Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SISTEMA DE ENSINO DIREITO CIVIL Coisas - Parte IV Livro Eletrônico 2 de 83www.grancursosonline.com. Carlos Elias Coisas – Parte IV DIREITO CIVIL Sumário Coisas – Parte IV ............................................................................................................................................. 4 1. Aula de hoje .................................................................................................................................................. 4 2. Resumo .......................................................................................................................................................... 4 3. Direito de Vizinhança ............................................................................................................................... 7 3.1. Definição ...................................................................................................................................................... 7 3.2. Conceito de Vizinho ..............................................................................................................................8 3.3. Classificação dos Direitos de Vizinhança quanto à Onerosidade....................................8 3.4. Uso Anormal da Propriedade ...........................................................................................................8 3.5. Árvores Limítrofes ............................................................................................................................... 11 3.6. Passagem Forçada .............................................................................................................................. 12 3.7. Passagem de Cabos e Tubulação ................................................................................................. 14 3.8. Águas ........................................................................................................................................................ 14 3.9. Delimitação entre os Prédios e Direito de Tapagem .......................................................... 15 4. Condomínio ............................................................................................................................................... 20 4.1. Espécies de Condomínio no Direito das Coisas...................................................................... 20 5. Condomínio Tradicional ........................................................................................................................ 21 5.1. Definição e as Concepções Romana e Germânica de Condomínio ................................ 21 5.2. Silêncio do Título Aquisitivo de um Bem: Definição da Fração Ideal .......................... 21 5.3. Legitimação Concorrente Para proteção da Coisa Perante Terceiros ....................... 22 5.4. Uso da Coisa Comum ........................................................................................................................ 22 5.5. Direito de Preferência no Caso de Alienação da Fração Ideal ...................................... 22 5.6. Direito de Preferência no Caso de Locação da Coisa Comum ....................................... 23 5.7. Condomínio pro diviso e pro indiviso e o Direito de Preferência ................................. 23 O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para BRUNA GISELLE RAMOS - 86571982234, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 3 de 83www.grancursosonline.com. Carlos Elias Coisas – Parte IV DIREITO CIVIL 5.8. Renúncia Liberatória (art. 1.316, CC) e Procedimento de Registro no Caso de Imóvel ............................................................................................................................................................... 24 5.9. Extinção do Condomínio: Divisão da Coisa Comum Divisível ou Venda da Coisa Indivisível ......................................................................................................................................................... 24 5.10. Administração do Condomínio Tradicional e Capacidade para ser Parte Em Atos Extrajudiciais e Judiciais ................................................................................................................ 25 6. Condomínio Legal ................................................................................................................................... 26 7. Condomínio Edilício ................................................................................................................................ 26 7.1. Legislação ................................................................................................................................................ 26 7.2. Definição ...................................................................................................................................................27 7.3. Condomínio Edilício Horizontal ou Vertical ............................................................................ 28 7.4. Nascimento do Condomínio Edilício: Instituição vs Constituição do Condomínio Edilício............................................................................................................................................................... 28 7.5. Casos Especiais .................................................................................................................................... 35 7.6. Eficácia da Convenção Condominial para Regular Relações entre os Condôminos ....................................................................................................................................................37 7.7. Contribuição (quota) Condominial ............................................................................................... 39 7.8. Administração do Condomínio ...................................................................................................... 43 8. Condomínio de Lotes ............................................................................................................................ 49 9. Condomínio Urbano Simples ............................................................................................................50 10. Condomínio em Multipropriedade ................................................................................................. 51 10.1. Importância Prática e Exemplos de Aproveitamento Econômico do Bem: Caso do Intercâmbio e do Regime de pool .................................................................................................. 51 10.2. Definição e o Instituto no Mundo e no Brasil....................................................................... 52 10.3. Multipropriedade sobre Móveis ................................................................................................. 55 10.4. Multipropriedade sobre Imóveis ................................................................................................ 55 Questões de Concurso .............................................................................................................................. 59 Gabarito............................................................................................................................................................ 65 Questões comentadas............................................................................................................................... 66 O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para BRUNA GISELLE RAMOS - 86571982234, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 4 de 83www.grancursosonline.com.Carlos Elias Coisas – Parte IV DIREITO CIVIL COISAS – PARTE IV 1. AulA de hoje Meus amigos e minhas amigas, vocês vão acertar tudo, tudo, tudo de Direito Civil na tua prova! Vamos continuar na nossa aula. 2. Resumo Amigos e amigas, quem tem pressa deve ler, ao menos, este resumo e, depois, ir para os exercícios. É fundamental você ver os exercícios e ler os comentários, pois, além de eu apro- fundar o conteúdo e tratar de algumas questões adicionais, você adquirirá familiaridade com as questões. De nada adianta um jogador de futebol ter lido muitos livros se não tiver fami- liaridade com a bola. Seja como for, o ideal é você ler o restante da teoria, e não só o resumo, para, depois, ir às questões. O resumo desta aula é este: • O Direito de Vizinhança está disciplinado nos arts. 1.277 ao 1.313 do CC. É um regime jurídico normal do direito real e também da posse: quem é titular de direito real ou quem é possuidor tem de respeitar os direitos de vizinhança. É o conjunto de normas que limitam o exercício dos poderes inerentes à propriedade com vistas à harmonia dos titulares dos prédios vizinhos (à coordenação do exercício desses poderes). Não é, pois, direito real, e sim limitação ao direito de propriedade. Daí decorre a sua principal característica do direito de vizinhança: a compulsoriedade. • O direito brasileiro admite as seguintes espécies de condomínio: – 1) Condomínio geral ou tradicional (arts. 1.314 ao 1.326, CC); – 2) Condomínio legal ou necessário (arts. 1.327 ao 1.330, CC); – 3) Condomínio edilício (arts. 1.331 ao 1.358, CC; e arts. 1º ao 27, Lei n. 4.591/64); – 4) Condomínio de lotes (art. 1.358-A, CC; arts. 2ª, § 7º, e 4º, § 4º, da Lei n. 6.766/76); – 5) Condomínio urbano simples (arts. 61 a 63 da Lei n. 13.465/2017). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para BRUNA GISELLE RAMOS - 86571982234, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 5 de 83www.grancursosonline.com. Carlos Elias Coisas – Parte IV DIREITO CIVIL – 6) Condomínio em multipropriedade ou Time Sharing (arts. 1.358-B ao 1.358-U, CC). • O condomínio tradicional ou geral é aquele por meio do qual duas ou mais pessoas são titulares de uma fração ideal de um bem. A fração ideal é uma ficção jurídica que representa uma fatia (uma quota) da titularidade de um bem. Assim, se dois amigos compram um apartamento pagando valores iguais, cada um se tornará proprietário de uma fração ideal de 50% do imóvel. • Condomínio necessário é o que decorre de lei. No CC brasileiro, ele incide sobre as estruturas divisórias de imóveis contíguos (muro, valas, cerca e paredes) por força do art. 1.327 do CC. • O condomínio edilício é disciplinado nos arts. 1.331 e ss do CC e também nos arts. 1º ao 27 da Lei n. 4.591/64. O entendimento majoritário é o de que o CC não revogou es- ses dispositivos da Lei n. 4.591/64, salvo naquilo em que houver frontal divergência (capítulo 2.1.). • Em definição, condomínio edilício é a situação jurídica envolvendo uma edificação (ou um conjunto de edificações) que, por ficção jurídica, é dividida duas partes: (1) as uni- dades imobiliárias autônomas, que correspondem às áreas de propriedade exclusiva do seu titular, e (2) as áreas comuns e o solo, que são de propriedade de cada um dos titulares das unidades imobiliárias na proporção da respectiva fração ideal (capítulo 2.2.). • Instituição do condomínio é o ato jurídico praticado pelo titular de um imóvel com edi- ficação para criar as unidades autônomas vinculadas a áreas comuns e ao solo. O ato de instituição se instrumentaliza por meio do registro de um ato entre vivos ou de um testamento contendo os requisitos do art. 1.332 do CC e do art. 7º da Lei n. 4.591/64 (capítulo 2.4.1.). • Constituir é o ato pelo qual se registra a convenção de condomínio, estabelecendo regras relativas ao funcionamento do condomínio. A convenção, além de reiterar os requisitos formais do ato instituição – para deixar claro quais são as unidades autô- O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para BRUNA GISELLE RAMOS - 86571982234, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 6 de 83www.grancursosonline.com. Carlos Elias Coisas – Parte IV DIREITO CIVIL nomas –, dá as regras relativas à custeio financeiro do condomínio, à sua administra- ção, à competência da assembleia e ao regimento interno. Os seus requisitos estão no art. 1.334 do CC e no art. 9º, § 3º, da Lei n. 4.591/64 (capítulo 2.4.2.). Súmula n. 260/STJ: A convenção de condomínio aprovada, ainda que sem registro, é eficaz para regular as relações entre os condôminos (capítulo 2.6.). • Condôminos são obrigados a contribuir com as despesas do condomínio (art. 1.336, I, CC). Essas contribuições podem ser chamadas de quotas condominiais ou de contri- buições condominiais (capítulo 2.7.). • O condomínio de lotes foi disciplinado no art. 1.358-A do CC, nos arts. 2º, § 7º, e 4º, § 4º, da Lei n. 6.766/79, tudo como fruto de alterações legislativas promovidas pela Lei do Reurb (Lei n. 13.465/2017). Sobre essa figura, reportamo-nos a este texto que pu- bliquei sobre o assunto1 (capítulo 3). • O condomínio urbano simples está previsto nos arts. 61 ao 63 da Lei do Reurb (Lei n. 13.465/2017) e, em suma, não passa de um condomínio edilício simplificado (capí- tulo 4). • A doutrina ainda não está muito bem assentada sobre a multipropriedade sobre imó- veis. O importante é você ter uma noção geral do instituto, lendo os artigos arts. 1.358- B ao 1.358-U do Código Civil. Eu escrevi um artigo detalhando tudo da nova lei e fiz um resumo do artigo: https://www12.senado.leg.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-estu- dos/textos-para-discussao/td255. (capítulo 5). 1 OLIVEIRA, Carlos Eduardo Elias de. O que é o direito real de laje à luz da lei 13.465/2017 (parte 1). Disponível em: https://www.conjur.com.br/2017-set-18/direito-civil-atual-direito-real-laje-luz-lei-134652017-parte. Data de publicação: 18 de setembro de 2017. OLIVEIRA, Carlos Eduardo Elias de. O que é o direito real de laje à luz da lei 13.465/2017 (parte 2). Disponível em: https://www.conjur.com.br/2017-set-25/direito-civil-atual-direito-real-laje-luz-lei-134652017-parte. Data de publicação: 25 de setembro de 2017. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para BRUNA GISELLE RAMOS - 86571982234, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br https://www12.senado.leg.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-estudos/textos-para-discussao/td255 https://www12.senado.leg.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-estudos/textos-para-discussao/td255 https://www.conjur.com.br/2017-set-18/direito-civil-atual-direito-real-laje-luz-lei-134652017-parte https://www.conjur.com.br/2017-set-25/direito-civil-atual-direito-real-laje-luz-lei-134652017-parte 7 de 83www.grancursosonline.com. Carlos Elias Coisas – Parte IV DIREITO CIVIL 3. diReito de VizinhAnçA 3.1. definição O Direito de Vizinhança é o conjunto de regras destinadas a evitar conflitos entre proprie- tários de prédios vizinhos. Se não houvesse limitações legais, a rigor, o exercício dos pode- res inerentes à propriedade poderia ser inviabilizado pela conduta de vizinho. Ex.: ninguém conseguiria ler um livro em seu apartamento, se o vizinho elevasse o volume de seu som de forma exagerada. O Direito de Vizinhança está disciplinado nos arts. 1.277 ao 1.313 do CC. É um regime jurídico normaldo direito real e também da posse: quem é titular de direito real ou quem é possuidor tem de respeitar os direitos de vizinhança. É o conjunto de normas que limitam o exercício dos poderes inerentes à propriedade com vistas à harmonia dos titulares dos pré- dios vizinhos (à coordenação do exercício desses poderes). Não é, pois, direito real, e sim limitação ao direito de propriedade. Daí decorre a sua principal característica do direito de vizinhança: a compulsoriedade. O titular de direito real ou o possuidor é obrigado a respeitar o direito de vizinhança pelo sim- ples fato de ser titular do direito real ou da posse. Ademais, não há necessidade de o direito de vizinhança ser registrado na matrícula do imóvel para ser oponível contra terceiros, pois ele é inerente ao direito real inscrito na matrícula. Outra característica dos direitos de vizinhança é que eles decorrem de lei Mais uma característica é que os direitos de vizinhança ensejam obrigações propter rem, porque vinculam qualquer pessoa que esteja na condição jurídica de titular, possuidora ou detentora da coisa vizinha. O CC trata dos seguintes direitos de vizinhança: (1) uso Anormal da Propriedade; (2) Ár- vores Limítrofes; (3) Passagem Forçada; (4) Passagem de cabos e tubulações; (5) Águas; (6) Limites entre Prédios e Direito de Tapagem; (7) Direito de Construir. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para BRUNA GISELLE RAMOS - 86571982234, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 8 de 83www.grancursosonline.com. Carlos Elias Coisas – Parte IV DIREITO CIVIL 3.2. ConCeito de Vizinho O Direito de Vizinhança estabelece regras entre vizinhos. O conceito jurídico de imóvel vizinho não se restringe ao confinante, mas abrange todos os imóveis que se sujeitam ou podem sujeitar-se a interferências recíprocas por conta de suas características físicas ou de suas utilizações, sejam ou não contíguos. O CC adotou o “critério da propagação dos efeitos” para definir o que é vizinho: é vizinho quem está vulnerável às repercussões do exercício do direito real ou da posse de outrem. Em tese, alguém que viva há 10 Km da minha propriedade pode ser considerado vizinho se ele estiver sujeito aos efeitos do exercício da minha proprie- dade (ex.: ligo o som em intensidade ensurdecedora para alcançar imóveis no raio de 30 Km). 3.3. ClAssifiCAção dos diReitos de VizinhAnçA quAnto à oneRosidAde Os direitos de vizinhança podem ser classificados em onerosos ou gratuitos. Os direitos de vizinhança onerosos são aqueles em que há obrigação de indenizar. Ex.: na passagem forçada, prevista no art. 1.285 do CC, o titular do imóvel encravado só pode exercer seu direito de passagem mediante pagamento de indenização. Os direitos de vizinhança gratuitos saão aqueles em que não há dever de indenizar. Ex.: o direito à propriedade dos frutos caídos de árvore do terreno vizinho é outorgado ao titular do solo onde caíram, independentemente de indenização (art. 1.284, CC). 