Prévia do material em texto
Prática de Ensino em Arte II Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Ms. Solange dos Santos Utuari Ferrari Revisão Textual: Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin Nossas Culturas • Nossas Culturas • Debates sobre Arte, Indústria Cultural e Cultura de Massa • Vamos à Ação Educativa? • Arte, Cultura e Identidade • Multiculturalismo · Conhecer a abordagem metodológica do multiculturalismo; · Apresentar conceitos e fundamentos sobre o ensino de Arte Contemporânea; · Estudar a influência de culturas contemporâneas em processos educacionais e da endoculturação; · Conhecer as etapas de elaboração de projetos de trabalho didático com foco no ensino de Arte em uma abordagem multicultural; · Propor situações de aprendizagem e metodologias de ensino de Arte; · Estudar as culturas visual e sonora e como elas se relacionam no ensino e aprendizagem da Arte; · Investigar culturas como a pop e a queer e como elas influenciam comportamentos e a formação artística e cultural de crianças e jovens; · Discutir Arte, Educação, Cultura e a formação de currículo em uma abordagem multicultural; · Valorizar a diversidade cultural em processos educativos em Arte; · Refletir sobre diversidade cultural e etnocentrismo; · Criar projetos de trabalho didático com olhar ampliado para a diversidade existente na Arte e Cultura Contemporânea. OBJETIVO DE APRENDIZADO Nossas Culturas Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Nossas Culturas Contextualização Na contemporaneidade, culturas circulam pelo mundo por muitos meios e mídias. No Brasil, essas culturas vindas de outros lugares do mundo se misturam às nossas culturas. Educadores buscam motivar crianças e jovens a se envolverem com a Cultura escolar e seus conhecimentos distribuídos em disciplinas e anos. No entanto, surgem questões a serem respondidas: como as crianças e os jovens aprendem e se formam culturalmente? Qual o peso da Escola nesse desenvolvimento frente a todos os apelos e as opções culturais que circulam nas mídias como Televisão, Rádio, Internet, Cinema, videogames e outras? Que ações educativas podem ser propostas dentro de uma visão multicultural? Com o objetivo de compreender esses contextos culturais e educacionais e ampliar possibilidades de criação de projetos de trabalho didático no ensino de Arte, escolhemos como foco para esta Unidade o tema: Nossas culturas. Para ampliar nossos estudos sobre o tema, sugerimos que você estude os materiais a seguir. SANTOMAURO Beatriz. O que ensinar em Arte. Reportagem da Revista Nova Escola publicada em NOVA ESCOLA, ed.220, março, 2009. Título original: Conhecer a cultura. Soltar a imaginação. https://goo.gl/XnLBGq Sobre bens materiais e imateriais brasileiros: https://goo.gl/iZR7xj https://goo.gl/7dUWwZ https://goo.gl/yL73Dg Ex pl or O Povo Brasileiro https://youtu.be/wfCpd4ibH3c Diretora: Isa Grinspum Ferraz. São Paulo: Versátil Home Vídeo, 2000. (260 min). Documen- tário sobre as origens e a formação do povo brasileiro. Acesso em: 10 nov. 2016. Ex pl or 8 9 Nossas Culturas Fonte: Wikimedia Commons Eu sou a chuva que lança areia do Saara sobre os automóveis de Roma sou a sereia que dança destemida Iara, água e folha da Amazônia VELOSO, Caetano. Reconvexo. In: Memória da pele e Maria Bethânia ao vivo, 2005. Nesta Unidade, a proposta é estudar a diversidade cultural em que estamos mergulhados e como educadores, antropólogos e filósofos tem se posicionado. Aqui, vamos propor um estudo sobre a abordagem educacional do multiculturalismo e a investigação de culturas tais como a visual e a sonora, a Cultura Queer e a Pop. Também temos a proposta de provocar reflexão sobre endoculturação, diversidade e etnocentrismo. Esses temas são relevantes para a sua formação de educador(a), porque é solicitado cada vez mais aos professores que encontrem propostas didáticas para deles tratar com crianças e jovens na Escola. Assim, iniciamos nossos estudos pelo conceito de identidade cultural. Analise o trecho da letra da música Reconvexo, citada na abertura desse texto, composição do baiano Caetano Veloso (1942): » Será que podemos comparar a Cultura com “o vento que lança a areia do Saara sobre os automóveis de Roma’’?; » O que o compositor expressa com essa frase em sua canção?. Caetano Veloso compôs essa música na ocasião em que estava na Itália. Ele relata em entrevistas que ao amanhecer os carros estavam cobertos de areia que vinha com os ventos soprados da região da África (deserto do Saara). Assim, de forma metafórica, podemos dizer que, como vento, a Cultura não respeita fronteiras. O artista fala em forma de metáfora sobre sua identidade cultural nos versos da música Reconvexo. 9 UNIDADE Nossas Culturas Figura 2 - Instalação Pacific (Pacífico), criada em 1996 pelo artista japonês de Yukinori Yanagi (1959). Fonte: tate.org.uk Outra obra de Arte que pode nos ajudar a pensar sobre como a Cultura pode romper fronteiras é a instalação Pacific (Pacífico), criada em 1996, pelo artista japonês de Yukinori Yanagi (1959). O artista usou 136 bandeiras de diferentes países que estão na região do Pacífico, criadas dentro de caixas de plástico transparente com areia colorida. As bandeiras estão interligadas por tubos nos quais transitam formigas que vão corroendo, abrindo caminhos na areia, transformando as bandeiras e, assim, de forma metafórica, destruindo fronteiras. Será que o artista quer dizer que as formigas são como as pessoas que migram de um lugar ao outro levando suas bagagens culturais e interferindo nas culturas por onde passam? Diante de obra de Arte contemporânea como essa, podemos ter várias interpretações. Essa obra foi exposta no Brasil na 28ª. Bienal de Arte de São Paulo, em 2008. A