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CENTRO DE ENSINO SUERIOR DO VALE DO PARNAÍBA – CESVALE BACHARELADO EM DIREITO 6° PERÍODO – NOITE DIREITO DO CONSUMIDOR CAIO ROBERTO DO VALE ROCHA EDITH NATÁLIA CARDOSO DA SILVA ISA DANTAS NOGUEIRA MARIA DO AMPARO DE ABREU BRITO PATRÍCIA DOS SANTOS SILVA TIAGO GOMES DA COSTA ARTIGOS 1º AO 28º DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR TERESINA – PI 2020 Caio Roberto do Vale Rocha Edith Natália Cardoso da Silva Isa Dantas Nogueira Maria do Amparo de Abreu Brito Patrícia dos Santos Silva Tiago Gomes da Costa ARTIGOS 1º AO 28º DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Trabalho acadêmico apresentado à disciplina Direito do Consumidor do Centro de Ensino Superior do Vale do Parnaíba - CESVALE como requisito para obtenção da primeira nota do Semestre. Prof. Ronaldo Maique Araújo Braga. TERESINA-PI 2020 SUMÁRIO TITULO I – DOS DIREITOS DO CONSUMIDOR ...................................................... 4 CAPITULO I - Disposições Gerais .................................................................................. 4 CAPITULO II - Da Politica Nacional de relações de consumo .................................... 5 CAPÍTULO III- Dos Direitos Básicos do Consumidor .................................................. 8 CAPÍTULO IV- Da Qualidade de Produtos e Serviços, da Prevenção e da Reparação dos Danos ............................................................................................................................ 12 SEÇÃO I- Da Proteção à Saúde e Segurança ................................................................. 12 SEÇÃO II- Da Responsabilidade pelo Fato do Produto e do Serviço .......................... 15 SEÇÃO III- Da Responsabilidade por vicio do produto e do serviço........................... 20 SEÇÃO IV- Da Decadência e da Prescrição ................................................................... 30 SEÇÃO V- Da Desconsideração da Personalidade Jurídica ......................................... 34 REFERÊNCIAS................................................................................................................. 38 4 TITULO I – DOS DIREITOS DO CONSUMIDOR CAPITULO I Disposições Gerais Art. 1º O presente Código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem publica e interesse social, nos termos dos arts. 5º, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48 de suas Disposições Transitórias. O contrato será regido pelas normas existentes no dia de sua celebração. Este primeiro artigo, informa que o código será regido por princípios que regem a Constituição Federal referindo-se ao consumidor. Por essa razão, o direito do consumidor será interpretado, disciplinado, ordenado e aplicado pelos valores e princípios da Magna Carta, e sem o conhecimento destes, é impossível aplicar o Código de Defesa do Consumidor de forma adequada. Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. É importante conceituar quem é o consumidor, para saber que norma regulará a relação jurídica, se pelo Direito do Consumidor, ou Direito Civil. Em regra geral, na relação jurídica, nota-se igualdade contratual entre as partes, será objeto do Direito Civil, ao passo que, notada vulnerabilidade de uma parte em relação a outra, incidirá o Direito do Consumidor. O dispositivo legal não faz distinção, pessoa física e pessoa jurídica podem ser consumidores, ou ainda pessoa que adquire ou utiliza produto/serviço como destinatário final. Essa aquisição, não necessariamente envolve apenas aquele que pagou por determinada coisa, mas também todos aqueles que a utilizaram, a quem se tornou destinatário final. A exemplo, uma pessoa que compra um bolo, e serve oito pessoas. Seria errôneo, interpretar o texto do dispositivo legal apenas de forma filológica, presumindo se que consumidor é somente aquele que comprou o bolo, pois oito pessoas foram servidas, caracterizando assim o destino final do produto, então as demais pessoas citadas no exemplo, poderão ser consideradas consumidores por equiparação. 5 Entretanto, se uma pessoa jurídica, adquirir um bem como meio de produção, não se trata de relação consumerista. A exemplo, se uma empresa adquire dez automóveis para revender, não incidirá o código de defesa do consumidor. Mas, se essa empresa adquire um automóvel, e este automóvel será de uso do gerente, neste caso a relação jurídica será regida pelo direito do consumidor. Art. 3º Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. § 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. § 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. Fornecedor, é toda pessoa física ou jurídica, brasileira ou estrangeira, que coloca seu produto ou serviço no mercado de consumo, não importando se com ou sem fins lucrativos, entidade pública ou privada. Produto, é toda utilidade ideal ou física, que possa ser adquirida, é tudo que pode ser objeto de uma relação jurídica, seja para satisfação de uma necessidade humana e economicamente apreciável. Serviço, é aquele oferecido com intuito econômico, em troca de remuneração direta ou indireta, independente do lucro. Podendo ser privado (plano de saúde, seguro e etc.), ou público. CAPITULO II Da Politica Nacional de relações de consumo Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios: I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo; II - ação governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor: a) por iniciativa direta; 6 b) por incentivos à criação e desenvolvimento de associações representativas; c) pela presença do Estado no mercado de consumo; d) pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho. III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores; IV - educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto aos seus direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo; V - incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficientes de controle de qualidade e segurança de produtos e serviços, assim como de mecanismos alternativos de solução de conflitos de consumo; VI - coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo, inclusive a concorrência desleal e utilização indevida de inventos e criações industriais das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que possam causar prejuízos aos consumidores; VII - racionalização e melhoria dos serviços públicos; VIII- estudo constante das modificações do mercado de consumo. O direito do consumidor como direito fundamental, tem como objetivo proteger o ser humano tanto que a dignidade da pessoa humana é um dos princípios tido como fundamento do Estado Democrático de Direito. Por essa razão, o código de defesa do consumidor parte dessa ideia de proteção ao ser humano no tocante aquilo que este consome, na sua dignidade, saúde e segurança, pois sem essa proteção, não haveria sociedade, e consequente, não haveria consumo. O princípio da vulnerabilidade do consumidor implica em dizer que ele é a parte fraca da relação jurídica de consumo. Essa fraqueza, essa fragilidade, é real, concreta, e decorre de dois aspectos: um de ordem técnica e outro de cunho econômico. O primeiro está ligado aos meios de produção, cujo conhecimento é monopólio do fornecedor. E quando se fala em meios de produção não se está apenas referindo aos aspectos técnicos e administrativos para a fabricação e distribuição de produtos e prestação de serviços que o fornecedor detém, mas também ao elemento fundamental da decisão: é o fornecedor que escolhe o que, quando e de 7 que maneira produzir, de sorte que o consumidor está à mercê daquilo que é produzido. O aspecto econômico, diz respeito à maior capacidade econômica que, por via de regra, o fornecedor tem em relação ao consumidor. É fato que haverá consumidores individuais com boa capacidade econômica e às vezes até superior à de pequenos fornecedores. Mas essa é a exceção da regra geral. O princípio do dever governamental tem a finalidade de assegurar os direitos do consumidor, pois compete ao Estado não somente elaborar as leis, mas intervir de forma direta (INMETRO, PROCON) ou indireta (incentivos fiscais para associações sem fins lucrativos que tenham por finalidade dar assistência jurídica ao consumidor), no mercado de consumo. O princípio da harmonização dos interesses e da garantia de adequação e princípio do equilíbrio, visa que o fornecedor não pode, agir de modo que venha causar prejuízo a segurança, saúde e patrimônio do consumidor, e em contrapartida, a proteção do consumidor não pode chegar a ponto de coibir o desenvolvimento da atividade econômica, deve haver um balanceamento do interesse das partes. O princípio da educação e informação dos consumidores, refere-se que a melhor e maior fiscalização, dependerá da conscientização dos consumidores quanto a seus direitos. Pois quanto mais informação o consumidor tem sobre o produto, menos dúvidas ele terá, e menor a probabilidade que este cometa erros, e quanto mais instruído este for, a cerca de seus direitos e deveres, e a que entidade recorrer caso precise, menor será o conflito. O princípio do incentivo ao autocontrole, se concretiza quando os fornecedores também se preocupam com a qualidade de seus produtos ou serviços que estão sendo colocados no mercado. Como os certificados de qualidade, informações quanto a origem, a forma que foi feito o produto, por exemplo. O princípio da coibição e repressão de abuso no mercado, protege a ordem econômica e financeira contra a concorrência desleal e atos que atentem contra a liberdade de iniciativa, a função social da propriedade e a dignidade do consumidor. O princípio da racionalização e melhoria dos serviços públicos, enfatiza que o serviço público também se submete às regras de Direito do Consumidor, em consonância com o versado pelo artigo terceiro do mesmo dispositivo, onde estabelece que fornecedor, é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, deixando claro que pode haver serviço público disponível no mercado de consumo. 