneficiá-los, transformar em aço, fibra de carbono, composites, além da produção de eletrônicos diversos, vidro de alta tecnologia, etc, etc. 90 A Estrutura de Capital • O tempo requerido, quando se conta isoladamente todas as etapas de produção do avião é muito maior que no caso da maçã. • O avião requer inúmeros insumos, comprados em outras empresas, que por sua vez compraram insumos em outras empresas e assim por diante. • A maçã, por exemplo, que é um produto vendido diretamente ao consumidor, é, de acordo com a nomenclatura de Böhm-Bawerk, um bem de primeira ordem. • Os insumos usados para produzir a maçã são bens de ordens superiores. 91 A Estrutura de Capital 92 Eugen Von Böhm-Bawerk A Estrutura de Capital • Uma estrutura de capital mais complexa, necessária para produzir um bem mais complexo e tempo-intensivo é denominada por Böhm-Bawerk uma economia mais “Roundabout”. • Naturalmente, uma economia menos sofisticada possui uma estrutura de capital menos “Roundabout”. • O grau de complexidade da estrutura de capital depende dos investimentos que, sabemos, são relacionados à poupança, que é a renda não consumida. • A Escola Austríaca, ao contrário da keynesiana, pressupõe que apoupança precede o investimento. • O custo do dinheiro para investimentos, sabemos, é a taxa de juro. 93 A Estrutura de Capital • Böhm-Bawerk então relaciona investimentos a juros. • Quando aumenta a oferta de poupança, os juros caem: 94 i SD SS SS’ i1 i0 S, I S1S0 A Estrutura de Capital • A queda dos juros têm três efeitos principais: 1. Eleva a lucratividade líquida dos investimentos (ou seu valor presente líquido – VPL) tornando mais projetos de investimento, notadamente os de longo prazo (mais Roundabout) mais rentáveis, estimulando esse tipo de investimento; 2. Sinaliza aos empresários uma redução no consumo no curto prazo, que se dá por meio do aumento da poupança: mais renda deixa de ser consumida, por isso há mais recursos disponíveis para empréstimos. 3. Sinaliza aos empresários um aumento no consumo no futuro, pois mais poupança significa mais consumo adiado, o que ajuda a estimular investimentos de longo prazo. 95 A ABCT • Uma expansão na quantidade de moeda aumenta a oferta de recursos emprestáveis, assim como um aumento de poupança teria feito. • Isso passa aos investidores a sinalização para investir mais no longo prazo em detrimento dos bens de consumo de ordens menores e aos consumidores a sinalização de poupar menos, e consumir mais bens de todas as ordens. • Produz-se uma descoordenação na economia. • Para explicitar essa descoordenação, vamos recorrer ao expediente que F.A. Hayek adotou em sua palestra à London School of Economics no início dos anos 1930. 96 Os Triângulos de Hayek • Representam a estrutura de capital e o consumo, ao mesmo tempo, em duas dimensões, tempo (relativo ao processo produtivo) e o total de gastos do consumidor em bens de primeira ordem: 97 Valor gasto ($) Tempo no processo produtivo R0 Os Triângulos de Hayek • Note que os triângulos aproximam a área das barras que descrevem cada setor de produção vis-à-vis seu valor agregado: 98 Valor gasto ($) Tempo no processo produtivo Os Triângulos de Hayek • Uma economia em “equilíbrio” têm os vetores de oferta (VOA) e de demanda agregadas (VDA) sobrepostos: 99 Valor gasto ($) Tempo no processo produtivo Os Triângulos de Hayek • Um aumento legítimo na poupança reduz o consumo e o investimento em produtos finais, elevando o investimento e o grau de “Roundaboutness” da economia, que passa a outro patamar