Identidade Cultural Vivemos experiências culturalmente. O que isso quer dizer? Em cada tempo vivido por você, há encontros; alguns são bem marcantes, outros provavelmente você nem se lembre. Tempos esquecidos ou significativos, vividos por você, que sempre esteve mergulhado no meio social e cultural. Isso significa que ao viver culturalmente encontramos coisas, algumas nos afetam, provocam-nos de alguma 10 11 maneirae, quando isso acontece, nós nos apropriamos dessa experiência e vamos formando nosso repertório cultural. Como “ímãs”, conhecimentos, afetos por pessoas, coisas, situações vão se acumulando em nós e como o “vento” vamos espalhando nossa bagagem cultural por aí e, quem sabe, contribuindo para a formação do repertório e da identidade cultural de outras pessoas. Nossa identidade cultural é formada por todas as experiências significativas que vivemos e pelo acúmulo da Cultura que guardamos; com a qual nos identificamos e que nos influencia por toda nossa existência. Que Cultura ou culturas influenciam você? Já parou para pensar nessas questões? A música Reconvexo também revela o orgulho sentido por Caetano Veloso por ser baiano e brasileiro. E você, tem orgulho de quê? Como você percebe a sua identidade cultural? Vamos seguindo nossos estudos e investigando mais conceitos que ajudarão a responder a essas questões. Os compositores de música como Caetano Veloso usam, entre outros recursos linguísticos e poéticos, a “Metáfora”, que é uma transferência de signifi cados. É criada com base em uma relação de semelhança, que pressupõe um processo anterior de comparação. Trata-se de uma fi gura de linguagem utilizada por letristas e poetas para estabelecer uma analogia de signifi cados entre palavras ou expressões. Pode brincar com a imaginação, enriquecer uma frase poética e criar possibilidades de duplo sentido ou ambiguidade. Na Arte, usar metáforas é mais do que migrar signifi cados; é construir um discurso que estabelece relações e inter-relações entre o que está sendo dito e seus possíveis sentidos. A música Reconvexo apresenta a ideia de estar no mundo, ser infl uenciado por ele e infl uenciar outras pessoas culturalmente. A mesma metáfora está presente na obra Pacifi c, do artista Yukinori Yanagi, que usou areias coloridas para formar os desenhos das bandeiras e formigas para desconstruí-las e, assim, por meio de uma metáfora visual, fazer discursos sobre povos, fronteiras e infl uências culturais. Estude mais sobre o uso de metáforas em composições da música popular brasileira e na Arte Contemporânea. Dica de Estudo Você pode saber mais sobre como analisar músicas da nossa Música Popular Brasileira estudando o livro: VELOSO, Caetano. Letra só. Organização e notas Eucanaã Ferraz. São Paulo: Companhia das Letras, 2003; Outra dica é conhecer mais de perto o trabalho do artista Yukinori Yanagi visitando seu site ofi cial: https://goo.gl/reykak Ex pl or 11 UNIDADE Nossas Culturas Cultura ou Culturas? Figura 3 - Carnaval, Rio de Janeiro Fonte: Wikimedia Commons Figura 4 - Carnaval, Recife Fonte: Wikimedia Commons [...] tudo o que é feito pelos homens ou resulta do trabalho deles ou de seus pensamentos. (...) as crenças, as artes, que são criações culturais, porque inventadas pelos homens e transmitidas uns aos outros através de gerações. Elas se tornam visíveis, se manifestam, através de criações artísticas, ou de ritos e práticas (...), em que a gente vê os conceitos e as ideias religiosas ou artísticas se realizarem (RIBEIRO, 1995, p. 34). Vamos, agora, estudar o conceito de cultura. Na passagem do tempo e desenvolvimento das gerações, a Cultura é cultivada. A palavra cultura nasceu da ideia a de “cultivar” algo, seja individualmente, seja em grupo. A partir das meditações de um grande antropólogo brasileiro, Darcy Ribeiro (1995, p. 34), citadas acima, podemos concluir que a palavra cultura pode assumir diferentes significações. Na vida em sociedade, por exemplo, esse conceito está relacionado ao conjunto de valores, costumes e criações dos povos. Para outro importante antropólogo, Roque de Barros Laraia (2001), definir o que vem ser Cultura é um desafio, porque essa questão é bastante complexa. Nós, seres humanos, vivendo em uma sociedade, compartilhamos semelhanças culturais. No entanto, também temos nossas particularidades e identidades indi- viduais. Desse modo, a Cultura pode ser algo aprendido coletivamente ou por experiências pessoais. Ao pensar nas muitas manifestações culturais do Brasil, a exemplo do Carnaval, que em cada lugar do país acontece de maneira específica em função das influências culturais locais, podemos dizer que a nossa brasilidade é marcada pela miscigenação. Somos um povo que nasceu de misturas e que se desenvolveu com a contribuição de vários povos e suas culturas. Entre elas estão a Cultura indígena, a lusitana (portugueses) e a africana. Na contemporaneidade, ainda temos as influências de outros povos que aqui vie- ram viver e compartilhar suas culturas e as influências mundiais, como a Cultura pop, a Queer, a Visual, a Musical e a Sonora, culturas essas que produzem comportamen- tos, maneiras de viver e elementos que compõem a sociedade contemporânea. 12 13 Quando uma Cultura se mistura com outra e dessa alquimia surge outra Cultura miscigenada, dizemos que houve um sincretismo cultural. Pode haver, também, aculturação, fenômeno social em que uma Cultura submerge à outra. Isso pode acontecer de forma espontânea ou por dominação em razão de poderes econômicos, políticos ou outros. Assim, quando olhamos para as várias manifestações culturais brasileiras, podemos nos perguntar: essa é a nossa Cultura ou as nossas culturas? Figura 5 - Escultura de Caranguejo, Rua da Aurora em Recife - PE Fonte: Wikimedia Commons Escultura de caranguejo na Rua da Aurora, no Recife (PE). O caranguejo, ligado à cultura de subsistência na região do mangue, fonte de alimento e de renda da população ribeirinha, é o principal símbolo do movimento manguebeat. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Manguebeat Ex pl or O movimento cultural Manguebeat foi criado por volta de 1990, no Recife, estado de Pernambuco, com o objetivo de misturar ritmos regionais como o Maracatu com ritmos internacionais como o Rock and Roll e o Rap, entre outras influências. Esse movimento se manifestou principalmente na música e em seus temas foi abordada a crítica aos preconceitos, a preservação do meio ambiente e as injustiças sociais. O nome Manguebeat foi dado a esse movimento porque une a palavra Mangue, que é um ambiente formado por árvores de raízes longas que se espalham pelas areias à beira de rios próximos a litorais (ambientes naturais ricos em crustáceos, peixes e moluscos), e Beat que é uma palavra da língua inglesa que, em português, significa bater, batida. Assim, com essa proposta de misturas culturais e artísticas, o movimento Manguebeat ficou conhecido internacionalmente. Seus maiores expoentes foram Chico Science (1966-1997) e o grupo Nação Zumbi. Esse movimento é um exemplo de sincretismo cultural engajado em propostas sociais e culturais. 13 UNIDADE Nossas Culturas Cena do Maracatu, manifestação cultural da música folclórica pernambucana afrobrasileira, em Aliança, Pernambuco, 2015. Ex pl or Figura 6 - Maracatu - Manifestação Cultural Fonte: Wikimedia Commons Figura 7 - Chico Science em show com figurino inspirado nas fantasias do maracatu. Fonte: Wikimedia Commons Somos todos juntos uma miscigenação E não podemos fugir da nossa Etnia (...) Maracatu psicodélico Capoeira da pesada Bumba meu rádio Berimbau elétrico Frevo, samba e cores Cores unidas e alegria Nada de errado em nossa ETNIA (SCIENCE & MAIA, 1996, faixa 3). Ouça a música Etnia, composição de Chico Science (1966-1997), gravada por ele com o grupo Nação Zumbi. Analise os versos e como esse artista, fundador do movimento Manguebeat, fala das várias culturas que compõem a nossa brasilidade. 14 15 Identidade Cultural e Endoculturação Uma Cultura pode se formar a partir de influências de muitas culturas. Quando temos contato com uma cultura e essa, de alguma maneira, toca-nos a ponto de absorvemos seus costumes, gostos, modos de vida, valores e outras questões, essa Cultura começa a fazer parte da nossa; mas há questões culturais que são fortes, mais latentes em nós e são esses aspectos que formama nossa indenidade cultural. Figura 8 - Mestiça, 2012. Óleo sobre fi bra de vidro e resina, 0,80 x 9 cm. Fonte: adrianavarejao.net Nossas experiências e como as vivemos cultu- ralmente podem refletir em um autorretrato. Na Arte, muitos artistas usam esse gênero para falar sobre suas influências culturais. Vamos analisar al- guns exemplos. Veja a imagem: trata-se de uma pintura sobre um prato gigante feito de resina, criação da artista carioca Adriana Varejão (1964-), que tem por título Mestiça. O que você percebe nessa imagem? A artista tem pesquisado as relações entre Arte, História e identidades culturais. Ela cria autorretratos e sobre eles faz interferências, pintando marcas corporais da Cultura indígena brasileira. Na série Polvo Portraits III, ela usou diversas cores de tinta para fazer referência às inúmeras tonalidades de pele do povo brasileiro. Série Polvo Portraits III (2014), em que a artista Adriana Varejão apresenta seus autorretratos com desenhos feitos sobre o rosto, utilizando as diversas tonalidades de tintas a óleo desenvolvidas a partir de resultado de pesquisas do IBGE. Ex pl or 15 UNIDADE Nossas Culturas Figura 9 - Série Polvo Portraits III (2014), artista Adriana Varejão. Fonte: adrianavarejao.net Outros artistas também mostram em seus autorretratos suas identidades estéticas e culturais. Veja a pintura de Tarsila do Amaral (1886-1973): em um visual modernista, ela escolheu, nesse autorretrato, mostrar um visual que expressasse sua pessoalidade e seu estilo. De família abastada, Tarsila foi criada entre os costumes e a maneira de se vestir com influência francesa. No entanto, a artista sempre buscava se sobressair com seu estilo pessoal, em que usava o cabelo preso, brincos grandes e maquiagem bem marcada, como podemos ver neste autorretrato com personalidade modernista, apresentando uma mulher que, mesmo vivendo no início do século XX, mostrava forte personalidade e ser segura de seus caminhos. Figura 10 - Autorretrato I, 1924. Óleo sobre placa de madeira aglomerada (P070). Fonte: tarsiladoamaral.com.br Figura 11 - Autorretrato mole com toucinho frito, de Salvador Dalí, 1941. Óleo sobre tela, 61 cm 50 cm. Fonte: DALÍ, Salvador 16 17 O pintor catalão Salvador Dalí (1904-1989) fez uma série de imagens surrealistas em que trouxe a figura do seu rosto. Sobrancelhas longas e bigode fino e enrolado para cima são as formas características e marcantes da sua figura. Esse autorretrato, além de mostrar a fisionomia do artista, também mostra sua tendência estética (Surrealismo) e sua personalidade polêmica. Para você refletir: » Será que autorretratos também expressam identidades culturais?; » Imagens podem expressar a identidade cultural e uma pessoa?; » Também podemos nos expressar em outras linguagens? Leia o poema Autorretrato, de Mario Quintana. O que você pensa a respeito? No retrato que me faço - traço a traço - às vezes me pinto nuvem, às vezes me pinto árvore... às vezes me pinto coisas de que nem há mais lembrança... ou coisas que não existem mas que um dia existirão... e, desta lida, em que busco - pouco a pouco - minha eterna semelhança, no fi nal, que restará? Um desenho de criança... Corrigido por um louco! (QUINTANA, 2010, p.176). QUINTANA, Mário. Quintana de bolso. Porto Alegre: L&PM, 2010. 