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Prévia do material em texto

Programa de Pós-Graduação EAD
UNIASSELVI-PÓS
SABERES, HERANÇA 
E MANIFESTAÇÕES 
CULTURAIS BRASILEIRAS
Autora: Rosana Soares
306
S676s Soares, Rosana
 Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras / 
 Rosana Soares. Indaial : Uniasselvi, 2011. 135 p. : il.
 
	 	 	 Inclui	bibliografia.
 ISBN 978-85-7830-506-2
 1. Cultura; 2. Manifestações culturais.
 I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Reitor: Prof. Dr. Malcon Tafner
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel
Equipe Multidisciplinar da
Pós-Graduação EAD: Profa. Hiandra B. Götzinger Montibeller
 Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald
 Profa. Jociane Stolf
Revisão de Conteúdo: Profa. Tatiana dos Santos Silveira
Revisão Gramatical: Profa. Camila Thaisa Alves
Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci
Copyright © Editora Grupo UNIASSELVI 2011
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial.
Mestre em Artes Visuais pelo Programa 
de Pós-Graduação em Artes Visuais - UDESC. 
Possui graduação em Artes Visuais pela Fundação 
Universidade Regional de Blumenau (2003). Atuou 
como bolsista promop da Universidade do Estado de 
Santa Catarina - UDESC. Tem experiência na área do 
ensino de Artes, voltado para Arte-Educação em escolas. 
Participou de exposições de artes plásticas. Participa e 
desenvolve pesquisas junto ao Grupo Educógintans 
(cadastrado no CNPQ), vinculado ao Programa 
de Pós-Graduação em Educação (Mestrado 
em Educação) da Universidade Regional de 
Blumenau, FURB - Blumenau, SC- Brasil.
Rosana Soares
Sumário
APRESENTAÇÃO ........................................................................... 7
CAPÍTULO 1
A	Arte:	Conceitos	Teóricos	Fundantes	 ................................... 9
CAPÍTULO 2
Uma	Questão	de	Cultura	e	Identidade	 .................................... 33
CAPÍTULO 3
Os	Entrelaçamentos	entre	Arte	e	Cultura	 .......................... 57
CAPÍTULO 4
Manifestações	Artísticas	Brasileiras	 .................................... 75
CAPÍTULO 5
Os	Padrões	da	Cultura .............................................................. 99
CAPÍTULO 6
Cultura	Brasileira	e	Educação	 .............................................. 117
APRESENTAÇÃO
Caro(a) pós-graduando(a):
O cadernos de estudos intitulado “Saberes, Herança e Manifestações 
Culturais Brasileiras” se propõe a dialogar acerca da arte e da cultura como parte 
das ações dos sujeitos, problematizando questões inerentes a esses fenômenos. 
Sendo	 assim,	 os	 conceitos	 históricos,	 as	 influências	 sociais,	 questões	 políticas	
que interferem na construção de conceitos relativos à cultura e arte são discutidos, 
buscando aproximação com a necessidade de expressão e comunicação do ser 
humano e o lugar que essa produção ocupa em cada sociedade.
Esse entendimento da arte como produto do trabalho de um sujeito histórico 
socialmente	 construído	 nos	 permite	 refletir	 sobre	 a	 arte	 brasileira	 desde	 seus	
primórdios,	reconhecendo	seus	espaços,	suas	conquistas	e	 influências	culturais	
no que se refere especialmente à arte popular e à cultura popular. 
Neste	 sentido,	 o	 capítulo	 I	 aponta	 os	 “Conceitos	 Teóricos”	 da	 arte	 como	
produção humana, uma visão geral da arte e do homem desde os registros da 
arte rupestre, passando pelos principais momentos de mudança na forma de 
criação	artística,	em	várias	linguagens.	
O	capítulo	 II	discute	a	 identidade	cultural,	os	entrelaçamentos	de	questões	
culturais	que	influenciam	a	constituição	dos	grupos	que	se	identificam	em	práticas,	
crenças e ritos. 
O	 terceiro	capítulo	vai	 tratar	da	cultura	e	da	arte	erudita	no	diálogo	com	a	
cultura popular e com a arte popular brasileira, envolvendo também as questões 
específicas	do	folclore.	
No	 rastro	 da	 discussão	 da	 arte	 brasileira,	 o	 capítulo	 IV	 se	 debruça	 sobre	
os suportes utilizados na criação da arte brasileira, as diferentes linguagens, 
elegendo algumas para o estudo da variedade no uso da matéria prima e as 
influencias	auferidas.	
A discussão em torno da arte brasileira e suas múltiplas heranças culturais 
está	 atreladas	 às	 delimitações	 de	 identidade	 que	 no	 início	 da	 colonização	 se	
configuram,	 mas	 que	 sucumbem	 ao	 refletirem	 a	 fragilidade	 da	 definição	 do	
termo, que segrega sujeitos baseados em questões de raça e gênero. Por ser 
tão miscigenada, a cultura brasileira é referenciada no plural, pois só assim 
é	 possível	 falar	 de	 todas	 as	 formas	 que	 constituem	 o	 povo	 brasileiro.	 Esse	
assunto	é	discutido	com	mais	profundidade	nos	capítulos	V,	VI	e	VII,	nos	tópicos	
que discutem questões referentes à memória, identidade, interculturalidade e 
padrões de cultura.
A autora.
CAPÍTULO 1
A	Arte:	Conceitos	
Teóricos	Fundantes
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 9 Refletir	sobre	os	conceitos	de	arte	presentes	em	seus	fundamentos	teóricos.	
 9 Identificar	as	especificações	das	artes	como	manifestações	humanas.
 9 Entender a estética como parte dos fundamentos da obra de arte.
 9 Refletir	sobre	as	informações	das	obras	de	arte	como	discurso	da	memória	e	
da prática humana.
 9 Contextualizar	a	obra	dentro	de	seu	espaço	social	e	político.
10
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
11
A Arte: Conceitos Teóricos FundantesCapítulo	1
Contextualização	
Quando	pensamos	a	respeito	da	definição	do	que	seria	a	arte,	rapidamente	
pensamos a respeito do sujeito que tem ações que resultam em arte. É quase 
automático	 pensarmos	 nas	 primeiras	 manifestações	 artísticas	 buscando	 um	
embasamento	histórico	e	social	da	arte	de	cada	 tempo.	Neste	capítulo	sobre	a	
arte e seu conceitos fundantes, o objetivo é reconhecer a arte como manifestação 
e necessidade humana, que não são estanques, passam por mudanças conforme 
caminha o tempo.
A	Arte
Na	 busca	 de	 uma	 definição	 do	 que	 é	 Arte,	 conseguimos	 uma	
aproximação dos elementos que compõe a arte e sua relação com o 
homem. É através da criação humana que a arte surge como ação 
que traz consigo conceitos estéticos como a beleza, por exemplo. No 
entanto, a arte oferece outros fatores que a autenticam, entre eles os 
sentimentos humanos, as emoções permeadas pela cultura. Na ação 
que comporta a arte, os saberes de cada sujeito direcionam a criação 
da obra de arte, podendo assumir formas variadas como a pintura, a 
música, a escultura, o cinema, o teatro, a dança, a arquitetura entre 
outras. A arte é também comunicação entre sujeitos, criador e fruidor.
 
Fruir: a palavra fruição deriva do verbo latino “fruere” (da forma 
fruitione – fruir) cujo sentido é o de estar na posse de, possuir. No 
processo	de	fruição	está	implícita	a	atividade	de	leitura,	entendendo-
se que ler é uma atividade humana produzida em situações sócio-
históricas específicas e que mobiliza mecanismos linguísticos,	
psicológicos, sociais, culturais e históricos que resultam na produção 
de sentidos. (PCSC-Arte, 1998, p.188)
A	arte	envolve	os	sentidos	humanos,	podendo	variar	os	estímulos	de	cada	
sentido dependendo do suporte da obra, como por exemplo, a música e a pintura. 
Neste	viés,	a	arte	é	também	necessidade	humana,	de	início	com	caráter	pratico,	
assumindo no decorrer do tempo um espaço importante na vida dos sujeitos, 
tornando-se elemento constitutivo da história e da cultura dos homens. A arte é 
também	necessidade	quando	reflete	a	história	e	torna-se	elemento	de	investigação	
É através da 
criação humana 
que a arte surge 
como ação que 
traz consigo 
conceitos 
estéticos como a 
beleza
12
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
e descoberta do mundo que está no nosso horizonte, e além dele. 
Nosso encontro coma arte e a revelação dos elementos que a constitui 
está atrelada à nossa experiência, do que pra nos já é familiar, permite 
avançar na descoberta de novos elementos. Tanto artista como fruidor 
se	encontram	na	arte	imbuídos	de	saberes	oriundos	do	meio	no	qual	se	
desenvolveram. A imaginação é o elemento que confere um tempero 
especial	 à	 experiência	 de	 viver	 a	 arte.	 Nesse	 ínterim,	 se	 concentra	
também a arte como possibilidade: ela nos permite criar, imaginar, 
desconfiar,	perguntar.	
Poderíamos	 dizer	 de	 modo	 bem	 simples	 que	 a	 arte	 é	 um	
produto da criatividade humana, que, utilizando conhecimentos 
e técnicas e um estilo ou jeito pessoal, transmite uma 
experiência de vida ou uma visão de mundo, despertando 
emoção em quem a usufrui. (FEIST,1996, p. 9).
Essa visão de mundo que traz a arte com sua marca histórica 
é também fonte de informações das mudanças que o mundo passa. 
Podemos	entender	as	culturas	com	suas	especificidades,	as	sociedades	
que	 compõem	 o	 mundo	 também	 através	 da	 arte	 construída	 pelos	
sujeitos que em cada tempo viveram e testemunharam, com suas ações 
práticas envolvidas pelo sentir e pensar. São também as mudanças 
que ocorrem no mundo que vão permitir a propagação das ideias que 
compõem a arte entre os povos. A arqueologia tem papel importante 
nesse processo de redescoberta de elementos da arte, apoiada pela 
tecnologia que divulga essas descobertas, revelando técnicas e 
fundamentos da arte de todos os tempos. Assim, ao pensarmos em 
arte,	é	interessante	assumir	um	olhar	flexível	e	curioso,	necessário	para	
usufruir	 com	 todo	o	 ganho	possível	 deste	 universo	histórico,	 cultural,	
particular	e	social	em	que	a	arte	está	situada.	Arte	é	também	reflexo	e	
resultado do fazer, pensar e sentir. 
No ser humano, porém, as reações expressivas de nosso 
estado	 de	 espírito	 transformaram-se	 em	 linguagem	 -,	 um	
conjunto de signos que, articulados, expressam ideias -, 
permitindo que possamos compartilhar como os outros as 
emoções vividas. (COSTA, 2004. p.9).
A arte em seus múltiplos meios traz em cada obra a marca do seu criador, 
e sua intencionalidade é apresentada ao fruidor para que ocorra a comunicação 
necessária. E esse encontro oferece emoções variadas, em que a satisfação está 
presente em boa parte. Nesse sentido, podemos apontar o prazer como elemento 
que compõe a arte e através dela é compartilhado.
O prazer desse compartilhamento acabou por ser mais 
importante do que a utilidade expressiva do gesto. Passamos 
A arte envolve 
os sentidos 
humanos, 
podendo variar 
os estímulos de 
cada sentido 
dependendo 
do suporte da 
obra, como 
por exemplo, 
a música e a 
pintura.
No ser humano, 
porém, as 
reações 
expressivas de 
nosso estado 
de espírito 
transformaram-se 
em linguagem 
-, um conjunto 
de signos que, 
articulados, 
expressam ideias 
-, permitindo 
que possamos 
compartilhar 
como os outros 
as emoções 
vividas. (COSTA, 
2004. p.9)
13
A Arte: Conceitos Teóricos FundantesCapítulo	1
a sentir prazer nas emoções propostas pelos outros por meio 
da linguagem. Assim inventamos a arte. (COSTA, 2004. p.9).
Nesse caminho do prazer, a arte se concentra em propiciar o despertar das 
emoções. Uma música, dependendo de sua melodia, nos remete às mais variadas 
emoções, assim também uma peça de teatro, uma pintura entre outras formas de 
arte. Percebe-se, assim, que a praticidade da arte tem seu movimento alterado 
pelos sentimentos e visão de mundo que o artista insere na sua obra no momento 
da criação. Os saberes necessários acerca de cada obra e seu contexto tornam-
se fundamentais para que o fruidor tenha pleno acesso à obra. “Desse modo, 
a	 arte	 não	 está	 no	 objeto	 artístico,	mas	 no	 encontro	 que	 esse	 objeto	 promove	
entre duas subjetividades e no compartilhamento da emoção poética” (Costa, 
2004 p.18). Esse encontro pode não ser natural, pois depende da bagagem de 
saberes que cada um traz consigo, mas é importante a aproximação máxima com 
as obras, ampliando assim o universo cultural de cada um. Pois, como nos lembra 
Gombrich (1999), olhar um quadro aventurando-se em uma viagem de descoberta 
pode	ser	 tarefa	difícil,	mas	compensadora,	pois	a	viagem	de	volta	 traz	enorme	
recompensa. A arte é caminho que vale a pena ser trilhado.
O	Tempo	e	a	Arte
 
A arte não surge de forma natural, como o homem. As primeiras 
expressões,	 hoje	 consideradas	 artísticas,	 do	 homem	 das	 cavernas	
estavam ligadas a crenças que despertavam nesse humano o desejo 
de entender, dominar e representar seu cotidiano. Foi somente com o 
passar do tempo que o registro do cotidiano rupestre recebeu o caráter 
de	 arte.	Porque	 a	 arte	 surge	 em	um	determinado	 período	 do	 tempo,	
apontado	pela	filosofia	como	de	desenvolvimento	humano.	Não	é	a	arte	
ação inerente ao ser humano, mas surge em um estágio consciente de 
desenvolvimento deste, no decorrer do tempo. “A arte está relacionada 
à história da humanidade e às suas conquistas, a natureza humana e 
seu simbolismo, à herança cultural dos grupos e ao desenvolvimento 
individual das pessoas” (COSTA, 2004 p.11). As mudanças pelas quais 
a arte passa estão relacionadas ao meio social e cultural de cada 
grupo, por isso as artes são entendidas como datadas e identitárias de 
culturas dos povos.
 
[...] nessa perspectiva, a sociologia da arte se propõe a 
entender o papel da arte na sociedade, a função social 
do artista, o sentido de um som ou de uma imagem num 
de terminado contexto social, o processo de consagração 
artística,	a	dinâmica	do	processo	artístico	e	a	relação	existente	
entre arte consagrada e vanguarda. (COSTA, 2004. p.17).
As primeiras 
expressões, hoje 
consideradas 
artísticas, do 
homem das 
cavernas estavam 
ligadas a crenças 
que despertavam 
nesse humano 
o desejo de 
entender, dominar 
e representar seu 
cotidiano.
14
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
O estudo sociológico da arte aponta esse caráter humano coletivo e ao 
mesmo tempo individual que na arte se manifesta. É a sociologia da arte que 
lança	esse	olhar	com	critérios	definidos	de	sociedade	temporal,	entendida	como	
meio	 fértil	 e	 influenciador	 da	 arte.	 Os	 aspectos	 da	 sociedade	 se	 caracterizam	
no	 meio	 político,	 econômico,	 religioso,	 influenciadores	 como	 um	 todo	 da	
sociedade na qual a arte é produzida, pois o sujeito criador é formado nesse 
contexto. Entender as mudanças que a arte também apresenta é parte do estudo 
sociológico	 da	 arte.	 Por	 isso,	 um	 olhar	 para	 as	 arestas	 da	 produção	 artística	
torna-se necessário, para que se possa ter maior entendimento da relação arte e 
sociedade. A universalidade da linguagem que a arte apresenta não deixa passar 
despercebidas as particularidades das criações e, nesse sentido, situa-se cada 
arte em seu tempo e seu meio social. 
O artista, sujeito criador e expressivo, tem suas produções 
situadas em determinados estilos e escolas, apontados por instituições 
autorizadas	a	 classificar	 a	 arte	 produzida.	Por	 isso,	 ao	 se	 discutir	 o	
gosto, ou a beleza de determinada obra, é importante lembrar que os 
conceitos de beleza também são variados: “Existem razões erradas 
para não se gostar de uma obra de arte” (GOMBRICH,1999, p.01). 
Na contemporaneidade, é interessante discutir que o gosto em relação 
às	obras	de	arte	parece	ganhar	importância	em	meio	à	multiplicidade	
de	 suportes	 e	 formas	 de	 arte.	 No	 entanto,	 no	 início	 da	 história	
da humanidade, a função exercida pelas esculturas e formas de 
arquitetura estava em evidência, além do gosto. É nesse sentido que 
apontamos que a arte surge com o desenvolvimento da humanidade, 
com a criação de critérios que envolvem conceitos em torno da beleza, 
permeados pela mudança de paradigmas. 
Essas	mudanças	nas	formas	de	sentir,	expressar,	refletir	sobre	determinadas	
ações cotidianas, estão fundamentadas no desenvolvimento do homem, e são as 
artes produzidas em cada tempo que permitem um olhar ao passado, tornando 
possívelconhecer	a	cultura	de	cada	povo.
Dos povos primitivos, que utilizavam esculturas, desenho, dança, sons 
como	parte	de	seu	cotidiano,	fica	 registrada	a	 forma	de	viver	em	um	 tempo	de	
adaptação. No entanto, avançando um pouco no tempo, encontramos o povo 
egípcio,	que	nos	deixa,	como	herança,	muito	mais.	
Na 
contemporaneidade, 
é interessante 
discutir que o 
gosto em relação 
às obras de arte 
parece ganhar 
importância em meio 
à multiplicidade de 
suportes e formas 
de arte.
15
A Arte: Conceitos Teóricos FundantesCapítulo	1
Figura 1 - Arte Rupestre 
Fonte:	Disponível	em:	<www.ab-arterupestre.org.br/
arterupestre.asp>. Acesso em: 10 out. 2011.
Não há tradição direta que ligue estes estranhos primórdios 
aos nossos dias, mas existe uma tradição direta, transmitida 
de	mestre	a	discípulo,	de	discípulo	a	admirador	ou	copista,	a	
qual vincula a arte de nosso tempo, cada construção ou cada 
cartaz, à arte do vale do rio Nilo de uns cinco mil anos atrás. 
(GOMBRICH, 1999. P. 55)
Não é objetivo deste texto registrar a história da arte, e sim 
lembrar	as	inúmeras	mudanças	ocorridas	sob	influência	do	passado,	
apontando	a	herança	egípcia,	que	vai	atuar	de	forma	marcante,	e	a	
cultura grega e romana, das quais somos herdeiros. E hoje, ao nos 
depararmos com as diversas formas de arte, conhecer a memória da 
arte se faz necessário.
A presença da arte nos mais diversos ambientes, 
de forma inusitada, invadindo nosso dia-a-dia, 
abre para os artistas um campo imenso de 
atuação	profissional.	Há	arte	nos	espaços	pelos	
quais transitamos nos locais onde estudamos 
ou trabalhamos e até nas embalagens dos 
produtos que consumimos. (COSTA, 2004, p.12)
Não é objetivo 
deste texto registrar 
a história da arte, 
e sim lembrar as 
inúmeras mudanças 
ocorridas sob 
influência do 
passado, apontando 
a herança egípcia, 
que vai atuar de 
forma marcante, e 
a cultura grega e 
romana, das quais 
somos herdeiros.
http://www.ab-arterupestre.org.br/arterupestre.asp
http://www.ab-arterupestre.org.br/arterupestre.asp
16
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
A	amplitude	que	a	arte	atinge	no	mundo	contemporâneo	nos	provoca	a	sentir	
nosso cotidiano de maneira diferenciada. A arte já não se limita a exposições e 
museus, concertos e peças de teatro, apesar de ainda ser encontrada nesses 
espaços. Ela nos surpreende em espaços inusitados, nos convidando a 
vivenciar a experiência estética. Nesse sentido, é pontual discutirmos a arte e os 
entrelaçamentos teóricos que a envolvem. Entre eles, a estética. 
Atividade de Estudos: 
1) As imagens são relatos históricos de tempos marcados pelo 
testemunho revelados nas obras. Diego Rivera é um importante 
crítico	social	e	sua	obra	um	legado	pra	humanidade.	Assim	sendo,	
“a arte não está no objeto artístico, mas no encontro que esse 
objeto promove entre duas subjetividades e no compartilhamento 
da emoção poética”. (Costa, 2004, p.18). Este encontro pode não 
ser natural, pois depende da bagagem de saberes que cada um 
traz consigo, mas é importante a aproximação máxima com as 
obras, ampliando assim o universo cultural de cada um. Pois, 
como nos lembra Gombrich (1999), olhar um quadro aventurando-
se em uma viagem de descoberta pode ser tarefa difícil, mais 
compensadora, pois a viagem de volta traz enorme recompensa. 
“A arte é caminho que vale a pena ser trilhado”
A	 partir	 destas	 reflexões	 vamos	 investigar	 uma	 das	 obras	
de	 Rivera	 (Retrato	 de	 Amedeo	 Modigliani	 1914):	 faça	 uma	 ficha	
catalográfica	da	obra	(ano,	tema,	contexto	sócio	político,	movimento	
artístico)	e	uma	pequena	biografia	do	artista,	assim	você	conhece	um	
pouco mais da arte latino americana.
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17
A Arte: Conceitos Teóricos FundantesCapítulo	1
A	Estética	na	Arte
Na concepção materialista de arte como criação do trabalho 
humano, fruto da percepção-expressão de seres humanos que vivem 
e produzem em um universo histórico, social e cultural, o produto do 
seu	 trabalho,	 a	 obra	 de	 arte,	 é	 constituído	 por	 posições	 não	 apenas	
estéticas,	mas	intelectuais,	éticas	e	políticas.	No	entanto,	é	a	estética	
que vamos assumir como ponto de interesse neste texto. O que seria 
“essa tal” estética? Qual o papel dela no contexto da obra de arte?
É comum associar a arte à beleza e ao sentimento. O motivo 
parece	 óbvio,	 já	 que	 a	 obra	 de	 arte	 vem	 muitas	 vezes	 imbuída	 de	
sentimento ou beleza, e muitas vezes traz ambos, pois “dentre as 
características	 mais	 importantes	 da	 arte,	 destacamos	 a	 emoção	
e	 o	 prazer	 que	 ela	 desperta	 e	 que	 alguns	 filósofos	 identificam	 como	
prazer do belo ou prazer estético” (COSTA, 2004, p. 21). No entanto, 
vale lembrar que a arte, em suas diversas formas de se apresentar, 
ultrapassa esses quesitos, mesmo estando em sintonia com eles em 
diversos momentos. A questão central no que se refere à estética 
passa a ser o conceito do que é belo, pois se entende que beleza tem 
suas variações envolvidas pelo gosto, pois “a beleza não é um valor 
universal, o que é belo pra você pode não ser para o outro, de outra 
idade, outra cultura, outro sexo ou outro temperamento” (COSTA, 
2004, p. 24). Nessa perspectiva, problematizar questões estéticas 
parece adentrar um universo permeado por inúmeras questões que 
fazem	 confluência	 também	 com	 a	 obra	 de	 arte.	 A	 definição	 do	 que	
seria estética está ligada diretamente aos termos do gosto e da beleza. 
Beleza	e	obra	de	arte	ganham	importância	na	Grécia
Filme sobre a arte grega:
Arte	grega	-	http://br.youtube.com/watch?v=O5dY4FlLiTc
Arte	grega	-	desenho	-	http://br.youtube.com/watch?v=lC-A07_sE74
“Navegantes: Gregos - Grécia” http://objetoseducacionais2.
mec.gov.br/handle/mec/2035	 ou	 no	 http://br.youtube.com/watch?	
v=cfSiFBvxtdw
Fonte:	http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=966
A questão central 
no que se refere 
à estética passa 
a ser o conceito 
do que é belo, 
pois se entende 
que beleza tem 
suas variações 
envolvidas pelo 
gosto, pois “a 
beleza não é um 
valor universal, 
o que é belo 
pra você pode 
não ser para o 
outro, de outra 
idade, outra 
cultura, outro 
sexo ou outro 
temperamento” 
(COSTA, 2004, 
p. 24).
http://br.youtube.com/watch?v=O5dY4FlLiTc
http://br.youtube.com/watch?v=lC-A07_sE74
http:// http//objetoseducacionais2.mec.gov.br/handle/mec/2035
http:// http//objetoseducacionais2.mec.gov.br/handle/mec/2035
http://br.youtube.com/watch?v=cfSiFBvxtdw
http://br.youtube.com/watch?v=cfSiFBvxtdw
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=966
18
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
Os gregos foram os primeiros a deixar registrado o 
reconhecimento da emoção que vem da beleza e a consciência 
de sua particularidade. Foram eles também que criaram 
a	 estética	 –	 ciência	 que	 estuda	 o	 belo	 e	 que	 reflete	 sobre	
características	 e	 condições	 da	 beleza.	 Assim	 desenvolve-
se o conceito de arte, nome que se dá genericamente àquilo 
que o homem produz com a intenção de provocar admiração 
e emoção estética através do uso de recursos formais das 
diversas linguagens humanas. (COSTA, 2004, p. 35).
Influenciado	por	essa	herança	grega	de	estudo	das	emoções	e	da	
beleza,	o	termo	estética,	em	sua	definição	filosófica,	“foi	utilizado	pela	
primeira	vez	em	meados	do	século	XVIII,	pelo	filosofo	alemão	AlexanderGottlieb Baumgarten (1714-62), que o aplicou com referência à teoria 
das	artes	liberais	ou	à	ciência	da	beleza	perceptível”	(CHILVERS,	2001,	
p	180).	Partindo	desse	conceito,	outros	filósofos	irão	discutir	a	estética	
tendo	como	base	outros	princípios,	como	Kant,	por	exemplo,	em	seu	
estudo acerca de uma estética transcendental envolvendo o gosto e 
o	sublime.	Outro	filósofo	que	vai	discutir	a	esfera	da	estética	é	Hegel,	
trazendo a ideia como aparência, mostrando assim diferentes formas 
de	 ser	 estética.	 Outros	 tantos	 filósofos	 se	 debruçaram	 em	 torno	 da	
problemática que envolve a estética, empregando diferentes valores 
e	 definições	 ao	 termo.	 “A	 própria	 história	 da	 arte,	 procurando	 definir	
os diversos movimentos estéticos da arte ocidental, tem posto em 
evidência	e	variabilidade	dos	princípios	estéticos	e	das	tendências dos 
artistas de uma época para outra” (COSTA, 2004, p. 25).
O que se pode notar de forma geral são as variações em torno do termo, 
identificando,	assim,	as	mudanças	em	cada	época.	Nesse	processo,	 também	a	
estética	 é	 influenciada,	 pois	 “Nas	 últimas	 décadas,	muitas	 foram	 as	 definições	
propostas da estética, algumas das quais sem reformular em nova linguagem as 
antigas concepções mencionadas” (MORA, 2001, p. 232). O que interfere no uso 
do	termo	estética	são	posturas	teóricas	que	alimentam	a	definição	do	que	é	ser	
estético	no	âmbito	da	arte	em	determinada	sociedade.	
Existem mecanismos na sociedade que permitem que certos 
grupos legitimem seu gosto e o disseminem entre as pessoas, 
tornando quase uma unanimidade. Esses mecanismos estão 
ligados	 a	 instituições	 políticas,	 educacionais	 e	 culturais	
existentes. (COSTA, 2004, p.37).
Assim,	 é	 a	 estética	 que	 tolera	 influência	 em	 cada	 tempo	 e	 espaço	 social,	
se	 adapta,	 e	 assim	 pode-se	 dizer	 que	 sua	 definição	 está	 entrelaçada	 com	
posições	políticas,	sociais	e	culturais.	Nesse	sentido,	os	elementos	de	gosto	que	
acompanham	a	 estética	 são	 flexíveis	 e	 permitem	a	 aceitação	 e	 a	 discordância	
como fatores de tensão necessários para legitimar a estética como elemento da 
arte, que também se mostra mutante. 
“A própria 
história da arte, 
procurando 
definir os diversos 
movimentos 
estéticos da 
arte ocidental, 
tem posto em 
evidência e 
variabilidade 
dos princípios 
estéticos e das 
tendências dos 
artistas de uma 
época para outra” 
(COSTA, 2004, 
p. 25).
19
A Arte: Conceitos Teóricos FundantesCapítulo	1
O	cenário	contemporâneo	vai	desordenar	o	uso	do	termo	estética, na medida 
em que banaliza e generaliza o sentido do termo. Despreocupado com a tradição 
dos	estudos	acerca	da	estética,	a	mídia	utiliza	o	termo	como	sinônimo	de	beleza,	
e essa beleza é ditada pela indústria cultural. É comum encontramos centros de 
beleza e de moda que trazem em seu nome ou em slogan o termo “estética”. É 
trivial e aceito pelo grande público o termo “estética” associado à beleza pessoal e 
dos	utensílios,	divulgado	nos	meios	de	comunicação	de	massa,	como	TV,	jornais,	
revistas, entre outros. 
No entanto, em se tratando de arte e estética, o elemento beleza é presente, 
mas	 não	 é	 suficiente	 para	 o	 real	 encontro	 entre	 obra	 e	 fruidor,	 encontro	 este	
que se propõe a desenvolver o humano em sua amplitude. Assim, é importante 
estar consciente que vivemos em um tempo em que a indústria do consumo e 
do entretenimento atua de forma ativa na vida cotidiana de adultos e crianças. 
Os	produtos	e	os	programas	anunciados	na	TV	e	na	 internet	estão	disponíveis	
para todos, para serem desejados. Manter esse desejo de “ter” é também uma 
forma	de	alienar	e	controlar,	de	dominação	social	e	política,	arquitetada	por	meio	
da força da imagem, no projeto de globalização econômica ancorada no livre 
mercado e no consumismo como poder articulador da ordem social.
o	consumo	baseado	na	estética	(individual)	–	como	a	política	
do estilo – substituiu formalmente as seguras estruturas 
sociais como base para a formação da subjetividade. Quem 
eu sou agora é determinado pelo que e como eu consumo. 
(KRESS, 2003, p.121).
A	 identificação	 com	 os	 objetos	 consumidos	 é	 fenômeno	 presente	 no	
reconhecimento	 pessoal.	 Neste	 sentido,	 a	 subjetividade	 é	 subtraída	 de	 forma	
assustadora.	 Segundo	 Efland	 (2005),	 o	 mundo	 hoje	 se	 apresenta	 para	 cada	
um de nós, perante o avanço tecnológico e econômico, com uma uniformidade 
preocupante, hipnotizando as pessoas em todos os lugares com música rápida, 
computadores rápidos e comida rápida – MTV, Macintosh e Mac Donald’s-, 
pressionando as nações a virarem um mesmo e homogêneo parque temático, 
um mundo “Mac”, amarrado pela diversão, comércio, comunicação e informação. 
Nesse	sentido,	alertamos	sobre	a	formação	moral	e	política	dos	indivíduos	que,	
empobrecida de valores éticos e dominados pelo prazer imediato, não reconhece 
o consumo inconsciente como forma de desumanização, pois “o gosto assim 
legitimado torna-se dominante e resiste à mudança, ou parte dele, na medida em 
que	o	grupo	se	identifica	com	seus	princípios”	(COSTA,	2004,	p.37).
No que toca aos artistas, o produto do seu trabalho, a obra de arte, é 
constituído	por	posições	não	apenas	estéticas,	mas	intelectuais,	éticas	e	políticas	
e, por isso, torna-se elemento indispensável para se pensar a arte e a estética. 
Assim, fugindo do consumo indiferente que perpassa objetos e transforma pessoas 
20
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
em ávidos consumidores desses objetos, torna-se importante entender a vida 
também como obra de arte, coexistindo como as obras produzidas pelos homens. 
É necessário reverter a alienação estética, que afeta o ato criador do sujeito, bem 
como	a	fruição	da	obra	de	arte.	Os	juízos	estéticos	têm	verossimilhança	no	valor	
do dever, que objetiva a autorrealização humana permeada pela estrutura de 
valores	significantes.	
No	que	se	refere	às	competências	artísticas,	as	exigências	para	a	produção	e	
fruição	artística	são	discutidas	no	sentido	da	necessidade	do	artista	em	compreender	
o mundo e, por meio da elaboração dessa compreensão, traduzir sua obra. A 
capacidade criadora também é fundamental, buscando meios para concretizar seu 
pensamento	e	sua	visão	do	concreto.	É	um	exercício	dialético	da	práxis,	de	ordem	
espiritual-material,	com	objetivo	de	agir	na	realidade	a	fim	de	transformá-
la e humanizá-la, se autoconstituindo. Para o artista e para o público, 
nesse sentido, a arte tem a função social de compartilhamento de modos 
de ver, aprender, compreender e sentir o mundo. Por isso, a qualidade 
estética	é	de	suma	importância,	pois,	como	resultante	da	práxis,	a	arte	
reflete	a	posição	ético-ideológica	do	autor	e	provoca	a	tensão	necessária	
ao fruidor, elevando ambos em sua autorrealização.
Percebemos,	 assim,	 que	 a	 dinâmica	 da	 arte	 depende	
das transformações históricas, dos estilos e do próprio 
desenvolvimento dos artistas. Portanto, além de variar de uma 
pessoa para outra, o prazer estético transforma-se ao longo da 
nossa existência, e aquilo que nos encantava numa época pode 
depois se tornar menos belo e, para as gerações seguintes, 
muitas vezes, ultrapassado. (COSTA, 2004, p. 40).
Entender	 a	 estética	 como	 elemento	 importante	 de	 reflexão	 e	
desenvolvimento humano, como possibilidade de mudança, exige a 
consciência	 de	 um	 olhar	 crítico	 por	 parte	 dos	 artistas	 e	 do	 público,	
diferenciando assim os elementos que a compõe. Para que isso aconteça, 
é preciso o reconhecimento dos valores estéticos que perpassam as 
obras	de	arte,	cada	uma	em	seu	suporte	específico,	em	suas	estruturas.
Atividade de Estudos: 
1) Nesta atividade proponho pensar sobre as questões estéticas. 
Trago o fragmento do texto deste capitulo: ...”as variações em torno 
do termo (estética), identifica as mudanças em cada época pois 
a estética é influenciada:s “Nas ultimas décadas, muitas foram as 
definições propostas da estética, algumas das quais sem reformular 
em nova linguagem as antigas concepçõesmencionadas” (MORA, 
Entender a 
estética como 
elemento 
importante 
de reflexão e 
desenvolvimento 
humano, como 
possibilidade de 
mudança, exige 
a consciência 
de um olhar 
crítico por parte 
dos artistas 
e do público, 
diferenciando 
assim os 
elementos que a 
compõe.
21
A Arte: Conceitos Teóricos FundantesCapítulo	1
200, p.232). O que interfere no uso do termo estética, são posturas 
teóricas que alimentam a definição do que é ser estético no âmbito 
da arte em determinada sociedade. 
Faça	 um	 mosaico	 com	 06	 palavras:	 pense	 no	 que	 significa	
estética pra você e monte as palavras de forma aleatória! Utilize 
letras diferentes pra cada palavra.
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A	Estrutura	da	Obra
Cada obra de arte traz em sua estrutura elementos próprios que a 
constituem como partes fundantes do todo. Nesse sentido, a estrutura da obra 
aqui	referenciada	está	ligada	aos	elementos	materiais,	políticos,	sociais,	culturais,	
objetivos	 e	 subjetivos	 que	 estão	 presentes	 em	 cada	manifestação	 artística.	As	
diversas formas de arte utilizam diferentes suportes na sua organização. No que 
se refere à música e suas particularidades, também vai admitir em sua totalidade a 
letra e a melodia situadas em notas musicais e instrumentos variados. A estrutura 
global da música tem nomenclatura própria enquanto formas musicais, somadas 
as	suas	especificidades.	
No rastro temporal da música, podemos apontar sua presença no Egito. 
São	 as	 pinturas	 egípcias	 que	 nos	 dão	 essa	 informação,	 no	 registro	 de	 cenas	
cotidianas, com a presença de instrumentos musicais. 
22
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
Pinturas e esculturas gravadas em vasos, túmulos, inscrições 
e documentos com desenhos de instrumentos e dançarinos: 
foi dessa forma que nos foram transmitidas as transformações 
sobre as primeiras manifestações musicais. Sabemos 
assim	 que	 os	 egípcios,	 os	 assírios	 e	 babilônios	 possuíam	
instrumentos de corda, sopro e percussão e também 
soubemos sobre o canto conjunto em cerimônias festivas, 
guerreiras e fúnebres. (BERTELLO, 2003 p. 183).
Os gregos também tinham na música elemento importante de seu 
desenvolvimento	e	utilizavam	instrumentos	conhecidos,	como	a	flauta,	
a lira, o pandeiro. De uma maneira geral, a música se apresenta através 
da voz e de instrumentos, com suas variações. “Entre os gregos, a 
música era considerada elemento integrante da vida e do pensamento, 
fator	 fundamental	da	educação	do	espírito	e	da	 formação	de	caráter,	
era parte essencial do ensino da juventude” (BERTELLO, 2003 p.186). 
A	música,	 como	 arte,	 também	 sofre	 influências	 de	 seu	 contexto	
social,	político	e	cultural.	Nesse	sentido,	a	música	é	criada	e	reproduzida	
por	 um	 sujeito	 histórico	 e	 socialmente	 construído,	 permeado	 pela	
sensibilidade. Cada cultura tem sua forma musical de expressão, 
influenciada	 por	 seus	 antepassados	 e	 colonizadores.	 Os	 cantos	
cristãos	têm	forte	influência	dos	clássicos,	e	a	música	gregoriana	revela	
essa	 influência	 em	sua	melodia	mantida	em	nível	 único.	Também	na	
idade	média,	a	influência	clássica	se	revela	no	uso	agregado	da	poesia	
e melodia pelos trovadores. Já com o renascimento, outro elemento é 
acrescentado	à	música,	o	da	representação.	São	as	óperas	do	período	
renascentista que irão apresentar essa forma de música que engloba a 
representação	e	forma	de	texto	recitado.	Essa	influência	se	dilui	com	o	
passar	do	tempo	nas	diversas	formas	de	se	fazer	música,	em	períodos	
de aceitação da herança e também da negação dos clássicos.
Com	o	passar	do	tempo,	a	música	sofre	influências	múltiplas	e	se	
apresenta	em	cada	período	de	acordo	com	os	costumes	e	hábitos	da	
sociedade em que se manifesta. No Brasil, o encontro sonoro do homem 
se	dá	através	da	natureza.	Sendo	os	índios	os	primeiros	habitantes,	é	
a partir da imitação dos sons dos animais e dos sons do seu espaço 
habitado que irá se manifestar a melodia. Com a colonização do Brasil 
pelos portugueses e seu desenvolvimento econômico através das 
grandes	plantações,	outro	elemento	importante	vai	influenciar	a	música	
brasileira: as tradições sonoras dos escravos. Esse povo traz à nova 
terra não somente a força de seu trabalho, mas também suas heranças 
culturais, entre elas a música e a dança, embaladas pelos instrumentos 
de percussão. 
Pinturas e 
esculturas 
gravadas em 
vasos, túmulos, 
inscrições e 
documentos 
com desenhos 
de instrumentos 
e dançarinos: 
foi dessa forma 
que nos foram 
transmitidas as 
transformações 
sobre as 
primeiras 
manifestações 
musicais. 
Sabemos assim 
que os egípcios, 
os assírios 
e babilônios 
possuíam 
instrumentos 
de corda, sopro 
e percussão 
e também 
soubemos sobre 
o canto conjunto 
em cerimônias 
festivas, 
guerreiras 
e fúnebres. 
(BERTELLO, 
2003 p. 183)
23
A Arte: Conceitos Teóricos FundantesCapítulo	1
Figura 2 - Manifestações Culturais dos Escravos
Fonte:	Disponível	em:	<www.pitoresco.com/brasil/prazeres/
prazeres.htm>. Acesso em: 10 out. 2011.
Mas com todas as transformações que sofre a sociedade brasileira nesse 
período,	e	com	o	surgimento	de	novos	compositores,	como	Carlos	Gomes,	o	que	
fica	é	a	contribuição	da	música	medieval	para	o	surgimento	da	primeira	forma	de	
canção brasileira, a modinha (BERTELLO, 2003). 
Antônio Carlos Gomes (Campinas 11 de julho de 1836 – Belém, 
16 de setembro de 1896) foi o mais importante composior de ópera 
brasileiro. Destacou-se pelo estilo romântico, com o qual obteve 
carreira de destaque na Europa. É o autor da ópera “O Guarani”. 
Essas	 influências	pelas	quais	passa	a	música	brasileira	 têm	na	Modinha o 
reconhecimento	de	sua	identidade.		A	modinha	se	configura	como	uma	forma	de	
canção com melodia repleta de sentimentos e tocada por seresteiros. Já no século 
XX,	o	avanço	tecnológico	vai	 influenciar	as	formas	musicais	brasileiras	em	uma	
mescla	 de	 estilos.	 E	 o	 cenário	 contemporâneo	 é	 palco	 da	 diversidade	musical	
em caracteres e instrumentos, que no Brasil encontram acolhimento devido à 
pluralidade	étnica	que	constitui	o	país.	
No que se refere ao teatro, podemos dizer que, como arte, se 
constitui em textos, atores, público e em cenários permeados de 
intuitos	 disponíveis:	 “durante	 a	 apresentação	 de	 uma	 peça	 teatral,	
podem reunir-se as expressões: plástica, oral, musical e corporal” 
(BERTELLO, 2003 p. 130). O teatro também é arte antiga, pois tanto 
no Egito como na Grécia há registros de manifestações cênicas: 
“entre os gregos, o teatro era considerado instituição nacional e fator 
essencial da educação do povo” (BERTELLO, 2003 p. 186). 
Durante a 
apresentação de 
uma peça teatral, 
podem reunir-se as 
expressões: plástica, 
oral, musical e 
corporal (BERTELLO, 
2003 p. 130).
http://www.pitoresco.com/brasil/prazeres/prazeres.htm
http://www.pitoresco.com/brasil/prazeres/prazeres.htm
24
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
De	início,	as	representações	teatrais	serviam	às	manifestações	religiosas	e,	
posteriormente, educacionais. No Brasil não foi diferente: 
O teatro brasileiro, em sua história, tem marco importante com apresença	dos	jesuítas.	Os	jesuítas	escreveram	autos,	narrações	
escritas, comédias ou dramas, peças de um processo de fé, 
encenadas	pelos	indígenas,	visando	à	catequese:	o	padre	José	
de Anchieta é o autor dos autos mais importantes na história do 
teatro no Brasil. (BERTELLO, 2003 p. 131).
De uma maneira geral, a peça teatral traz uma mensagem ao público que a 
assiste e tem, entre seus objetivos, o diálogo. Nesse sentido, a estética presente 
age também como mediadora na compreensão da intencionalidade presente na 
encenação. O teatro, assim como as demais formas de arte, passa por mudanças 
através	das	influências	sofridas	em	consonância	com	o	tempo	histórico	e	com	as	
diversas culturas. 
No que se refere à dança, o corpo é elemento fundamental. Utilizando 
movimentos	 pré-estabelecidos	 ou	 improvisados,	 a	 dança	 se	 configura	 também	
como forma de expressão e comunicação, através do ritmo e da sensação. Em 
gestos sequenciais, a dança traz um sentido social em sua estrutura. Ela é também 
elemento somatório a algumas artes, como o teatro e a música, sem contudo 
deixar de ter suas particularidades. Realizada de forma individual, em pares ou 
mesmo	 em	grupos,	 a	 dança	 tem	 em	 sua	 trajetória	 a	 herança	 de	 ser	mística	 e	
religiosa: “passos e movimentos corporais com ritmo musical que expressam 
estados afetivos – existem danças de amor, de guerra, de religião” (BERTELLO, 
2003, p. 276). São variadas as formas de expressão através da dança, e os ritmos 
e a função de cada dança estão ligados à cultura de cada povo. 
Cada cultura transporta seu conteúdo para as mais diferentes 
áreas; as danças absorvem grande parte desta transferência, 
pois	sempre	foi	de	grande	importância	nas	sociedades	–	seja	
como	uma	forma	de	expressão	artística,	como	objeto	de	culto	
aos deuses ou como simples entretenimento. (BERTELLO, 
2003, p.276).
Dançar	 é	 também	 prazeroso	 ao	 indivíduo	 que	 executa	 os	 gestos	 e	 ao	
expectador. A dança como forma de comunicação é também possibilidade de 
realização	pessoal.	O	domínio	do	corpo	pelo	dançarino	é	tarefa	árdua,	que	exige	
concentração. Quando em grupo, a dança coreografada tem a colaboração e a 
sintonia como elementos importantes. No cenário atual, dançar é quase gesto 
natural. Como arte, tem a estética como elemento importante de valorização de 
uma arte que também passa por mudanças de acordo com seu tempo ritmado. 
25
A Arte: Conceitos Teóricos FundantesCapítulo	1
O que se conclui é que a dança nunca desaparece: muda de 
nome, sofre acréscimos, assume novos sentidos culturais, 
mas continua viva. As danças evolutivas isoladas deram lugar 
às danças de participação geral, da colaboração instintiva. 
(BERTELLO, 2003, p. 277).
Nesse sentido, a dança é arte também remota, a que as mudanças culturais 
e	o	 tempo	conferem	novas	 formas,	 sem,	 contudo,	 eliminar	as	 influências	pelas	
quais passou e pelas quais ainda vai passar. 
Figura 3 - Cultura Brasileira
 