8 O princípio do estudo das modificações do mercado de consumo, refere se ao fato da mutabilidade da sociedade, e as normas que concernem o direito do consumidor, devem acompanhar essa mutação, de modo que não caia em obsolescência. Art. 5° Para a execução da Política Nacional das Relações de Consumo, contará o poder público com os seguintes instrumentos, entre outros: I - manutenção de assistência jurídica, integral e gratuita para o consumidor carente; II - instituição de Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor, no âmbito do Ministério Público; III - criação de delegacias de polícia especializadas no atendimento de consumidores vítimas de infrações penais de consumo; IV - criação de Juizados Especiais de Pequenas Causas e Varas Especializadas para a solução de litígios de consumo; V - concessão de estímulos à criação e desenvolvimento das Associações de Defesa do Consumidor. § 1° (Vetado). § 2º (Vetado). Este inciso impõe que o Estado deve promover políticas públicas com o objetivo de defender os direitos dos consumidores brasileiros. Nesse sentido, a criação desse tipo de programa de ação tem o intuito de equilibrar e regular os interesses dos participantes de uma relação de consumo. Por fim, além de promover a defesa do consumidor, o programa deve estimular o crescimento econômico e a livre iniciativa, ou seja, enquanto os consumidores precisam ser protegidos, os vendedores precisam desenvolver. CAPÍTULO III Dos Direitos Básicos do Consumidor Art. 6º São direitos básicos do consumidor: Os direitos estampados no artigo 6º do CDC são dirigidos especificamente à proteção dos consumidores de boa-fé na relação consumerista. Representam a garantia da reparação de danos materiais e morais. São direitos básicos de cunho constitucional, inalienáveis, intransferíveis e irrenunciáveis. https://www.politize.com.br/politicas-publicas/ 9 I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos; A vida e a saúde são garantias constitucionais, inalienáveis e indisponíveis. O ser humano tem direito natural à vida e à saúde, entendidas ambas sob o enfoque mais amplo possível. Assim, qualquer produtos ou serviços que possam ser potencialmente perigosos ou danosos à integridade física, saúde ou à vida dos consumidores são enquadrados como perigosos ou nocivos. II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações; Os fornecedores de produtos ou serviços têm a obrigação legal de informar corretamente o consumidor, mesmo antes da contratação, sobre as características do produto ou serviço oferecidos, assim como quanto aos riscos que estes possam apresentar. A educação e a divulgação sobre a adequabilidade do uso dos produtos e serviços é fator essencial para a tomada de decisão do consumidor pré-contratação. Se refere ao princípio da boa-fé nas relações de consumo, a necessidade de transparência nas negociações a fim de que o consumidor tenha consciência realista do que está adquirindo ou contratando e sob que condições ele está obrigado pela força do contrato. III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem; (Redação dada pela Lei nº 12.741, de 2012) Vigência Trata do dever de informação devendo esta ser adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem. Regido pelos princípios da boa-fé e transparência na relação de consumo, o dever de informar adequadamente que deve ser observado pelo fornecedor, deve ocorrer antes da contratação, no momento da publicidade e oferta ao mercado, durante a contratação e após a contratação através dos serviços de atendimento ao consumidor – sacs. Não devem ser omitidos os aspectos negativos tais como riscos apresentados pelo uso do produto ou fruição do serviço.O consumidor só terá o seu direito de escolha não viciado, se as informações forem verdadeiras e correspondentes à realidade conforme os ditames do inciso em análise. Caso contrário o consumidor será induzido à erro em sua escolha, comprometendo a validade do contrato de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12741.htm#art3 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12741.htm#art3 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12741.htm#art6 10 consumo celebrado. Ao lado do dever de informação temos o princípio da veracidade, reflexo daquele, ônus do fornecedor de produtos ou serviços, obrigado a informar corretamente e veridicamente sobre todas as características relevantes do seu produto ou serviço. A responsabilidade do fornecedor aqui é portanto, por ação ou omissão. Além das informações relevantes para a tomada de decisão do consumidor, o inciso III foi alterado pela Lei 12741/2012, que incluiu a expressão: tributos incidentes – que não constava da redação original. Tal inclusão é salutar principalmente nos contratos bancários e financeiros, permitindo ao consumidor tomar ciência da incidência dos tributos a seu encargo em diversos contratos de financiamento, seguros, câmbio, leasing, dentre outros. O parágrafo único do artigo 6º, estendeu a acessibilidade destas informações aos portadores de deficiência, visto adiante. IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços; Trata da mídia publicitária, do marketing, especializado em criar uma necessidade de consumo no mercado. Em nossa sociedade, o papel da publicidade é fundamental como fator influenciador e criador de comportamentos de massa. São milhares de produtos e serviços que passam a alçar um patamar de desejo e necessidade na massa de consumidores apenas por intermédio de seu poder. V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; Trata da possibilidade de modificação e revisão das cláusulas contratuais, consignada como um direito básico do consumidor diante de determinados requisitos. Vimos anteriormente, que o CDC tem como uns de seus princípios básicos os princípios da transparência e o da boa-fé nas relações consumeristas. Os fornecedores, nos contratos de adesão, pré-formulados unilateralmente, estipulam habitualmente condições desequilibradas em prejuízo aos consumidores. Contratos bancários, de planos de saúde, de seguros, são alguns exemplos destes casos. Pela extrema carência educacional e de informação da maioria da população brasileira, o nível de compreensão de um consumidor médio é bem inferior do mesmo consumidor médio em países europeus ou na América do Norte. 11 VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos; Trata da reparação dos danos materiais e morais que deve ser efetiva. A reparação do dano material e moral já consta do Código Civil nos artigos 402, 927 e seguintes que rege a matéria nos casos regrados pelo direito civil. O CDC enquanto sistema de proteção e defesa do consumidor visando a eficiência, deve apresentar um modo prático e seguro para que o mesmo venha a ser reparado ou indenizado em relação aos danos materiais e morais respectivamente gerados pelas infrações ao CDC. Os fundamentos do sistema são a boa-fé e a transparência nas relações de consumo e somente tendo a recuperação do patrimônio material, a reparação integral e efetiva do dano causado pelo fornecedor é que o consumidor realmente será amparado legalmente e pelo Estado conforme a CF de 1988. O mesmo se dando com relação aos danos morais, que devem ser arbitrados levando em conta o sofrimento, a dor, o constrangimento dentre outros aspectos, para que o consumidor seja efetivamente amparado pelo Poder Público de forma indiscriminada e os infratores sejam desestimulados a perpetuar as práticas delituosas de consumo. VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados; O inciso VII do artigo 6º se refere ao acesso ao Poder Judiciário demais órgãos administrativos para a proteção e defesa dos direitos dos consumidores. O sistema implantado pelo CDC é pautado por forte intervenção do