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Jornalismo Impresso Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Me. Antonio Lucio Rodrigues Assiz Revisão Textual: Prof. Me. Claudio Brites O Papel do Jornal • Introdução: Para Que Serve o jornal?; • A Responsabilidade do Jornalista com a Verdade; • Direito à Informação; • Fases do Jornalismo; • O Valor da Notícia; • Gêneros do Jornalismo Impresso. · Compreender o conceito de jornalismo impresso e sua contribuição para a construção da identidade do jornalismo; · Dominar os fundamentos do jornalismo como a função do jornal, a relação com o público, a questão da verdade, critérios de noticiabili- dade e os gêneros do jornalismo impresso. OBJETIVO DE APRENDIZADO O Papel do Jornal Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE O Papel do Jornal Introdução: Para Que Serve o jornal? Você já pensou nesta pergunta: “Para que serve o jornal?”. Um produto feito to- dos os dias e impresso muitas cópias (alguns milhões de exemplares!), que mobiliza tanta gente para escrever, imprimir e distribuir deve ser algo de grande interesse, não acha? O jornal impresso tem uma importância muito grande. Ler o jornal diariamente, ou apenas folhear algumas páginas, ou ainda olhar os destaques na banca de jor- nal, vai formando nas pessoas um sentimento de conhecer o que está acontecendo à sua volta, saber tudo o que de mais relevante aconteceu na sua cidade, no seu estado, país, mundo e isso promove um sentimento de poder extraordinário. Mas não é apenas um “sentimento de poder”, é de fato uma consciência glocal (global + local), uma visão ampla de coisas importantes que ocorreram e que de muitas formas influenciam o cotidiano de todos. Figura 1 Fonte: iStock/Getty Images Mesmo com as novas tecnologias, a importância desse “jornal impresso” con- tinua a mesma, embora muitos veículos estejam saindo do papel e migrando para telas e displays de aparelhos celulares, monitores etc., eles continuam sendo pro- duzidos com os mesmos critérios e processos e construindo a forma como as pes- soas percebem os acontecimentos atuais na sociedade. 8 9 Figura 2 Fonte: iStock/Getty Images Especialmente o jornal impresso, mas também suas adaptações às diversas pla- taformas (rádio, TV, internet, impresso), registram diariamente acontecimentos, o que significa que estão escrevendo a história no momento em que ela acontece. Mesmo o leitor ocasional – que não acompanha com frequência as notícias do jornal – é impactado pela cobertura diária dos acontecimentos, pois as pessoas que leem o jornal impresso comentam, discutem, repercutem em ambientes onde outras pessoas circulam (inclusive as redes sociais) e isso acaba levando o não-leitor a ter contato com o noticiado no jornal impresso. Além do mais, ao perceber a presença de algum assunto de seu interesse nas discussões, o indivíduo procura o jornal do dia e encontra os esclarecimentos sobre a notícia, permitindo assim que o jornal cumpra mais um objetivo: o de explicar os acontecimentos com precisão e clareza. Já lhe ocorreu uma situação de ouvir falar de um assunto interessante e você ir procurar no jornal (ou no site do jornal) a notícia completa?Ex pl or Podemos compreender que o jornal impresso tem o papel principal de informar a sociedade, de selecionar os acontecimentos e explicá-los, relacioná-los, contextu- alizá-los para que o leitor tenha o melhor entendimento sobre o que ocorreu e foi noticiado. Cumprir com eficiência esse papel não é tarefa fácil e é por isso que cen- tenas de profissionais atuam nas redações dos grandes jornais e se esforçam dia- riamente. Eles sabem que o desafio de informar está relacionado a entender bem a natureza do acontecimento – o que muitas vezes é bastante difícil – e também está ligado a saber com precisão quem vai consumir, ler a notícia, para escrevê-la com os elementos necessários para que o leitor a compreenda. Mesmo assim, o repór- ter/redator vai escrever da melhor forma possível para que, tenha o leitor 70 anos 9 UNIDADE O Papel do Jornal e, portanto, vivenciado muitas experiências em sua vida, ou seja um jovem de 18 ou 14 anos, a curiosidade extrema de querer conhecer o mundo seja despertada, e todos possam decifrá-la corretamente. Figura 3 Fonte: pixabay.com Produzir um jornal que possa ser consumido por públicos diversificados, tanto em faixa etária, classe social ou pertencente a qualquer região do Brasil (e até fora do país), é um desafio a superar com o uso de técnicas de redação jornalística, como o uso de frases simples, diretas e curtas, com substantivos fortes e verbos precisos para caracterizar a ação do sujeito. Com essas e outras técnicas, como o lead pirâmide invertida1, o texto jornalístico busca uma linguagem mais dinâmica e compreensível para os leitores. Mesmo com todo o esforço de escrever de forma simples, às vezes, o leitor se depara com textos difíceis de entender, o que alimenta a crítica dos teóricos e estudiosos sobre as dificuldades encontradas para se decifrar o texto dos jornais. Importante! Você entendeu porque o jornal – especialmente o jornal impresso – é o veículo que é responsável por construir em nós o sentido de como é a sociedade atual? Atenção! Se o jornal informa o público sobre os principais acontecimentos da atualidade, suas escolhas sobre o conteúdo – por exemplo, o que é notícia, o que é mais impor- tante entre os acontecimentos que serão destacados na capa (ou primeira página do jornal) e até o que tem pouca importância e não será veiculado – é de se supor que a visão sobre os fatos ocorridos longe dos olhos do leitor sejam interpretados a partir do conteúdo do jornal, isso faz do jornal um veículo respeitado e poderoso. Você concorda? 