Fonte:	Disponível	em:	<http://lmk21.com.br/wp-content/
uploads/2010/08/indios.jpg>. Acesso em: 10 out. 2011.
 
Figura 4 - Fantasia gigante da dança do Bumba-meu-boi
Fonte:	Disponível	em:	<www.brasilescola.com/folclore/
bumbameuboi.htm>. Acesso em: 10 out.2011.
http://www.brasilescola.com/folclore/bumbameuboi.htm
http://www.brasilescola.com/folclore/bumbameuboi.htm
26
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
Falando ainda da arte e de seus elementos estruturais, vamos 
encontrar	a	arquitetura,	forma	construída	com	o	intuito,	também,	de	ocupar	
o	espaço,	concentrando	ações	e	intencionalidades.	De	início,	prevalecia	
o caráter prático das primeiras construções, em que os construtores 
se preocupavam em abrigar e proteger os homens e construir templos 
com	fins	ligados	à	religião.	Posteriormente,	as	magníficas	construções	
arquitetônicas	 ultrapassaram	 essa	 funcionalidade.	 É	 na	Mesopotâmia	
que encontramos as primeiras construções com organização
Usando o tijolo seco como bloco básico de construção, os 
mesopotâmicos	 planejavam	 cidades	 complexas	 ao	 redor	 do	
templo.	Esses	amplos	complexos	arquitetônicos	incluíam	não	
só	 um	 santuário	 fechado,	mas	 também	oficinas,	 armazém	e	
zonas residenciais. (STRICKLAND, 1999, p. 6).
Observa-se que os templos seguiam como referência a organização 
urbanística	de	cada	civilização,	ocupando	posição	estratégica	no	espaço	
organizado para moradia. As construções em formas monumentais 
eram	marca	 da	 civilização	 egípcia.	As	 pirâmides	 são	 até	 hoje	 vistas	
como	verdadeiras	maravilhas	da	arquitetura,	e	influenciam	construções	
contemporâneas,	como	a	pirâmide	de	vidro	do	Louvre.
Figura	5	–	Pirâmides	do	Egito
Fonte:	Disponível	em:	<www.suapesquisa.com/historia/
piramides/>. Acesso em: 10 out. 2011.
Figura	6	–	Pirâmide	de	Louvre	
	Fonte:	Disponível	em:	http://www.world-city-photos.org/Paris/photos/
Louvre_in_Paris/Piramide_du_Louvre/>.Acesso em: 10 out. 2011.
Usando o tijolo 
seco como 
bloco básico de 
construção, os 
mesopotâmicos 
planejavam 
cidades complexas 
ao redor do 
templo. Esses 
amplos complexos 
arquitetônicos 
incluíam não só 
um santuário 
fechado, mas 
também oficinas, 
armazém e zonas 
residenciais. 
(STRICKLAND, 
1999, p. 6).
http://www.suapesquisa.com/historia/piramides/
http://www.suapesquisa.com/historia/piramides/
http://www.world-city-photos.org/Paris/photos/Louvre_in_Paris/Piramide_du_Louvre/>.Acesso
http://www.world-city-photos.org/Paris/photos/Louvre_in_Paris/Piramide_du_Louvre/>.Acesso
27
A Arte: Conceitos Teóricos FundantesCapítulo	1
Mas foi na Grécia que a arquitetura foi entendida como forma de arte, pois 
as	 construções	 eram	 feitas	 com	 o	 mesmo	 cuidado,	 considerando	 o	 equilíbrio	
necessário, usado nas obras das esculturas gregas. A arquitetura grega tem 
conotação de plenitude e estabilidade. Novamente, os templos foram referência, 
local onde aconteciam os encontros do público para celebrações. Seguindo a linha 
do tempo, a arquitetura romana trouxe como elemento novo o uso do concreto, e 
a	influência	grega	das	construções	únicas,	como	por	exemplo,	o	Coliseu.
Foi no Renascimento, já no século XV, que a tradição das construções 
romanas	 foi	 resgatada:	 “[...]	 formada	 nos	 mesmos	 princípios	 da	 geometria	
harmoniosa em que se baseavam a pintura e a escultura, a arquitetura recuperou 
o esplendor da Roma antiga” (STRICKLAND, 1999 p. 39). Vale ressaltar que a 
arquitetura revela a forma de pensar da sociedade, e de certa maneira delineia 
essa	 sociedade.	 Exemplo	 disto	 é	 a	 riqueza	 ostentada	 no	 período	 barroco,	 em	
que as catedrais eram entendidas como fundamental para a sedução do povo. 
No	entanto,	essa	mesma	arquitetura	ultrapassa	os	 limites	do	equilíbrio,	quando	
oprime o que está a seu redor. Nesse caso, vale citar o Castelo de Versalhes, 
sonho	de	autoridade	absoluta	de	Luís	XIV.
Já	no	século	XIX,	o	desenvolvimento	da	fotografia	e	a	descoberta	de	novos	
materiais manipuláveis da Nova Era, dita industrial, delinearam novas formas na 
arquitetura. Os exageros e enfeites tão usados nas construções, aos poucos vão 
sendo	deixados	para	fins	específicos.
Quando a revolução industrial pôs a disposição 
novos materiais, tais como escoras de ferro fundido, 
os arquitetos inicialmente as disfarçavam de colunas 
coríntias	 neoclássicas.	 Somente	 em	 estruturas	
utilitárias como pontes suspensas, estações de 
estradas de ferro e fábricas, o ferro fundido foi 
usado sem ornamento. (STRICKLAND, 1999 p. 89).
Ao poucos, esses materiais foram inseridos nas construções 
que se multiplicavam por todos os lados. Na arquitetura moderna, 
esses elementos assumiram o caráter funcional, e a escola alemã 
Bauhaus trouxe a essas construções uma arte com caráter de grupo 
e desenvolvimento de formas matemáticas. Surgem os arranha-céus. 
Acontece um distanciamento das formas clássicas. A arquitetura 
contemporânea	 embarcou	 nessa	 forma	 de	 utilizar	 os	 materiais	
inovadores, e trouxe também a cor como elemento diferenciado na 
nova concepção de construir. As linhasdas construções sofreram 
variações com curvas harmoniosas e formas variadas. Um exemplo 
dessa forma de se pensar a arquitetura é o Centre Pompidou, em 
Paris, onde podemos visualizar todos os serviços funcionais de sua 
Na arquitetura 
moderna, esses 
elementos 
assumiram o 
caráter funcional, 
e a escola 
alemã Bauhaus 
trouxe a essas 
construções uma 
arte com caráter 
de grupo e 
desenvolvimento 
de formas 
matemáticas. 
Surgem os 
arranha-céus.
28
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
estrutura. Notamos que, assim como na Grécia, a escultura e a arquitetura eram 
pensadas	de	forma	próximas,	no	cenário	contemporâneo,	ocorre	novamente	essa	
aproximação: a escultura do século XX também trouxe em sua forma estrutural 
esses novos elementos, só que em forma de sucata, colagem, entre outros. 
Importante lembrar que a atividade de ocupar o espaço com construções 
arquitetônicas passa, ao longo do tempo, assim como as demais formas de arte, 
por	modificações.	Sendo	 a	 arquitetura	 envolvida	 por	 elementos	 específicos	 em	
sua	estrutura,	tem	em	sua	forma	de	se	apresentar	influências	culturais	e	envolve	
elementos complexos que reúnem diversos campos de conhecimento, que 
influenciam	e	são	influenciados	no	contexto	geral	da	sua	silhueta	estrutural.
No	século	XIX,	o	universo	artístico	também	admitiu	novas	formas	estruturais	
de	expressão	e	comunicação,	como	o	cinema	e	a	fotografia.	O	cinema	se	estruturou	
através	das	sombras	chinesas	e	se	modificou	ao	longo	do	tempo	com	a	influência	
da	 fotografia.	Na	produção	cinematográfica	de	Hollywood,	os	filmes	de	ação	são	
os primeiros a conquistar o público, seguidos pelos gêneros suspense e drama. No 
século XX, tivemos também a graciosidade do cinema mudo de Charles Chaplin, 
mostrando	em	suas	produções	temas	sociais	de	forma	crítica.	Novamente	as	artes	
se	cruzaram,	e	o	cinema	e	a	música	se	revelaram	nas	figuras	do	ator	e	dançarino	
Fred Astaire e na representação de Carmem Miranda que, com suas cores e 
melodias,	conferiu	ao	Brasil	uma	identidade	alegre	e	colorida.	No	entanto,	as	críticas	
também	acompanharam	as	mudanças	mostradas	nas	formas	artísticas.
Novos movimentos da arte expressam a tentativa de 
questionar	 a	 expressão	 artística	 a	 partir	 do	 crescimento	 da	
indústria. Um deles foi o Kitsch, que procurou, apresentando 
objetos	 industriais	 bizarros,	 mostrar	 a	 natureza	 superficial	
exagerada	e	artificial	da	sociedade	contemporânea.	(COSTA,	
2004, p. 116).
A indústria, com sua fome insaciável de produzir, necessita que os 
consumidores tenham o mesmo apetite por seus produtos. A arte vai criticar essa 
superficialidade	do	desejo	construído	através	do	Kitsch.
KITSCH: objeto ou estilo que, simulando obra de arte, é apenas 
imitação de mau gosto para desfrute de um público que alimenta a 
indústria da cultura de consumo ou cultura de massa; atitude ou reação 
desse	público	em	face	de	obras	ou	objetos	com	essas	características.	
São	exemplos	típicos	de	kitsch	estatuetas	de	plástico	que	imitam	obras	
clássicas,	flores	artificiais,	certos	móveis	de	fórmica	e	quejandos.	
29
A Arte: Conceitos Teóricos FundantesCapítulo	1
Atualmente, os processos de consumo e produção são discutidos dentro de 
outras	áreas,	como	a	Sociologia,	a	Psicologia,	a	Filosofia	e	a	Arte,	que	também	
problematizam essas questões, que têm como foco principal o bem estar do 
sujeito, o resgate da individualidade, pois
A arte proporciona a expressão de sentidos compartilháveis, 
de um legado coletivo cheio de reminiscências, sigilos e 
revelações. Através dele, nosso mundo interior tão pessoal 
e	 intransferível	 encontra	 o	 enlevo	 de	 se	 saber	 comum	 e	
partilhável. (COSTA, 2004, p.135).
Assim,	 a	 obra	 de	 arte	 é	 também	 reflexo	 desse	 contexto	 e	 os	 sujeitos	
participantes,	tanto	criadores	como	fruidores,	estão	ambos	influenciados	e,	nesse	
ponto, o compartilhamento se reforça. A efemeridade é explorada na arte também 
em sua estrutura, através da performance e dos happenings, movimentos de 
arte	que	utilizam	mescla	de	linguagens	e	têm	a	improvisação	como	fio	condutor.
Performance: forma de arte que combina elementos do teatro, 
da música e das artes visuais. Tem relação com o happening (os 
dois termos são às vezes usados como sinônimos), mas difere deste 
por ser em geral mais cuidadosamente planejada e não envolver 
necessariamente a participação dos espectadores. (CHILVERS, 
2001 p. 404).
Happening (“acontecimento”): forma de espetáculo, muitas 
vezes cuidadosamente planejado, mas quase sempre incorporando 
algum elemento de espontaneidade, em que um artista executa ou 
dirige uma ação que combina teatro com artes visuais. O termo foi 
cunhado	por	Allan	Kaprow	em	1959	e	tem	sido	usado	para	designar	
uma	multiplicidade	 de	 fenômenos	 artísticos.	 (	 CHILVERS,	 2001	 p.	
247).
Ao abordar a estrutura da obra no texto, objetivamos lançar um olhar 
geral	 sobre	 a	 produção	 artística	 da	 humanidade	 em	 um	 ponto	 central	 das	
confluências	 das	artes:	 as	 influências,	mudanças	e	 culturas	 que	 se	mesclam	e	
incentivam novas formas de se fazer arte. Toda arte tem um sujeito histórico e 
socialmente	construído,	toda	arte	é	influência	de	culturas,	e	as	culturas	têm	suas	
especificidades	e	suas	misturas.	Falar	de	arte	não	se	resume	em	falar	da	obra,	e	
sim do conjunto entrelaçado de inúmeros elementos distintos entre si, mas que 
compõem toda obra de arte.
30
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
Atividade de Estudos: 
1) Nesta atividade vamos falar de música: O avanço tecnológico 
vai influenciar as formas musicais brasileiras em uma mescla 
de estilos. E o cenário contemporâneo, é palco da diversidade 
musical em caracteres e instrumentos e que no Brasil encontra 
acolhimento devido a pluralidade étnica que constitui o pais.
 Registre algumas músicas que são importantes para você, cite o 
nome	da	música,		o	artista	e	justifique	sua	escolha.	
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2) O assunto é arquitetura! A arquitetura contemporânea vai 
embarcar nesta forma de utilizar os materiais inovadores, e 
vai trazer também a cor como elemento diferenciado na nova 
concepção de construir. As linhas das construções vão sofrer 
variações com curvas harmoniosas e formas variadas. Nesta 
atividade, oriento você a olhar de forma curiosa a arquitetura 
presente nas principais construções de sua cidade. Você 
consegue	 identificar	 que	 tipo	 de	 arquitetura	 se	 apresenta?	
Fotografe ou descreva uma das construções que fazem parte da 
sua cidade.
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A Arte: Conceitos Teóricos FundantesCapítulo	1
Algumas	Considerações	
Neste	breve	estudo,	foi	possível	refletir	sobre	a	dimensão	da	arte	como	parte	
das	ações	humanas	e	suas	modificações	ao	longo	do	tempo.	No	capítulo	a	seguir,	
vamos	discutir	a	 identidade	como	 referência	de	grupos	que	se	 identificam	e	se	
fundam. A arte também constitui essa identidade. 
No	 próximo	 capítulo,	 iremos	 abordar	 questões	 relacionadas	 à	 identidade.	
Além disso, estudaremos a identidade brasileirae o hibridismo. 
Referências
BERTELLO, Maria Augusta. Palavra em ação. Mini manual de pesquisa – arte. 
São Paulo: Claranto, 2003.
CHILVERS, Ian. Dicionário Oxford de arte. Tradução de Marcelo Brandão 
Cipolla. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
COSTA, Cristina. Questões de arte: o belo, a percepção estética e o fazer 
artístico.	São	Paulo:	Moderna,	2004.
EFLAND, Arthur D. Cultura, Sociedade, Arte e Educação num mundo pós-
moderno. In: GUINSBURG, J.; BARBOSA, Ana Mae (orgs.) O Pós-modernismo. 
São Paulo: Perspectiva, 2005.
FEIST, Hildegard. Pequena viagem pelo mundo da arte. São Paulo: Moderna, 
1996.
GOMBRICH, E.H. A História da Arte. Tradução de Álvaro Cabral. 16.ed. Rio de 
Janeiro: LCT, 1999.
KRESS, Gunter. In: GARCIA, Regina Leite; MOREIRA, Antonio F. B. (orgs). 
Currículo na contemporaneidade:	incertezas	e	desafios.	São	Paulo:	Cortez,	
2003.
MORA, Jose Ferrater. Dicionário de Filosofia. Tradução de Roberto Leal 
Ferreira, Álvaro Cabral. 4.ed. São Paulo: Martins fontes, 2001.
STRICKLAND, Carol. Arte comentada: da pré-história ao pós-moderno. 
Tradução de Angela Lobo de Andrade. Rio de Janeiro: Ediouro, 1999.
32
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
Parâmetros	Curriculares	Nacionais:	Arte. Secretaria de Educação Fundamental. 
Brasília:	MEC/SEF,	1997.		
SCOTTINI, Alfredo. Minidicionário Escolar Língua Portuguesa. São Paulo: 
Brasileitura, 2009.
CAPÍTULO 2
Uma	Questão	de	Cultura	e	Identidade
A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 9 Entender a cultura como entrelaçamentos de questões que formulam a 
identidade, diagnosticando fenômenos de aculturação.
 9 Identificar	as	influências	referentes	à	cultura,	entendida	como	campo	simbólico	
e material da atividade humana.
 9 Conhecer os elementos que compõem a diversidade cultural na historicidade 
da trama relacional.
 9 Reconhecer	 as	 múltiplas	 influências	 da	 cultura	 popular	 e	 seus	 entremeios	
teóricos.
34
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
35
Uma Questão de Cultura e IdentidadeCapítulo	2
Contextualização
Figura 7 - Le Double Secret, 1927 - Rene Magritte
Fonte:	Disponível	em:	<www.cursodehistoriadaarte.com.
br/.../page/36/>. Acesso em: 27 set. 2011. 
Como olhar-te outro?
Outro complexus;
Outro complicado;
Outro multiplicidade na unidade; 
Outro autodesconhecido; 
outro diferente de todos;
outro único.
Como olhar-te outro?
Sem saber se devo;
Sem saber se posso;
Sem saber se quero.
Como olhar-te outro neste corpo que me vejo?
Corpo que desejo;
Corpo que temo;
Corpo e que me (pré)sinto...
Corpo místico.
Como olhar-te outro?
Neste corpo que é metade eu...metade tu...
Neste corpo que é 1 inteiro mundo.
Fabio Zoboli, 2007
Fonte:	Disponível	em:	<http://revistarecrearte.net/IMG/
pdf/R12_2.>.Acesso em: 10 ago. 2011.
http://www.cursodehistoriadaarte.com.br/lopreto/index.php/page/36/
http://www.cursodehistoriadaarte.com.br/lopreto/index.php/page/36/
36
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
O	capítulo	 II	 do	Caderno	 de	Estudos	 vai	 discutir	 questões	 teóricas	 acerca	
da	 construção	 de	 identidade,	 em	 que	 aspectos	 sociais,	 econômicos,	 políticos,	
culturais se mesclam e se dissolvem na construção dos sujeitos. Não somos 
apenas	influenciados	por	questões	políticas	ou	culturais,	mas	sim	constituídos	por	
múltiplas	influências.	A	cor	de	nossa	pele,	nossos	valores	morais	e	éticos,	nosso	
entendimento das pessoas com as quais convivemos, diretamente ou não, são o 
resultado do que aqui apontamos como identidade.
E falar de identidade é pensar no negro como elemento fundamental na 
formação dos brasileiros, que junto com as demais etnias formam nosso Brasil. 
Esse	país	pluricultural	tem	nos	aspectos	culturais	cenário	de	inúmeras	questões	
que	 direcionam	 a	 formação	 identitária	 brasileira	 e,	 por	 isso,	 este	 capítulo	 vai	
apontar algumas particularidades culturais regionais, com as quais convivemos.
Cultura	e	Identidade
Quando se pensa sobre cultura e identidade na 
contemporaneidade, entramos num processo da fragmentação 
por conta do mundo globalizante. Nem tudo está tão perto e muito 
menos longe, pode-se estar em qualquer lugar devido aos avanços 
tecnológicos da comunicação. É um tipo diferente de mudança 
estrutural, que transforma as sociedades modernas e fragmenta as 
paisagens culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e 
nacionalidade. Ou seja, por qualquer um dos olhares que se tenha, tudo 
está muito próximo, porque há a crescente complexidade do mundo 
moderno e a consciência de que o núcleo interior do sujeito sociológico 
não	é	autossuficiente,	mas	 formado	na	 relação	com	 “outras	pessoas	
importantes	para	ele”,	que	intermediam	valores,	sentidos	e	símbolos	(a	
cultura) dos mundos nos quais habitam (HALL, 2000, p. 9).
É	possível	compreender,	a	partir	de	Stuart	Hall	(2006),	que	a	identidade	surge,	
em	partes,	pela	plenitude	da	identidade	que	já	está	dentro	de	nós	como	indivíduos	
e também pela inteireza que é “preenchida” a partir do nosso exterior. Temos 
assim	o	sujeito	pós-moderno,	que	não	tem	uma	identidade	fixa,	que	se	transforma	
diante dos sistemas culturais. Aliás, a cultura não é monólita, homogênea, isso 
é: masculina, classe média, heterossexual, branca e ocidental, que pode ser 
presumida. O conceito de não-identidade alienada, segundo Hutcheon (1991), 
camufla	 as	 hierarquias,	 dá	 lugar	 ao	 conceito	 de	 diferenças,	 “à	 afirmação	 não	
da uniformidade centralizada, mas da comunidade descentralizada, que é um 
paradoxo do pós-moderno” (HUTCHEON, 1991, p. 29).
Formado na 
relação com 
“outras pessoas 
importantes 
para ele”, que 
intermediam 
valores, sentidos e 
símbolos (a cultura) 
dos mundos nos 
quais habitam. 
(HALL, 2000, p. 9).
37
Uma Questão de Cultura e IdentidadeCapítulo	2
Há de se perceber ainda nas colocações teóricas que as identidades se 
definem	não	apenas	pelo	que	se	defende	e	com	quem	se	está,	mas	principalmente	
por quem ou o de que se é contra, ou talvez aquilo que se acha ser contra. Nesse 
contexto, é interessante utilizar como exemplo os Estados Unidos da América e 
a guerra contra o terrorismo, principalmente depois do 11 de setembro de 2001, 
com o ataque às torres do World Trade Center, em Nova Iorque, e ao Pentágono, 
em Washington.
Aqui resgatamos a cena de uma reportagem de Caliar para Revista “Caros 
Amigos”, de dezembro de 2001: 
Um rapaz negro, americano da gema, olhava os sinais da 
destruição. Chorou discretamente, as lágrimas grossas 
escorrendo. Havia estado em um dos prédios no dia anterior ao 
ataque, conhecia de vista algumas pessoas por lá. Segurava 
uma	 grande	 fotografia	 do	 soberbo	 conjunto	 de	 edifícios	
do Distrito Financeiro, entre os quais as torres gêmeas se 
destacavam. Acabava de comprar a foto por três dólares ali na 
rua e iria colocar numa moldura. 
O rapaz negro descrito no trecho é um de tantos outros que se viu desolado, 
naquele momento, diante do barbarismo e convicto de que o governo americano 
precisava dar uma resposta imediata aos terroristas. Negros e brancos assumem 
o ufanismo americano, vão às ruas protestar silenciosamente, pintados com 
as cores ou com a própria bandeira dos Estados Unidos. A comunidade negra 
assume	sua	identidade	americana	em	meio	à	comoção	do	país.	Tal	exemplo	vem	
à	tona,	porque	é	um	marco	na	história	da	humanidade	contemporânea	e	uma	das	
alavancas transformadoras de identidade. 
Aliás, essa nova identidade do negro nos Estados Unidos continua em 
discussão	na	teoria	social.	As	velhas	identidades	entraram	em	declínio,	fazendo	
surgir	as	novas	 identidades,	 fragmentando	o	 indivíduo	moderno,	até	então	visto	
como	 um	 sujeito	 unificado.	 É	 um	 tipo	 diferente	 de	 mudança	 estrutural,	 que	
transforma as sociedades modernas e fragmenta as paisagens culturais de 
classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade.
As transformações mudam as identidades pessoais e abalam a ideia de 
sujeitos	 integrados.	StuartHall	 (2000)	 define	essa	perda	de	um	 “sentido	 de	 si”	
estável	como	um	deslocamento	ou	descentração	do	sujeito,	e	 tal	definição	 leva	
a entender o ataque de 11 de setembro como um impulsionador do processo de 
transformação da identidade da comunidade negra americana. Há de se destacar 
aqui que tal exemplo de ato terrorista é usado pela dimensão impactante que teve 
nos	Estados	Unidos	e,	 consequentemente,	 nos	demais	países	da	Europa	e	da	
América Latina, nos quais se inclui o Brasil.
38
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
Há, nesse caso, a presença da crescente complexidade do mundo 
moderno e a consciência de que o núcleo interior do sujeito sociológico não é 
autossuficiente,	mas	 formado	na	relação	com	“outras	pessoas	 importantes	para	
ele”,	que	 intermedeiam	valores,	sentidos	e	símbolos	 (a	cultura)	dos	mundos	os	
quais	habitam	(HALL,	2000,	p.	9).	E	no	mundo	específico	americano	habita	um	
contingente multiétnico, entre os quais estão latinos e asiáticos que se veem 
diante da perda de sua identidade ou de sua transformação inevitável, mesmo que 
ainda	exista	um	núcleo	demarcando	o	eu.	Só	que	o	jogo	de	linguagem	(LYOTARD,	
2000,	p.17)	permitirá	a	modificação	do	diálogo	contínuo	com	os	mundos	culturais	
exteriores e as identidades que tais mundos oferecem.
O	negro	americano	(e	isso	se	reflete	também	no	Brasil)	que	até	então	se	via	
numa	identidade	unificada	estável,	vê	sua	própria	identidade	tornar-se	fragmentada	
em razão de outras identidades, alguma contraditórias e outras não resolvidas. 
Isso	em	 função	do	processo	de	modificação	estrutural	e	 institucional.	Para	Hall	
(2000),	 a	 identidade	plenamente	unificada,	 completa,	 segura	e	 coerente	é	uma	
fantasia,	porque	no	momento	em	que	os	sistemas	de	significação	e	representação	
cultural se multiplicam, o confronto de uma multiplicidade desconcertante e 
cambiante	de	identidades	possíveis	surge,	sendo	que	todas	podem	se	identificar	
em uma delas, mesmo que temporariamente. 
Nos Estados Unidos, a comunidade cristã, branca, conservadora 
e	inflexível	sobre	a	convivência	entre	raças	se	viu	estupefata	frente	
aos atos terroristas, o que elevou a questão de separação de raça. 
Num	instante,	brancos	e	negros	se	viram	obrigados	a	refletir	sobre	
a segurança nacional, o patrimônio da nação, a democracia e sua 
eficiência,	afinal,	tudo	isso	estava	sendo	atacado.	
A cena do negro americano olhando os sinais da destruição e chorando diante 
de tamanha barbárie se repetiu com outros negros e com outros brancos. Eles 
ficaram	 frente	àquilo	que	Baudrillard	chama	de	Crime	Perfeito.	A	arma	usada	no	
ataque de 11 de setembro superou a tecnologia avançada da potência terrestre, 
não houve como promover a defesa. A morte usada como arma pelo “inimigo” 
é	 implacável,	 o	 suicídio	 para	 resultar	 em	homicídio	 é	 o	 próprio	Crime	Perfeito	 e	
“ninguém, nenhuma classe, nenhum grupo, nenhum sujeito pode ser acusado da 