Estado nas relações de consumo a fim de garantir o equilíbrio nestas relações. De origem norte americana, a “Public Policy” é um conjunto de princípios-programa, através do qual se constrói um aparato coerente de proteção e defesa do consumidor. Nesta ótica, cabe ao Estado o oferecimento de condições favoráveis ao consumidor, seja individual ou coletivamente considerado, a ter pleno acesso ao Poder Judiciário e aos órgãos administrativos competentes, para prevenir-se ou buscar soluções para os litígios que envolvam danos materiais ou morais. É a aplicação direta do Princípio ao acesso à Justiça. Infelizmente a letra forte da norma vem sofrendo dilapidação jurisprudencial ao longo dos anos de vigência do CDC. VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências; 12 Trata da inversão do ônus da prova e está diretamente relacionado ao inciso anterior, pois a disponibilização ao acesso ao Poder Judiciário, de nada valeria sem que o consumidor fosse instrumentalizado no exercício deste direito perante a magnitude técnica e jurídica dos grandes fornecedores de bens e serviços IX - (Vetado); X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral. Trata da obrigatoriedade de adequação e eficiência da prestação dos serviços públicos em geral, obrigando os prestadores de serviços públicos da administração indireta a cumprirem as normas do CDC. Foi uma providência salutar para as relações de consumo no Brasil, sujeitando as concessionárias, permissionárias e autorizadas que prestam serviços ao consumidor a observar as normas consumeristas e municiando o consumidor a ter mais instrumentos jurídicos para se defender dos abusos e infrações cometidos no âmbito Parágrafo único. A informação de que trata o inciso III do caput deste artigo deve ser acessível à pessoa com deficiência, observado o disposto em regulamento. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015) Art. 7° Os direitos previstos neste código não excluem outros decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes e equidade. No parágrafo único do artigo 7º, temos a solidariedade passiva necessária, que viabiliza a efetiva reparação dos danos causados aos consumidores, aumentando o leque de fornecedores responsáveis para fins da efetiva prestação jurisdicional. CAPÍTULO IV Da Qualidade de Produtos e Serviços, da Prevenção e da Reparação dos Danos SEÇÃO I Da Proteção à Saúde e Segurança http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm#art100 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm#art100 13 Art. 8° Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese,a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito. § 1º Em se tratando de produto industrial, ao fabricante cabe prestar as informações a que se refere este artigo, através de impressos apropriados que devam acompanhar o produto. § 2º O fornecedor deverá higienizar os equipamentos e utensílios utilizados no fornecimento de produtos ou serviços, ou colocados à disposição do consumidor, e informar, de maneira ostensiva e adequada, quando for o caso, sobre o risco de contaminação. O art. 8º em seu caput apresenta inicialmente uma afirmativa de que “os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores”, porém conta com a exceção dos considerados normais e previsíveis. A parte final do caput, obriga os fornecedores a prestar as ‘’informações necessárias e adequadas a seu respeito’’. Esse dever de informar do fornecedor está relacionado ao aspecto do risco à saúde e segurança do consumidor sobre os riscos que não são normais e previsíveis em decorrência da natureza e fruição dos produtos e dos serviços. Se o risco do uso e funcionamento do produto e do serviço for de conhecimento comum do consumidor, isto é, se for considerado normal e previsível, o fornecedor não precisa dar a informação. Contudo, se o produto que está sendo vendido é novo e desconhecido do consumidor, o fornecedor tem expor todas as informações quanto aos riscos à saúde e segurança daquele. Para Rizzato Nunes, a norma trata de uma expectativa para o consumidor e para o fornecedor em relação ao uso e consumo regular de algum produto ou serviço, se referindo à normalidade e previsibilidade do consumidor em relação ao uso e funcionamento rotineiro do produto ou serviço. Assim, o consumidor compra um produto ou serviço sabendo dos riscos de sua utilização, devendo fazer uso conforme as orientações para funcionamento normal do produto. Em seu § 1º, o referido artigo estabelece que, em se tratando de produto industrial, cabe ao fabricante prestar as informações sobre os citados riscos do produto, através de impressos apropriados que devam acompanhá-lo. Com a Lei 13.486, de outubro de 2017, foi incluído um segundo parágrafo ao artigo, estabelecendo que o fornecedor deverá higienizar os 14 equipamentos e utensílios utilizados no fornecimento de produtos ou serviços, ou colocados à disposição do consumidor. Deve também informar, de maneira ostensiva e adequada, quando for o caso, sobre os riscos de contaminação oriundos do produto. Segundo Flavio Tartuce e Daniel Amorim o novo parágrafo causa estranheza, uma vez que o seu conteúdo já era retirado do caput, especialmente do dever anexo de informação, relacionado ao princípio da boa-fé objetiva. Art. 9° O fornecedor de produtos e serviços potencialmente nocivos ou perigosos à saúde ou segurança deverá informar, de maneira ostensiva e adequada, a respeito da sua nocividade ou periculosidade, sem prejuízo da adoção de outras medidas cabíveis em cada caso concreto. O presente artigo trata de fornecer informações, de maneira ostensiva e adequada, sobre determinados produtos e serviços, que por suas características, necessitam de cuidado especial. Com esse artigo, surge o problema da definição do que seja produto ou serviço “potencialmente nocivo ou perigoso à saúde ou segurança” do consumidor. A lei permite que produtos e serviços potencialmente nocivos ou perigosos à saúde ou segurança do consumidor sejam produzidos e comercializados. Porém, o art. 10 proíbe a venda de produtos e serviços que apresentem alto grau de nocividade e periculosidade. Com isso, a permissão legal está estabelecida entre o que seja potencialmente e o que se apresenta com alto grau de nocividade e periculosidade. Art. 10. O fornecedor não poderá colocar no mercado de consumo produto ou serviço que sabe ou deveria saber apresentar alto grau de nocividade ou periculosidade à saúde ou segurança. § 1° O fornecedor de produtos e serviços que, posteriormente à sua introdução no mercado de consumo, tiver conhecimento da periculosidade que apresentem, deverá comunicar o fato imediatamente às autoridades competentes e aos consumidores, mediante anúncios publicitários. § 2° Os anúncios publicitários a que se refere o parágrafo anterior serão veiculados na imprensa, rádio e televisão, às expensas do fornecedor do produto ou serviço. § 3° Sempre que tiverem conhecimento de periculosidade de produtos ou serviços à saúde ou segurança dos consumidores, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão informá-los a respeito. 15 O § 1º refere-se ao chamado recall. Por meio desse instrumento, a norma objetiva que o fornecedor impeça ou procure impedir, ainda que tardiamente, que o consumidor sofra algum dano ou perda em função de vício que o produto ou o serviço tenham apresentado após sua comercialização. Geralmente essa norma envolve produções em série. Quando produtos produzidos em grande escala apresentam algum problema, verifica-se o item e o lote com defeito, e “chamam de volta” os já vendidos para serem consertados. O § 2º dispõe que para efetivar o recall, o fornecedor deve utilizar-se de todos os meios de comunicação disponíveis e se responsabilizar pelas despesas. Conforme Rizzatto Nunes, esse parágrafo obriga o fornecedor a encontrar o consumidor que adquiriu seu produto ou serviço criado para que o vício seja sanado. O fornecedor é responsável por eventuais acidentes de consumo causados pelo vício não sanado, se o consumidor não atender ao chamado, já que a responsabilidade do fornecedor é objetiva, Ainda de acordo com Rizzatto, pode-se falar em culpa concorrente do consumidor, caso ele receba o chamado e o negligencie. Mas, nesse caso, continua o fornecedor sendo integralmente responsável. Art. 11. (Vetado). SEÇÃO II Da Responsabilidade pelo Fato do Produto e do Serviço Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos. § 1° O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I - sua apresentação; II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi colocado em circulação. 