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AULA 2 COACHING E NEUROCOACHING Prof. Fernando Lúcio Wildner dos Santos 2 CONVERSA INICIAL Um dos fundamentos do coaching é a pirâmide dos níveis neurológicos de aprendizagem e de mudança. A metodologia que se utiliza é a de galgar esses níveis um a um. Parte-se da definição do patamar em que a pessoa se encontra, definindo-se fazer um processo de crescimento gradativo até se chegar ao topo. Existem muitos escritores sobre coaching que se baseiam nessas teorias neurológicas. A fundamentação desse processo é delineada nos estudos do especialista Gregory Bateson, que definiu o modelo dos níveis neurológicos da comunicação e aprendizagem. CONTEXTUALIZANDO A utilização do modelo do processo evolutivo no estudo e aplicação da metodologia do coaching faz-se necessária pelo fato de o ser humano estar sempre evoluindo. Essa contínua mudança tira o indivíduo da zona de conforto, exigindo dele novas formas de motivação, gerando a consciência do contínuo crescimento. O entendimento sobre cada um dos níveis neurológicos e a sua relação com o coaching é de extrema importância para o processo de crescimento humano. Seu estudo oferece indicativos para o tipo de abordagem a ser utilizada em cada nível e permite descrever as possibilidades de se trabalhar para o desenvolvimento da maturidade emocional. O presente estudo oferece uma visão de mundo com base na evolução, o entendimento de como as experiências ocorrem em cada nível e como a comunicação é indispensável para a construção e estruturação emocional e linguística de cada pessoa. Segundo Marques (2015), “a função de cada nível é organizar e controlar a informação do nível imediatamente abaixo. Portanto, uma mudança em um nível mais alto necessariamente acarretará mudanças nos níveis mais baixos”. TEMA 1 – PIRÂMIDE DOS NÍVEIS NEUROLÓGICOS DE APRENDIZAGEM E DE MUDANÇA Gregory Bateson, biólogo e antropólogo inglês naturalizado norte- americano (1904-1980), especialista em comunicação, aprendizagem, psicologia 3 e outros campos das ciências humanas, foi um estudioso da teoria dos sistemas, campo científico que valorizou a abordagem holística do ser humano e da natureza. Ele defendeu o conceito de que o que aprendemos obedece a uma determinada sequência hierárquica, a que chama de “níveis lógicos de aprendizagem” e que mudanças oriundas em um determinado âmbito podem ou não afetar outros níveis, dependendo da sua construção hierárquica. O antropólogo percebeu que os conflitos nos níveis lógicos frequentemente causam problemas. Bateson identificou uma série de níveis de aprendizagem no comportamento humano, cada um deles responsável pelas mudanças corretivas e possíveis refinamentos no outro grupo de aprendizagem sobre o qual operou. Vejamos os vários níveis de aprendizagem propostos pelo autor e apresentados por Robert Dilts, na obra Aprendizagem. Vamos acompanhar como foi a dinâmica encontrada no estudo de aprendizagem. • Aprendizagem 0: é caracterizada pela especificidade de resposta. Isto é, por um comportamento específico em um ambiente específico – certo ou errado; não está sujeito à correção. • Aprendizagem I: é a mudança na especificidade de resposta pela correção de erros de escolha em um conjunto de alternativas. • Aprendizagem II: é uma mudança no processo da aprendizagem I, por exemplo, uma mudança corretiva no conjunto de alternativas com base no qual é feita a escolha ou é uma mudança na maneira de pontuar a sequência. • Aprendizagem III: é a mudança no processo da aprendizagem II, por exemplo, uma mudança corretiva no sistema de conjunto de alternativas com base no qual é feita a escolha. 4 Figura 1 – Níveis de aprendizagem Fonte: Dilts, 1999. Os estudos de Gregory Bateson foram introduzidos na programação neurolinguística (PNL) por Robert Dilts. Dilts (2010) definiu seis categorias: 1. Espiritualidade: integração com o todo – a pergunta é: com quem? 2. Quem sou eu: identidade e missão – a pergunta é quem? 3. Meu sistema de crenças: valores e significados – permissão e motivação; a pergunta é por quê? 4. Minhas capacidades: estratégias e estados – mapas e planos; a pergunta é como? 5. O que eu faço ou o que eu fiz: comportamentos específicos – ações e reações; a pergunta é o quê? 6. O ambiente – estímulos externos – restrições e oportunidades; perguntas: onde? Quando? TEMA 2 – OS SETE NÍVEIS DO PROCESSO EVOLUTIVO Os sete níveis do processo evolutivo constituem uma evolução sobre a hierarquia das necessidades humanas de Maslow. Covey afirma que o ser humano em sua jornada passa por sete estágios em seu processo de Aprendizado 0 • Nessa estrutura, um reflexo simples, mecânico. Aprendizado I • O hábito, o condicionamento comportamental e a aprendizagem psicomotora seriam operações relacionadas a determinadas alternativas comportamentais. Aprendizado II • A aprendizagem perceptiva, a aquisição de habilidades latentes para a aprendizagem e a modelagem estariam relacionadas às operações que incluem um conjunto de alternativas. Aprendizado III • O insight e o "imprinting" estariam mais relacionados ao estabelecimento da mudança de sistemas internos de comportamentos alternativos . 