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Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca – CEFET/RJ CONSTRUÇÃO DOS MATERIAIS - FADIGA Antonio Candido Rapozo Gabriel Avena Gustavo Xavier de Mendonça Igor Giglio Gonçalves de Souza Orientador: Silvio de Barros Rio de Janeiro Abril de 2019 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Esquemático ilustrativo sobre os tipos de carregamentos que um material pode estar submetido. .................................................................7 Figura 2 – Carregamentos durante um voo na asa de um avião (Figura adaptada: DOWNLING, 1993). ...................................................................................8 Figura 3 –Falha por fadiga: parafuso de porta. Nucleação das microtrincas (A); Propagação, evidenciado pelas marcas de praia (B); Fratura (C). (ASM Handbook vol. 12, Materials Park, OH 44073-0003). ..........9 Figura 4 – Ilustração da catástrofe ocorrida no trem Paris-Versalhes, 1842, devido a ocorrência de falha por fadiga em seus eixos, causando entre 50 e 200 mortes. ...............................................................................................11 Figura 5 – Exemplo de diagrama S-N para corpos de prova de aço sem entalhe (figura adaptada: DOWLING, 1993). ..............................................12 Figura 6 – Diagrama S-N, escala linear vs logarítmica. ........................13 Figura 7 – Gráfico ilustrativo mostrando as classificações de resistência à fadiga quanto ao número de ciclos. .............................................14 Figura 8 - Máquina de ensaios de fadiga por flexão-rotativa (TRONCO, 2016). ..............................................................................................................................18 Figura 9 - Curvas de sensitividade ao entalhe de aços e ligas de alumínio(BUDYNAS, 2008). ......................................................................................22 Figura 10 - Gráfico para obtenção da fração da resistência a fadiga(BUDYNAS, 2008). ...........................................................................................23 Figura 11 – (a)Eixo desenhado que mostra todas as dimensões em milímetros; todos os raios de filete de 3mm; o material é AISI 1050 estirado a frio. (b) Diagrama de momento flexor(BUDYNAS, 2008). .............................24 Figura 12 - Resultados de tensão-deformação monotônico e cíclico. (a) Aço Ausformed H-ll , Brinell 660 ; (b) aço SAE 4142 , Brinell 400 (BUDYNAS, 2008). ......................................................................................................27 Figura 13 - Curva deformação-vida (BUDYNAS, 2008). ........................28 Figura 14 - Os ciclos de histerese da tensão verdadeira-deformação verdadeira (BUDYNAS, 2008). .................................................................................29 Figura 15 - Aumento do comprimento de trinca aa partir do comprimento inicial em função do número de ciclos (BUDYNAS, 2008). ..31 Figura 16 - Principais modos de carregamento. ....................................32 Figura 17 - Triângulo da mecânica da fratura. ........................................33 Figura 18 - Etapas do ensaio de um corpo de prova, de material dúctil, sob tração do momento do início da estricção até o momento de ruptura. .........................................................................................................................................35 Figura 19 - Ruptura em corpos de prova de material dúctil após ensaio de tração. ........................................................................................................35 Figura 20 - Ruptura de corpo de prova de material frágil após ensaio de tração. ......................................................................................................................36 Figura 21 - Ruptura de corpo de prova de material frágil após ensaio de tração. ......................................................................................................................37 Figura 22 - Diagrama força versus deslocamento mostrando um comportamento do tipo frágil (curva a) e um comportamento dúctil (curva b). ....................................................................................................................................38 Figura 23 - Diagrama força versus deslocamento mostrando um comportamento do tipo frágil (curva a), um comportamento do tipo dúctil (curva b) e um comportamento intermediário entre os dois (curva c). .......39 Figura 24 - Navio série Liberty. ...................................................................41 Figura 25 - Processo de montagem de um navio Liberty, que durante os esforços de guerra as vezes durava menos de 60 dias. ............................42 Figura 26 - Grande número de navios Liberty prontos. Até hoje foi o maior número de navios construídos a partir de um único projeto e previa uma vida útil de cinco anos. ....................................................................................43 Figura 27 - Navio Liberty que sofreu fragilização a frio e fraturou completamente, ainda estando no porto. ............................................................44 Figura 28 - Navio Liberty fraturado ao meio também devido a trincas e fragilização a frio. ....................................................................................................44 Figura 29 - Aviões Comet em Voo. .............................................................46 Figura 30 - As partes em cinza representam as partes recuperadas do avião Comet G-ALYP. ..........................................................................................47 Figura 31 - Tanque montado para testar toda a estrutura do Comet. .........................................................................................................................................48 Figura 32 - Em detalhe, janelas e pontos de origem das falhas por fadiga. ............................................................................................................................49 Figura 33 - Outro ponto da estrutura do Comet sujeito a falas por fadiga. ............................................................................................................................49 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Classificação quanto ao número de ciclos (Nf). ................13 Tabela 2 – Efeitos que podem alterar o limite de fadiga em serviço. .........................................................................................................................................16 Tabela 3 - Parâmetros para o fator de modificação de superfície de Marin (BUDYNAS, 2008). ...........................................................................................20 Tabela 4 - Efeito da temperatura de operação(BUDYNAS, 2008). .....20 Tabela 5 - Fatores de confiabilidade correspondentes a 