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Andressa Marques – medicina UFR DEFINIÇÕES GERAIS → Período neonatal: intervalo de tempo que vai do nascimento até o momento em que a criança atinge 27 dias, 23 horas e 59 minutos. →Período neonatal precoce: intervalo de tempo que vai do nascimento até o momento em que a criança atinge 6 dias, 23 horas e 59 minutos. →Período neonatal tardio: intervalo de tempo que vai do 7º dia até o momento em que a criança atinge 27 dias, 23 horas e 59 minutos. →Idade gestacional: duração da gestação medida do primeiro dia do último período normal de menstruação até o nascimento; expressa em dias ou semanas completos. →Idade pós-natal: é o período de tempo que decorre do nascimento até a data presente. →Idade corrigida: é a idade pós-natal menos o número de semanas que faltou para completar 40 semanas (subtrair da idade pós-natal a diferença entre 40 semanas e a idade gestacional). É usada para avaliação do crescimento e desenvolvimento da criança após o termo. →Peso de nascimento: primeiro peso do recém-nascido (RN) obtido após o nascimento. →Relação do peso de nascimento com idade gestacional: reflete a qualidade de crescimento fetal e permite a determinação de risco para problemas perinatais. PREMATURIDADE →A prematuridade é uma síndrome clínica complexa; é um processo que se inicia muito antes da gestação, determinada por fatores socioeconômicos, estilo de vida e de trabalho, que interagem de maneira complexa aos fatores biológicos determinando o nascimento prematuro. O grau de prematuridade é determinado pela idade gestacional e frequentemente se associa a quadros de desnutrição fetal. →É classificada como o nascimento com menos de 37 semanas completas de gestação (menos de 259 dias) a partir do primeiro dia do último período menstrual – não leva em consideração o peso. →O conhecimento da idade gestacional é fundamental para caracterizar a prematuridade e para isso, a datação da gravidez deve levar em conta a certeza da data da última menstruação (DUM) e sua concordância com a ultrassonografia obstétrica realizada até 12 semanas ou, pelo menos, duas ultrassonografias compatíveis até 20 semanas. • Pré-termo: IG < 37 semanas • Pré-termo tardio: IG entre 34 semanas e 36 semanas e 6 dias (corresponde a 74% dos casos) • Pré-termo moderado: IG entre 32 semanas e 33 semanas e 6 dias • Muito pré-termo: IG entre 28 semanas a 31 semanas e 6 dias • Pré-termo extremo: IG < 28 semanas Andressa Marques – medicina UFR →A prematuridade pode ser classificada segundo a sua evolução clínica decorrente de 2 situações: espontânea ou eletiva. →Na prematuridade espontânea, em que ocorre trabalho de parto prematuro, a etiologia geralmente é multifatorial ou desconhecida, responsável por cerca de 75% dos casos, o que dificulta as estratégias preventivas. →Por outro lado, na prematuridade eletiva a gestação é interrompida em virtude de complicações maternas - por exemplo, doença hipertensiva específica da gestação (DHEG) e outras doenças maternas - e/ou fetais - por exemplo, restrição do crescimento fetal (RCF) ou sofrimento fetal - e corresponde a 25% dos casos. →Prematuridade é a principal causa de morte perinatal e morbidade - síndrome do desconforto respiratório, hemorragia intracraniana, enterocolite necrosante e sepse. →Maior morbimortalidade quando abaixo de 32 semanas. →A morbidade é elevada no grupo de recém-nascidos que sobrevivem e diretamente relacionada aos distúrbios respiratórios e às complicações infecciosas e neurológicas. Avaliações do desenvolvimento infantil revelam distúrbios funcionais do sistema nervoso central (SNC) que comprometem principalmente as funções neuromuscular, cognitiva, visual e auditiva, repercutindo em desvantagens neurológicas e psicológicas ao longo de toda a vida do indivíduo. Alta Mortalidade + Alta Morbidade + Sequelas Tardias + Alto Custo à Saúde Pública →No Brasil estima-se que 6,7% dos nascimentos sejam prematuros, sendo este um dos fatores de risco mais importantes para a mortalidade infantil. Apenas 0,7% dos nascimentos são pós-termo. →Cerca de 8% dos nascidos vivos no país são baixo peso (< 2.500 g), sendo este outro fator de risco para mortalidade infantil. Andressa Marques – medicina UFR →Cerca