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ANTICOLINESTERÁSICOS Os anticolinesterásicos são substâncias que bloqueiam a enzima acetilcolinesterase, impedindo, a quebra da acetilcolina na fenda sináptica, aumentando assim, os níveis de acetilcolina na fenda sináptica. Os de ação reversível, de curta ou média duração, são usados na clínica em situações em que se deseja aumentar a acetilcolina na fenda sináptica, como por exemplo, em pacientes portadores de miastenia grave para reduzir a fraqueza muscular do paciente; para reverter o bloqueio neuromuscular após cirurgia em pacientes com paralisia muscular pelo uso de bloqueador neuromuscular competitivo, como também para tratamento do glaucoma. Os de ação reversível, de duração muito prolongada (por exemplo, o chumbinho, duração de 24 horas) e os de ação irreversível, como os inseticidas organofosforados e os gases bélicos, são venenosos. No caso dos reversíveis de ação muito prolongada, a enzima se mantém inibida por tempo prolongado, daí a acetilcolina permanece na fenda sináptica também por tempo prolongado, o suficiente para que a nível do músculo esquelético, a placa 2 motora seja mantida despolarizada, impedindo a geração de potenciais de ação, levando à paralisia muscular flácida ( músculo fica relaxado, não mais contrai). No caso dos anticolinesterásicos de ação irreversível, como os inseticidas organofosforados, o bloqueio da enzima é irreversível, sendo necessários 8 dias para o organismo sintetizar novas enzimas para que a acetilcolina seja removida da placa motora. Assim, no caso de intoxicação aguda por inseticida, o paciente deve ser intubado e mantido com respiração artificial durante 8 dias. Além disso, o paciente irá apresentar efeitos exacerbados da acetilcolina (efeitos muscarínicos) em órgãos inervados pelo parassimpático, como coração, glândulas salivares, bexiga, trato gastrintestinal, uma vez que o neurotransmissor do parassimpático é a acetilcolina e, portanto, nestes órgãos em que há a enzima acetilcolinesterase, esta se encontra bloqueada pelo inseticida. Assim, o paciente também apresentará um quadro de bradicardia intensa, hipotensão arterial grave, 3 hipersecreção salivar, micções frequentes e diarreias constantes. Além de manter o paciente ventilado artificialmente, é necessário aplicar altas doses de atropina ( bloqueador colinérgico) para impedir a bradicardia intensa, que pode ser fatal para o paciente. Os inseticidas organofosforados (assim como os gases bélicos – exemplo o sarin, tabun, VX, R-VX) são altamente lipossolúveis e, portanto, facilmente absorvidos através de mucosas e até mesmo através da pele íntegra. No caso de uma intoxicação crônica, a quantidade de inseticida vai aumentando aos poucos no sangue, como por exemplo, um agricultor que entra em contato com o inseticida a cada dia, ao pulverizar a sua plantação. Neste caso, o número de enzimas bloqueadas pelo veneno vai aumentando aos poucos. Inicialmente o paciente apresenta certo grau de fraqueza muscular, ligeira bradicardia e hipotensão arterial, hipersecreção salivar e com o tempo estes sinais e sintomas vão aumentando progressivamente. MIASTENIA GRAVE ou MIASTENIA GRAVIS (MG) 4 A miastenia grave é uma doença autoimune em que há produção de anticorpos contra os receptores colinérgicos nicotínicos da placa motora, afetando assim a junção neuromuscular, interferindo na transmissão neuromuscular, resultando em incapacidade dos músculos esqueléticos de produzirem contrações musculares duradouras. A ptose palpebral que ocorre em pacientes miastênicos é um sinal destes efeitos. Esta doença acomete um em cada dois mil indivíduos. Os pacientes portadores deste distúrbio apresentam fraqueza muscular e grande cansaço devido à falha na transmissão neuromuscular. Foi demonstrado através de estudos eletrofisiológicos que a liberação da acetilcolina é normal, mas a amplitude do potencial de placa motora é bastante reduzida, sendo frequentemente incapaz de atingir o limiar de excitabilidade da membrana eletroexcitável e deflagrar o potencial de ação muscular. A detecção da MG pode ser feita com: 5 a)teste da anticolinesterase: utilizando uma droga que inibe a enzima, o edrofônio (Tensilon), anticolinesterásico de curta ação, administrado por via intravenosa; quando a fraqueza é provocada pela miastenia grave, ocorre aumento transitório intenso da função muscular. b)detecção da presença de anticorpos contra a proteína receptora da acetilcolina na placa motora pode ser detectada no soro de pacientes miastênicos. A maioria dos pacientes miastênicos desenvolve fraqueza generalizada, envolvendo as pálpebras, os músculos extraoculares, os músculos dos membros, o diafragma e os músculos extensores do pescoço. O tratamento da miastenia grave envolve procedimentos que: 1)Aumentam a quantidade de acetilcolina na placa motora – anticolinesterásicos de duração média (inibidores da acetilcolinesterase – neostigmina, piridostigmina) 2)Suprimem as respostas imunes – drogas depressoras do sistema imunológico ou plasmaforese. 