5 desenvolvimento, sendo que cada um foca-se em uma necessidade particular. A evolução desse modelo é a Pirâmide de Níveis Neurológicos de Robert Dilts, utilizada como base para os níveis evolutivos do ser humano, atualmente aplicada no processo de coaching. A utilização do modelo do processo evolutivo no estudo e na aplicação da metodologia do coaching faz-se necessária pelo fato de o ser humano estar sempre evoluindo. Essa contínua mudança tira o indivíduo da zona de conforto, exigindo dele novas formas de motivação, gerando a consciência do contínuo crescimento. O atual modelo do processo evolutivo aplicado ao coaching é composto de sete níveis, a saber: ambiente, comportamento, capacidade e habilidades, crenças e valores, identidade, pertença e espiritualidade ou legado. O termo legado agregado à espiritualidade foi a colaboração de Marques (2015). Um novo nível, o da pertença, foi inserido na pirâmide e foi uma contribuição de Bernd Isert, outro renomado pensador da PNL. O entendimento sobre cada um dos níveis neurológicos e sua relação com o coaching é de extrema importância para o processo de crescimento humano. Seu estudo oferece indicativos para o tipo de abordagem a ser utilizada em cada nível e permite descrever as possibilidades de se trabalhar para o desenvolvimento da maturidade emocional. O presente estudo oferece uma visão de mundo com base na evolução, no entendimento de como as experiências ocorrem em cada nível e em como a comunicação é indispensável para a construção e estruturação emocional e linguística de cada pessoa. Segundo Marques (2015), “a função de cada nível é organizar e controlar a informação do nível imediatamente abaixo. Portanto, uma mudança em um nível mais alto necessariamente acarretará mudanças nos níveis mais baixos”. 6 Figura 2 – Pirâmide de níveis neurológicos, de Robert Dilts Fonte: Adaptado de Pereira, 2018. Segundo Albert Einstein, “não se consegue resolver um problema no mesmo nível em que foi criado. É necessário subir a um nível mais alto”. Por meio dos passos que nós damos começamos a crescer e evoluir. 2.1 Primeiro nível do processo evolutivo – ambiente Refere-se ao ambiente externo, às informações iniciais. Trata-se do nível introdutório. São as primeiras informações dentro de um contexto de diálogo, aquilo que parece ser a causa, o motivo, mas talvez não seja. Por isso é chamado de superficialidade. Tudo acontece dentro de um ambiente concreto, um espaço geográfico, uma instituição ou um campo ideológico. O ambiente determina nossos limites e oportunidades. O indivíduo é influenciado pelo seu ambiente: o do trabalho ou de convivência.Essa influência varia de pessoa a pessoa, conforme o seu nível evolutivo e também a sua relação passivo-ativo com ele. O ambiente considera o lugar, o momento e as pessoas envolvidas. É a pessoa que estabelece o limite do que vai incluir. Um exemplo é a pessoa que tem sucesso somente em circunstâncias específicas ou com pessoas envolvidas. É o que chamamos de “estar no lugar certo na hora certa”. É nesse nível que as Espiritualidade Pertença Identidade Crenças / Sonhos Conhecimento / Habilidades Comportamento Ambiente 7 condições externas e nossos comportamentos, conhecimentos, crenças e identidade se manifestam; está ligado ao onde e ao quando dessas manifestações. A administração científica aborda dois ambientes organizacionais distintos: um externo e outro interno. O primeiro diz respeito a variáveis incontroláveis e o segundo a variáveis mais controláveis. Cientificamente pode-se dizer que o ambiente externo tem mais impacto e abrangência no ambiente interno e que o inverso não é necessariamente verdadeiro (ex.: a economia (externo) afeta minha empresa (interno); o inverso pode ser verdadeiro, porém pouco provável). Constata-se que a superficialidade refletida no ambiente externo influencia comportamentos, capacidades, crenças e papéis (outros níveis do processo evolutivo). Se mudarmos o contexto inicial e o ambiente, mudamos a fisiologia. Mudando a fisiologia, entraremos num caminho de uma mudança mais profunda. É a mudança que vem de dentro para fora. É preciso, também, reconhecer a existência do ambiente interno, ou