16 § 2º O produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado. § 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar: I - que não colocou o produto no mercado; II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste; III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. O presente Código estabeleceu a responsabilidade objetiva dos fornecedores pelos danos advindos dos defeitos de seus produtos e serviços. E ofereceu poucas alternativas de excludentes dessa responsabilização. Com a responsabilidade objetiva do fornecedor, o consumidor, ao pleitear seus direitos, não necessita, em regra, provar suposto erro que desencadeou o dano experimentado, isto porque basta a constatação do elemento objetivo para que reste configurado o dever de reparar o prejuízo. O art.12 enumera os fornecedores responsáveis pelo fato do produto, são eles: fabricante, produtor, importador e construtor. A doutrina, com base no art. 12 do CDC, identifica três espécies de fornecedores: real (aquele que efetivamente participa do processo de fabricação do produto, a exemplo do fabricante, do produtor e do construto), presumido(aquele que não participa diretamente do processo de fabricação/produção/construção do produto é, apenas, um intermediário entre quem fabrica e o consumidor, como o importador) e aparente (que põe uma marca nos produtos disponibilizados ao consumidor e cria no mesmo a confiança no produto comercializado, os defeitos desses produtos são de responsabilidade do franqueador). Para que haja a responsabilização dos fornecedores pelo fato do produto é necessário que a presença de determinados pressupostos, tais como conduta, dano, nexo causal e defeito. A conduta caracteriza-se pela colocação do produto no mercado de consumo pelo fornecedor. O dano deve ser extrínseco ao produto, ou seja, o defeito deverá causar um dano externo, extrapolando os limites da depreciação econômica do produto. O nexo causal é a relação de causa e efeito entre a conduta praticada pelo fornecedor e o dano causado ao consumidor. E o defeito deve estar presente, mas há uma presunção legal ou uma inversão legal do ônus da prova. Assim, o consumidor não precisa provar que o defeito existe. O §1º, do art. 12 do CDC define quando um produto será considerado defeituoso. A doutrina classifica o defeito do produto em três espécies: defeito de concepção ou de criação 17 (decorrentes de falhas no projeto ou na fórmula do produto), defeito de fabricação (decorrentes de falhas nos processos de fabricação, montagem, manipulação ou acondicionamento dos produtos), e defeito de comercialização (decorrentes de falhas na apresentação do produto, assim como de informações inadequadas ou insuficientes ao consumidor). Aqui, a falha de segurança não está no produto em si, mas sim no modo como este se apresenta. Por essa razão, considera-se um defeito extrínseco, diferentemente dos defeitos de concepção e fabricação, considerados intrínsecos ao produto. No § 3º encontram-se as causas de exclusão da responsabilidade civil pelo fato do produto. Conforme Rizzatto, o risco do prestador do serviço é integral, tanto que a lei não prevê como excludente do dever de indenizar o caso fortuito e a força maior. E, como a norma não estabelece, não pode o prestador do serviço responsável alegar em sua defesa essas duas excludentes. O que acontece é que o CDC, dando continuidade à normatização do princípio da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo, preferiu que toda a carga econômica advinda de defeito recaísse sobre o prestador do serviço. Trata-se apenas de questão de risco do empreendimento. Aquele que exerce a livre atividade econômica assume esse risco integral. Em matéria de acidente de consumo, por fato de serviço, o caso fortuito ou a força maior irão excluir a responsabilidade quando forem externos. Caso fortuito e força maior externo: é aquele absolutamente estranho a atividade do fornecedor. Por exemplo, passageiro que é atingido por uma bala perdida no ônibus. Caso fortuito e força maior interno: é aquele que está relacionado à atividade do fornecedor, a exemplo de um acidente envolvendo os passageiros de um ônibus. Nesse caso, haverá responsabilidade. Como causas de excludentes, tem-se: defeito na concepção, que corresponde ao defeito que surge na própria formulação do serviço; defeito na prestação, aquele que se manifesta no ato da prestação do serviço; e defeito na comercialização, aquele que decorrente de “informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos”. Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior, quando: I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados; II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador; III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis. 18 Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito de regresso contra os demais responsáveis, segundo sua participação na causação do evento danoso. O artigo trata da responsabilidade pelo fato do produto do comerciante. A responsabilidade do comerciante será, nos acidentes de consumo, condicionada a algumas circunstâncias. A responsabilidade do comerciante é em regra subsidiária, porém, não tem o condão de afastar a regra da solidariedade contida no artigo 12 do CDC, sendo este fabricante, produtor, construtor e o importador, os responsáveis diretos ou obrigados principais. Também deve ser ressaltado que começa antes não é somente o varejista, mas toda a cadeia de intermediários, como atacadistas e distribuidores. Será o comerciante equiparado ao fornecedor, por determinação legal, quando este disponibilizar no mercado de consumo produto sem identificação, vez que impede o consumidor da identificação para a responsabilização prevista no artigo 12 do CDC. Ocorrerá a equiparação também do comerciante como fornecedor se no produto comercializado não restar clara a identificação do seu fabricante, produtor, construtor ou importador. Não conservando adequadamente os produtos perecíveis, o comerciante passa a condição de responsável principal. O parágrafo único dispõe expressamente o direito de regresso, não sendo direito exclusivo do comerciante, mas de toda a cadeia produtiva. Há vários julgados no sentido de ser a responsabilidade civil do comerciante é subsidiária. Com entendimento de que sempre que não houver identificação do responsável pelos defeitos nos produtos adquiridos, autoriza- se que o consumidor simplesmente litigue contra o comerciante. Com entendimento que o comerciante responde ainda que por descuido eventual na retirada dos alimentos vencidos. Com entendimento que o indeferimento da denunciação a lide não pode o exercício do direito de regresso. Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. § 1º O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: 19 I - o modo de seu fornecimento; II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi fornecido. § 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas. § 3º O fornecedor de serviços só não será responsabiliza do quando provar: I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexistente; II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. § 4º A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa. O artigo trata da responsabilidade pelo fato do serviço que, semelhantemente ao art. 12 (responsabilidade pelo fato do produto), contém basicamente as mesmas características. Importante destacar que no fato do produto a responsabilidade do comerciante é diferenciada, estando contida no art. 13 (por isso é que o art. 12 diz "fabricante, produtor, construtor e importador", ou seja, é o fornecedor menos o comerciante). Já no fato do serviço não há tal distinção, uma vez que o art.14 diz “fornecedor”. Além disso, no fato do serviço há responsabilidade diferenciada para o profissional liberal (responsabilidade subjetiva-§ 4°) enquanto que no fato do produto não há esta diferenciação. Assim, para a averiguação da responsabilidade em razão da prestação de serviços defeituosos é preciso demonstrar o dano ocorrido (acidente de consumo) e a relação de causalidade entre o dano e o serviço prestado (nexo causal). Desse modo, basta o fornecedor demonstrar que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste ou que houve culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro para que fique isento de responsabilidade (sobre o caso fortuito e força maior, conferir comentários ao art. 12). Da mesma forma,o STJ aceita a culpa concorrente como redutor do quantum indenizatório. A ressalva contida no § 4°, em que há a única exceção quanto à aplicação da responsabilidade objetiva: quando se tratar de serviços prestados por profissionais liberais. Nesse caso, a responsabilidade será apurada mediante verificação de culpa, ou seja, constatando imperícia, imprudência ou negligência. Art. 15. (Vetado.) Art. 16. (Vetado.) Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vitimas do evento. 