176 p. É certo que podemos nos expressar em várias linguagens para falar sobre nós, assim como as pinturas de Varejão, Tarsila e Dali ou o poema de Quintana, mas isso só é possível porque ao longo da nossa existência formamos a nossa bagagem cultural, nossa identidade. O modo de aprender para formar essa bagagem acontece no convívio cultu- ral em uma sociedade; porém, constitui-se, também, pelas coisas com as quais nos identificamos. Todo acervo advindo das experiências individuais, resultante de aprendizado, acontece sob o processo de endoculturação. É um processo de aprendizagem e assimilação da Cultura que se inicia na infância, no meio familiar e, posterior- mente, entre grupos de amigos: escola, meio de trabalho e outros grupos sociais. 17 UNIDADE Nossas Culturas Esse processo dura a vida inteira e acontece independente da Educação formal; faz-se na vida e no convívio com os outros; porém, a Escola pode ser agregada a esse processo por fazer parte da vida. Tem sido assim desde os tempos mais antigos. Os seres humanos aprenderam a sobreviver a partir do modo como desenvolveram as formas de adquirir e compartilhar conhecimentos, como, por exemplo, como aprenderam a se adaptar a um meio, como aprenderam a se comunicar e, em seus avanços, criaram normas sociais. O processo de enculturação continua a acontecer em nossa época. Atual- mente, mesmo com complexas redes socialmente estabelecidas, continuamos nesse processo de adaptação. O futuro ainda está dependendo do modo como vamos permanecer aprendendo, inventando e intervindo no mundo e nesse pro- cesso podemos formar nossa identidade. Os seres humanos mudaram e continuando transformando não apenas a natureza externa, mas também a sua própria natureza. Em função de todas essas transformações realizadas em nossa biologia e no hábitat, criou-se a necessidade de aprender para sobreviver; assim criamos a endoculturação. A Cultura Visual e Sonora Figura 12 - Escultura de Juan Muñoz (1953 - 2001) Fonte: magriniartes.com.br As imagens, os gestos e os sons sempre fizeram parte do universo cultural humano; desde as primeiras representações na Arte rupestre, primeiros movimentos na dança e criação de músicas, os seres humanos vêm inventando maneiras para se comunicar e se expressar. Hoje, temos as tecnologias que ampliam essas experiências e as manifestações culturais e artísticas. 18 19 Nesse contexto, muitas linguagens artísticas já foram criadas. São pinturas, desenhos, fotografias, vídeos, músicas, danças, teatro e outras com as quais podemos conviver em nosso tempo. Mas todo esse acervo de linguagens formou, também, várias manifestações culturais. Hoje, há vários teóricos que escrevem sobre as culturas visual e sonora. Cultura Visual O estudo da Cultura Visual e como esta influencia o ensino de Arte no Brasil vem sendo divulgado desde 2000. Fernando Hernández, arte educador espanhol, em seu livro Cultura visual, mudança educativa, desencadeou vários estudos sobre o ensi- no de Arte e a Cultura Visual no Brasil. Ele propõe que o ensino e a aprendizagem da Cultura Visual no contexto da Escola deve ser interdisciplinar e também buscar referenciais na Arte, Arquitetura, História, Publicidade e Antropologia. Nesse sentido, esse autor defende que não podemos ensinar Arte apenas a partir da História da Arte. Embora seja certo que a História da Arte registre a produção de muitas imagens (pinturas, esculturas, vídeos...), os alunos, hoje, com as possibilidades de reprodução e veiculação de imagens, têm contato com milhares delas, que veiculam em mídias e nas ruas. Essas imagens, embora não sejam do universo da Arte, também estão carregadas de cores, formas e mensagens. Dessa maneira, ao propor análises e leituras de imagens aos alunos, devemos também, como educadores, fazer uso de imagens da Cultura Visual como um todo, como, por exemplo, cartazes, páginas de revistas de Internet, outdoor, moda, design e outras imagens criadas hoje e no passado. Fernando Hernandez defende um ensino e uma análise das imagens de modo mais amplo e com base na mediação cultural. Assim, o ensino da Arte e da Cultura pode se tornar mais significativo em interpretações que podem ser mais bem construídas porque as imagens podem “informar àqueles que as veem sobre eles mesmos e sobre temas relevantes no mundo” (HERNÁNDEZ, 2000, p. 54). Mundo Sonoro No ano de 1857, Edouard-Léon Scott de Martinville (1817-1879) inventou um aparelho capaz de registrar um som. O fonoautógrafo, nome dado a esse invento, que mudou o modo de produzir sons e apreciar música, e foi importante para a Cultura mundial sonora, assim como a Fotografiae o Cinema também revolucionaram o mundo visual. Hoje, temos notícias de muitos inventos que vieram depois. Desde o gramofone até os discos de vinil, os compactos discos (CDs), as mídias digitais, os sistemas de gravação e a reprodução de músicas e de sons pelas tecnologias que vieram junto com os computadores e os celulares multimídia, muita coisa mudou e transformou a Cultura sonora, que se espalha pelo mundo e, em cada local, as pessoas têm seus gostos pessoais, mas muitas são influenciadas pela indústria cultural e pela Cultura de massa. 