1. Técnica desenvolvida durante a I Guerra Mundial que consiste em estruturar a notícia a partir do mais importante para o menos, permitindo assim que o leitor tenha contato com as informações mais relevantes logo no início da matéria. 10 11 O leitor quase sempre acredita no jornal e só percebe que a notícia não é con- tada de forma tão fiel pelo jornal em duas condições: 1) Quando recebe a visita de um morador de outra região do país que é conhecida como “muito violenta” ou “muito tumultuada”, eo visitante fala que sua realidade não é como está no jor- nal; ou 2) Quando o fato noticiado está bem próximo do leitor ou ele fez parte do acontecimento e, ao ver a notícia no jornal, percebe inconsistências e distorções, às vezes bastante graves. Exceto nesses dois casos, o leitor quase sempre recebe a notícia como verdade absoluta. Em toda a sua história, o jornal impresso procurou caminhos para cumprir sua honrosa missão de ajudar a sociedade a caminhar para o progresso, com informa- ção e reflexão sobre os acontecimentos. Pode ter se afastado dos seus compromis- sos, mas, apesar dos erros e desvios, esse veículo conquistou a confiança do leitor, isso porque ele tem conseguido ser a melhor forma de narrar as histórias, conflitos, angústias e desejos da sociedade. Figura 4 Fonte: iStock/Getty Images Quando começou a ter circulação em escala maior, no período pós-Gutenberg2, e mais intensamente no século XIX com as grandes tiragens, o jornal impresso impôs uma forma de comunicação extraordinária que desafiou o público a com- preender os referenciais de tempo e espaço para decifrar a mensagem. Por sua natureza física, ou seja, estar impresso em papel (ou no pergaminho, couro etc.), o jornal narra conteúdos originários do local onde se lê a publicação (pelo menos no início do jornal, ele circulava apenas na província onde era produzido), portan- to, está vinculado ao referencial de espaço (à região onde circulava), mas como no dia seguinte, ou na próxima semana, ele (o jornal) estaria fisicamente íntegro, entendemos que ele rompe a referência do tempo – preso ao espaço, mas livre da relação temporal. Essa condição obrigará o editor do jornal a citar textualmente e 2. Johannes Gutenberg (1398-1468), inventor dos tipos móveis e da prensa (1439), a qual permitiu a duplicação de forma mecanizada dos originais. 11 UNIDADE O Papel do Jornal com bastante destaque a data de circulação do jornal impresso, para que nenhum leitor leia as notícias do mês passado pensando que são de hoje. Essa questão do tempo e espaço nos veículos de comunicação deve ser observada com muita atenção para a construção da mensagem de forma correta e que possa ser interpretada adequadamente. Para uma melhor ilustração do assunto, veja que o rádio e a televisão são veículos que rompem o referencial do espaço, mas estão presos ao tempo, ou seja, para assistir a um telejornal ou ouvir a um radiojornal, é preciso ter o aparelho ligado no momento exato da transmissão, sob pena de perder parte ou todo o conteúdo transmitido. Em relação ao espaço, não é necessário que o telespectador (ou ouvinte) esteja na região onde ocorre a transmissão, pois as ondas caminham pelo ar a longas distâncias, portanto, entendemos que rompem o referencial do espaço e por isso o apresentador precisa falar de onde vem a notícia para que o público não se confunda associando erroneamente a informação ao local em que está recebendo a notícia. Figura 5 Fonte: iStock/Getty Images O jornal impresso precisa ser produzido por profissionais que compreendam todas as suas dimensões e o seu papel em um mundo em meio a tantas transforma- ções tecnológicas. Ainda há espaço para um jornal que saiba publicar assuntos que são de interesse público e não se percam em temas cujo único critério seja o que “interessa ao público”, o que pode debandar para uma cobertura sensacionalista e superficial dos assuntos e perder a dimensão de veicular notícias úteis para o leitor. O jornalista Ricardo Noblat destaca: O que interessa ao público nem sempre é de interesse público. Infelizmen- te, estimular os baixos instintos do ser humano, por exemplo, interessa a uma expressiva fatia do público. Aumenta as vendas do jornal. E amplia a audiência de uma emissora de televisão. Mas proceder assim é conde- nável porque em vez de contribuir para a elevação dos padrões morais da sociedade, o jornalismo os rebaixa. (NOBLAT, 2002, p. 24) 12 13 Muitas pessoas falam que o jornal impresso está morrendo, mas ele ainda tem muita força, ajuda a construir o sentido de realidade na sociedade em que vivemos, alimenta discussões públicas e até antecipa as notícias que saem no rádio e na TV, que sempre “puxam” os assuntos publicados no jornal impresso. Você está vendo quanta força ainda tem esse