20 O legislador estendeu a proteção concedida ao destinatário final de produtos e serviços (consumidor stricto sensu) para terceiros (vítimas), estranhos à relação jurídica, mas que sofreram prejuízo em decorrência do acidente de consumo. Cumpre esclarecer que tal dispositivo aplica-se somente à responsabilidade pelo fato do produto e serviço (arts. 12 ao 14). Agora, quando um terceiro se torna vítima do evento se equipara a consumidor e pode ser ressarcido pelos danos sofridos com base no CDC. Abrange o conceito de expectador aquelas pessoas físicas ou jurídicas que foram atingidas em sua integridade física ou segurança, em virtude do defeito do produto, não obstante não: serem partícipes diretos da relação de consumo. Imagine uma pessoa que, ao atravessar a rua, é atropelada por veículo que perdeu o freio. Esta pessoa não é consumidora stricto sensu, uma vez que não adquiriu nenhum produto ou serviço como destinatário final. Ao contrário, foi vítima de um acidente de consumo. Assim, poderá se valer do CDC como consumidor equiparado para pleitear indenização à montadora fabricante do veículo em virtude do defeito ocasionador do dano (falha no freio). SEÇÃO III Da Responsabilidade por vicio do produto e do serviço Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas. O presente artigo trata da responsabilidade por vício de qualidade no produto, ou seja, um defeito que o mesmo apresenta. O vício de qualidade faz com que o produto se torne impróprio para o consumo, não funcionando normalmente, deixando os consumidores com as expectativas frustradas no que diz respeito ao esperado, condizente ao prometido pelo fornecedor. Leonardo Medeiros Garcia ( código de defesa do cons. Comentado, 2016) analisa que da mesma forma que na responsabilidade pelo fato, a a responsabilidade por vícios será 21 aferida de forma objetiva, ou seja, não se indaga se o vício decorre de conduta culposa ou dolosa do fornecedor. Também pouco importa se o fornecedor tinha ou não conhecimento do vício para que seja aferida sua responsabilidade, pois nos moldes do artigo 23 do CDC, a ignorância do fornecedor sobre os vícios de qualidade por inadequação dos produtos e serviços não o exime de responsabilidade. § 1º Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: O parágrafo 1° dispõe que o fornecedor terá um prazo de 30 dias para sanar o vício do produto, após ter sido constatado tal situação. Caso o prazo para solucionar o problema, não seja cumprido, o consumidor poderá exigir do fornecedor à sua escolha,as alternativas seguintes. I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso; O consumidor poderá escolher um outro produto, novo e da mesma espécie. II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; Caso queira, o consumidor também poderá escolher, a restituição imediata do que pagou devidamente atualizada. III - o abatimento proporcional do preço. Ainda referente a uma das alternativas de escolha do consumidor, caso o vício não seja sanado, poderá escolher o abatimento proporcional do preço do produto viciado. § 2º Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação do prazo previsto no parágrafo anterior, não podendo ser inferior a sete nem superior a cento e oitenta dias. Nos contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser convencionada em separado, por meio de manifestação expressa do consumidor. Para poder sanar o vicio na qualidade do produto, o prazo de 30 dias que detém o fornecedor, poderá ser reduzido ou aumentado, não podendo ser inferior a sete dias e nem ultrapassar os 180 dias. Leonardo Garcia, p. 207, “ diz que na prática, tal especulação é quase inexistente no mercado de consumo. De acordo com o parágrafo 2°, quando a ampliação ou 22 redução do prazo para sanar o vicio ocorrer nos contratos de adesão, essa estipulação deverá ser convencionada em separado, através de manifestação expressa do consumidor.” Leandro Cardoso Lages comunga do mesmo pensamento que Leonardo Garcia nessa questão, em que relata em seu livro Direito do Consumidor, p.188: “ o consenso firmado entre consumidor e fornecedor para fins de alteração do prazo de 30 dias deve ocorrer por meio de um documento instituído com esse específico, escrito e assinado pelas partes.” Para Claudia Lima, o legislador foi infeliz quando prolongou o prazo para ate 180 dias, pois, em virtude do caráter de adesão dos contratos em geral e da situação de vulnerabilidade do consumidor, que raramente lê um contrato, apenas o assina, sem ter muita noção dos riscos que correm. § 3º O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1º deste artigo sempre que, em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial. O referido parágrafo, reconhece que, em determinadas situações, o consumidor poderá diretamente, exigir as alternativas que expõe o parágrafo 1°, ou seja, a substituição do produto ou a restituição da quantia paga ou ainda o abatimento proporcional do preço. As quatro hipótese que são contempladas no referido parágrafo são as seguintes: Quando a substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade do produto; Quando a substituição das partes viciadas puder comprometer as características do produto; Quando a substituição das partes viciadas diminuir o valor do produto; Quando se tratar de produto essencial. No caso de produto essencial, Leonardo Garcia, o conceitua como aquele produto que, devido sua importância e necessidade não pode esperar para ser concertado. Por se provar a essencialidade do produto, é que faz com que o consumidor possa exigir qualquer das alternativas do art. 18, parágrafo 1°. § 4º Tendo o consumidor optado pela alternativa do inciso I do § 1º deste artigo, e não sendo possível a substituição do bem, poderá haver substituição por outro de espécie, 23 marca ou modelo diversos, mediante complementação ou restituição de eventual diferença de preço, sem prejuízo do disposto nos incisos II e III do § 1º deste artigo. O consumidor poderá escolher um produto equivalente ao seu, desde que não consiga modelo semelhante ao que possuía, sendo este produto a ser adquirido, de outra marca, ou modelo. Se o valor do produto escolhido pelo consumidor for superior, o mesmo deverá complementar o valor do produto e, caso seja inferior, o fornecedor do produto, deverá pagar a diferença de valor ao consumidor. § 5º No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsável perante o consumidor o fornecedor imediato, exceto quando identificado claramente seu produtor. Para Leandro Lages “ produtos in natura são aqueles deorigem animal ou vegetal, consumidos em seu estado natural, sem passar por processos de industrialização”. ( p. 191, Direito do Consumidor : A lei, a jurisprudência e o cotidiano, 2020). O referido parágrafo se relaciona com o art. 13 do CDC, em que este trata da responsabilidade do comerciante, diante de possíveis vícios nos produtos, caso não seja reconhecido o fornecedor. Claudia Lima Marques, sustenta que a responsabilidade é solidária, e possui finalidade educativa, visando ampliar as garantias de proteção ao consumidor e não limitá-Los. Flávio Tartuce, tem entendimento contrário, e relata que o paragrafo 5° do art. 18 do CDC, deixa bem claro que o comerciante só será responsabilizado caso não identifique o produtor, explanando assim, que não se constitui uma responsabilidade solidária. § 6º São impróprios ao uso e consumo: Os produtos ditos impróprios são aqueles que não servem ou são inadequados para o consumo ou para o uso. I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos; Os produtos com prazos de validade vencidos são aqueles que são inadequados ao fim que os destinam, e por muitas vezes apresentarem modificação em sua propriedade ou aparência. A comercialização de tais produtos, é considerado crime e está previsto na lei 8.137/1990. 24 II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação; Os produtos deteriorados, como descreve o inciso, são aqueles que são inadequados ao uso e consumo. III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam. O parágrafo 6° menciona os produtos que são impróprios ao uso e consumo e, tais produtos, em si mesmos, por se revelarem inadequados ao fim que são destinados, tornando- se assim inadequados para consumo e uso. Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de quantidade do produto sempre que, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido for inferior às indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: O referido artigo diz respeito ao vício de quantidade do produto, sendo aquele decorrente de diferenças entre o que contém nas informações no rótulo ou na mensagem publicitária referente ao seu conteúdo. Sendo que a responsabilidade dos fornecedores é considerada solidária e objetiva. O vício de quantidade é comprovado quando o consumidor é lesado ao pagar um preço por algo que não condiz com o enunciado no produto. Diferente do vício de qualidade que limita o prazo para que ocorra o reparo, que é de 30 dias, na questão do vício de quantidade, não existe a questão do prazo, ou seja, o consumidor, ao constatar o vicio no produto, deve exigir imediatamente, o abatimento proporcional no preço, a complementação do peso ou da medida do produto, a restituicao imediata do valor pago, corrigido monetariamente, ou ainda a substituição do produto. I - o abatimento proporcional do preço; O consumidor poderá ter o abatimento proporcional no preço do produto, como uma das opções do consumidor nos casos de vício de quantidade do produto. 