6 Os glicocorticoides (por exemplo, a predisona, e a predinisolona) suprimem o sistema imunológico e outras drogas imunossupressoras (azatioprina – inibem a síntese de DNA; ciclosporina – inibe a produção de interleucina 2 pelo linfócito T). A plasmaferese ou troca do plasma remove os anticorpos anormais da circulação sanguínea. É uma terapia de curta duração que é usada em pacientes com crise miastênica ou nos indivíduos submetidos á timectomia. Timectomia, a remoção cirúrgica da glândula timo (que é anormal na maioria das pessoas com MG). Esta cirurgia é realizada tanto para pessoas com MG que têm tumores (timonas) independente da idade, bem como para os indivíduos sem tumores, com 50 a 60 anos de idade ou mais com início recente de doença moderada. Ela melhora os sintomas em mais de metade dos indivíduos sem tumores. Ela pode curar algumas pessoas com MG, possivelmente por reequilibrar o sistema imunológico (o mecanismo pelo qual a cirurgia exerce seu efeito é 7 desconhecido). Imunoglobulina intravenosa apresenta efeito temporário, mas que pode durar de semanas até meses. É uma terapia muito cara, o que limita o seu emprego. (O mecanismo de ação das imunoglobulinas é desconhecido). CRISE MIASTÊNICA – os pacientes podem vivenciar súbita exacerbação dos sintomas e fraqueza, a ponto de comprometer a ventilação. Essa crise pode ocorrer durante um período de estresse, como infecção, contrariedade emocional, gestação, ingestão de álcool, frio ou após cirurgia. Os medicamentos que exacerbam a fraqueza muscular e acionam a crise miastênica são a quinidina, os antibióticos aminoglicosídeos, bloqueadores beta-adrenérgicos, bloqueadores dos canais de cálcio e sulfato ou citrato de magnésio. A crise também pode ser consequente a doses inadequadas ou excessivas das drogas anticolinesterásicas usadas no tratamento do distúrbio. 8 O paciente miastênico irá apresentar efeitos colaterais tanto pelo uso do anticolinesterásico quanto pelo uso de glicocorticoides. Os anticolinesterásicos levarão o paciente a apresentar transmissão parassimpática exacerbada devido ao aumento de acetilcolina na fenda sináptica, levando a: bradicardia, hipotensão arterial, hipersecreção salivar, broncoconstrição, aumento da motilidade intestinal, etc. No caso do uso crônico de glicocorticoides, o paciente estará sujeito a infecções, devido à depressão do sistema imunológico; comprometimento da cicatrização de feridas, devido à ação desses fármacos em retardar o processo de cicatrização tecidual; osteoporose com risco de fraturas, devido à diminuição da absorção de cálcio da dieta pelo glicocorticoide, o que induz a liberação de paratormônio pelas paratireoides, que estimulam a reabsorção óssea, para restabelecer a calcemia; hiperglicemia, por causar resistência insulínica, podendo levar ao desenvolvimento de diabetes mellitus; atrofia muscular, por estimular o catabolismoproteico a fim de 9 aumentar a concentração de aminoácidos circulantes disponibilizando os mesmos para a gliconeogênese hepática. Venenos atuantes na formação do impulso nervoso: TETRODOTOXINA (TTX), ANESTÉSICOS LOCAIS – bloqueiam os canais PDC de Na+ impedindo a propagação do PA no neurônio tendo como efeito o bloqueio da liberação de acetilcolina causando relaxamento muscular. Baiacu (tetrodotoxina) TETRAETILAMÔNIO (TEA) - bloqueia os canais de potássio, interferindo na corrente de saída, prejudicando a 10 repolarização. Outras drogas com efeito similar são o Césio e a 4-aminopiridina TOXINA BOTULÍNICA (encontrada no solo e em alimentos contaminados) – hidrolisa a sinaptobrevina e sintaxina levando ao bloqueio da liberação de acetilcolina. ANTIBIÓTICOS AMINOGLICOSÍDEOS (como a gentamicina) – bloqueio dos canais de cálcio do neurônio motor e consequentemente bloqueio da liberação de acetilcolina. LATROTOXINA (veneno da viúva negra) – ativação da neurexina levando à liberação explosiva de acetilcolina. SAXITOXINA – É produzida pelos dinoflagelados, constituindo um malefícios da maré vermelha, pois pode contaminar