de 2/3 dos recém-nascidos com peso inferior a 2.500 gramas são prematuros. #prematuridade e baixo peso não são sinônimos. ➢ Fatores de Risco →Em 50% dos casos o parto prematuro vai ser considerado de etiologia desconhecida. →Todavia, quando se é possível associar a fatores maternos e fetais, eles são classificados em: 1. Epidemiológicos; 2. Obstétricos; 3. Ginecológicos; 4. Clínico-cirúrgicos; 5. Genéticos; 6. Iatrogênicos 1. Epidemiológicos →Baixo nível socioeconômico: fatores associados (A incidência de parto prematuro é maior em populações de baixa renda socioeconômica e em pacientes que não recebem assistência pré-natal; No mundo nascem cerca de 15 milhões de prematuros anualmente e aproximadamente 90% desses prematuros concentram-se em países pobres ou em desenvolvimento.) →Ambientais: dióxido de nitrogênio: aumento em 25%. →Nutrição inadequada: evidências ainda não suficientes. →Idade materna: <18 anos ou > 40 anos. →Estresse físico: literatura não uniforme. →Estresse psicológico crônico: ativa eixo hipotálamo-hipófise-adrenal materno e fetal: ↑ produção do hormônio liberador de corticotrofina → liberação de catecolaminas → estimulação dos receptores alfa no útero → hipercontratilidade uterina. →Tabagismo →Consumo de drogas: cocaína ↑ 3x/risco 2. Obstétricos →Alterações hormonais: progesterona como responsável pela quiescência uterina. Aumento da relação estrógeno/progesterona: um dos principais fatores para aparecimento das contrações uterinas. (efeitos da progesterona →destacam-se: diminuição dos receptores de estrógenos, inibição da síntese de ocitocina, diminuição da formação de gap junctions, aumento da síntese de receptores beta, diminuição do cálcio livre intracelular e aumento do cálcio nos depósitos (retículo sarcoplasmático)) (O predomínio estrogênico promove a síntese de receptores de ocitocina, a formação de gap junctions no miométrio, a síntese de prostaglandinas as alterações bioquímicas no tecido conjuntivo cervical e a degradação do colágeno.) →Incompetência cervical – dilatação cervical precoce →Sangramentos de primeiro trimestre: ↑ 2x RR. →Sangramentos de segundo trimestre: ↑ 3x RR – Efeito contrátil da trombina. →Placenta prévia e Deslocamento Prematuro de Placenta (DPP): efeito contrátil _ indicação de interrupção – fatores relacionados a isquemia da placenta (nível de calcificação da placenta, por ex) →Polidrâmnio: sobredistensão uterina. →Gemelidade: 10% dos prematuros. ↑ morbidade materna associada. →Rotura Prematura de Membranas Ovulares: associada a 30-40% dos PMT. →DHEG – doença hipertensiva específica da gestação →Malformações fetais →CIUR: alterações isquêmicas da placenta levam ao estresse fetal crônico → liberação de hormônios hipotalâmicos (CRH, ocitocina) e adrenais (cortisol)→ aumento da contratilidade uterina. Andressa Marques – medicina UFR • Partos prematuros anteriores: ➔Fator de risco clínico mais importante para a prematuridade espontânea. ➔1 em cada 4 com PMT atual tem antecedente de prematuridade espontânea. ➔Suposições: IMC menor, contrações uterinas mais frequentes e colos uterinos mais curtos. 3. Ginecológicos →Alterações anatômicas do colo uterino ou História de cirurgia extensa ou amputação do colo uterino: incompetência cervical. →Encurtamento do colo uterino →Malformações uterinas: ocorre prematuridade espontânea ou eletiva em 25 a 50% dos úteros didelfo, bicorno e septado → contrações uterinas mais frequentes + incompetência cervical. Útero septado relacionado com Deslocamento Prematuro de Placenta (DPP). →Miomatose (sangramentoscomuns) 4. Clínico-cirúrgicos • INFECÇÕES: →Associação com 40% dos casos. →Corioamnionite: importante causa de parto prematuro espontâneo. Quanto menor a IG, maior a frequência de infecções na cultura de líquido amniótico, principalmente abaixo de 30 a 32 semanas. →Infecções vaginais também aumentam o risco (vaginose, Trichomonas vaginalis…). Controverso: amostra coletadas após a modificação do colo. →Outros focos: ➔ITU: infecção bacteriana mais comum nesse período, assim como a bacteriuria assintomática. ➔Periodontite: ↑ o risco em até 7x. INFECÇÕES: Produtos bacterianos, como lipopolissacarídios ou mediadores inflamatórios (IL-1, IL- 6, TNF e prostaglandinas), secundários à resposta imunológica materna, desencadeariam o aparecimento das contrações uterinas e alterações do colo uterino. →Doenças maternas (diabetes; HAS; nefropatias; cardiopatias; hiper ou hipotireoidismo não compensados...) →Procedimentos cirúrgicos na gravidez 5. Genéticos →Necessita estudos adicionais. Fatos como (1) mulheres prematuras ao nascer terem maior risco de prematuridade, (2) risco aumentado de prematuridade com o mesmo parceiro e (3) novo parceiro reduz risco em 1/3 sugerem predisposição genética. 