8% de desvio padrão do limite de resistência (BUDYNAS, 2008). ...........................................21 SUMÁRIO Introdução ............................................................................................................7 1.1 Carregamentos estáticos e dinâmicos ..............................................7 1.2 A vida útil de um componente sob condições propicias a falha por fadiga ......................................................................................................................10 1.3 Diagrama S-N .....................................................................................11 1.4 Fadiga de baixo, alto e giga ciclo ....................................................13 1.5 O limite de fadiga (𝑺𝑳) .......................................................................14 Desenvolvimento ...............................................................................................17 2.1 Método de tensão-vida ......................................................................17 2.1.1 O limite de resistência a fadiga .....................................................18 2.1.2 Fatores modificadores do limite de resistência (𝑺𝑳) .................19 2.1.3 Concentração de tensão e sensitividade ao entalhe ................21 2.1.3 Guia de procedimentos para o método tensão-vida .................22 2.1.3 Exemplo do método tensão-vida ..................................................24 2.2 Método de deformação-vida .............................................................26 2.3 Mecânica da fratura ...........................................................................30 ESTUDO DE CASOS .......................................................................................41 3.1 – NAVIOS SÉRIE LIBERTY .............................................................41 3.2 – AVIÕES COMET .............................................................................45 Conclusão ..........................................................................................................51 Referências Bibliográficas ...............................................................................53 7 Capítulo 1.0 Introdução 1.1 Carregamentos estáticos e dinâmicos Carregamentos estáticos referem-se a cargas aplicadas apenas uma vez, de maneira gradual, independentemente do tempo. O peso de uma estrutura pode ser considerado um exemplo simples de carga estática, a falha de um material por carregamentos estáticos é caracterizada pelos esforços estáticos excederem a resistência ao escoamento do material, ou seja, o material começa a apresentar deformações plásticas que comprometem a integridade de suas propriedades mecânicas. Figura 1 – Esquemático ilustrativo sobre os tipos de carregamentos que um material pode estar submetido. 8 Os carregamentos dinâmicos, por sua vez, categorizam as solicitações dependentes do tempo. Podemos classificar os carregamentos, de outro modo, em quatro categorias: Permanentes, Trabalho, Vibratório e Acidental DOWLING (1993). Os carregamentos permanentes categorizam as solicitações estáticos, ou seja, não variam com o tempo e estão presentes durante toda vida em serviço do material, já os carregamentos de trabalho variam com o tempo são provados pela execução da função fim do componente. Outra classificação é responsável por tipificar carregamentos caracterizados por uma alta frequência de ciclos, consequência secundaria dos carregamentos de trabalho ou do meio externo e também dependente do tempo, estes são os carregamentos vibratórios. Por fim, existem os carregamentos acidentais que não devem ocorrer em circunstâncias normais de operação. Figura 2 – Carregamentos durante um voo na asa de um avião (Figura adaptada: DOWNLING, 1993). Dessa forma é possível avaliar individualmente cada tipo de solicitação e propor soluções baseadas nos carregamentos de maior severidade sobre o material. As cargas variáveis, sejam cíclicas ou não, fazem com que, ao menos em alguns pontos, surjam deformações plásticas, também variáveis com o tempo, ROSA (2002). Este modo de falha é denominado falha por fadiga. A palavra fadiga do latim fatigare que significa “cansaço”, fenômeno é dividido por alguns autores e 9 pode ser observado ao longo de três estágios. O primeiro estágio, associado a tensões cisalhantes, onde ocorre a nucleação das microtrincas, no segundo estágio as microtrincas nucleadas se propagam e crescem perpendicularmente a direção das tensões principais e por fim, no terceiro estágio que representa a ruptura do material com a progressão das trincas desenvolvidas nos estágios subsequentes (Figura 3). Figura 3 –Falha por fadiga: parafuso de porta. Nucleação das microtrincas (A); Propagação, evidenciado pelas marcas de praia (B); Fratura (C). (ASM Handbook vol. 12, Materials Park, OH 44073-0003). A fadiga é um fenômeno responsável por causar danos estruturais progressivos e localizados quando o material é submetido a carregamentos cíclicos, este modo de falha é relevante por ocorrer, de maneira geral, com valores de tensão bem abaixo do limite de escoamento do material KAZYMYROVYCH (2009). Aspecto que vem motivando a busca por um melhor entendimento deste fenômeno em quase todos os campos estruturais da engenharia, de maneira a quantificar a vida útil remanescente do componente considerando o dano 10 acumulado pelos carregamentos variáveis ao qual este é submetido ao longo de sua operação fim. 1.2 A vida útil de um componente sob condições propicias a falha por fadiga A palavra “fadiga” foi introduzida em meados da década de quarenta para descrever falhas ocorridas por carregamentos cíclicos STEPHENS, et al (1980), recebeu uma de suas primeiras definições pela Organização Internacional de Normalização (ISO), em 1964, e pela Sociedade Americana para Testes de Materiais (ASTM, 1972), em 1972, como segue: “Fadiga é o processo de alterações estruturais localizadas permanentes, que ocorrem em um material submetido a condições que produzem carregamentos cíclicos em um ou mais pontos que podem gerar trincas e a completa fratura do material, até que um número suficiente desses ciclos de carregamento ocorra.” Os primeiros relatos de falhas por fadiga disponíveis na literatura ocorreram em embarcações que percorriam longas distâncias. Entretanto, foi somente no final do século XIX em que August Wöhler, engenheiro alemão do setor ferroviário, que preocupado com a falha de eixos em serviço propõe uma abordagem como objetivo de projetar um material onde suas propriedades mecânicas e dimensionais garantem que este não estará suscetível a trincas por fadiga ao longo de seu serviço. 11 Figura 4 – Ilustração da catástrofe ocorrida no trem Paris-Versalhes, 1842, devido a ocorrência de falha por fadiga em seus eixos, causando entre 50 e 200 mortes. 