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1 MECANISMOS EVOLUTIVOS Segundo a Lei de Hardy e Weinberg as freqüências gênicas (alélicas) não irão alterar-se e as proporções genotípicas atingirão um equilíbrio estável e constante ao longo do tempo se as seguintes premissas forem satisfeitas: 1. População infinitamente grande; 2. Mesmo número de machos e fêmeas; 3. Casamentos ao acaso (panmixia); 4. Não há sobreposição de gerações; 5. Não há fluxo gênico (migração); 6. Não há mutação; 7. Não há pressão seletiva (seleção natural). Retrata uma população mendeliana estática. Porém as freqüências gênicas em populações naturais são dinâmicas. Indica a existência de fatores que propiciam a variação nas freqüências gênicas das populações. MECANISMOS EVOLUTIVOS Estes fatores são chamados de mecanismos ou processos evolutivos visto que influenciam as freqüências gênicas nas populações. Exemplo: Em uma população “A” suponhamos que, geração após geração, tenhamos a seguinte situação: p2 2pq q2 p q Geração 1 0,25 0,50 0,25 0,5 0,5 Geração 2 0,3025 0,4950 0,2025 0,55 0,45 Geração 3 0,36 0,48 0,16 0,6 0,4 Geração 4 0,4225 0,4550 0,1225 0,65 0,35 As freqüências gênicas se alteram a cada geração,indicando a atuação de um ou mais fatores evolutivos, os quais são: 2 1. Migração efeito do fundador 2. Deriva Genética efeito de afunilamento ou gargalo de garrafa (bottleneck) 3. Seleção 4. Mutação Migração ou Fluxo Gênico Freqüentemente uma dada espécie de planta ou animal encontra-se dividida em sub- populações que estão separadas geograficamente. Tais sub-populações podem inclusive estar passando por situações (pressão seletiva ou mutação diferencial) que resultem em freqüências alélicas diferentes para certas características. Os limites entre uma população e outra dependem do nível de migração entre elas. A migração, no sentido evolutivo, é o movimento dos alelos entre populações. Este uso do termo migração é distinto daquele mais usual que se refere ao movimento sazonal de indivíduos. Na biologia evolutiva, migração significa fluxo gênico, ou seja, a transferência de alelos do "pool gênico" de uma população para o "pool gênico” de outra população. A migração pode ser causada por qualquer fator ou situação que leve os alelos longe o suficiente para ir de uma população para outra. Os genes podem ser transportados tanto pelo movimento de gametas (p. ex. pólen) quanto pelos organismos individuais (no caso das plantas, pelas sementes). O nível real de migração entre populações em diferentes espécies varia grandemente, dependendo de quão "móveis" são os indivíduos, ou propágulos, ao longo de seu ciclo de vida. A maioria dos modelos considera que o fluxo gênico ocorre em uma taxa aproximadamente constante a cada geração. É importante salientar que a quantidade de deslocamento geneticamente efetivo (medido pela taxa de fluxo gênico = m) é, com freqüência, muito menor do que o movimento dos organismos, já que muitos destes não têm sucesso em se reproduzir após terem se estabelecido em outra população. O intercâmbio de genes entre populações pode modificar efetivamente as freqüências gênicas se as populações reprodutivamente ativas estiverem parcial ou totalmente separadas por um período de tempo suficiente para que as freqüências relativas de um mesmo alelo se tornem significativamente diferentes nos dois grupos. Acidentes geográficos naturais, tais como rios e ilhas, constituem modelos apropriados para explicar o isolamento e posteriormente a eficiência da migração. 