responsabilidade por essa realização radical das coisas, essa hiper-realização 
incondicional do Real” (BAUDRILLARD, 2001, p. 70). É o kamikaze que vê e aceita 
a	própria	morte	–	mata	a	vítima	e	se	mata	–	fazendo	de	sua	morte	um	significado	ou	
tencionando	que	tenha	um	significado,	um	símbolo,	que	seja	então	uma	estratégia	
de	ataque,	uma	arma	contra	a	qual	não	há	uma	resposta	possível.	
Mas o negro segurando a foto traz também uma outra leitura que não pode 
deixar	 de	 ser	 feita	 sob	 alguns	 ângulos:	 quando	 ele	 olha	 os	 destroços	 e	 chora,	
Brancos e negros 
se viram obrigados 
a refletir sobre a 
segurança nacional, 
o patrimônio da 
nação, a democracia.
39
Uma Questão de Cultura e IdentidadeCapítulo	2
pode estar chorando por conhecidos negros que ali trabalhavam, a maioria, 
talvez, como simples empregados, numa condição subalterna. Até por isso, pode 
chorar por sua condição de negro e de americano, uma duplicidade que briga em 
um corpo escuro cuja força obstinada impede que se destroce.
A imagem do negro chorando pode ser também a imagem da problematização 
de	ser	negro.	Du	Bois	diz	que	o	“negro	é	uma	espécie	de	sétimo	filho,	nascido	com	
um véu e aquinhoado com uma visão de segundo grau neste mundo americano 
– um mundo que não lhe concede uma verdadeira consciência de si” (DU 
BOIS,	1999,	p	54).	Esse	sétimo	filho	é	uma	escala	que	começa	com	o	egípcio	e	
gradativamente com o indiano, grego, romano, teutão e o mongol, que vêm antes 
fadados ao véu, ao rosto coberto, ao diferente. 
E assim, retoma-se a questão da identidade pelo olhar do negro americano, 
que	 pode	 muito	 bem	 ser	 do	 brasileiro,	 do	 inglês,	 africano,	 francês,	 enfim,	 ser	
negro e ao mesmo tempo americano sem ser amaldiçoado por sua comunidade 
e	 nem	pelos	 negros	 africanos	 que	 ficaram	na	África	 ou	 estão	 espalhados	 pela	
Europa. Fica-se diante da ideia de identidade fragmentada, que entre outras 
coisas precisa disputar e ocupar espaços territoriais, sociais e usufruir do capital 
disponível	 no	 país.	 Aliás,	 essas	 foram	 propostas	 defendidas	 pelo	 líder	 negro	
Martin Luther King na década de 1970. Ele defendia a integração entre brancos 
e negros em bairros de classe média, nos postos de trabalho, nas universidades, 
nos	 cargos	executivos	e	no	poder	 de	decisão	do	país.	Entendia	o	que	Lyotard	
(2000) descreve como saber pós-moderno, que não é somente o instrumento dos 
poderes. “É o que aguça a sensibilidade para as diferenças e a capacidade de 
suportar	o	incomensurável”	(LYOTARD,	p.	17).
Dr. Martin Luther King Jr. (1929 – 1968), Prêmio Nobel da Paz 
em	1964	e	líder	antissegregacionista	norte-americano.	
Vemos que o caminho de integração devia se deslocar do rural para o urbano. 
Ou	seja,	não	adianta	ficar	no	campo	trabalhando,	sobrevivendo	da	própria	produção,	
mantendo a identidade pura, absoluta. É preciso invadir as ruas, aprender, obter 
conhecimento	político,	científico	e	dominar	a	informação	de	igual	para	igual,	qualquer	
que seja a etnia. Mas para sair do campo e chegar às ruas, ao urbano, é preciso 
lutar para atingir a humanidade consciente, recuperar a potência e o gênio latente, 
poderes do corpo e da mente perdidos ou esquecidos no passado, exatamente 
como ocorreu com os negros escravos brasileiros pós Brasil escravagista. À procura 
pela identidade e pelos espaços territoriais, sociais e econômicos longe, muito, mas 
40
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
muitíssimo	longe	das	mãos	negras.	A	perda	ou	o	esquecimento	não	foram	sinais	de	
fraqueza (no caso do negro americano e do brasileiro), mas sim contradições dos 
objetivos	duplos,	que	eram	escapar	do	desprezo	do	branco	e	tentar	se	firmar	como	
cidadão	americano	ou	brasileiro	–	e	aqui	as	situações	são	análogas	–,	beneficiando-
se	do	país	e	das	normas	sociais	oferecidas.	
O ataque terrorista de 11 de setembro deixou claro para negros e brancos 
que, enquanto o preconceito estiver ligado a uma homenagem à civilização, 
à cultura, à retidão e ao progresso, o preconceito continuará imperando como 
sempre esteve nos Estados Unidos contra asiáticos e latinos. O negro, em 
território americano e também em território brasileiro, sempre sentiu o peso 
da discriminação, principalmente do pobre. O ideal de desenvolver os traços 
e talentos do negro, sem oposição ou desprezo a outras etnias, é permitir que 
um	 dia	 as	 etnias	 possam	 outorgar-se	mutuamente	 àquelas	 características	 que	
carecem, porque um dos problemas do século XX foi a barreira racial, que pode 
ser revista. Há tempo para essa revisão. 
Figura 8 - World Trade Center após ser atingido por dois 
aviões, nos atentados de 11 de setembro de 2001 
Fonte:	Disponível	em	<http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/nova-york-
soma-mais-uma-vitima-ao-numero-oficial-do-11-9>.	Acesso	em:	28	set.	2011.	
Atividade de Estudos: 
A	 mídia	 é	 um	 importante	 centro	 de	 promulgação	 de	 ideias	 e	
também	 age	 de	 forma	 significativa	 na	 formação	 de	 opinião.	 Nesta	
atividade, proponho a investigação das questões raciais em situações 
consideradascomo catástrofes humanas como, por exemplo, o 
http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/nova-york-soma-mais-uma-vitima-ao-numero-oficial-do-11-9
http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/nova-york-soma-mais-uma-vitima-ao-numero-oficial-do-11-9
41
Uma Questão de Cultura e IdentidadeCapítulo	2
encontro para o protesto nos 10 anos do ataque terrorista às torres 
gêmeas nos Estado Unidos. 
Faça	 um	 levantamento	 de	 como	 a	 mídia	 tratou	 do	 assunto	
citado anteriormente, ou de um outro que você escolheu pra 
investigar, revelando questões de etnia, que estão fortemente 
envolvidas. Aponte: 
* local do ocorrido (contextualize a cultura);
* as etnias envolvidas;
*	motivos	da	violência	segundo	a	mídia.
Não	esqueça	de	fazer	uma	ficha	técnica	da	mídia	que	trouxe	as	
informações investigadas, por exemplo: TV, programa, revista, jornal, 
detalhando	 as	 informações	 de	 cada	 veículo	 de	 comunicação	 que	
você fez a pesquisa.
Finalize a atividade escrevendo um pequeno texto, com a 
temática: “Identidade e violência: o motivo de cada um”.
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O pastor evangélico negro Martin Luther King lutou e morreu por uma causa 
que tem como bandeira a liberdade e a igualdade. Em nome dessa bandeira, foi 
alimentada a esperança na compreensão e harmonia entre os homens de todas 
as etnias, de todas as religiões e de todas as culturas. Tal bandeira passou 
a ser levantada por brasileiros, inicialmente, por abolicionistas e depois por 
movimentos sociais organizados. A identidade da comunidade negra a partir da 
42
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
hibridização	só	é	possível	pelo	viés	defendido	por	dr.	King	e	seguido	por	outros	
líderes,	 como	o	ex-presidente	da	África	do	Sul	Nelson	Mandela,	 que	até	hoje	
luta	pelo	fim	da	segregação.
Diante disso tudo, é preciso dizer que, na realidade, não há 
como satisfazer plenamente a consciência do mundo pós-moderno 
com complacência, triunfo inevitável da força sobre a fraqueza, do 
certo sobre o errado, dos superiores sobre os inferiores. As potências 
americanas e europeias dominaram os povos subdesenvolvidos do 
mundo	 sabendo	 que	 eles	 reagiriam,	 pacificamente	 ou	 não.	 O	 negro	
foi escravo nos Estados Unidos e no Brasil e sempre deixou claro sua 
contrariedade. Desde cedo, houve a união em igrejas e na cultura para 
provocar a contrarreação. 
MORRISON, Toni. Amada. São Paulo: Companhia das 
Letras, 2010. 
A discriminação étnica perdura e será um dos problemas a ser resolvido neste 
século. A virada do século passado não resolveu questões como a da consciência 
corrupta	e	a	do	planeta	poluído,	e	há	necessidade	de	se	tratar	tais	assuntos	com	
relevância,	tanto	em	relação	ao	meio	ambiente	quanto	à	raça	e	à	etnia.	Baudrillard	
(2001)	chama	essa	falta	de	solução	de	marco	de	uma	soma	zero	do	fim	do	século	
XX, porque o “tempo é visto a partir de uma perspectiva de entropia – a exaustão 
de todas as possibilidades –, da perspectiva de uma contagem regressiva para o 
infinito”	(BAUDRILLARD,	p	41).	
O retorno na história serve para acertar os erros do passado 
no presente, principalmente a atrocidade cometida com o negro, a 
escravidão, a brutalidade em nome do superior sobre o inferior. A 
revisão se movimenta a partir do marco zero, de uma realidade do 
passado,	para	saldar	uma	dívida	social	por	meio	da	política,	através	
de manifestações em que são utilizados signos multiplicados na luta 
pela igualdade. A sombra (pele escura) da maioria silenciosa vai dizer: 
chega de segregação étnica. A identidade fragmentada vem carregada 
de signos, peculiares das massas (BAUDRILLARD, 1994, p 25).
Assim, podemos visualizar a delicada relação dos sujeitos, 
independentemente do local em que tentam conviver. O negro, sujeito 
escravo	de	outros	que,	imbuídos	de	ideologias,	assumem	a	supressão	
Desde cedo, 
houve a união 
em igrejas e 
na cultura para 
provocar a 
contrarreação.
O retorno na 
história serve 
para acertar os 
erros do passado 
no presente, 
principalmente a 
atrocidade cometida 
com o negro, a 
escravidão, a 
brutalidade em 
nome do superior 
sobre o inferior.
43
Uma Questão de Cultura e IdentidadeCapítulo	2
do	outro	como	parte	de	sua	constituição,	no	cenário	contemporâneo	é	convidado	
a	repensar	esse	lugar	de	todos.		O	grande	desafio	foi	e	ainda	é	aceitar	o	outro	em	
termos iguais. 
Identidade	Brasileira	e	o	Hibridismo
Retomando	a	questão	da	 identidade	contemporânea	fragmentada,	
é pertinente lembrar que nem sempre foi assim. Quer dizer, há três 
tipos de concepções desenhadas por Hall (2006), que são os sujeitos 
do iluminismo, o sujeito sociológico e o sujeito pós-moderno. O sujeito 
do	 iluminismo	 é	 um	 indivíduo	 totalmente	 centrado,	 unificado,	 dotado	
das capacidades de razão, de consciência e de ação, em que o centro 
consiste num núcleo interior, que emerge pela primeira vez quando o 
sujeito	nasce	e	com	ele	se	desenvolve	ao	longo	da	existência	do	indivíduo.	O	centro	
essencial	do	eu	é	a	identidade	de	uma	pessoa.	No	sujeito	sociológico,	se	reflete	a	
crescente complexidade do mundo moderno e a consciência de que esse núcleo 
interior	 do	 sujeito	 não	 é	 autônomo	 e	 autossuficiente,	mas	 é	 formado	 na	 relação	
com “outras pessoas importantes para ele”, que medeiam para o sujeito os valores, 
sentidos	e	símbolos	–	a	cultura	–	dos	mundos	que	ele	habita.	Essa	 identidade	é	
formada na “interação” entre o eu e a sociedade. O sujeito ainda tem um núcleo ou 
essência	interior	que	é	o	“eu	real”,	mas	esse	é	formado	e	modificado	num	diálogo	
contínuo	com	os	mundos	culturais	“exteriores”	e	as	identidades	que	esses	mundos	
oferecem.	 Já	 o	 sujeito	 pós-moderno,	 nessas	 classificações	 de	 Hall	 (2006),	 não	
tem	uma	identidade	fixa,	essencial	ou	permanente.	Ela	torna-se	uma	“celebração	
móvel”: formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais 
somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam. 
A partir desse levantamento histórico das identidades se chega ao 
contemporâneo	em	que	o	sujeito	assume	identidades	diferentes	em	vários	
momentos	e	que	não	são	unificadas	ao	redor	de	um	“eu”	coerente.	São	
possibilidades contraditórias empurrando em diferentes direções, de uma 
maneira	tal	que	as	identificações	estão	sendo	continuamente	deslocadas.	
À	medida	que	os	sistemas	de	significação	e	 representação	cultural	 se	
multiplicam, surge o confronto de multiplicidades, desconcertantes 
e	 cambiantes,	 de	 identidades	 possíveis	 de	 identificações,	 ao	 menos	
temporariamente. Descartes (1978) percebeu que o sujeito moderno 
“nasceu”	no	meio	da	dúvida	e	do	ceticismo	metafísico.	É	um	acerto	de	
contas com Deus ao torná-lo o Primeiro Movimentador de toda criação 
e, assim, passa a explicar o resto do mundo material inteiramente em 
termos	mecânicos	e	matemáticos.	
Os sujeitos do 
iluminismo, o 
sujeito sociológico 
e o sujeito pós-
moderno.
O sujeito assume 
identidades 
diferentes em 
vários momentos 
e que não são 
unificadas ao 
redor de um “eu” 
coerente.
44
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
A formação do eu no “olhar do Outro”, de acordo com Lacan (1972), inicia a 
relação da criança com os sistemassimbólicos fora dela mesma e é o momento 
de sua entrada nos vários sistemas de representação simbólica – incluindo a 
língua,	a	cultura	e	a	diferença	sexual.	O	existencialista	Sartre	(1997),	em	“O Ser e 
o Nada”, também trata desse olhar, que está muito ligado à questão da identidade. 
Dessa forma, os sentimentos contraditórios e não resolvidos que acompanham 
essa	difícil	entrada	permeada	por	sentimentos	divididos	entre	amor	e	
ódio pelo pai, aspecto sobre a formação do eu analisado por Lacan e 
Freud, são entrelaçados ainda pelo desejo de agradar e pelo impulso 
em	rejeitar	a	mãe.	É	o	conflito	entre	o	bem	e	o	mal,	a	divisão	desse	eu	
entre suas partes “boa” e “má”. Esses sentimentos são aspectos chave 
da formação do inconsciente do sujeito. “A identidade é realmente algo 
formado, ao longo do tempo, através de processos inconscientes, e 
não algo inato, existente na consciência no momento do nascimento” 
(HALL, 2006, p. 38).
Diante	desse	indivíduo	deslocado,	confrontado	por	multiplicidades	
desconcertantes que interagem com processo de formação de uma 
cultura brasileira, surge o que Canclini (2003) chama de encenação 
do	 popular,	 baseado	 na	 ideia	 do	 excluído,	 aquele	 que	 não	 tem	
patrimônio ou não consegue que ele seja reconhecido e conservado, 
como os artesãos que não chegam a ser artistas, a individualizar-
se,	 nem	 a	 participar	 do	mercado	 de	 bens	 simbólicos	 legítimos.	 Para	
explicar melhor o que seria o popular, Canclini (2003) lembra que os 
espectadores	dos	meios	massivos	que	ficam	de	fora	das	universidades	
e dos museus, “incapazes” de ler e olhar a alta cultura, agem assim 
porque desconhecem a história dos saberes e estilos. Dessa forma, o 
popular surge através de três correntes: o folclore, as indústrias culturais 
e	o	populismo	político	 (CANGLINI,	 p.	 207).	O	autor	 observa	 também	
que	o	povo	fica	de	fora	no	momento	de	analisar	a	cultura,	pois	o	que	
interessa são os bens culturais: objetos, lendas, música, e não quem 
gera	e	consome.	O	folclore,	por	exemplo,	é	constituído	de	um	conjunto	
de bens e formas culturais tradicionais, principalmente de caráter oral 
e local, sempre inalterável. A evolução das festas tradicionais, da 
produção e venda de artesanato revela que essas não são mais tarefas 
exclusivas dos grupos étnicos, nem sequer de setores camponeses 
mais amplos, nem mesmo da oligarquia agrária.
Canclini (2003) e Tinhorão (2001), que é um estudioso da música 
popular brasileira, concordam que no carnaval são invertidas as ordens 
tradicionais de uma sociedade em que a intersecção de negros e 
brancos, etnias antigas e grupos modernos pretendem resolver-se 
mediante hierarquias severas: troca-se a noite pelo dia, os homens se 
Os artesãos que 
não chegam a 
ser artistas, a 
individualizar-se, 
nem a participar 
do mercado de 
bens simbólicos 
legítimos.
O popular surge 
através de 
três correntes: 
o folclore, 
as indústrias 
culturais e o 
populismo 
político.
No carnaval 
são invertidas 
as ordens 
tradicionais de 
uma sociedade 
em que a 
intersecção de 
negros e brancos, 
etnias antigas e 
grupos modernos 
pretendem 
resolver-se 
mediante 
hierarquias 
severas.
45
Uma Questão de Cultura e IdentidadeCapítulo	2
fantasiam de mulher, os negros, os trabalhadores aparecem mostrando o prazer 
de viver atualizados no canto, nas dança e no samba. Nem a modernização exige 
abolir	as	tradições,	nem	o	destino	fatal	dos	grupos	tradicionais	é	ficar	de	fora	da	
modernidade. Aliás, a arte corresponderia aos interesses e gostos da burguesia 
e de setores cultivados da pequena burguesia. Desenvolve-se nas cidades, fala 
delas e, quando representa paisagens do campo, faz isso com ótica urbana. 
Canclini (2003) conclui que não há uma única forma de modernidade, mas várias, 
desiguais e às vezes contraditórias.
O contrário pode ser pensado a partir de Bhabha (1998), quando diz que as 
diferenças culturais devem ser compreendidas no momento em que constituem 
identidades e que suas reivindicações são nominativas ou normativas e em um 
momento preliminar, passageiro (BHABHA 1998, p 322). Ou seja, quando se trata da 
formação de uma consciência negra, tanto pelo olhar do americano ou do brasileiro, 
vamos	 tratar	 da	 diversidade	 cultural	 e	 a	 influência	 na	 formação	 da	 identidade	
contemporânea.	A	afirmação	distintiva	é	que	o	negro	tem	uma	mensagem	poética,	
uma mensagem que não é apenas diferente, mas valiosa. Appiah (1997) acrescenta 
que “não há nada no mundo capaz de fazer tudo aquilo que pedimos que a raça 
faça por nós... e falar de “raça” é particularmente desolados para aqueles de nós 
que levamos a cultura a sério” (APPIAH, 1997, p 75). Ele explica ainda que onde a 
raça atua é como uma espécie de metáfora da cultura e a cultura popular 
é um encontro das manifestações dessas etnias. Por isso, todo brasileiro, 
conforme Gilberto Freyre, “mesmo alvo, de cabelo louro, traz na alma e 
no	corpo	a	sombra,	a	pinta	do	 indígena	ou	do	negro	e	esta	 influência	
direta,	ou	vaga	e	 remota,	é	do	africano”	 (FREYRE,	2001,	p.	489).	E	é	
com esse hibridismo que a cultura popular brasileira vai se formar e a 
identidade do brasileiro irá se fragmentar na contemporaneidade. 
Atividade de Estudos: 
Construa sua identidade cultural através de suas práticas 
cotidianas. Organize um retrato diferente. Construa um rosto 
substituindo as formas básicas de construção: não utilize olhos, 
nariz e boca, e sim hábitos culturais em que utilizamos nossos 
sentidos. Por exemplo, faça um desenho relativamente grande, em 
papel A3. Construa apenas os limites do rosto e depois construa seu 
“autorretrato	 cultural”,	 desenhando,	 escrevendo	 ou	 colando	 figuras	
que revelem suas práticas culturais como:
*	 No	lugar	dos	olhos:	imagens	ou	nomes	de	seus	filmes	preferidos,	
peças de teatro, livros e programas de TV.
A cultura 
popular é um 
encontro das 
manifestações 
dessas etnias.
46
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
* No nariz: os seus cheiros preferidos, que podem ser representados 
por perfumes, ambientes.
* Boca: seus hábitos alimentares. Aproveite e investigue as 
influências	culturais	presentes	em	sua	alimentação,	a	origem	dos	
alimentos que você consome diariamente.
* Orelhas: as músicas que você escuta. Cite apenas o nome ou 
escreva uma parte.
* Finalize o rosto construindo os cabelos. Aqui você pode dar 
preferência	à	cor,	buscando	suas	influências	étnicas.
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Pensar	 na	 identidade	brasileira	 é	 buscar	 as	 influências	 que	 se	 configuram	
nessa	formação,	seja	ela	facilmente	identificada	ou	apresentada	de	forma	velada.	
Nesse sentido, o brasileiro se organiza como um ser complexo, pluricultural e 
muitas vezes em tensão, na busca do seu eu e de seu lugar na sociedade.
Essa pluralidade e conceitos também se encontram na esfera da cultura. 
Assim	como	o	brasileiro	é	fruto	de	várias	influências	étnicas,	a	cultura	também	se	
apresenta	entrelaçada	por	essas	influências,	assunto	abordado	no	próximo	tópico.
A	Diversidade	no	Âmbito	da	Cultura
A	 diversidade	 cultural	 no	 Brasil	 se	 configura	 de	 forma	 intensa	 devido	 às	
muitas formas culturais presentes nas também diversas sociedades. Em seus 
limites territoriais, nomeados por regiões, encontramos inúmeras fontes de 
manifestações culturais, são os vários Brasil(s). Cada sociedadee seus costumes, 
sejam	de	ordem	religiosa	ou	cultural,	trazem	a	as	influências	recebidas	atreladas	
47
Uma Questão de Cultura e IdentidadeCapítulo	2
à sua identidade. O entendimento acerca da diversidade cultural é de suma 
importância,	por	garantir	que	essas	práticas	continuem	sobrevivendo,	ainda	que	
sua	forma	apresente	alterações.	Os	dirigentes	dos	países,	através	de	sua	política,	
já têm anotado em suas pautas de discussão a questão da diversidade cultural.
Em 2001,quando a Unesco aprovou a Declaração Universal 
sobre	a	Diversidade	Cultural,	causou	polêmica	entre	os	países	
envolvidos, principalmente nos Estados Unidos, que têm seus 
filmes	 e	 músicas	 vendidos	 na	 maior	 parte	 do	 Planeta.	 Um	
negócio colocado na mesa pelos seus governantes diante dos 
representantes	 dos	 demais	 países,	 envolvendo	 negociações	
comerciais	 como	 os	 produtos	 agrícolas,	 por	 exemplo.	
(CABRAL, 2005 p. 01)
Perante o projeto de homogeneização do mundo globalizado, 
resguardar	 as	 práticas	 culturais	 herdadas	 passa	 a	 ser	 um	 desafio	
que exige o comprometimento de todos. Obviamente, ter esse 
cuidado garantido por lei confere espaços férteis para o cultivo da 
cultura brasileira em sua diversidade. Nesse espaço de cultura, há a 
presença	 dos	 escravos	 africanos,	 dos	 indígenas,	 dos	 europeus	 e	 de	
toda uma tradição materializada em ritos e crenças que se mesclam, 
conservando, no entanto, o cerne de cada raça. O mais bonito do 
Brasil	está	em	sua	geografia	generosa,	no	campo	territorial	vasto,	que	
alimenta as manifestações culturais, em sua complexidade. Do Bumba 
meu Boi ao Boi de Mamão, quais as diferenças e semelhanças que 
estão presentes nessa forma de manifestação cultural? Da Maricota 
aos bonecos de Olinda, do Axé ao Samba, o que essas formas de 
cultura têm em comum? A resposta pode ser os traços (in)comuns que 
configuram	o	Brasil	em	sua	diversidade	étnico-regional.	
Apesar	 da	 identificação	 de	 algumas	 regiões	 com	 determinadas	
formas culturais, nem por isso os limites da fronteira impedem que 
outras regiões tenham a mesma manifestação cultural, a capoeira, por 
exemplo,	 identificada	 como	 referência	 identitária	 da	 região	 nordeste,	
está	 presente	 em	 várias	 partes	 do	 país,	 sendo	 inclusive	 parte	 de	
projetos educacionais e de inclusão social. 
Perante o 
projeto de 
homogeneização 
do mundo 
globalizado, 
resguardar as 
práticas culturais 
herdadas passa 
a ser um desafio 
que exige o 
comprometimento 
de todos.
A capoeira, 
por exemplo, 
identificada 
como referência 
identitária da 
região nordeste, 
está presente 
em várias partes 
do país, sendo 
inclusive parte 
de projetos 
educacionais e de 
inclusão social.
48
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
Figura 9 - Fablicio e Wagner em apresentação de capoeira
Fonte: a autora. 
Outras manifestações culturais, no entanto, têm a marca da região, como, 
por exemplo, o Festival de Parintins, no Amazonas. Nesse sentido, a preservação 
da diversidade cultural é fundamental por incentivar o desenvolvimento dessas 
formas de manifestação que são o rosto, no sentido de apresentar os costumes 
de cada região. A rivalidade entre torcedores dos bumbás é comparada à disputa 
existente	no	futebol	entre	flamenguistas	e	vascaínos.	
Figura 10 – Bois Bumbás 
 