seja: a consciência, o espírito, o estado pessoal. No primeiro nível, ou seja, o da superficialidade, a atitude fundamental é a mudança. Uma mudança mais profunda só acontecerá se mudarmos o ambiente interno. O ambiente envolve as condições nas quais os nossos comportamentos acontecem. Esse nível responde às perguntas: quando? Onde? Onde aconteceu? Quando foi? Qual o melhor lugar para estar em determinada situação? O campo de trabalho nesse nível são as oportunidades que o ambiente pode nos oferecer, utilizando-os em nosso benefício. Onde estar? Em uma perspectiva cronológica da evolução do ser humano, esse primeiro nível tem relação e se inicia com a criança de 0 a 4 anos. O cérebro se ocupa em processar as informações que recebe no contato com o mundo. A criança apenas reage, acorda se estiver dormindo, chora se estiver com fome, e assim por diante. Essas são as primeiras reações de comunicação com o mundo em meio a tantas sensações, iniciando com o aleitamento materno, juntamente com as reações de olhar, afeto, calor, cheiro, batimento cardíaco... Nesse período, a afetividade ou a falta dela influenciará o comportamento e o desenvolvimento da criança por toda a sua vida. Como vimos, o ambiente exerce uma influência maior ou menor sobre o indivíduo. Essa influência acontece, é lógico, num nível mais superficial. Portanto, organizar o espaço com o intuito de oferecer benefícios pode ser uma abordagem 8 a ser considerada, como mudar o ambiente, mobiliário, vestimentas e, até mesmo, um amuleto, um aroma ou outro símbolo que evoque uma realidade desejada. Entre as filosofias que divulgam essa perspectiva, encontramos o feng shui, originário da China, que significa “vento e água”. Essa corrente discorre sobre o conhecimento das técnicas necessárias para potencializar as influências positivas que supõem estarem presentes em um ambiente, redirecionando as negativas, numa relação direta com o “yin/yang” – a luz e a sombra. Essa abordagem em relação ao espaço é semelhante a toda e qualquer forma de pensar o corpo humano com base em seus pontos energéticos e vibracionais. Assim como o acupunturista ou o massoterapeuta age em pontos estratégicos, tendo o corpo como um espaço, o feng shui age no espaço externo manipulando essas vibrações, pois elas agem diretamente no nosso bem-estar físico, mental e espiritual. Assim sendo, somos livres para fazermos nossas escolhas e para criarmos as alternativas ambientais que possam ajudar nesse nível do processo evolutivo, tendo presente, é lógico, que estamos agindo num âmbito superficial e não podemos permanecer nesse nível, devemos evoluir. Devemos estar atentos a alguns aspectos específicos: quando a arrumação da casa influi mais no seu bem-estar que o clima subjetivo de harmonia, felicidade, paz e outros aspectos, você está no primeiro nível. A seguir, citamos alguns exemplos de comportamentos ou expressões de quem está preso no primeiro nível do processo evolutivo: “esse curso é chato; não vou aguentar ficar aqui; esse ar-condicionado me irrita; essa cadeira é desconfortável; não vou lá, pois não gosto daquele lugar; aquele lugar me dá arrepios; essa comida não é mais tão gostosa como aquela que eu comia quando era criança; o cara é importante e tem dinheiro e olha o carro que ele anda, e assim por diante. São pensamentos muito limitantes para quem deseja evoluir. O papel do coach nesse estágio é o de guia. Conduz com respeito o coachee no ambiente em que as mudanças estão acontecendo, favorecendo-o a identificar as oportunidades e limites nesse contexto inicial. É oportuno trabalhar, também, as suposições que o cliente tem a respeito do ambiente ao seu redor. O coach deve agir com imparcialidade e transmitir segurança e apoio. Nessa perspectiva, o contexto externo no qual atuam nossos comportamentos diz respeito a tudo e a todos que nos cercam: o lugar concreto e as pessoas envolvidas. Vale recordar que o ambiente pode determinar a forma 9 como agimos. É o onde e quando determinado comportamento ocorre. Exemplos: a esse lugar eu não vou; lá é mais longe que aqui; tenho medo de falar em público... Levando em consideração o ambiente empresarial, tanto a vida das pessoas quanto a vida da própria empresa podem ser descritas em diferentes níveis. O primeiro nível é o ambiente no qual a organização e seus membros agem e interagem: trata-se do quando e onde as operações e as relações acontecem. Quando relacionamos os sete níveis no universo empresarial, concluímos que os fatores ambientais determinam o contexto e as contingências dentro dos quais as organizações operam. Fatores como localização, segurança, prédios e instalações, design aliados à influência das