de “equilíbrio”: 100 Valor gasto ($) Tempo no processo produtivo R0 A ABCT • BOOM: Um aumento na quantidade de moeda, seja por conta do aumento de crédito promovido pelo sistema de reservas fracionárias, seja por uma expansão monetária (que os austríacos chamam inflação) descoordena a oferta e a demanda intertemporais: 101 Valor gasto ($) Tempo no processo produtivo R0 VOA VDA A ABCT • O investimento na produção de mais longo prazo e valor agregado aumenta, parcialmente em detrimento dos bens de primeira ordem. Com isso, se eleva a renda dos trabalhadores, que elevam o consumo em todos os tipos de bens, inclusive porque a queda dos juros desestimula a poupança. • Logo, Há um aumento na demanda por bens de ordens inferiores em concomitância com um aumento na oferta por bens de ordens maiores, a mais longo prazo. • Ocorre uma mudança dos preços relativos, em favor dos bens de ordens inferiores, cuja demanda aumentou e a oferta caiu. Isso incentiva o investimento em bens de ordens inferiores. 102 A ABCT • Como os investimentos de longo prazo ainda não maturaram e a poupança caiu, há escassez de poupança para financiar os novos investimentos em bens de consumo – estimulado pela elevação de seus preços relativos. • Isso leva a um aumento na demanda por crédito (ou um “cabo de guerra” no mercado de crédito, como diria Hayek), que reverte os sinais de mercado, realocando novamente os vetores de oferta e demanda agregada. Não só os preços relativos se alteram, os preços, em geral, sobem, mas em velocidades diferentes. • Surge a figura dos MALINVESTMENTS: investimentos que foram realizados incorretamente, em função de erros de previsão. Nesse caso, induzidos pela poupança forçada. 103 A ABCT • CRASH: Uma queda na quantidade real de moeda, por conta do aumento da demanda de crédito pelos setores de ordem inferior e por conta de uma contração da poupança invertem os vetores novamente: 104 Valor gasto ($) Tempo no processo produtivo R0 VOA VDA A ABCT • ESTABILIZAÇÂO: O reequilíbrio dos juros e dos preços relativos levam o VDA e o VOA de volta ao equilíbrio inicial. A economia passou por um boom, em seguida por uma recessão e, depois tende a voltar à uma nova situação de equilíbrio. 105 Valor gasto ($) Tempo no processo produtivo R0 VOA VDA A ABCT • A expansão dos meios de pagamento leva a uma expansão artificial da economia que tem em suas próprias causas da semente da recessão corretiva que restaura a economia a uma trajetória sustentável. • O governo, portanto, ao tentar estabilizar os ciclos econômicos, os magnifica, tornando o investimento contraproducente em parte do período, atrapalhando o progresso econômico, ao distorcer preços relativos e recompensas dos investidores. • Ao distorcer um preço (a taxa de juros) o governo – ou o sistema de reservas fracionárias – passou informações incorretas ao mercado e que foi induzido ao erro. 106 Outras Razões para o Ciclo • O fato de os austríacos desenvolverem uma teoria de ciclos com base nas oscilações monetárias não implica que outras razões não possam gerar um ciclo ou contribuir com o mesmo. • Schumpeter definiu o processo de empreendedorismo (necessário ao progresso econômico) como um mecanismo de destruição criativa. • Cada avanço que gera um novo produto ou processo acaba por eliminar o anterior, causando uma ruptura da atividade da produção do processo anterior, destruindo-a, para dar lugar ao novo processo mais eficiente ou vantajoso. Assim, há a destruição criativa. 