Fonte:	Disponível	em:	<http://olhaja.wordpress.com/2010/06/06/
festa-do-boi-bumba-em-parintins/>. Acesso em: 28 set. 2011.
No entanto, algumas práticas culturais assustam, e provocam 
discussão	 em	 torno	 de	 sua	 importância	 para	 esse	 conceito	 de	
diversidade, como no caso da guerra de espadas, praticada na Bahia. 
A polêmica Farra do Boi, em Santa Catarina que, com ritos de crueldade 
ao animal, diverte os que entendem essa ação como prática cultural, ou 
ainda,	a	tão	discutível	festa	cultural	dos	colonos	de	origem	alemã,	que	se	
divertem em uma disputa de carregamento de pesos por seus animais de 
tração, os cavalos, na tão discutida Puxada, também em Santa Catarina. 
Algumas 
práticas culturais 
assustam, 
e provocam 
discussão em 
torno de sua 
importância para 
esse conceito de 
diversidade.
http://olhaja.wordpress.com/2010/06/06/festa-do-boi-bumba-em-parintins/
http://olhaja.wordpress.com/2010/06/06/festa-do-boi-bumba-em-parintins/
49
Uma Questão de Cultura e IdentidadeCapítulo	2
Figura	11	-	Símbolo	da	luta	contra	a	Farra do Boi e a Puxada em Santa Catarina
Fonte:	Disponível	em:	<http://www.wspabrasil.org/eventos/2011/Manifestacao-em-Santa-
Catarina-contra-Farra-do-Boi-e-as-Puxadas-de-Cavalos.aspx.>. Acesso em: 29 set. 2011.
Nesses casos, os valores são medidos pela questão do respeito ao 
ser vivo, sejam eles de que natureza for, e por isso seria de boa evolução 
relegar essas práticas ao passado, aprender e emancipar os sujeitos 
que, longe de práticas que estimulam a violência, possam conviver 
melhor com seu planeta. Leonardo da Vinci (1452 – 1519), representante 
do Renascimento, entre suas pesquisas, tinha também um olhar para 
o relacionamento homem e animal, divulgando sua preocupação na 
frase	atribuída	a	ele:	“Virá	o	dia	em	que	a	matança	de	um	animal	será	
considerada crime tanto quanto o assassinato de um homem”.
Figura 12 - Pintura “Dama com Arminho” - Leonardo da Vinci
Fonte:	Disponível	em:	<https://goo.gl/HRVqVW>.	Acesso	em:	29	set.	2011.
Os valores são 
medidos pela 
questão do 
respeito ao ser 
vivo.
http://www.wspabrasil.org/eventos/2011/Manifestacao-em-Santa-Catarina-contra-Farra-do-Boi-e-as-Puxadas-de-Cavalos.aspx
http://www.wspabrasil.org/eventos/2011/Manifestacao-em-Santa-Catarina-contra-Farra-do-Boi-e-as-Puxadas-de-Cavalos.aspx
50
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
Assim, as práticas culturais, independentemente do local, devem ter um 
parâmetro	de	 respeito	à	 vida.	Nenhum	 tipo	de	violência	ou	crueldade	deve	ser	
justificado	 através	 dos	 hábitos	 culturais.	 Assim	 como	 são	 construídos	 pelos	
sujeitos que estão inseridos na sociedade, esses têm o poder e a responsabilidade 
de promover as mudanças necessárias para que se alcance um padrão de cultura 
de respeito e dignidade a todos. No tópico a seguir, apontamos os marcos teóricos 
da cultura dita popular.
Cultura	Popular:	Marcos	Teóricos
No	 âmbito	 dos	 estudos	 acerca	 da	 cultura	 popular,	 é	 a	 antropologia	 social	
que	irá	se	debruçar	sobre	a	definição	e	os	entrelaçamentos	acerca	do	conceito.	
A dupla de palavras “cultura” e “popular” forma um termo que parece suscitar 
discussões quanto ao seu entendimento como um todo. O termo “cultura” está 
associado	ao	domínio	de	saberes,	sugerindo	prestígio.	Já	o	“popular”	refere-se	ao	
povo, à maioria e, por isso, comum, de valor duvidoso. A junção das duas palavras 
parece	causar	uma	perda	ou	uma	modificação	em	seu	valor	perante	a	sociedade.	
A	cultura	popular	 tem	sua	 importância	em	determinado	espaço	da	sociedade,	e	
cumpre	determinada	função,	muitas	vezes	de	identificação	regional.	
Muita gente torce o nariz, levanta as sobrancelhas ou 
movimenta-se com impaciência quando ouve o enunciado 
“cultura popular”. Isto se deve a, pelo menos, dois motivos. Em 
primeiro lugar, ao fato dessa noção ter servido a interesses 
políticos	populistas	e	paternalistas,	tanto	de	direita	quanto	de	
esquerda; em segundo ao fato de que nada de claramente 
discernível	 e	 demarcável	 no	 concreto	 parece	 responder	
aos	 múltiplos	 significados	 que	 ela	 tem	 assumido	 até	 agora.	
(ARANTES, 1981, p.9).
Perante	 o	 indefinido,	 a	 atitude	 da	 sociedade	 é	 localizar	 um	 lugar para as 
manifestações	ditas	populares,	ficando	assim	livre	da	necessidade	de	entender	a	
pluralidade	contida	na	esfera	popular.	O	que	acontece	na	definição	de	cultura	é	a	
pontuação de determinados sentidos de ação e atitudes que conferem o alcance 
do que é considerado culto, apontando claramente os limites impostos pela 
sociedade, deixando em segundo plano as atividades e manifestações que não se 
encaixam nos moldes que conferem autenticidade à cultura. 
Refletindo	 com	 cautela,entretanto,	 logo	 perceberemos	 que,	
por sobre essas diferenças, alguns valores e concepções 
são implementados socialmente, através de complexos 
mecanismos de produção e divulgação de ideias, como 
se fossem ou devessem se tornar, os modos de agir e de 
pensar de todos. É essa, na verdade, uma das funções mais 
importantes (embora não a única) das escolas, das igrejas, 
51
Uma Questão de Cultura e IdentidadeCapítulo	2
dos museus e dos meios de comunicação de 
massa. (ARANTES, 1981, p.13).
Cabe	às	instituições	reafirmar	as	diretrizes	da	cultura,	diferenciando-a	
do que é popular. Observa-se uma categorização nas formas de se 
tratar	o	popular,	deixando	uma	distância	significativa	entre	determinados	
sujeitos de uma mesma sociedade. A arte e suas manifestações em 
todas	 as	 esferas	 são	 as	 que	mais	 ficam	 na	mira	 desses	 conceitos.	A	
dança e a dança popular ou folclórica, a música e a música popular, a 
arte	e	o	artesanato,	a	escultura	e	a	cerâmica,	a	gravura	e	o	cordel,	 a	
religião e as crenças, a gastronomia e a culinária estão entrelaçadas em 
seus elementos constituintes, mas em diferentes lugares na coletividade. 
Nessas questões, e em outras tantas que permeiam o cotidiano da 
sociedade, enfatiza-se as diferenças na busca do distanciamento ou 
da	 separação	 dos	 elementos	 da	 cultura.	 A	 definição	 de	 parâmetros	
culturais objetiva homogeneizar a sociedade, que deverá ser educada 
e desenvolver bom gosto. Em nenhum momento se problematiza 
a	 definição	 desse	 gosto	 e	 sim	 se	 concentra	 no	 desenvolvimento	 de	
mecanismos	políticos	na	sociedade	que	assegurem	a	imposição	dessas	
definições.	Assim,	o	popular	vai	se	construindo	à	margem	do	que	deseja	a	
minoria da sociedade, dita culta, possuidora das luzes do conhecimento. 
A	 cultura	 brasileira,	 por	 suas	 características	 de	multiplicidade,	 é	
de	 difícil	 encaixe	 para	 sua	 definição.	Por	 isso	 se	 pensa	 em	 culturas,	
porque	 as	 especificidades	 nas	 linguagens	 culturais	 são	 de	 tamanha	
vastidão	que	parece	 tarefa	 impossível	definir	o	que	é	cultura	popular,	
seja	quais	forem	os	parâmetros	adotados.	Pensar	a	cultura	acarreta	a	
análise	das	relações	pessoais	dos	indivíduos	em	sociedade.
Em se tratando de vida social, a cultura 
(significação)	está	em	toda	parte.	Todas	as	nossas	
ações, seja na esfera do trabalho, das relações 
conjugais,	 da	 produção	 econômica	 ou	 artística,	
do sexo, da religião das formas de dominação e 
de solidariedade, tudo nas sociedades humanas 
é	 constituído	 segundo	 os	 códigos	 e	 convenções	
simbólicas que denominamos de cultura. 
(ARANTES, 1981, p.34).
Nesse	 sentido,	 a	 decodificação	 dos	 símbolos	 presente	 em	 cada	
cultura	pode	contribuir	para	a	compreensão	do	que,	de	 início,	parece	
estranho.	 No	 entanto,	 os	 estudos	 semióticos	 acerca	 dos	 símbolos	
agregam valor ao estudo da cultura. Em se tratando de cultura popular, 
os	 entremeios	 que	 configuram	 cada	 manifestação	 são	 regados	 por	
outros fatores que a tornam assim complexa. 
A dança e a 
dança popular 
ou folclórica, 
a música e a 
música popular, 
a arte e o 
artesanato, a 
escultura e a 
cerâmica, a 
gravura e o 
cordel, a religião 
e as crenças, a 
gastronomia e a 
culinária.
 À margem 
das culturas, 
porque as 
especificidades 
nas linguagens 
culturais são de 
tamanha vastidão 
que parece 
tarefa impossível 
definir o que é 
cultura popular, 
seja quais forem 
os parâmetros 
adotados.
Os estudos 
semióticos acerca 
dos símbolos 
agregam valor ao 
estudo da cultura.
52
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
Esta postura nos convida a compreender de que modo, a partir 
de uma linguagem muitas vezes comum a todos os membros 
de um grupo social diferenciado, expressam-se compreensões 
variadas	 e	 às	 vezes	 conflitantes	 acerca	 de	 questões	 sociais	
fundamentais. Ou seja, transparece, nesse modo de 
interpretar	a	cultura	entre	uma	 língua	e	suas	múltiplas	 falas,	
não as possibilidades lógicas e abstratas de um sistema de 
comunicação,	gerador	de	 infinitas	mensagens	a	partir	de	um	
conjunto	finito	de	regras,	mas	a	articulação	de	ponto	de	vista	
de	grupos	que	possuem	interesses	políticos	diversos	e	muitas	
vezes divergentes. (ARANTES, 1981, p.36).
Os estudos semióticos apontam a cultura como o conjunto de informações que 
ela possui. Essas informações são mutáveis no que se refere à sua interpretação, 
que está atrelada ao seu contexto. O processo de divulgação desses códigos 
culturais	é	transferido	pelos	indivíduos	para	os	que	fazem	parte	do	seu	grupo.	No	
entanto,	cabe	ressaltar	que	essas	 informações	são	 influenciadas	 também	pelos	
sujeitos, que a recebem e repassam os saberes adquiridos. Nesse sentido, os 
elementos da arte laboram como linguagem.
Linguagem é também entendida como a que se expressa não 
por	signos	linguísticos,	mas	por	outros	signos,	seja	através	da	
arte,	da	técnica	de	representação	e	de	expressão	gráfica,	da	
imagem de um tema real ou imaginário, em suas várias formas 
e	objetivos,	sejam	eles	lúdicos,	artísticos,	científicos,	técnicos	
e pedagógicos. (MACHADO 1998, p. 20).
Sendo assim, determinadas ações sociais são interpretadas/comunicadas 
dependo	do	contexto	em	que	os	sujeitos	estão	inseridos.	É	possível	notar	que	esta	
forma	de	 interpretação	e	comportamento	está	atrelada	aos	 interesses	políticos	e	
sociais de cada sociedade, conferindo status de valor a formas de conduta perante 
manifestações	artísticas	e	culturais.	Como	exemplo	de	interpretação	de	conceitos,	é	
possível	citar	as	campanhas	e	os	discursos	políticos	e	sua	estruturação	na	forma	de	
sua apresentação. Aqui, as questões que são apontadas por candidatos e eleitores 
têm	significados	distintos,	embora	aparentemente	se	pareçam.	A	saúde,	o	combate	
à pobreza, e até mesmo o voto são entendidos conforme o interesse de cada grupo. 
Nesse sentido, a interpretação dessas situações está atrelada à visão dos sujeitos 
que se encontram perante elas, mesmo pertencendo à “mesma” sociedade. É 
comum	que	em	algumas	campanhas	políticas,	alguma	atividade	cultural	faça	parte	
do espetáculo, sendo que, dependendo da região, determinado grupo musical ou 
teatral é cuidadosamente escolhido para agregar valor à intenção de comunicação 
e	disseminação	de	desejos	políticos.	Assim,	a	questão	da	cultura	popular	se	mostra	
em sua complexidade também como elemento de interesse ou desinteresse, 
dependendo de seu contexto. Nesse rastro,
A	chamada	arte	popular,	produzida	por	um	grupo	profissional	
de especialista (indústria cultural), era vista, por outro lado, 
53
Uma Questão de Cultura e IdentidadeCapítulo	2
como mais apurada e apresentando alto grau de 
elaboração técnica superior à primeira (arte do 
povo, grifo nosso). Não obstante, seu objetivo 
supremo consiste em distrair o espectador em 
vez de formá-lo, entretê-lo e aturdi-lo, em vez de 
despertá-lo	 para	a	 reflexão	e	a	 consciência	de	 si	
mesmo. (ARANTES, 1981, p. 53).
Cultura negada, padronizada. Cultura explorada. Cultura como 
instrumento de dominação, de aniquilamento das particularidades de 
grupos, cultura como marca da história que ainda vive. A arte de cada 
povo simboliza a sua identidade, então cabe perguntar qual arte e qual 
identidade conhecemos do outro, e de nós mesmos. No viés dessa 
reflexão,	a	cultura	popular	deve	ser	respeitada	e	entendida	como	forma	
de	 se	 garantir	 as	 condições	 materiais	 de	 cunho	 artístico	 e	 cultural	
necessárias	ao	povo,	que	visa	às	modificações	necessárias	da	sociedade	
em	que	os	sujeitos	estão	inseridos.	Esses	sujeitos	são	constituídos	por	
elas e a constituem, em um processo dialético para a emancipação.
Figura 13 - A diversidade brasileira
Fonte:	Disponível	em:	<http://www.not1.com.br/cultura-popular-patrimonio-
do-brasil-manifestacoes-culturais-do-povo/>. Acesso em: 29 set. 2011.
 Cultura negada, 
padronizada. 
Cultura 
explorada. 
Cultura como 
instrumento de 
dominação, de 
aniquilamento das 
particularidades 
de grupos, cultura 
como marca da 
história que aindavive.
A cultura 
popular deve 
ser respeitada 
e entendida 
como forma 
de se garantir 
as condições 
materiais de 
cunho artístico 
e cultural 
necessárias 
ao povo.
http://www.not1.com.br/cultura-popular-patrimonio-do-brasil-manifestacoes-culturais-do-povo/
http://www.not1.com.br/cultura-popular-patrimonio-do-brasil-manifestacoes-culturais-do-povo/
54
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
Figura 14 - A Mistura da Cultura Brasileira
Fonte:	Disponível	em:	<http://www.not1.com.br/cultura-popular-patrimonio-
do-brasil-manifestacoes-culturais-do-povo/>. Acesso em: 29 set. 2011.
”Família	Alcântara”: documentário sobre os descendentes da 
etnia bantu, de Angola, que chegaram ao Brasil como escravos, mas 
preservaram sua cultura. 
Figura	15	-	Família		Alcântara
 
Fonte:	Disponível	em:	<http://www.not1.com.br/cultura-popular-patrimonio-
do-brasil-manifestacoes-culturais-do-povo/>. Acesso em: 26 out. 2011. 
http://www.not1.com.br/cultura-popular-patrimonio-do-brasil-manifestacoes-culturais-do-povo/
http://www.not1.com.br/cultura-popular-patrimonio-do-brasil-manifestacoes-culturais-do-povo/
http://www.not1.com.br/cultura-popular-patrimonio-do-brasil-manifestacoes-culturais-do-povo/
http://www.not1.com.br/cultura-popular-patrimonio-do-brasil-manifestacoes-culturais-do-povo/
55
Uma Questão de Cultura e IdentidadeCapítulo	2
Se você quiser saber sobre a Declaração Universal da 
Diversidade Cultural, poderá baixar o material da UNESCO sobre 
essa temática no site:
http://unesdoc.unesco.org/images/0012 /001271/127160por.pdf.
Algumas	Considerações	
Pensar	 a	 cultura	 brasileira	 obrigatoriamente	 nos	 leva	 a	 rever	 o	 início	 da	
colonização e todas as suas transformações, ou seja, pensar sobre os que aqui 
já	estavam,	os	índios	e	os	demais	que	chegaram,	pensar	em	como	esse	encontro	
resulta em uma tensão muitas vezes violenta. 
A vida de todos nesse contexto segue sua trajetória, agregando e segregando 
valores, selecionando o que entendemos como parte de nós. No entanto, a 
cultura	herdada	através	das	manifestações	artísticas,	da	religião,	da	alimentação,	
é fruto da riqueza dos que às vezes entendemos como diferentes, mas que são 
desprovidos dos direitos que nós temos. 
A	intolerância	ao	outro,	o	racismo,	a	discriminação,	a	violência	podem	estar	
embutidos	em	práticas	culturais	e,	assim,	a	avaliação	crítica	de	nossa	cultura	e	o	
conhecimento dos fatores que resultaram nessa cultura é fundamental. Os livros 
trazem informações valiosas acerca dessas questões, mas também o cotidiano, 
vivido	por	cada	um	de	nós,	é	fonte	riquíssima	de	reflexão	para	a	convivência	justa	
com	as	diferenças.	Como	viver	junto?	O	desafio	é	de	todos.
Referências
ARANTES, Antonio Augusto. O que é cultura popular. São Paulo: Brasiliense, 
1998.
APPIAH,	Kwame	Anthony.	Na casa de meu pai:	a	África	na	filosofia	da	cultura.	
Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.
BAUDRILLARD, Jean. A ilusão vital. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. 
http://unesdoc.unesco.org/images/0012/001271/127160por.pdf
56
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
_____ A sombra das maiorias silenciosas: o	fim	do	social	e	o	surgimento	das	
massas. São Paulo: Brasiliense, 1994.
BHABHA, Homi K. O local da cultura. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998.
CANCLINI, Néstor Garcia. Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da 
modernidade. São Paulo: Edusp, 2003.
CABRAL, Eula de Taveira. Diversidade cultural: é preciso reagir e lutar. Editora 
do Informativo Eletrônico SETE PONTOS. http://www.comunicacao.pro.br/
setepontos/30/diversidade.htm
DESCARTES, Rene. Discurso sobre o método. São Paulo: Hemus, 1978. 136p.
DU	BOIS,	Willian	Edward	Burghardt.	As almas da gente negra. Rio de Janeiro: 
Lacerda Ed., 1999.
FREYRE,	Gilberto.	Casa grande & senzala. Rio de Janeiro: José Olympio, 2001.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: Ed. 
DP&A, 2006.
HUTCHEON, Linda. Poética do pós-modernismo. Rio de Janeiro: Ed. Imago, 
1991.
LACAN, Jacques; MASOTTA, Oscar (coord.). Las formaciones del 
inconsciente. Buenos Aires: Nueva Vision, 1972. 173p.
LYOTARD,	Jean-François.	A condição pós-moderna. Rio de Janeiro: José 
Olympio, 2000. 
SARTRE, Jean-Paul. O ser e o nada: ensaio de ontologia fenomenológica. 2. ed. 
Petrópolis: Vozes, 1997. 782p. Tradução de: Lïetre et le neant : Essai dïontologie 
phenomenologique.
TINHORÃO, José Ramos. Cultura popular: temas e questões. São Paulo: Ed. 
34, 2001. 188p.
http://www.comunicacao.pro.br/setepontos/30/diversidade.htm
http://www.comunicacao.pro.br/setepontos/30/diversidade.htm
CAPÍTULO 3
Os	Entrelaçamentos	
entre	Arte	e	Cultura
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 9 Entender	a	cultura	em	suas	raízes	de	múltiplas	influências.
 9 Identificar	as	especificidades	que	compõem	o	entrelaçamento	de	arte	e	cultura	
e	os	conflitos	existentes.
 9 Conhecer o termo folclore e suas implicações culturais, nos enfoques teóricos.
 9 Desenvolver	olhar	flexível	sobre	a	cultura	brasileira,	como	táticas	de	resistência	
na oralidade e na escrita.
 9 Refletir	sobre	a	arte	também	como	reflexo	e	fruto	do	meio	cultural.
58
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
59
Os Entrelaçamentos entre Arte e CulturaCapítulo	3
Contextualização
Neste	 capítulo,	 abordamos	 as	 questões	 que	 ligam	 a	 arte	 e	 a	 cultura.	
No	 decorrer	 do	 texto,	 fundamentos	 filosóficos	 apontam	 essa	 aproximação	 e	
também as peculiaridades de cada fenômeno atreladas às matrizes éticas que 
as fundamentam. O folclore também se apresenta como forma de manifestação 
artística	e	fundamentalmente	cultural.
Além	 disso,	 neste	 capítulo	 estudaremos	 o	 entrelaçamento	 da	 arte	 e	 da	
cultura	nos	conflitos	existentes.	Também	conheceremos	o	termo	folclore	e	as	suas	
implicações culturais. 
A	Arte	e	a	Cultura	
Ao entendermos a arte como ação humana, vamos ao encontro 
da	cultura,	entendida	também	como	espaço	constituído	por	elementos	
humanos. Arte e cultura estão associadas ao trabalho humano, cada 
uma	com	suas	especificidades	e	seu	contexto.	Assim	como	a	obra	de	
arte, independentemente do suporte que a apresenta, traz em sua 
composição o pensamento do artista acerca da sociedade em que 
ele	está	inserido,	suas	faces	e	seus	conflitos,	também	a	cultura	reflete	
a	 sociedade,	 sendo	 constituída	 por	 ela	 e	 a	 constituindo	 ao	mesmo	
tempo.
Arte e cultura passam por mudanças em sua concepção no 
decorrer do tempo, no entanto, não se afastam de sua habilidade de 
reflexo	do	meio	social	em	que	existem.	Os	 fenômenos	constituintes	
da cultura de cada grupo étnico vão revelar os valores desse grupo, 
bem com suas crenças, costumes, rituais. Também a arte de cada 
grupo será afetada de forma direta na sua composição, na escolha de 
materiais, formas e cores. Nesse sentido, arte e cultura são feitios de 
uma determinada sociedade que também é atingida de forma direta 
por	influências	múltiplas	de	matrizes	étnicas.	
No	que	se	refere	à	arte	brasileira	e	à	cultura	brasileira,	temos	os	indígenas	
como	referência	de	um	povo	que	é	fortemente	influenciado	pelos	europeus	e	os	
africanos, um se sobressaindo em relação ao outro nesse cenário de troca de 
experiências.	No	caso	especifico	do	Brasil,	a	cultura	europeia	foi	imposta	à	jovem	
terra colonizada, mas não absorvida de forma neutra. A colonização europeia e 
a chegada dos africanos propiciaram a construção de uma cultura rica na sua 
diversidade de elementos. A arte também.
A obra de arte, 
independentemente 
do suporte que a 
apresenta, traz em 
sua composição 
o pensamento do 
artista acerca da 
sociedade em que 
ele está inserido, 
suas faces e seus 
conflitos, também 
a cultura reflete a 
sociedade, sendo 
constituída por ela 
e a constituindo ao 
mesmo tempo.
60
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
Figura 16 - Obra de Hélio Oiticica 
Fonte:	Disponível	em:	<http://topicos.estadao.com.br/fotos-
sobre-masp/metaesquema-1957-de-helio-oiticica-obra-faz-parte-da-colecao-itau-exposta-no-masp,89849986-29c2-4a52-
a723-a5bf48e50331>. Acesso em: 03 dez. 2011.
No	cenário	contemporâneo,	a	discussão	em	torno	da	cultura	é	tema	
recorrente, pois a multiplicidade de informações contidas em hábitos 
cotidianos de grupos que compõem uma mesma sociedade exige olhar 
o	outro	a	partir	de	um	entendimento	flexível.	Já	não	é	possível,	em	terra	
brasiliana, falarmos em uma cultura singular, mas sim nas culturas 
constituintes do povo brasileiro, das muitas cores, crenças, ritmos, 
sabores, valores. É coerente perante a multiplicidade de elementos que 
a cultura brasileira apresenta não eleger qualquer escala de valor, pois 
não cabe atitude seletiva, e sim postura de respeito e assentimento 
das diferenças, abandonando o pensamento norteador de uma cultura 
etnocêntrica. No entanto, não podemos deixar de problematizar a 
cultura dita popular.
 