25 II - complementação do peso ou medida; O referido inciso, traz a segunda opção do consumidor, no qual o mesmo, pode optar pela complementação do peso ou medida do produto, ficando esse igualmente ao descrito no rótulo. III - a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo, sem os aludidos vícios; O consumidor ainda possui a opção descrita no citado inciso, como opção das alternativas impostas a ele, caso seja lesado. O mesmo pode, escolher a substituição do produto por um outro de mesma espécie, marca ou modelo. IV - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos. Ao consumidor, ainda é dado a opção de ter restituído e corrigido monetariamente o valor pago pelo produto, sem ter prejuízos de perdas e danos. § 1º Aplica-se a este artigo o disposto no § 4º do artigo anterior. Se por acaso, o consumidor opte por substituir o produto viciado por outro similar, e o dito produto não seja mais encontrado no mercado, o consumidor poderá escolher um produto que seja de outra marca, modelo ou espécie, e sendo o valor do produto escolhido maior do que o produto viciado, o consumidor poderá complementar o seu valor. Caso o valor seja inferior, o fornecedor restituirá a diferença ao consumidor, que existe no preço do referido produto. § 2º O fornecedor imediato será responsável quando fizer a pesagem ou a medição e o instrumento utilizado não estiver aferido segundo os padrões oficiais. O parágrafo 2° determina a responsabilidade exclusiva do fornecedor imediato ao fazerem a pesagem ou medição do produto. O instrumento usado para tais resultados, deve estar regulado de acordo com padrões oficiais. A responsabilidade é considerada exclusiva do fornecedor imediato, pois não existe nenhuma participação de outros integrantes ao pesarem ou medir os produtos. Ao analisar os referidos artigos, observa-se que os mesmos garantem ao consumidor, quando os produtos adquiridos apresentam vícios de qualidade ou de quantidade, devem os 26 fornecedores, solucionar tal defeito ou problema, e possuem o prazo de 30 dias para que possam sanar tal problema . Decorrido esse prazo, o consumidor tem garantido pelo CDC, a substituição do produto defeituoso por um novo, ter o valor pago restituído, corrigido monetariamente, sendo que esse valor deve ser feito imediatamente, ou ainda ter um desconto proporcional ao valor da mercadoria. Os fornecedores dos produtos respondem solidariamente quando o vício é de qualidade, e sendo o vício de quantidade, só terá considerada solidária sua responsabilidade, se for encontrado. Nesse ponto, foi observado uma divergência na doutrina. Os produtos in natura, aqueles em que não teve transformações industriais, podem ser encontrados, tanto em supermercados quanto em feiras livres. Caso seja em supermercados, geralmente possuem o selo do fabricante, e sendo identificado, a responsabilidade por vício, do fabricante, pois esse foi identificado. Caso vendidos em feiras livre, a responsabilidade será do fornecedor imediato. Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível; II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; III - o abatimento proporcional do preço. § 1° A reexecução dos serviços poderá ser confiada a terceiros devidamente capacitados, por conta e risco do fornecedor. § 2° São impróprios os serviços que se mostrem inadequados para os fins que razoavelmente deles se esperam, bem como aqueles que não atendam as normas regulamentares de prestabilidade. Para os vícios de qualidade do serviço, não há estipulação de prazo para o fornecedor sanar o vício, podendo o consumidor, de imediato, exigir as alternativas dispostas no artigo. Aqui não há exceção quanto à responsabilidade objetiva para os profissionais liberais nos moldes do art.14 §4°. A exceção, então, somente se verifica para a responsabilidade por fato de serviço (art.14) e não a responsabilidade por vício do serviço (art. 20). As opções dos incisos I, II e III são de escolha do consumidor e não do fornecedor. Em se tratando de serviços impróprios,o mesmo poderá ser executado por terceiros indicados 27 pelo prestador do serviço, devendo ser este capacitado e sem qualquer outro ônus ao consumidor. Um serviço, para ser considerado impróprio, há de se mostrar inadequado para os fins que razoavelmente dele se espera. Na reexecução dos serviços os consumidores não arcarão com nenhum custo adicional. Art. 21. No fornecimento de serviços que tenham por objetivo a reparação de qualquer produto considerar-se-á implícita a obrigação do fornecedor de empregar componentes de reposição originais adequados e novos, ou que mantenham as especificações técnicas do fabricante, salvo, quanto a estes últimos, autorização em contrário do consumidor. O fornecedor deverá usar peças originais e novas no conserto de produto, Salvo quando o consumidor consentir em sentido contrário. O artigo 21° cria para o prestador de serviços o dever jurídico de empregar nos consertos e reparações de quaisquer natureza. Se não fizer, poderá ser aplicada as sanções previstas nos artigos 18° ao 20° do CDC, com vistas à reposição da peça ou reexame do serviço prestado. Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos. Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste código. Nos termos do art. 3º do CDC, as pessoas jurídicas de Direito Público – centralizadas ou descentralizadas podem figurar no polo ativo da relação de consumo, como fornecedoras de serviços. Por via de consequência, não se furtarão a ocupar o polo passivo da correspondente relação de responsabilidade. O art. 22 faz remissão às empresas rectius empresas públicas concessionárias de serviços públicos, entes administrativos com personalidade de Direito Privado, mas por extensão é aplicável às sociedades de economia mista, fundações e autarquias, posto que omitidas, sempre que prestarem serviços públicos. É sempre muito complicado investigar a natureza do serviço público, para tentar surpreender, neste ou naquele, o traço da sua essencialidade. Com efeito, cotejados, em seus aspectos multifários, os serviços de comunicação telefônica, de fornecimento de energia elétrica, água, coleta de esgoto ou de lixo domiciliar, todos passam por uma gradação de essencialidade, que se exacerba justamente quando estão em causa os serviços públicos 28 difusos (ut universi) relativos à segurança, saúde e educação. Parece-nos, portanto, mais razoável sustentar a imanência desse requisito em todos os serviços prestados pelo Poder Público. Um dos temas mais polêmicos, nesta sede, indaga se as concessionárias de serviços públicos podem cortar o fornecimento de luz, água ou telefone, na hipótese de inadimplemento dos respectivos usuários. A obrigação de pagar as contas de luz, água ou telefone não é tributária, pois trata-se de serviços prestados sob o regime de Direito Privado, remunerados por meio dos preços públicos, ou seja, por meio das tarifas. Os financistas costumam surpreender, nessas hipóteses, verdadeiros contratos de Direito Público, pois o pagamento do preço é efetivado por unidades de serviços prestados, ou seja, quilowatts de energia, metros cúbicos de água ou impulsos telefônicos. Pacifica-se, na doutrina, o entendimento de que a gratuidade não se presume e que as concessionárias de serviço público não podem ser compelidas a prestar serviços ininterruptos se o usuário deixa de satisfazer suas obrigações relativas ao pagamento. De todo modo, a interrupção no fornecimento do serviço público não pode ser efetivada ex abrupto, como instrumento de pressão contra o consumidor, para forçálo ao pagamento da conta em atraso. Neste sentido, o item 2 da 1º. 2º. 3º. 4º. Portaria nº 4/98 da Secretaria de Direito Econômico, que estabelece o rol exemplificativo de cláusulas abusivas, ao condicionar ao aviso prévio a interrupção de serviço essencial, em caso de impontualidade. Por outro lado, se o usuário do serviço for pessoa jurídica de Direito Público, a interrupção do fornecimento é inadmissível, porque, além de estar em causa o interesse público – cuja supremacia é indiscutível em termos principiológicos, o ente público pode invocar, em sentido diametralmente oposto, o postulado da continuidade dos serviços que presta à população em geral. Nos termos do art. 22 e seu parágrafo único, quando os órgãos públicos se descuram da obrigação de prestar serviços adequados, eficientes, seguros e contínuos, são compelidos a cumpri-los e reparar os danos causados, na forma prevista no Código. Em primeira