3 Existem diversos modelos de fluxo gênico que correspondem a diferenças na estrutura da população, dentre as quais se incluem: 1. Modelo "continente-ilha" - no qual efetivamente existe um movimento unidirecional de uma população grande, "continental", para uma menor isolada; 2. Modelo "ilha" - no qual a miscigenação ocorre ao acaso entre um grupo de pequenas populações; 3. Modelo "alpondras" ("stepping-stones") - no qual cada população recebe migrantes somente de populações vizinhas. Para melhor compreender os efeitos da migração sobre a composição genética das populações e, consequentemente, sobre o Equilíbrio da Hardy-Weinberg, consideremos um modelo simples do tipo "continente-ilha". Imagine duas populações: uma continental e outra numa pequena ilha próxima à costa. Levando-se em conta que a população da ilha é relativamente pequena quando comparada com a do continente, qualquer migração neste sentido será inconseqüente em termos de freqüências alélicas e genotípicas. Portanto, a migração, e consequentemente o fluxo gênico, é efetiva somente no sentido continente ilha. Consideremos um único loco com dois alelos A1 e A2. Em nosso exemplo a freqüência de A1 na ilha é 1,0, ou seja, o alelo está fixado. Genótipos A1A1 A1A2 A2A2 Freqüências genotípicas 1,0 zero zero Continente ilha As setas indicam a quantidade relativa de fluxo gênico entre as populações da ilha e continental 4 Agora imaginemos que na população continental o alelo A2 está fixado e que um grupo de adultos migra do continente para a ilha de tal maneira que após o evento migratório a população da ilha passa a ser composta por 80% de indivíduos nativos e 20% de migrantes do continente. As novas freqüências genotípicas serão: Genótipos A1A1 A1A2 A2A2 Freqüências genotípicas 0,8 zero 0,2 O fluxo gênico resultou em: mudança nas freqüências alélicas e genotípicas originais; introdução de alelos novos. evolução da população Uma geração de panmixia levará a população ao Equilíbrio. O efeito da migração na estrutura genética de uma população depende basicamente de dois fatores: 1. Taxa de migração - proporção de migrantes; 2. Diferença nas freqüências alélicas das duas populações. A relação entre estes dois fatores pode ser expressa matematicamente: Continente Ilha * os alelos dos migrantes A = p = 0,9 representam os alelos do a = q = 0,1 A = p = 0,1 continente População nativa = 1000 a = q = 0,9 Qtde migrantes = 200* 5 Ilha após migração População total = População nativa + Imigrantes 1200 1000 200 Proporção de imigrantes na ilha = m = 0,17 = 200 / 1200 Proporção de nativos na ilha = 1 – m = 0,83 = 1 – 0,17 = 1000 / 1200 Freqüência do alelo q na população nativa = q0 = 0,1 Freqüência do alelo q nos imigrantes = qm = 0,9 Para a ilha em questão: q = 0,17 . 0,9 + (1 – 0,17) . 0,1 q = 0,153 + 0,083 q = 0,236 A variação em q é dada por: Após a entrada dos imigrantes, na ilha, a freqüência do alelo q passou de 0,1 para 0,236. MISCIGENAÇÃO Quando estudamos uma população miscigenada (p. ex. a população do nordeste brasileiro) é possível, em determinadas situações estimar qual a contribuição de cada uma das populações que a formaram (brancos, negros e índios) Vejamos um exemplo simples fictício: Em uma determinada população miscigenada, temos que a freqüência do alelo IB, do sistema Rh, é 0,45. Devido a registros, sabemos que a freqüência do mesmo alelo antes da chegada de imigrantes era 0,62. Também sabemos que na população imigrante a freqüência do alelo q = m . qm + (1 – m) . q0 q = q – q0 ou q = m.(qm – q0) 6 em questão era de 0,03. Com estes dados é possível saber a intensidade da contribuição dos imigrantes para a composição da população atual: q = 0,45 q0 = 0,62 qm = 0,03 m = ? Utilizando a fórmula anterior [q = m . qm + (1 – m) . q0] temos: 0,45 = m . 0,03 + (1 – m) . 0,62 m = 0,288 Simplificando a fórmula: m = 0,45 – 0,62 m = 0,2880,03 – 0,62 Neste caso podemos dizer que os imigrantes contribuíram com 28,8% para a formação da população atual, através da utilização do alelo IB como marcador. Exemplo real: Insensibilidade gustativa à PTC em negróides brasileiros (gene t em homozigose). Sabendo-se que os negróides brasileiros sofreram miscigenação com brancos, pode-se com base neste marcador genético tentar estimar qual foi a contribuição caucasóide para a composição negróide. Negróides brasileiros Negróides africanos Caucasóides brasileiros Freq. 0,359 0,188 0,497 do gene q q0 qm m = q – q0 m = 0,359 - 0,188 = 0,553 qm– q0 0,497 - 0,188 Portanto, os caucasóides contribuíram com 