pessoas determinam comportamentos. Ex.: conforto e segurança maximizam o desempenho e a satisfação no trabalho. TEMA 3 – COACHING REMEDIATIVO: SEGUNDO NÍVEL DO PROCESSO EVOLUTIVO – COMPORTAMENTO É o nível do comportamento e da conduta pessoal e profissional. São as ações que identificam quem nós somos. A pergunta fundamental é: como me comporto diante das coisas que acontecem comigo? São nossas ações e reações específicas a determinadas situações, por isso é considerado o nível mais superficial da comunicação. É o que observamos exteriormente. Conforme o nível em que a pessoa se encontra, percebemos um tipo de comportamento, suas ações e reações. Quanto mais elevado o nível, mais refinado será o comportamento. Nesse nível, analisamos o que a pessoa faz e diz, o que ela expressa externamente para o mundo ao seu redor, isto é, no seu ambiente. Responde às perguntas: o quê? O que fazer? Como me comporto? Qual a melhor ação ou reação em determinada situação? Aqui trabalhamos as ações e reações do indivíduo para as situações em que deseja mudança, ou o alcance de algum objetivo determinado. Nesse segundo nível, é importante saber se agimos conscientemente, por iniciativa própria ou simplesmente reagimos, por impulso, diante de uma situação. As pessoas reativas, isto é, aquelas que reagem automaticamente, são aquelas que mais precisam trabalhar esse nível evolutivo, pois são reféns de seus comportamentos impulsivos. Tais condutas geram a ruptura das relações e da 10 conexão com o Todo. Esse nível é importantíssimo, pois o nosso comportamentoé o nosso “cartão de visita”, é a maneira como no apresentamos e ou outros nos veem. A PNL inclui nesse patamar também os pensamentos além das ações. O nível do comportamento merece atenção especial do coach e do coachee, pois é difícil de se trabalhar e de se mudar, visto que está intrinsecamente ligado a outros níveis. Observamos os comportamentos como espectadores, do lado de fora. Tais comportamentos são baseados nas ações que realizamos, são verbais e não verbais, conscientes e não inconscientes. Como afirmamos anteriormente, trata- se do nível mais superficial (o que aconteceu). Tal comportamento é vivido de acordo com o meio e está relacionado com o ambiente. É a ponta do iceberg, a ponta visível a um observador externo. O papel do coach nesse segundo nível do processo evolutivo é o de treinador. A função do treinador é aperfeiçoar o atleta ou o time, e para isso, ele exercita seus atletas de forma mecânica e repetitiva. Portanto, o foco está na performance, no desempenho e na atuação do coachee. Nesse processo de treinamento, o coachee, ao tentar reproduzir as capacidades de modelos pré- definidos, é levado a se conectar com suas forças internas. O coach exerce o seu papel de observador crítico e realiza feedbacks constantes. O segundo nível do processo é o coaching remediativo, um trabalho inicial. Aqui, o nível mais superficial de trabalho é a meta. É o nível da conduta. É difícil mudar um hábito, mais o início da mudança acontece quando começamos a mudar o comportamento, que pode ser imitado, copiado e, depois, interiorizado. O primeiro nível, o do ambiente, também está na perspectiva do coaching remediativo. O aspecto que mais se destaca em uma pessoa em um determinado ambiente é a sua conduta pessoal. O comportamento de alguém é a primeira atitude que as pessoas notam, seja no ambiente familiar, profissional ou social, e estabelece julgamentos ou “rótulos”. Os padrões de conduta são formados ainda na infância. Hábitos adquiridos podem interferir positiva e negativamente no processo evolutivo. Tal influência vem da família, dos relacionamentos no período da infância e adolescência, amigos da rua ou de seu ambiente, da escola, da igreja, da observação dos adultos, da televisão e assim por diante. 11 O coach, como treinador, deve ter presente que mesmo sendo o comportamento o aspecto mais facilmente identificável na pessoa, ele diz muito pouco sobre quem realmente a pessoa é. Existem outros muitos aspectos nesse universo interior, entre eles, aqueles que fogem da alçada do processo de coaching, como fatores psicológicos, por exemplo. Cabe aqui a imagem do iceberg, a imensa massa de gelo submersa com uma pequena parte aparente, acima da água. Comparando-nos ao iceberg, a parte visível de nosso eu corresponde aos nossos comportamentos: como nós nos manifestamos e como os outros nos enxergam. No entanto, a imensa massa submersa são os níveis internos e formam a identidade da pessoa. Eles se iniciam a partir do terceiro nível e são as capacidades/habilidades, crenças e sonhos/valores, pertença e espiritualidade. Em uma organização, esses níveis correspondem à sua cultura. Nesse segundo nível, o coach tem um papel de treinar o coachee para condutas padronizadas que construam uma imagem de respeito, mas também de proximidade e comunicação aberta (nível mais superficial, comportamental); deve também acenar para um trabalho mais profundo, que vá até os sonhos, as crenças e os valores do indivíduo. 