6. Iatrogênicos →Erros de datação em cesarianas eletivas (US tardio) e intervenções desnecessárias em fetos de risco. Andressa Marques – medicina UFR ➢ Fisiopatologia →Admite-se que existam 4 mecanismos fisiopatológicos para o parto prematuro: 1. Ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (estresse) - O estresse fetal ou materno pode desencadear a liberação de hormônios hipotalâmicos (CRH, ocitocina) e adrenais (cortisol, adrenalina). 2. Inflamação e infecção - Os processos inflamatórios e infecciosos (corioamnionite, cervicite) promovem a liberação de endotoxinas e citocinas inflamatórias, como o TNF-alfa e as interleucinas. 3. Sangramento decidual - O sangramento decidual, com a produção de trombina, aumenta a contratilidade uterina. 4. Distensão ou contratilidade uterina patológica - a sobredistensão uterina é causa de contratilidade uterina aumentada, que ocorre no polidrâmnio e na gemelidade. Na contratilidade uterina anormal podem estar envolvidos os receptores de ocitocina, a diminuição relativa da progesterona ou as gap junctions. ➢ Prevenção Andressa Marques – medicina UFR →Constitui um grande desafio, não apenas por estarem envolvidos fatores socioeconômicos e educacionais, mas também em virtude de várias causas não serem passíveis de prevenção primária ou serem de origem desconhecida. →Com o objetivo de facilitar a análise de diversos fatores de risco, foram criados sistemas de pontuação que possibilitam classificar as gestantes em baixo, médio e alto risco, de acordo com fatores sociodemográficos e clínicos. Mas esses sistemas revelaram-se incapazes de identificar de maneira confiável aquelas gestantes com maior risco de parto prematuro. →Embora desejável, a prevenção primária, ou seja, a remoção ou a redução das causas epidemiológicas, geralmente é difícil de ser realizada na prática. Uma vez que muitos dos fatores de risco relacionados à prematuridade já estão presentes antes da gravidez e, portanto, a abordagem preconcepcional seria o ideal. →A avaliação pré-gestacional das condições físicas, psíquicas e sociais visa a detectar possíveis riscos para a futura gestação, como os relacionados com a idade materna (extremos etários), quadros infecciosos, situações de estresse., uso de drogas, medicamentos, desvios nutricionais, entre outros. →Nos últimos anos, tem sido enfatizada a prevenção secundária baseada na identificação de gestantes dos grupos de maior risco para o pano prematuro (por exemplo, baixo peso pré-gestacional, história de parto prematuro anterior, colo curto, incompetência cervical, gestação gemelar, sangramentos vaginais de primeiro e segundo trimestres). →Dessa maneira, diversas alterações, como as bioquímicas, da contratilidade uterina e das características do colo uterino antes do trabalho de parto, podem ser detectadas por meio de exames adequados. →Algumas medidas como repouso, na gestação gemelar; circlagem do colo uterino, na incompetência cervical; e utilização de antibióticos e emprego da progesterona podem impedir o nascimento prematuro. →É fundamental que, juntamente à utilização desses recursos, o pré-natal seja mais cuidadoso, com consultas médicas mais frequentes - uma a cada 4 semanas até 24 semanas e, a partir de então, quinzenais ou semanais. Tais consultas têm como objetivo verificar eventuais queixas, diagnosticar e tratar infecções vaginais e urinárias e avaliar as contrações uterinas e as condições cervicais pelo exame especular e pelo toque vaginal. →Por fim, a prevenção terciária por meio da tocólise também não é capaz de evitar o parto prematuro na maioria dos casos, embora o uso do corticosteroide e a antibioticoterapia profilática para o estreptococo do grupo B nessa situação possam diminuir a morbidade e