107 Outras Razões para o Ciclo • Kirzner vê de outra maneira. A percepção de que há um espaço antes inexplorado oferece a oportunidade de criação de novas atividades e firmas que geram progresso e atendem à demanda previamente não atendida. • Sendo assim, dependendo do setor, de sua dinâmica e do processo de substituição entre os setores pode ser que os dois efeitos se anulem ou que um deles predomine por um período. • Se o conceito de Schumpeter predominar, a expansão de uma atividade pode eliminar muitas outras até que a nova se instaure por completo e “compense” sua destruição, podendo gerar ciclos econômicos no processo. 108 Outras Razões para o Ciclo 109 Israel N. Kirzner Free Banking • Diversas soluções foram propostas para acabar com o papel pró-cíclico dos Bancos Centrais e do sistema de reservas fracionárias. • Desde bancos centrais independentes a recolhimentos compulsórios a 100% (impedindo o sistema de reservas fracionáris) já foram propostos. Cada um com seu grau de sucesso. • Uma linha de pesquisa proposta por Hayek em A Desestatização do Dinheiro ganha força, entre os austríacos: o Free Banking. • A concessão da liberdade aos bancos de emitir moeda, em concorrência aos bancos centrais. 110 Free Banking • Assim o público poderia escolher a moeda que prefere utilizar em função do comportamento do emissor (que, devido à concorrência, não poderá emitir exageradamente e perder valor, sob pena de perder a clientela e o poder de senhoriagem). • A concorrência limitaria as emissões e os efeitos das expansões monetárias por um só emitente, reduzindo os efeitos de políticas do governo central sobre a economia. • É um setor cujas pesquisas estão em expansão e pode significar a implantação de um limite real à ação e aos malefícios causados pelo Estado. 111 Vielen Dank! 112 Mises & Hayek ANEXO Funções da Moeda, Agregados Monetários, Criação e Destruição de Moeda e o Multiplicador Bancário. 113 Funções da Moeda • Meio de troca: • Osagentes econômicos usam a moeda para fazer transações de compra e venda, recebendo ou entregando moeda. • Unidade de conta: • É difícil comparar o valor de um bem com o de todos os outros bens se não há uma base única de comparação. A moeda exerce esse papel, funcionando como maneira de comparar e contabilizar valores, mesmo se estivermos medindo bens distintos. • Reserva de Valor • Os agentes econômicos, ao trocar um bem ou serviço por moeda, têm a opção de reter esse poder de compra para utilizá-lo em outro momento. 114 Características da Moeda • Divisibilidade: • A moeda deve ser divisível, para facilitar as transações com bens de valores diferentes e/ou fracionáveis; • Durabilidade: • A moeda deve ser durável, de modo a permitir que sirva de reserva de valor, o que eleva sua aceitação. • Portabilidade: • A moeda deve ser portátil, prática de ser levada onde quer que se façam as transações. Também deve ser prática o suficiente para ser estocada sem que isto implique custos proibitivos de estocagem. 115 História da moeda • Nos tempos antigos, as pessoas realizavam trocas por escambo. • Com o tempo, a necessidade de se transacionar com diversos agentes, trocando-se bens diferentes, iniciou-se a prática de utilizar como moeda bens de aceitação universal, que tivessem as características de portabilidade, divisibilidade e durabilidade. • Foram usados como moeda o sal, o gado, o trigo e metais preciosos. • Com o tempo, o advento dos bancos e a necessidade de portabilidade levou à possibilidade de se transferir as somas de metais por meio de certificados de depósitos. 