3.1 Terceiro nível do processo evolutivo – conhecimento O terceiro nível do processo evolutivo é o âmbito do conhecimento: são as nossas capacidades, habilidades, dons e talentos. Esse nível transcende a conduta pessoal, representa o nosso potencial transformador e nos ajuda a lidar com as nossas ações concretas no mundo. É o nível das estratégias, das ferramentas, que nos dá o norte para seguirmos no caminho da evolução. Para trabalharmos esse terceiro nível, o coach e o coachee devem ter aprofundado os níveis anteriores. Nesse terceiro nível, percebe-se como o indivíduo aplica seus conhecimentos, desenvolvendo suas competências pessoais. Nossas capacidades, nossos conhecimentos e nossas habilidades nos permitem desenvolver determinadas práticas com mais ou menos facilidade se comparado com outras pessoas. Estão vinculadas às nossas potencialidades e ações, desde seu planejamento mental até a execução de habilidades motoras e físicas. Temos que ter presente aqui que habilidade está além do conhecimento. Pode-se ter conhecimento e não se ter habilidade para transmitir ou aplicar tal 12 conhecimento. Para evoluirmos, necessitamos desenvolver as habilidades e capacidades. É a resposta à seguinte pergunta: como as coisas são feitas? Somos convidados a descobrir quem nós somos, nossas habilidades e somos bons em quê? Somos convidados ao autoconhecimento. Em nosso processo de crescimento, descobrir nossas singularidades e o que nos faz sermos diferentes dos outros pode ser de extrema ajuda. Nesse nível de crescimento, identificar os talentos ou tesouros ocultos será um diferencial valioso, pois estes serão capazes de gerar pensamentos e atitudes positivas, que farão as pessoas nos enxergarem com um olhar diferente, como únicos. No mundo corporativo, falamos em estratégias, habilidades e capacidades pelas quais a organização ou o indivíduo dirige as ações dentro de seu ambiente. Trata-se da orientação dos comportamentos dentro de um contexto específico. Para um indivíduo, os conhecimentos incluem estratégias cognitivas e habilidades, tais como aprendizado, memória, tomada de decisão e criatividade, que facilitam o desempenho de um determinado comportamento ou tarefa. Um cuidado a ser tomado: existem pessoas que alicerçam suas habilidades (nível 3), comportamento (nível 2) e compreensão do ambiente (nível 1) apenas na racionalidade crítica, e quando se fica apenas na razão, não se evolui. Nesse terceiro nível, o papel do coach é o de professor ou consultor. Ele apoia o coachee no desenvolvimento de habilidades cognitivas, competências intelectuais e pensamento estratégico. No nível anterior, o de treinador, o coach treina passo a passo o comportamento, uma situação concreta a ser aprendida. Nesse nível, o foco está no desenvolvimento de habilidades gerais que se encontram no universo cognitivo. Desenvolver a relação, pensar e agir é o que o coach busca, é inserir novos conhecimentos. O coach, como professor, não ensina, mas estimula o pensamento do coachee a fim de que forme mapas mentais que o ajudem a evoluir. Esses mapas mentais passam pela linguagem. Por esse motivo, deve-se cuidar muito para não desenvolver linguagem negativa. “A linguagem cria realidades. Ao dizer, verbalizar algo, criamos um padrão de crença que é introjetado no outro e em nós mesmos. Assim, cuidar da linguagem do coachee é uma das principais tarefas do coach”. Na cultura grega antiga, as escolas de Sócrates, Platão e Aristóteles eram hábeis em fomentar os elementos mais fundamentais da natureza humana. Não se perdiam no ensinamento de conteúdos engessados. Estavam centralizados naquilo que era o essencial. 