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FISIOLOGIA TIREOIDEA A tireoide é a primeira glândula endócrina a surgir no embrião, o que ocorre na 3a semana. Ela tem o formato de uma borboleta, com dois lobos unidos por um istmo que se apoia frouxamente sobre a traqueia na região anterior do pescoço abaixo da cartilagem tireóidea e imediatamente abaixo da cartilagem cricoidea (figura1). Sua localização permite a avaliação clínica da glândula pela palpação. Figura 1: Vista da glândula tireoide. No homem adulto pesa em torno de 15 a 25 gramas. Sob estímulos específicos pode ocorrer proliferação celular com aumento da glândula para 50 ou até 800 gramas, o que chamamos de bócio (figura 2). 2 Figura 2: Bócio 0 A tireoide secreta os hormônios tiroxina ou tetraiodotironina (T4) e triiodotironina (T3). Os hormônios tireoideos (HT) exercem importante papel no desenvolvimento, crescimento e metabolismo. Esses hormônios têm seus receptores presentes em quase todos os tecidos do corpo sendo essencial no consumo de oxigênio e no metabolismo celular. Mecanismo molecular: ligação do T3 aos receptores nucleares com modificação da expressão gênica da célula; atuação direta de T3 e T4 em vias de sinalização intracelular. O folículo é a unidade funcional da glândula, onde ocorre o processo de biossíntese, armazenamento e 3 secreção dos hormônios tireoideos (figura 3). Os folículos tireoidianos são preenchidos por coloide, cujo principal componente é uma proteína, a tireoglobulina (Tg). É nas células foliculares que se inicia o processo de biossíntese dos hormônios tireoideos (intracelular) e no coloide é que ela é concluída (extracelular), de forma que o T3 e o T4, que são os principais HT elaborados, permanecem no interior da tireoglobulina até se iniciar o processo de secreção hormonal. Nós temos um estoque de hormônios tireoideos armazenados no coloide que suprem nossa necessidade por várias semanas. Figura 3: folículo tireoideo A célula folicular apresenta-se cuboide em situações de eutireoidismo, porém quando o indivíduo apresenta hipotireoidismo com elevação do TSH (hormônio estimulador da tireoide) ocorre hipertrofia dessas células que então apresentarão formato cilíndrico com diminuição do lúmen e aumento da quantidade de 4 vasos entre os folículos aumentado o espaço entre os mesmos. Quando há diminuição do TSH o epitélio se torna pavimentoso com lúmen amplo. A ingestão de iodo é indispensável para a síntese dos hormônios tireoideos, sendo a maior fonte de iodo, o mar; dessa forma os alimentos ricos em iodo são os derivados do ambiente marinho. O iodo ingerido é reduzido a iodeto no trato digestório, por ação de bactérias, sendo absorvido no intestino delgado. Portanto, é na forma de iodeto que o iodo se apresenta na circulação, de onde é captado pela tireoide e utilizado para a biossíntese hormonal. Nas regiões próximas ao litoral acumula-se iodo no solo pela chuva proveniente da evaporação da água do mar, assim sendo, frutas e vegetais cultivados nessas regiões absorvem concentrações significativas de iodo. Por apresentarem iodo em sua composição os hormônios tireóideos possibilitam a avaliação funcional da glândula, por meio da utilização de iodo radioativo. 5 A ingestão alimentar recomendada de iodo é de 150g para um adulto normal. A carência de iodo e consequente falta de hormônios tireoideos durante o período fetal ocasiona déficit do crescimento e desenvolvimento neurológico, denominado cretinismo (figura 4). As consequências clínicas da falta de iodo refletem-se em todas as faixas etárias, caracterizando as doenças associadas à deficiência de iodo, o que causa aumento da glândula denominado bócio endêmico (figura 5). Célula folicular ou tireócito Colóide Membrana basolateral Membrana apical 6 Figura 4: uma criança com cretinismo BIOSSÍNTESE DOS HORMÔNIOS TIREOIDEOS (Figura 6) Este processo inicia-se com a captação de iodeto pela porção basal da célula folicular tireoidiana e envolve várias etapas: 1.Captação do iodeto: o transporte do iodeto (I- ) para o interior da célula ocorre contra um gradiente eletroquímico, uma vez que o potencial de repouso da célula tireoidiana é negativo, e por ela apresentar concentração elevada de iodeto; esse transporte é realizado pela proteína NIS (Co-transportadora Na+ /I- ) localizado na superfície