1.3 Diagrama S-N O método tensão-vida BUDYNAS (2008) tem como objetivo, através de um estudo estatístico baseado em testes experimentais, prever quando o material apresentará falha por fadiga. Esta metodologia consiste na determinação da resistência à fadiga de um material, submetendo-o à carregamentos dinâmicos com magnitude determinada até que trincas ou outros danos estruturais se desenvolvam. Na ocorrência da falha por fadiga, o número de ciclos ao qual este foi sujeitado é contabilizado e um novo ensaio é realizado com cargas dinâmicas de magnitude diferente, procedimento que ocorre sucessivamente e seus resultados são dispostos em um diagrama S-N (ou curva de Wöhler) que correlaciona a resistência à fadiga (S), isto é, uma amplitude de tensão em que existe um número de ciclos (N)correspondente, que determina a vida sob fadiga em ciclos do material a qual o diagrama se refere, ilustrados na Figura 5. 12 Figura 5 – Exemplo de diagrama S-N para corpos de prova de aço sem entalhe (figura adaptada: DOWLING, 1993). Este método requer muitos ensaios para o levantamento destas informações e algumas técnicas de obtenção das curvas S-N. É possível observar, também, que na Figura 5 existe a referência ao limite de fadiga para estes corpos de prova (𝑺𝑳′), conceito que será abordado no item 1.5 O limite de fadiga (𝑺𝑳). Outro aspecto importante dos diagramas S-N diz respeito a escala aplicada para levantamento da curva, haja vista que para materiais que apresentem uma vida útil, em número de ciclos, muito curta ou muito longa é convencionado o uso da escala logarítmica para facilitar a leitura dos resultados. 13 Figura 6 – Diagrama S-N, escala linear vs logarítmica. 1.4 Fadiga de baixo, alto e giga ciclo O número de ciclos (Nf), presente no diagrama S-N estipulaa vida sob fadiga do material para uma determinada amplitude de tensões aplicadas a este. Baseado neste conceito é possível, ainda, classificar a resistência a fadiga (Sf) de acordo com a sua taxa de ciclos de carga equivalente até a ocorrência de nucleação de trinca ou falha, conforme Tabela 1. Tabela 1 – Classificação quanto ao número de ciclos (Nf). Ainda que a literatura disponibilize de uma grande quantidade de informação acerca da resistência à fadiga dos materiais, estes são muitas vezes limitados a Baixo Ciclo Alto Ciclo Giga Ciclo Resistência à fadiga - 14 ciclos da ordem de 7, premissa a qual pode não ser aplicável para fadigas de giga ciclo, tendo em vista a existência de uma perda de resistência à fadiga dos materiais, quandosubmetidos a estas altas taxas de carregamento, KAZYMYROVYCH (2010). Reforçando a necessidade de levantamento de novos diagramas para garantir esta faixa de aplicação. Figura 7 – Gráfico ilustrativo mostrando as classificações de resistência à fadiga quanto ao número de ciclos. É importante destacar, também, que o método tensão-vida aplicado a baixa ciclagem não considera o escoamento localizado, fenômeno previsto considerando o comportamento tensão-deformação verdadeira que não é utilizado na metodologia, BUDYNAS (2008). 1.5 O limite de fadiga (𝑺𝑳) O limite de fadiga pode ser definido como a magnitude de tensão a qual o material pode sujeitar-se a um número ilimitado de ciclos (𝑵∞), sem apresentar 15 falha por fadiga. Está propriedade dos materiais delimita a sua região de vida infinita, ou seja, qualquer magnitude de tensão abaixo deste valor não causará danos ao material. Alguns materiais, tais como os aços e outras ligas metálicas apresentam um limite de fadiga bem definido em seus diagramas S-N. Entretanto, existem outros materiais que apresentam um decréscimo continuo em seus diagramas, DOWLING, 1993.Contudo está propriedade pode ser estendida a qualquer material, quando considerado o seu tempo de serviço real, isto é, se toda a operação apresentar um número de ciclos (𝑵𝑺) inferior a quantidade de ciclos (Nf) correspondente àquela determinada magnitude de tensão para que a falha ocorra, para efeitos de design de projeto de engenharia é justificável dizer que o material se encontra na região de vida infinita. É possível obter está propriedade de forma experimental ou a partir da utilização de algumas relações empíricas, através de métodos estocásticos, haja vista a quantidade significativa de informação sobre o tema, disponível na literatura, como base para uma metodologia de predição que pode ser utilizada para estimar valores iniciais em projetos preliminares sem o custo associado aos testes experimentais. Outro aspecto que deve ser examinado é o fato de que estes diagramas, obtidos de maneira experimental, são sensíveis as técnicas e parâmetros de entrada empregados, alguns parâmetros presentes na vida em serviço do componente dificilmente são quantificados em circunstâncias de teste controladas tanto de preparo dos corpos de prova quanto do meio o qual este será solicitado. Não é razoável esperar que o limite de fadiga de um componente em serviço, onde diversos aspectos capazes de alterar o comportamento de seu diagrama S-N não são considerados, seja o mesmo apresentado nos diagramas S-N, levantados a partir de condições controladas. Joseph Marin (1962) classificou alguns destes fatores, conforme Tabela 2,que a partir de sua metodologia podem ser multiplicados ao limite de fadiga obtido nos corpos de prova, dessa forma, um limite de fadiga ajustado é alcançado (𝑺𝑳). 16 Tabela 2 – Efeitos que podem alterar o limite de fadiga em serviço. Acabamento Superficial O tipo do acabamento superficial, pode gerar concentradores de tensão e ter impacto na resistência à fadiga. (E.g Retificado, Usinado ou Laminado a frio, Laminado a quente, Forjado.) Tamanho Quanto maiores forem as dimensões e consequentemente o volume do material, maior será o desvio associado ao fato da metodologia não considerar o fenômeno do escoamento localizado. Carregamento Ensaios sob solicitação simples não levam em consideração as superposições de carregamentos presentes no serviço. Temperatura O módulo de eslasticidade diminui com o aumento da temperatura, para quase todos os materiais, este determina a rigidez do material. Confiabilidade Dispersão de resultados existente no processo de falha por fadiga. Efeitos diversos Outros aspectos que gerem tensões residuais ou concentradores de tensão com capacidade de influenciar o limite de fadiga. (E.g Corrosão e Tipo de revestimento.) Fatores de Marin 17 Capítulo 2.0 Desenvolvimento Os três principais métodos de vida sob fadiga utilizados em projeto e análise são abordados neste capítulo do presente trabalho. São eles: Método de tensão-vida; Método de deformação-vida; Mecânica da fratura. Esses métodos tentam predizer a vida, ou seja, o número de ciclos até a ocorrência de falhado componente, para uma determinada magnitude de carregamento. 