13 TEMA 4 – COACHING GENERATIVO: QUARTO NÍVEL DO PROCESSO EVOLUTIVO – CRENÇAS E SONHOS O quarto nível do processo evolutivo do ser humano trata das crenças e dos sonhos. Uma crença é maior do que qualquer conhecimento. Uma crença tem o poder de impulsionar ou frear uma pessoa. Se o conhecimento não esbarra em alguma crença que o contradiga, ele funciona, do contrário, é relegado ao plano cognitivo. Nossas crenças podem ser trabalhadas, tanto as que nos limitam quanto aquelas que nos impulsionam – aquelas que já temos e as que precisamos criar. O quarto nível está relacionado com o porquê das ações e pensamentos das pessoas. Crenças, sonhos e valores morais norteiam todas as nossas açõescotidianas. Chamamos de crenças as verdades que acreditamos e que guiam nossas vidas e atitudes. Os valores, por sua vez, são os elementos aos quais atribuímos certa importância e que, dessa forma, balizam e orientam nossas atitudes. As crenças e os sonhos, ambos criam nossos valores e são os princípios que guiam nossas ações, dando significado ao que fazemos. É o que importa para nós, é o que acreditamos ser verdade e são as proibições e permissões em nossas ações. Os valores estão ligados ao porquê de fazermos o que fazemos. É o que é importante para nós: saúde, riqueza, felicidade, amor, religião... As crenças e sonhos direcionam nossas vidas, apoiam ou bloqueiam nossos conhecimentos e capacidades. Muitas delas são incutidas em nós pelos outros: familiares, professores, amigos etc. Elas constituem nossas permissões e proibições. Esse nível situa-se dentro do campo sagrado da pessoa (por quê?). Algumas questões são fundamentais nesse nível: em que eu acredito? O que é importante para mim? Por que ajo assim em determinada situação? O coachee deve permitir que o coach vá além e desvele suas crenças pessoais. Essa permissão poderá colocar o cliente em uma situação de desafio ao reconhecer verdades limitantes. Ao ouvirmos desde crianças afirmações como “você é burro”, “nunca será alguém”, entre outras, vamos as internalizando e elas se tornam crenças inconscientes. Nossas verdades sobre nós mesmos podem tolher e sabotar nosso crescimento e progresso, mas, também, podem ser molas propulsoras. O trabalho 14 do coach nesse nível é demover, isto é, fazer renunciar a crenças limitantes e criar crenças que empoderam o coachee. O papel do coach nesse nível é o de ser mentor. O principal papel do mentor é fazer com que o coachee supere, ultrapasse suas resistências internas, as crenças limitantes. O mentor atua com o seu foco na mente. Atua no mental, na construção do significado, portanto, estamos além do material, atingimos o íntimo do indivíduo. O coach deve acreditar no seu coachee. Só acreditando ele conseguirá extrair toda a motivação e o potencial necessários para alcançar os resultados propostos. Qualquer influência nas crenças e nos sonhos do coachee acontece de maneira positiva. O mentor trabalha muito com as forças internas do cliente e acaba se tornando uma referência para ele. O primeiro passo é descobrir quais são as crenças limitantes e os valores incoerentes do coachee. São comuns enunciados como “não consigo passar naquela prova”; “nunca vou subir de cargo”; “não consigo aprender inglês”... Como mentor, o coach deve orientar os padrões de pensamento e a linguagem do coachee. Se ele não se conscientizar, é possível que os resultados não sejam alcançados e o coach, como mentor, terá sua parcela de responsabilidade. O coach como mentor desenvolve o mental, aquilo que está na mente e no coração do coachee. É nesse nível que se formam os conceitos sobre os outros, o mundo e a si mesmo. Os sonhos e as crenças dão suporte ao senso de identidade dos indivíduos e das organizações. Não se fala aqui em religião, porém, as crenças e os sonhos constituem um universo sagrado para o ser humano. Um dos desafios do coach é questionar as crenças do coachee e isso pode causar dor, sofrimento, desconforto e, até mesmo, desistência do processo de coaching. O coach, como mentor, deve ter cuidado e maturidade com os possíveis conflitos que podem emergir nesse nível do processo evolutivo. A habilidade do coach está em provocar o coachee para que abandone a expressão “porque”, que o leva a se justificar e ficar apegado às suas crenças, e passe a utilizar o meta-modelo da linguagem, que é o processo de questionamento, utilizando a própria linguagem para evidenciar o real significado dos fatos ou acontecimentos: Será que o dinheiro não traz felicidade? Será que eu não consigo aprender determinada coisa? O terceiro e o quarto nível, ou seja, 15 conhecimento e habilidades, crenças, sonhos e valores são trabalhados pelo coach e coachee como coaching generativo. TEMA 5 – COACHING EVOLUTIVO: QUINTO NÍVEL – IDENTIDADE O quinto nível do processo evolutivo diz respeito ao nosso eu, à nossa identidade. Esse é o nível dos nossos papéis sociais, das nossas práticas, do modo como nos posicionamos no mundo que, por conseguinte, formam nossa identidade, o nível do senso do eu. Ele decorre das crenças, sonhos e cultura do indivíduo. São as crenças e os valores essenciais que definem você e sua missão de vida. No ambiente de trabalho esse nível está relacionado ao senso de função e missão das pessoas relativas à sua visão e aos sistemas superiores aos quais pertencem. Uma determinada identidade ou papel é expresso