O termo cultura popular traz em sua base inúmeras questões 
conceituais, se referindo diretamente ao povo. Frente a isso, cabe 
indagar: quem é esse povo? Como se constitui? Que lugar ocupa na 
sociedade?	Quais	os	critérios	utilizados	na	definição	de	“popular”?	
Marilena	 Chauí,	 em	 seu	 livro	 “Conformismo	 e	 Resistência”,	 faz	 uma	
abordagem profunda sobre a cultura popular. Aponta que o termo popular está 
É coerente 
perante a 
multiplicidade de 
elementos que a 
cultura brasileira 
apresenta não 
eleger qualquer 
escala de valor, 
pois não cabe 
atitude seletiva, 
e sim postura 
de respeito e 
assentimento 
das diferenças, 
abandonando 
o pensamento 
norteador de 
uma cultura 
etnocêntrica.
http://topicos.estadao.com.br/fotos-sobre-masp/metaesquema-1957-de-helio-oiticica-obra-faz-parte-da-colecao-itau-exposta-no-masp,89849986-29c2-4a52-a723-a5bf48e50331
http://topicos.estadao.com.br/fotos-sobre-masp/metaesquema-1957-de-helio-oiticica-obra-faz-parte-da-colecao-itau-exposta-no-masp,89849986-29c2-4a52-a723-a5bf48e50331
http://topicos.estadao.com.br/fotos-sobre-masp/metaesquema-1957-de-helio-oiticica-obra-faz-parte-da-colecao-itau-exposta-no-masp,89849986-29c2-4a52-a723-a5bf48e50331
http://topicos.estadao.com.br/fotos-sobre-masp/metaesquema-1957-de-helio-oiticica-obra-faz-parte-da-colecao-itau-exposta-no-masp,89849986-29c2-4a52-a723-a5bf48e50331
61
Os Entrelaçamentos entre Arte e CulturaCapítulo	3
diretamente relacionado ao subalterno, ao regional, ao tradicional e ao folclore: 
Kitsch. Na música, essa separação se destaca na utilização do termo “música 
popular” e “música erudita”. 
Ao se tratar da cultura, a discussão envolve a história de cada 
civilização. Nesse sentido, o progresso de cada civilização organiza 
sua	 cultura,	 sendo	 influenciadora	 das	 novas	 nações	 e	 herdando	 as	
influências	 de	 seus	 antepassados.	 No	 século	 XVIII,	 segundo	 Chauí	
(1989), os termos “cultura” e “civilização” são entendidos pelo olhar 
da	 Filosofia	 como	 distintos.	 Em	 Rosseau,	 a	 cultura	 está	 ligada	 à	
bondade natural, à espiritualidade, sentimento e imaginação. Já o 
termo	 “civilização”,	 como	 convenção	 sociopolítica,	 está	 relacionado	a	
um	artifício.	A	autora	aponta	também	que,	na	filosofia	kantiana,	cultura	
e	civilização	se	aproximam,	em	equilíbrio.	Ao	entender	a	parte	histórica	
da	cultura	de	cada	civilização,	Chauí	 (1989)	novamente	vai	assinalar	
a	contribuição	da	filosofia,	agora	em	Hegel,	em	que	a	cultura	mostra	
os	modos	de	vida	da	sociedade,	sendo	um	trabalho	do	espírito.	Já	em	
Karl Marx, a autora registra a relação material dos sujeitos sociais, 
amparada	 nas	 condições	 disponíveis.	 E	 a	 cultura	 como	 campo	 das	
formas simbólicas encontra sustentação em Cassirer e Merleau-Ponty. 
Assim, o termo cultura ganha desvios,	significados	díspares	nas	teorias	
desenvolvidas	por	cada	olhar	da	Filosofia.
Figura 17 – Obra de arte de Escher 
Fonte:	Disponível	em:	<http://www.mcescher.com/Gallery/
gallery-recogn.htm/>. Acesso em: 03 dez. 2011.
Ao entender a 
parte histórica da 
cultura de cada 
civilização, Chauí 
(1989) novamente 
vai assinalar a 
contribuição da 
filosofia, agora 
em Hegel, em 
que a cultura 
mostra os modos 
de vida da 
sociedade, sendo 
um trabalho do 
espírito.
http://www.mcescher.com/Gallery/gallery-recogn.htm
http://www.mcescher.com/Gallery/gallery-recogn.htm
62
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
Se você quiser conhecer mais sobre as obras de Escher, acesse 
o site: http://www.mcescher.com/Gallery/gallery-recogn.htm .
Vale a pena conferir como o artista une Arte e Matemática em 
imagens espetaculares.
No cenário atual, a cultura popular está atrelada diretamente ao 
povo, este povo entendido como a maioria, o coletivo, o maior número 
de pessoas que convive em determinados locais, sendo que em cada 
região	apresenta	características	específicas.
Existe uma separação conceitual dos elementos culturais, 
denominados como culto e inculto. Essa herança tem origem na 
constituição das sociedades, em que alguns poucos integrantes foram 
considerados portadores de direitos e conhecedores do dever e da 
razão, em vista de outros que, ignorando determinados saberes, deviam 
ser orientados, dirigidos, educados. Surge a classe erudita, culta, os 
intelectuais, alguns. Existe também, a grande maioria, o povo, popular, 
muitos. Esses sujeitos populares, desprovidos de razão, dedicavam 
seu tempo e seu trabalho à satisfação de suas necessidades básicas. 
Nesse	cenário,	a	arte	e	a	política	estão	a	construir	uma	sociedade	
que visa o progresso e, assim, ações utilitaristas devem ocupar o 
pensamento dos dirigentes, responsáveis pela educação e construção 
dessa	sociedade.	O	que	reflete	o	popular,	o	imediato	dos	que	compõem	
a maioria é desmerecido. Existe um modelo a seguir, virtuoso e eleito 
como ideal pelos ditos intelectuais da sociedade. Os elementos 
constitutivos dessa nova sociedade que não estiverem próximos a esse 
ideal, são desconsiderados por serem incultos. Pertencem ao povo, à 
maioria. São populares. 
RICUPERO, Bernardo. O Romantismo e a Ideia de Nação 
no Brasil. São Paulo: Martins Fontes, 2004. 
Essa herança 
tem origem na 
constituição das 
sociedades, 
em que 
alguns poucos 
integrantes foram 
considerados 
portadores 
de direitos e 
conhecedores 
do dever e 
da razão, em 
vista de outros 
que, ignorando 
determinados 
saberes, deviam 
ser orientados, 
dirigidos, 
educados.
http://www.mcescher.com/Gallery/gallery-recogn.htm
63
Os Entrelaçamentos entre Arte e CulturaCapítulo	3
Figura 18 – Livro de Ricupero
Fonte:	Disponível	em:	<http://www.bondfaro.com.br/preco--livros-
-o-romantismo-e-a-ideia-de-nacao-no-brasil-1830-1870-bernardo-
ricupero-8533620756.html>. Acesso em: 10 out. 2011.
Será no movimento denominado Romantismo, ocorrido na Europa, que 
questões atreladas ao popular irão ser questionadas, repensadas. Longe do olhar 
de inferioridade daqueles que organizam e delimitam o espaço dado às expressões 
populares,	os	românticos	entenderam	as	manifestações	do	povo	como	genuínas,	
puras,	merecedoras	de	 todo	o	 louvor.	 Longe	dos	 cânones	orientadores	da	arte	
vigente,	a	cultura	popular	revelou-se,	nesse	período,	como	verdadeira	e	divina.	
O romantismo baseia-se mais numa atitude mental que numa 
série	 de	 tendências	 estilísticas	 determinadas,	 e	 está	 ligado	
à expressão de ideias que tendem a ter uma origem mais 
verbal que visual. Um templo arruinado neste contexto é mais 
significativo	que	um	templo	novo,	pois	veicula	de	modo	mais	
apropriado a passagem do tempo e a fragilidade humana. 
(CHILVERS, 2001, p.459).
Neste	 ponto,	 Chauí	 (1989)	 revela	 que	 essa	 postura	 dos	
românticos	 é	 uma	 resposta	 ao	 modelo	 neoclássico	 imposto.	 Em	
claro protesto contra a arte clássica imposta, a busca da natureza 
e seus elementos vão elevar as expressões da cultura popular, 
cultura	não	contaminada,	ainda	pura,	segundo	os	românticos.	Nesse	
contexto,	 o	 resgate	 da	 cultura	 indígena	 na	América	 Latina	 ganha	
espaço, por ser entendida como próxima da natureza, e longe dos 
ideais da classe dominante.No Brasil, as diferenças entre cultura e cultura popular são 
discutidas de forma acirrada já nos anos 60, através das vanguardas 
Já a cultura erudita 
é vista como ligada 
à arte, no entanto, 
necessitada em rever 
posturas perante 
as manifestações 
artísticas, 
desenvolvendo seu 
lado mais humano, 
resgatando a 
sensibilidade.
http://www.bondfaro.com.br/preco--livros--o-romantismo-e-a-ideia-de-nacao-no-brasil-1830-1870-bernardo-ricupero-8533620756.html
http://www.bondfaro.com.br/preco--livros--o-romantismo-e-a-ideia-de-nacao-no-brasil-1830-1870-bernardo-ricupero-8533620756.html
http://www.bondfaro.com.br/preco--livros--o-romantismo-e-a-ideia-de-nacao-no-brasil-1830-1870-bernardo-ricupero-8533620756.html
64
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
artísticas.	Herdeiras	do	ideal	romântico,	o	povo	e	sua	cultura	são	entendidos	pelos	
artistas como carente de sensibilidade para seu aprimoramento e necessitados de 
um	contato	maior	com	a	produção	artística.	Já	a	cultura	erudita	é	vista	como	ligada	à	
arte,	no	entanto,	necessitada	em	rever	posturas	perante	as	manifestações	artísticas,	
desenvolvendo seu lado mais humano, resgatando a sensibilidade. Essa relação 
vai apontar a força das ideologias, problematizadas em Gramsci, segundo (CHAIU, 
1989), que vê a cultura como um processo global, contendo representações com 
valores	definidos	em	época	e	lugar.	Alerta	também	que	a	ideologia	dominante,	de	
alguma forma, é indiferente aos valores fundamentais da cultura.
Nesse sentido, a ideologia aqui discutida, essa em junção com os processos 
históricos e também da cultura, não é estanque, passa por transformações e 
permite a resistência. No entanto, reconhecemos que a cultura em uma sociedade 
para todos tem sentido diferente, marcando, em seu espaço, condições 
diversificadas	 de	 vida,	 dependendo	 da	 classe	 social	 em	 que	 se	 revela.	 Ao	
prevalecer determinada ideologia, cabe convencer a massa a aceitar também os 
padrões estéticos estabelecidos por um pequeno grupo, favorecendo o controle e 
a dominação de uma minoria sobre uma maioria:
Nos dias de hoje, as estratégias elaboradas para alienar as 
classes populares não contam apenas com mecanismos de 
esfera	 política	 e	 econômica.	 Com	 o	 poder	 tecnológico	 dos	
meios de comunicação de massa cada vez mais aperfeiçoados 
e	potentes,	 reproduz-se	um	círculo	vicioso	de	alienação	que	
perpassa	todos	os	âmbitos	a	cultura	humana,	afetando	tanto	
o	cotidiano	quanto	as	relações	econômicas,	sociais	e	políticas	
das pessoas. (ZITKOSKI, 2006, p. 31).
Nesse olhar global, ocorre a discussão em torno da “cultura de 
massa”,	 	 na	 teoria	 dos	 frankfurtianos	Adorno,	 Horkheiner	 e	Marcuse	
(CHAUÍ, 1989, p.27). A cultura de massa visa disseminar atitudes de 
consumo por parte dos integrantes da sociedade, utilizando os meios 
de comunicação para a construção e aceitação de estilos de vida e 
hábitos de consumo em um projeto quase homogêneo. Essa cultura de 
massa vai de alguma forma atingir a maioria, promovendo uma acirrada 
disputa por produtos. Assim, o mercado investe de forma agressiva no 
cotidiano do consumidor, utilizando principalmente as imagens
Da televisão ao jornal, da publicidade a todas as epifanias 
mercadológicas, a nossa sociedade canceriza a vista, mede 
toda a realidade por sua capacidade de mostrar e transformar 
as comunicações em imagem do olhar. É uma epopéia do olho 
e da pulsão de ler.... a leitura (da imagem ou do texto) parece 
aliás contribuir o ponto máximo da passividade que caracteriza 
o	consumidor,	constituído	em	VOYER	(troglodita	ou	nômade),	
em uma “sociedade do espetáculo”. (CERTEAU, 1994, p.49). 
A cultura de 
massa visa 
disseminar 
atitudes de 
consumo por 
parte dos 
integrantes 
da sociedade, 
utilizando 
os meios de 
comunicação 
para a construção 
e aceitação de 
estilos de vida 
e hábitos de 
consumo em um 
projeto quase 
homogêneo.
65
Os Entrelaçamentos entre Arte e CulturaCapítulo	3
Figura	19	-	Arte	e	teledramaturgia	de	Vick	Muniz
Fonte:	Disponível	em:	<http://www.arteffinal.com/2010/05/passione-
cultura-de-massa-vik-muniz.html>. Acesso em: 03 dez. 2011.
Nessa abordagem, a cultura popular é vista como forma de sobrevivência 
em um cenário em que dominantes e dominados (com)vivem, cada qual dentro 
de seus objetivos e possibilidades. Assim, a cultura popular é “prática local e 
temporalmente determinada, como atividade dispersa no interior da cultura 
dominante, como mescla de conformismo e resistência” (CHAUÍ, 1989 p.43).
Na sociedade capitalista, as querelas sociais resultam na desigualdade cruel, 
em que o autoritarismo é arma usada por aqueles que representam a classe 
dominante, esquadrinhando a obediência dos dominados. Nesse sentido, existem 
Sociedades na quais as leis sempre foram armas para 
preservar privilégios e o melhor instrumento para a repressão e 
a	opressão,	jamais	definindo	direitos	e	deveres.	A	cidade	olha	a	
favela como uma realidade patológica, uma doença, uma praga, 
um quisto, uma calamidade publica. (CERTEAU, 1994, p.59).
A falta de consciência na sociedade faz com que a parte 
carente dessa coletividade seja entendida como falha do projeto de 
desenvolvimento. A cultura popular está ligada à forma como os ditos, 
impostos pela classe culturalmente reconhecida pela sociedade, são 
incorporados pelo povo. Como parte frágil da sociedade no que se 
refere ao poder econômico, o povo constitui a cultura popular como 
forma de manter sua identidade. Ele sobrevive no lugar da sociedade 
que	lhe	é	permitido	e	modifica	esse	espaço,	tornando-o,	em	seu	lugar,	
eleito. E nesse espaço cria elementos simbólicos que tornam originais 
e nativos os sujeitos que ali convivem. Cria um espaço dentro dessa 
sociedade que, de certa forma, o elege como marginal. 
A cultura popular 
está ligada à 
forma como os 
ditos, impostos 
pela classe 
culturalmente 
reconhecida pela 
sociedade, são 
incorporados 
pelo povo.
http://www.arteffinal.com/2010/05/passione-cultura-de-massa-vik-muniz.html
http://www.arteffinal.com/2010/05/passione-cultura-de-massa-vik-muniz.html
66
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
ESTÉTICA E CULTURA DE MASSA. 
http://youtu.be/AnTEUuTJM8c
Na arte também ocorre o mesmo fenômeno. Embora as manifestações 
artísticas	 apresentem	 características	 distintas,	 recebendo	 influências	 de	 todas	
essas questões de poder, ideologia e padrões estéticos da sociedade que 
se apresentam na cultura popular, a arte é parte integrante das ações desses 
sujeitos. Juntamente com a oralidade, a culinária, a religião, a arte é elemento da 
cultura	popular.	Assim	como	no	contexto	geral	da	cultura,	na	parte	específica	da	
arte também ocorre uma reformulação das questões que lhe são impostas, como 
ressalta	Chauí	(1989)	ao	se	referir	ao	circo-teatro,	espaço	cênico	que	concentra	
melodrama e comédia, com a forte participação do público, que interfere no 
andamento e desenvolvimento das peças apresentadas. 
[...] mas justamente porque se trata de manifestação da cultura 
popular, [é interessante] observar-se que os enredos das 
peças adaptadas da televisão e do rádio ou letras de músicas 
sofrem	 modificações	 decorrentes	 da	 interpretação	 popular.	
(CERTEAU, 1994 p. 73)
O texto teatral ao ser interpretado vai, de alguma forma, passar por 
modificações	 significativas,	 pois	 traz	 em	sua	exposição	 final	 essa	 influência	 do	
ator	 e	 seu	 contexto.	Vários	 fatores	 influenciam	o	 olhar	 do	 ator	 sobre	 a	 obra	 já	
elaborada em outro espaço. 
Para saber mais sobre o Circo-Teatro, você pode ler:
SILVA,	 Ermínia.	 As múltiplas linguagens na teatralidade 
circense	:	Benjamin	de	Oliveira	e	o	circo-teatro	no	Brasil	no	final	do	
século	XIX	e	início	do	XX.	Tese	de	Doutorado.	UNICAMP.	Campinas,	
2003	 -	 Disponível	 para	 download . Edições Funarte - http://www.
funarte.gov.br/edicoes-on-line/.
Um	 dos	 fatores	 de	 extrema	 importância	 salientado	 por	 Chauí	 (1989)	 é	
a	 religião	 na	 influência	 dos	 aspectos	 culturais	 de	 cada	 grupo.E,	 influenciados	
http://youtu.be/AnTEUuTJM8c
http://www.funarte.gov.br/edicoes-on-line/
http://www.funarte.gov.br/edicoes-on-line/
67
Os Entrelaçamentos entre Arte e CulturaCapítulo	3
pelos fundamentos de religiosidade, os movimentos de contestação 
política	vão	ganhar	força	no	centro	da	cultura	popular,	como	ressalta	
a	autora,	 ao	 citar	 dois	 conflitos	 regionais	 com	essas	 características:	
Canudos e Contestado. Nesse sentido, esses dois embates têm 
como	fio	condutor	o	que	a	autora	chama	de	sentimento	em	comum	
e que movimenta a união dos que estão longe do poder, ou seja, a 
sensação de injustiça. É movida por uma esperança de mudança, na 
busca de uma vida menos injusta, a união de todos, que uma luta se 
torna autêntica.
Indicação de site:
http://youtu.be/lHPH7-mjrsQ .
Assim	 como	 os	 fenômenos	 culturais	 passam	 por	 modificações	 atreladas	 à	
sua	história	e	contexto,	a	arte	brasileira	também	passou	por	 influências	de	várias	
culturas.	Essa	mescla	de	influências	na	arte	inicia	com	a	chegada	dos	portugueses	
ao	Brasil.	No	entanto,	se	de	início	a	arte	local	foi	desprezada	em	vista	dos	anseios	
de	 implantar	os	parâmetros	europeus	vigentes,	não	foi	possível	negar	ou	mesmo	
impedir o entrelaçamento cultural que ocorreu. A terra colonizada estava sob o poder 
de Portugal, e “sua arte” era aqui implantada. No entanto, esse novo espaço não 
era indiferente e, mesmo aceitando os valores a eles impostos, ocorriam pequenos 
desvios,	lacunas,	maneiras	de	fazer	que	influenciaram	a	arte	aqui	produzida.
Diversos	fatores	interagiam	com	a	produção	artística	direcionada:	
elementos	inocentes,	como	as	cores	da	jovem	terra,	o	calor,	as	flores,	
os animais, a água e o céu azul ensolarado. Como “uma criança 
ainda rabisca e suja o livro escolar, mesmo que receba um castigo 
por	este	crime,	a	criança	ganha	um	espaço,	assina	aí	sua	existência	
de autor” (CERTEAU, 1994 p. 94). Assim, a arte imposta era aceita, 
mas	com	modificações.	Não	havia	como	isentar	desses	sentimentos	
os artistas que, a serviço de Portugal, se esforçavam para reproduzir 
a	arte	europeia.	E	junto	com	o	projeto	artístico,	havia	a	cultura	local.	
Existiam	 os	 registros	 pré-históricos	 dos	 indígenas,	 no	 Brasil	 e	 nos	
demais	países	do	ocidente.	
Há bastante tempo que se tem estudado que 
equívoco	 rachava,	 por	 dentro,	 o	 “sucesso”	
dos colonizadores espanhóis entre as etnias 
indígenas:	submetidos	e	mesmo	consentindo	na	
Os indígenas as 
subvertiam, não 
rejeitando-as 
diretamente ou 
modificando-
as, mas pela 
sua maneira de 
usá-las para fins 
e em função de 
referência, estranha 
ao sistema do qual 
não podiam fugir. 
(CERTEAU, 
1994 p.39)
É movida por 
uma esperança 
de mudança, na 
busca de uma vida 
menos injusta, a 
união de todos, 
que uma luta se 
torna autêntica.
http://youtu.be/lHPH7-mjrsQ
68
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
dominação,	muitas	vezes	esses	 indígenas	 faziam	das	ações	
rituais, representações ou leis que lhes eram impostas outra 
coisa que não aquela que a conquista julgava obter por ela. 
Os	 indígenas	 as	 subvertiam,	 não	 rejeitando-as	 diretamente	
ou	modificando-as,	mas	pela	sua	maneira	de	usá-las	para	fins	
e em função de referência, estranha ao sistema do qual não 
podiam fugir. (CERTEAU, 1994 p.39).
Essas rachaduras no processo colonizador conferem à produção dos 
dominados	 as	 características	 de	 uma	 arte	 popular	 que	 não	 se	 encaixa	 no	
modelo imposto, mas existe como forma de expressão. E nesse contexto, a arte 
brasileira	vai	 formando	sua	história,	com	as	 influências	recebidas	dos	europeus	
e	 dos	 africanos.	Assim,	 os	 jesuítas	 utilizaram	 a	música	 e	 o	 teatro	 como	 forma	
de	aproximação	dos	indígenas	que	aqui	estavam.	No	que	se	refere	às	primeiras	
manifestações	artísticas	brasileiras,	temos	o	Maneirismo	como	marco	inicial.	
Um ano após sua chegada ao Brasil (1584), os frades 
franciscanos dedicaram-se a construir um conjunto de estilo 
maneirista na cidade de Olinda, em Pernambuco. O conjunto 
compunha-se de uma igreja e de um convento, batizados 
respectivamente, de Nossa Senhora das Neves e São 
Francisco. (GAVAZZONI,1998, p.95).
A decoração dessas construções foi realizada com material trazido de 
Portugal.	Ricamente	ornamentada,	os	princípios	religiosos	orientavam	também	a	
arte, principalmente na arquitetura. Com o passar do tempo e com as mudanças 
ocorridas	no	cenário	artístico	europeu,	o	estilo	maneirista	foi	substituído	pelo	estilo	
vigente, o Barroco. 
Segundo Gavazzoni (1998), o estilo barroco no Brasil se 
manifestou mais acentuadamente na parte interna das catedrais, como 
elemento de ornamentação e pintura. No entanto, o estilo barroco no 
Brasil	“floresceu	como	uma	planta	extravagante,	cultivada	numa	estufa	
imprópria, planta podada e enxertada grosseiramente, com ramos 
rejeitados ou, quando não rejeitados, mal incorporados por jardineiros 
canhestros” (GAVAZZONI, p. 110). 
Nesse,	 ponto	 arte	 e	 cultura	 brasileira	 revelam	 afinidade	 em	 sua	
constituição,	por	ambas	 lidarem	com	 influências	e	 reagirem	de	 forma	
construtiva nesse momento de tensão. É importante ressaltar que 
essas	influências	na	arte	não	são	genéricas,	pois	cada	região	do	país	
absorveu	 de	 alguma	 forma	 essas	 influências	 e	 deu	 seu	 testemunho,	
gerando culturas distintas. 
Com a implantação da Academia de Belas Artes, em 1822, iniciou-se o 
processo	de	implantação	de	valores	artísticos	importados	da	Europa.		
O estilo barroco 
no Brasil se 
manifestou mais 
acentuadamente 
na parte interna 
das catedrais, 
como elemento 
de ornamentação 
e pintura.
69
Os Entrelaçamentos entre Arte e CulturaCapítulo	3
O Barroco e o Rococó foram esquecidos e predomina a 
severa disciplina acadêmica. A estética do Barroco, já então 
muito débil, desaparece de vez. Sem dúvida, D. João VI 
tentou amparar artistas brasileiros, principalmente artistas 
fluminenses	 sempre	 mais	 à	 disposição,	 pois	 o	 governo	
tinha sua sede no Rio de Janeiro, contudo, sem abrir mão 
da tendência europeia (clássica), única escola reconhecida 
como boa e apreciável pelos padrões da elite dominante. 
(GAVAZZONI, 1998, p. 132)
Somente a partir do movimento modernista que a arte brasileira respirou 
na	 busca	 a	 sua	 identidade.	 Não	 se	 ignora	 as	 influências	 artísticas	 da	 Europa	
durante todo o processo, pois os artistas que participaram da Semana de 1922, ou 
Semana	de	Arte	Moderna,	tinham	consciência	do	que	ocorria	no	mundo	artístico	
ocidental	 e	 do	movimento	de	negação	da	arte	 vigente	em	vários	 países	e,	 por	
isso,	utilizaram	aqui	no	Brasil	o	resgate	da	identidade	artística	e	cultural	brasileira.	
Mas não foi assim tão simples, pois as condições materiais restringiam a desejada 
liberdade	artística.
Em São Paulo, Anita Malfatti (1896-1964) tem a primazia de 
abrir,	 definitivamente,	 a	 pintura	 brasileira	 para	 o	 novo	 estágio	
europeu, que superava o impressionismo. Anita estagia em 
Berlim, Munique, Roma, Paris e até em Nova Iorque, expondo 
sua obra ao público paulista, em 1917. Como sempre acontece, 
suas	 telas	 provocaram	 verdadeiro	 escândalo	 nos	 meios	
artísticos	e	sociais	da	época.	(GAVAZZONI,	1998,	p.	136).
É demasiado importante esse momento na arte brasileira, mesmo 
apresentando	 os	 limites	 causados	 pela	 forma	 como	 o	 país	 foi	 colonizado,	
suas	 influências	 e	 suas	 mesclas	 culturais.	 Nesse	 momento	 histórico,	 a	 arte	
representada ambiciona autonomia. Para Gavazzoni (1988), mesmo sendo um 
momento importante, é necessário reconhecer que os artistas buscavam essa 
autonomia,	 mas,	 ainda	 assim,	 apresentavam	 em	 suas	 obras	 forte	 influência	
estrangeira, devido a inúmeras causas, como o rigor da corte imperial, a pouca 
instrução dos habitantes, o consumismo da classe dominante. 
Revelando o bônus do movimento modernista, a intenção de construir uma 
arte genuinamente brasileira, a priori,	é	 ilusória,	devido	a	 influencias	que	o	país	
acumula.	No	entanto,	é	interessante	o	termo	empregado	por	Oswaldde	Andrade,	
“antropofagia”, que pode ser apropriado para o momento atual da arte, revelando 
a consciência de um povo colonizado, mas autor de sua arte. Não se nega a 
cultura recebida, apenas se afunilam as intenções, em “[...] Uma arte de utilizar 
aqueles que lhe são impostos” (CERTEAU, 1994 p. 94).
A	cultura	popular	apresenta	também	elementos	específicos	de	manifestações	
artísticas,	 denominados	 folclore.	 De	 início,	 a	 oralidade	 foi	 a	 marca	 das	
70
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
manifestações folclóricas, histórias contadas de geração em geração 
que	 mantêm	 a	 marca	 original	 de	 valores	 e	 crenças,	 reflexos	 e	
lembranças de fundo cultural.
Por exemplo, a arte de conversar, as retóricas da conversa 
ordinária são práticas transformadoras de situação de 
palavra de produções verbais onde o entrelaçamento das 
posições locutoras instaura um tecido oral sem proprietários 
individuais, as criações que não pertencem a ninguém. A 
conversa é um efeito provisório e coletivo de competências 
na arte de manipular, lugares comuns e jogar com o inevitável 
dos acontecimentos para torná-los habitáveis. (CERTEAU, 
1994, p. 50).
As histórias repetidas de forma oral, carregadas de conteúdo particular e 
específico,	chamaram	a	atenção	dos	 intelectuais	que,	 interessados	em	conhecer	
melhor essas formas de comunicação, se debruçaram sobre a interpretação dos 
mitos e das lendas. Junto com as histórias contadas, as particularidades da dança, 
da música, da culinária, do artesanato, da religião também se tornaram pontos de 
investigação para os artistas elitizados, que se aproximaram da cultura popular 
para a construção da bandeira nacionalista. E nessa abordagem, no acesso às 
manifestações	folclóricas,	mapeou-se	o	país,	localizando	particularidades	regionais,	
indagando sobre suas ações com termos próprios, seus usos e seus costumes.
Gosto de dar-lhes o nome de usos, embora a palavra 
designe geralmente procedimentos estereotipados recebidos 
e reproduzidos por um grupo, seus “usos e costumes”. O 
problema está na ambiguidade da palavra, pois nesses “usos” 
trata-se precisamente de reconhecer ações (no sentido militar 
da palavra) que são a sua formalidade e sua inventividade 
própria e que organizam em surdina o trabalho de formigas do 
consumo. (CERTEAU, 1994, p. 93).
É importante ressaltar que o folclore, como manifestação regional, 
ocupa um espaço importante na vida social do povo, apresentando 
variedades conforme cada local. Perante a mescla das culturas a partir 
das	 quais	 o	Brasil	 se	 constituiu,	 as	 heranças	 	 indígenas,	 africanas	 e	
europeias se revelam nos personagens, nos ritos e sabores do folclore. 
E é a partir do movimento modernista no Brasil que essas manifestações 
passam a ser foco de estudo institucionalizado e formalizado.
Ao	 longo	 do	 tempo,	 estudiosos	 e	 pesquisadores	 definiram	
alguns	 parâmetros	 para	 caracterizá-lo.	 Em	 primeiro	 lugar,	
o folclore é sempre popular, nasce do povo. Mesmo que 
sua	 origem	 seja	 erudita,	 ele	 é	 assimilado	 e	 “reconstruído”	
pelo saber popular. Isso acontece, com muita frequência, na 
música e na poesia, quando a obra de um determinado autor, 
ao chegar ao povo, vai sendo “revestida” pela criação popular, 
ao longo dos tempos. (HORTA, 2000).
O problema está 
na ambiguidade 
da palavra, 
pois nesses 
“usos” trata-se 
precisamente 
de reconhecer 
ações (no sentido 
militar da palavra) 
que são a sua 
formalidade e 
sua inventividade 
própria e que 
organizam 
em surdina 
o trabalho 
de formigas 
do consumo. 
(CERTEAU, 
1994, p. 93).
A cultura popular 
apresenta 
também 
elementos 
específicos de 
manifestações 
artísticas, 
denominados 
folclore.
71
Os Entrelaçamentos entre Arte e CulturaCapítulo	3
Delimitar a abrangências das manifestações populares ditas folclóricas 
torna-se fundamental nos saberes sistematizados. Assim, a tradicionalidade 
das manifestações populares, com a não autoria, o coletivo, marca de forma 
significativa	a	definição	do	que	é	o	folclore:
É a cultura do popular, tornada normativa pela tradição. 
Compreende técnicas e processos utilitários, além de sua 
funcionalidade. A mentalidade móbil e plástica torna tradicional 
os	 dados	 recentes,	 integrando-os	 na	mecânica	 assimiladora	
do fenômeno coletivo, como a imóvel enseada da ilusão da 
permanência	 estática,	 embora	 renovada,	 na	 dinâmica	 das	
águas vivas. (CASCUDO 2001, p. 240).
Nesse sentido, a apropriação da arte erudita pelo povo de maneira dita vulgar 
ganha um outro sentido quando se reformula o original, conferindo-lhe um olhar 
particular, um testemunho. Também se entende que as tecnologias e os meios 
de	comunicação	 têm	papel	 importante	na	disseminação	das	criações	artísticas,	
tornando	as	obras	acessíveis.	
Aquilo que se chama de “vulgarização” ou “degradação” de 
uma cultura seria então um aspecto, caricaturado e parcial, 
da revanche que as táticas hostilizadoras tomam do poder 
dominador da produção. Seja como for, o consumidor não 
poderia	 ser	 identificado	ou	qualificado	 conforme	os	produtos	
jornalísticos	ou	comerciais	que	assimila:	entre	ele	(que	deles	
se	 serve)	 e	 esses	 produtos	 (indícios	 de	 ”ordem”	 que	 lhe	 é	
imposta), existe o distanciamento mais ou menos grande do 
uso que se faz deles. (CERTEAU, 1994, p. 95).
Essas	 questões,	 trazidas	 na	 reflexão	 do	 autor,	 reafirmam	 a	 ideia	 de	
apropriação,	 de	 influência	 que	a	 cultura,	 a	 arte,	 a	 cultura	 popular	 e	 o	 folclore	
sofrem continuamente, quando de alguma forma se encontram em momentos 
específicos	da	história.	É	certo	que	não	saem	desse	encontro	de	forma	neutra,	
cada um carrega consigo um pouco do ritmo e da marca dessa troca. O mais 
interessante	 é	 que	 cada	 um	 conserva	 suas	 características,	 com	 flexibilidade,	
porosidade.	 No	 que	 se	 refere	 às	 especificidades	 do	 folclore,	 essas	 ranhuras	
tambem acontecem.
Curiosamente, essas ações, ainda que praticadas em um 
pequeno grupo, adquirem uma abrangência universal, à 
medida	que,	em	suas	caraterísticas	grupais,	elas	representem	
a aplicação, naquela sociedade, de uma prática existente 
em todo o mundo. Isto se chama universalidade do folclore, 
que nos permite observar que fatos, ações, manifestações e 
pensamentos sejam o mesmo em povos de todo o mundo, 
mesmo que praticados com outras roupagens, palavras e 
atitudes. (HORTA, 2000).
72
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
Nesse sentido, o folclore é liberdade, é ação consciente sem 
pretensão de verdade. Está disponivel para vivência prática, mas não é 
imposto,	não	é		regra.	Ele	se	faz	presente	nos	espaços	geográficos	de	
cada região como fenômeno universal, mas com linguagem regional. 
Baseado	 nessa	 premissa,	 Horta	 (2000)	 identifica	 o	 folclore	 de	 cada	
região	do	país,	somando	os	fatores	geográficos	específicos	como,	por	
exemplo, na região do Amazonas, a presença do rio Amazonas como 
fonte rica, que ele chama de “mundão” de aguas e mata, das lendas e 
mistérios locais. O Amazonas é uma parte do Brasil. Parte de um todo, 
parte	 que	 contêm	elementos	 culturais	 distintos,	 específicos.	Parte	 do	
fenômeno chamado folclore.
Figura	20	-	Proteção	Jurídica
Fonte:Disponível	em:	<http://www.brasilcultura.com.br/antropologia/
voce-sabe-o-que-o-folclore/>. Acesso em: 03 dez. 2011.
Atividade de Estudos: 
1)	 Os	 artistas	 que	 participaram	 da	 Semana	 de	 22	 são	 figuras	
importantes que ajudaram a construir a identidade da arte 
brasileira. São eles: Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Graça Aranha, 
Manuel	Bandeira,	Mario	de	Andrade,	Menotti	Del	Picchia,	Oswald	
de Andrade, Tarsila do Amaral, Villa-Lobos. Escolha um (01) 
desses personagens e construa um mosaico com informações 
acerca das atividades intelectuais dele. A atividade se propõe 
a aprofundar o estudo acerca desses importantes artistas 
brasileiros.
O folclore é 
liberdade, é ação 
consciente sem 
pretensão de 
verdade.
http://www.brasilcultura.com.br/antropologia/voce-sabe-o-que-o-folclore/http://www.brasilcultura.com.br/antropologia/voce-sabe-o-que-o-folclore/
73
Os Entrelaçamentos entre Arte e CulturaCapítulo	3
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2) Vamos investigar o folclore em cada região? A região escolhida 
deve ser aquela em que você nasceu. Faça uma pesquisa e aponte 
as manifestações folclóricas presente em sua cidade. Você pode 
reproduzir uma das manifestações existentes, através de imagens, 
desenhos,	histórias,	vídeos,	esculturas.
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Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
Algumas	Considerações
Toda sociedade tem em sua cultura a identidade do povo que a constitui. 
Por isso, valorizar as manifestações culturais, sejam elas oriundas do povo ou 
mesmo	modificadas	pelas	influências	recebidas,	é	valorizar	o	caráter	histórico	da	
formação	de	cada	grupo	social.	Os	valores	são	somados	e	se	configuram	como	
autenticadores da formação e das manifestações culturais.
Referências
CASCUDO,	Luiz	da	Câmara,	1898-1986.	Dicionário do folclore brasileiro. 
11.ed. São Paulo: Global, 2001.
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: 1. Artes do fazer. Tradução de 
Ephraim Ferreira Alves. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.
CHAUÍ, Marilena. Conformismo e Resistência: aspectos da cultura popular no 
Brasil. 4.ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1989.
CHILVERS, Ian. Dicionário Oxford de arte. Tradução de Marcelo Brandão 
Cipolla; revisão tecnica de Jorge Lucio de Campos. 2.ed. São Paulo: Martins 
Fontes, 2001.
GAVAZZONI,	A.	(Aluísio).	Breve história da arte e seus reflexos no Brasil. Rio 
de Janeiro: Biblioteca da Universidade Estácio de Sá, 1998.
HORTA, Carlos Felipe de Melo Marques (coord.). O grande livro do folclore. 
Belo Horizonte: Editora Leitura, 2000.
ZITKOSKI, Jaime José. Paulo Freire & educação. Belo Horizonte: Autêntica, 
2006.
CAPÍTULO 4
Manifestações	Artísticas	Brasileiras
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 9 Conhecer as múltiplas formas que compõe a obra de arte no que tange a sua 
estrutura.
 9 Distinguir	as	especificidades	da	obra	como	objeto	de	expressão	humana.
 9 Entender	 as	 diferentes	 formas	 de	 expressão	 artística	 como	 experiência	
tradicional e pessoal em seus numerosos elementos.
 9 Reconhecer	as	linguagens	artísticas	dentro	de	seu	contexto.
76
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
77
Manifestações Artísticas BrasileirasCapítulo	4
Contextualização
Neste	 capítulo,	 apresentamos	as	múltiplas	 formas	de	 compõem	a	obra	 de	
arte em suas também variadas formas estruturais. Nesse sentido, propomos 
estudar	e	distinguir	as	especificidades	de	cada	forma	de	construir	a	obra	de	arte,	
lembrando sempre que esta será sempre o resultado da experiência pessoal do 
artista e que vai assumir um lugar na sociedade em que foi pensada e realizada.
Manifestação	Artística	
Ao	 nos	 reportamos	 à	 pintura	 artística,	 merecem	 a	 devida	 atenção	 os	
elementos que constituem essa ação, ou seja, o desenho, a cor e os suportes de 
cada obra. É importante reconhecer as mudanças ocorridas na pintura em algum 
momento da história. A partir delas, percebemos que esses elementos vão estar 
ausentes ou alterados em seu uso habitual, como, por exemplo, na arte abstrata 
e no movimento conhecido como Suprematismo, representado por Kazimir 
Malevitch em sua obra “Quadro branco sobre fundo branco” (1918). 
Figura 21 - Kasimir Malevich, White on White, 1918
Fonte:	Disponível	em:	<www.christiancapurro.com/archives/
roger_cook_...>. Acesso em: 02 out. 2011. 
Falando	especificamente	de	arte	contemporânea,	temos	uma	discussão	ampla	
ao tratarmos desses elementos, pois a multiplicidade de cores, ou a ausência de 
cor,	formas	e	suportes	utilizados	pelos	artistas	nos	desafiam	a	repensar	a	pintura	
artística	diante	das	provocações	existentes.	Um	bom	exemplo	dessa	problemática	
http://www.christiancapurro.com/archives/roger_cook_site_talk_transcript.php
http://www.christiancapurro.com/archives/roger_cook_site_talk_transcript.php
78
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
pode ser conferido na obra da artista cubana Ana Mendieta, que tem suas criações 
materializadas nas cores da natureza em momento de apropriação, como um 
disfarce, um camaleão, tal a total integração com o meio onde a criação se revela. 
Ana Mendieta usa como suporte ou como matriz seu próprio corpo, em uma 
aproximação	com	a	tradição	indígena	de	pintar	o	corpo,	o	que	nos	provoca	a	pensar	
na fronteira artista e obra, o ponto em que a obra e o criador se fundem. 
Figura 22 - Ana Mendieta
Fonte:	Disponível	em:	www.virginiamiller.com/.../AnaMendieta.html>.	
Acesso em: 02 out. 2011. 
Figura 23 - Ana Mendieta, Silhueta Works no México
Fonte:	Disponível	em:	<www.virginiamiller.com/.../AnaMendieta.html>.	
Acesso em: 02 out. 2011.
http://www.virginiamiller.com/exhibitions/1990s/AnaMendieta.html
http://www.virginiamiller.com/exhibitions/1990s/AnaMendieta.html
79
Manifestações Artísticas BrasileirasCapítulo	4
No que se refere à arquitetura, também as mudanças em suas 
formas	permitem	e	sugerem	reflexão.	Aqui,	cores	e	 formas	 também	
se	flexibilizam.	A	ausência	da	cor	se	reflete	no	uso	de	novos	materiais,	
fruto das conquistas tecnológicas. É normal nos admirarmos diante de 
uma	construção	contemporânea	que	apresenta	formas	inovadoras	ou,	
no	mínimo,	diferentes	do	que	estamos	acostumados	a	visualizar.	Por	
exemplo,	a	obra	de	Oscar	Niemayer,	ou	os	gigantescos	edifícios	que	
configuram	a	arquitetura	cosmopolita	de	centros	como	Manhattan,	em	
Nova	York,	Hong	Kong,	na	China,	ou	mesmo	em	São	Paulo.	
Nessas	 construções	 contemporâneas,	 vamos	 nos	 defrontar	
com linhas sinuosas, retas, que se cruzam. No elemento cor, 
encontraremos	desde	a	monocromia,	no	o	uso	do	alumínio	e	o	vidro,	
até a justaposição de tons e suas mesclas. No cenário organizacional 
urbano, temos também as construções mais do que populares, 
improvisadas, chamadas de favelas. Lá encontraremos uma 
diversidade gigante em formas de habitar, no que tange aos materiais 
e as cores. Há favelas coloridas, existem favelas em que prevalece 
a monocromia. Pintura e elementos da construção arquitetônica 
se	encontram,	muitas	 vezes,	 como	painéis	 que	 ficam	nas	 ruas	das	
cidades, em espaços públicos, destinados à função de monumento 
cultural,	além	dos	muros,	que	recebem	a	arte	do	grafite.	
Figura 24 - Vista aérea da cidade de São Paulo
Fonte:	Disponível	em:	<www.mundook.com.br/?p=2330>.	Acesso	em:	10	out.	2011.
Cores e formas 
também se 
flexibilizam.
Nessas construçõescontemporâneas, 
vamos nos 
defrontar com 
linhas sinuosas, 
retas, que se 
cruzam. No 
elemento cor, 
encontraremos 
desde a 
monocromia, no 
o uso do alumínio 
e o vidro, até 
a justaposição 
de tons e suas 
mesclas.
80
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
Figura 25 - Ilha de Manhattan
Fonte:	Disponível	em:	Disponível	em:	<viajeaqui.abril.com.br/
fotos/exterior/nova-yo...>. Acesso em: 10 out. 2011.
Figura 26 - Hong Kong.
Fonte:	Disponível	em:	<abroadandaway.com/.../>.	Acesso	em:	10	out.	2011.
Figura 27 - Favela Paraisópolis – RJ.
Fonte:	Disponível	em:	<https://turismonafavela.wordpress.com/>.	Acesso	em:	10	out.	2011.
81
Manifestações Artísticas BrasileirasCapítulo	4
A	arte	brasileira	vai	ser	construída	também	seguindo	mudanças	
e	 (re)configurando	 as	 influências	 recebidas.	 Entendemos	 que	 um	
país	tão	colorido	de	alguma	maneira	vai	ter	essa	riqueza	cromática	
refletida	 em	 telas	 e	 ruas.	Os	 indígenas	 usavam	 a	 pintura	 corporal	
como forma de ritualizar seus desejos ou sentimentos. Utilizavam 
também cores e formas como adereços em seus espaços de moradia. 
Com a colonização portuguesa, os padrões foram alterados, tanto 
na pintura como na forma de viver em sociedade. Essas mudanças 
são assinaladas com a implantação do maneirismo, seguido pelo 
barroco, presente na arquitetura e pintura, principalmente. 
No	entanto,	a	pintura	brasileira	foi	construída	com	a	implantação	da	Academia	
Imperial de Belas Artes. Em determinado momento, as mudanças desses padrões 
estabelecidos foram discutidas, na metade do século XX, na Semana de 1922, 
que	marcou	o	 início	do	movimento	modernista.	O	 “quadro” da pintura brasileira 
mescla autoria	 e	 influências	 múltiplas	 no	 registro	 do	 panorama	 brasileiro	 por	
região, dependendo do desenvolvimento dessas áreas, que aos poucos eram 
povoadas. No nordeste, houve a construção de uma arte brasileira com forte 
influência	holandesa,	constituída	na	proposta	do	conde	Maurício	de	Nassau:	
Em 1637, desembarca em Recife, Pernambuco, o conde 
Maurício	de	Nassau,	nomeado	pelos	holandeses	e	financiado	
pela recém-fundada Companhia das Índias Ocidentais, 
trazendo	os	artistas	holandeses	Frans	Post	e	Albert	Eckhhout	
e mais quatro: o alemão Zacharias Wagner, recrutado entre 
soldados, por demonstrar enorme talento para o desenho e 
para a pintura e é citado por Arte no Brasil (em minha opinião, 
o mais sério e competente trabalho até hoje publicado). 
(GAVAZZONI, 1998 p.97).
Maurício	 de	Nassau	 realizou	 uma	administração	 centrada	 nos	
conceitos herdados do movimento renascentista da Europa, deixando 
importante contribuição para o retrato do Brasil Colônia durante os 
séculos	XVI	e	XVII.	No	que	confere	especificamente	à	pintura	e	ao	
desenho, a arte apresenta caráter documental, condizente com a 
postura investigativa perante a terra nova.
O	estilo	barroco	introduzido	no	Brasil	é	reflexo	principalmente	do	
pensamento	artístico	vigente	em	Portugal.	Obviamente	que	o	terreno	
brasileiro não supria os elementos necessários ao desenvolvimento 
do	esplendor	do	barroco	que	se	refletia	na	Europa.	
O que não se pode negar é que este barroco periférico tenha 
existido de fato, com tal vitalidade que suas manifestações até 
hoje ressoam na cultura brasileira (grifos nossos). Nem que 
este vigor se deveu, em grande parte, ao fato de o Barroco, 
Os indígenas 
usavam a pintura 
corporal como 
forma de ritualizar 
seus desejos ou 
sentimentos.
No que confere 
especificamente 
à pintura e ao 
desenho, a arte 
apresenta caráter 
documental, 
condizente com a 
postura investigativa 
perante a terra nova.
82
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
no	Brasil,	“ser	contemporâneo	da	restauração	e	da	resistência	
aos holandeses”, além de exprimir a criatividade popular, 
até mesmo como resistência à repressão das camadas 
dominantes. (GAVAZZONI, 1998 p.110 -111).
Será de cunho religioso a implantação dos preceitos da arte 
barroca, revelada principalmente na construção das igrejas e sua 
ornamentação. A igreja, nesse cenário de construção de identidade, 
almeja ordenar a moral e os costumes dos habitantes locais, sendo um 
ponto de referência na construção dos valores dessa sociedade.
A mistura de modelos europeus com a livre tendência da 
arte cabocla (pintura de murais e dos forros das igrejas 
contrastando com os púlpitos e altares de rigorosa e formal 
obediência à escola europeia) formou a manifestação mais 
autêntica da nossa incipiente arte natural. (GAVAZZONI, 1998 
p.111).
Até	 hoje,	 os	 resquícios	 da	 arte	 barroca	 são	 o	 	 reflexo	 das	manifestações	
culturais brasileiras, presentes principalmente nas pinturas e na decoração da 
arquitetura	 religiosa,	em	várias	 regiões	do	país.	É	através	das	apropriações	do	
estilo barroco feito pelos escultores, entalhadores e pintores brasileiros que a arte 
brasileira do século XVII se revela, principalmente no campo religioso, no entanto, 
”quando os artistas negros esculpiam imagens de Cristo, Santo Antônio e São 
Jorge, era Oxalá, Ogum e Oxóssi que pretendiam referenciar, e as elites brancas 
sabiam disto” (GAVAZZONI, 1998 p.111).
Imagem 28 - Interior da Igreja e Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, 1717.
Fonte:	Disponível	em:	<http://bit.ly/8zkdHqarquiteturadobrasil.
wordpress.com/.../>.	Acesso	em:	02	out.	2011.
Será de cunho 
religioso a 
implantação dos 
preceitos da arte 
barroca, revelada 
principalmente 
na construção 
das igrejas e sua 
ornamentação.
http://bit.ly/8zkdHq
http://arquiteturadobrasil.wordpress.com/o-barroco-no-brasil/
http://arquiteturadobrasil.wordpress.com/o-barroco-no-brasil/
83
Manifestações Artísticas BrasileirasCapítulo	4
Figura	29	-	São	Marcos.	Museu	da	Inconfidência,	Ouro	Preto/MG
Fonte:	Disponível	em:	<www.morganmotta.com/artigos/01072005.htm>.
Acesso em: 03 out. 2011.
Figura 30 - Coração de Nossa Senhora. Detalhe do Medalhão do forro 
da nave de São Francisco da Penitência, Ouro Preto/MG
Fonte:	Disponível	em:	<www.morganmotta.com/artigos/01072005.htm>.
Acesso em: 03 out. 2011.
http://www.morganmotta.com/artigos/01072005.htm
http://www.morganmotta.com/artigos/01072005.htm
84
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
Figura 31 - Mestre	Ataíde.	Assunção	da	Virgem	Maria,	no	teto	da	
igreja de São Francisco de Assis – Ouro Preto – MG
 