os bivalves que a ingerem através dos dinoflagelados. SÍNDROME DE LAMBERT EATON – anticorpos contra os canais de cálcio neuronais com consequente bloqueio da liberação de acetilcolina levando à paralisia muscular. CÁTIONS DIVALENTES ( Mn 2+, Mg 11 2+) – inibem a entrada de cálcio no citosol levando à redução na liberação de acetilcolina. BATRACOTOXINA (veneno de rã) – aumentam a condutância ao Na+ causando despolarização mantida, impedindo condução axonal. TOXINA ESCORPIÔNICA – inibe a inativação do canal de Na+ levando à despolarização mantida, impedindo assim a condução axonal. DENDROTOXINA, APAMINA E CAIBDOTOXINA: tais toxinas tem como efeito primordial o bloqueio dos canais de potássio. 12 TOXINA TETÂNICA (toxina produzida pelo microrganismo Clostridium tetani) – transportada retrogradamente à medula espinhal inibe a liberação de glicina (neurotransmissor inibitório) aumentando assim a atividade do motoneurônio ocasionando espasmos musculares. ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA (ELA ou doença de Lou Gehrig, ou doença de Charcot) – é considerada uma doença degenerativa do sistema nervoso, que acarreta paralisia motora progressiva, irreversível, de maneira limitante, sendo uma das mais temidas doenças conhecidas. É um distúrbio caracterizados por fraqueza muscular e atrofia por denervação. É provocada pela degeneração progressiva no primeiro neurônio motor superior no cérebro e no segundo neurônio motor inferior na medula espinhal. Esses neurônios são células nervosas especializadas que, ao perderem a capacidade de transmitir os impulsos nervosos, dão origem à doença. Não se conhece a causa específica para a esclerose lateral amiotrófica. Parece 13 que a utilização excessiva da musculatura favorece o mecanismo de degeneração da via motora, por isso os atletas representam a população de maior risco. Outra causa provável é que dieta rica em glutamato seja responsável pelo aparecimento da doença em pessoas predispostas. Isso aconteceu com os chamorros, habitantes da ilha de Guan no Pacífico, onde o número de casos é cem vezes maior do que no resto do mundo. Estudos recentes em ratos indicam que a ausência de uma proteína chamada parvalbumina pode estar relacionada com a falência celular característica da ELA, uma doença relativamente rara (são registrados um ou dois casos em cada cem mil pessoas por ano, no mundo), que acomete mais os homens do que as mulheres, a partir dos 45/50 anos. Câimbras são comuns e podem anteceder a fraqueza muscular e atrofia que se inicia pelas mãos, outras vezes pelos pés. A doença se caracteriza por degeneração dos feixes corticospinais (via piramidal) e dos cornos 14 anteriores da medula, motivos pelos quais poderão aparecer fraqueza muscular sem dores, atrofias musculares, fasciculações (movimentos involuntários visíveis em repouso) e espasticidade (contração súbita e involuntária dos músculos). Este quadro começa lentamente a progredir, comprometendo finalmente os membros superiores e inferiores juntamente com a musculatura do pescoço e da língua, em alguns casos. O paciente pode manifestar dificuldade para deglutir, engolir a saliva e os alimentos (disfagia), apresentar perda de peso, e dificuldade na articulação das palavras (disartria). A fala pode ser flácida ou contraída, podendo haver uma alternância desses dois aspectos. A dificuldade de deglutir resulta em sialorréia (salivação), enquanto as dificuldades de respirar levam a queixas de cansaço. A morte ocorre geralmente dentro de dois a cinco anos, sendo que 20% dos pacientes sobrevivem seis anos. POLIOMIELITE, CERTOS TIPOS DE MENINGITE, ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL, TRAUMATISMOS, 15 ESCLEROSE MÚLTIPLA – são situações que interferem na primeira etapa da transmissão neuromuscular, impedindo a geração e, portanto a propagação do potencial de ação através do motoneurônio, levando à paralisia muscular flácida. Na esclerose múltipla, como também no diabetes mellitus não controlado e na doença de Guillain Barré, isto se deve à desmielinização do motoneurônio. Em casos de acidente vascular cerebral, isto se deve a isquemia (AVC isquêmico) ou hemorragia (AVC hemorrágico), levando à falta de ATP para o neurônios e portanto a inativação da bomba Na+/K+-ATPase, fazendo com que a célula perca seu potencial de repouso, não podendo mais gerar potenciais de ação. Nos casos de poliomielite e meningite, como também no traumatismo há lesão de neurônios, não havendo a geração e a propagação do potencial através do motoneurônio.