55% da constituição genética da população negróide brasileira. Curiosidade: nos negróides norte-americanos o componente caucasóide varia entre 10% e 30%. m = q – q0 qm – q0 7 É importante salientar que quando pretendemos avaliar a contribuição de duas ou mais populações para outra resultante da miscigenação, é evidente que o mais correto é o estudo de vários sistemas genéticos simultaneamente a fim de aumentar a precisão da estimativa da contribuição genômica das populações. A Migração como um Processo Evolutivo homogeneizador No Lago Erie, na divisa entre o Canadá e os EUA, são encontradas cobras d'água (Nerodia sipedon) tanto no entorno do lago (terra firme) como nas ilhas dentro dele. Contudo, os indivíduos desta espécie podem variar consideravelmente quanto ao padrão de cor: desde indivíduos com bandas intensas até àqueles sem bandas. O padrão de cor é determinado por um único loco com 2 alelos, sendo o alelo para bandas dominante sobre o sem bandas. Os indivíduos de terra firme apresentam, em sua quase totalidade, bandas intensas enquanto nas ilhas a grande parte das cobras não possui bandas. Estudos mostraram que para as cobras das ilhas, que tem por hábito repousar sobre as rochas das margens, a ausência de bandas é uma característica críptica que resulta numa maior taxa de sobrevivência. Mas se a seleção realmente favorece os indivíduos sem bandas nas ilhas, deveria se esperar que as populações das ilhas fossem constituídas inteiramente de cobras sem bandas. Por que isto não ocorre? A resposta é que, pelo menos em parte, a cada geração vários indivíduos com bandas migram da terra firme para as ilhas intercruzando-se. Esta migração faz com que as populações das ilhas sejam mais similares às da terra firme do que o esperado. Portanto, um efeito geral da migração é homogeneizar as freqüências dos alelos entre as populações. O fluxo gênico homogeneiza a composição genética de modo que se este for o único fator atuante (sem a ação de deriva ou seleção) todas as populações irão convergir para a mesma freqüência alélica, geralmente uma média das freqüências gênicas iniciais. 8 Efeito Wahlund e Deriva Genética O efeito do isolamento sobre as populações Isolado: conjunto de indivíduos que está separado de outros de sua espécie por alguma barreira, seja ela geográfica, política, sócio-econômica, religiosa ou cultural, que impeça ou dificulte a troca de genes com outro conjunto de indivíduos. Isolado ausência de fluxo gênico Os efeitos genéticos do isolamento dependem do tamanho dos isolados: 1. Isolados Grandes - Efeito Wahlund 2. Isolados Pequenos - Deriva Genética Efeito Wahlund Para demonstrar o efeito Wahlund consideremos uma população na qual os alelos autossômicos A e a tenham as freqüências p0 e q0 , respectivamente, e que essa população tenha sido dividida em 4 isolados grandes e panmíticos, de sorte em que cada um deles, os genótipos AA, Aa e aa se distribuam de acordo com a Lei de Hardy-Weinberg. As tabelas a seguir ilustram três diferentes situações. A - Isolados com tamanhos iguais p q p2 2pq q2 População inicial 0,6 0,4 0,36 0,48 0,16 Isolados 1 0,9 0,1 0,81 0,18 0,01 2 0,7 0,3 0,49 0,42 0,09 3 0,5 0,5 0,25 0,50 0,25 4 0,3 0,7 0,09 0,42 0,49 População dividida 0,6 0,4 0,41 0,38 0,21 diferença 0,05 -0,10 0,05 (2) (-22) (2) 9 B - Isolados de tamanhos diferentes, mas com freqüências gênicas iguais a A Proporção (x) p q p2 2pq q2 População inicial 0,6 0,4 0,360 0,480 0,160 Isolados 1 0,3 0,9 0,1 0,81 0,18 0,01 2 0,2 0,7 0,3 0,49 0,42 0,09 3 0,2 0,5 0,5 0,25 0,50 0,25 4 0,3 0,3 0,7 0,09 0,42 0,49 População dividida 0,6 0,4 0,418 0,364 0,218 diferença 0,058 -0,116 0,058 (2) (-22) (2) C - Isolados de tamanhos iguais, mas com as freqüências gênicas variando menos do que em A e em B. p q p2 2pq q2 População inicial 0,6 0,4 0,360 0,480 0,160 Isolados 1 0,8 0,2 0,64 0,32 0,04 2 0,7 0,3 0,49 0,42 0,09 3 0,5 0,5 0,25 0,50 0,25 4 0,4 0,6 0,16 0,48 0,36 População dividida 0,6 0,4 0,385 0,430 0,185 diferença 0,025 -0,050 0,025 (2) (-22) (2) As