a mortalidade neonatal. MÉTODOS PREVENTIVOS PARA AS COMPLICAÇÕES DA PREMATURIDADE → O melhor acompanhamento do prematuro, de forma supervisionada e interdisciplinar, garantirá o investimento em sobrevida anteriormente realizado com esses pacientes nas unidades de tratamento intensivo: menores taxas de reinternações, menor índice de infecções nos primeiros anos de vida dessas crianças, melhores taxas de crescimento e neurodesenvolvimento, adequada inclusão na escola e potencial de aprendizado e inserção na sociedade na vida adulta. →A atenção com a vacinação é de suma importância, pais ou cuidadores devem ser informados sobre as vacinas que a criança já recebeu durante a internação. O prematuro deve ser vacinado de acordo com sua idade cronológica, seguindo o calendário oficial, nas mesmas doses e intervalos das crianças maiores, devendo-se evitar atraso vacinal durante a longa permanência na UTI. Andressa Marques – medicina UFR →Nos recém-nascidos abaixo de 1.500 gramas de peso de nascimento, iniciar com nutrição parenteral total nos casos em que não há condições de alimentação enteral. Fornecer 40 mg/Kg de cálcio (4 ml/Kg de gluconato de cálcio a 10%) e 50 mg/Kg de fósforo (0,5 ml/Kg de fosfato ácido de potássio). A melhor relação cálcio/ fósforo para mineralização óssea é 1.7:1. Assim que as condições clínicas do paciente permitirem, iniciar com a alimentação enteral, preferentemente com leite humano, inicialmente com a enteral mínima e aumentar paulatinamente o volume. →Oferecimento de um aporte adequado de oxigênio, afim de evitar uma hiperóxia e consequentemente vir a desenvolver Retinopatia da Prematuridade (ROP - é uma doença ocular retiniana vasoproliferativa que ocorre em recém-nascidos pré-termos de muito baixo peso ao nascimento) PREVENÇÃO AO NASCIMENTO DE RN PREMATURO E COM CIUR →Realização de projetos educacionais que aumentem o nível de escolaridade da população (notadamente a materna), o que efetivamente melhora a noção do cuidado do indivíduo com a sua própria saúde, além de propiciar ascensão social e econômica; estabelecimento de ações de ampla cobertura para a assistência ao pré ‑natal e a acessibilidade a um sistema de saúde de qualidade; campanhas para evitar o tabagismo, o uso do álcool e de drogas ilícitas; prevenção e tratamento adequado das afecções crônicas. CUIDADOS CLÍNICOS AO RN PREMATURO →Os cuidados intensivos neonatais apresentam características específicas, inerentes à estrutura, processo e resultado. →Condições vitais: realizada concomitantemente com as manobras de recepção do RN quando são apreciadas a integridade cardiorrespiratória e a neuromuscular. Para se demonstrar as condições de nascimento é estabelecido o índice de Apgar no 1º e 5º minutos de vida que inclui a avaliação da frequência cardíaca, esforço respiratório, tono muscular, irritabilidade reflexa e cor. (confirmaruso em prematuro) →Devem ser avaliados: • Desconforto respiratório: avalia o esforço e ritmo respiratório. A presença de dificuldade respiratória pode revelar tanto comprometimento pulmonar (doença de membrana hialina, aspiração de mecônio, pneumotórax, etc.) como extrapulmonar (acidose, malformação cardíaca, hérnia diafragmática, atresia de coanas, etc.). • Traumas obstétricos: lesões de pele, de partes moles, fraturas, lesões do sistema nervoso central, do sistema nervoso periférico e lesões viscerais. • Defeitos externos: malformações externas que exigem atendimento de urgência, como onfalocele, gastrosquise, extrofia de bexiga, meningomielocele, síndrome de Pierre-Robin. • Exame dos orifícios: atresia de coanas; atresia anal, atresia esofágica. Andressa Marques – medicina UFR • Exame da placenta e cordão umbilical: as alterações grosseiras na placenta e cordão umbilical podem auxiliar no cuidado neonatal e contribuir para o esclarecimento diagnóstico de situações como desnutrição, asfixia, infecções, etc. Referências Tratado de Pediatria da Sociedade Brasileira de Pediatria – 4ª Edição Zugaib – Obstetrícia, 3ª Edição; Capítulos 36 Departamento Científico de Neonatologia – SBP, 2017 Manual de neonatologia – Secretaria de Estado da Saúde – 2015 Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco, SBP – Departamento Científico de Neonatologia – 2012