aproximação, vale observar que os órgãos públicos recebem tratamento privilegiado, pois não se sujeitam às mesmas sanções previstas no art. 20 para os fornecedores de serviços. De fato, o parágrafo único somente faz referência ao cumprimento do dever de prestar serviços de boa qualidade, o que afasta as alternativas da restituição da quantia paga e do abatimento do preço, envolvendo somente a reexecução dos serviços públicos defeituosos. Por outro lado, tratando-se de reparação dos danos, vale dizer, da restauração do estado anterior à lesão, 29 responsabiliza as entidades públicas “na forma prevista neste Código”, o que significa, independentemente da existência de culpa, conforme estatui expressamente o art. 14 do CDC. Tenha-se presente, por último, por força da remissão do parágrafo único in fine, que se aplicam aos fornecimentos de serviços públicos as causas excludentes de responsabilidade ali previstas e já comentadas, a saber: que tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. Art. 23. A ignorância do fornecedor sobre os vícios de qualidade por inadequação dos produtos e serviços não o exime de responsabilidade. Na ordem civil, o alienante está de boa-fé quando ignora o vício ou o defeito que afeta a coisa alienada. Caracteriza-se a má-fé quando tem conhecimento do defeito oculto. Numa e noutra hipótese, a sanção é diversa, pois, se está de boa-fé, restituirá somente o valor recebido, mais as despesas contratuais. Do contrário, deverá restituir o valor recebido, com perdas e danos (cf. art. 443 do Código Civil). Para evitar que, nas relações de consumo, constatados vícios de qualidade no fornecimento de produtos e serviços, as partes recorram analogicamente às fontes civilísticas, o art. 23 estabelece que a ignorância sobre os vícios de qualidade não escusa o fornecedor, nem o exime de responsabilidade. O dispositivo é consectário lógico do acolhimento da teoria do risco, que desconsidera os aspectos subjetivos da conduta do fornecedor. Art. 24. A garantia legal de adequação do produto ou serviço independe de termo expresso, vedada a exoneração contratual do fornecedor. O fornecedor deve colocar no mercado de consumo produtos ou serviços de boa qualidade, vale dizer, sem vícios ou defeitos que os tornem impróprios ao uso e consumo ou lhes diminuam o valor. Esse dever jurídico implica – do ponto de vista do consumidor – a garantia de adequação do produto ou serviço que, nos termos do art. 24, independe de termo expresso, pois decorre do magistério da lei. Tratando-se de disposição de ordem pública, é vedada a exoneração contratual do fornecedor, sob pena de nulidade das cláusulas eventualmente pactuadas. A GARANTIA CONTRATUAL É complementar à legal e será facultativa Será conferida mediante termo escrito A GARANTIA LEGAL É obrigatória, não podendo o fornecedor dela se exonerar. Independe de termo escrito 30 Art. 25. É vedada a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou atenue a obrigaçãode indenizar prevista nesta e nas seções anteriores. § 1° Havendo mais de um responsável pela causação do dano, todos responderão solidariamente pela reparação prevista nesta e nas seções anteriores. § 2° Sendo o dano causado por componente ou peça incorporada ao produto ou serviço, são responsáveis solidários seu fabricante, construtor ou importador e o que realizou a incorporação. Nos termos do art. 25 não serão permitidas cláusulas que impossibilitem, exonerem ou atenuem a obrigação de indenizar prevista no Código. As estipulações exonerativas são mais frequentes nas hipóteses de fornecimento de serviços. As empresas de guarda e estacionamento de veículos costumam advertir seus usuários de que não se responsabilizam pelos valores ou objetos pessoais deixados no interior dos respectivos veículos. Todas essas cláusulas exonerativas consideram-se não escritas e devem ser desconsideradas pelos respectivos usuários da prestação de serviços. O § 1º reafirma a solidariedade passiva de todos aqueles que, de qualquer modo, concorreram para a causação do dano, ao mesmo tempo em que o § 2º acrescenta ao rol dos coobrigados solidários o fornecedor das peças ou dos componentes defeituosos que foram incorporados aos produtos ou serviços e que deram causa ao eventus damni. Trata-se, no entanto, de solidariedade pura e simples, que não comporta benefício de ordem, o que significa: o consumidor poderá fazer valer seus direitos contra qualquer dos fornecedores do produto ou serviço, inclusive contra o incorporador da peça ou componente defeituoso. SEÇÃO IV Da Decadência e da Prescrição O art. 26 disciplina a decadência, enquanto o art. 27 se ocupa da prescrição nas relações de consumo. O STJ, no voto proferido pelo Min. Ruy Rosado Aguiar, de forma brilhante, sintetizou as diferenças entre os dois institutos, relacionando o direito potestativo à decadência e o direito subjetivo (propriamente dito) à prescrição. Assim, ensina o ministro: “a diferença entre uma e outra dessas figuras (arts. 26 e 27), para o que nos interessa, deve ser feita a partir da distinção entre Direito subjetivo propriamente dito (Direito formado, fundamental ou bastante em si), que contém poderes sobre bens da vida, permite ao seu titular dispor sobre eles, de acordo com sua vontade e nos limites da lei, e está armado de pretensão dirigida contra quem se encontra no polo 31 passivo da relação (devedor), para que efetue a prestação a que está obrigado (ex: direito de propriedade, direito de crédito), e direito formativo (dito de configuração ou potestativo), que atribui ao seu titular, por ato unilateral, formar relação jurídica concreta, a cuja atividade a outra parte simplesmente se sujeita. Esse direito formativo é desarmado de pretensão, pois o seu titular não exige da contraparte que venha efetuar alguma prestação decorrente exclusivamente do direito formativo; apenas exerce diante dela o seu direito de configurar uma relação. O efeito do tempo sobre os direitos armados de pretensão atinge a pretensão, encobrindo-a, e a isso se chama de prescrição. Os direitos formativos, porque não tem pretensão, são afetados diretamente pelo tempo e extinguem-se: é a decadência. A lei trata dessas duas situações. O direito a indenização, do qual é titular o consumidor lesado por defeito do produto ou do serviço com ofensa a sua segurança (arts. 12 e 14), é um direito subjetivo de crédito que pode ser exercido no prazo de 5 anos, mediante a propositura de ação através da qual o consumidor (credor) deduz sua pretensão dirigida contra o fornecedor para que efetue a sua pretensão (pagamento da indenização). Portanto, se já ocorreu a ofensa a segurança do consumidor, com incidência dos referidos artigos 12 e 14, houve o dano e cabe a ação indenizatória, é uma ação de condenação deferida a quem tem direito e pretensão de exigir a prestação pelo devedor. O efeito do tempo faz encobrir essa pretensão. É caso, portanto, de prescrição, assim como regulado no artigo 27: “prescreve em 5 anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou serviço (...)”. Se o produto ou serviço apresenta vício quanto à quantidade ou qualidade (artigos 18 e 20), sendo de algum modo impróprio ao uso e ao consumo (artigos 18, §6°, e 20, §2°), a lei concede ao consumidor o direito formativo de escolher entre as alternativas de substituição do produto, abatimento proporcional do preço, a reexecução do serviço, ou a resolução do contrato, com a restituição do preço (artigo 18, §2°, e incisos do artigo 20). A lei cuida dessas situações como sendo um direito formativo do consumidor a ser exercido dentro do prazo curto de 30 ou 90 dias, conforme se trata de bens não duráveis ou duráveis, respectivamente (artigo 26, incs.I e II). O caso é de extinção do direito formativo e o prazo é de decadência.” (STJ, Resp 100710/SP, REL. Min. Rui Rosado de Aguiar, DJ 03.02.07) Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em: I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis; II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis. § 1° Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do produto ou do término da execução dos serviços. § 2° Obstam a decadência: I - a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de forma inequívoca; II - (Vetado). III - a instauração de inquérito civil, até seu encerramento. § 3° Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar evidenciado o defeito. O art. 26 disciplina a extinção do direito de reclamar por vícios aparentes ou ocultos que tornam os bens ou serviços impróprios ou inadequados ao consumo (responsabilidade por 32 vício). Não se aplica, no entanto, aos casos indicados na Súmula 477 do STJ, que dispõe: “A decadência do art. 26 do CDC não é aplicável à prestação de contas para obter esclarecimentos sobre cobrança de taxas, tarifas e encargos bancários”. Por todo o exposto nos parágrafos anteriores, os prazos ali previstos