basolateral do tireócito, que promove a entrada de iodeto utilizando a força motriz do Na+ 7 , o qual entra na célula obedecendo um gradiente de concentração que é mantido pela Na+ /K+ -ATPase (2Na+ :1I - ). Dentro da célula o iodeto difunde-se em direção ao ápice sendo transportado pela pendrina (que é um canal de ânions cloro/iodeto), localizada na membrana apical da célula folicular. . O transporte de iodeto é inibido por: perclorato e tiocianato, que são utilizados na prática clínica com a finalidade de diminuir a síntese dos hormônios tireoideos. Perclorato: inibe a captação de iodeto e também facilita seu efluxo. Tiocianato: aumenta o efluxo de iodeto. Outros locais além da glândula tireoide também apresentam a proteína NIS: glândulas salivares, mucosa gástrica e glândulas mamárias no período de lactação. 8 2.Oxidação do iodeto: a seguir o iodeto é oxidado pela enzima tireoperoxidase (TPO), que está localizada na membrana apical da célula folicular; em paralelo à oxidação do iodeto, a TPO também oxida um ou dois sítios de algumas tirosinas, presentes na tireoglobulina, criando-se então condições para que o iodo oxidado aí se incorpore. Para oxidar o iodeto a TPO necessita do cofator peróxido de hidrogênio gerado pela dual oxidase (DUOX). O iodo oxidado então será incorporado aos resíduos tirosil da tireoglobulina (Tg) sendo essa reação também catalisada pela TPO. Esse processo de incorporação do iodo à Tg é conhecido como organificação do iodo ou iodação da Tg. Figura 5: cretinismo mixedematoso endêmico na República Democrática do Congo. No esquema temos 4 habitantes com idades entre 15 e 20 anos: um rapaz normal e 3 meninas com severo déficit no crescimento, hipotireoidismo com nanismo, retardo no 9 desenvolvimento sexual, face inchada, cabelos secos e retardo mental severo. Mixedema: edema com acúmulo de mucopolissarídeos/glicosaminoglicanas, pois a tiroxina diminui a síntese dos ácidos hialurônico e condroitino-sulfúrico 3.Acoplamento das iodotirosinas: A tireoglobulina possui entre 132 a 140 aminoácidos tirosina aos quais o iodo oxidado poderá ser incorporado sendo que apenas 1/3 desse total será iodado. Quando 1 molécula de iodo é incorporada à tirosina gera-se monoiodotirosina (MIT) e quando temos dois iodos incorporados gera-se diiodotirosina (DIT), sendo essa reação também catalisada pela TPO. Após essa etapa temos o acoplamento das iodotirosinas, reação também catalisada pela TPO. Ocorrem os seguintes acoplamentos: 1 MIT + 1 DIT = formando T3 ou rT3 (que diferem quanto à posição da iodação) 1 DIT + 1 DIT = formando T4 10 1 MIT + 1 MIT = formando T2 (diiodotironina) Essas moléculas geradas permanecem no coloide, presas à Tg. Todas as proteínas envolvidas nessas etapas, desde a tireoglobulina, têm sua síntese estimulada pelo TSH. Essa é a razão pela qual a função tireoidiana depende desse hormônio hipofisário. Figura 6: Secreção dos hormônios tireoideos. NIS: co-transportador Na+ /I- ; Tg: tireoglobulina; MIT: monoiodotirosina; DIT: diiodotirosina (Esquema do arquivo do Laboratório de Fisiologia Endócrina Doris Rosenthal). TRANSPORTE PLASMÁTICO Mais de 99% dos HT se apresentam ligados a proteínas transportadoras plasmáticas, as quais determinam a porcentagem de hormônio livre (que é o que exerce efeito biológico) presente na circulação. 11 Essas proteínas são: a TBG (globulina transportadora de hormônio tireoidiano), TTR (transtiretina) e a albumina. A TBG e a TTR apresentam maior afinidade ao T4 que ao T3, de modo que, em termos porcentuais, há mais T3 do que T4 circulando na forma livre; já a albuminaliga-se tanto ao T4 quanto ao T3, bem como a outros hormônios como os glicocorticoides e os esteroides sexuais. Quando os HT se dissociam das proteínas transportadoras, ficam na forma livre, tornando-se disponíveis, por um curto período de tempo, para os tecidos-alvo, onde vão exercer os efeitos biológicos. Quando ocorre elevação da fração livre de HT na circulação ajustes fisiológicos são desencadeados para a sua correção dentro dos limites da normalidade. Quando há falhas nesse sistema de ajuste, ocorre aumento na concentração de HT livre na circulação, de modo que os seus efeitos biológicos nos tecidos tornam-se exacerbados, o que resulta no quadro de hipertireoidismo.
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