116 História da moeda • Esses certificados eram transferíveis e suas características de portabilidade foram bem aceitas. • O Estado começou a encampar a emissão de moeda, o que não necessariamente foi um avanço. Os governos começaram a obter ganhos de senhoriagem ao emitir moeda. • Na fase seguinte, começou-se a emitir papel-moeda conversível, com lastro em ouro e prata (padrão-ouro). • Ao longo do tempo, a conversibilidade acabou e a moeda passou a ter valor em função de seu valor de uso como meio de troca, não mais em função de seu valor intrínseco. 117 Quem emite a moeda? • Hoje em dia, o principal emissor e controlador da quantidade (oferta) de moeda é o Banco Central. • Mas não é só o Banco Central que emite moeda. • Os bancos comerciais – que são aqueles que recebem Depósitos a Vista – também emitem moeda. • Isto ocorre porque os depósitos à vista, que não recebem juros, têm de estar sempre disponíveis para saque, MAS, os bancos observaram que a maioria dos depositantes não sacam o dinheiro prontamente. • Isto lhes confere a habilidade de emprestar uma parte da moeda que recebem via depósitos, recebendo juros, mantendo apenas a outra parte em caixa, caso alguém venha sacá-la. Assim se cria moeda. 118 O Sistema Financeiro e os Meios de Pagamento • Os meios de pagamento consistem, primariamente, de dois componentes: • Papel-moeda em poder do público (+ moedas metálicas) • Depósitos a Vista nos Bancos Comerciais (que criam moeda). • Os depósitos a vista nos bancos comerciais também são chamados de: moeda bancária e de moeda escritural. 119 O Sistema Monetário e os Meios de Pagamento • Como o Banco Central (por força de lei) e os Bancos Comerciais (em função da fidúcia, ou confiança) emitem moeda, o conjunto das duas instituições é conhecido como o SISTEMA MONETÁRIO. • O Sistema monetário faz parte do Sistema Financeiro (que também inclui outras instituições bancárias que não recebem depósitos à vista, logo, não emitem moeda, como os Bancos de Investimento, de Fomento, Financeiras, etc). • O SISTEMA MONETÁRIO emite os meios de pagamentos na sua versão básica: M1. 120 A Base Monetária • Consiste em uma medida monetária ainda mais básica, a partir da qual são calculadas as demais, inclusive o M1. • A base monetária é chamada de “High-Powered Money” – dinheiro de alto poder (de compra), por isso usamos a notação H. • A Base é composta pelo Papel Moeda em Poder do Público (PMPP) (que é o papel moeda emitido menos o que está em poder do sistema monetário) e da “moeda dos bancos”, as reservas bancárias (que vamos chamar de β). • Logo, a base, H, é: = � + • Onde = � ∙ ��, onde R = r1 + r2+ r3 (que serão definidos) 121 A Base Monetária • No que constitui a base monetária: • Note que o PMPP não inclui os ítens 2.1 e 2.2, mas a base monetária sim. A base inclui todo o PMC + reservas no BC. 122 Base Monetária (= 1 + 2) 1) PMPP 2) Reservas Totais dos Bancos Comerciais (= 2.1 + 2.2) 2.1) Em moeda corrente 2.2) Em depósitos no Banco Central (= 2.2.1 + 2.2.2) 2.2.1) Voluntárias 2.2.2) Compulsórias Os Agregados Monetários • PME: Papel Moeda emitido = Papel moeda + moedas metálicas emitidas pelo Banco Central. • PMPP: PME MENOS papel moeda e moedas metálicas em poder do SISTEMA MONETÁRIO (Banco Central + Bancos Comerciais). • M1 = PMPP + DV, onde DV são os depósitos a vista. • M2 = M1 + Títulos Federais em poder do público (Menos o que estiver em poder do TN e do Sist. Monetário) • M3 = M2 + Depósitos de Poupança (Menos o que estiver em poder do TN e do Sistema Financeiro (≠ Sist. Monetário)). • M4 = M3 + Depósitos a Prazo (Menos o que estiver em poder do TN e do Sistema Financeiro) 123 Papel Moeda 124 Papel Moeda Emitido Papel Moeda 125 Papel Moeda Emitido (PME) Em poder do Banco Central Em poder do resto: Papel Moeda em Circulação (PMC) Papel Moeda 126 Papel Moeda Emitido (PME) Em poder do Banco Central Em poder do resto: Papel Moeda em Poder do Público (PMPP) Em poder dos Bancos Comerciais Base Monetária 127 Papel Moeda em Poder do Público (PMPP) Papel Moeda em Poder dos Bancos Comerciais Note que isto é DIFERENTE do Papel Moeda em Poder do Banco Central Reservas Bancárias dos Bancos Comerciais no Banco Central Voluntárias Compulsórias M1 128 Papel Moeda em Poder do Público (PMPP) Note que isto é DIFERENTE de reservas bancárias Depósitos à Vista nos Bancos Comerciais M2 129 Papel Moeda em Poder do Público (PMPP) Papel Moeda em Poder dos Bancos Comerciais Títulos Públicos Federais Depósitos à Vista nos Bancos Comerciais M3 130 Papel Moeda em Poder do Público (PMPP) Papel Moeda em Poder dos Bancos Comerciais Títulos Públicos Federais Depósitos à Vista nos Bancos Comerciais Depósitos de Poupança M4 131 Papel Moeda em Poder do Público (PMPP) Títulos Públicos Federais Depósitos à Vista nos Bancos Comerciais Depósitos de Poupança Títulos a Prazo Os Balanços do Sistema Monetário Balancete dos Bancos Comerciais Ativo Passivo Reservas Bancárias a) Em moeda corrente Depósitos à vista b) Junto ao Banco Central Empréstimos a pagar b.1) Voluntários Depósitos de poupança b.2) Compulsórios Depósitos a prazo Empréstimos Demais exigibilidades Títulos Patrimônio Líquido (recursos próprios) Imobilizado Outros 132 Os Balanços do Sistema Monetário Balancete do Banco Central Ativo Passivo Reservas Internacionais PME Empréstimos ao Tesouro Depósitos de reservas bancárias no Banco Central Empréstimos aos Bancos Comerciais 1) Voluntários Títulos Públicos Federais 2) Compulsórios Moeda Corrente Depósitos do Tesouro Empréstimos a outras entidades públicas Recursos próprios Imobilizado Empréstimos externos Outros Demais exigibilidades 133 Os Balanços do Sistema Monetário Balancete do Sistema Monetário Ativo Passivo Aplicações do Banco Central Passivo Monetário Títulos Públicos Federais PMPP Empréstimos ao Tesouro Depósitos à Vista Reservas Internacionais Recursos Não-Monetários Empréstimos ao outras entidades públicas Depósitos a Prazo Aplicações dos Bancos Comerciais Depósitos de Poupança Empréstimos ao setor privado Saldo Líquido das demais contas Títulos públicos e Privados Depósitos do Tesouro (BC) Aplicações internacionais EmpréstimosExternos (BC) Imobilizado Saldo Líquido das Demais Contas 134 Criação e destruição de moeda (M1) • Há variação na quantidade de moeda quando muda o passivo monetário E variação em mesmo sentido no ativo OU no passivo não monetário do SISTEMA MONETÁRIO. • Cria-se (se destrói) moeda se se eleva (se reduz) o passivo monetário E aumenta (diminui) OU o ativo OU o passivo não monetário. • Assim: ∆ = ∆������� − ∆ ������ �Ã� ������� ∆�1 = ∆����� ! − ∆ ������ �Ã� ����� ! Onde H = Base Monetária = H = PMPP + Reservas dos Bancos Com. no BC 135 Quando se cria moeda? SM SñM Moeda Haver não monetário Pode ocorrer porque: ∆M > 0 e ∆Ativo (SM) > 0, OU ∆M > 0 e ∆Passivo não Monetário (SM) < 0 136 Quando se destrói moeda? SM SñM Moeda Haver não monetário Pode ocorrer porque: ∆M < 0 e ∆Ativo (SM) < 0, OU ∆M < 0 e ∆Passivo não Monetário (SM) > 0 137 O Multiplicador Bancário • Note que se os bancos comerciais emitem moeda quando emprestam parte dos depósitos