2.1 Método de tensão-vida O método tensão-vida é o procedimento menos acurado, principalmente para aplicações de baixa ciclagem. Contudo, é o mais tradicional, visto que é o mais simples de implementar para uma grande quantidade de aplicações de projeto, possui um grande número de dados de suporte e representa de forma adequada aplicações de alta ciclagem, baseado em níveis de tensão. É possível determinar a resistência dos materiais sob cargas dinâmicas através de ensaios, onde corpos de prova são sujeitos a carregamentos variáveis e se é contabilizado o número de ciclos de carregamento e descarregamento até que ocorra a ruptura do material. Um dos dispositivos mais utilizados em ensaios de fadiga são máquinas de flexão rotativa de alta velocidade, inventadas por R. R. Moore. Nessa máquina o 18 corpo de prova é submetido à flexão pura (sem cisalhamento transversal) com a utilização de pesos. Um exemplo desta máquina pode ser observado na Figura 8. Figura 8 - Máquina de ensaios de fadiga por flexão-rotativa (TRONCO, 2016). O corpo de prova. preferencialmente, deve ser cuidadosamente usinado e polido para reduzir o número de concentradores de tensão em sua superfície. Como já mencionado anteriormente (item 1.3), os resultados dos ensaios são utilizados para traçar o diagrama S-N. 2.1.1 O limite de resistência a fadiga No caso dos aços, existe a presença de um joelho no gráfico S-N, e além desse joelho não ocorrerá falha, não importando o número de ciclos. A resistência correspondente a esse joelho é chamada de limite de resistência à fadiga (𝑺𝑳). A determinação dos limites de resistência à fadiga por meio de ensaios é comum, porém é um processo longo. Para projetos preliminares e para análises de falha, é necessário um método rápido de estimativa do limite de resistência à fadiga (𝑺𝑳). Para aços, calcula-se o limite de resistência à fadiga em: ′ = { ,5 𝑢𝑡 𝑢𝑡 4 𝑀𝑃𝑎 7 𝑀𝑃𝑎 𝑢𝑡 4 𝑀𝑃𝑎 (1) 19 onde 𝑢𝑡 é a resistência a tração mínima e onde o símbolo de apóstrofo em 𝑒 ′ refere-se ao espécime de viga rotativa. O símbolo 𝑒, sem o apóstrofo, refere-se ao limite de resistência à fadiga de qualquer elemento particular de máquina submetido a qualquer tipo de carregamento. A diferença dessas resistências é causada devido a diferentes fatores modificadores, apresentados na sessão 2.1.2. 2.1.2 Fatores modificadores do limite de resistência (𝑺𝑳) O espécime de viga rotativa utilizado em laboratório é preparado muito cuidadosamente e ensaiado sob condições controladas atentamente. Algumas das diferenças são em relação ao material, à manufatura, ao ambiente e ao projeto propriamente dito. Assim, os fatores, também dispostos na item 1.5 apresentados servem para diferenciar o limite de resistência à fadiga de um membro mecânico ou estrutural do obtido em um elemento laboratorial. A equação utilizada para realizar essa diferenciação é 𝑺𝑳 = 𝑘𝑎𝑘𝑏𝑘𝑐𝑘𝑑𝑘𝑒𝑘𝑓 ′ (2) onde: 𝑘𝑎 = fator de modificação de condições de superfície; 𝑘𝑏 = fator de modificação de tamanho; 𝑘𝑐 = fator de modificação de carga; 𝑘𝑑 = fator de modificação de temperatura; 𝑘𝑒 = fator de confiabilidade; 𝑘𝑓 = fator de modificação de efeitos variados. O fator de superfície 𝑘𝑎 é obtido em 𝑘𝑎 = 𝑎 𝑢𝑡 𝑏 (3) onde 𝑎 e 𝑏 são obtidos utilizando a Tabela 3 abaixo. 20 Tabela 3 - Parâmetros para o fator de modificação de superfície de Marin (BUDYNAS, 2008). Acabamento Superficial Fator 𝒂 𝑺𝒖𝒕, MPa Expoente 𝒃 Retificado 1,58 -0,085 Usinado ou laminado a frio 4,51 -0,265 Laminado a quente 57,7 -0,718 Forjado 272 -0,995 Para carregamento axial não há efeito de tamanho, logo 𝑘𝑏 = 1. O fator de tamanho 𝑘𝑏 para flexão e torção são expressos como: 𝑘𝑏 = { ,24 𝑑−0,107 2,79 𝑑 5 𝑚𝑚 ,5 𝑑−0,157 5 < 𝑑 254 𝑚𝑚 (4) onde 𝑑 é o diâmetro. Para seções retangulares 𝑑 = ,8 8 (ℎ𝑏)0,5, onde ℎ é a altura e 𝑏 é a base. O fator de carregamento 𝑘𝑐 é escolhido de acordo com o tipo de carregamento aplicado de acordo com: 𝑘𝑐 = { 𝑝𝑎 𝑎 𝑓𝑙 𝑥ã𝑜 ,85 𝑝𝑎 𝑎 𝑎𝑥𝑖𝑎𝑙 ,59 𝑝𝑎 𝑎 𝑜 çã𝑜 (5) O fator de temperatura 𝑘𝑑 é obtido por meio da Tabela 4 abaixo. Tabela 4 - Efeito da temperatura de operação(BUDYNAS, 2008). Temperatura, ºC 𝒌𝒅 20 1,000 50 1,010 100 1,020 150 1,025 200 1,020 250 1,000 300 0,975 350 0,943 400 0,900 450 0,843 500 0,768 550 0,672 600 0,549 21 Caso o limite de resistência à fadiga da viga rotativa não seja conhecido, ele deve ser computado com a equação (1) já utilizando o fator de correção obtido na Tabela 4 e em seguida usa-se 𝑘𝑑 = 1. O fator de confiabilidade 𝑘𝑒pode ser obtido a partir da Tabela 5 abaixo: Tabela 5 - Fatores de confiabilidade correspondentes a 8% de desvio padrão do limite de resistência (BUDYNAS, 2008). Confiabilidade% 𝒌𝒆 50 1,000 90 0,897 95 0,868 99 0,814 99,9 0,753 99,99 0,702 99,999 0,659 99,9999 0,620 O fator 𝑘𝑓 é utilizado para levar em conta a redução do limite de resistência à fadiga em razão de todos os outros efeitos, sendo então um lembrete de que outros efeitos devem ser levados em consideração, como por exemplo tensões residuais, corrosão e frequência cíclica. 2.1.3 Concentração de tensão e sensitividade ao entalhe Irregularidades ou descontinuidades, tais como orifícios ou entalhes, em uma peça, aumentam as tensões teóricas significativamente nas proximidades imediatas a descontinuidade. O fator concentrador de tensões 𝐾𝑡 é usado com a tensão nominal para obter a tensão resultante máxima. A tensão máxima é, então: 𝜎𝑚𝑎𝑥 = 𝐾𝑓𝜎0 ou 𝜏𝑚𝑎𝑥 = 𝐾𝑓𝑠𝜏𝜃 (6) em que 𝐾𝑓 é um valor reduzido de 𝐾𝑡 e onde 𝜎0 é a tensão nominal. O fator 𝐾𝑓 é chamado de fator concentrador de tensão de fadiga. 22 O fator 𝐾𝑓 pode ser encontrado por meio da equação 𝐾𝑓 = + 𝑞(𝐾𝑡 − ) ou 𝐾𝑓𝑠 = + 𝑞𝑐𝑖𝑠𝑎𝑙ℎ𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜(𝐾𝑡𝑠 − ) (7) Sensitividade de entalhe 𝑞 é definida a partir do gráfico mostrado na figura abaixo. Figura 9 - Curvas de sensitividade ao entalhe de aços e ligas de alumínio(BUDYNAS, 2008). Para ferros fundidos, nos quais a sensitividade ao entalhe é baixa, usa-se de forma conservativa 𝑞 = ,2 . 2.1.3 Guia de procedimentos para o método tensão-vida Está descrito abaixo um guia para realização do método tensão-vida para um carregamento simples completamente reverso. i. Determinar ′ com base em dados de ensaio ou com base na equação (1). 23 ii. Modificar ′ para determinar ′ por meio da equação (2) e dos modificadores 𝑘𝑎, 𝑘𝑏 , 𝑘𝑐, 𝑘𝑑 , 𝑘𝑒e 𝑘𝑓 . iii. Determinar o fator de concentração de tensão de fadiga, 𝐾𝑓 ou 𝐾𝑓𝑠 pela equação (7), utilizando 𝐾𝑡 que pode ser encontrado na bibliografia por meio de tabelas. iv. Aplica-se 𝐾𝑓 ou 𝐾𝑓𝑠 por meio da equação (6). v. Determinar as constantes de vida a fadiga 𝑎 e 𝑏. Onde: 𝑎 = (𝑓 𝑢𝑡) 2/𝑺𝑳 (8) 𝑏 = −[log ( 𝑓 𝑆𝑢𝑡 𝑆𝐿 )]/3 (9) sendo a fração da resistência a fadiga 𝑓 retirado do gráfico mostrado na figura abaixo: Figura 10 - Gráfico para obtenção da fração da resistência a fadiga(BUDYNAS, 2008). vi. Determinar a resistência a fadiga em 𝑁 ciclos, ou 𝑁 ciclos até falhar sobtensão máxima 𝜎𝑚𝑎𝑥, onde: = 𝑎 𝑁 𝑏 (10) 𝑁 = ( 𝜎𝑚𝑎𝑥 𝑎 )1/𝑏 (11) 24 2.1.3 Exemplo do método tensão-vida Este exemplo foi adaptado do livro “Elementos de máquina de Shigley – Projeto de engenharia mecânica”, BUDYNAS, 2008. A Figura 11 abaixo mostra um eixo rotativo simplesmente apoiado em A e D e carregado por uma força não rotativa F de 6,8 kN. O objetivo é calcular a vida da peça. Sabe-se que 𝑢𝑡 = 69 MPa, 𝑦 = 58 MPa e 𝐾𝑡 = ,65. Figura 11 – (a)Eixo desenhado que mostra todas as dimensões em milímetros; todos os raios de filete de 3mm; o material é AISI 1050 estirado a frio. (b) Diagrama de momento flexor(BUDYNAS, 2008). Como o ponto B tem uma seção transversal menor, um momento flexor maior e um fator de concentração de tensão maior que C, é mais provável que a falha ocorra no ponto B, assim este ponto será analisado a seguir. Calcula-se o limite de resistência à fadiga ′: ′ = ,5 (69 ) = 345 MPa Calcula-se os modificadores: 25 𝑘𝑎 = 4,5 (69 ) −0,265 = ,798 𝑘𝑏 = (32/7,62) −0,107 = ,858 𝑘𝑐 = 𝑘𝑑 = 𝑘𝑒 = 𝑘𝑓 = Assim, ′ = ,798 ( ,858)345 = 236 MPa Utilizando 𝑢𝑡 = 69 MPa, = 3 mm e a Figura 9 - Curvas de sensitividade ao entalhe de aços e ligas de alumínio(BUDYNAS, 2008). encontramos que 𝑞 = ,84. Utilizando a equação (7) encontra-se 𝐾𝑓 = + ,84( ,65 − ) = ,55 Em seguida calcula-se a tensão de flexão no ponto B: 𝑀𝐵 = 225(6,8) 55 25 = 695,5 𝑁.