veículo? Há muitas outras questões que explicam a sua relação íntima com o público. Existem estudos no campo da Psicologia relacionando o jornal impresso à neces- sidade que o público tem no seu inconsciente de vencer a morte, porque, através do jornal impresso, o que ocorreu ontem (portanto, o que já passou) é a notícia de hoje, contada no tempo presente como um momento que ainda pode ser desfruta- do. Essa explicação faz bastante sentido, não acha? Fazer um bom jornal e ser útil para os leitores é manter-se firme em busca da verdade, utilizar critérios transparentes de seleção das notícias publicadas, entrar na luta interminável para manter o público bem informado. Noblat (2002) relata uma visita a Luanda (Angola), em que ele viu a placa “Dá-se explicação” revelando, no dialeto da nossa Língua Portuguesa, a disponibilidade de um professor em ensinar as disciplinas básicas. Para Noblat (2002), essa frase nunca mais saiu de sua lem- brança e deveria ser a grande inspiração dos jornais impressos: “dar explicações”. O que você acha de fazer um jornal de amanhã? Esse é um convite que Noblat coloca para o jornal impresso: Por favor, não me contem o que eu já sei. Topo ler o que já sei se vocês acrescentarem informações que desconheço ou se me explicarem o que não entendi direito. Até topo ler sobre o que já sei se vocês tentarem antecipar o que está por vir. Mas só nestes casos. (NOBLAT, 2002, p. 114) O jornalista destaca que não se trata de fazer do jornalismo exercício de adivi- nhação. Segundo ele, ao constituir uma equipe qualificada e experiente de jorna- listas, o veículo passa a ter domínio dos cenários que envolvem os acontecimentos mais relevantes da região e, com “certa dose de ousadia”, é possível cumprir o importante papel de antecipar certos acontecimentos. Noblat prossegue: O medo de errar impede muitos acertos. A Revista The Economist não tem medo de investir no jornalismo de ante- cipação. Ela acerta mais do que erra. Mas em suas edições de fim de ano faz questão de listar com bom humor os erros de previsão que cometeu. No Brasil, mas não só aqui, os jornalistas sabem bem mais coisas do que publicam. Ousamos pouco. E os donos da mídia, por conservadores, temem que ousemos. (NOBLAT, 2002, p. 114) O jornal imprime em suas páginas fotos e relatos de acontecimentos importantes para o público, e isso o transforma em um documento histórico que a qualquer momento poderá ser consultado para pesquisas de toda natureza. As notícias são registros de casos que podem ser verificados através das referências citadas nas 13 UNIDADE O Papel do Jornal matérias. A capacidade jornalística de ser permeável aos acontecimentos da área de cobertura do jornal deve tornar o veículo [...] um espelho da consciência crítica de uma comunidade em determinado espaço e tempo. [...] um jornal pode estar até mesmo adiante do sentimento da média das pessoas que o leem. E feri-lo por causa disso. Mas se for crível, e outra coisa não lhe cabe ser, e se lhe reconhecerem a honestidade, poderá operar a mudança do sentimento (NOBLAT, 2002, p. 21). A Responsabilidade do Jornalista com a Verdade O Jornalismo moderno nasce com um claro compromisso social de conduzir a sociedade a caminho do bem, do progresso, da liberdade. Fruto de um longo processo revolucionário vivido na França, a Revolução Francesa (século XVIII, com um marco em 1789), o Jornalismo herda uma responsabilidade de vigiar a sociedade e jogar luzes em tudo o que esteja sendo ocultado. É a imagem do “cão de guarda” que deveria impedir que o poder fosse novamente tomado por tiranos como os que comandavam a França antes da revolução. A conquista desse nobre papel na novasociedade que inspirou o Ocidente não foi por acaso. O historiador Robert Darnton (2007), em sua obra Boemia Literária e Revolução, narra a atuação corajosa de escritores e publicistas que lutaram contra as proibições de circulação de qualquer publicação impressa na França no antigo regime. Esses escritores faziam entrar por fronteiras de países vizinhos, clandestinamente, jornais e livros que denunciavam os abusos da Corte e ajudaram a construir e consolidar os ideais da revolução burguesa. Após a revolução, eles, os escritores dos periódicos (os jornalistas), recebem a tarefa de continuar vigiando o poder para o bem da sociedade. Com o passar dos tempos, o Jornalismo explicita seus fundamentos baseados na ética para cumprir o papel de bem informar buscando incessantemente se apro- ximar da verdade. Um movimento que exige uma reflexão filosófica sobre o que é “verdade”, das possíveis e divergentes “verdades” de um mesmo fato, de acordo com as fontes e a interpretação do repórter. Ao mesmo tempo, a ética impõe um comportamento de honestidade, transparência, coerência, em busca do bem, e isso são parâmetros mais do que claros em termos de conduta, sabe-se que a ver- dade única não pode ser atingida; não pode ser atingida, mas, ao mesmo tempo, pode ser praticada pelo jornalista, como explica o jornalista Caio Tulio Costa. Costa (2009) reúne reflexões de autores, como o pensador polonês Adam Schaff, 14 15 Karl Marx, os filósofos Mário Sérgio Cortella e Marilena Chauí, entre outros, para enriquecer a reflexão. Aproximando-se da visão histórica, Schaff lembra que o conhecimento histórico é um processo sem fim, e que a verdade histórica também estará sujeita a ser compreendida diferentemente da anterior, por isso, para ele: “A verdade atingida no conhecimento histórico é uma verdade objetiva relativa” (SCHAFF, 1995, p. 300 apud COSTA, 2009, p. 23). É apoiado nas reflexões de Chauí que Costa tece um coerente caminho para a atuação do jornalista: Como ensina Marilena Chauí, existem ao menos quatro concepções de verdade das quais a filosofia é herdeira. [...] Para a primeira, alicerçada nos gregos, a verdade era a aletheia e significava não oculto, não escondido, não dissimulado. Dessa forma, o verdadeiro estaria nas próprias coisas [...]