3.4. uso AnoRmAl dA PRoPRiedAde Veja esta questão: questão 1 (COMPERVE/JUIZ LEIGO – TJ-RN/2018) Dona Jura tem um boteco que, há apro- ximadamente três anos, vem prejudicando o sossego e a tranquilidade do condomínio vizinho. A partir das quartas -feiras, o som ao vivo e o barulho dos clientes festejando impossibilitam a tranquilidade de quem mora no condomínio. Dona Jura possui todas as autorizações para O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para BRUNA GISELLE RAMOS - 86571982234, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 9 de 83www.grancursosonline.com. Carlos Elias Coisas – Parte IV DIREITO CIVIL o funcionamento do boteco, inclusive autorização judicial, e cumpre com o determinado pela legislação para conter o barulho do bar. Segundo o Código Civil, o condomínio a) tem o direito de fazer cessar as interferências prejudiciais ao sossego daqueles que ali ha- bitam, provocadas pela utilização de propriedade vizinha. b) tem de suportar a interferência, considerando-se a natureza da utilização, a localização do prédio, atendidas as normas que distribuem as edificações em zonas e os limites extraordi- nários de tolerância dos moradores da vizinhança. c) tem de suportar a interferência, uma vez que o seu direito não prevalece, já que as inter- ferências são justificadas por interesse público, caso em que o proprietário ou o possuidor, causador delas, pagará ao vizinho indenização cabal. d) tem o direito fazer cessar as interferências prejudiciais ao sossego, sendo intolerável a ati- vidade do boteco, mesmo oferecendo medidas alternativas para reduzir seu impacto. Letra a. O gabarito é letra “A”, pois, conforme arts. 1.277 ao 1.279 do CC, o vizinho pode exigir redução ou eliminação de interferências prejudiciais ao sossego dos habitantes do prédio, ainda que a atividade causadora dessas interferências tenha sido autorizada judicialmente. Vamos tratar do tema. Os arts. 1.277 ao 1.281 do CC tratam de espécies de abuso de direito no exercício da pro- priedade ou da posse que ameacem a segurança, a tranquilidade e a integridade física dos vizinhos e da sua propriedade. Por isso, em um prédio, cada vizinho deve respeitar os demais e evitar causar interferências além dos limites ordinários da tolerância, sob pena de que qualquer incomodado valha-se de medi- das judiciais contra essas interferências indevidas e pleiteie eventual indenização (art. 1.277, CC). Isso vale mesmo houver decisão judicial autorizando essas interferências, caso em que o vizinho incomodado pode exigir, no que for possível, a redução ou a eliminação dessas in- terferências, pois está implícito na decisão judicial o dever de boa-fé de causar o mínimo de incômodo possível (art. 1.279, CC). Assim, por exemplo, se uma decisão judicial autorizou o O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para BRUNA GISELLE RAMOS - 86571982234, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 10 de 83www.grancursosonline.com. Carlos Elias Coisas – Parte IV DIREITO CIVIL funcionamento de um boteco em uma das lojas de um prédio, podem os demais vizinhos exi- gir que o dono do boteco reduza ou cesse interferências exorbitantes, como reduzir o som de músicas tocadas em volume altíssimo pela madrugada. É assim que deve ser lido o art. 1.279 do CC. Não há violação à ordem judicial, pois esta não foi específica em definir se era viável ou não ligar o som nem se em até quantos decibéis poderia ser colocado o volume do som. É evidente que, se houver decisão judicial autorizando individualizadamente determinado tipo de interferência (ex.: autorizando o dono do boteco ligar o som de madrugada em volume elevadíssimo), não se aplicará o art. 1.279 do CC: os vizinhos incomodados nada poderão fazer, porque há autorização judicial específica. O art. 1.279 do CC aplica-se apenas quando há determinação judicial genérica determinando que as interferências de um proprietário ou possuidor devam ser toleradas pelos demais, pois aí não há individualização do modo como essa interferência será feita. Ainda sobre esse tema convém recordar que só quem foi parte do processo judicial está vinculado a ele (limites subjetivos da coisa julgada), razão por que vizinhos que não foram parte de processo judicial podem questionar interferências indevidas que acaso tenham sido autorizados judicialmente. Há ainda outro assunto interessante. Veja esta questão: questão2 (UFPR/ADVOGADO – COREN-PR/2018 - ADAPTADA) O proprietário ou o possui- dor tem direito a exigir do dono do prédio vizinho a demolição, ou a reparação deste, quando ameace ruína, bem como que lhe preste caução pelo dano iminente. Certo. O gabarito é “correto” por força do art. 1.280, CC. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para BRUNA GISELLE RAMOS - 86571982234, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 11 de 83www.grancursosonline.com. Carlos Elias Coisas – Parte IV DIREITO CIVIL Se uma construção ameaça ruir, os potenciais prejudicados – como os vizinhos contí- guos que podem sofrer danos – podem adotar medidas judiciais contra o dono ou possuidor da construção. Trata-se da ação de dano infecto, segundo a qual o vizinho prejudicado pode exigir a demolição ou a reparação da construção moribunda, além de exigir uma caução como garantia para eventual ressarcimento (art. 1.280, CC). Para realização de obras ou limpeza da própria casa ou do muro divisório, o proprietário ou ocupante pode precisar usar temporariamente o imóvel vizinho. Isso é permitido nos ter- mos do art. 1.313 do CC, mediante aviso prévio. O proprietário ou o ocupante deve, porém, evitar causar danos ao imóvel vizinho, sob pena de ter de indenizar. Como garantia, o titular do imóvel vizinho pode exigir a prestação de garantia de pagamento dessa indenização, desde que haja perigo de dano iminente (art. 1.281, CC). 3.5. ÁRVoRes limítRofes Veja esta questão: questão 3 (UFPR/ADVOGADO – COREN-PR/2018 - ADAPTADA) A árvore, cujo tronco esti- ver na linha divisória entre dois imóveis confinantes, presume-se pertencer ao proprietário do terreno onde as raízes da árvore estiverem fincadas. Errado. O gabarito é “errado” por se presumir a propriedade dos donos dos imóveis confinantes nesse caso (art. 1.282, CC). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para BRUNA GISELLE RAMOS - 86571982234, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 12 de 83www.grancursosonline.com. Carlos Elias Coisas – Parte IV DIREITO CIVIL Resolva esta questão também: questão 4 (UFPR/ADVOGADO – COREN-PR/2018 - ADAPTADA) Os frutos caídos de árvore do terreno vizinho pertencem ao dono do solo onde caíram, se este for de propriedade parti- cular. Certo. O gabarito é “correto” por força do art. 1.284, CC. Vamos tratar mais do tema. Os arts. 1.282 ao 1.284 do CC trata das árvores situadas na região da linha divisória dos imóveis, estabelecendo a presunção de condomínio sobre as árvores situadas na linha di- visória, autorizando o corte de raízes e ramos de árvores que invadirem o espaço do imóvel vizinho e garantindo ao dono do solo onde os frutos das árvores caírem. 3.6. PAssAgem foRçAdA Meus amigos e minhas amigas, resolvam esta questão: questão 5 (IBFC/ANALISTA – TJPE /2017 - ADAPTADA) É vedado ao dono do prédio que não tiver acesso a via pública constranger o vizinho a lhe dar passagem, mesmo que por meio de pagamento de indenização. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para BRUNA GISELLE RAMOS - 86571982234, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 13 de 83www.grancursosonline.com. Carlos Elias Coisas – Parte IV DIREITO CIVIL Errado. A questão está “errada”, porque o dono do prédio encravado tem direito a atravessar o vizinho (art. 1.285, CC). Trata-se da passagem forçada. Veja também esta questão: questão 6 (VUNESP/PROCURADOR – PREFEITURA SOROCABA /2018 - ADAPTADA) Pelo instituto da passagem forçada, proporciona-se passagem adicional a um prédio cujo acesso à via pública seja inconveniente, em razão de sua localização ou de suas dimensões. Errado. O gabarito é “errado”, pois a passagem forçada é apenas para imóveis encravados, assim en- tendidos aqueles que não têm acesso à via pública ou cujo acesso é demasiada e despropor- cionalmente oneroso (art. 1.285 do CC). Não há direito à passagem forçada quando o acesso à via pública for “inconveniente”, como diz a questão. Vamos falar mais sobre o tema. A passagem forçada é instituto de direito de vizinhança, empregado para garantir ao proprietário de imóvel encravado o direito de obrigar, mediante pagamento de indenização, os proprietários dos imóveis vizinhos a permitir a utilização da área necessária ao acesso à via pública, nascente ou porto (art. 1.285, CC). Distingue-se do direito real de servidão, pois este decorre de um ato negocial, fruto da autonomia da vontade das partes, sem caráter de obrigatoriedade. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para BRUNA GISELLE RAMOS - 86571982234, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 14 de 83www.grancursosonline.com. Carlos Elias Coisas – Parte IV DIREITO CIVIL Para efeito de autorizar a passagem forçada, o conceito de imóvel encravado é flexibilizado pela jurisprudência. Não se exige um encravamento absoluto. Basta que o acesso à via pública seja possível mediante dispêndios excessivos e desproporcionais para que se considere, juridi- camente, o imóvel como encravado. Nesses casos de excessiva onerosidade para acesso à via pública, é cabível a passagem forçada, instituto de direito de vizinhança (STJ, REsp 316.336/ MT2). Ademais, motivações humanitárias que tornem extremamente dificultoso o acesso do imóvel também pode autorizar a passagem forçada. É o caso, por exemplo, de vizinho que, por ser pessoa com deficiência física, tenha muita dificuldade para acessar a própria propriedade. Nesses casos, é possível considerar seu imóvel como encravado, de modo a autorizar que ela, com os acompanhantes que auxiliem a sua locomoção, tenha direito à passagem forçada (STJ, REsp 1370210/RJ, 3ª Turma, Rel. Ministra Nancy Andrighi, DJe 06/09/2013). Pelo princípio da menor onerosidade, o imóvel vicinal a suportar a passagem forçada deve ser aquele que seja mais propício a tanto, ou seja, que exija menos sacrifícios (art. 1.285, § 1º, CC). 3.7. PAssAgem de CAbos e tubulAção À semelhança da passagem forçada, o vizinho é obrigado a tolerar a passagem de tubu- lações e cabos através de seu imóvel quando não for viável a passagem por outro local ou quando houver excessiva onerosidade. Pelo prejuízo, o vizinho tem direito a indenização e também o direito de exigir obras de segurança adicionais se a tubulação ou os cabos ofere- cem grave risco (arts. 1.286 e 1.287, CC). 3.8. ÁguAs Os arts. 1.288 ao 1.296 do CC disciplina a relação dos vizinhos quanto aos cursos de água. 2 No caso analisado pelo STJ, o acesso à via pública dependia de excessivo gasto com construção de estradas em área aci- dentada e de pontes, de sorte que, na prática, o STJ reputou o imóvel como encravado e, portanto, digno de beneficiar-se do instituto da passagem forçada. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para BRUNA GISELLE RAMOS - 86571982234, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 15 de 83www.grancursosonline.com. Carlos Elias Coisas – Parte IV DIREITO CIVIL 3.9. delimitAção entRe os PRédios e diReito de tAPAgem Decorre do direito de vizinhança o direitode os vizinhos lindeiros demarcarem os próprios terrenos (direito de demarcação) e instalarem estruturas divisórias, como muro, valas, cerca, sebes vivas etc. (direito de tapagem). Os arts. 1.297 e 1.298 do CC tratam da matéria. 3.9.1. Direito de Demarcação ou de Estremar Quanto ao direito de demarcação, também chamado de direito de estremar, ele pode ser exercido judicialmente por meio da ação demarcatória, que é procedimento de jurisdição es- pecial disciplinado nos arts. 574 a 587 do CPC3. Os custeios com a demarcação devem ser rateados igualmente entre os vizinhos lindeiros (art. 1.297, caput, CC). A ação demarcatória só é admitida quando há confusão dos limites da linha divisória, pois o objetivo é dar clareza do marco divisório entre os terrenos. O art. 1.298 do CC dá os parâmetros para a demarcação. Em primeiro lugar, ele deve se basear na comprovação do território objeto de posse justa pelas partes, assim entendida a posse que não foi obtida mediante ato ilícito na forma do art. 1.200 do CC. Para tanto, o juiz deverá levar em conta os registros imobiliários ou os justos títulos de cada um. Em segundo lugar, se isso não for viável diante da ausência desses documentos ou diante da confusão das áreas descritas nesses documentos, a demarcação será salomônica: dividir- -se-á os terrenos em duas partes iguais. Em terceiro lugar, se a divisão for inviável fática ou economicamente – diante da grande heterogeneidade dos dois terrenos –, o terreno deverá ser entregue integralmente a uma das partes, que deverá pagar uma indenização a outra. Em qualquer hipótese, se uma das partes já tiver preenchido o prazo de usucapião, ele estará protegido em relação à área usucapida, mas, para tanto, ele terá de buscar o reconhe- cimento oficial do usucapião por ação própria. 3 No direito romano, designava-se essa ação de actio finium regundorum. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para BRUNA GISELLE RAMOS - 86571982234, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 16 de 83www.grancursosonline.com. Carlos Elias Coisas – Parte IV DIREITO CIVIL A demarcação não implica aquisição ou transferência de imóvel por se tratar de mera de- finição dos marcos divisórios; logo, não há falar em fato gerador de ITBI ou de ITCD. 3.9.2. Direito de tapagem Veja esta questão: questão 7 (UFPR/ADVOGADO – COREN-PR/2018 - ADAPTADA) A construção de tapumes especiais para impedir a passagem de animais de pequeno porte deve ter suas despesas re- partidas proporcionalmente entre os proprietários dos prédios confinantes. Errado. O gabarito é “errado” porque só quem causou a necessidade é que tem de arcar com a cons- trução do tapume (art. 1.297, § 3º, CC). No tocante ao direito de tapagem, trata-se do direto de qualquer dos vizinhos contíguos instalaram uma estrutura divisória, como muro, valas, cerca etc. Essa estrutura divisória pode dividido em três grupos: (a) tapume comum ou ordinário; (2) tapume especial; e (3) tapumes naturais de demarcação. Os tapumes comuns ou ordinários são aqueles feitos dentro do padrão do homem médio, envolvendo as estruturas divisórias habitualmente utilizadas para separar terre- nos contíguos. Esses tapumes devem ser custeados igualmente por todos os vizinhos (art. 1.297, § 1º, CC). Os tapumes especiais são os que demandam uma estrutura mais sofisticada para aten- der a alguma finalidade específica, como, por exemplo, impedir a passagem de animais de pequeno porte, ou para fins de ornamentação, como muros mais dispendiosos do que os O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para BRUNA GISELLE RAMOS - 86571982234, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 17 de 83www.grancursosonline.com. Carlos Elias Coisas – Parte IV DIREITO CIVIL usualmente utilizados na região. Nesse caso, cabe ao vizinho que necessita dessa estrutura especial custear sozinho os valores excedentes ao de um tapume comum. Essa é a melhor leitura do art. 1.297, § 3º, do CC, que precisa ser lido de acordo com o princípio da vedação ao enriquecimento sem causa, de maneira que todos os vizinhos contíguos deverão ratear igual- mente o valor do tapume especial apenas até o valor de uma tapume comum, ao passo que o vizinho que tem demandas especiais pagará sozinho o valor excedente. Assim, por exemplo, se um vizinho cria galos e galinhas e o outro planta grãos de soja, aquele terá necessidade de uma estrutura divisória especial (tapume especial), de modo que será somente dele o dever de pagar os valores adicionais necessários para a instalação desse tapume especial. Os tapumes naturais de demarcação são aquelas formadas pela natureza (sebe viva, ár- vore etc.) que servem como marco divisório entre os imóveis. Eles só podem ser removidos mediante acordo de todos os vizinhos confinantes: não importam quem é o titular desses tapumes naturais, pois eles servem como marco divisório (art. 1.297, § 2º, CC). Há uma presunção relativa de que as estruturas divisórias pertencem a todos os vizinhos lindeiros por força de lei: há um condomínio necessário, legal ou forçado (art. 1.297, § 1º, e art. 1.327, CC). Essa presunção é relativa, pois admite prova em contrário conforme texto do § 1º do art. 1.297 do CC. De fato, se o tapume não estiver na linha divisória ou se apenas um tiver custeado a instalação do tapume, não há condomínio necessário: a estrutura divisória pertence apenas a um dos vizinhos, de modo que o outro não pode utilizá-lo (art. 1.330, CC). Nesses casos, de um lado, é assegurado ao vizinho o direito de adquirir a metade do muro, indenizando o outro pela metade do valor do muro e pela metade do valor do terreno ocupado pelo muro (art. 1.328, CC). E, de outro lado, é assegurado ao vizinho que custeou a obra cobrar indenização pela metade do valor do muro, conforme sublinha Francisco Eduardo Loureiro (2012, p. 1310) Na realidade, há direitos contrapostos dos confinantes: um dos confinantes tem direito de exigir que o outro concorra nas despesas com esse muro (art. 1.297, § 1º, CC), ao passo que o outro tem o direito de adquirir a meação do muro (art. 1.328, CC). Se a estrutura divisória estiver sob condomínio comum, ninguém pode destruí-los sem comum acordo e é dever de todos concorrer no custeio de conservação da estrutura divisória. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para BRUNA GISELLE RAMOS - 86571982234, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 18 de 83www.grancursosonline.com. Carlos Elias Coisas – Parte IV DIREITO CIVIL 3.9.3. Direito de Construir Veja esta questão: questão 8 (IF-MT/DIREITO – IF-MT /2018 - ADAPTADA) O proprietário pode levantar em seu terreno as construções que lhe aprouver, salvo o direito dos vizinhos e os regulamentos administrativos. Certo. O gabarito é “correto” por força do art. 1.299, CC. Resolva também esta questão: questão 9 (IF-MT/DIREITO – IF-MT /2018 - ADAPTADA) O proprietário construirá de ma- neira que o seu prédio não despeje águas, diretamente, sobre o prédio vizinho. Certo. O gabarito é “correto” por força do art. 1.300, CC. Solucione esta outra questão: questão 10 (IF-MT/DIREITO – IF-MT /2018 - ADAPTADA) É permitido abrir janelas, ou fazer eirado, terraço ou varanda, a menos de metro e meio do terreno vizinho. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para BRUNA GISELLE RAMOS - 86571982234, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, asua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 19 de 83www.grancursosonline.com. Carlos Elias Coisas – Parte IV DIREITO CIVIL Errado. O gabarito é “errado”, pois, em regra, a distância mínima é de um metro e meio do terreno vi- zinho para abrir janelas. É vedado abrir janelas em distância menor (art. 1.301, CC). Analise igualmente esta questão: questão 11 (IF-MT/DIREITO – IF-MT /2018 - ADAPTADA) As janelas cuja visão não incida sobre a linha divisória, bem como as perpendiculares, não poderão ser abertas a menos de setenta e cinco centímetros. Certo. O gabarito é “correto” por força do art. 1.300, § 1º, CC. Mais uma questão: questão 12 (IF-MT/DIREITO – IF-MT /2018 - ADAPTADA) O proprietário prejudicado poderá exigir que seja subterrânea a canalização que atravessa áreas edificadas, pátios, hortas, jar- dins ou quintais. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para BRUNA GISELLE RAMOS - 86571982234, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 20 de 83www.grancursosonline.com. Carlos Elias Coisas – Parte IV DIREITO CIVIL Certo. O gabarito é “correto” por força do art. 1293, § 2º, do CC. Vamos tratar mais do tema. Os arts. 1.299 ao 1.313 do CC estabelece regras relativas ao direito de construir, obrigando o vizinho a tolerar o uso temporário do imóvel mediante aviso prévio (art. 1.313, CC), exigindo comportamento cauteloso para evitar danos etc. Em concurso, o costume é ser cobrado a redação literal desses artigos. 4. Condomínio 4.1. esPéCies de Condomínio no diReito dAs CoisAs O direito brasileiro admite as seguintes espécies de condomínio: • Condomínio geral ou tradicional (arts. 1.314 ao 1.326, CC); • Condomínio legal ou necessário (arts. 1.327 ao 1.330, CC); • Condomínio edilício (arts. 1.331 ao 1.358, CC; e arts. 1º ao 27, Lei n. 4.591/64); • Condomínio de lotes (art. 1.358-A, CC; arts. 2ª, § 7º, e 4º, § 4º, da Lei n. 6.766/76); • Condomínio urbano simples (arts. 61 a 63 da Lei n. 13.465/2017). • Condomínio em multipropriedade ou Time Sharing (arts. 1.358-B ao 1.358-U, CC). Embora o verbete “condomínio” remeta-se à ideia de haver mais de um dono para um mesmo bem, não necessariamente tem de haver pluralidade de pessoas. Só o condomínio tradicional exige essa pluralidade, pois, nas demais espécies de condomínio, o que importa é a pluralidade de unidades autônomas, ainda que elas sejam titularizadas pela mesma pessoa. Se, por exemplo, uma mesma pessoa for a titular de todos os apartamentos de um condomí- nio edilício, esse fato não implica extinção do condomínio edilício. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para BRUNA GISELLE RAMOS - 86571982234, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 21 de 83www.grancursosonline.com. Carlos Elias Coisas – Parte IV DIREITO CIVIL 5. Condomínio tRAdiCionAl 5.1. definição e As ConCePções RomAnA e geRmâniCA de Condomínio O condomínio tradicional ou geral é aquele por meio do qual duas ou mais pessoas são titulares de uma fração ideal de um bem. A fração ideal é uma ficção jurídica que representa uma fatia (uma quota) da titularidade de um bem. Assim, se dois amigos compram um apar- tamento pagando valores iguais, cada um se tornará proprietário de uma fração ideal de 50% do imóvel. Trata-se de uma ficção jurídica decorrente da adoção da noção de condomínio do direito romano. É equivocado dizer que, nesses casos, cada um é dono do bem inteiro. O correto é afirmar que cada um é dono de uma fração ideal do bem. Para o Direito das Coisas, o Código Civil brasileiro adotou a concepção romana de condomínio, e não a germânica – que é conhe- cida como “condomínio de mãos juntas” ou “condomínio por mancomunhão” e que estabe- lece que cada condômino é titular de 100% da mesma coisa ao mesmo tempo. A concepção germânica de condomínio foi adotada apenas em Direito de Família, para reger o patrimônio comum decorrente do regime de bens no casamento. Há repercussão prática nessa arquitetura jurídico-real. No condomínio tradicional, como cada condômino é titular exclusivo de uma fração ideal do bem, ele pode alienar essa fração ideal, ele deve declará-la na Declaração de Bens do Imposto de Renda etc. Se se tratasse de um condomínio de mãos juntas sobre um imóvel, jamais o condômino poderia, sozinho, ven- der a coisa, nem mesmo uma fração ideal dela, pois o outro condômino também é titular de 100% da coisa e, portanto, ele também teria de figurar como vendedor. 5.2. silênCio do título AquisitiVo de um bem: definição dA fRAção ideAl A fração ideal de cada condômino é definida no título aquisitivo (ex.: compra e venda). No silêncio do título aquisitivo, em se tratando de uma aquisição onerosa, deve-se presumir que a fração ideal corresponde à proporção do preço da coisa que foi suportado por cada um dos O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para BRUNA GISELLE RAMOS - 86571982234, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 22 de 83www.grancursosonline.com. Carlos Elias Coisas – Parte IV DIREITO CIVIL adquirentes. Se um comprador pagou 70% do preço e outro, 30%, tem-se que a fração ideal de cada um será o percentual do respectivo desembolso. Se o título oneroso não explicitar a proporção do desembolso de cada um ou se o título for de um contrato gratuito de aquisição do bem (ex.: uma doação), há de presumir uma divisão pro rata das frações ideias entre os adquirentes por aplicação analógica do caput do art. 551 do CC. 5.3. legitimAção ConCoRRente PARA PRoteção dA CoisA PeRAnte teRCeiRos Apesar de cada condômino ser titular de uma fração ideal da coisa, a proteção integral da coisa perante terceiros invasores é deferida a cada um de forma concorrente. Sozinho, um condômino pode propor ação reivindicatória ou, se for o caso, possessória contra terceiros invasores (art. 1.314, CC). 5.4. uso dA CoisA Comum Cada condômino pode usar a coisa comum, respeitando a sua destinação, e deve ter o consenso dos demais para alterar essa destinação ou para entregar o uso ou gozo da coisa para terceiros (art. 1.314, CC). Para evitar, porém, choques de interesses, é fundamental que os condôminos acordem entre si a forma de repartição do tempo de uso da coisa, guardando a devida proporção com a fração ideal de cada um. Esse acordo deverá ser tomado por meio da maioria absoluta e, em caso de empate ou de impossibilidade de deliberação, o juiz decide (art. 1.325, CC). 5.5. diReito de PRefeRênCiA no CAso de AlienAção dA fRAção ideAl Os romanos ensinavam que o condomínio é mãe da discórdia (mater discordiarum): as diferenças de projetos de vida de cada condômino tenderão a gerar faíscas de dissensão. Por isso, a legislação estimula o fim do condomínio, a fim de a propriedade voltar ao seu perfil unitário. Um dos exemplos disso é o direito de preferência que é assegurado aos demais con- dôminos no caso de venda da fração ideal (art. 504, CC). Assim, embora qualquer condômino O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para BRUNA GISELLE RAMOS - 86571982234, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 23 de 83www.grancursosonline.com.Carlos Elias Coisas – Parte IV DIREITO CIVIL possa vender sua fração ideal a terceiros, ele deve oferecer, tanto por tanto (mesmas condi- ções negociais), aos demais condôminos o direito de comprar a fração ideal. O direito de preferência só se aplica para contrato (preliminar ou definitivo) de compra e venda por força do art. 504 do CC. Não se estende, obviamente, para outros contratos onero- sos, como permuta ou dação em pagamento, seja por falta de amparo legal, seja pela incon- veniência do exercício do direito de preferência nesses casos em que a aquisição da coisa ocorre mediante a entrega de coisa diversa do que dinheiro. 5.6. diReito de PRefeRênCiA no CAso de loCAção dA CoisA Comum Se os condôminos decidirem alugar a coisa a terceiros, qualquer dos condôminos terá preferência (art. 1.323, CC). A lei presume que um condômino terá mais cuidado com a coisa comum do que terceiros e prestigia o fato de o condômino já ter uma fração ideal da coisa. 