são decadenciais, pois está em causa a extinção de direitos subjetivos em via de constituição. Nos termos do art. 26, o direito de reclamar por vícios aparentes ou ocultos dos produtos ou serviços se extingue: em 30 dias, tratando-se de fornecimento de serviços ou produtos não duráveis; em 90 dias, tratando-se de fornecimento de serviços ou produtos duráveis. A qualificação dos produtos ou serviços como de consumo duráveis ou não duráveis envolve a sua maior ou menor durabilidade, mensurada em termos de tempo de consumo. Assim, os produtos alimentares, de vestuário e os serviços de dedetização, por exemplo, não são duráveis, ao passo que os eletrodomésticos, veículos automotores e os serviços de construção civil são duráveis. Diante da constatação de vícios aparentes, o prazo decadencial, referido no item anterior, inicia sua contagem a partir da entrega efetiva do produto ou do término da execução dos serviços (cf. § 1º). Tratando-se de vícios ocultos, no entanto, conta-se o dies a quo a partir do momento em que ficar evidenciado o defeito (cf. § 3º). Vício aparente, na dicção legal, é o vício de fácil constatação (Por exemplo, o produto farmacêutico ou alimentar visivelmente deteriorado, alterado, adulterado ou com prazo de validade vencido, bem como o eletrodoméstico que é entregue ao consumidor com avarias e defeitos visíveis). Vício oculto, a contrario sensu, é aquele que não se visualiza de pronto e, portanto, de difícil constatação (por exemplo, o defeito no sistema elétrico de qualquer aparelho ou máquina industrial). Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia sua contagem a partir do momento em que ficar evidenciadoo defeito. Nos termos do § 2º do art. 26 obstam a decadência, a reclamação formulada pelo consumidor até a resposta negativa do fornecedor, bem como a instauração de inquérito civil a cargo do Ministério Público, até seu encerramento. 33 PRAZOS DE DECADÊNCIA Vícios aparentes ou de fácil constatação Produtos ou serviços Prazo Início da contagem Não duráveis 30 dias Entrega efetiva do produto ou do término da execução dos serviços. Duráveis 90 dias Entrega efetiva do produto ou do término da execução dos serviços. VÍCIOS OCULTOS Produtos ou serviços Prazo Início da contagem Não duráveis 30dias Momento em que ficar evidenciado o defeito. Duráveis 90 dias Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria. Parágrafo único. (Vetado). O Código disciplina a prescrição nos casos de responsabilidade por danos, vale dizer, nos acidentes causados por defeitos dos produtos ou serviços. O prazo extintivo é de cinco anos, contados da data do conhecimento do dano e de sua autoria. Explica-se a inclusão do requisito da autoria além do conhecimento do dano: pode ocorrer que o consumidor ou qualquer vítima do evento tenha perfeito conhecimento do dano, mas ignore a quem deva atribuir a respectiva autoria, ou seja, a responsabilidade pelo evento. Suponhamos, por exemplo, que um medicamento ainda indeterminado tenha dado causa a acidente de consumo. O prazo prescricional somente inicia sua contagem após o conhecimento da autoria do dano, ou seja, após a identificação do laboratório responsável pela fabricação do medicamento nocivo à saúde. Não se pode receber, sem granum salis, o preceito normativo contido no art. 27 do CDC. A jurisprudência de nossos tribunais tem dado curso a entendimento que só merece aplausos, pelo seu alcance e significado social. O min. Aldir Passarinho foi relator de acórdão do Superior Tribunal de Justiça que muito honra a magistratura, pois muda o eixo das 34 discussões e amplia o prazo prescricional nos casos de responsabilidade por danos físicos, com morte de passageiros, aplicando à espécie o prazo vintenário previsto no Código Civil (decenário, após o advento da nova codificação). SEÇÃO V Da Desconsideração da Personalidade Jurídica Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração. § 1° (Vetado). § 2° As sociedades integrantes dos grupos societários e as sociedades controladas, são subsidiariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes deste código. § 3° As sociedades consorciadas são solidariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes deste código. § 4° As sociedades coligadas só responderão por culpa. § 5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores. A sistematização do tema deve-se aos estudos desenvolvidos por Rolf Serick, em monografia com a qual concorreu pela docência da Universidade de Tübingen, na década de 1950, divulgada no Brasil pelo prof. Rubens Requião no trabalho “Disregard doctrine”, publicado pela Revista dos Tribunais no ano de 1969. O CDC foi o primeiro dispositivo legal a se referir à desconsideração da personalidade jurídica. Posteriormente, foi inserida em outras leis. O art. 28 reproduz todas as hipóteses materiais de incidência que fundamentam a aplicação da disregard doctrine às pessoas jurídicas, a saber: abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito e violação dos estatutos ou contrato social. O dispositivo protege amplamente o consumidor, assegurando-lhe livre acesso aos bens patrimoniais dos administradores sempre que o direito subjetivo de crédito resultar de quaisquer das práticas abusivas elencadas no dispositivo. 35 O texto introduz uma novidade, pois é a primeira vez que o Direito legislado acolhe a teoria da desconsideração sem levar em conta a configuração da fraude ou do abuso de direito. De fato, o dispositivo pode ser aplicado pelo juiz se o fornecedor (em razão da má administração, pura e simplesmente) encerrar suas atividades como pessoa jurídica. Muito oportunos e pertinentes, neste particular, os comentários de Fábio Ulhoa Coelho: “Finalmente, não se deve esquecer das hipóteses em que a desconsideração da autonomia da pessoa jurídica prescinde da ocorrência da fraude ou de abuso de direito. Somente diante do texto expresso da lei poderá o juiz ignorar a autonomia da pessoa jurídica, sem indagar da sua utilização com fraude ou abuso de direito.” A tarefa do juiz nessa situação não é puramente cognoscitiva, muito menos mecânica, mas valorativa dos interesses em conflito, além de criativa de novas normas , o dispositivo teve o cuidado de autorizar a aplicação da desconsideração como faculdade do juiz, a cujo prudente arbítrio confiou o exame preliminar e a aferição dos pressupostos, para concessão da medida extrema. Desconsiderada a pessoa jurídica do fornecedor, quem deverá ser responsabilizado pela reparação dos vícios ou pelo ressarcimento dos prejuízos causados ao consumidor? O § 1º do art. 28 – vetado pelo presidente da República dispõe que “a pedido da parte interessada o juiz determinará que a efetivação da responsabilidade da pessoa jurídica recaia sobre o acionista controlador, o sócio majoritário, os sóciosgerentes, os administradores societários e, no caso de grupo societário, as sociedades que o integram”. Nas razões de veto encaminhadas ao presidente do Senado Federal, o presidente da República considera que “o caput do art. 28 já contém todos os elementos necessários à aplicação da desconsideração da personalidade jurídica, que constitui, conforme doutrina amplamente dominante no Direito pátrio e alienígena, técnica excepcional de repressão a práticas abusivas”. Por sua vez, os §§ 2º, 3º e 4º do art. 28 disciplinam a responsabilidade solidária em via principal ou subsidiária das sociedades componentes dos grupos societários, bem como das sociedades consorciadas e coligadas. No plano sistemático, todos eles padecem do vício de pertinência, pois estão sediados nos limites incidentais da Seção V, relativa à desconsideração da personalidade jurídica, quando, em verdade, estariam mais bem situados na Seção III, relativa à responsabilidade por vício do produto ou serviço. De todo modo, devemos considerar que o grupo de sociedades é constituído pela sociedade controladora e suas controladas, ou seja, por sociedades que detêm o controle acionário, ditas sociedades de comando, e por suas filiadas, sendo certo que, nos termos do 36 art. 243, § 1°, da Lei nº 6.404/76, com a nova redação dada pela Lei nº 11.941/2009: “São coligadas as sociedades nas quais a investidora tenha influência significativa”. Pois bem, nos termos do § 2º, diante da manifesta insuficiência dos bens que compõem o patrimônio de quaisquer das sociedades componentes – quer se trate de sociedade de comando ou filiadas, o consumidor lesado poderá prosseguir na cobrança contra as demais integrantes, em via subsidiária. O § 3º, por sua vez, disciplina a responsabilidade das sociedades consorciadas. O consórcio, nos termos do art. 278 e segs. da Lei das Sociedades Anônimas, é mera reunião de sociedades que se agrupam para executar um determinado empreendimento. O consórcio não tem personalidade jurídica e, em princípio, as consorciadas
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