. A segunda viria do latim veritas, verdade. Refere-se à precisão, ao rigor e à exatidão do relato. A terceira vem do hebraico emunah, confiança. Ali são as pessoas e Deus que são verdadeiros. [...] A quarta concepção é a pragmática e difere das anteriores por definir o conhecimento verdadeiro pelo seu critério prático e não teórico. Nela, “um conhecimento é verdadeiro por seus resultados e suas aplicações prática, sendo verificado pela experimentação e pela experiência”. A marca do verdadeiro seria a verificabilidade dos resultados (COSTA, 2009 p. 21). Nesse raciocínio de Chauí apresentado por Costa, ele retoma a condição de praticar a verdade à medida em que o que escreve está documentado (nome da fonte entrevistada, cópias dos documentos que comprovam a notícia) e pode ser verificável. Para que você entenda melhor essa discussão filosófica, pense o seguinte: a verdade absoluta (única, que não se altera) não existe, porque a própria história se encarrega de dar outras interpretações. Mas isso não quer dizer que os jornalistas vão fazer o trabalho sem estar com a verdade, pois a verdade do jornalista será atingida se os métodos que ele utilizou para descobrir e checar a informação forem corretos e puderem ser checados no futuro. Aí está a verdade, na atuação séria e honesta, que reuniu documentos e os guardou – caso seja necessário comprovar as informações que divulgou. Se a busca pela aproximação máxima à verdade absoluta ainda continua incessante, os métodos de apuração e o relato contextualizado e carregado de comprovações documentais torna a verdade do relato jornalístico. 15 UNIDADE O Papel do Jornal O Código de Ética dos Jornalistas brasileiros, aprovado no congresso nacional da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), em 2007, cita em pelos dois momentos a responsabilidade do jornalista com a verdade: Capítulo I – Do direito à informação Art. 2º I – [...] II – a produção e a divulgação da informação devem se pautar pela veracidade dos fatos e ter por finalidade o interesse público; III – [...] Capítulo II – Da conduta profissional do jornalista Art. 3º [...] Art. 4º O compromisso fundamental do jornalista é com a verdade no relato dos fatos, razão pela qual ele deve pautar seu trabalho pela precisa apuração e pela sua correta divulgação. (CÓDIGO DE ÉTICA DO JORNALISTA, 2007) Visite o Código de Ética dos Jornalistas Profissionais no site da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj): https://goo.gl/cxv1AJEx pl or Realizar um mau jornalismo significa trair a confiança depositada pelo público no trabalho de contar as histórias do cotidiano. Contá-las de forma deturpada, distorcida, sem os lados envolvidos, ou simplesmente sonegá-las, ou seja, deixá-las engavetadas na redação, pode levar a prejuízos sérios a quem justamente confia e se apoia na imprensa. Lage (2001) lembra de um caso clássico ocorrido nos Estados Unidos, em 1930, meses depois da quebra de 1929 na Bolsa de Nova York, em que o editor de um jornal em Massachusetts, William Dwight, ficara sabendo que um banco local estava à beira da falência. Lage conta: Os diretores do banco lhe pediram que não noticiasse, para evitar uma corrida de depositantes, agravando a situação das pessoas, já atingi- das pela crise econômica. Disseram que poderiam reerguer o banco e, diante dos apelos, Dwight nada noticiou. Quinze dias depois, o banco falia. Os grandes depositantes haviam retirado seu dinheiro; os peque- nos clientes, leitores do jornal de Dwight, não. “Nunca pude me per- doar inteiramente por não ter publicado o que sabia a tempo de impe- dir que alguns privilegiados se aproveitassem da situação”, escreveu ele. (LAGE, 2001, p. 99) 16 17 Direito à Informação Houve um tempo obscuro em que só uns poucos achavam que tinham direito à informação e eles tentaram explicar o domínio de uns poucos como uma capacidade em desenvolver a inteligência mais do que outros, como se essas mentes privilegiadas devessem controlar os outros, pois esses tinham a chave do conhecimento. Cremilda Medina (1988) cita como o Jornalismo descendente do processo revolucionário, no século XVII e XVIII, materializou uma nova condição de liberalismo contra “as mentes privilegiadas”. [...] Naturalmente, a ascensão da burguesia em seu esquema revolucio- nário, do século XVII em diante, vai romper essa posição teórica: o li- beralismo luta contra as “mentes privilegiadas”; o método exclusivo de chegar a verdade resulta da livre concorrência de opinião num merca- do aberto. A teoria libertária vai amadurecer