em termos de sonhos, crenças e valores. Papel fundamental aqui tem o conhecimento e habilidades, pois são eles necessários para manifestar determinados valores e crenças. Nossos papéis compõe o senso de nós mesmos, as crenças e sonhos essenciais que definem você e sua missão de vida. A identidade é constituída ao longo de toda a vida. No mundo empresarial, o papel ou a identidade organizacional é a cultura empresarial, que emerge da interação dos demais níveis. Ela determina o propósito (missão) e molda crenças e sonhos por meio da noção de si. É o sentimento fundamental de si mesmo: quem sou? Esse nível responde à pergunta quem: quem eu sou? Qual o motivo da minha existência? Qual minha missão na vida? O quanto sou importante e único? O processo de identidade é o primeiro passo para o relacionamento com o outro. É a percepção de todos os nossos papéis no mundo: filho, pai, profissional, alegre, triste, ativo, proativo... Buscamos respostas também nesse nível a “Quem é você? Ou “quem sou eu?” Uma identidade ou um papel social é construído e sustentado por estruturas complexas de crenças, por exemplo: “eu sou saudável e inteligente”, “eu sou nervoso”, eu sou visionário”, eu sou médico”... Esse é o nível mais difícil, devido aos questionamentos que surgem, mas é o mais libertador. É aqui que ocorrem as maiores transformações conscientes e 16 inconscientes. É nesse nível que a vida parece ganhar novo sentido, novo brilho e mais leveza. O coach atua no quinto nível como patrocinador, dando suporte para que o coachee atravesse esse importante nível, reconhecendo-o e valorizando suas descobertas. O patrocinador se relaciona com o seu cliente auxiliando-o no reconhecimento de sua essência, sua identidade e papéis. Algumas formas de abordagem do coach: “Compreendo como você se vê”, “Você realmente é muito importante e muito bom no que faz”, “Você se vê assim, por quê?”, “Sei que é uma imagem sua, mas me permita entender melhor”. O patrocinador busca e avalia o potencial interno do cliente, focando o desenvolvimento de papéis e os valores fundamentais. A eficácia do patrocinador é promover algo que já está dentro da pessoa, porém ainda não expresso plenamente. Algumas situações para o coach nessa área: nos adolescentes, é comum a busca por essa descoberta, mas, nos adultos, também encontramos aqueles que já aos trinta anos ou mais abandonaram vários cursos superiores sem concluir nenhum, também aqueles que concluíram uma faculdade e atuam em outra área. O coach deve trabalhar esse nível com calma, pois exige um trabalho mais delongado e cuidadoso. Saber que nós somos é uma tarefa difícil. Esse âmbito também deve ser trabalhado nas empresas. Elas perdem muito facilmente sua identidade – visão, missão e valores – pelo caminho. O processo é pautado na realidade das empresas, no senso de função e missão das pessoas relativas à sua visão e aos sistemas superiores aos quais elas pertencem. Quando o coach sabe, compreende e internaliza a missão da empresa, ele se sente pertencente, e patrocina positivamente a evolução dos coachees. A missão é o propósito essencial que nos move,nos direciona, a fim de crescermos. Todas as experiências pelas quais passamos nos ajudaram a formar a pessoa que agora somos. Refletirmos sobre nossa identidade não é renegar nossa história, mas honrarmos e respeitarmos o lugar que nossas escolhas nos trouxeram e, com base nelas, ressignificarmos nossas vidas. 17 5.1 Sexto nível – pertença O sexto nível do processo evolutivo diz respeito ao pertencimento e às nossas afiliações; a nossa relação com o grupo nos ajuda a nos compreendermos como não sozinhos no mundo, mas fazendo parte de um todo; de um universo maior e mais complexo. Nós somos convidados a nos observar inseridos nos grupos aos quais pertencemos. Eles podem ser grupos institucionais, como a família, o trabalho, a igreja, ONGs, partidos políticos, e grupos sociais, de lazer, de passeio, de futebol, entre outros. O importante nesse nível é a conexão do indivíduo com esses grupos. Para estarmos conectados e inteiros com outras pessoas, é preciso primeiro termos conseguido acessar nossa mais pura essência e potencialidade interior. Sem saber quem nós somos, bem como amar, respeitar e valorizar nossa história de vida, dificilmente seremos bons coletivamente. O relacionamento intrapessoal precede o relacionamento interpessoal; o primeiro nível de pertencimento e afiliação é a si mesmo. O primeiro passo a ser dado é pensar no meu papel na minha equipe de trabalho. Eu me sinto verdadeiramente conectado a ela? Eu me sinto importante e sinto que os outros também me consideram importante? Quanto à família, como vejo e sinto minha