5.7. Condomínio PRo diViso e PRo indiViso e o diReito de PRefeRênCiA O condomínio pode ser classificado em pro diviso e pro indiviso. Diz-se pro diviso quando, de fato, há uma individualização da área ocupada por cada con- dômino. Em outras palavras, há comunhão de direito, mas não de fato. Ex.: um terreno, com uma única matrícula no Cartório de Imóveis, é retalhado de fato pelos condôminos para que cada um construa a própria casa e estabeleça cerca entre as suas áreas. Juridicamente, há apenas um imóvel, mas, de fato, há vários. Trata-se de um condomínio pro diviso. Trata-se de situação comum na prática. Diz-se pro indiviso quando, de fato, não há essa individualização. Há comunhão tanto de direito quanto de fato. Em ambos os casos, se um dos condôminos for vender a fração ideal, há necessidade de assegurar o direito de preferência para os demais previsto no art. 504 do CC. Não importa se há condomínio pro diviso nem importa se o bem é divisível. Para esse efeito, é irrelevante a distinção entre indivisibilidade jurídica e a real. A legislação estimula o fim do condomínio O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para BRUNA GISELLE RAMOS - 86571982234, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 24 de 83www.grancursosonline.com. Carlos Elias Coisas – Parte IV DIREITO CIVIL em qualquer hipótese: se os condôminos não querem sujeitar-se ao direito de preferência na venda da fração ideal, cabe-lhes dividir o imóvel caso seja divisível. Esse ó entendimento mais recente do STJ, que, antigamente, dispensava o direito de preferência no caso de con- domínio pro diviso sobre imóvel divisível (REsp 1207129/MG, 4ª Turma, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, DJe 26/06/2015; REsp 489.860/SP, 2ª Seção, Rel. Ministra Nancy Andrighi, DJ 13/12/2004). 5.8. RenúnCiA libeRAtóRiA (ARt. 1.316, CC) e PRoCedimento de RegistRo no CAso de imóVel O condômino que quiser exonerar-se das dívidas, vencidas ou vincendas, decorren- tes da coisa comum pode renunciar a propriedade de sua fração ideal. Nesse caso, se nenhum outro condômino quiser se sub-rogar na dívida, a fração ideal abandonada será repartida igualmente entre os demais condôminos. Se, porém, algum condômino quiser se sub-rogar na dívida, ele terá direito a adquirir a fração ideal proporcionalmente a essa sub-rogação na dívida, de modo que, se, por exemplo, ele se sub-rogar em 70% da dívida, ele se apropriará de 70% da fração ideal, sem prejuízo de participar do rateio pro rata4 do restante entre todos os condôminos (art. 1.316, CC). Há uma sub-rogação dos condômi- nos interessados na dívida do renunciante, como lembra Flávio Tartuce. Trata-se do que chamamos de renúncia liberatória5. 5.9. extinção do Condomínio: diVisão dA CoisA Comum diVisíVel ou VendA dA CoisA indiVisíVel Qualquer dos condomínios pode exigir a divisão da coisa comum, desde que esta não seja indivisível, com aplicação, no que couber, das regras de partilha de herança (arts. 1.320 e 4 Pro rata = em partes iguais. 5 Há quem designe de “abandono liberatório”, mas entendemos que essa nomenclatura pode gerar confusões entre o insti- tuto do abandono e da renúncia. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para BRUNA GISELLE RAMOS - 86571982234, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 25 de 83www.grancursosonline.com. Carlos Elias Coisas – Parte IV DIREITO CIVIL 1.321, CC). Se não houver acordo com os demais, essa exigência seguirá o procedimento de jurisdição especial chamado de ação de divisão de condomínio (arts. 588 e ss, CPC). Se, porém, a coisa comum for indivisível, ela deve ser vendida para que o dinheiro obtido seja repartido entre os condôminos proporcionalmente à respectiva fração ideal, assegurado direito de preferência aos condôminos perante terceiros. Na venda da coisa, entre os condô- minos, prefere-se, sucessivamente, a quem: (1) tem benfeitoria mais valiosa na coisa; (2) tem maior fração ideal; e (3) vencer oferecer maior lance em relação aos demais condôminos e a terceiros (art. 1.322, CC). A indivisibilidade da coisa pode ser natural (não fracionável sem perda da sua utilida- de), legal (lei veda fracionar; ex.: imóvel do tamanho da fração mínima de parcelamento) ou voluntária (fruto de acordo dos condôminos ou de determinação do testador ou do doador). Todavia, nesses casos, o prazo máximo da invisibilidade é de 5 anos, assegurada prorrogação mediante novo acordo entre os condôminos. O juiz poderá, mediante razões graves, autorizar a divisão antes desses 5 anos (art. 1.320, CC). 5.10. AdministRAção do Condomínio tRAdiCionAl e CAPACidAde PARA seR PARte em Atos extRAjudiCiAis e judiCiAis Ao contrário do que sucede no condomínio edilício, não há um sujeito despersonalizado para celebrar negócios jurídicos e praticar outros atos de interesse comum no condomínio tradicional. Assim, por exemplo, contratos de interesse comum (como os de luz, de água, de televisão etc.), devem ser feitos em nome dos próprios condôminos. Nada impede, porém, que apenas um deles figure como parte nesses negócios celebrados no interesse de todo o condomínio, como é comum ocorrer na prática, mas, nesses casos, os demais condôminos deverão, em sede de regresso, ressarcir o celebrante. De qualquer forma, é cabível, porém, que os condôminos, por maioria absoluta, nomeiem um administrador, que pode ser um terceiro (art. 1.323, CC). Os próprios condôminos delinearão os poderes desse administrador, outorgando-lhe, se necessário, poderes para celebrar contratos em nome dos condôminos. O ato de nomeação do administrador terá um valor similar ao de O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para BRUNA GISELLE RAMOS - 86571982234, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 26 de 83www.grancursosonline.com. Carlos Elias Coisas – Parte IV DIREITO CIVIL um contrato de mandato. Seja como for, se o ato de nomeação for lacônico, é de presumir que o administrador pode praticar atos gerais de gestão da coisa, como: (1) pedir informações no Fisco sobre pendências de tributos reais; (2) resolver questões acerca dos contratos de ener- gia e de água sobre o imóvel, ainda que o contrato tenha sido firmado em nome de apenas um dos condôminos; (3) cobrar as contribuições comuns. É que, para esses atos de gestão geral, o administrador tem um mandato legal implicitamente previstos nos arts. 1.323 e 1.324 do CC. Alguns doutrinadores costumam admitirque o administrador represente judicialmente o condomínio tradicional com base no inciso XI do art. 75 do CPC. Ousamos dissentir. O refe- rido dispositivo é apenas para o condomínio enquanto sujeito despersonalizado, o qual tem capacidade para ser parte em processos. Não é o caso do condomínio tradicional, que não é sujeito de direito e, portanto, não pode tem capacidade de ser parte em processo. Quem tem capacidade de ser parte é o próprio condômino nesses casos. Ao nosso sentir, não se aplica o inciso IX do art. 75 do CPC para o condomínio tradicional. Portanto, se duas pessoas são pro- prietárias de uma fazenda em regime de condomínio tradicional, elas é que terão capacidade para ser parte em processos judiciais relativos à coisa comum, pois o condomínio não é um sujeito de direito despersonalizado. 6. Condomínio legAl Condomínio necessário é o que decorre de lei. No CC brasileiro, ele incide sobre as estrutu- ras divisórias de imóveis contíguos (muro, valas, cerca e paredes) por força do art. 1.327 do CC. O instituto é regulamentado pelo Direito de Vizinhança, especificamente pelas regras de direito de tapagem (arts. 1.297 ao 1.298, CC) e de direito de construir (art. 1.304 ao 1.307, CC). Reportamo-nos ao quanto escrevemos sobre esses direitos de vizinhança. 7. Condomínio edilíCio 7.1. legislAção O condomínio edilício é disciplinado nos arts. 1.331 e ss do CC e também nos arts. 1º ao 27 da Lei n. 4.591/64. O entendimento majoritário é o de que o CC não revogou esses dispositivos O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para BRUNA GISELLE RAMOS - 86571982234, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 27 de 83www.grancursosonline.com. Carlos Elias Coisas – Parte IV DIREITO CIVIL da Lei n. 4.591/64, salvo naquilo em que houver frontal divergência. As duas normas seguem em vigor, mas, no caso de eventual conflito entre elas, deve-se valer-se da técnica do diálogo das fontes, que estabelece a necessidade de, no caso concreto, o intérprete buscar a melhor solução. A LRP (Lei de Registros Públicos – Lei n. 6.015/73) também tem disciplina, sob o aspecto registral, o condomínio edilício. 7.2. definição Em praticamente todas as cidades brasileiras, há edifícios de dois ou mais andares com unidades imobiliárias autônomas, que são geralmente apartamentos ou lojas. Trata-se da figura do condomínio edilício. Ao contrário do que sucede com o condomínio tradicional, o condomínio edilício não envol- ve obrigatoriedade uma pluralidade de pessoas que sejam titular do mesmo bem6. Para esse tipo de condomínio, o fundamental não é a pluralidade de pessoas, e sim a pluralidade de uni- dades autônomas vinculadas a um mesmo terreno e a áreas comuns. Uma única pessoa pode ser titular de todas as unidades autônomas, seja no momento da instituição do condomínio, seja posteriormente mediante a aquisição delas. Metaforicamente, o condomínio edilício não é um condomínio de pessoas, e sim de imóveis (as unidades autônomas). Desse modo, se uma única pessoa for titular de todas as unidades autônomas, ainda assim haverá um condomínio edilício. Em definição, condomínio edilício é a situação jurídica envolvendo uma edificação (ou um conjunto de edificações) que, por ficção jurídica, é dividida duas partes: (1) as unidades imobiliárias autônomas, que correspondem às áreas de propriedade exclusiva do seu titular, e (2) as áreas comuns e o solo, que são de propriedade de cada um dos titulares das unidades imobiliárias na proporção da respectiva fração ideal. O condômino, portanto, é proprietário exclusiva da unidade imobiliária e, concomitante- mente, de modo indivisível, titular de uma fração ideal do solo e das áreas comuns. 