𝑚 𝜎 = 𝐾𝑓 𝑀𝐵 𝐼/𝑐 = ,55 695,5 3,2 7 ( )−6 = 335, 𝑀𝑃𝑎 Como essa tensão é maior que 𝑒 e menor que 𝑦, tem-se vida infinita e nenhum escoamento no primeiro ciclo. Para vida finita, é necessário usar a equação (11): pela Figura 10 tem-se que 𝑓 = ,844; 𝑎 = (𝑓 𝑢𝑡) 2 = ( ,844 . 69 )2 236 = 437 𝑀𝑃𝑎; 𝑏 = − [log ( 𝑓 𝑆𝑢𝑡 𝑆𝑒 )] 3 = − [log ( 0, 44 . 690 2 6 )] 3 = − , 3 8; 26 𝑁 = ( 𝜎𝑚𝑎𝑥 𝑎 ) 1 𝑏 = ( 335, 236 ) − 1 0,1308 = 68( ) 𝑐𝑖𝑐𝑙𝑜𝑠. 2.2 Método de deformação-vida O melhor procedimento já apresentado para explicar a natureza da falha por fadiga é denominado, por alguns, método da vida sob deformação. Tal procedimento pode ser utilizado para estimar resistências à fadiga; no entanto, quando empregado dessa forma, faz-se necessário compor várias idealizações, de modo que algumas incertezas existirão nos resultados. Por esse motivo, o método é aqui apresentado somente em virtude de seu valor na explicação da natureza da fadiga. Uma falha por fadiga quase sempre começa em uma descontinuidade local, tal como um entalhe, uma trinca ou outra área de concentração de tensão. Quando a tensão na descontinuidade excede ao limite elástico, ocorre deformação plástica. Se uma fratura por fadiga está para ocorrer, deve haver deformações plásticas cíclicas. Dessa forma, necessitaremos investigar o comportamento de materiais sujeitos a deformações cíclicas. 27 Figura 12 - Resultados de tensão-deformação monotônico e cíclico. (a) Aço Ausformed H-ll , Brinell 660 ; (b) aço SAE 4142 , Brinell 400 (BUDYNAS, 2008). Conceito do método deformação-vida: - Furos, entalhes e outros concentradores podem gerar colapso incremental (deformação plástica cíclica que aumenta progressivamente, conhecida como o fenômeno de fluência progressiva e chamada na literatura internacional de ratcheting ou de cyclic creep). - Considera-se que a vida para a nucleação da trinca de um componente contendo concentradores de tensão pode ser aproximada por um corpo-de-prova liso submetido à mesma deformação cíclica verificada no ponto crítico deste componente. As propriedades à fadiga de um determinado material em função da deformação local são dadas por uma curva chamada ε-N onde ε é a deformação local e N é o número de ciclos associado a esta deformação. Neste tipo de ensaio, considera-se que a falha ocorre no momento de nucleação da trinca e o ensaio é feito utilizando corpos de prova padronizados. Os corpos de prova aplicáveis à este ensaio, assim como para o método tensão-vida, requerem um bom tratamento superficial para evitar concentradores de tensão que podem causar a nucleação de uma trinca. A premissa de não haver a presença de trincas no início do ensaio é fundamental. 28 O ensaio é realizado e as propriedades levantadas, comumente de acordo com a E0606 Standard Practice for Strain-Controlled Fatigue Testing e ASTM STP 465 Manual onLowCycle Fatigue Testing. As curvas ε-N(Deformação – Vida) e a curva Tensão – Deformação cíclicas são obtidas. Figura 13 - Curva deformação-vida (BUDYNAS, 2008). Do mesmo ensaio obtém-se a curva Tensão-Deformação cíclica (CSSC – cyclic stress strain curve) do material. A Figura 14 abaixo mostra uma curva tensão-deformação cíclica, extraída da extremidade de ciclos histeréticos, comparada a uma curva tensão-deformação monotônica que é extraída de um ensaio estático de material. 29 Figura 14 - Os ciclos de histerese da tensão verdadeira-deformação verdadeira (BUDYNAS, 2008). O tratamento da vida em fadiga na realização de ensaios pode ser através das amplitudes de tensão ou através das amplitudes de deformação aplicadas. No caso deste estudo, a análise será feita com base nas amplitudes de deformação. Nos materiais metálicos, quando sujeitos à esforços cíclicos, ocorrem fenômenos de amolecimento ou endurecimento. Por este motivo, manter constante a amplitude de tensões durante o ensaio não representará uma situação real de solicitação de um componente. Porém, pode-se observar que a amplitude de tensões se estabiliza após 20% a 40% da vida total do material numa dada solicitação, quando se mantém fixa a amplitude de deformações. 30 Para o caso de fadiga de alto ciclo, cujos ensaios são conduzidos na região de deformação preferencialmente elástica, não é de se esperar a ocorrência de laços de histerese, e a amplitude de tensões pouco varia ao longo do ensaio. Neste caso, fica indiferente o controle do ensaio por tensões ou deformações como procedimento de análise. Para fadiga de baixo ciclo, além do ensaio controlado por deformação representar uma situação mais próxima do real, com o ensaio ε -n pode-se levantar todas as propriedades de fadiga referentes a um material, como os coeficientes e expoentes das equações de Ramberg-Osgood cíclica e ε x n. 2.3 Mecânica da fratura Diferentemente dos outros métodos de análise da resistência a fadiga de um material, que não consideram a presença de defeitos na peça, baseando-se apenas na tensão sobre o material, no caso do método tensão-vida, ou de maneira um pouco mais detalhada, na deformação e tensão no material, no método deformação-vida, o método da mecânica da fratura analisa a resistência a fratura por fadiga de componentes já contendo defeitos ou trincas conhecidas, sob condições semelhantes às encontradas na prática. O método é utilizado para prever o comportamento e crescimento de tais defeitos e trincas de acordo com as tensões aplicadas ao longo do tempo e dos ciclos. 