freqüências alélicas na população inicial e na população dividida (médias de p e de q) são idênticas - Tabelas A, B e C. As freqüências genotípicas na população inicial e na população dividida diferem. Esta diferença entre as freqüências genotípicas nessas duas distribuições é, exatamente, a variância, no caso de cada genótipo homozigoto (0,05) e o dobro da variância, no caso do genótipo heterozigoto (0,10). Tabelas A, B e C. 10 Populações divididas em grandes sub-populações com freqüências gênicas diferentes passam a ter genótipos homozigotos em freqüências MAIS ALTAS do que as encontradas em populações sem sub-divisão. Quando isolados se unem até constituir uma única população panmictica, a freqüência de homozigotos decresce. O aumento da freqüência de homozigotos depende do valor da variância das freqüências gênicas - tal aumento será tanto mais pronunciado quanto maior for a variação da freqüência gênica dos isolados. Tabela A x Tabela C freqüência de homozigotos em C menor do que em A, pois as freqüências gênicas variam menos em C. As proporções genotípicas resultantes do Efeito Wahlund são semelhantes àquelas observadas no Equilíbrio de Wright (endocruzamento) Pode-se comparar a variância resultante do efeito Wahlund com Fpq , que é o acréscimo de p2 e de q2, o que permitirá avaliar a qual valor de F corresponde o efeito do isolamento para aumentar a freqüência de homozigotos. Ex. Dados da Tabela A Se o acréscimo de cada genótipo homozigoto (2) fosse igual ao acréscimo Fpq, observado nas populações em Eq. de Wright, teríamos 2 = Fpq F = 2 F = 0,05 = 0,21 pq 0,6 x 0,4 isto é um valor próximo de 0,25 ou ¼. Lembrando-se que ¼ é o coeficiente de endocruzamento de filhos de irmãos, ou de pais e filhas ou, ainda de mães e filhos, podemos dizer que o aumento de homozigotos por isolamento na população da tabela A corresponde àquele que seria conseguido se, praticamente todos os casais da população fossem incestuosos. A divisão da população em isolados com freqüências gênicas diferentes é mais eficiente do que casamentos consangüíneos para aumentar a homozigose. Essa eficiência será tanto maior quanto maior for a variância da freqüência dos genes. 11 Deriva Genética (“genetic drift”) Mecanismo evolutivo não direcional, randômica. É a variação aleatória das freqüências gênicas ao longo das gerações podendo resultar na eliminação ou fixação casual de um dos alelos. POPULAÇÃO PEQUENA A deriva tem seu efeito mais visível em populações pequenas. Em uma população composta de 1000 casais, todos heterozigotos (p=0,5 e q=0,5), cruzando aleatoriamente, espera-se que a geraçãoseguinte consista de 25% de AA, 50% de Aa e 25% de aa (1:2:1). Se o tamanho da população se mantiver constante ao longo das gerações, apenas pequenos desvios desta taxa matemática poderão ocorrer e as freqüência de A e a se manterão (0,5). Entretanto, se uma população é formada de um casal de indivíduos heterozigotos que gere dois filhos, a freqüência alélica poderá mudar drasticamente. Todos os possíveis pares de descendentes produzidos por um casal de heterozigotos (Aa x Aa) Possíveis genótipos dos dois descendentes Probabilidade Freqüência alélica A a AA e AA (1/4) (1/4) = 1/16 1,00 0.00 aa e aa (1/4) (1/4) = 1/16 0,00 1,00 AA e aa 2 (1/4) (1/4) = 2/16 0,50 0,50 Aa e Aa (2/4) (2/4) = 4/16 0,50 0,50 AA e Aa 2 (2/4) (1/4) = 4/16 0,75 0,25 aa e Aa 2 (1/4) (2/4) = 4/16 0,25 0,75 Como pode ser visto na tabela, em 10 das 16 vezes que tal cruzamento foi feito, as freqüências alélicas foram alteradas. Em duas das 16 vezes, um dos alelos (a ou A) foi eliminado em uma única geração. Este caso extremo ilustra o porquê da premissa de grandes populações panmícticas para o estabelecimento do Eq. de H-W. 12 Em pequenas populações podem ocorrer flutuações randômicas significativas nas freqüências alélicas. O grau de flutuação irá aumentar a medida que o tamanho populacional diminui, ou seja, quanto menor a população maior será o efeito da Deriva Genética. Porque isto ocorre? Considere dois alelos, A e a, presentes em uma geração de uma população com freqüências p e q (q = 1 – p) respectivamente. Na geração seguinte estes alelos terão 95% de probabilidade de se apresentarem com freqüências contidas nos intervalos de dois desvios padrão acima ou abaixo das freqüências de p e q: -2 -1 0,5 1 2 95% Exemplo: Em uma população temos o alelo A com freqüência 0,6. Sendo o desvio padrão de p ou q igual a 0,00035, qual o provável intervalo para a freqüência do alelo A na geração seguinte? p 2 A = p = 0,6 = 0,00035 0,6 2.