Fonte:	Disponível	em:	<http://pt.wikipedia.org/wiki/Mestre_
Ata%C3%ADde>. Acesso em: 03 out. 2011.
Essa	“liberdade”	de	criação	teve	fim	com	a	padronização	artística	
em todas as linguagens através da implantação da Academia de Belas 
Artes, que surge em meados do século XIX, trazendo em sua doutrina 
o academicismo com suas regras: “a colônia de artistas franceses que 
chegou ao Rio de Janeiro em 1816 veio demarcar uma nova época para 
a arte brasileira” (GONZAGA, 1995, p.90). E nessas mudanças estão 
incluídas	o	abandono	do	barroco	como	estilo	artístico,	reconhecendo	o	
estilo clássico como o ideal a ser seguido aqui no Brasil.
O policiamento da escola francesa aqui no Brasil chegou a 
tal ponto que nem mesmo a grande revolução efetuada na 
pintura	europeia,	tendo	à	frente	o	romântico	Delacroix	(1798-
1863)	e	Gustave	Courbet	como	realista,	chegou	a	 influenciar	
os nossos mais consgrados pintores, todos predispostos a 
não aceitarem inovação, nem Corot nem Millet conseguiram. 
O	Brasil	estava	afastado	do	cenário	artístico	mundial,	vivendo,	
pode-se	 até	 dizer,	 um	 período	 de	 trevas,	 em	 plena	 era	
reformista. (GAVAZZONI, 1998 p. 134).
Foi no movimento denominado Semana de 1922 que as labaredas de uma 
mudança	significativa	na	arte	brasileira	atingiram	todas	as	 formas	de	arte,	por	
A colônia de 
artistas franceses 
que chegou ao 
Rio de Janeiro 
em 1816 veio 
demarcar uma 
nova época para 
a arte brasileira 
(GONZAGA, 
1995, p.90).
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mestre_Ata%C3%ADde
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mestre_Ata%C3%ADde
85
Manifestações Artísticas BrasileirasCapítulo	4
isso essa data é marco importante ao se tratar de arte no Brasil.É como se 
tivéssemos acordado e nos afastado da masmorra que por tanto tempo nos 
trouxe cegueira e obediência. 
Foi	um	pequeno	passo,	de	 fundamental	 importância	para	 todos	os	artistas	
que de alguma maneira entenderam quão liberta é a arte, quantos caminhos 
podemos trilhar para chegar ao mesmo lugar, e dali encontar novas possibilidades. 
Essa	possibilidade	de	prazer	e	diálogo	através	das	manifestações	artísticas	levou	
à descoberta das muitas facetas da arte, de sua magnitude. É como se, libertos 
de uma ditadura de formas, temas e cores, tivessem encontrado outras formas, 
outras cores. 
A partir desse momento, já não cabia mais aceitar incondicionalmente o que 
lhes	era	imposto,	de	forma	resignada,	como	na	síndrome	de	“Poliana”	(Pollyanna	
Whittier, menina órfã que aprende a conviver com sua tia “Polly”. Frente às 
amarguras que a vida lhe oferece, desenvolve “o Jogo do Contente”, que consiste 
em ver apenas as coisas boas, de qualquer situação. Romance de Eleanor H. 
Porter escrito em 1923), em um eterno “jogo do contente”, e sim visualizar as 
inúmeras possibilidades que, junto com a arte, apontam a possibilidade de viver 
de	várias	formas	artísticas.	
A Europa, sendo refêrencia, já se mostrava resolvida em busca do não 
habitual,	provocava	reflexões	acerca	da	arte	na	sociedade,	das	possibilidades	de	
criação em variados suportes, nas linhas inovadoras que pareciam estranhas ao 
lado da arquitetura centenária, e o Brasil, ao poucos, ousava de forma cautelosa, 
se apropriando dessas intenções. Nesse sentido, as mudanças, ocorridas de 
forma lenta no que se refere à pintura e à arquitetura, tomaram cadência no 
decorrer do tempo, sendo que de alguma forma, ainda hoje, caminhamos em 
compasso com uma arte que se propõe ao diálogo, mais próxima dos limites da 
arte	popular,	em	razão	das	especificidades	que	cada	cultura	nos	apresenta.
Temos, nesse entrelaçamento entre arte, arte popular e 
cultura, inúmeros representantes que, através de suas pinceladas, 
sons, imagens e arquitetura, se propuseram de alguma forma a 
marcar	o	cenário	artístico	brasileiro,	que	não	é	estanque,	e	sim	de	
contornos distintos facilmente percebidos.
Essas	influências	são	percebidas	ao	estendermos	o	olhar,	por	
exemplo, sobre a obra de Di Cavalcanti até a arte popularizada 
pelos meios de comunicação de massa, considerada por alguns 
de péssimo gosto, ou popular. Podemo, ainda, observar a arte 
de	 Oscar	 Niemayer,	 que	 configura	 a	 modernidade	 arquitetônica	
brasileira. Essas	mudanças	são	visíveis	ao	nos	defrontarmos	com	
 Essas influências 
são percebidas ao 
estendermos o olhar, 
por exemplo, sobre a 
obra de Di Cavalcanti 
até a arte popularizada 
pelos meios de 
comunicação de 
massa, considerada 
por alguns de péssimo 
gosto, ou popular.
86
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
as	construções	brasileiras	contemporâneas	em	contraste	com	as	construídas	no	
início	de	sua	colonização.	Do	maneirismo	ao	modernismo,	é	possivel	reconhecer	
as	 influências	 recebidas	 e	 sua	 (de)formação	 	 na	 busca	 da	 autoria,	 selo	 de	
autenticidade,	na	organização	do	espaço	arquitetônico	de	cada	 região	do	país,	
que também se apresentam de forma diferente, de acordo com a cultura local. 
Figura 32 - Di Cavalcanti. Cinco Moças de Guaratinguetá.
Fonte:	Disponível	em:	<www.klickeducacao.com.br/enciclo/encicloverb/...>.
Acesso em: 10 out. 2011.
Figura 33 - Arte popular. São Gonçalo, madeira, Manoel Graciano (Juazeiro do Norte- CE).
Fonte:	Disponível	em:	<artepopularbrasileira.wordpress.com/>.	Acesso	em:	10	out.	2011.
É possivel notar as semelhanças entre as artes plásticas e a arquitetura 
brasileira,	que	ocorrem	devido	às	influências	recebidas.	No	rastro	das	mudanças	
ocorridas na arte brasileira, podemos apontar alguns nomes que segmentaram 
as	diferenças	em	cada	período.	E	o	século	XIX	foi	o	que	mais	permitiu	as	novas	
87
Manifestações Artísticas BrasileirasCapítulo	4
formas e a junção de estilos na arte brasileira. Tivemos também a presença de 
temas variados, que trouxeram o cotidiano do povo pintado em telas como, por 
exemplo, novamente, Di Cavalcanti e sua obra “Samba”, de 1925.
Figura 34 - Di Cavalcanti – Samba, 1925
Fonte:	Disponível	em:	<www.investarte.com/.../brasil/
cavalcanti.asp>. Acesso em: 03 out. 2011.
Não	é	só	a	 linguagem	artística	que	se	desprendeu	das	diretrizes	
artistícas,	mas	também	os	artistas	voltaram	seu	olhar	para	o	seu	chão,	
as cores de sua terra. O Núcleo Bernadelli representou essas novas 
formas	artísticas	nas	figuras	de	Ado	Malagoli,	 José	Pancetti	 e	Edson	
Motta, em meados dos anos 40. 
Figura 35 - ADO MALAGOLI (SP, 1908 – RS, 1994): Agonia do templo
Fonte:	Disponível	em:	<www.areliquia.com.
br/144ranulpho.html>. Acesso em: 03 out. 2011.
Não é só a 
linguagem 
artística que 
se desprendeu 
das diretrizes 
artistícas, mas 
também os 
artistas voltaram 
seu olhar para 
o seu chão, as 
cores de sua 
terra.
http://www.investarte.com/site_new/historia/brasil/cavalcanti.asp
http://www.investarte.com/site_new/historia/brasil/cavalcanti.asp
http://www.areliquia.com.br/144ranulpho.html
http://www.areliquia.com.br/144ranulpho.html
88
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
Figura 36 - José Pancetti. Porto, 1941 
Fonte:	Disponível	em:	<www.mac.usp.br/.../Ciccillo/JosePancetti.asp>.
Acesso em 04 out. 2011. 
Figura 37 - Afresco pintado pelo artista Edson Motta – Igreja Dores do Turvo
Fonte:	Disponível	em:	<www.panoramio.com/user/3891564?with_
photo_id=...>.	Acesso	em	04	out.	2011.
Outro importante movimento que caracterizou as artes plásticas brasileira 
ocorreu em São Paulo nas obras de Lasar Segall e Antônio Gomide, que 
fundaram, em 1932, a Sociedade Pró-Arte Moderna. Também amantes da arte 
moderna, o Grupo Santa Helena deixou importante contribuição aos estudos 
http://www.mac.usp.br/mac/templates/exposicoes/Ciccillo/JosePancetti.asp
http://www.panoramio.com/user/3891564?with_photo_id=40573756
http://www.panoramio.com/user/3891564?with_photo_id=40573756
89
Manifestações Artísticas BrasileirasCapítulo	4
acerca da arte brasileira, entre eles Alfredo Volpi. Nessa mesma década, recém 
chegado	da	Europa,	Cândido	Portinari	criou	a	obra	 “Café”,	de	1934,	 importante	
retrato do trabalhador brasileiro.
Figura	38	-	Cândido	Portinari,		“Café”,	1934
Fonte:	Disponível	em:	<artefontedeconhecimento.blogspot.
com/2010/07/>. Acesso em: 04 out. 2011.
O Grupo Santa Helena foi formado em 1930, na cidade de São 
Paulo, pelos artistas Alfredo Volpi, Fulvio Penacchi, Aldo Bonadei, 
Alfredo Rizzotti, Mario Zanini, Humberto Rosa, Francisco Rebolo e 
Manuel	Martins.	Pintavam	nos	fins	de	semana	e	contribuíram	para	o	
questionamento da pintura acadêmica. 
Já no nordeste brasileiro, a arte moderna tambem ganhou fôlego, em 
1944, com a criação da sociedade Cearense de Artes Plásticas (SCAP), com a 
presença	de	Aldemir	Martins,	Mário	Barata,	entre	outros.	Nessa	forma	de	reflexão,	
apontando as obras dos artistas que participaram de todo esse processo, nada 
mais	brasileiro	do	que	o	legado	artístico	de	Carybé	em	“Festival	das	Américas”.	
90
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
Figura 39 - Aldemir Martins. Marinha Com Coqueiros. Gravura/ 2003
Fonte:	Disponível	em:	<www.espacoarte.com.br/obras/4331-marinha-com-...>.	
Acesso em: 11 nov.2011. 
Figura 40 - Mário Barata - Azulenos no Brasil – 1955. 
Fonte:	Disponível	em:	<mario-barata.blogspot.com/2008/07/
obras-prima...>. Aceso em: 10 nov. 2011.
Figura 41 - Carybé – “Rejoicing and Festival of the Americas”
Fonte:	Disponível	em:	<pt.wikipedia.org/wiki/Carybé>.	Acesso	em:	10	nov.	2011.	
http://www.espacoarte.com.br/obras/4331-marinha-com-coqueiros
http://mario-barata.blogspot.com/2008/07/obras-primas-no-museu-nacional-de-belas.html
http://mario-barata.blogspot.com/2008/07/obras-primas-no-museu-nacional-de-belas.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Caryb%C3%A9
91
Manifestações Artísticas BrasileirasCapítulo	4
A	 região	sul	do	país	 tem	nas	figuras	dos	paranaenses	TheodoroBona	 e	 Miguel	 Bakun	 o	 desenrolar	 da	 arte	 moderna	 e,	 em	 Santa	
Catarina,	 a	 arte	 brasileiríssima	 de	 	 Martinho	 de	 Haro.	 Esses	
apontamentos históricos referentes à produção brasileira de arte 
marcam as mudanças de um Brasil que, aos poucos, busca sua 
identidade	 através	 das	 inúmeras	 influências	 recebidas.	 Notamos	 que	
as apropriações de novidades em termos de pintura e arquitetura são 
feitas de forma cautelosa pelos artistas brasileiros que, de alguma 
forma, reconhecem as criações da Europa, só que de forma autônoma 
escolhem como melhor referenciar o mundo que os rodeia. 
Figura 42 - THEODORO DE BONA - Casal na 
Paisagem. Óleo sobre tela, ass. dat. 1978 
Fonte:	Disponível	em:	<	www.bolsadearte.com/.../
novembro2002/mod5.>. Acesso em: 10 nov. 2011.
Figura	43	-	Miguel	Bakun	-	Floresta	Azul	
Fonte:	Disponível	em:	<kalenaartesplasticas.blogspot.
com/2009/07/mig...>. Acesso em: 11 nov. 2011.
Esses 
apontamentos 
históricos 
referentes 
à produção 
brasileira de 
arte marcam as 
mudanças de um 
Brasil que, aos 
poucos, busca 
sua identidade 
através das 
inúmeras 
influências 
recebidas.
http://www.bolsadearte.com/realizados/novembro2002/mod5.htm
http://www.bolsadearte.com/realizados/novembro2002/mod5.htm
http://kalenaartesplasticas.blogspot.com/2009/07/miguel-bakun-descendente-de-ucranianos.html
http://kalenaartesplasticas.blogspot.com/2009/07/miguel-bakun-descendente-de-ucranianos.html
92
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
Figura 44 - Martinho de Haro
Porto de Belém 
Fonte:	Disponível	em:	<www.palaciodosleiloes.art.br/.../001-
030A.htm>. Acesso em: 10 nov. 2011.
No	 cenário	 contemporâneo,	 a	 arte	 brasileira	 se	 reconhece	 como	 nativa	
em	 todas	 as	 linguagens	 em	 crescente	 amadurecimento	 artístico,	 os	 artistas	
estão libertos, como na música dos sambistas Jorge Aragão e Acyr Marques, 
“Coisa de Pele”:
Podemos sorrir, nada mais nos impede
Não dá pra fugir, desta coisa de pele
Sentida por nós, desatando os nós
Sabemos agora, nem tudo que é bom vem de fora.
Pensar na pintura brasileira e poder visualizar esse universo 
gigante e com formas e cores tão diferentes é uma experiência 
incrível.	 Da	 arte	 performance de Hélio Oiticica, do mundo infantil 
resgatado por Eli Heill, a simplicidade nas pinceladas de Djanira e 
Heitor dos Prazeres, falar de arte brasileira e referenciar esses artistas 
é apenas mostrar um pouco desse universo, que tem outros grandes 
representantes. Hoje podemos dizer que a arte brasileira ainda recebe 
influências,	mas	com	um	filtro,	buscando	o	bônus	para	uma	arte	que	
aqui já existe. O cenário brasileiro tem sua riqueza, além de sua área 
territorial, sua gigantesca extensão de matas e rios, o povo mestiço, 
sim senhor com muito orgulho, e nossa arte se apresenta em sintonia 
com nossa nação colorida, elegante, gigante.
O cenário 
brasileiro tem sua 
riqueza, além de 
sua área territorial, 
sua gigantesca 
extensão de 
matas e rios, o 
povo mestiço, sim 
senhor com muito 
orgulho, e nossa 
arte se apresenta 
em sintonia com 
nossa nação 
colorida, elegante, 
gigante. 
http://www.palaciodosleiloes.art.br/leilao/2008/abril/001-030A.htm
http://www.palaciodosleiloes.art.br/leilao/2008/abril/001-030A.htm
93
Manifestações Artísticas BrasileirasCapítulo	4
Figura 45 - Hélio Oiticica – Parangolés. 
Fonte:	Disponível	em:	<multissenso.blogspot.com/2009/11/
helio-oitici>.Acesso em: 10 nov. 2011.
Figura	46	-		Eli	Heil	–	O	País	das	maravilhas.	
Fonte:	Disponível	em:	<cafecigarrosedesordem.blogspot.
com/2010/09/o->. Acesso em: 10 nov. 2011.
Figura 47 - Djanira Anunciação. 
Guache, ass. dat. 1963. 
Fonte:	Disponível	em	:	<www.bolsadearte.com/.../djanira_
anunciacao.htm>. Acesso em: 10 nov. 2011.
http://www.bolsadearte.com/.../djanira_anunciacao.htm
http://www.bolsadearte.com/.../djanira_anunciacao.htm
94
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
Figura 48 - Frevo - Heitor dos Prazeres, sem data. 
Fonte:	Disponível	em:	<www.margs.rs.gov.br/pag_papel_
de_parede.php>. Acesso em: 10 nov. 2011.
Ao falarmos dos artistas e de suas obras aqui no Brasil, é interessante 
lembrar	a	importância	dos	eventos	artísticos	que	reuniram	vários	representantes	
da	arte	brasileira	em	momento	de	reflexão	e	exposição	dos	 trabalhos,	como	as	
bienais e os espaços permanentes, os museus. 
Os museus de arte contemplam exemplares das manifestações 
artísticas	dos	mais	diferentes	períodos.	Uns	se	especializaram	
em	 algumas	 técnicas	 ou	 em	 períodos	 específicos	 (Museu	
de	 Arte	 Contemporânea),	 outros	 apresentam	 um	 acervo	
múltiplo,	em	que	várias	técnicas	e	períodos	são	representados	
por exemplares (Museu de Arte de São Paulo), outros se 
dedicam à produção de um único autor (Museu Lasar Segall). 
(MATTOS, 2003, p.118).
Os	 museus	 são	 os	 guardiões	 da	 produção	 artística	 da	 humanidade	 e	 no	
Brasil não é diferente. A Pinacoteca de São Paulo (1905), com 4 mil peças, se 
configura	como	o	mais	antigo	centro	de	arte	brasileira,	sendo	também	referência	
iconográfica.	No	nordeste	brasileiro	temos	o	Museu	de	Arte	da	Bahia	(1918)	e	o	
MAM (Museu de Arte Moderna, criado na década de 60). O Rio de Janeiro tem 
seu primeiro museu fundado em 1937 (Museu Nacional de Belas Artes), além do 
MAM (Museu de Arte Moderna, 1952), em que“entre os intens do acervo podem 
ser encontradas algumas raridades, como as revistas “O Fan”, “Palcos e Telas” e 
“Cineart” , além das edições das primeiras décadas do século, com ilustração de 
Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral (MATTOS, 2003, p.120). 
Já em São Paulo, o MASP (Museu de Arte de São Paulo, 1947) é referência 
nacional, tem um vasto acervo, e “mantém pinacoteca, biblioteca, fototeca, 
filmoteca,	vidoeteca,	cursos	de	arte	e	serviços	educativos	de	apoio	às	exposições,	
como	 exibição	 de	 filmes	 e	 concertos	musicais	 de	 interesse	 artístico	 e	 cultural”	
(ibid).	 Junto	 com	o	Museu	de	Arte	Contemporânea	 (MAC)	e	 suas	8.000	obras,	
http://www.margs.rs.gov.br/pag_papel_de_parede.php
http://www.margs.rs.gov.br/pag_papel_de_parede.php
95
Manifestações Artísticas BrasileirasCapítulo	4
esses	museus	são	depositários	de	importante	parte	da	produção	artística	nacional	
e internacional em solo brasileiro. 
Assim	como	os	museus,	as	Bienais	(eventos	artístico-culturais	que	ocorrem	
a cada dois anos) são importantes espaços de exposição de arte brasileira, 
estrangeira e arquitetura. Destaque para a Bienal de São Paulo, que reúne 
em seu espaço artistas de vários lugares do mundo, promovendo o diálogo 
internacional de arte em um espaço arquitetônico espetacular desenvolvido por 
Oscar Niemayer. 
A década situada entre a criação da Bienal de São Paulo, 
em	1951,	e	a	 inauguração	de	Brasília,	em	abril	de	1960,	foi	
um	 dos	 períodos	 mais	 férteis	 da	 história	 da	 arte	 brasileira	
neste	 século.	 Foi	 também	 o	 período	 áureo	 da	 crítica	 de	
arte. Porque simultaneamente à busca de uma linguagem 
universal, fez-se um esforço extraordinário no sentido 
de	 definir	 uma	 linguagem	 própria	 para	 as	 artes	 visuais,	
promovendo a autonomia dos meios plásticos e, ao mesmo 
tempo,	a	criação	de	um	vocabulário	específico	para	a	crítica	
de arte. (ARRUDA, 2002, p.31).
A partir das grandes exposições das bienais, a produção 
internacional vem para o Brasil e a arte brasileira também se apresenta. 
A	arte	atinge	um	nível	de	profissionalização,	sendo	as	 instituições	as	
responsáveis	pela	avaliação	da	qualidade	da	obra.	O	crítico	assume	
papel	 importante,	 os	 curadores	 também	atuam	de	 forma	significativa	
no processo que envolve a exposição.
Figura 49 - Bienal de São Paulo. Pavilhão Ciccillo Matarazzo. 
Fonte:	Disponível	em:	<http://pt.wikipedia.org/wiki/Bienal_Internacional_
de_Arte_de_S%C3%A3o_Paulo>. Acesso em: 04 de out. 2011.
 A arte atinge 
um nível de 
profissionalização, 
sendo as 
instituições as 
responsáveis 
pela avaliação da 
qualidade da obra.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Bienal_Internacional_de_Arte_de_S%C3%A3o_Paulo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Bienal_Internacional_de_Arte_de_S%C3%A3o_Paulo96
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
Foi na segunda Bienal de São Paulo , em 1953, que a importante 
obra de Pablo Picasso, “Guernica”, veio para o Brasil.
No mesmo rastro, com propósitos semelhantes, temos a Bienal do 
Mercosul,	 em	 Porto	Alegre	 –	 RS,	 que	 também	 se	 propõe	 a	 refletir	 acerca	 da	
arte	 contemporânea,	agregando	artistas	do	mundo.	A	proposta	de	 reunir	a	arte	
contemporânea	 internacional	 surge	 em	1997	 e	 rapidamente	 se	 consagra	 como	
importante	evento	artístico	da	América	Latina.	Em	2011,	de	setembro	a	novembro,	
ocorre novamente o encontro dos artistas em torno da 8ª Bienal do Mercosul, com 
o tema “Ensaios de Geopoéticas”. A proposta da curadoria da Bienal é discutir, a 
partir da arte, a noção de território.
A 8ª edição da Bienal do Mercosul - Ensaios de 
Geopoética, tem	 como	 tema	 o	 território	 e	 sua	 redefinição	
crítica	 a	 partir	 de	 uma	 perspectiva	 artística.	 Reunirá	 107 
artistas de 34 países que tratam de tópicos relevantes para 
essa discussão: mapeamento, colonização, fronteira, aduana, 
alianças	 transnacionais,	construções	geopolíticas,	 localidade,	
viajantes	científicos,	nação	e	política.	(8ª Bienal do Mercosul - 
Projeto, 2011).
A	 arte	 a	 brasileira	 contemporânea,	 no	 que	 se	 refere	 ao	 uso	 de	
outros	 suportes	 de	 criação,	 como	 as	mídias	 (a	 fotografia,	 o	 vídeo,	 a	
performance e a instalação), também tem a diversidade como marca. 
Os	 artistas	 brasileiros,	 sob	 influência	 da	 nova	 arte,	 e	 as	 muitas	
correntes em moda	 agem	de	 forma	a	 ressignificar	 temas	e	materiais	
usados,	muitas	 vezes	 utilizando	a	 associação	 de	mídias	 e	materiais.	
Muitas vezes o processo envolvido na exposição também é incorporado 
à	arte	contemporânea	como,	por	exemplo,	as	pinturas	do	artista	chileno	
Eugenio Dittborn, que será homenageado na Bienal do Mercosul, em 
que sua arte fará uma viagem via postal das Cordilheiras dos Andes até 
Porto Alegre.
Os artistas 
brasileiros, sob 
influência da 
nova arte, e as 
muitas correntes 
em moda agem 
de forma a 
ressignificar 
temas e materiais 
usados, muitas 
vezes utilizando 
a associação 
de mídias e 
materiais.
http://www.bienalmercosul.art.br/novo/index.php?option=com_redirect&redirect=12969&Itemid=12967&site=new&
97
Manifestações Artísticas BrasileirasCapítulo	4
Figura 50 - Eugenio Dittborn: Pinturas aeropostales en Viaje
Fonte:	Disponível	em:	<http://www.bienalmercosul.art.br/blog/eugenio-dittborn-
pinturas-aeropostales-en-viaje/>. Acesso em: 04 de out.de 2011.
Nesta vastidão de terra chamada Brasil, grande tambem é a produção 
artística	 dos	 sujeitos	 que	 deixaram	 seu	 legado	 e	 que	 ainda	 constroem	 a	 arte	
brasileira, hoje cada vez mais buscando sua autoria e reconhecimento.
Atividade de Estudos: 
1) Em cada edição da bienal, um tema é cuidadosamente escolhido 
para orientar a produção dos artistas participantes e promover a 
reflexão	necessária	em	torno	do	papel	da	arte	para	a	sociedade.	
Escolha uma edição das bienais, pode ser a de São Paulo, ou 
ainda	 a	 do	 Mercossul,	 e	 investigue	 os	 fundamentos	 filosóficos	
que orientaram a exposição.
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http://www.bienalmercosul.art.br/blog/eugenio-dittborn-pinturas-aeropostales-en-viaje/
http://www.bienalmercosul.art.br/blog/eugenio-dittborn-pinturas-aeropostales-en-viaje/
98
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
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Algumas	Considerações
O texto aqui apresentado se propôs mostrar um pouco do desenvolvimento 
da	pintura	brasileira	e	sua	ligação	com	a	arquitetura	no	que	tange	às	influências	
desde o momento de sua colonização. Objetivou mostrar a arte brasileira em sua 
apropriação	e	apontar	e	ressignificar	a	importância	dos	museus	como	guardiões	
da	arte	nacional	e	internacional,	bem	como	ressaltar	a	importância	das	bienais	de	
São Paulo e a do Mercosul – RS.
Referências	
ARRUDA, Jacqueline. Projeto educação para o século XXI. São Paulo: 
Moderna, 2002.
GAVAZZONI, Aluizio. Breve história da arte e seus reflexos no Brasil. 
Rio de Janeiro: Biblioteca da Universidade Estácio de Sá, 1998.
GONZAGA, Duque. A arte brasileira. Campinas, SP: Mercado de Letras, 1995.
8ª Bienal do Mercosul –	Projeto.	Disponível	em:		http://www.bienalmercosul.art.br/
novo/index.php?option=com_noticia&Itemid=5&id=865
http://www.bienalmercosul.art.br/novo/index.php?option=com_redirect&redirect=12969&Itemid=12967&site=new&
http://www.bienalmercosul.art.br/novo/index.php?option=com_noticia&Itemid=5&id=865
http://www.bienalmercosul.art.br/novo/index.php?option=com_noticia&Itemid=5&id=865
CAPÍTULO 5
Os	Padrões	da	Cultura
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 9 Entender a sociedade como permeada por padrões e normas conceituais.
 9 Identificar	as	influências	da	sociedade	na	definição	da	cultura.
 9 Compreender o etnocentrismo e suas implicações para a sociedade.
 9 Distinguir	as	influências	e	medir	criticamente	as	inúmeras	mudanças	efetivas	
dos padrões de cultura.
100
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
101
Os Padrões da CulturaCapítulo	5
Contextualização
Neste capitulo, propomos a discussão das variáveis que se fazem presentes 
na	relação	cultura	e	sociedade,	em	que	as	influências	são	recíprocas. A discussão 
acerca da cultura afrodescendente se faz necessária, visto a composição da 
sociedade brasileira e sua mescla de etnias. No entanto, a história nos mostra que 
prevaleceram e ainda prevalecem as orientações de uma cultura europeia, fruto da 
nossa colonização. As divergências são importantes por provocarem mudanças de 
paradigma, o que é necessário, mas exige cautela.
A	Cultura	
A	 sociedade	 brasileira	 tem	 em	 sua	 cultura	 as	 raízes	 de	 sua	
colonização,	dos	indígenas,	negros	escravos	e	europeus.	Passados	500	
anos, a miscigenação de costumes e valores se remodela no cenário 
contemporâneo.	
O Brasil tem em seu território a presença de várias culturas e 
o que se nota é que	as	 raízes,	antes	bem	definidas,	hoje	encontram	
novas	 influências,	 como	 a	 dos	 orientais,	 por	 exemplo.	 No	 entanto,	
mesmo miscigenada, a cultura, no que tange à sociedade brasileira, se 
localiza em espaços que a diferem em escala de valor, ou seja, existe a 
cultura popular e a erudita. 
Há um duelo entre as esferas que compõem a sociedade, na qual os 
integrantes da elite ditam as regras do que é de bom gosto e de mau gosto nas 
manifestações	artísticas,	sendo	que	o	padrão	adotado	comparativo	é	o	europeu.	
Acontece que as normas impostas no campo das artes vão sendo remodeladas 
com o tempero mais que brasileiro, gerando assim uma arte dita dis(forme) ou 
popular, fora dos padrões aceitos. 
A sociedade brasileira, permeada por questões morais, vai aos poucos sendo 
desenhada	 ainda	 nos	 padrões	 idealizados.	 Reflexo	 deste	 cenário	 é	 a	 atuação	
significativa	da	indústria	cultural.	Podemosnotar	que	existe	um	desejo	por	parte	
da indústria cultural de homogeneizar os valores culturais brasileiros dentro de 
uma perspectiva da sociedade do lucro. 
Podemos dizer que a sociedade brasileira, no que tange à sua cultura, divide-
se em cultura erudita, cultura popular e cultura de massa. Segundo Mattos (2008), 
a cultura dita erudita está associada à Academia, às Universidades, que abrigam 
o pequeno grupo de pessoas ditas intelectuais. Já a cultura popular está atrelada 
A sociedade 
brasileira, 
permeada 
por questões 
morais, vai aos 
poucos sendo 
desenhada ainda 
nos padrões 
idealizados.
102
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
diretamente ao povo, tem origem em seus hábitos e costumes. No que se refere 
à cultura de massa, a autora aponta que esta tem a intenção de utilizar os meios 
de comunicação para a imposição de ideias, gostos e valores em um projeto de 
homogeneização. 
Figura 51 - A Lenda Grega de Narciso 
Fonte:	Disponível	em:	<http://profjoicebelini.blogspot.com/2010/10/
mitologia-grega.html>. Acesso em: 10 out. 2011. 
Figura 52 - Arte Popular
Fonte:	Disponível	em:	<http://botega.blogspot.com/>.	Acesso	em:	10	out.	2011.
Figura	53	-	A	TV	é	o	veículo	de	comunicação	da	cultura	de	massa
Fonte:	Disponível	em:	<http://blig.ig.com.br/evidencial/2008/12/05/
boas-vindas/>. Acesso em: 10 out. 2011.
http://profjoicebelini.blogspot.com/2010/10/mitologia-grega.html
http://profjoicebelini.blogspot.com/2010/10/mitologia-grega.html
http://botega.blogspot.com/
http://blig.ig.com.br/evidencial/2008/12/05/boas-vindas/
http://blig.ig.com.br/evidencial/2008/12/05/boas-vindas/
103
Os Padrões da CulturaCapítulo	5
É complexa a relação entre cultura e sociedade, estando entrelaçados valores 
e intenções de cunho ideológico. A arte, como intenção humana de manifestação, 
opinião,	testemunho	de	sujeitos	que	utilizam	as	várias	linguagens	artísticas	para	
firmar	sua	passagem	na	sociedade	de	forma	crítica,	flutua	nas	esferas	de	todas	as	
artes. No entanto, é necessário pensar na arte apresentada, tendo a consciência 
desses valores que a permeiam, seja ela erudita, seja ela popular ou mesmo uma 
relação	entre	os	signos	artísticos	presentes	na	cultura	de	massa.	
Nesse campo da cultura brasileira, a questão da identidade, pensada no 
capítulo	II,	retorna	aqui	ao	refletirmos	sobre	o	lugar	da	cultura	afrodescendente.	
É	urgente	entender	a	importância	da	cultura	africana	para	o	povo	brasileiro,	suas	
manifestações na dança, na religião, na culinária, nas vestimentas, na arte de 
forma geral, No entanto, nesta parte do caderno, além dos traços iniciais da 
cultura	africana	no	Brasil,	gostaríamos	de	propor	a	reflexão	sobre	qual	o	espaço	
concedido à cultura afro hoje, no Brasil do mundo globalizado e intercultural, um 
país	comprometido	com	a	defesa	do	direito	à	diversidade.	
Seria a cultura afro componente da cultura brasileira que 
conserva	suas	especificidades,	mas	que	é	parte	do	Brasil	como	um	
todo? Ou seria a cultura afro apenas a sombra de determinadas 
influências	que	se	mesclam	nesse	país	diversificado?	Teria	a	cultura	
afro um lugar no Brasil? Se a resposta for sim, que lugar é este? De 
destaque? De sociedade? À margem? 
A história nos conta qual o lugar do negro no Brasil, primeiro 
escravo, depois liberto, mas sob algumas condições. É certo que 
algumas mudanças aconteceram nesses tempos idos e que a cultura 
afro	hoje	tem	em	sua	defesa	alguns	atos,	inclusive	políticos.	Citamos	a	
questão	política	por	entendermos	que	seja	importante	que	essa	esfera	
da sociedade, de alguma forma, mesmo motivada por interesses, se 
detenha a organizar o respeito e o reconhecimento de parte da cultura 
africana em terra também sua, brasileira.
O	ano	de	2011	é	dedicado	à	reflexão	em	torno	dos	afrodescendentes	
no	que	tange	a	seus	direitos	políticos,	econômicos,	culturais	e	sociais:	
“em 18 de dezembro de 2009, a Assembleia Geral das Nações Unidas 
proclamou o ano, começando em 1º. de janeiro de 2011, como o Ano 
Internacional dos Afrodescendentes (A/RES/64/169).” A partir dessa 
resolução, 
É certo que 
algumas 
mudanças 
aconteceram 
nesses tempos 
idos e que a 
cultura afro hoje 
tem em sua 
defesa alguns 
atos, inclusive 
políticos.
104
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
A	 representação	da	UNESCO	no	país	 realizou	uma	série	de	
encontros e debates regionais para lançar a primeira edição 
em Português da Coleção da UNESCO “História Geral de 
África” (HGA), que em paralelo foi entregue a 8 mil bibliotecas 
universitárias	 e	 públicas	 do	 país	 e	 antes,	 em	 dezembro	 de	
2010, disponibilizada gratuitamente online ao público em 
dezembro	de	2010,	com	apoio	e	financiamento	do	Ministério	
da Educação (MEC) e coordenação técnica da Universidade 
Federal de São Carlos (UFSCAR). Além de debates e mesas-
redondas, programação cultural, atividades relacionadas à 
tradição afro-brasileira e integração com movimentos sociais 
também	fizeram	parte	dos	eventos.	(UNESCO,	2011).
Reconhecer o lugar do negro na cultura brasileira é tarefa árdua a ser 
desenvolvida por todos. Esta discussão em torno da cultura afro no Brasil 
e também na América começa pela sua forma primeira de estar aqui: como 
manifestação do povo escravo.
A	partir	de	1570,	a	resistência	dos	aborígenes,	as	epidemias	
que golpeavam duramente uma população que nunca havia 
sido	muito	densa,	a	 legislação	contra	a	escravidão	 indígena,	
reduziram tanto a disponibilidade quanto a rentabilidade da 
mão	de	obra	índia.	(CARDOSO,	1982,	p.	55).
O	 comércio	 marítimo	 entre	 os	 países	 da	 Europa	 incentivou	 o	
comércio de mão-de-obra barata, fundamental para o desenvolvimento 
das plantações e da exploração das riquezas regionais. O 
desenvolvimento da América está associado a esse processo de troca 
de riquezas entre as nações colonizadoras e o desenvolvimento das 
novas terras, e “a etapa que se estende de meados do século XVII 
até 1791 pode ser considerada como o auge da escravidão negra nas 
Américas” (CARDOSO, 1982, p. 55). A exploração do solo brasileiro 
através do braço forte do negro africano inicia a busca do ouro, seguida 
pelas plantações. 
Não pretendemos nos alongar nos aspectos históricos da escravidão no 
Brasil. Apenas consideramos importante pontuar as diferenças entre a cultura 
brasileira e sua relação com os africanos. Cardoso (1982) discute essas questões 
usando termos como “sociedades africanas”, “sociedades negras”, “mundo dos 
brancos” e “mundo dos negros”. O confronto do africano com a nova terra resulta, 
segundo o autor, no surgimento de comunidades negras,das quais o branco é 
retirado, mantido do lado de fora, mas que também não podem ser denominadas 
africanas, visto que sua aculturação tira parcialmente sua identidade.
No Brasil não obterá personalidade juridica; mas 
psicologicamente deverá forjar-se uma nova personalidade, 
sem a qual não poderá sobreviver: Isto ocorre pela inserção 
O comércio 
marítimo entre os 
países da Europa 
incentivou o 
comércio de mão-
de-obra barata, 
fundamental 
para o 
desenvolvimento 
das plantações 
e da exploração 
das riquezas 
regionais.
105
Os Padrões da CulturaCapítulo	5
simultânea	na	sociedade	dominada	pelo	modelo	dos	brancos,	
e na sociedade dos negros, ainda inspirada por modelos 
africanos. A adaptação que transforma o cativo em escravo no 
sentido	exato	da	palavra	supõe	uma	aprendizagem	linguística,	
religiosa e através do trabalho, sendo que em todos os casos 
aparecerá a dualidade “mundo dos brancos”/ “mundo dos 
negros”. (CARDOSO, 1982, p.55).
Essa	 dualidade	 da	 qual	 trata	 o	 autor	 se	 reflete	 também	 hoje	 nos	
descendentes	 que	 nascem	 em	 terra	 brasileira.	 Nesse	 sentido,	 a	 reflexão	 em	
torno da cultura afrodescendente exige pensar no desenvolvimento da história 
e da ação dos afrodescendentes, questionando assim esse lugar em solo 
brasileiro. Das regiões brasileiras, será na Bahia que a cultura africana terá maior 
espaço, onde a arte, a religião, a culinária serão preservadase posteriormente 
desenvolvidas	com	suas	influências.
Figura 54 - Os tambores do Olodum	da	Bahia	–	Influência	Africana
Fonte:	Disponível	em:	<http://www.dendecultural.com.br/2011/02/
ensaio-do-olodum.html>. Acesso em: 10 out. 2011.
Na linha do desenvolimento da música e da dança, a capoeira 
como	manifestação	artística	cultural	também	é	fortemente	desenvolvida	
na Bahia, sendo até considerada referência. Assim como samba no Rio 
de	Janeiro,	que	traz	a	influência	da	cultura	afro.		
Na linha do 
desenvolimento 
da música e 
da dança, a 
capoeira como 
manifestação 
artística cultural 
também é 
fortemente 
desenvolvida na 
Bahia, sendo 
até considerada 
referência. Assim 
como samba no 
Rio de Janeiro, 
que traz 
a influência da 
cultura afro.
106
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
O	Entre-Lugar	da	Cultura	Africana	
no	Brasil
Quando se fala em cultura afro-brasileira, uma pergunta sempre vem à tona: 
o samba é brasileiro ou africano? E a resposta pode parecer simples ou complexa 
ao mesmo tempo, tudo depende de como se interpreta os elementos históricos, 
responsáveis pela formação da cultura e da identidade do brasileiro. O correto 
seria falar em hibridismo cultural e assim resolver essa discussão. Para tanto, é 
importante fazer um resgate histórico da chegada dos portugueses e dos negros 
escravos ao Brasil e analisar como essa junção de etnias ocorreu entre eles e os 
povos	indígenas,	que	já	habitavam	essas	terras.	
As primeiras caravelas portuguesas ancoraram em terras – que se 
denominariam mais tarde brasileiras – por volta de 1500. Trinta e dois anos 
mais tarde, Martim Afonso de Souza criou o primeiro centro produtor de açúcar, 
que se chamou Vila de São Vicente (hoje estado de São Paulo). Para tocar o 
trabalho de produção, foi necessária uma mão de obra especializada, ou seja, 
que conhecesse o cultivo da cana e, então, em 1550, desembarcam em Salvador, 
Bahia, os primeiros africanos escravizados, destinados ao trabalho nos engenhos 
de cana-de-açúcar do Nordeste e também na Vila de São Vicente. 
O número de engenhos nordestinos duplicou a partir de 
1630	 e,	 nesse	 período,	 tropas	 de	 holandeses	 desembarcaram	 em	
Pernambuco, trazendo escravos provenientes de terras angolanas, 
que foram retirados de sua terra natal para serem direcionados ao 
trabalho escravo nas lavouras brasileiras. Essa primeira fase do 
domínio	holandês	é	marcada	por	guerras	cruéis	e	por	deslocamento	
forçado	de	negros,	por	intermédio	de	portugueses,	para	o	sul	do	País.
Enfim,	o	negro	experimentou	as	piores	condições	de	vida	neste	
processo de trabalho escravo e nem mesmo com a abolição desse 
sistema escravagista a situação melhorou. Porque a estratégia 
do colonialismo foi a de destruir a autoestima do colonizado e, 
principalmente, do escravizado, incutindo nele o complexo da 
inferioridade, para o qual a única alternativa era reproduzir o modelo 
ditado pelo colonizador. Isso se daria também nas questões culturais. 
Ou melhor: a tentativa ocorreu, mas não chegou a se concretizar, 
porque os negros conseguiram resistir e mantiveram vivas suas 
manifestações	 culturais,	 bem	 como	 as	 ritualísticas	 e	 religiosas,	 por	
intermédio do sincretismo.
O número 
de engenhos 
nordestinos 
duplicou a partir 
de 1630 e, nesse 
período, tropas 
de holandeses 
desembarcaram 
em Pernambuco, 
trazendo escravos 
provenientes de 
terras angolanas, 
que foram 
retirados de 
sua terra natal 
para serem 
direcionados ao 
trabalho escravo 
nas lavouras 
brasileiras.
107
Os Padrões da CulturaCapítulo	5
Por isso, quando se fala sobre as origens africanas do samba, recorre-se ao 
cronista baiano Francisco Guimarães (Vagalume), que explica o vocábulo como 
sendo	dois	 verbos	da	 língua	dos	nagôs,	 o	 ioruba:	san, pagar, e gbá, receber . 
Depois de Vagalume, muito se tentou explicar sobre a origem da palavra, 
inclusive	que	teria	uma	procedência	indígena.	No	entanto,	Nei	Lopes	,		sambista	