gradativamente e chega a nossos dias em campanhas políticas fundamentadas em extensa biblio- grafia que clama por liberdade de informação. O jornalismo romântico das revoluções nacionais acreditava indiscutivelmente nessa liberdade (MEDINA, 1988, p. 18). A informação como condição para a interação social de todos, para a participação no debate sobre os destinos dos cidadãos, continuará presente no contexto da imprensa e isso levará a uma teorização da questão e consolidação do pensamento atual de “Direito à Informação”, expresso na Constituição da República Federativa do Brasil: “Artigo 5o Item XIV – é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional.” Ainda segundo Medina (1988), autores como José Ortega Costalles (1966) desenvolveram teorias colocando o direito à informação e consequentemente as notícias como “a preciosa oportunidade de participar muito mais intensa e extensamente na História” (COSTALLES, 1966 apud MEDINA, 1988, p. 19). Outros tratados internacionais, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos (10/12/1948), da ONU, surgiram dandomais força ao direito à informação como uma garantia essencial para a vida na sociedade atual. Veja algumas citações: Declaração Universal dos Direitos Humanos (10/12/1948) (artigo 19): Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e indepen- dentemente de fronteiras. 17 UNIDADE O Papel do Jornal Declaração Interamericana de Princípios de Liberdade de Expressão 2000 (item 4): O acesso à informação mantida pelo Estado constitui um direito funda- mental de todo indivíduo. Os Estados têm obrigações de garantir o pleno exercício desse direito. Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (artigo 19): Toda pessoa terá direito à liberdade de expressão; esse direito incluirá a liberdade de procurar, receber e difundir informações e ideias de qualquer natureza [...]. Fases do Jornalismo Muitos autores, como Ciro Marcondes Filho (2000), citam os impressos anterio- res à Revolução Francesa (1789) como pertencentes à pré-história do Jornalismo. Também Nilson Lage (2001) refere-se aos editores de publicações no século XVI (pós-Gutenberg) como publicistas, motivados principalmente em divulgar opiniões, alimentar o debate político e comunicar acontecimentos da Corte. Lage ilustra: Por muitas décadas, o jornalista foi essencialmente um publicista, de quem se esperavam orientações e interpretação política. Os jornalistas publicavam, então, fatos de interesse comercial e político, como chegada e partida de navios, tempestade, atos de pirataria, de guerra ou revolução; mas isso era visto como atração secundária, já que o que importava mesmo era o artigo de fundo, geralmente editorial, isto é, escrito pelo editor – homem que fazia o jornal praticamente sozinho (LAGE, 2001, p. 10). Para entender às transformações vividas no Jornalismo atual, Marcondes Filho (2001) sistematiza quatro fases além do período considerado pré-história. Para esse autor, o período de 1630 a 1789 (pré-história do Jornalismo) era caracte- rizado por uma prática de produção artesanal de folhetos e jornais. O dono do jornal cuidava de todo o processo, da redação, a duplicação dos originais até a distribuição, e isso era praticado como a defesa de uma causa. Tinha como valores de importância os acontecimentos espetaculares e singularmente novos – como desastres, mortes, seres deformados e as coisas que aconteciam na órbita do Rei, inclusive boatos difamatórios, em alguns casos. Era um jornal sem uma identidade, apenas uma evolução do livro. Os ideais da Revolução Francesa acolhem o jornalismo como um serviço neces- sário à sociedade liberal que estava se constituindo. Esse período, que vai de 1789 a 1830, Marcondes Filho (2001) chama de “Primeiro Jornalismo”, caracterizado por uma prática político-literária em que a razão, a verdade, transparência, ques- tionamento da autoridade, a crítica política e a confiança no progresso serão os valores marcantes do fazer jornalístico. Do ponto de vista técnico, a prática autoral 18 19 (o dono “faz tudo”) cede espaço para a contratação de funcionários e a criação da redação, separando-se funções de chefia e subordinados. A fase seguinte, chamada de “Jornalismo de Massa”, compreende o período de 1830 a 1900, e é caracterizada pelo crescimento explosivo dos jornais como estrutura de produção e tiragens-monstro. Eles passam a disputar o “furo” e criam- -se técnicas de produção e formatos de textos como a entrevista, a reportagem e a criação de capas impactantes para vencer a concorrência. Novas tecnologias, como a linotipo, a impressão com rotativas e, no campo das comunicações, o telé- grafo e o telefone, passam a fazer parte dos recursos usados pelos jornais. Nascem as primeiras agências internacionais que vendem notícias aos jornais. A revolução industrial atraia populações rurais para os centros urbanos e os jornais integravam esses novos leitores – que estavam aprendendo a ler – a essa nova realidade. Figura 6 − A máquina Linotipo (1886) mecanizou a montagem dos textos a partir dos tipos móveis de Gutemberg e tornou o processo de montagem da página mais ágil Fonte: iStock/Getty Images O terceiro Jornalismo, de 1900 a 1960, tem como característica um aperfeiço- amento