(0,00035) = 0,6 0,0007 Portanto, o intervalo de p, com 95% de confiança, será entre 0,5993 e 0,6007. p 2 e q 2 13 Com este exemplo pode ser percebido que a flutuação, ou desvios, nas freqüências alélicas, pode ser medida matematicamente pela proporção do desvio padrão. O desvio padrão de p ou q é calculado por intermédio de: = p.q / 2.N (para autossomos) = p.q / 3.N (para loco ligado ao X) N=nº de indivíduos Visto que o desvio padrão de p ou q depende do valor de N, está claro que se N for grande será pouco provável que a variação das freqüências gênicas, nas gerações que se sucedem, provoque desvios significativos das freqüências originais, desde que admita ausência de migração, seleção e mutação. Porém, se N for pequeno será bastante provável que entre uma geração e outra, ocorram desvios significativos das freqüências p e q em relação ás da geração anterior A seguir desenvolveremos um exemplo para as situações acima, considerando duas populações teóricas A e B nas quais os alelos A e a têm freqüências p=q= 0,5. Ambas são constituídas por um nº constante de casais igualmente férteis que geram o mesmo nº de filhos ao longo das gerações. População A – composta por 1.000.000 de indivíduos (N=1.000.000) = p.q / 2.N = 0,5 x 0,5/ 2 x 1.000.000 = 0,00035 A freqüência do alelo a tem 95% (±2) de probabilidade de estar contida no intervalo de 0,4993 – 0,5007 p=0,5 ±0,0007 População B – composta por 50 indivíduos (N=50) = p.q / 2.N = 0,5 x 0,5/ 2 x 50 = 0,05 A freqüência do alelo a tem 95% (±2) de probabilidade de estar contida no intervalo de 0,4 – 0,6 p=0,5 ±0,1 14 Portanto, enquanto a freqüência de a tem pouca probabilidade de ficar significativamente alterada ao longo das gerações na população A, tal probabilidade é grande na população B. Apesar do tamanho populacional ser um fator fundamental sobre o efeito da Deriva, deve-se considerar que nem todos os membros da população serão necessariamente reprodutores. Se numa população de 1000 indivíduos existem 300 casais que contribuem com igual quantidade de descendência para a próxima geração, então o Tamanho Efetivo (Ne) da população é de somente 600 indivíduos. O tamanho da população é também reduzido se um dos sexos está presente em menor proporção. Para tais situações, Wright desenvolveu uma fórmula matemática para o cálculo do tamanho efetivo. Ne = tamanho efetivo da população (quantidade de indivíduos aptos para reprodução). Ex 1. Uma população composta por 3 machos e 300 fêmeas. Ne= 4. (300)(3)/303 Ne= 11 Ex. 2. Considere duas populações (A e B) nas quais os alelos autossômicos H e h têm freqüências p = q = 0,5. Porém, os tamanhos efetivos das populações diferem: Ne(a) = 20 e Ne(b) = 1.000.000. Estime o intervalo da freqüência do alelo h na próxima geração para cada uma das populações: A : = 0,079 0,5 0,158 0,342 a 0,658 B : = 0,00035 0,5 0,0007 0,4993 a 0,5007 Ne = 4.Nm . Nf Nm = número de machos Nm + Nf Nf = número de fêmeas 15 Por ser a deriva genética um processo aleatório, é possível concluir, quanto à freqüência alélica, que esta somente pode ser prevista quanto à quantidade, jamais quanto a sua direção. A deriva pode muitas vezes levar à fixação de um alelo e à eliminação de outro. Portanto, nos isolados pequenos ocorre uma queda da variabilidade genética, pois parte dos alelos é fixada e parte eliminada, sendo a probabilidade de eliminação igual à de fixação. Efeito de Fundador O termo efeito da fundação foi proposto por Mayr (1963) para reduções drásticas não recorrentes