19 UNIDADE Nossas Culturas » O mundo ficou mais barulhento e ou mais musical?; » Como você se relaciona com a Cultura sonora?; » A indústria cultural e a Cultura de massa influenciam as suas escolhas musicais? Ex pl or Debates sobre Arte, Indústria Cultural e Cultura de Massa A Indústria cultural nasce com o Capitalismo, que fez surgir empresas e insti- tuições que criam ou divulgam produtos e serviços em mídias de comunicação de massa para conseguir lucro. Essa indústria padroniza hábitos, comportamentos e gostos, criando a Cultura de massa. A indústria cultural dedica-se a semear a ex- pectativa do novo, estimulando os consumidores a sentirem necessidade de sempre consumir. Estude mais sobre esses conceitos, pois são aspectos que influenciam a Cultura Contemporânea. • Para criar projetos de trabalho didático com os alunos sobre Arte, Indústria cultural e cultura de massa, você pode acessar ideias em: • Cultura de Massa e Consumo https://goo.gl/bftYXZ • O Pop e suas Influências Culturais https://goo.gl/rpBjYv Ex pl or O educador e compositor canadense R. Murray Schafer (1933), autor de vários livros sobre Educação Musical, tem analisado a Cultura do mundo sonoro. Para Schafer, o mundo sofreu uma grande mudança depois da Revolução Industrial, que apresentou às pessoas muitos dos sons com os quais convivemos hoje e que classificamos como poluição sonora. Esse autor nos provoca a pensar sobre como estamos tão habituados a ouvir os sons das cidades como, por exemplo, os meios de transportes com seus motores e buzinas, que quase não ouvimos mais outros sons, como os da natureza (canto dos pássaros, vento, voz humana e outros). Isso teria causado certo grau de surdez nas pessoas que ouvem mais não percebem os sons mais sutis. 20 21 Schafer faz críticas também à Revolução Elétrica, que teria facilitado a entrada de certos sons em nossas casas, muitas vezes, sem permissão ou escolha, como, por exemplo, quando um vizinho quer ouvir suas músicas em alto e bom som. Nesse sentido, o autor chama a atenção dos educadores dizendo que no ensino de Música na Escola, antes de iniciar qualquer aprendizagem mais sistematizada dessa linguagem, é preciso reabrir os ouvidos dos alunos, trabalhando com a percepção da paisagem sonora e da escuta sensível. O autor defende que para ensinar Música é preciso ensinar a ouvir, aproximar as crianças de sons naturais, porque as tecnologias têm causado afastamento dos sons de seus contextos originais. No entanto, os alunos estão mergulhados na Cultura Sonora e os inúmeros recursos de gravação e reprodução de sons. Nesse caso, a proposta do autor é trabalhar com exercícios de percepção e debates a respeito da Cultura sonora, indústria cultural e Cultura de massa para que crianças e jovens tomem consciência de suas limitações dadas às interferências sonoras e descubram o universo da arte da Música de maneira mais ampla, tendo contato com experiências musicais mais significativas. A Cultura Pop Eu, etiqueta […] Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro, minha gravata e cinto e escova e pente, meu copo, minha xícara, minha toalha de banho e sabonete, meu isso, meu aquilo, desde a cabeça ao bico dos sapatos, são mensagens, letras falantes, gritos visuais, ordens de uso, abuso, reincidência, costume, hábito, premência, indispensabilidade, e fazem de mim homem-anúncio itinerante, escravo da matéria anunciada. Estou, estou na moda. […] ANDRADE, Carlos Drummond de. Eu, etiqueta. In: Corpo. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 53. 21 UNIDADE Nossas Culturas Vimos que no processo de enculturação, as trocas culturais sempre aconteceram. Para refletir sobre o poema “Eu, etiqueta”: » Carlos Drummond de Andrade expressa que ideias?; » O que essas palavras dizem para você? Você está na moda?; » Será que estamos nos deixando influenciar por culturas que nos transformam em “seres etiqueta”? Imagine que ao mesmo tempo milhares de pessoas podem estar assistindo neste exato momento a um mesmo programa de Televisão. No passado, as pessoas precisavam ir a museus ou galerias para ter uma experiência frente a uma imagem; hoje, basta ligar algum aparelho multimídia que essa experiência é possível. Depois das invenções tecnológicas, as pessoas passaram a ter experiências coletivas em grande escala e comportamentos começaram a ser semelhantes, mesmo se observarmos um grande números de pessoas. A expansão dos meios de comunicação fez surgir uma indústria cultural que bus- ca criar produtos artísticos destinados a uma massa consumidora. Esses mesmos meios de comunicação, por um lado, trouxeram possibilidades de vivenciar muitas experiências e de ter acesso a certos conhecimentos; porém, por outro lado, in- fluenciam milhares de pessoas a viverem como “seres etiquetas”, como descreve o poeta de Carlos Drummond de Andrade em sua obra Eu, etiqueta. A Cultura Pop surge a partir das facilidades de acesso à Arte e ao consumo como diversão e entretenimento. Grandes festivais de Música surgiram na década de 1960, época em que a Cultura Pop se intensifica. Esses encontros culturais e artísticos oportunizaram encontros entre jovens, que puderam expressar suas opi- niões sobre o mundo e o transformaram. Outro fator que influenciou o surgimento da Cultura Pop foi a reprodutibilidade técnica. Os avanços tecnológicos e as inven- ções artísticas como a Fotografia, o Cinema e o gravador de músicas possibilitaram a produção e a divulgação de milhares de imagens e músicas transformando tanto a Cultura Visual como a Sonora. Com a reprodução de imagens e produtos dominando a Cultura e a Arte, artistas com ideias críticas ao consumo exagerado que se instalava na sociedade criaram o movimento de Pop Art, no início da década de 1960. Esse movimento foi o primeiro a representar a sociedade de consumo. Usavam a própria estética do consumismo para criar imagens de protesto. Uma das características marcantes do movimento foi a reprodutividade visual, ou seja, imagens em série e repetidas, como a que vemos nas obras de Andy Warhol (1928-1987). Também temos o uso e a representação de objetos de consumo e o recurso de colagem, como nas obras de Richard Hamilton (1922-2011), e efeitos de design gráfico, como as pinturas de Roy Lichtenstein (1923-1997). 