no uso de estratégias para chegar ao leitor, a busca por páginas e conteú- dos mais atraentes, a criação de cadernos temáticos, movimento conhecido como cadernalização dos jornais. Outros meios de comunicação de massa, como o cine- ma, o rádio e a TV surgem, e os jornais não conseguem manter as imensas tira- gens anteriores. Nesse período, há uma aproximação das agências de publicidade e relações públicas influenciando algumas estratégias jornalísticas. Segundo Marcondes Filho (2001), o quarto Jornalismo, período que abrange da década de 1970 até os dias atuais, é a era do visual, da velocidade, da transpa- rência. O autor já visualizava bem os impactos da nova mídia quando, em 2000, sistematizou o quadro a seguir, apontando elementos como barateamento da pro- dução, interação entre jornalistas e público também produtor, a produção colabo- rativa, marcam as mudanças atuais. 19 UNIDADE O Papel do Jornal Quadro 1 – As 4 fases do Jornalismo e a pré-história ÉPOCA TIPO Pré-história 1637 a 1789 Artesanal Primeiro Jornalismo 1789 a 1830 Político-leterário Segundo Jornalismo 1830 a cerca de 1900 Impresa de massa Terceiro Jornalismo De cerca de 1900 a cerca de 1960 Impresa monopolista Quarto Jornalismo De cerca de 1970 até o presente Informação eletrônica e interativa Quadro 2 – Valores predominantes em cada fase e os aspectos da atuação profissional VALORES JORNALÍSTICOS DOMINANTES ASPECTOS FUNCIONAIS E TECNOLÓGICOS Pré-história Espetacular, singularmente novo (desastres, mortes, seres deformados, reis, etc) Jornal ainda semelhante ao livro, poucas páginas Primeiro Jornalismo Razão (verdade, tranparência); questionamento da autoridade; crítica da política; confiança no progresso Profissionalização; surge a redação; diretor separa-se do editor; artigo de fundo; autonomia da redação Segundo Jornalismo O “furo”; a atualidade; a “neutralidade”; criam-se a reportagem, as enquetes, as entrevistas, as manchetes; investe-se nas capas, logo e chamadas de 1ª página Rotativas e composição mecânica por linotipos (1890); telégrafo e telefone; cria-se a agência Havas; mais publicidade e menor peso de editores e redatores; títulos passam a ser feitos pelo editor Terceiro Jornalismo Grandes rubricas políticas ou literárias; páginas-magazines; esporte, cinema, rádio, teatro, turismso, infantil, feminina Influência da indústria publicitária e das relações públicas; uso da fotografia Quarto Jornalismo Impactos visuais; velocidade; tranparência Implantações tecnológicas (barateamento da produção); alteração das funções do jornalista; toda a sociedade produz informação 20 21 O Valor da Notícia Você concorda que o sucesso de um jornal se deve às notícias nele publicadas que constroem o sentido de realidade? E é o interesse sobre elas que leva o leitor a adquirir o jornal todos os dias? Nesse sentido, é possível deduzir que a escolha das notícias para a edição do dia seja feita com critérios tais que resultem em alguma aprovação do leitor, pois, se fosse o contrário, certamente o jornal deixaria de existir por desinteresse do público, certo? Essa dependência do leitor sempre existiu, mas no início do Jornalismo essa relação era bastante diferente, pois o público entendia que o jornal tinha o papel de explicar os acontecimentos, uma clareza de um sentido de serviço público do jornal, e consequentemente o leitor esperava os comentários publicados para compreender o momento. No final do século XIX, quando a sociedade passa a contar com meios de comu- nicação de massa, o capital (dinheiro, investimentos) se apropria mais intensamen- te das empresasjornalísticas e elas têm que disputar o público. Inicia-se uma outra forma de selecionar os assuntos publicados no jornal, considerando-se mais o que o público deverá se interessar e recuperando novamente o debate entre “interesse do público” e “interesse público”. Pense: se os jornais se tornam grandes empresas que concorrem para ter mais leitores, eles terão que criar técnicas para escolher as notícias que publicam para agradar mais o leitor, certo? Mas o que é agradar o leitor? É escrever coisas úteis para o dia a dia ou escrever assuntos sensacionalistas, que quase sempre explo- ram o horror, o sangue, o sofrimento? Veja a ilustração ao lado da capa do jornal Notícias Populares de 11 de maio de 1975, e observe a carga sensacionalista de uma notícia bem diferente da realidade dos fatos. É claro que o leitor do NP sabia que as manchetes e títulos das matérias sempre traziam um exagero e por isso suas notícias eram interpretadas mais ou menos corretamente. O NP circulou em São Paulo de 1963 a 2001. Capa do jornal Noticias Populares de 1975: https://goo.gl/Vqz4Am Ex pl or Voltando aos processos de escolha das notícias, vários estudos foram realizados sobre os critérios de noticiabilidade ou valores-notícia na tentativa de indicar instru- mentos técnicos para escolher e dar mais importância a um acontecimento do que a outro – resultado chamado de hierarquização das notícias –, inclusive deixando de publicar o que fosse considerado de pouco ou nenhum interesse público. Crité- rios como veracidade e objetividade permeiam praticamente todos os estudos por estarem associados ao principal valor, que é a verdade. “A verdade da notícia, ba- luarte de um neoliberalismo (mercado livre de ideias) contemporâneo, se remete à fundamentação teórica da objetividade do acontecimento”, ressalta Medina (1988). 