no tamanho populacional e seus conseqüentes efeitos genéticos. Tal evento pode ocorrer com o estabelecimento de uma nova população a partir de poucos fundadores. Isto pode ser considerado como um caso especial de deriva genética. Mesmo que a seleção natural seja a força maior na evolução destas novas populações, o processo inicial de amostragem proporciona a variação genética sobre a qual atua a seleção natural. A distribuição das freqüências de certos genes em algumas populações humanas tem grande probabilidade de ter sido conseqüência de deriva genética. Tal fato, aliás, deve ter tido papel relevante nas populações primitivas, constituídas por pequenos isolados genéticos, cujo tamanho efetivo não deveria exceder a 100. Nesses pequenos isolados existia a probabilidade de um único indivíduo, altamente fecundo, ou com descendestes altamente fecundos, provocar a predominância de um ou mais genes na população originária de tais isolados, ainda que um desses genes conferisse baixo valor adaptativo a seus portadores. Tais situações são denominadas efeito de fundador. A população Amish (menonitas – uma seita) do leste da Pensilvânia é descendente de um grupo de cerca de 200 europeus que se estabeleceram nos EUA no século XVIII. Um dos fundadores, de sobrenome King, era heterozigoto para o alelo causador da síndrome de Ellis- van Cleveld. Esta síndrome é uma rara forma de nanismo causado por um alelo recessivo no cromossomo 4. A freqüência deste alelo é de 0,001 em muitas populações, mas entre os Amish é de 0,07. Esta alta freqüência certamente não é devida à vantagem adaptativa conferida pelo alelo. A alta freqüência na população atual se deveu a freqüência elevada entre os fundadores. Outro caso interessante é o dos habitantes da ilha de Lençóis, no Maranhão, onde a taxa de albinismo é bastante alta. Num local ensolarado como esta ilha o albinismo tem baixovalor adaptativo, sendo, portanto seu surgimento e manutenção um provável caso de deriva genética por efeito de fundador. 16 Efeito de Afunilamento ou de Gargalo de Garrafa (Bottleneck) É um efeito decorrente do estreitamento da passagem de genes de uma população original para outra, por intermédio de uma geração reduzida. Em populações humanas primitivas era freqüente a diminuição abrupta de seu tamanho, pela redução de número de pessoas em conseqüência de guerras, epidemias, fome e outras catástrofes. Desta forma as freqüências gênicas sobreviventes nem sempre correspondiam à da população original, de sorte que a população derivada deles podia mostrar uma composição genética diversa da que existia. Um caso que ilustra este fenômeno é o da população dos atóis de Pinguelape e Mokil, nas ilhas Carolinas. Nessas ilhas a freqüência de acromatopsia associada à miopia é altíssima (anomalia autossômica recessiva), estando em torno de 5%. A explicação para este fato baseia-se no conhecimento de que a população atual dessas ilhas descende de poucos sobreviventes (cerca de 30) que restaram na ilha de Pinguelape depois que, em 1775, o tufão Lengkiek e o período de fome que a ele se seguiu, devastaram a ilha matando a maioria dos habitantes. Um destes sobreviventes, que deve ter sido heterozigoto para este alelo raro, deixou prole exageradamente grande, fazendo com que tal alelo se acumulasse na população e aparecesse na forma homozigótica após 5 gerações. Bibliografia consultada e recomendada: Beigueman, B. 1994. Dinâmica dos genes nas famílias e populações. SBG, Ribeirão Preto. Freeman, S.; Herron, J.C. 1998. Evolution Analysis. Prentice Hall. New Jersey. Futuyma, D.J. 1992. Biologia Evolutiva. SBG, Ribeirão Preto. 2ª ed. Gardner, E.J.; Snustad, D. P. 1986. Genética. Ed. Guanabara, 7a ed., 497p. Klug, W.S., Cummings, M.R. 1999. Essentials of Genetics. (terceira edição). Prentice-Hall Inc., New Jersey. Spiess, E.B. 1977. Genes in populations. John Wiley & Sons, New York. Strickberger, M.W. 1985. Genetics (terceira edição) MacMillan Publ. Co. N. York.
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