e pesquisador da cultura negra brasileira, ressalta que o vocábulo é, sem dúvida, 
africaníssimo,	legitimamente	banto	e	não	iorubano.	
Samba,	 entre	 os	 quiocos	 (chokwe)	 de	 Angola,	
é	 verbo	 que	 significa	 cabriolar,	 brincar,	 divertir-
se como cabrito. Entre os bacongos angolanos e 
congueses, o vocábulo designa uma espécie de 
dança em que um dançarino bate contra o peito 
do outro. E essas duas formas se originam da 
raiz	multilinguística	semba – rejeitar, separar, que 
deu origem ao quimbundo di-semba, umbigada 
–,	 elemento	 coreográfico	 fundamental	 do	 samba	
rural, em seu amplo leque de variantes, que inclui, 
entre outras formas, as danças conhecidas como 
batuque baiano, coco, calango, lundu, jongo etc. 
(Lopes, 2003, p 14). 
Aliás, o nome samba, como destaca ainda Nei Lopes, designava 
uma das danças populares brasileiras derivadas do batuque africano. 
Atualmente, é mais aplicado ao gênero de música, canção e dança 
que	 se	 tornou	 um	 dos	 símbolos	 da	 nacionalidade	 brasileira.	 Há	 de	
se	 entender	 o	 samba	 também	 a	 partir	 de	 critério	 geográfico.	 Ou	
seja, primeiro em sua feição rural, à base de pergunta (solo curto) e 
resposta (refrão forte), quase sempre dançado numa roda e mantendo 
como	elemento	característico	a	umbigada	ou	uma	simulação	dela.	 	A	
Umbigada é uma dança em roda em que, em determinado momento, 
os dançarinos encostam a barriga leve e rapidamente um ao outro. 
Depois o samba ganhou uma feição urbana no Rio de Janeiro, antiga 
capital federal, nas primeiras décadas de 1900. 
Veja	um	vídeo	sobre	a	Umbigada	e	conheça	um	pouco	mais	
sobre essa dança. 
http://www.youtube.com/watch?v=w_dIcxOd_w8&feature=related		
O	samba	moldado	no	ambiente	urbano	do	Rio	de	Janeiro	sofreu	modificações	
estruturais que se processam até hoje. Ao contrário do samba rural – em que as 
Samba, entre 
os quiocos 
(chokwe) de 
Angola, é verbo 
que significa 
cabriolar, brincar, 
divertir-se como 
cabrito. Entre 
os bacongos 
angolanos e 
congueses, o 
vocábulo designa 
uma espécie de 
dança em que um 
dançarino bate 
contra o peito do 
outro.
108
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
variações	 de	 denominação	 dependem	da	 questão	 geográfica,	 o	 samba	 urbano	
sofre interferências de toda ordem e cria novas formas, umas eternas, outras 
passageiras, mas todas transformando a velha matriz, muitas vezes contribuindo 
para	tornar	quase	imperceptíveis	as	raízes	africanas	do	gênero.	
Nei Lopes (1993) lembra que os batuques festivos originários de Angola 
e do Congo certamente já se achavam no Brasil havia muito tempo. No século 
XIX	eles	já	tinham	moldado	a	fisionomia	do	samba	rural,	fazendo	surgir	o	lundu,	
tocado	e	dançado.	Aluísio	de	Azevedo	faz	referência	a	esse	ritmo	em	“O	Cortiço”	
num trecho em que descreve uma reunião festiva na casa da personagem Rita 
Baiana. Esse lundu ao qual se refere o escritor foi certamente um ancestral 
próximo do samba cantado, originário das toadas dos batuques de Angola e do 
Congo.	A	 estrofe	 improvisada,	 acompanhada	 de	 refrão	 coral	 fixo	 em	 resposta,	
é	 característica	 estrutural	 de	 origem	 africana	 com	 ascensão	 na	 música	 afro-
brasileira.	Tanto	elas	quanto	a	coreografia	revelam,	no	antigo	samba	dos	morros	
do	Rio,	a	permanência	de	afinidades	básicas	com	o	samba	rural,	expandido	por	
boa parte do território nacional. 
No Rio de Janeiro, a modalidade mais tradicional do samba 
é	o	partido-alto,	um	samba	cantado	em	forma	de	desafio	por	
dois ou mais participantes e que se compõe de uma parte com 
coral	e	outra	solada.	Essa	modalidade	 tem	 raízes	profundas	
nas canções do batuque angolano, em que as letras são 
sempre improvisadas e consistem geralmente na narrativa de 
episódios amorosos, sobrenaturais ou de façanhas guerreiras. 
(LOPES, 1993, p.24). 
André Diniz (2008) resume tudo isso dizendo que a música popular 
urbana	brasileira	 é	 resultado	da	 confluência	 cultural	 de	 três	etnias:	 o	
índio,	o	branco	e	o	negro.	É	deles	a	herança	de	 todo	o	 instrumental,	
o sistema harmônico,os cantos e as danças. Diniz chega à mesma 
conclusão de Nei Lopes, ou seja: a música urbana, e, portanto, o 
samba,	 surge	 no	 início	 do	 século	 XIX,	 nos	 principais	 centros	 da	
colônia, notadamente Rio de Janeiro e Bahia. Essa música é “entoada 
por pessoas que cantavam modinhas e lundus ao violão, ao piano ou 
acompanhadas por grupos instrumentais” (DINIZ, 2008, p 20). Diante 
dessas	 análises,	 fica	 evidente	 que	 o	 samba	 é	 brasileiro	 e	 com	 forte	
influência	africana.	
No Rio de 
Janeiro, a 
modalidade 
mais tradicional 
do samba é o 
partido-alto, um 
samba cantado 
em forma de 
desafio por 
dois ou mais 
participantes e 
que se compõe 
de uma parte 
com coral e outra 
solada.
109
Os Padrões da CulturaCapítulo	5
Dica	de	leitura:	O	Cortiço,	de	Aluísio	de	Azevedo.
Figura	55	-	O	cortiço,	Aluísio	de	Azevedo
Fonte:	<http://leituraveloz.blogspot.com/2011/06/o-cortico-do-
grande-autor-brasileiro.html>. Acesso em: 10 out. 2011.
Outra manifestação artistica importante é o carnaval, 
destacando	 novamente	 o	 Rio	 de	 Janeiro,	 onde	 os	 desfiles	 de	
carnaval, sob o rosto da preservação cultural, são transformados 
em espetáculo, rendendo fortunas, atraindo turistas do mundo 
inteiro. No mesmo segmento, a cultura da Bahia faz parte da 
rota	 turística	 que	movimenta	 a	 economia	 do	 país.	 Independente	
dessas questões econômicas, pensar no afrodescendente, sendo 
branco ou não, e no seu lugar (voltando à discussão inicial) nesta 
terra que é também sua, é algo que está atrelado às questões de 
alteridade	e	identidade	(discutidas	no	capítulo	II),	negando	a	atitude	
etnocêntrica que ainda prevalece em nossa sociedade. 
Etnocentrismo
De onde	vejo	o	outro?	Quais	são	os	parâmetros	adotados	em	meu	julgamento	
acerca	dos	valores	morais,	das	manifestações	artísticas	e	culturais	do	outro?	Com	
se organiza a sociedade em torno das diferenças dos sujeitos que a compõem? 
E o outro, como ele me vê? Será que as pessoas me veem como eu sou, e suas 
opiniões	estão	afinadas	com	o	meu	autojulgamento?
Outra manifestação 
artistica importante é o 
carnaval, destacando 
novamente o Rio 
de Janeiro, onde os 
desfiles de carnaval, 
sob o rosto da 
preservação cultural, 
são transformados em 
espetáculo, rendendo 
fortunas, atraindo 
turistas do mundo 
inteiro.
http://leituraveloz.blogspot.com/2011/06/o-cortico-do-grande-autor-brasileiro.html
http://leituraveloz.blogspot.com/2011/06/o-cortico-do-grande-autor-brasileiro.html
110
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
Como podemos nos entender (...), se nas palavras que digo 
coloco o sentido e o valor das coisas como se encontram 
dentro de mim; enquanto quem as escuta inevitavelmente as 
assume com o sentido e o valor que têm para si, do mundo 
que têm dentro de si? (PIRANDELLO, s,p., 2011).
A questão da identidade e dos múltiplos olhares acerca da 
constituição dos sujeitos, no que tange tanto à sua aparência quanto 
a sua personalidade e moral, é discutida além das teorias freudianas 
no	romance	do	italiano	Luigi	Pirandello,	que	traz	o	título	“Um,	Nenhum	
e Cem mil”. De repente o personagem principal de Pirandello se vê 
frente	às	muitas	faces	construídas	a	partir	de	sua	personalidade	pelas	
pessoas que com as quais convive, afetando também a sua aparência 
física,	até	então	entendida	como	um	consenso	com	o	espelho.	O	reflexo	
de sua aparência começa a não ser mais de comum acordo, cada 
um de seu meio social tem uma forma de ver e julgar determinadas 
particularidades de sua aparência, o que provoca no personagem 
momentos de indignação por discordar de muitas delas. 
Trago	 a	 referência	 do	 livro	 para	 refletirmos	 sobre	 a	 forma	 como	
olhamos o outro, a cultura do outro. Será que nosso olhar corresponde 
de fato ao fenômeno observado, ou seria prudente assumirmos que 
nosso	pensamento	acerca	de	determinadas	culturas	se	configura	como	
possível,	mas	não	como	sendo	o	único?	Nossa	base	empírica	e	teórica	
forma nossa visão de mundo, mas deve ser constantemente avaliada a 
fim	de	não	desenvolvermos	atitude	etnocêntrica.
O etnocentrismo consiste em privilegiar um universo de 
representações propondo-o como modelo e reduzindo à 
insignificância	os	demais	universos	e	culturas	“diferentes”.	De	
fato, trata-se de uma violência que, historicamente, não só se 
concretizou	por	meio	da	violência	 física	contida	nas	diversas	
formas de colonialismos, mas, sobretudo, disfarçadamente, 
por meio daquilo que Pierre Bourdieu chama “violência 
simbólica”, que é o “colonialismo cognitivo” na antropologia de 
De Martino. (CARVALHO, 1997 p.181, grifo do autor).
O	 etnocentrismo	 se	 configura	 como	 uma	 postura	 construída	
acerca dos valores morais e culturais diante da sociedade. Como 
sujeitos	 construídos	 pelo	 contexto	 em	 que	 nos	 desenvolvemos,	 ter	
um	olhar	etnocêntrico,	em	que	nossos	valores	são	parâmetro	utilizado	
no	 julgamento	 do	 outro,	 é	 considerado	 reflexo	 de	 nossa	 educação.	
No entanto, frente às barbáries cometidas por nações com atitudes 
etnocêntricas, essa forma única de olhar a cultura do outro é banida 
do projeto de igualdade étnico racial. Subjugar as culturas que se 
apresentam	diferentes	daquela	em	que	nos	constituímos	é	uma	atitude	
que não cabe mais no mundo globalizado. 
O reflexo de 
sua aparência 
começa a não 
ser mais de 
comum acordo, 
cada um de 
seu meio social 
tem uma forma 
de ver e julgar 
determinadas 
particularidades 
de sua aparência, 
o que provoca 
no personagem 
momentos de 
indignação por 
discordar de 
muitas delas.
O etnocentrismo 
se configura 
como uma 
postura 
construída 
acerca dos 
valores morais e 
culturais diante 
da sociedade.
111
Os Padrões da CulturaCapítulo	5
Como nos livrarmos da prática cotidiana de julgamento do outro? 
Figura 56 - René Magritte, Golconde, 1953
Fonte:	Disponível	em:	http://www.imaginariopoetico.com.br/luigi-
pirandello-um-nenhum-e-cem-mil/. Acesso em: 10 out. 2011.
Desastres	 humanos,	 em	 que	 vidas	 são	 subtraídas	 por	 alguns	
de	 forma	 violenta,	 baseados	 em	 justificativas	 de	 não	 aceitação	 de	
cultura	do	outro,	são	reflexo	de	atitudes	etnocêntricas.			
O etnocentrismo origina e tem origem na 
“heterofobia” (o Outro - em suas diversas 
formas: primitivo, selvagem, louco, imaturo, 
homossexual, “homens de cor”, crianças 
problemáticas, fascistas, baderneiros, “hippies”, 
“mulheres de vida fácil”, hereges etc) constitui 
“perigo” que deve ser exterminado. (CARDOSO, 
1982, p. 182, grifos do autor).
A	violência	se	configura	no	ato	de	remover	o	outro	do	espaço	em	
que vive, pois suas ações não estão de acordo com o que se acredita 
e	tolera.	No	início	da	colonização	do	Brasil,	o	índio	foi	o	outro a ser 
eliminado, a ser privado do direito de viver e de se manifestar através 
de suas práticas culturais. O negro também tem sua cultura sufocada 
perante a implantação da cultura europeia.
A violência se 
configura no ato de 
remover o outro do 
espaço em que vive, 
pois suas ações não 
estão de acordo 
com o que se 
acredita e tolera. No 
início da colonização 
do Brasil, o índio 
foi o outro a ser 
eliminado, a ser 
privado do direito 
de viver e de se 
manifestar através 
de suas práticas 
culturais.
http://www.imaginariopoetico.com.br/luigi-pirandello-um-nenhum-e-cem-mil/
http://www.imaginariopoetico.com.br/luigi-pirandello-um-nenhum-e-cem-mil/
112
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
Durante o século XIX, os missionários cristãos na África e nas 
ilhas	do	Pacífico	forçaram	várias	tribos	nativas	a	mudar	os	seus	
padrões de comportamento. Chocados com a nudez pública, a 
poligamia e o trabalho no dia do Senhor, decidiram, paternalistas, 
reformar o modo de vida dos “pagãos”. Proibiram os homens 
de	ter	mais	de	uma	mulher,	 instituíram	o	sábado	como	dia	de	
descanso e vestiram toda a gente. Estas alterações culturais, 
impostas	 a	 pessoas	 que	 dificilmente	 compreendiam	 a	 nova	
religião, mas que tinham de se submeter ao poder do homem 
branco, revelaram-se, em muitos casos,nocivas: criaram mal-
estar social, desespero entre as mulheres e orfandade entre as 
crianças. (RODRIGUES, 2003).
 As posturas etnocêntricas se manifestam em vários setores da sociedade, 
em várias partes do mundo, por cidadãos que têm ideologias extremistas. Neste 
ano	de	2011,	o	Brasil	foi	criticado	por	ser	um	país	que	comporta	variadas	culturas	
e a miscigenação entre raças na carta “An European Declaration of Independence 
- 2083” (Uma declaração de Independência Europeia - 2083), do atirador da 
Noruega	 Anders	 Behring	 Breivik,	 acusado	 de	 atitude	 terrorista	 pelo	 massacre	
de 76 estudantes em um acampamento de jovens na ilha de Utoya, próximo a 
Oslo, na Noruega. Insanamente e com o discurso do preconceito em relação à 
America	Latina,		Breivik	se	refere	ao	Brasil	como	um	pais	“disfuncional”	em	sua	
carta divulgada na internet.
A razão da nossa preocupação e oposição deve-se ao fato 
de que a imigração massiva, a mistura racial e a adoção 
por não europeus são ameaça à unidade da nossa tribo 
(...).	 Primeiramente,	 um	 país	 que	 tem	 culturas	 competitivas	
vai	 se	 dilacerar	 ou	 vai	 acabar	 como	 um	 país	 disfuncional,	
como	 o	 Brasil	 e	 outros	 países”.	 (Do	 UOL	 Notícias	 
Em São Paulo , 2011).
A matéria publicada na página da internet, que traz trechos da carta do 
assassino	 com	 referências	ao	país,	 evidencia	que	a	 violência	em	 terra	brasileira	
é	atribuída	à	miscigenação,	e	que	a	superação	destes	conflitos	e	a	busca	para	a	
melhoria	deve	levar	em	conta	a	educação,	o	livre	mercado	de	políticas	nacionalistas,	
o resguardo de uma etnia homogênea e eliminação da presença do islamismo. 
No caso citado, o assassino confesso tem a sua cultura, sua raça, sua 
cor	 como	 padrão	moral	 a	 ser	 seguido	 por	 todos,	 justificando	 assim	 a	 barbárie	
cometida contra os que são diferentes. Aqui, o processo de eliminar a cultura 
alheia chegou ao extremo da violência em pleno século XXI, em um cenário 
economicamente globalizado, em um mundo apresentado como comprometido 
com a interculturalidade.
O que notamos é que o projeto europeu de um mundo povoado por sua 
raça, considerada superior, ainda permanece na mente de muitos cidadãos. 
113
Os Padrões da CulturaCapítulo	5
Se,	no	início	das	conquistas	territoriais,	a	América	foi	o	alvo	desse	
projeto, que vai além da aculturação, em que os habitantes que aqui 
já estavam, tiveram seus rastros culturais apagados pela violência 
e pelos costumes e ideologias impostas, hoje não é diferente. 
Obviamente que atitudes violentas como da praticada na Noruega 
chocam o mundo devido à incompreensão da atitude extrema do 
atirador. No entanto, esse acontecimento tem rastro na história, em 
que	a	tolerância	predominou	e	ainda	hoje	predomina.
Assim, olhar as peculiaridades do outro, como a forma de se vestir, de se 
divertir, hábitos que envolvem alimentação, danças, crenças, arte e artesanato, 
cultura local e global, com respeito perante atitudes a priori estranhas para ambos, 
é fundamental em um mundo que comporta tantas diferenças. Longe de exaltar o 
relativismo	de	nível	moral	acerca	das	questões	de	cultura,	o	que	vale	é	o	cultivo	
da igualdade de direito, de respeito a toda vida humana. 
É	 tarefa	 difícil	 sim,	 em	 um	 mundo	 individualista,	 egoísta,	 rodeado	 por	
ideologias que subjugam qualquer um, prevalecendo a busca do lucro e do poder. 
A dominação do outro é histórica, começou com a disputa dos conquistadores de 
terra	e	 riquezas	e,	por	seu	caráter	histórico,	é	passível	de	mudanças	por	 todos	
os	sujeitos	que,	constituídos	pela	sociedade	em	que	vivem,	têm	a	capacidade	de	
provocar mudanças. 
Segundo Husserl, o conceito primário de relativismo 
(epistemológico)	é	definido	pela	fórmula	de	Protágoras:	“o	homem	é	
a medida de todas as coisas” (...). Alguns autores consideram que, 
no	nível	epistemológico,	o	relativismo	brota	de	uma	atitude	cética	e,	
no	nível	moral,	de	uma	atitude	cínica.	(MORA,	2001	p.	629).
O projeto europeu de 
um mundo povoado 
por sua raça, 
considerada superior, 
ainda permanece 
na mente de muitos 
cidadãos.
114
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
O	filme	problematiza	as	questões	étnico-raciais. 
Figura 57 - Filme Crash
Fonte:	Disponível	em:	<http://www.urutagua.uem.br/013/13lourenco.htm>.	
Acesso em: 10 out. 2011. 
Atividade de Estudos: 
1) Com o objetivo de investigar as heranças culturais em nossos 
hábitos alimentares, construa um cardápio baseado em uma 
semana de alimentação e investigue a origem dos alimentos mais 
consumidos. O objetivo da atividade é revelar a herança cultural 
que ordena sua alimentação.
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http://www.urutagua.uem.br/013/13lourenco.htm
115
Os Padrões da CulturaCapítulo	5
Visite o Museu Afro Brasil: artes plásticas. A viagem vale a pena! 
Acesse: 
http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica
Algumas	Considerações
É urgente a discussão para que haja a mudança de posturas discriminatórias 
que subjugam qualquer ser humano. O planeta é habitado por seres diferentes, 
com sociedades e culturas distintas. No entanto, conviver é preciso e nos resta 
encontrar	a	melhor	forma	de	dividir	cada	espaço	compartilhado.	Tarefa	difícil,	mas	
possível.	Nesse	sentido,	estudar	a	arte	e	sua	ligação	com	a	cultura	e	a	sociedade	
contribui para o pensar acerca das diferenças existentes em nosso meio social. 
Referências	
An European Declaration of Independence - 2083” (Uma declaração de 
Independência	Europeia	-	2083).	Do	UOL	Notícias	Em	São	Paulo.	Disponível	em	
http://www.uol.com.br/. Acesso em 03 de setembro de 2011.
Ano Internacional dos Afrodescendentes (A/RES/64/169). Disponivel em: http://
www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/single-view/news/international_
year_for_people_of_african_descent/. Acesso em 02 setembro de 2011.
AZEVEDO, Aluisio. O cortiço. São Paulo: Ática, 1983.
CARDOSO, Ciro Flamarion S. A Afro-América: a escravidão no novo mundo. 
São Paulo: Editora Brasiliense, 1982.
CARVALHO, José Carlos de Paula. Etnocentrismo: inconsciente, imaginário e 
preconceito	no	universo	das	organizações	educativas.	Disponível	em		http://www.
interface.org.br/revista1/debates2.pdf. Acesso em 05 setembro de 2011.
DINIZ, André. Almanaque do samba: a história do samba, o que ouvir, o que ler, 
onde curtir. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2008.
http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica
http://www.uol.com.br/
http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/single-view/news/international_year_for_people_of_african_descent/
http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/single-view/news/international_year_for_people_of_african_descent/
http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/single-view/news/international_year_for_people_of_african_descent/
http://www.interface.org.br/revista1/debates2.pdf
http://www.interface.org.br/revista1/debates2.pdf
116
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
LOPES, Nei. O negro no Rio de Janeiro e sua tradição musical. Rio de 
Janeiro: Pallas, 1992.
_____ Sambeabá: o samba que não se aprende na escola. Rio de Janeiro: Casa 
da Palavra, Folha Seca, 2003. 
MATTOS, Rafaela de Souza. Cultura e educação.	Disponível	em:	http://www.
coladaweb.com/pedagogia/educacao-e-filosofia. Acesso em 03 de setembro de 
2011.
MORA, José Ferrater. Dicionáriode Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
RODRIGUES,		Luis.	Padrões	de	cultura	e	etnocentrismo	cultural.	Disponível	em:	
http://www.esas.pt/dfa/sociologia/etnocentrismo.htm.	Acesso	em	01	de	setembro	
2011.
http://www.coladaweb.com/pedagogia/educacao-e-filosofia
http://www.coladaweb.com/pedagogia/educacao-e-filosofia
http://www.esas.pt/dfa/sociologia/etnocentrismo.htm
CAPÍTULO 6
Cultura	Brasileira	e	Educação
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 9 Conhecer	 as	 confluências	 que	 moldam	 a	 memória	 e	 sua	 midiatização	
transformadora.
 9 Distinguir a memória como selo de identidade carregada de fragmentos 
históricos.
 9 Reconhecer a autoria cultural mediada pela memória, entendida como lugar, 
espaço e tempo.
 9 Entender	a	cultura	brasileira	como	berço	constituído	na	mistura,	no	que	tange	
à identidade.
118
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
119
Cultura Brasileira e EducaçãoCapítulo	6
Contextualização
Caro	pós-graduando,	estamos	chegando	ao	nosso	último	capítulo	de	estudos	
sobre os “Saberes e as Heranças Culturais Brasileiras” e agora chegou a hora de 
mergulharmos um pouco na educação e compreender a correlação entre a cultura 
e a educação, duas grandes áreas.
Ter	a	definição	clara	desses	conceitos	e	trabalhar	em	uma	prática	pedagógica	
que	proporcione	aos	alunos	discutir	e	refletir	sobre	a	sua	cultura	e	transcendê-la	é	
um dos pontos chave no ensino de artes nos dias atuais. 
A	 interculturalidade	 é	 tema	 em	 destaque	 nas	 discussões	 das	 políticas	
públicas.	Neste	 capítulo,	 vamos	 investigar	a	noção	central	 da	 interculturalidade	
e como ela se desenvolve na cultura brasileira, que apresenta elementos 
importantes que podem contribuir para uma educação que objetiva a igualdade 
social e a preservação das diferenças culturais.
A	Cultura	e	a	Educação	
“Cada um tem o seu tempero”
Na discussão de questões que envolvem práticas voltadas para 
interculturalidade	no	 cenário	brasileiro,	 a	arte	 se	 configura	 como	um	campo	de	
conhecimento que se desenvolve em terreno fértil. O Brasil é intercultural por 
excelência,	suas	raízes	colonizadoras	resultaram	em	uma	diversidade	em	termos	
amplos	na	sociedade,	como	etnia	e	cultura.	Resta	investigar	como	ações	políticas	
e educacionais assumem a interculturalidade.
O avanço tecnológico nos permite entrar em contato com a cultura de outros 
povos,	mesmo	que	de	forma	virtual.	As	especificidades	culturais	estão	acessíveis	
a todos os que se interessarem em saber sobre a diversidade dos povos. Mesmo 
estando a milhares de quilômetros dessas culturas, podemos de alguma forma 
espiar	o	que	é	específico	de	cada	lugar.	
Obviamente,	esse	conhecimento	é	superficial,	resumido	apenas	em	algumas	
informações. No entanto, essa prévia, esse breve olhar sobre cultura alheia através 
do	universo	virtual	prepara	nossa	curiosidade	acerca	das	especificidades	culturais.	
Espiando o outro, nos conectamos a informações que nos interessam e, no caso 
da cultura popular e da arte, muito do que sabemos acerca das práticas culturais 
está ligado à representação social de cada região, ou ainda, ao que os meios de 
comunicação de massa elegem como fatores representativos de cada sociedade. 
Existe nos meios de divulgação digital um termo denominado “curiosidades de”, em 
que podemos encontrar inúmeras particularidades de diferentes regiões. 
120
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
Que tal buscar em sites da internet e conhecer um pouco sobre 
o trabalho do artista Fernando Bottero e do escritor Gabriel Garcia 
Márquez? Vale a pena conferir. 
Por exemplo, podemos saber que a Colômbia, lugar também das pinturas 
de Bottero e da literatura de Garcia Márquez, tem uma prática curiosa em sua 
culinária: saborear formigas fritas. Essa prática é estranha ao paladar brasileiro, 
mesmo	 sendo	 conhecida	 em	 nosso	 país,	 no	Amazonas.	 Em	 alguma	 parte	 do	
oriente, por exemplo, no Japão, as noivas casam de vestido vermelho e o luto é 
representado	pela	cor	branca.	As	distâncias	geográficas	entre	as	várias	partes	do	
mundo	não	 impedem	que	as	práticas	culturais	e	artísticas	cheguem	a	variados	
territórios, acompanhando o deslocamento do homem sobre a terra. Foi assim com 
as	gravuras	chinesas	que	cruzaram	o	oceano	e	contribuíram	de	forma	significativa	
com o processo de comunicação humana através de imagens e textos. Também 
as	esculturas	africanas	cruzam	a	fronteira	e	influenciam	a	arte	da	Europa	através	
de Pablo Picasso. 
Figura 58 - Escultura da tribo Makonde, da África Oriental, 
1974.	Arte	Africana:	influência	de	Pablo	Picasso
Fonte:	Disponível	em:	<http://wwwpoetanarquista.blogspot.
com/2010/10/arte-dafrica.html>. Acesso em: 08 dez. 2011. 
Aliás, as particularidades culturais entre continentes são também questões 
de discussão acirrada no que diz respeito ao universo cultural vasto, assim como 
as diferenças existentes nos territórios do próprio espaço ocidental.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Makonde
http://pt.wikipedia.org/wiki/1974
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Makonde_elephant.jpg
121
Cultura Brasileira e EducaçãoCapítulo	6
Figura 59 - Fernando Bottero - Monalisa aos 12 anos 
Fonte:	Disponível	em:	<http://www.panoramio.com/
photo/6738601>. Acesso em: 15 set. 2011.
Figura 60 - Gravura japonesa e matriz - Xilogravura
Fonte:	Disponível	em:	<http://www.museu.gulbenkian.pt/exposicoes/mundos_sonho/
gravura.asp?num=1&page=gravura&lang=pt&coord=40>. Acesso em: 15 set. 2011. 
Historiadores	apontam	a	influência	das	máscaras	africanas	na	obra	do	artista	
espanhol.
Figura 61 - “Les Demoiselles d’Avignon” - Pablo Picasso 
Fonte:	Disponível	em:	<http://www.thecityreview.com/
matpic.html>. Acesso em: 15 set. 2011. 
http://static.panoramio.com/photos/original/6738601.jpg
http://www.panoramio.com/photo/6738601
http://www.panoramio.com/photo/6738601
http://www.museu.gulbenkian.pt/exposicoes/mundos_sonho/gravura.asp?num=1&page=gravura&lang=pt&coord=40
http://www.museu.gulbenkian.pt/exposicoes/mundos_sonho/gravura.asp?num=1&page=gravura&lang=pt&coord=40
http://www.thecityreview.com/matpic.html
http://www.thecityreview.com/matpic.html
122
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
No que se remete ao Brasil e a sua representação no cenário 
mundial, podemos citar os elementos culturais que foram eleitos como 
representativos	 do	 país	 verde	 e	 amarelo.	 Os	meios	 de	 comunicação	
revelam	o	Brasil	como	o	país	do	 futebol,	do	carnaval,	da	alegria	e	do	
prazer, ou ainda da violência, do primitivismo. Esse retrato brasileiro que 
ainda	persiste	tem	suas	raízes	nas	políticas	culturais	que	se	apropriam	
dos elementos populares brasileiros e com eles traçam o perfil	do	país	
para aqueles que não vivem por aqui. 
Carmen Miranda, com músicas como “O que é que a baiana 
tem?”, “No tabuleiro da baiana” e “South American Way”, foi 
o ponto de partida de uma conhecida identidade brasileira, 
o estereótipo do Brasil de terra do carnaval e do samba, 
da beleza e da dança. Depois dela, outros personagens 
fortificaram	essa	ideia,	Zé	Carioca,	a	Bossa	Nova,	e	grandes	
músicos da MPB consagraram a imagem que qualquer um 
lembra quando nos referimos ao povo brasileiro. (JORWIK, 
2010, s.p.).
A pequena notável que, com suas músicas e dança, inicia a 
representação	 do	 país	 como	 uma	 terra	 alegre,	 colorida,	 vende	 a	
imagem que até hoje prevalece. Falar de Carmem Miranda é falar de 
um Brasil encenado.	Ao	se	referir	às	cenas	do	fime	de	Zé	Carioca	no	
Brasil, o autor chama a atenção para o enfoque branco	 do	 filme,	 e	
lembra	que	o	cenário	do	filme		é	Salvador,	sendo	que	a	ausência	dos	
negros	na	representação	do	Brasil	baiano	configura	uma	falsidade	em	
torno de uma imagem idealizada. A representação continua até hoje: 
Atualmente, no exterior, quando pensam em se referir ao 
Brasil, essa identidade vem à tona, como é o caso de uma 
propaganda de café brasileiro veiculada em Israel, nela, 
um homem israelense está no avião,quando a aeromoça 
lhe oferece café, ele pensa sobre o assunto e começa a 
dizer: “Eu quero café com sabor, café inteligente, café com 
personalidade, café com aroma, que se pode tocar nele, 
senti-lo, café com açúcar. EU QUERO CAFÉ BRASILEIRO”. 
Neste momento da propaganda o rapaz salta do avião de 
paraquedas e chega a Salvador, lá encontra uma paisagem 
maravilhosa, com um povo animado e receptivo, festejando 
em clima de carnaval. (JORWIK, 2010, s.p.).
Nesta linha de pensamento, da construção de identidade brasileira pelos 
meios	 de	 comunicação	 de	 massa,	 com	 interesses	 políticos	 de	 divulgação	
internacional, a apropriação da cultura popular para a representação de uma 
imagem brasileira é de certa maneira escandalosa, porque segrega valores em 
detrimento de certos interesses de pessoas que manipulam o que deveria ser de 
comum acordo entre o povo que compõe o território brasileiro. São falas parciais 
acerca de um discurso bem mais extenso e entrelaçado a várias questões de 
Os meios de 
comunicação 
revelam o Brasil 
como o país 
do futebol, do 
carnaval, da 
alegria e do 
prazer, ou ainda 
da violência, do 
primitivismo.
São falas parciais 
acerca de um 
discurso bem 
mais extenso e 
entrelaçado a 
várias questões 
de valores 
humanos. São 
as imagens 
de um mesmo 
Brasil, entre elas 
a situação de 
sobrevivência da 
classe menos 
favorecida.
123
Cultura Brasileira e EducaçãoCapítulo	6
valores humanos. São as imagens de um mesmo Brasil, entre elas a situação de 
sobrevivência da classe menos favorecida.
A construção dessa imagem vem de produções nacionais, e 
geraram repercurssões mundiais. Filmes brasileiros que se 
tornaram famosos no mundo inteiro, como “Cidade de Deus”, 
“Carandiru” e “Ônibus 174” retratam favelas e o mundo do 
crime.	A	grandiosidade	desses	filmes	no	exterior	fez	com	que	
muitos enxergassem o Brasil apenas sob este prisma, dessa 
forma muitos estrangeiros acreditam que no Brasil e em suas 
favelas existam tiroteios, assaltos e roubos a todo momento. 
(JORWIK, 2010, s.p.).
Os	 desafios	 na	 área	 de	 segurança	 pública,	 no	 combate	 às	 drogas	 e	 à	
violência	 também	 são	 temas	 explorados	 em	 filmes	 nacionais	 com	 repercussão	
internacional,	como	no	caso	do	filme	“Tropa	de	Elite”.	Quem	lá	de	longe	assiste	
a	esse	filme,	ou	mesmo	ao	exagerado	“Turistas”,	rodado	no	Brasil,	constrói	que	
imagem	 de	 nosso	 país?	Outro	 filme	 importante	 no	 que	 tange	 à	 construção	 da	
imagem do Brasil é “Velozes e Furiosos 5: Operação Rio”. Protagonizado por Vin 
Diesel,	 o	 filme,	que	está	em	sua	quinta	 versão,	é	uma	produção	de	Hollywood	
com recorde de público, rodeado por tiros, ação e adrenalina, mostrando um 
Brasil da favela, corrupto, em que os ladrões de carros americanos se refugiam e 
encontram	solo	fértil	para	continuar	com	seus	roubos	milionários.	O	ar	romântico	
está	 na	 informação	 de	 que	 o	 dinheiro	 roubado	 vem	de	 fontes	 ilícitas	 e	 que	 de	
certa maneira errada, os bandidos parecem ter autorização para o roubo. 
Figura 62 - Carmen Miranda representa um Brasil festivo
Fonte:	Disponível	em:	<http://www.jorwiki.usp.br/gdnot10/index.php/
Forma%C3%A7%C3%A3o_de_uma_identidade_cultural_brasileira_e_
seus_estere%C3%B3tipos>. Acesso em: 08 dez. 2011.
124
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
Figura	63	-	O	personagem	“Capitão	Nascimento”	do	filme	“Tropa	
de	Elite”.	A	corrupção	da	polícia	é	o	foco	do	filme
Fonte:	Disponível	em:	<http://www.jorwiki.usp.br/gdnot10/
index.php/A_elite_da_tropa_e_o_constru%C3%A7%C3%A3o_
de_Roberto_Nascimento>. Acesso em: 08 dez. 2011.
Figura	64	-	O	filme	“Turistas”,	de	John	Stockwell,	2006.	Clichês	e	estereótipos	
acerca de um Brasil perigoso em um cenário deslumbrante
Fonte:	Disponível	em:	<http://oglobo.globo.com/cultura/
mat/2006/12/01/286862215.asp>. Acesso em: 08 dez. 2011.
Figura 65 – “Velozes e Furiosos 5 – Operação Rio”. As favelas 
são o lugar ideal para os foragidos estrangeiros
Fonte:	Disponível	em:	<http://www.oquerolananet.com/tudo-
sobre-velozes-e-furiosos-5/>. Acesso em: 08 dez. 2011.
125
Cultura Brasileira e EducaçãoCapítulo	6
A	 pergunta	 se	 organiza	 no	 seguinte	 sentido:	 atá	 que	 ponto	 a	 ficção	 e	 a	
realidade são devidamente separadas pelos espectadores? Por isso, pensar na 
imagem vendida pelos meios de comunicação e também pela dita sétima arte, o 
cinema, torna-se fundamental, porque é a imagem que estaremos absorvendo de 
lugares em que não vivemos e parcialmente conhecemos. Como lembra Candau 
(2009 p. 46), devemos ter o cuidado de não
[...] transformar um singular ou um particular em um Geral, 
cuja forma mais vulgar e, via de regra, a mais detestável, é o 
estereótipo cultural ou nacional: os franceses são ranzinzas, 
os	suíços	são	conscienciosos,	os	brasileiros	são	 [...],	eu	não	
sei,	o	estereótipo	que	me	vem	espontaneamente	ao	espírito	é:	
todos amantes de futebol, etc. 
 É prudente não cultivarmos uma ideia errada, mal formada, 
deformada dos hábitos culturais de sociedades diferentes da nossa, e 
também da nossa própria imagem divulgada ao mundo através dessas 
produções, pois pensar em nossas atitudes, levando em consideração 
como	 isso	 vai	 influenciar	 o	 reforço	 ou	 a	 negação	 de	 uma	 imagem	
ideologicamente	 construída,	 leva	 ao	 questionamento:	 que	 identidade	
estamos cultivando? 
A	memória	 é	 elemento	 de	 suma	 importância	 na	manutenção	 da	
identidade dos grupos sociais. Resgatar, através da memória, os 
costumes de cada grupo reforça a raiz que sustenta a permanência 
da cultura popular, é a história contada e recontada que atua de forma 
ativa na manutenção da cultura como um todo. 
A	 memória	 histórica	 constitui	 um	 fator	 de	 identificação	
humana, é a marca ou o sinal de sua cultura. Reconhecemos 
nessa memória o que nos distingue e o que nos aproxima. 
Identificamos	 a	 história	 e	 os	 seus	 acontecimentos	 mais	
marcantes,	 desde	 os	 conflitos	 às	 iniciativas	 comuns.	 E	 a	
identidade	 cultural	 define	 o	 que	 cada	 grupo	 é	 e	 o	 que	 nos	
diferencia uns dos outros. (CANDAU, 2009, p. 47).
Pensar	na	memória	 com	 fator	de	 importância	na	construção	da	 identidade	
ultrapassa a ideia inicial de resgate de história, sendo assim a própria fonte de 
construção de identidade de grupos que compõem as sociedades. Identidade e 
memória se validam quando compõem as estruturas identitárias. Será através 
dessa construção que os sujeitos irão se desenvolver dentro de seu espaço social 
e, por isso, a herança cultural repassada por gerações é tão importante. 
Quando nossa memória se torna irremediavelmente falha, 
sob suas formas individuais tal como problemas mnésicos 
severos associados às doenças neurodegenerativas (mal de 
Alzheimer,	 Huntington,	 Parkinson),	 ou	 sob	 formas	 coletivas	
Pois pensar em 
nossas atitudes, 
levando em 
consideração 
como isso vai 
influenciar o 
reforço ou a 
negação de 
uma imagem 
ideologicamente 
construída.
126
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
que	 se	 crê	 legítimas,	 a	 amnésia	 é	 então	 acompanhada	 de	
um sentimento de perda de identidade (pessoal ou coletiva). 
Há,	 poderíamos	 dizer,	 uma	 perda	 da	 essência	 ou	 mais	
exatamente, a representação (pessoal ou coletiva) de uma 
perda da essência. A memória pode, assim, ser assimilada a 
essa faculdade constituinte da identidade pessoal que permite 
aos sujeitos pensarem serem detentores de uma essência que 
permanece estável no tempo, ou de pensar que o grupo ao 
qual pertence é detentor de uma essência, tendo a mesma 
propriedade. (CANDAU, 2009, p. 47).
Obviamente,	 a	 apropriação	 desses	 valores	 culturais	 sofrem	 modificações	
ao longo do tempo, como que se adaptando ao novo espaço em que serão (re)
vividos, através dos costumes, ritos, da linguagem e das manifestações culturais 
de forma ampla. 
Com	as	reservas	de	uso,	desde	que	se	passe	do	indivíduo	ao	
coletivo,	 se	 pode	 ter	 o	mesmo	 raciocínio	 para	 um	 grupo	 ou	
toda uma sociedade. É bem em função de uma representaçãoanterior, que os membros de um grupo fazem de sua 
identidade (sua essência), que vão incorporar certos aspectos 
particulares do passado, fazer escolhas memoriais (por 
exemplo, escolhas patrimoniais CANDAU, 2009, p. 47).
Assim, a memória compreende a preocupação da identidade individual e 
coletiva,	 representada	 e	 (re)construída	 em	 ações	 e	 práticas	 também	 coletivas	 e	
individuais, que compreendem manifestações culturais, religião e arte reveladas 
em seus códigos culturais e autenticadas pela sociedade em que estão inseridas 
quando absorvidas e eleitas como patrimônio cultural. Nem toda memória se torna 
patrimônio	coletivo,	algumas	ficam	na	esfera	do	particular,	 familiar	ou	mesmo	de	
pequenos	grupos.	Os	mecanismos	políticos	e	ideológicos	que	elegem	determinado	
patrimônio cultural variam em cada sociedade, e nesse aspecto é importante 
observar os interesses envolvidos nesse processo e como essa memória identitária 
se	configura	em	marcos	públicos	de	compartilhamento	coletivo	de	identidade.	
Que	símbolos	nos	representam?	
A obra de Alexandre Sequeira tem como foco a memória e a 
identidade.	Foi	construída	a	partir	da	experiência	vivida	pelo	artista,	
no vilarejo de Nazaré de Mocajuba, no Pará. 
127
Cultura Brasileira e EducaçãoCapítulo	6
Figura 66 - Vilarejo de Nazaré de Mocajuba – Pará - Alexandre Sequeira
 