6 Ressalva-se que há respeitoso entendimento doutrinário contrário, afirmando que tecnicamente haveria necessidade de haver pluralidade de pessoas, embora seja admitida a instituição do condomínio apenas por um único titular (Melo, 2018, p. 245), entendimento com o qual não acompanhamos pelo fato de inexistir óbice a que uma única pessoa adquira todas as unidades autônomas e o condomínio continue existindo. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para BRUNA GISELLE RAMOS - 86571982234, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 28 de 83www.grancursosonline.com. Carlos Elias Coisas – Parte IV DIREITO CIVIL O cálculo da fração ideal de cada condômino é feito com base em normas técnicas edita- das pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) por força do inciso IV do art. 53 da Lei n. 4.591/64. A definição da fração ideal leva em conta a proporção da área construída de cada unidade autônoma, de maneira que o titular de uma unidade autônoma de maior ta- manho terá uma maior fração ideal nas áreas comuns e no solo. Em tese, se a edificação ruir e se os condôminos não deliberarem pela reconstrução (art. 1.357, CC), cada condômino terá perdido a unidade autônoma e as áreas comuns que estavam na edificação (como a área do corredor dos andares), mas ainda será titular de uma fração ideal no solo. O condomínio edilício aí se extinguirá pela falta de uma edificação e, no seu lugar, haverá um condomínio tradicional sobre o solo. 7.3. Condomínio edilíCio hoRizontAl ou VeRtiCAl O condomínio edilício pode ser vertical ou horizontal. É vertical quando se trata de condomí- nio em uma edificação em andares (art. 8º, “b”, Lei n. 4.591/64). É horizontal quando se trata de edificações de casas: as unidades autônomas estão alinhadas horizontalmente (art. 8º, “a”, Lei n. 4.591/64). Não se ignora que há quem classifique de forma oposta, focando a direção dos planos imaginários que separam as unidades autônomas7; todavia, preferimos a classificação mais utilizada na jurisprudência. 7.4. nAsCimento do Condomínio edilíCio: instituição Vs Constituição do Condomínio edilíCio 7.4.1. Instituição Veja esta questão: 7 Condomínio de andares seria condomínio edilício horizontal, pois linhas imaginárias horizontais separam as unidades. Condomínio de casas seria condomínio edilício vertical, pois linhas imaginárias verticais separam as unidades. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para BRUNA GISELLE RAMOS - 86571982234, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 29 de 83www.grancursosonline.com. Carlos Elias Coisas – Parte IV DIREITO CIVIL questão 13 (FCC/PROCURADOR – PREFEITURA CARUARU/2018 - ADAPTADA) Em relação ao condomínio edilício, as partes suscetíveis de utilização independente, tais como aparta- mentos, escritórios, salas, lojas e sobrelojas, com as respectivas frações ideais no solo e nas outras partes comuns, sujeitam-se a propriedade exclusiva, podendo ser alienadas e grava- das livremente por seus proprietários, exceto os abrigos para veículos, que não poderão ser alienados ou alugados a pessoas estranhas ao condomínio, salvo autorização expressa na convenção de condomínio. Certo. O gabarito é “correto” por força do art. 1.331, § 1º, CC. Veja ainda esta questão: questão 14 (FCC/PROCURADOR – PREFEITURA CARUARU/2018 - ADAPTADA) Em relação ao condomínio edilício, o terraço de cobertura é individualizado ao proprietário da unidade correspondente, salvo se a escritura de constituição do condomínio dispuser contrariamente. Errado. O gabarito é “errado”, porque se trata de área comum (art. 1.331, § 5º, CC). Solucione igualmente esta questão: O conteúdo deste livro eletrônicoé licenciado para BRUNA GISELLE RAMOS - 86571982234, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 30 de 83www.grancursosonline.com. Carlos Elias Coisas – Parte IV DIREITO CIVIL questão 15 (FCC/PROCURADOR – PREFEITURA CARUARU/2018 - ADAPTADA) Em relação ao condomínio edilício, o solo, a estrutura do prédio, o telhado, a rede geral de distribuição de água, esgoto, gás e eletricidade, bem como as demais partes comuns, inclusive o acesso à via pública, são utilizados em comum pelos condôminos, podendo porém ser alienados separa- damente ou divididos. Errado. O gabarito é “errado” pelo fato de não se poder alienar separadamente essas áreas (art. 1.331, § 2º, CC). Vamos tratar mais do tema. Instituição do condomínio é o ato jurídico praticado pelo titular de um imóvel com edi- ficação para criar as unidades autônomas vinculadas a áreas comuns e ao solo. É o ato dá existência jurídica às unidades autônomas do condomínio. Do ponto de vista do Cartório de Imóveis, a instituição do condomínio é ato registrado na matrícula do solo (matrícula-mãe) para, em seguida, gerar a abertura de matrículas para cada uma das unidades autônomas (matrículas-filhas). O ato de instituição se instrumentaliza por meio do registro de um ato entre vivos ou de um testamento contendo os requisitos do art. 1.332 do CC e do art. 7º da Lei n. 4.591/64. Esses requisitos são basicamente a descrição jurídica do condomínio edilício, ou seja, a in- dicação das unidades autônomas, a respectiva fração ideal no solo e nas áreas comuns e a finalidade das unidades (ex.: residencial, comercial etc.). Há controvérsia em definir se o ato entre vivos para instituir o condomínio tem de ser por escritura pública ou não. Entre os cartórios de imóveis brasileiros, há divergência. Em alguns Estados, só se admite escritura pública; em outros, só instrumento particular. Entendemos ser O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para BRUNA GISELLE RAMOS - 86571982234, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 31 de 83www.grancursosonline.com. Carlos Elias Coisas – Parte IV DIREITO CIVIL obrigatória a escritura pública se o imóvel onde está sendo instituído o condomínio edilício for de valor superior a 30 salários mínimos, pois a instituição representa uma modificação do direito real de propriedade (art. 108, CC). Quando a instituição decorrer de testamento, deve-se adotar a solenidade exigida para esse ato de última vontade. Qualquer das espécies de testamento (público, particular ou cer- rado) é idôneo. Como a instituição diz respeito à estrutura de direito real do condomínio, ela só pode acontecer com a assinatura da totalidade dos titulares do imóvel. Se o imóvel só pertencer a uma pessoa, basta sua assinatura no ato de instituição, conforme enunciado n. 504/JDC (“A escritura declaratória de instituição e convenção firmada pelo titular único de edificação composta por unidades autônomas é título hábil para registro da propriedade horizontal no competente registro de imóveis, nos termos dos arts. 1.332 a 1.334 do CC”). Por paralelismo de forma, qualquer ato posterior destinado a mudar o ato de instituição (ex.: mudar a fração ideal de cada unidade autônoma) também exigirá o consentimento de todos os condôminos e, do ponto de vista registral, exigirá averbação na matrícula-mãe (a do solo) e também nas matrículas-filhas (a das unidades autônomas). 7.4.2 .Constituição do Condomínio Edilício Veja esta questão: questão 16 (FCC/PROCURADOR – PREFEITURA CARUARU/2018 - ADAPTADA) A convenção condominial, como regra geral, dirige-se somente aos proprietários, excluídos os cessioná- rios de direitos e os promitentes compradores das unidades autônomas. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para BRUNA GISELLE RAMOS - 86571982234, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 32 de 83www.grancursosonline.com. Carlos Elias Coisas – Parte IV DIREITO CIVIL Errado. O gabarito é “errado”, porque a convenção vincula todos os que tem qualquer vínculo jurídico de titularidade sobre a coisa, seja de posse, seja de detenção, seja de propriedade, seja de cessionário de direitos, seja de promitente comprador (art. 1.333, CC). Veja ainda esta questão: questão 17 (FCC/PROCURADOR – PREFEITURA CARUARU/2018 - ADAPTADA) A convenção condominial não pode prever a competência e forma de convocação das assembleias, o que é exclusivo da lei civil. Errado. O gabarito é “errado”, porque a convenção obrigatoriamente tem de tratar dessas matérias indicadas na questão, respeitado os limites legais (art. 1.334, III, CC). Resolva igualmente esta questão: questão 18 (FCC/PROCURADOR – PREFEITURA CARUARU/2018 - ADAPTADA) A convenção condominial deverá ser realizada necessariamente por escritura pública. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para BRUNA GISELLE RAMOS - 86571982234, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 33 de 83www.grancursosonline.com. Carlos Elias Coisas – Parte IV DIREITO CIVIL Errado. O gabarito é “errado”, porque a convenção pode ser feita por instrumento particular ou público (art. 1.334, § 1º, CC). Resolva também esta questão: questão 19 (FCC/PROCURADOR – PREFEITURA CARUARU/2018 - ADAPTADA) Em relação ao condomínio edilício, a convenção que constitui o condomínio edilício deve ser subscrita pela unanimidade dos condôminos, registrando-se-a no Cartório de Registro de Imóveis para valer contra terceiros. Errado. O gabarito é “errado” pelo fato de o quórum ser de 2/3 (art. 1.333, CC). Vamos tratar mais do tema. Ao se tratar de condomínio edilício, constituir o condomínio é diferente de instituí-lo. Ape- sar de sinônimas no vernáculo, constituição e instituição são conceitos diversos em relação a condomínio edilício. Instituir é o ato que dá existência jurídica ao condomínio, fazendo nascer juridicamente as unidades autônomas vinculadas a uma fração ideal do solo e das áreas comuns. O ato de instituição é registrado na matrícula do imóvel, a qual fica no Livro 2 do Cartório de Registro de Imóveis (arts. 167, “17”, 176, 227, 237-A da LRP). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para BRUNA GISELLE RAMOS - 86571982234, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 34 de 83www.grancursosonline.com. Carlos Elias Coisas – Parte IV DIREITO CIVIL Constituir é o ato pelo qual se registra a convenção de condomínio, estabelecendo regras relativas ao funcionamento do condomínio. A convenção, além de reiterar os requisitos formais do ato instituição – para deixar claro quais são as unidades autônomas –, dá as regras rela- tivas à custeio financeiro do condomínio, à sua administração, à competência da assembleia e ao regimento interno. Os seus requisitos estão no art. 1.334 do CC e no art. 9º, § 3º, da Lei n. 4.591/64. A constituição se instrumentaliza por uma convenção que deve ser registrada no Livro 3 do Cartório de Registro de Imóveis (arts. 167, “17”, e 178, III, LRP e art. 9º, § 1º, da Lei n. 4.591/64). Ela não é registrada na matrículado imóvel – a qual fica no Livro 2 –, porque a convenção não trata da estrutura de direito real de propriedade do condomínio edilício, e sim das regras de funcionamento do condomínio. A convenção pode adotar instrumento particu- lar ou pública por força do § 1º do art. 1.334 do CC. Numa metáfora, instituir o condomínio edilício é criar o corpo (esqueleto e carne). Consti- tuir é dar a alma para esse corpo funcionar. Na prática, há ainda a “instalação do condomínio”, que nada mais é do que a primeira assembleia dos condôminos destinada a nomear síndico e aprovar orçamentos. Não se trata de uma assembleia prevista em lei; é apenas uma prática. Nessa assembleia, pode também ser aprovada a convenção, mas nem sempre isso ocorre na prática: o costume é a aprovação ocorrer posteriormente. Para aprovar a convenção, é exigido quorum correspondente aos titulares de, no mínimo, 2/3 das frações ideais (arts. 1.333, CC). Em paralelismo, para mudar a convenção, também é exigido quorum de 2/3 dos condômi- nos (art. 1.351, CC). Chama-se a atenção para o fato de que, no caso de alteração da convenção, não se leva em conta as frações ideias, mas apenas os condôminos em si. Desse modo, em um condo- mínio com 12 condôminos em que um condômino possua sozinho 2/3 da fração ideal, esse prestigiado condômino não poderá, sozinho, alterar a convenção, pois haverá necessidade de voto favorável de 8 condôminos. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para BRUNA GISELLE RAMOS - 86571982234, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 35 de 83www.grancursosonline.com. Carlos Elias Coisas – Parte IV DIREITO CIVIL Nada impede, porém, que o quorum para a alteração da convenção seja diferente do legal: basta previsão na própria convenção de um quorum especial. Como o Regimento Interno é citado pelo art. 1.334, V, do CC como requisito formal da con- venção, o quorum para a sua aprovação é o mesmo da convenção. Afinal de contas, ele tem de acompanhar a convenção. Todavia, a sua alteração pode ser feita sem necessidade de observar o quorum exigido para a alteração da convenção. Basta quorum com a maioria dos presentes. Isso, porque o art. 1.351 do CC foi alterado pela Lei n. 10.931/2004 para excluir a exigência textual de que a mudança do Regimento Interno dependesse de quorum especial, razão por que, para tanto, passou a ser aplicado o quorum geral de maioria simples (maioria dos presentes), conforme arts. 1.352 e 1.353 do CC. É, porém, admitido que a convenção preveja quorum especial para a alteração do regimento interno, conforme enunciado n. 248/JDC (“o quórum para alteração do regimento interno do condomínio edilício pode ser livremente fixado na convenção”). 7.5. CAsos esPeCiAis 7.5.1. Alteração da Fração Ideal: Exigência de Unanimidade Como a definição da fração ideal de cada unidade autônoma sobre o solo e as áreas co- muns dizem respeito à própria instituição do condomínio (art. 1.332, II, CC) e ao direito real de propriedade de todos os condôminos, a alteração da fração ideal exige consentimento da unanimidade dos condôminos (STJ, REsp 56.545/CE, Rel. Ministro Waldemar Zveiter, DJ 22/05/1995). 7.5.2. Quorum para Mudança da Destinação das Unidades: Exigência de Unanimidade Mudança de destinação das unidades (ex.: de finalidade residencial para comercial) de- pende do consentimento da unanimidade dos condôminos, pois a destinação da unidade é matéria do ato de instituição do condomínio (art. 1.332, III, CC) e diz respeito ao direito real de propriedade dos demais condôminos. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para BRUNA GISELLE RAMOS - 86571982234, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 36 de 83www.grancursosonline.com. Carlos Elias Coisas – Parte IV DIREITO CIVIL 7.5.3. Proibição de Locação por Temporada (Airbnb etc.): Controvérsia É controverso se a convenção pode ou não proibir os condôminos de promoverem loca- ções de seus imóveis por temporada curtas, com utilização de plataformas dedicadas a esses tipos de locações, como a famosa plataforma do “Airbnb”. Temos por inconstitucional eventual cláusula convencional nesse sentido por ofensa ao direito de propriedade. Além de a locação por temporada ser um contrato disciplinado na Lei de Inquilinato (Lei n. 8.245/91), a sua celebração decorre do exercício do direito de proprieda- de. O suposto interesse coletivo em impedir o tráfego de pessoas desconhecidas dentro do condomínio não autoriza flexibilizar o direito de propriedade, pois esse risco existe mesmo entre os próprios condôminos, que dificilmente conhecem uns aos outros e que estão sujeitos a conviver com qualquer pessoa que venha a adquirir uma das unidades. No máximo, a con- venção pode exigir cadastramento das pessoas que acessam o condomínio para identifica- ção delas, mas não pode impedir o legítimo exercício do direito de propriedade. No mesmo sentido, o TJDFT, sob a relatoria do Desembargador e Professor Álvaro Ciarlini, fixou o seguinte: “o exercício da liberdade individual do proprietário em alugar o bem imóvel não afeta diretamente a liberdade coletiva dos vizinhos, devendo ser o eventual conflito a respeito desse tema resolvido diante da situação concreta examinada”(TJDF 07044686720188070000 DF 0704468-67.2018.8.07.0000, 3ª Turma Cível, Rel. Des. Alvaro Ciarlini, DJE 11/07/2018). 7.5.4. Proibição de Animais de Estimação na Unidade Autônoma Indaga-se: a convenção pode ou não proibir que condôminos tenham animais de estima- ção em suas unidades? O STJ entende admite essa proibição, prestigiando o que for ajustado entre os condômi- nos (AgRg no AREsp 676.852/DF, 4ª Turma, Rel. Ministro Raul Araújo, DJe 11/09/2015; REsp 161.737/RJ, 3ª Turma, Rel. Min. Costa Leite, DJ 08/06/1998; REsp 122.791/RS, 4ª Turma, Rel. Ministro Ruy Rosado de Aguiar, DJ 22/09/1997). Dissentimos da posição do STJ. Entendemos que é nula essa proibição em convenção por ofensa ao direito de propriedade, desde que se trate de animais de estimação socialmente aceitável e desde que se trate de um condomínio com finalidade residencial. Eventuais desas- O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para BRUNA GISELLE RAMOS - 86571982234, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 37 de 83www.grancursosonline.com. Carlos Elias Coisas – Parte IV DIREITO CIVIL sossegos causados pelos animais – como latidos altos – poderão ser punidos, a exemplo do que sucede com qualquer outra conduta antissocial – como perturbações provocadas por gritos altos do condômino. É evidente que um condômino que queira ter um tigre de criação não o poderá fazê-lo, pois não se trata de animal que socialmente é considerado de estimação, além de ser animal selvagem extremamente perigoso. Pelo mesmo motivo, poderá o condômino criar cobras. So- me-se ainda que a criação de muitos desses animais pode configurar crime. Todavia, em se tratando de cachorros, gatos, coelhos e pássaros, é nula a proibição de o condômino criá-los em sua unidade residencial. O direito contemporâneo reconhece a natureza de ser senciente dos animais e reconhece a vinculação deles à própria dignidade da pessoa humana, de modo que seria indevido permitir proibições como a supracitada. Em condomínios comerciais, temos por devida a proibição do ingresso de animais de es- timação, pois o ambiente comercial não é compatível com a criação de animais. 7.6.
Compartilhar