21 UNIDADE O Papel do Jornal Outros critérios mais ou menos comuns são os de atualidade, interesse por parte do público, facilidade de assimilação ou clareza, segundo a autora. Medina lembra que Gabriel Ortega Costalles cita que “o acontecimento é sempre substantivo”. Isso até poderia trazer conforto aos trabalhadores da notícia, entretanto, há todo um processo envolvendo subjetividades durante a captação do fato e a redação da narrativa, o que obriga o uso de procedimentos técnicos e, ainda assim, a aplicação de critérios de valoração que podem não resultar nas melhores escolhas. Em Nelson Traquina (2004), é possível ter um bom quadro dos valores-notícia. Ao analisar diversos estudos, inclusive o amplo trabalho de Mauro Wolf (1999) a respeito, Traquina organiza o elenco em dois grandes grupos: os valores-notícia de seleção e os de construção. O primeiro grupo refere-se a critérios aplicados na escolha do acontecimento a ser noticiado, por isso chamado de valores-notícia de seleção. O segundo grupo trata da construção da notícia, a redação e edição, o chamado valores-notícia de construção. Ao analisar os acontecimentos que poderão ser acompanhados pelos repórteres, o jornal aplica os critérios de valores-notícia de seleção que podem ser substantivos, ou seja: morte, notoriedade do agente principal, proximidade geográfica e cultural, relevância, novidade, tempo (capacidade de se relacionar com a atualidade), nota- bilidade, conflito ou infração, ou contextuais; isso é, valores-notícia condicionados à estrutura do jornal, ou seja: disponibilidade, equilíbrio, visualidade, concorrência, exclusividade e dia noticioso. Conquistando o atributo de ser notícia, o acontecimento terá a cobertura da equipe e passará por nova avaliação dos valores-notícia de construção, ou seja, se a história narrada será de fato publicada e com qual destaque. Nessa etapa final, são os valores-notícia de construção: simplificação, amplificação, relevância, persona- lização, dramatização e consonância; esses definirão como e onde será publicada a notícia. 22 23 Quadro 3 – Resumo: valores-notícia segundo Traquina (2004) SELEÇÃO notoriedade do agente principal CONSTRUÇÃO simplificação proximidade geográfica e cultural amplificação relevância relevância novidade personalização tempo* dramatização notabilidade consonância conflito ou infração morte Contextuais valores-notícia condicionados à estrutura do jornal disponibilidade equilíbrio visualidade concorrência exclusividade dia noticioso *capacidade de se relacionar com a atualidade A criação de critérios para a escolha das notícias é um procedimento técnico importante, já que a atividade jornalística deve ser transparente em todas as suas etapas e decisões. Editores que tomam a decisão de publicar ou não determinada notícia procuram se apoiar em alguns dos critérios acima. A dinâmica de fecha- mento diário do jornal muitas vezes impede que os valores-notícia sejam mensu- rados para cada informação, mas, sempre que decisões importantes são tomadas, pelo menos alguns desses critérios são considerados. Gêneros do Jornalismo Impresso O jornal Impresso é o meio em que melhor se desenvolveu os gêneros jorna- lísticos. Ao escrever as matérias do jornal, os gêneros dão estruturas específicas para o texto, de modo que cada conteúdo redigido cumpra o objetivo para o qual foi pensado. Os gêneros são, antes de tudo, jeitos de escrever que expressam a intencionalidade, ou seja, estão a serviço da intenção do autor. Melo e Assis (2016) explicam que os gêneros suprem as necessidades sociais, pois refletem aquilo que os cidadãos querem e precisam saber. Os autores relacionam duas características básicas que definem um gênero: [...] um aspecto é a sua aptidão para agrupar diferentes formatos – todos com características comuns, embora diferentes entre si – e sua função social. Quando nos referimos a essa última exigência, corroboramos, evidentemente, com a perspectiva funcionalista, mencionada anteriormente, segundo a qual os meios operam para atender as demandas originadas no contexto da sociedade. Considerando principalmente os 23 UNIDADE O Papel do Jornal pressupostos de Lasswell (1987) e de Wright (1968), temos o seguinte panorama dos gêneros jornalísticos e de suas respectivas funções: Informativo: vigilância social; Opinativo: fórum de ideias; Interpretativo: papel educativo, esclarecedor; Diversional: distração, lazer; Utilitário: auxílio nas tomadas de decisões cotidianas. (MELO; ASSIS, 2016, p. 49). Criando uma simplificação para facilitar o raciocínio, podemos compreender que o autor de cada texto publicado no jornal teve uma intenção que poderia ser de informar ou de opinar (manifestar uma opinião), o que faz ele utilizar para tal o gênero informativo ou opinativo. A classificação dos principais gêneros e seus formatos não é unânime entre os teóricos do Jornalismo. Há, de fato, concordância na maioria das definições, mas alguns estudiosos criam nomenclaturas e agrupamentos que divergem de outros estudos. Um dos principais gêneros do Jornalismo é o informativo. Esse