família? Quando penso neles, quais imagens, sentimentos e comportamentos vem à minha mente? Se a pergunta fosse feita a eles sobre mim, o que pensariam ou sentiriam? Nesse nível, o coach tem o papel de aglutinador, é aquele que vai além dos níveis anteriores, orientando o cliente para que desenvolva o sentimento de pertença, que transcenda ao seu universo particular e veja o todo e a importância dos outros para o seu crescimento e desenvolvimento. O coachee deve também tomar consciência de possíveis pertencimentos que o impedem de crescer e de atingir suas metas, por exemplo, grupos que possam oferecer algum risco, ou até mesmo uma exposição inconveniente. Em casos mais extremos de possíveis resistências nesse nível, como uma ruptura familiar, o coachee deve ser orientado a buscar permissão interna para se sentir pertencente a ela. Uma ruptura familiar pode acarretar em problemas de relacionamento em todos os patamares do processo. Uma superação dessa problemática exige maior trabalho e dedicação. 18 O coach como aglutinador tem a missão de promover o equilíbrio do cliente. O equilíbrio em todos os níveis é de vital importância para se encontrar o resultado desejado. No mundo corporativo, o coach deve trabalhar com o coachee para que, se for da vontade deste, reconecte-se com a empresa na qual atual, ou, no caso de resolver se desligar, se fortaleça em relação aos demais grupos, a fim de que a transição profissional ocorra com a maior tranquilidade possível. 5.2 Sétimo nível – legado/espiritualidade Robert Dilts inseriu na pirâmide neurológica o nível da espiritualidade. A espiritualidade não é entendida aqui no aspecto religioso, mas como transcendência, o seu lado divino. As religiões, porém, nos ajudam a compreender essa dimensão. Marques (2015) chama esse nível de legado, pois representa aquilo que fica de cada um de nós e como seremos lembrados. Esse nível é o mais elevado no processo evolutivo e supõe termos percorrido todos os demais degraus, chegando ao desenvolvimento de uma visão holística, essencial, profunda e iluminada. Representa o melhor de nós mesmos, o que temos de mais grandioso. Compreendemos em profundidade a essência de nossa existência e o seu real sentido. Trata-se de um verdadeiro encontro, conosco mesmo, com os outros, com o universo e com a divindade. Olhando de cima, do cume da pirâmide, todos os outros níveis parecem pequenos. No entanto, há uma interligação entre eles e é necessário compreender e passar pelo processo para podermos crescer. Olhando do alto, compreendemos quão pequenos eram os problemas, porém, o quanto atrapalhavam o nosso crescimento. No sétimo nível do processo evolutivo, encontramos mais respostas do que perguntas. Aquelas indagações típicas do ser humano, por exemplo: De onde vim e para onde vou? Encontram, nesse âmbito, respostas. Surgem, porém, outras indagações numa esfera mais profunda. FINALIZANDO São muitas as tentativas de se explicar o processo evolutivo do ser humano. Entre as teorias surgidas no decorrer da história, citamos algumas que colaboraram com os seus princípios para a fundamentação científica e a 19 formatação das ferramentas do coaching. O ponto de partida que devemos levar em consideração é a teoria de hierarquia das necessidades de Maslow. LEITURA OBRIGATÓRIA Para saber mais sobre os temas abordados neste capítulo, sugerimos a seguir algumas leituras complementares. • O QUE são níveis neurológicos. Blog Comportar, S.d. Disponível em: <http://www.comportar.com/niveis-neurologicos-pnl/>. Acesso em: 29 out. 2018. • A Pirâmide do processo evolutivo e níveis neurológicos. Disponível em <https://administradores.com.br/artigos/piramide-do-processo-evolutivo-e- miveis-neurologicos>. Acesso em 04 nov. 2019. • MARQUES, J. R. Os 7 níveis da teoria do processo evolutivo. Goiânia: IBC, 2015. 20 REFERÊNCIAS DILTS, R. Aprendizagem dinâmica. São Paulo: Summus, 1999. v. 1. LOTZ, E. G.; GRAMMS, L. C. Coaching e mentoring. Curitiba: InterSaberes, 2014. MARQUES, J. R. Os 7 níveis do processo evolutivo. Goiânia: IBC, 2015. O’CONNOR J. Níveis neurológicos. Disponível em: <http://www.comportar.com/ niveis-neurologicos-pnl/>. Acesso em: 29 out. 2018. ______. PNL e coaching com “C” maiúsculo. In: LAGES, A.; CONNOR J. O’. Como o coaching funciona: o guia essencial para a história e prática do coaching eficaz. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2010. PEREIRA, J. Agilidade do dia a dia. Agile.pub. Disponível em: <http://agile.pub/metodologia-agil/agilidade-do-dia-a-dia/>. Acesso em: 31 out. 2018. TURAK, A. Os segredos empresariais dos monges trapistas. São Paulo: Cultrix, 2015.
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