31 Figura 15 - Aumento do comprimento de trinca aa partir do comprimento inicial em função do número de ciclos (BUDYNAS, 2008). Os conceitos tradicionais de resistência dos materiais baseados em propriedades como resistência ao escoamento ou resistência à ruptura não levam em conta a tenacidade à fratura do material, a qual é definida pela mecânica da fratura como a propriedade que quantifica a resistência à propagação de uma trinca. Existem três formas fundamentais, segundo as quais a carga pode operar sobre uma trinca, e cada uma irá afetar um deslocamento diferente da superfície da trinca. Modo I: abertura ou modo trativo (As superfícies da trinca são tracionadas a parte); Modo II: deslizamento ou cisalhamento no plano (As superfícies da trinca deslizam uma sobre a outra) Modo III: rasgamento ou cisalhamento fora do plano (As superfícies da trinca se movem paralelamente frente da trinca e uma a outra) 32 Figura 16 - Principais modos de carregamento. Sob certas condições de serviço, um defeito, mesmo de dimensões muito pequenas, pode levar a falhas catastróficas. Tais defeitos são inevitáveis nas estruturas. Por mais controlada que seja a fabricação dos componentes, defeitos aparecem de formas variadas, adicionalmente àqueles inerentes ao próprio material e de seus processos de fabricação. As dimensões críticas de defeitos, que dependendo da sua posição provocam rupturas catastróficas sob as condições de tensões, são determinadas em função da tenacidade do material. O triângulo da Mecânica da Fratura mostra como deve ser avaliada uma estrutura no tocante à fratura. Em uma das pontas do triangulo estão as tensões atuantes no componente, obtidas através da análise estrutural, executada a partir dos carregamentos a serem aplicados na estrutura. Na sua segunda extremidade aparecem as propriedades à fratura do material, obtidas experimentalmente. Na última ponta são considerados os defeitos e trincas existentes na estrutura. A partir do conhecimento destes três vértices, é possível avaliar a resistência do material à fratura e a força motriz de crescimento de trinca. 33 Figura 17 - Triângulo da mecânica da fratura. A mecânica da fratura possui duas vertentes de estudo: A Mecânica da Fratura Linear Elástica (MFLE) e a Mecânica da Fratura Elasto-Plástica (MFEP). A Mecânica da Fratura Linear Elástica surgiu em função das limitações na aplicação dos conceitos tradicionais para prever o comportamento dos materiais, quanto à presença de descontinuidades internas ou superficiais, como as trincas, introduzindo assim o conceito dos fatores de intensidade de tensão K, Kce KIC, aplicada a estruturas consideradas relativamente frágeis. Embora todo corpo trincado que esteja sujeito a algum tipo de carregamento, está sujeitoà deformações plásticas na ponta da trinca, pode-se sob certas condições negligenciar a existência desta zona plástica e estudar o fenômeno do fraturamento pela teoria da MFLE. Tais condições que viabilizam a aplicação da MFLE referem- se aos casos em que o volume de deformação plástica é pequeno quando comparado às dimensões da peça. A Mecânica da Fratura Elasto-Plástica surgiu em função das limitações na aplicação do critério de KIC da Mecânica da Fratura Linear Elástica em materiais dúcteis, onde a existência de uma zona plástica de tamanho significativo em relação à espessura invalida as considerações de tensões elásticas na ponta da trinca controlando o processo de fratura. 34 A mecânica da fratura permite a quantificação das relações entre as propriedades dos materiais, o nível de tensão, a presença de defeitos geradores de trincas e os mecanismos de propagação de trincas. Os principais objetivos da Mecânica da Fratura são definir: − Que tamanho de trinca pode ser tolerado para uma esperada carga de serviço? − Que tamanho pode ser permitido para uma falha preexistente no começo da vida útil de uma estrutura? − Com que frequência a estrutura deve ser inspecionada? Para isso são estudados diversos aspectos e parâmetros do material. A ductilidade representa uma medida do grau de deformação plástica que o material suporta antes de ocorrer a ruptura. Um material que experimenta uma deformação plástica muito pequena ou mesmo nenhuma deformação plástica antes de sofrer a ruptura é chamado de frágil. Por outro lado, o material que apresenta uma considerável deformação plástica antes da ruptura é chamado de dúctil. Materiais de engenharia podem fraturar de forma dúctil ou frágil, dependendo de sua capacidade de tolerar deformação plástica. Chamamos de fratura a separação de um corpo em duas ou mais partes quando submetido a um esforço ou solicitação mecânica, e pode ser separada em fratura dúctil, fratura frágil ou ainda conter características transitórias entre a fratura dúctil e frágil. Na fratura dúctil o crescimento da trinca tem uma fase estável, durante a qual ela resiste a pequenas perturbações sem propagar-se bruscamente. Nesse tipo de fratura, a região central interior da superfície possui uma aparência irregular e fibrosa, o que é um indicativo de deformação plástica. A fratura dúctil possui muitas deformações plásticas macroscópicas, aspecto fosco e grande retração lateral do corpo de prova, com formação de micro-vazios e lábios de cisalhamento na região da fratura. 35 Figura 18 - Etapas do ensaio de um corpo de prova, de material dúctil, sob tração do momento do início da estricção até o momento de ruptura. Figura 19 - Ruptura em corpos de prova de material dúctil após ensaio de tração. 36 Na fratura frágil as trincas podem se propagar de maneira brusca e rápida, com poucas deformações plásticas. Tal propagação é chamada de instável, pois uma vez iniciada irá continuar sem precisar de um aumento na magnitude da tensão aplicada. A fratura frágil gera pouca deformação plástica macroscópica, e a região da fratura é brilhante. Facetas e degraus de clivagem ou trincas intergranulares e dois tipos de mecanismos predominam neste tipo de fratura: clivagem ou fragilização intergranular. Figura 20 - Ruptura de corpo de prova de material frágil após ensaio de tração. 37 Figura 21 - Ruptura de corpo de prova de material frágil após ensaio de tração. O vidro é um exemplo típico de material frágil e o cobre por sua vez, um exemplo de material dúctil (a ductilidade está associada à capacidade que um material apresenta, de ser transformado em fios). Fazendo-se um gráfico de força-deslocamento, é possível caracterizar um material entre os dois grupos. Materiais frágeis rompem-se sem apresentar grandes deformações e podem apresentar maior resistência mecânica, 38 Figura 22 - Diagrama força versus deslocamento mostrando um comportamento do tipo frágil (curva a) e um comportamento dúctil (curva b). A maioria dos materiais metálicos, ao ser submetido a uma tensão crescente, se comporta de forma dúctil antes de romper. Porém, certas ligas, especialmente quando tratadas termicamente, são muito resistentes e duras, porém frágeis. A correção desse fenômeno é realizada com tratamentos térmicos posteriores para alivio das tensões internas residuais, como o revenimento ou recozimento. Os resultados poderiam ser vistos como linhas intermediárias entre as descritas no gráfico e os materiais combinariam as propriedades de resistência mecânica e dureza, mas com alguma ductibilidade, atendendo melhor a requisitos específicos de projeto e estando menos sujeitos a fraturas do tipo frágil. 