Fonte:	Disponível	em:	<http://www.saraivaconteudo.com.br/Blogs/Post/21730>. 
Acesso em: 16 set. 2011. 
O encontro de diferentes culturas problematiza as diferenças 
culturais.
SEM IDENTIDADE e NOME DE FAMÍLIA
 
 
Atividade de Estudos: 
1) Para aprofundarmos a questão da representação de um 
determinado	 local,	 como	 cidade,	 região	 ou	 país,	 através	 dos	
códigos eleitos, faça um levantamento da representação icônica 
(os	 símbolos	 que	 representam	 sua	 cidade)	 e	 reflita	 como	 essa	
identidade representa sua região.
 ____________________________________________________
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http://www.saraivaconteudo.com.br/Blogs/Post/21730
128
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
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A	Interculturalidade
Figura	67	-	Os	indígenas
 
Fonte:	Disponível	em:	<http://www.ufsj.edu.br/noticias_ler.
php?codigo_noticia=2552>. Acesso em: 20 set. 2011.
“Temos o direito de ser
iguais, sempre que a diferença nos inferioriza; temos
o direito de ser diferentes sempre que a igualdade nos
descaracteriza.” (CANDAU apud Santos, 2006, p. 462). 
A interculturalidade está na pauta das discussões dos representantes de 
diversos	países,	em	especial	os	da	América	Latina.	O	projeto	intercultural	tem	suas	
raízes	na	preocupação	com	os	grupos	indígenas	e	no	desenvolvimento	linguístico	
desses grupos, reforçado pelo desejo de conquista de espaço social, das diferenças 
presentes nas etnias, nas religiões, em questões de gênero. Esse espaço requerido 
vem	sanar	a	dívida	social	construída	ao	longo	dos	anos	pelas	classes	dominantes,	
que	serviam	de	parâmetro	regulador	de	comportamento	social.
http://www.ufsj.edu.br/noticias_ler.php?codigo_noticia=2552
http://www.ufsj.edu.br/noticias_ler.php?codigo_noticia=2552
129
Cultura Brasileira e EducaçãoCapítulo	6
Mais do que resgatar os direitos subjugados dos que por muito 
tempo vivem à margem de uma sociedade que segrega, o projeto 
intercultural se propõe a dialogar com as diferenças existentes na 
sociedade, em momentos de (con)vivência. Uma conquista importante 
para esse diálogo é a constiuição de 1988, em que as culturas das 
populações	indígenas	e	quilombolas	são	reconhecidas	e	autenticadas.	
Segundo Candau (2010), “[...] o termo interculturalidade surge 
na América Latina no contexto educacional e, mais precisamente, 
com	refêrencia	à	educação	escolar	 indígena”.	Sendo	os	 indígenas	os	
primeiros habitantes encontrados pelo colonizador, a educação esteve 
voltada a esses povos, que precisam de alguma forma se adaptar à 
nova	 realidade	 que	 está	 sendo	 construída	 no	 desenvolvimento	 dos	
territórios explorados. 
No que serefere a esse processo educacional, Candau (2010) aponta quatro 
etapas	importantes:	a	primeira	etapa	no	período	colonial,	marcado	pela	violência	
na imposição da cultura hegemônica; a segunda etapa, em que a educação 
bilíngue	é	 levada	ao	 indígena,	para	sua	civilização;	em	um	 terceiro	momento	o	
bilinguismo	começa	a	reconhecer	particularidades	dos	povos	e	a	sua	importância	
cultural;	 e,	 na	 quarta	 etapa,	 finalmente	 a	 educação	 bilíngue	 inclui	 também	 a	
preservação e o diálogo entre as culturas existentes, as escolas interculturais.
No entanto, este espaço educacional ainda se restringe a alguns locais. 
Mesmo	sendo	parte	do	currículo	escolar,	a	cultura	indígena	ainda	é	considerada	e	
tratada como excêntrica, sem o necessário diálogo para a real interculturalidade. 
Resgatar	os	direitos	políticos	e	sociais	usurpados	desses	cidadãos	é	uma	tarefa	
gigantesca, mas que está assegurada, no que diz respeito à sua busca, no 
projeto intercultural da América Latina. E nesse projeto de igualdade e respeito 
na convivência com as diferenças na sociedade e no espaço escolar estão os que 
têm descendência africana.
Importante destacar que a situação dos grupos negros no 
continente	 varia	muito	em	 relação	à	 realidade	de	cada	país.	
Se em alguns anos foi praticamente eliminada, como na 
Argentina, em outros constitui a grande maioria da população, 
como em Cuba ou no Haiti. Há situações em que são 
circunscritos a algumas regiões e / ou núcleos rurais, como no 
Equador	ou	Bolívia,	em	outras	estão	presentes	nas	principais	
zonas	urbanas	do	respectivo	país,	como	é	o	caso	do	Brasil	e	
da Colômbia. (CANDAU, 2010, p. 158).
Os	resquícios	do	regime	de	exploração	dos	escravos	negros	ainda	têm	ação	
negativa na sociedade atual, que de várias maneiras ainda mantêm os negros à 
margem da sociedade e longe de seus direitos, tudo isso velado por um discurso 
Uma conquista 
importante para 
esse diálogo é 
a constiuição 
de 1988, em 
que as culturas 
das populações 
indígenas e 
quilombolas são 
reconhecidas e 
autenticadas.
130
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
não racista. No entanto, a luta desses grupos em busca de seu lugar 
como cidadãos tem marcado mudanças importantes, promovendo um 
revisar da história, que mostra como o processo de construção social 
foi cruel com alguns membros dessa sociedade, subjugados por outros. 
Por isso, essas conquistas provocam tensão, mas ela é necessária para 
o reconhecimento da luta na busca dos espaços, pois, caso contrário, 
seria apenas uma encenação, como a herança histórica de um cenário 
forjado, falseado sob o rosto da amizade entre grupos de diferentes 
etnias, colonizador e colonizado.
Elimina-se,	 assim,	 o	 conflito,	 continuando	 a	 perpetuar	
estereótipos e preconceitos, pois, se seguirmos a lógica 
de	 que	 os	 diferentes	 grupos	 étnico-raciais	 desde	 o	 início	 do	
processo colonizador foram se integrando cordialmente, 
podemos pensar que as diferentes posições hieráquicas 
entre	eles	devem-se	à	capacidade	e	empenho	de	 indivíduos	
e / ou à inferioridade de determinados grupos. Essa ideia se 
disseminou no imaginário social, contribuindo para que as 
sociedades não se reconhecessem como hieraquizadoras, 
discriminadoras e racistas. (CANDAU, 2010, p. 158).
Reconhecer nesteprocesso de construção social o resgate de direitos que 
foram negados aos grupos minoritários é um passo importante para que possamos 
conviver com as diferenças culturais, em postura de respeito que envolve a todos. 
Não se parte de uma cultura e sim de todas as culturas que de alguma forma (co)
habitam o espaço social. 
A cultura aqui referida ultrapassa as manifestações culturais, englobando a 
vida em sua plenitude. As questões estão abertas para a discussão, o diálogo 
intecultural já foi sugerido, resta saber como vai se desenvolver ao longo da 
história	este	desafio	chamado	interculturalidade	para	a	vida.	
Educação	Intercultural	e	Arte
Os	 desafios	 que	 compõem	 a	 prática	 da	 educação	 intercultural	 envolvem	
também a arte como representante da expressão da humanidade em suas 
particularidades. Ao assumir a interculturalidade no espaço educacional, inúmeras 
questões se tornam relevantes. Pensar as práticas educativas sob a ótica da 
interculturalidade é necessário e urgente. Cada espaço educativo, assim como 
seus	 integrantes,	 também	 tem	 características	 que	 de	 alguma	 maneira	 vão	 se	
mesclar aos conteúdos educacionais eleitos, e assim as questões das ações que 
contemplem a interculturalidade merecem a devida atenção, pois
A luta desses 
grupos em busca 
de seu lugar 
como cidadãos 
tem marcado 
mudanças 
importantes, 
promovendo 
um revisar da 
história, que 
mostra como 
o processo de 
construção social 
foi cruel com 
alguns membros 
dessa sociedade, 
subjugados por 
outros.
131
Cultura Brasileira e EducaçãoCapítulo	6
Nestes espaços liminares, as diferenças não se 
diluem imediatamente num caldo comum, nem 
são hierarquizadas, tratadas como superiores ou 
inferiores, melhores ou piores, mas permanecem 
em tensão, em ebulição, fazendo com que 
as mesmas palavras, as mesmas imagens, 
os	 mesmos	 símbolos,	 não	 apenas	 produzam	
diversas interpretações, mas se mantenham 
ambivalentes. E assim mantenham também 
a	 flexibilidade,	 a	 possibilidade	 de	 continuar	
interagindo e mudando, des-locando relações de 
poder.	(AZIBEIRO	e	FLEURY,	2008,	p.	06).
Essa tensão é necessária para que a compreensão das 
diferenças amplie o horizonte de saberes que a educação pode 
proporcionar. E, nesse sentido, a análise minuciosa dos conteúdos 
a serem discutidos no projeto de educação intercultural abrange todo 
cuidado em relação à escolha de ações pedagógicas. A educação 
intercultural	 é	 comprometida	 com	a	 formação	 do	 indivíduo	 crítico	 e	
possuidor	de	saberes	múltiplos,	que	vai	atuar	de	 forma	significativa	
em seu espaço social. 
A tarefa da educação intercultural, nesse sentido, 
não é adaptar, ou mesmo simplesmente possibilitar 
a mútua compreensão das linguagens. É, antes, 
possibilitar a emergência dos múltiplos significados, 
provocando	 a	 reflexão	 sobre	 seus	 fluxos e 
cristalizações e os jogos de poder aí	implicados.	Se	
a tarefa da tradução pode ser ponto de partida para 
que	se	 localizem	confluências	e	divergências,	ela	
não	se	constitui	no	seu	ponto	final.	 (AZIBEIRO	e	
FLEURY,	2008,	p.	06).
O entendimento das diferenças serve como base para que os sujeitos 
educacionais possam se constituir com esse novo olhar, e assim as diferenças 
dos	 envolvidos	 passam	 a	 coexistir,	 sem	 a	 necessidade	 de	 classificação	 de	
qualquer tipo, sem que haja a hierarquização, sem que um subestime o outro, 
sem	 que	 a	 cultura	 do	 outro	 possa	 ser	 substituída	 pelas	 nossas	 culturas,	 em	
convivência	pacífica	no	mesmo	espaço,	dessa	 forma	compartilhando	o	espaço,	
que será desenvolvido. Como apontam Azibeiro e Fleury (2008), a sensibilização 
e	 o	 respeito	 às	 demais	 culturas	 a	 princípio	 estranhas	 configuram	 o	 processo	
dialógico	 na	 educação.	Por	 ser	 dialógica,	 a	 existência	 de	 tensões	 se	 configura	
como	elemento	importante	porque	provoca	uma	dinâmica	nesse	processo.	
O grupo que se mantém disposto a aprender, apesar das 
dificuldades	 e	 impasses,	 aos	 poucos	 vai	 adquirindo	 a	
compreensão	de	que	ter	 interesses	comuns	não	significa	ser	
absolutamente igual em tudo, descobrindo-se que o próprio 
grupo não é um todo homogêneo e uniforme, um amálgama 
Nestes espaços 
liminares, as 
diferenças 
não se diluem 
imediatamente num 
caldo comum, nem 
são hierarquizadas, 
tratadas como 
superiores ou 
inferiores, melhores 
ou piores, mas 
permanecem 
em tensão, em 
ebulição, fazendo 
com que as 
mesmas palavras, 
as mesmas 
imagens, os 
mesmos símbolos, 
não apenas 
produzam diversas 
interpretações, mas 
se mantenham 
ambivalentes. 
(AZIBEIRO e 
FLEURY, 2008, p. 
06).
132
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
em	 que	 se	 diluem	 as	 especificidades	 e	 singularidades.	 Ele	
mesmo é múltiplo e pluricultural, e as próprias diferenças 
– deixando de ser entendidas como hierarquizações a priori 
– fazem crescer o seu potencial, por exigir continuamente a 
reflexão	e	a	 tessitura de outros desfechos para os impasses, 
que	não	são	poucos.	(AZIBEIRO	e	FLEURY,	2008,	p.	06).
No que confere ao estudo da cultura, a arte, como área de conhecimento, 
é privilegiada. Quem educa com os saberes da arte tem na cultura uma fonte 
inesgotável de informações. Estes autores educacionais irão trabalhar a cultura 
de	diferentes	povos,	questões	políticas	e	de	virtudes,	atitudes	e	ideias	morais	que	
a arte de cada sociedade deixou registrada em quadros, esculturas, arquitetura, 
música, entre outros. Discutirão também o mundo atual e suas faces, algumas 
paradoxais. Vale lembrar que, ao adentrar na cultura alheia, é preciso cautela, 
pois é importante atuar como mediadores e não invasores. Ao abordar os saberes 
de culturas distintas, uma postura ética é fundamental.
Em termos interculturais, a arte também apresenta um 
importante elemento pedagógico. Na medida em que nos 
seja	dado	experienciar	a	produção	artística	de	outras	culturas,	
torna-se mais fácil a compreensão dos sentidos dados à vida 
por essas culturas estrangeiras. Através da arte se participa 
dos elementos, dos sentimentos que fundam a cultura 
alienígena	em	questão,	o	que	é	o	primeiro	passo	para	que	se	
interprete	as	suas	mensagens	e	significações.	(DUARTE	JR.,	
1994, p. 70).
Ao pensar a educação intercultural, seremos sempre aprendizes. O legado 
dos diferentes povos, através de suas manifestações culturais socializadas, 
contribuirão para a formação humana como um todo. E esse todo abrange o pessoal 
e	o	 social,	 o	 desenvolvimento	 de	 cada	um	no	 cenário	 coletivo	 contemporâneo.	
A arte-educação está embutida no processo geral da educabilidade humana e, 
como tal, assume seu papel fundamental.
Ela compreende justamente uma consciência mais harmoniosa 
e equilibrada perante o mundo, em que sentimentos, a 
imaginação e a razão se integram; em que os sentimentos 
e valores dados à vida são assumidos no agir cotidiano. 
Compreende	 uma	 atitude	 em	 que	 não	 existe	 “distância	 entre	
intenção e gesto”, segundo o verso de Chico Buarque e Ruy 
Guerra. Em nossa atual civilização (antiestética por excelência), 
a	consciência	significa	capacidade	de	escolha,	uma	capacidade	
crítica	para	não	apenas	se	submeter	à	imposição	de	valores	e	
sentidos, mas para selecioná-los e recriá-los segundo nossa 
situação existencial. (SILVA, 2007, p. 72).
Talvez a arte na educação ainda necessite, por parte de alguns educadores, 
desse olhar global na formação do sujeito. Certamente, o caráter técnico e 
133
Cultura Brasileira e EducaçãoCapítulo	6
funcionalista da arte ainda cultive alguns aspectos incorretos, como 
por exemplo, o caráter técnico-prático. Mas a arte-educação almeja e 
possibilita muito mais e encontra apoio nas obras de artistas que trazem 
o olhar intercultural. 
Figura 68 - O fotojornalismo de Salgado Filho: 
questões para se pensar a cultura
Fonte:	Disponível	em:	<http://notasjudiciosas.wordpress.
com/2010/02/page/4/>. Acesso em:19 set. 2011.
“Entre os Muros da Escola”:
Questões étnico-raciais em uma escola francesa dinamizam 
o	filme.	Professor	ou	colonizador?Figura	69	–	Cena	do	filme	
Fonte:	Disponível	em:	<http://cinema.uol.com.br/ultnot/2009/03/11/
ult4332u1035.jhtm>. Acesso em: 21 set. 2011. 
O caráter técnico 
e funcionalista da 
arte ainda cultive 
alguns aspectos 
incorretos, como 
por exemplo, o 
caráter técnico-
prático. Mas a 
arte-educação 
almeja e 
possibilita muito 
mais e encontra 
apoio nas obras 
de artistas que 
trazem o olhar 
intercultural.
http://notasjudiciosas.files.wordpress.com/2010/02/dia_da_mulher_1.jpg
http://notasjudiciosas.wordpress.com/2010/02/page/4/
http://notasjudiciosas.wordpress.com/2010/02/page/4/
http://cinema.uol.com.br/ultnot/2009/03/11/ult4332u1035.jhtm
http://cinema.uol.com.br/ultnot/2009/03/11/ult4332u1035.jhtm
134
Saberes, herança e manifestações culturais brasileiras
Atividade de Estudos: 
1) Falando de arte, educação e manifestações culturais, como 
a escola de sua região trabalha essas questões? Faça uma 
pesquisa acerca da discussão da educação intercultural em uma 
escola de sua cidade e descreva as prioridades desse projeto. O 
que ele contempla? Como essa escola vê a interculturalidade?
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Algumas	Considerações	
Na contemporaneidade, a mundialização é tema discutido, abarcando a 
educação para a vida. Através das conquistas tecnológicas, a aproximação das 
culturas acontece diariamente. No entanto, resta questionar de que forma se dá 
esse encontro. Se, por um lado, com um clique podemos conhecer parte das 
culturas antes desconhecidas, por outro essa facilidade nos obriga a olhar as 
diferenças com olhar compreensivo. 
Na esfera da educação, a interculturalidade se propõe a conciliar uma relação 
de tensão, em que as diferenças são os elementos a serem trabalhados através 
da arte de cada povo e das manifestações culturais. Educação, interculturalidade 
e	arte	 formam	uma	 tríade	 importante,	 que	 suscita	 reflexão	 constante	 na	 busca	
de uma educação que preserva e elege a vida como prioridade, independente 
135
Cultura Brasileira e EducaçãoCapítulo	6
de etnia ou cultura. Preservar as diferenças, trabalhando de forma igualitária é 
o	 desafio	 da	 educação	 deste	 século,	 e	 chama	 a	 todos,	 atores	 educacionais	 e	
comunidade, a trabalharem juntos para o desenvolvimento de uma educação 
intercultural. Mãos à obra!
Referências
AZIBEIRO,	Nadir	Esperança;	FLEURY,	Reinaldo	Matias.		Paradigmas 
interculturais emergentes na educação popular . Disponível	em 
http://www.grupalfa.com.br/arquivos/Congresso_trabalhosII/palestras/Fleuri.pdf.	
Acesso em 19 de setembro de 2011.
BATISTA, Claudio Magalhães. Memória e Identidade: aspectos relevantes 
para	o	desenvolvimento	do	Turismo	Cultural.	Disponível	em		http://ecoviagem.
uol.com.br/fique-por-dentro/artigos/turismo/memoria-e-identidade-aspectos-
relevantes-para-o-desenvolvimento-do-turismo-cultural-1333.asp. Acesso em 16 
de setembro de 2011.
CANDAU, Vera Maria. Direitos humanos, educação e interculturalidade: 
as tensões entre igualdade e diferença. Rev. Bras. Educ. vol.13 nº 37, Rio de 
Janeiro,	Jan./Abr.	2008.	Disponível	em	http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1413-24782008000100005.	Acesso em 16 de setembro de 2011.
CANDAU, Joel. Bases antropológicas e expressões mundanas da busca 
patrimonial: memória, tradição e identidade. Disponível	em:	http://www.unice.fr/
lasmic/PDF/candau-article-10.pdf. Acesso em 15 de setembro de 2011.
DUARTE JR, João-Francisco. Por que arte-educação? Campinas: Papirus, 1994. 
JORWIKI. Formação de uma identidade cultural brasileira e 
seus estereótipos. http://www.jorwiki.usp.br/gdnot10/index.php/
Forma%C3%A7%C3%A3o_de_uma_identidade_cultural_brasileira_e_seus_
estere%C3%B3tipos. Acesso em 20 de setembro de 2011.
SILVA, Tomaz Tadeu. Documentos de Identidade: uma introdução às teorias do 
currículo.	Belo	Horizonte:	Autêntica,	2007.
http://www.grupalfa.com.br/arquivos/Congresso_trabalhosII/palestras/Fleuri.pdf
http://ecoviagem.uol.com.br/fique-por-dentro/artigos/turismo/memoria-e-identidade-aspectos-relevantes-para-o-desenvolvimento-do-turismo-cultural-1333.asp
http://ecoviagem.uol.com.br/fique-por-dentro/artigos/turismo/memoria-e-identidade-aspectos-relevantes-para-o-desenvolvimento-do-turismo-cultural-1333.asp
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http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-24782008000100005
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http://www.jorwiki.usp.br/gdnot10/index.php/Forma%C3%A7%C3%A3o_de_uma_identidade_cultural_brasileira_e_seus_estere%C3%B3tipos
http://www.jorwiki.usp.br/gdnot10/index.php/Forma%C3%A7%C3%A3o_de_uma_identidade_cultural_brasileira_e_seus_estere%C3%B3tipos
http://www.jorwiki.usp.br/gdnot10/index.php/Forma%C3%A7%C3%A3o_de_uma_identidade_cultural_brasileira_e_seus_estere%C3%B3tipos

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