gênero é citado por Melo e Assis (2016) com a função de vigilância social, pois informa os acontecimentos e automaticamente compromete o leitor a agir corretamente de posse da informação transmitida. Esse gênero é caracterizado por seu objetivo de informar, deixando o relato com a máxima imparcialidade. Para cumprir esse desejo, o texto evita o uso de adjetivos, escolhe os substantivos mais adequados para caracterizar o acontecimento e utiliza referências objetivas, como números ou comparações para descrever detalhes da notícia sem usar valores subjetivos como bom, ruim, muito, pouco etc. No gênero informativo, estão presentes os formatos: nota, notícia, reportagem e entrevista. A nota é um relato parcial de um acontecimento ainda em curso, ou que não se tem todas as informações. Notícia é um relato completo, circunstanciado de um acontecimento. Diferente da notícia, a reportagem é um relato ampliado, aprofundado, contextualizado de um acontecimento. Entrevista é ainda um relato que privilegia um oumais protagonistas do acontecer, ou seja, a notícia chega através do personagem. Outro gênero muito presente é o opinativo. Com a função de ser um fórum de ideias, ainda segundo Melo e Assis (2016), é caracterizado pela expressão de um posicionamento do autor, uma certa opinião. Trata-se de uma opinião baseada no contexto do relado e apoiada em informação, e não uma pura manifestação do gosto particular do autor. Alguns formatos de textos opinativos são: editorial, crônica, artigo e comentário. O editorial é um texto em que o proprietário do jor- nal declara a sua opinião sobre um assunto de sua escolha. A crônica permite um texto ilustrado, em que o autor tem liberdades para expressar seu olhar utilizando diversos recursos de estilo de texto – como criação de personagens, por exemplo. 24 25 No artigo, o autor fala sobre um assunto, explicando-o, traduzindo-o para que possa ser compreendido melhor. Normalmente um especialista no assunto tratado é quem escreve o artigo, por isso a tendência à explicação e ao posicionamento pessoal diante do mesmo. O comentário segue o mesmo objetivo do artigo, mas quase sempre entra como um complemento de uma notícia. O gênero interpretativo tem o objetivo de aprofundar o relato de um acon- tecimento. Ele transita entre o informativo, porque tem motivação em informar, orientar e explicar, e o opinativo, porque, diante do conhecimento aprofundado do assunto, o repórter pode emitir um certo posicionamento sobre a história – e essa postura, às vezes, se aproxima do opinativo, mas é bem diferente, já que o autor tem como objetivo contar uma grande história ao leitor. Como um bom exemplo na história do gênero interpretativo podemos destacar reportagens produzidas pela revista Realidade (década de 1960) em que, para conhecer profundamente o as- sunto, o(a) repórter vivenciava a condição do seu personagem – por exemplo, para falar da vida do trabalhador bancário, o repórter acompanhava o bancário durante muitos dias, podendo até trabalhar em um banco para experimentar todos os sen- timentos do personagem. No gênero interpretativo, podemos incluir a grande reportagem e, segundo Melo e Assis (2016), dossiê, cronologia, enquete, perfil e análise. Existem ainda dois gêneros classificados pelos autores: o diversional e o utilitário. Diversional é o gênero marcado por conteúdos voltados ao entretenimento, de pouca densidade, abordagens emocionais e até boatos e fofocas sobre novelas, por exemplo. O gênero utilitário reúne dados sobre cotações, roteiros, guias e serviço. 25 UNIDADE O Papel do Jornal Quadro 4 - Gêneros Jornalísticos, segundo Melo (2014) Gênero Formato Gênero informativo Nota Notícia Reportagem Entrevista Gênero opinativo Editorial Comentário Artigo Resenha Coluna Caricatura Carta Crônica Gênero interpretativo Análise Perfil Enquete Cronologia Dossiê Gênero diversional História de interesse humano História colorida Gênero utilitário Indicador Cotação Roteiro Serviço 26 27 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Centro Técnico Gráfico Folha completa 20 anos https://goo.gl/Ap7JaP Livros A Arte de fazer um Jornal Diário NOBLAT. Ricardo. A Arte de fazer um Jornal Diário. São Paulo: Contexto, 2002. Vídeos Documentário: Folha, 90 anos https://goo.gl/gjScgg Leitura Entrevista com Matías Martínez Molina, autor do livro Os maiores jornais do mundo https://goo.gl/wQdkcQ Gêneros e Formatos jornalísticos um modelo classificatório MELO, José Marques; ASSIS, Francisco. Gêneros e Formatos jornalísticos um modelo classificatório. Paper apresentado ao Intercom em 2016. https://goo.gl/wS5Nbw Código de Ética dos Jornalistas Profissionais, site da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). https://goo.gl/cxv1AJ 27 UNIDADE O Papel do Jornal Referências COSTA, Caio Tulio. Ética, Jornalismo e Nova Mídia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009. COSTALLES, José Ortega. Noticia, Actualidad, Información. Pamplona: Universidad de Navarra, 1966. DARNTON, Robert. Boemia Literária e Revolução: o submundo das letras no antigo regime. São Paulo: Cia das Letras, 2007. LAGE, Nilson. A reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística. 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