39 Figura 23 - Diagrama força versus deslocamento mostrando um comportamento do tipo frágil (curva a), um comportamento do tipo dúctil (curva b) e um comportamento intermediário entre os dois (curva c). Tenacidade é definida como a capacidade de um material de absorver energia até a ruptura. A tenacidade cresce com a área total sob a curva tensão- deformação, a qual é uma indicação da quantidade de trabalho por unidade de volume que pode ser realizado no material sem causar a fratura. Na mecânica da fratura a tenacidade à fratura é definida como sendo a capacidade do material resistir à propagação de uma trinca, medida pelo trabalho necessário para fazê-la crescer. A tenacidade também pode ser abordada sob os seguintes aspectos: −Advertência: tolerância a trincas relativamente grandes e ocorrência de uma deformação apreciável através da propagação estável da trinca antes da fratura. Em materiais tenazes é possível detectar uma trinca com ultrassom, por exemplo, e evitar a fratura. Isto se deve ao fato de que em materiais tenazes a trinca possui um crescimento estável. −Crescimento estável da trinca: devido à capacidade do material tenaz de imobilizar a propagação da trinca, a região em torno da ponta da trinca terá uma intensa deformação plástica. Pode-se concluir então que a ruptura de materiais tenazes inclui uma fase de crescimento estável de trinca, que tende a evitar falhas catastróficas. 40 −Estado e tipo de material: para um material tenaz em estado irradiado ou em baixa temperatura, a tensão normal crítica praticamente não é alterada, mas a tensão crítica de cisalhamento é aumentada. Isto significa que a resistência do material pode ser maior, mas ocorre uma variação do comportamento do material no sentido de tenaz para frágil. Tal fragilização é devida a mudanças estruturais no material, baixas temperaturas ou altas velocidades de aplicação de carga. −Estado de tensões: um material pode mudar completamente seu comportamento à fratura mediante ao estado de tensões que lhe é aplicado. A primeira teoria equacionada para o estudo de trincas, foi a Teoria de Griffith, em 1920, voltada apenas para materiais frágeis. Segundo Griffith, todo material possui diversas trincas microscópicas que reduzem a resistência global do mesmo. Isto ocorreria porque qualquer vazio em um sólido concentra tensões, um fato já conhecido dos mecânicos da época Griffith realizou experiências em vidro, assumindo que a fratura ocorre em um material frágil ideal, com uma trinca de tamanho 2a no interior de uma placa. Segundo Griffith, em materiais idealmente frágeis, a trinca se propagaria de maneira instável caso a energia de deformação liberada fosse maior que a energia requerida para formar uma nova superfície de trinca, quando a trinca avançasse de um comprimento infinitesimal. Embora tenha obtido bons resultados analisando materiais frágeis, como o vidro, sua teoria não podia ser aplicada a materiais dúcteis e outros materiais estruturais mais comuns, como o aço. Em 1956, Irwin propôs um modelo equivalente ao de Griffith, exceto que numa forma mais conveniente de resolver problemas de engenharia. Irwin definiu a energia absorvida para propagar uma trinca ou tenacidade do material, que é a taxa de liberação da energia potencial armazenada no sistema por unidade de área de trinca. 41 Capítulo 3.0 ESTUDO DE CASOS 3.1 – NAVIOS SÉRIE LIBERTY Figura 24 - Navio série Liberty. Com desenho original britânico, as plantas foram adaptadas pelo engenheiro naval norte-americano William Francis Gibbs surgindo navios de baixo custo e rápidos de construir. Esta classe de navios simboliza a produção industrial em massa da Segunda Guerra Mundial. Na Segunda Guerra Mundial as estruturas dos navios eram soldadas para economizar tempo na montagem devido a grande demanda de suprimentos que 42 atravessavam o Oceano Atlântico do EUA para Inglaterra principalmente, com a finalidade para abastecer as tropas aliadas durante a época de guerra. Figura 25 - Processo de montagem de um navio Liberty, que durante os esforços de guerra as vezes durava menos de 60 dias. 43 Figura 26 - Grande número de navios Liberty prontos. Até hoje foi o maior número de navios construídos a partir de um único projeto e previa uma vida útil de cinco anos. Os efeitos da temperatura, dos concentradores de tensão e de tensões residuais não eram bem compreendidos. Por esse motivo (desconhecimento metalúrgico da solda e dos materiais) os navios da série Liberty tornaram-se um exemplo clássico de acidentes provocados por fratura frágil até os dias de hoje. Muitos deles acabavam afundando antes de cumprir a travessia do Atlântico, alguns fraturavam em alto mar e outros atracados no porto onde foi observado que o material perdia ductilidade necessária para resistir à baixa temperatura. A ductilidade dos materiais também está relacionada a temperatura e a presença de impurezas. Materiais dúcteis se tornam frágeis a temperaturas mais baixas. Isto pode gerar situações desastrosas caso a temperatura de teste do material não corresponda à temperatura efetiva de trabalho. 44 Figura 27 - Navio Liberty que sofreu fragilização a frio e fraturou completamente, ainda estando no porto. Figura 28 - Navio Liberty fraturado ao meio também devido a trincas e fragilização a frio. 45 A fratura por fadiga ocorre pela aplicação de tensões variáveis ao logo do tempo e é muito comum em equipamentos que trabalham com sobrecarga cíclica, como componentes de máquinas, asas de aviões, pontes e navios. A resistência à fadiga representa, para um dado valor de tensão, o número de ciclos que o material suporta até romper. A baixa temperatura é um fator de extrema importância no comportamento frágil dos metais. Na fratura frágil, a energia necessária para propagar a fratura é normalmente baixa. Devido à pequena energia absorvida, geralmente as fraturas frágeis são de grandes proporções, podendo ser catastróficas como no clássico exemplo dos navios da série Liberty. Na época sobraram muitas críticas ao processo de soldagem, ao ensaio Charpy e a metodologia de projeto (resistência dos materiais), o que levou ao desenvolvimento de uma nova abordagem técnica, conhecida hoje como Mecânica da Fratura. 3.2 – AVIÕES COMET O De Havilland Comet, ou simplesmente Comet, de origem inglesa, foi o primeiro avião comercial propulsionado por motores a jato fabricado no mundo. Com quatro reatores na raiz de suas asas, o Comet começou a operar em 1952 pela companhia aérea inglesa BOAC. Foi um grande sucesso, pois voava com o dobro da velocidade dos seus concorrentes da época, porém, com um enorme consumo de combustível, suas rotas eram curtas. 