22 23 Na época, os artistas da Pop Art questionaram o poder dos meios de comunicação sobre a formação cultural das pessoas. Hoje, ser “Pop” é estar na mídia e fazer sucesso na indústria cultural. Na Escola, encontramos várias influências da Cultura Pop. Como criar projetos e ações educativas para chamar a atenção dos alunos sobre os temas aqui abordados e propor uma formação mais crítica? Há muitas possibilidades e, entre elas, criar debates, principalmente com jo- vens, propor leitura de imagens e interpretações de músicas pode ajudar os alu- nos a perceberem como a Cultura Pop está presente em nosso cotidiano e o que podemos aprender com ela, ou fazer análises mais críticas para ter formação cultural mais libertadora. Figura 13 - Obra de Richard Hamilton Fonte: Wikimedia Commons Figura 14 - Obra de Roy Lichtenstein Fonte: DALÍ, Salvador 23 UNIDADE Nossas Culturas Cultura Queer Figura 15 - Bandeira da Cultura Queer, criada em 1978 Fonte: iStock / Getty Images Neste texto, estamos fazendo uma análise a respeito da Arte e da Cultura. Inves- tigamos a respeito de culturas que influenciam comportamentos na sociedade,criam debates e, dessa maneira, são relevantes para serem estudadas dentro de contextos educacionais, principalmente na formação de educadores. Entre as influências cultu- rais que estão presentes na contemporaneidade, temos a Cultura Queer. Essa manifestação artística e cultural nasceu a partir de estudos sobre a Teoria Queer que se intensifica nos Estados Unidos e na França na década de 1980. No entanto, esse estudo é mais antigo, podemos retomar as primeiras manifestações feministas do final do século XIX, quando mulheres no Ocidente começaram a se organizar para lutar pelos seus direitos, entre eles, o direito ao voto. Essas lutas deflagraram o movimento feminista que ganhou força nas décadas de 1960 e 1970, lutas de muitas pessoas, por muitas questões e direitos, juntaram- se a essas manifestações e criaram a Cultura Queer. A palavra queer, em tradução livre, faz referência às palavras “estranho, raro, extraordinário ou excêntrico”. A Teoria Queer faz parte de uma série de estudos sobre a sociedade e seus dilemas morais e como ela trata as pessoas que decidem trilhar caminhos outros a essas convenções. Trata, também, de como as pessoas excluídas por sistemas morais se sentem e se posicionam perante as mudanças culturais que ocorreram no século XX e continuam a transformar culturas e sociedades. São grupos de pessoas com posicionamento político de gênero (feministas) ou por escolhas sexuais (gays, lésbicas e transgêneros), que lutam por respeito, qualidade de vida e fim de preconceitos. 24 25 A Cultura Queer criou uma estética na Arte e Cultura visual presente até nossos dias; um exemplo é a famosa bandeira colorida vista em passeatas de movimentos LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros). A bandeira foi criada pelo artista plástico Gilbert Baker (1951) em 1977 e, inicialmente, tinha oito cores que estabeleciam os significado: rosa pink (sexualidade), vermelho (vida), laranja (cura), amarelo (luz do sol), verde (natureza), turquesa (harmonia), azul (arte) e violeta( espiritualidade). Hoje, as cores são apenas seis porque as cores rosa pink e turquesa, foram retiradas para facilitar a produção da bandeira em grande escala, como vemos em passeatas de orgulho LGBT. A Cultura Queer se identifica com esse símbolo multicolorido presente na bandeira e hoje essas cores são vistas em adesivos, canecas, camisetas, páginas de redes sociais e outras formas de divulgação. Na Arte, a Cultura Queer está presente em filmes, esculturas, instalações, performances, pinturas, fotografias e em espetáculos de Dança, Música e Teatro. Cores e formas, sons e ideias, Arte e Cultura presentes na vida dos alunos. Dessa forma, é fundamental propor ações educativas e Projetos de Trabalho Didático para trabalhar com os temas aqui abordados. Figura 16 - Indradhanush Over the Mersey, de Guerra de La Paz (Alain Guerra e Neraldo de La Paz). Escultura com roupas encontradas em lixões e recicladas, 304 cm 3 609 cm 3 244 cm. Fonte: GUERRA, Alain e PAZ, Neraldo de La 25 UNIDADE Nossas Culturas Vamos à Ação Educativa? Nessa parte dos nossos estudos, como temos feito em todas as Unidades dessa Disciplina, vamos propor ideias que podem ser desenvolvidas em forma de ações educativas ou Projetos de Trabalho Didático para que você possa colocar em prática os saberes aqui estudados em momentos de estágios de regência ou na sua prática docente. Arte, Cultura e Identidade Muitas ações educativas e projetos podem ser criados para explorar os temas que aqui estamos trazendo em nossos estudos nesta Unidade, como, por exemplo, propor debates sobre o processo de Endoculturação e a formação da identidade cultural. Outra ideia é propor a criação de autorretratos feitos pelos alunos, explorando a investigação da identidade cultural, que podem ser produzidos utilizando vários materiais, linguagens e técnicas. Também podemos analisar imagens e letras de músicas, entre outros. Projetos como a produção de filmes, documentários e outras produções feitas pelos alunos para falar do povo brasileiro, sua Cultura e Arte, podem ser um bom caminho para abordar os temas que estudamos aqui, como, por exemplo, a questão do sincretismo e diversidade cultural. Com crianças pequenas, os trabalhos podem ser mais lúdicos e os pequenos podem pesquisar com suas famílias quais as suas origens culturais e o que se produz em Arte a partir dessas experiência. Na Escola, um trabalho de contação de histórias pode resgatar a tradição do conto oral e o que esses materiais expressam culturalmente. Cultura Visual Para Fernando Hernandez (2000), a Cultura Visual é um campo de estudos que aborda os processos culturais que criam imagens. Assim, ler essas imagens como videogames, HQs, imagens criadas pela publicidade, Internet e qualquer outro meio de divulgação além das linguagens artísticas (pinturas, desenhos, esculturas, videoart...) pode se constituir experiência enriquecedora para os alunos compreendam a Cultura Visual. Outra ideia é criar uma instalação com várias imagens que podem ser projetadas no espaço da Escola para dialogar com a Arte Contemporânea. 