à vista que possuem, essa nova moeda pode ser depositada em outros bancos. • Quando depositada em outros bancos, a moeda nova cria a possibilidade de os outros bancos emitirem mais moeda em função dessa moeda que já fora criada por outro banco. • Neste contexto, podemos estabelecer o que chamamos de multiplicador bancário, que indica o quanto vamos ter de aumento de M1 para cada $ 1,00 de aumento de H. 138 O Multiplicador Bancário • Logo, M (moeda, no conceito M1) é uma função da base monetária (H = PMPP+Reservas dos Bancos Com. no BC). • Então, teremos que: � = " • Onde m é o multiplicador monetário. • Mas qual o valor de m? 139 O Multiplicador Bancário • O multiplicador m depende de seis parâmetros • # = $!$$ !% • &% = '( !% • )% = *+,-. /+00,12, -+3 4.1/+3 /+*,0/5.53 '( • )6 = -,7ó352+3 9+:;12á05+3 -+3 4.1/+3 /+*,0/5.53 1+ �.1/+ �,120.: '( • )= = -,7ó352+3 /+*7;:3ó05+3 -+3 4.1/+3 /+*,0/5.53 1+ �.1/+ �,120.: '( • � = >1/.5?, 2+2.: -+3 4.1/+3 /+*,0/5.53 '( = )% + )6 + )= • β = R ⋅DV = Depósitos (no BC) e encaixes dos Bancos Comerciais • Como M1 = PMPP + DV, então: c + d1 = 1. 140 O Multiplicador Bancário • Temos então, que: = #� + �&%� • Como c = 1 – d1: = (1 − &%)� + �&%� = � − �(1 − �)&% � = 1 − &%(1 − �) 141 O Multiplicador Bancário • Dividindo ambos os lados por H: " = 1 1 − &%(1 − �) • Note também que: ∆� = ∆ 1 − &%(1 − �) 142 REFERÊNCIAS 143 Referências •Obrigatórias: •Holcombe, Randall G. An Advanced Introduction to The Austrian School of Economics. Elgar, 126p. • Iorio, Ubiratan J. Ação, Tempo e Conhecimento: A Escola Austríaca de Economia. Instituto Mises Brasil, 2011. 144 Referências • Complementares: • Böhm-Bawerk, Eugene Von (1884, 1889 e 1909). Capital and Interest (3 Vols.) Reprinted in 1959. South Holland, IL: Libertarian Press. • Hayek, F.A. (1935). Prices and Production 2nd Ed.. New York: Augustus M Keller. • Hayek, F.A. (1988). The Fatal Conceit. Chicago, IL: University of Chicago Press. • Hayek, F.A. (2011). A Desestatização do Dinheiro. São Paulo: Instituto Ludwig Von Mises Brasil, 166p. • Herbener, Jferrey, M. (1997). “The Pareto Rule and Welfare in Economics”. Review of Austrian Economics, 10(1), 79-106. 145 Referências • Ikeda, Sanford (1997). Dynamics of the Mixed Economy: Toward a Theory of Interventionism. London: Routledge. • Kirzner, Israel (1973). Competition and Entrepreneurship. Chicago, IL: University of Chicago Press. • Langlois, Richard N. (2007). “The Entrepreneurial Theory of the Firm and the Theory of the Entrepreneurial Firm”. Journal of Management Studies, 44(7), November, 1107-24. • Langlois, Richard N. (2013). “The Austrian Theory of the Firm: retrospect and prospect” Review of Austrian Economics, 26(3). September, 247-58. • Lange, Oskar and Fred M. Taylor (1938). On The Economic Theory of Socialism. Minneapolis, MN: University of Minnesota Press. 146 Referências • Menger, Carl (1871). Principles of Economics. Reprinted in 1976. New York: New York University Press. • Mises, L. (1924). Theorie des Geldes und der Unlaufsmittel, Dunker & Humbolt, 420p. ISBN.: 978-3428118823. • Rothbard, Murray N. (2010). What Has Government Done to Our Money? Ludwig Von Mises Institute, 128p. • Schumpeter (1934). The Theory of Economic Development. Cambridge, MA: Harvard University Press. • Simonsen, M.H. & Cysne, R.P. Macroeconomia, 4ª ed. São Paulo: Ed. Atlas, 2007. • Witt, Ulrich (1999). “Do Entrepreneurs Need Firms?A contribuition to a Missing Chapter in Austrian Economics”. Review of Austrian Economics 11(1/2), 99-199. 147
Compartilhar