46 Figura 29 - Aviões Comet em Voo. Entretanto, em 2 de maio de 1953, exatamente um ano após o início dos vôos regulares com os Comet, a aeronave da BOAC de prefixo G-ALYV, decolou de Calcutá, Índia e explodiu, sem aviso, sobre o mar. Após breve investigação, os Comets continuaram a voar e de fato o fizeram, sem maiores complicações por oito meses, até as 10h30 da manhã do dia 10 de janeiro de 1954, inesperadamente, o Comet G-ALYP, que havia decolado de Roma se desintegrou enquanto sobrevoava o mar, perto da Ilha de Elba, matando seus trinta e cinco ocupantes. Os voos foram suspensos por algum tempo, mas assim que foram retomados, outra aeronave se despedaçou em pleno ar, novamente matando todos os ocupantes. Os navios de salvamento da Marinha Real Britânica foram enviados ao local do primeiro acidente para resgatar as peças do avião que estavam submersas, já que o segundo acidente aconteceu sobre águas profundas, resgatando dois terços das peças. Os destroços foram, então, enviados a Farnborough, Inglaterra onde o Comet acidentado foi cuidadosamente remontado, 47 utilizando-se peças novas no lugar das que não foram resgatadas do avião acidentado. Figura 30 - As partes em cinza representam as partes recuperadas do avião Comet G-ALYP. Um outro Comet foi colocado em um tanque com água, para simular a mesma situação de diferença de pressão atmosférica e desgaste de material. Após semanas de testes com o avião dentro do tanque, sendo pressurizado e despressurizado e aplicando tensões e torções em sua estrutura para simular diversas horas de voo, sua estrutura falhou e se rompeu, foi então que os engenheiros puderam ver a origem das falhas que levaram aos acidentes catastróficos. 48 Figura 31 - Tanque montado para testar toda a estrutura do Comet. Descobriu-se finalmente que os projetistas não tinham preparado a estrutura para ser usada com essa diferença de pressão, logo os aviões eram verdadeiras “bombas” voadoras. Bastou uma trinca no teto do primeiro Comet acidentado para que ele se desintegrasse em pleno voo. Neste caso do Comet G-ALYP resgatado do fundo do mar, a rachadura havia se iniciado onde a superfície metálica fora cortada em retângulo, para a instalação de uma antena de ADF (Automatic Direction Finding). Também as janelas dos primeiros Comet eram quadradas. As janelas era um erro de projeto o que criava pontos de tensão nas extremidades. 49 Figura 32 - Em detalhe, janelas e pontos de origem das falhas por fadiga. Figura 33 - Outro ponto da estrutura do Comet sujeito a falas por fadiga. 50 Os erros de projeto cometidos no Comet tiveram pelo menos uma consequência positiva. Depois deles (final da década de 1950), todos os jatos comerciais já saíram das pranchetas com janelas arredondadas, para eliminar pontos de tensão que pudessem causar a fadiga e o rompimento brusco da fuselagem. A estrutura da aeronave é, e deve ser projetada para sustentar danos estruturais sem comprometer a segurança do avião até um tamanho crítico de danos. Esses danos devem ser detectados facilmente por inspeção visual entre voos. Todas as inspeções são feitas baseados em cálculos de propagação de trincas que garantem que uma trinca observada não é suscetível a crescer até o tamanho crítico entre dois ciclos de inspeção, onde neste momento se for crítico, será reparada adequadamente. Os END’s (Ensaios Não Destrutivos) mais utilizados para verificação do problema são: Líquido Penetrante, Partículas Magnéticas, Ultrassom e Radiografia. O aço comercial AISI 4340 é amplamente utilizado na indústria aeronáutica e espacial por combinarem resistência e tenacidade, podendo trabalhar nos mais variados tipos e níveis de solicitações. Ele tem elevados valores dos limites de escoamento e resistência à tração. 51 Conclusão O método da vida sob tensão, baseado em níveis de tensão apenas, é o procedimento menos preciso, especialmente para aplicações de baixa ciclagem. Contudo, é também o método mais tradicional, haja vista ser o mais simples de implementar para várias aplicações de projeto; além disso, tem muitos dados de suporte e representa de forma adequada aplicações envolvendo alta ciclagem. O método da vida sob deformação envolve uma análise mais detalhada da deformação plástica em regiões onde as tensões e a deformação são consideradas para estimativas de vida. Esse método é especialmente eficaz em aplicações que envolvem fadiga de baixo ciclo. Ao empregá-lo, várias idealizações têm de ser compostas, de modo que haverá algumas incertezas nos resultados. Por essé motivo, ele será discutido apenas por seu valor quanto ao que acrescenta ao entendimento da natureza da fadiga. O método da mecânica de fratura assume que uma trinca já esteja presente e tenha sido detectada. Dessa forma, ele é empregado para prever o crescimento dessa trinca relativamente à intensidade de tensão. Entretanto, é mais prático quando aplicado a estruturas grandes juntamente com códigos computacionais e um programa de inspeção periódico. Os métodos de análise de falha por fadiga representam uma combinação de engenharia e ciência. Com frequência, a ciência falha ao prover as respostas completas que se fazem necessárias. Ainda assim, por exemplo, um avião deve ser construído para voar - e com segurança. Um automóvel, por sua vez, deve ser fabricado com uma confiabilidade que assegure uma vida longa e livre de problemas, ao mesmo tempo que produza lucros para seus acionistas. Dessa forma, mesmo que a ciência ainda não explique completamente o mecanismo de fadiga, o engenheiro deve continuar a projetar coisas que não irão falhar. Em certo sentido, esse é um exemplo clássico do significado real das engenharias, em contraste com a ciência. Os engenheiros utilizam a ciência para resolver seus problemas, caso ela esteja disponível. Porém, disponível ou não, o problema ainda 52 assim deve ser resolvido, e, independentemente da forma como a solução se apresente sob tais condições, ela é denominada engenharia. 53 Referências Bibliográficas As referências bibliográficas apresentadas neste capítulo foram utilizadas como base para a realização deste trabalho. [1] ASM HANDBOOK, Properties and selection: irons steels and high- performance alloys, ASM International, vol. 1, 1990. [2] ASTM INTERNATIONA, E466 – Standard practice for conducting force controlled constant amplitude axial fatigue tests of metallic materials, EstadosUnidos, 2015. [3] BUDYNAS, R. G., NISBETT, J. K., Elementos de máquina de Shigley – Projeto de engenharia mecânica, Nova York, McGraw-Hill, 8ª ed., 2008. [4] INSTRUCTION MANUAL, Model RBF-200, Rotating Beam Fatigue Testing Machinea, Fatigue Dynamics, Inc. [5] MARIN J., Mechanical behavior of engineering materials, Prentice-Hall, Englewood Cliffs, 1962. [6] NORMAN E. DOWLING, Mechanical Behavior of Materials, Edinburgh, Prentice-Hall: Englewood Cliffs, 4ª ed., 1993. [7] ROSA, E., Análise de resistência mecânica – Mecânica da fratura e fadiga, Santa Catarina, Universidade Federal de Santa Catarina, 2002. 54 [8] STEPHENS, R I., Fatemi, A., Metal Fatigue in Engineering, Second Edition, John Wiley and Sons, 1980. [9] TRONCO, L. F.,DesenvolvimentodeProcedimentopara aRealizaçãodeEnsaio DeFadigaporFlexãoRotativa e Obetnção da Vida emFadiga da Liga AA6063-T6, 2016.
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