26 27 Os alunos também podem, se houver oportunidade, visitar ateliers de artistas, Agências Publicitárias ou outros locais de produção de imagem para que conheçam vários artistas e produtores de imagens contemporâneas e entendam seus processos de criação. Cultura Sonora Como vimos, a proposta de Schafer é trabalhar com a percepção sonora e musical. Dessa forma, na Escola, educadores podem propor a audição de sons para a compreensão da paisagem sonora e classificá-los segundo os seus parâmetros de som, como, por exemplo: agudo, grave, fraco, forte, longe perto, curto, longo e timbres. Depois, os alunos podem gravar sons e criar instalações sonoras. Uma sugestão é visitar o site do Instituto Inhotim: https://goo.gl/SqNnep Ex pl or Outra sugestão sobre Cultura Sonora e Cultura Pop é propor aos alunos uma pesquisa sobre suas escolhas musicais: Que Cultura Sonora está presente em suas vi- vências culturais? Como lidam com a indústria cultural da música? E outras questões. Os alunos podem pesquisar sobre suas culturas e escolhas de músicas com seus amigos e familiares e depois um debate sobre o resultado dessa pesquisa pode acontecer na Escola. Também podemos pensar em criar um Festival de Música ou saraus de Arte na Escola. Nesse projeto, o professor pode resgatar a história dos Festivais de Música Popular Brasileira para trabalhar história da Música. Há muitas ideias, mas é fundamental, também, trabalhar com a escuta sensível de vários tipos e gêneros musicais para ampliar o repertório dos alunos. Cultura Pop Sobre esse tema, uma sugestão é trabalhar com seções de leituras de imagens. Por exemplo: apresentar mais imagens de artistas da Arte Pop e fazer vários momentos de nutrição estética (apreciação e interpretação de imagens). Outra ideia é propor aos alunos que criem trabalhos visuais com repetições de imagens, variando cores e efeitos, a exemplo da obra de Andy Warhol. Essas imagens podem refletir o mundo cultural dos alunos escolhendo imagens atuais de ícones da indústria cultural e Cultura de massa. Andy Warhol usou, em várias de suas pinturas, ícones da Cultura de sua época como Elvis e Marilyn Monroe. Mas quais são os ícones e os ídolos atuais que os alunos percebem na mídia? 27 UNIDADE Nossas Culturas Cultura Queer A Escola é vista como o lugar do conhecimento, um local seguro para conviver com amigos e ser feliz; porém, há muitos conflitos nesse espaço. As inseguranças e os sofrimentos podem acontecer em função de situações vivenciadas por causa de preconceitos. O etnocentrismo é um dos motivos desses conflitos. São choques culturais originados pela intolerância e pelo julgamento etnocêntrico. Podemos propor aos alunos momentos de debate e roda de conversas para falar do etnocentrismo como ato de julgar o outro com base na própria Culturae nos próprios valores. Essa postura pode ser vista na atitude dos alunos e, em alguns casos, nos pais, professores e outros agentes da Escola. Nesse sentido, muitas crianças e jovens sofrem bullying, ou seja, o ato de violência contra aqueles que não atendem ao padrão homogêneo de uma sociedade. Assim, criar debates, projetos e ações educativas pode minimizar esses conflitos e garantir formação para a cultura da paz, que é uma das ações urgentes da Escola contemporânea brasileira. A cultura da paz é proposta pela Organização das Nações Unidas (ONU) e indica organizar e promover campanhas mundiais para a Educação dos alunos na compreensão e aceitação da Cultura do outro. Assim, essa atitude pode começar pela Escola: os alunos podem criar desenhos, pinturas, músicas, danças, peças teatrais, performances e elaborar estatutos da paz, entre outras ideias, com base nos princípios da Educação para a cultura da paz e para trabalhar e compreender melhor a Cultura Queer. Exposições podem ser organizadas na Escola para apresentar essas produções. Multiculturalismo Estudar sobre a Arte e a Cultura hoje é fundamental para compreender o mundo em que vivemos e saber lidar melhor com a diversidade e a Educação multicultural. A tendência no ensino de Arte conhecida como multiculturalismo prevê o trabalho com Arte e Cultura de modo mais abrangente e global. Nessa tendência da Arte Educação, temas como os tratados aqui são relevantes, assim como o estudo da pluralidade cultural brasileira, da cultura global e da diversidade. 28 29 Além dos temas tratados aqui até agora, também podemos explorar numa educação multicultural as manifestações regionais de Cultura, como a Cultura Popular. Festas e ofícios podem ser investigados para compreender patrimônios materiais e imateriais. O conceito de patrimônio cultural pode ser explicado como sendo a soma dos bens culturais (materiais e imateriais) de um povo, sendo que patrimônio cultural material são objetos e construções materiais, como, por exemplo: pinturas, esculturas, prédios, cidades, partituras e textos, entre outros. E patrimônio cultural imaterial são expressões, tradições e formas de criação de uma pessoa ou de uma comunidade transmitida de geração para geração, como, por exemplo: ofícios na construção de instrumentos, cestarias, objetos de barro ou na execução de músicas, cantos, ritos e danças, entre outros tipos. Você pode pesquisar mais lendo o Artigo 216 da Constituição Federal (1988), que conceitua patrimônio cultural assim: Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I – as formas de expressão; II – os modos de criar, fazer e viver; III – as criações científi cas, artísticas e tecnológicas; IV – as obras, objetos, documentos, edifi cações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científi co. BRASIL. Presidência da República. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 11 mar. 2015. Ex pl or Aqui apontamos alguns conceitos e temas; também sugerimos algumas ações educativas, mas esses assuntos são muito amplos e podem ser mais pesquisados por você. Amplie seus saberes sobre as Nossas culturas. 29 UNIDADE Nossas Culturas Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Nesta Unidade, o foco de nossos estudos foi a abordagem sob a ótica do multiculturalismo. Para ampliar seus estudos, propomos leituras básicas e complementares. Veja as indicações: Livros Cultura Visual, Mudança Educativa e Projeto de Trabalho HERNÁNDEZ, F. Cultura Visual, Mudança Educativa e Projeto de Trabalho. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. (cap. 1,2 e 3); Arte/Educação Contemporânea: Consonâncias Internacionais BARBOSA, A. M. T. B. (Org.) Arte/Educação Contemporânea: Consonâncias Internacionais. São Paulo: Cortez, 2005. (partes 3 e 4). Leitura Arte Popular: Perspectivas Multiculturais para o Ensino das Artes Visuais no Brasil Arte popular: perspectivas multiculturais para o ensino das artes visuais no Brasil. Autoras: Amanda Cristina Figueira Bastos de Melo e Bianka Pires André. https://goo.gl/H1Ht5m Arte, Cultura e Ensino Multicultural Você também pode ampliar seus saberes lendo artigos sobre Arte, Cultura e ensino multicultural. 30 31 Referências ANDRADE, Carlos Drummond de. Eu, etiqueta. In: Corpo. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 53. BARBOSA, A. M. T. B. (Org.) Arte/Educação Contemporânea: Consonâncias Internacionais. São Paulo, Cortez, 2005. BARBOSA, A. M. T. B. (Org.) Arte-educação: leitura no subsolo. 4.ed. São Paulo: Cortez, 2002. ______. Inquietações e Mudanças no Ensino da Arte. 2.ed. São Paulo, Cortez, 2008. BARBOSA, A. M. T. B. A imagem no ensino da Arte. 4.ed. São Paulo: Perspectiva, 2001. ______. Tópicos utópicos. Belo Horizonte: C/Arte, 1998. BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica. Brasília: MEC/SEB/Dicei, 2013. ______. Estatísticas sobre educação escolar indígena no Brasil. Brasília: Inep, 2007. Ministério da Educação. Disponível em: <http://www.oei.es/quipu/brasil/ estadisticas/educ_indigena2007_1.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2015. ______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n.º 5.692/71. Brasília: MEC, 1971. BRASIL. ______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96. Brasília: Editora do Brasil, 1996. ______. Parâmetros curriculares nacionais: apresentação dos temas transversais, ética / Secretaria de Educação. Fundamental. Brasília: Secretaria de Educação Fundamental/MEC/SEF, 1997. ______. Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997. ______. Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte (5ª a 8ª séries). Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. ______. Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte. v.6. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997. ______. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: Presidência da República, 1988. HERNÁNDEZ, F. Cultura visual, mudança educativa e projeto de trabalho. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. HERNANDEZ, F.; VENTURA, M. A. Organização do currículo por projetos de trabalho. 5.ed. Porto Alegre: Artmed, 1998. 31 UNIDADE Nossas Culturas LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. MARTINS, M. C.; PICOSQUE, G.; GUERRA, M. T. T. Teoria e Prática do Ensino de Arte: a língua do mundo. Livro do aluno. São Paulo: FTD, 2009. MASCELANI, A. O Mundo da Arte Popular Brasileira. 2.ed. Rio de Janeiro: Museu Casa do Pontal, 2006. MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 9.ed. São Paulo: Cortez; Brasília: UNESCO,2004. NASCIMENTO, E. A. Perspectivas multiculturais na Proposta Triangular. Arte & Educação em Revista, Porto Alegre, n.3, p.7-11, jul./dez.1996. QUINTANA, Mário. Quintana de bolso. Porto Alegre: L&PM, 2010. RIBEIRO, Darcy. Noções de coisas. São Paulo: FTD, 1995. RICHTER, I. M. Interculturalidade e Estética do Cotidiano no Ensino das Artes Visuais. São Paulo: Mercado de Letras, 2003. SANTAELLA, L. Culturas e artes do pós-humano: Da cultura das mídias à cibercultura. 2.ed. São Paulo: Paulus, 2003. SANTOMAURO Beatriz. O que ensinar em Arte. Reportagem da revista nova escola publicada em NOVA ESCOLA Edição 220, MARÇO 2009. Título original: Conhecer a cultura. Soltar a imaginação. Disponível em: <http://acervo.novaescola. org.br/formacao/conhecer-cultura-soltarimaginacao-427722.shtml?page=1>. Acesso em: 24 fev. 2016. SANTOS, J. L. O que écultura. São Paulo: Brasiliense, 1994. SCHAFER, R. Murray. A afinação do mundo. São Paulo: Unesp, 2001. ______. O ouvido pensante. São Paulo: UNESP, 1991. SCIENCE, Chico; MAIA, Lúcio. Etnia. Intérprete: Chico Science & Nação Zumbi. In:_____. Afrociberdelia. Rio de Janeiro: Sony Music, 1996. CD. Faixa 3. Disponível em: <http://www.recife.pe.gov.br/chicoscience/>. Acesso em: 24 fev. 2016. UTUARI , Solange e outros. Por Toda Parte, 6.º ano. São Paulo: FTD, 2016. VALENTE, A. L. Educação e diversidade cultural: um desafio da atualidade. São Paulo: Moderna, 1999. VELOSO, Caetano. Letra só. Organização e notas Eucanaã Ferraz. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. 32